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LUANA PASTORE – T4 1 Especialidades Clínico-Cirúrgicas – Doença de Crohn Como resultado de uma desregulação do sistema imune, os pacientes com doença de Crohn desenvolvem úlceras aftosas, que são úlceras superficiais da mucosa. À medida que a doença progride, a ulceração se torna mais profunda, transmural e discreta; pode formar um padrão serpiginoso e pode ocorrer em qualquer lugar do esôfago até o ânus. A localização mais comum para a ulceração é a região ileocecal. No início da doença de Crohn, a histopatologia é caracterizada por um infiltrado inflamatório agudo na lâmina própria, com criptite e abcessos da cripta. Mais tarde, na evolução da doença, a arquitetura da cripta fica distorcida, com um infiltrado linfocítico e a consequente ramificação e encurtamento das criptas. Manifestações Clínicas Os sintomas da doença intestinal inflamatória são variados e podem ser consequência da localização da doença, da duração da doença e quaisquer complicações anatômicas da doença, como estreitamentos e fístulas em doença de Crohn. Sintomas O íleo terminal é afetado em cerca de 70% dos pacientes com doença de Crohn. Doença íleo primária ocorre em 30% dos pacientes, enquanto a doença ileocolônica ocorre em 40%. Os sintomas podem incluir dor abdominal, geralmente no quadrante inferior direito, diarreia, hematoquezia e fadiga. Em caso mais gravem pode haver febre e perda de peso. Alguns pacientes podem apresentar sintomas obstrutivos, como dor abdominal, distensão abdominal e náuseas. Apenas cerca de 5% dos pacientes desenvolvem doença de Crohn no trato gastrointestinal superior, e a doença de Crohn esofágica ocorre em menos de 2% dos pacientes. Indivíduos com doença de Crohn comprometendo o gastrointestinal superior podem apresentar disfagia, odinofagia, dor torácica ou azia. Até 30% dos pacientes têm doença perianal, que podem incluir desenvolvimento de fístulas, abscessos, fissuras e apêndices dérmicos. Os sintomas da doença perianal incluem dor e secreção. A febre pode estar presente se há um abcesso. Exame Físico Úlceras orais podem estar presentes na doença de Crohn. A localização de sensibilidade abdominal geralmente reflete a localização de envolvimento intestinal. Na doença de Crohn, a dor à palpação abdominal é classicamente no quadrante inferior direito e pode incluir inchaço ou uma massa LUANA PASTORE – T4 2 dependendo da gravidade da inflamação. Os sinais peritoneais podem ocorrer quando a doença de Crohn penetrante causa perfuração intestinal. O exame retal pode revelar apêndices dérmicos, hemorroida, fissura e fístulas. Avaliação Diagnóstica Avaliação Endoscópica Em um paciente com sintomas sugestivos de doença inflamatória intestinal e nenhuma evidência de infecção para explicar os sintomas, é essencial a avaliação endoscópica. A manifestação endoscópica mais precoce da doença de Crohn inclui úlceras superficiais da mucosa, também chamadas de úlceras aftoides. Como a gravidade da doença de Crohn progride, a ulceração se torna mais profunda e pode se tornar redonda, linear ou serpiginosa. O aspecto de paralelepípedos da mucosa é causado por úlceras que se interconectam longitudinal e transversalmente, com áreas normais. O diagnóstico da doença de Crohn pode ser feito por histopatologia se os granulomas não caseoso são observados, mas os granulomas raramente são encontrados em biópsias endoscópicas. O diagnóstico da doença de Crohn é fundamentado em uma combinação de informação adquirida da histopatologia, colonoscopia e imagens do intestino delgado. Um alto padrão de ulceração, ulceração no intestino delgado ou do trato gastrointestinal superior, ou a presença de fístulas sustentam o diagnóstico de doença de Crohn. Radiologia As radiografias contrastadas do abdome superior, exame do trânsito gastroduodenal e enema de bário geralmente são necessários para diagnosticas as estenoses e fístulas na doença de Crohn. Se há suspeita de doença de Crohn pelo exame colonoscópio, um exame de trânsito gastroduodenal geralmente é feito para avaliar a extensão, gravidade e tipo de doença no intestino delgado. Tratamento O objetivo da terapia clínica consiste em reduzir a inflamação e, subsequentemente, induzir e manter a remissão clínica. Os medicamentos usados para tratar a doença intestinal inflamatória incluem as categorias de 5-aminossalicilato, antibióticos, corticosteroides, imunomoduladores, e de biológicos. A terapia médica específica selecionada é de acordo com a localização, a extensão (não penetrantes e sem estenose, LUANA PASTORE – T4 3 com estenose e penetrante, além da doença fistulizante), e a gravidade da doença. 5-Aminossalicilatos A 5-ASA, que atua como um anti-inflamatório tópico dentro do lúmen do intestino, é usada para tratar colite ulcerativa leve a moderada, assumindo também um papel limitado na doença de Crohn. Corticosteroides Os corticosteroides são usados principalmente para tratar as exacerbações de colite ulcerativa e doença de Crohn. As formulações orais podem ser usadas para a doença leve a moderada, enquanto os corticosteroides sistêmicos são usados para doença moderada a grave. Indica-se a budesonida como revestimento entérico para o tratamento da doença de Crohn ativa leve a moderada. Imunomoduladores Em pacientes que continuam sintomáticos, apesar da terapia a 5-ASA ou que apresentam doença de Crohn moderada a grave ou colite ulcerativa, análogos tiopurina podem ser utilizados; metotrexato também pode ser usado para a doença de Crohn moderada a grave. Antibióticos O papel dos antibióticos engloba a doença de Crohn, na qual o metronidazol, a ciprofloxacina, ou ambas, são terapias indutivas primárias para as fístulas perianais e fissuras. Produtos Biológicos Anticorpos para o fator-alfa de necrose tumoral (anti-TNF-alfa) incluem infliximabe, que é aprovado para o tratamento da doença A de Crohn de intensidade moderada a grave, fistulização da doença de Crohn e colite ulcerativa moderada a grave que não responde à terapia convencional. Adalimube (Humira) e certolizumab pegol (Cimzia) foram aprovados para tratar a doença de Crohn moderada a grave que não responde à terapia convencional. Terapias Clínicas para Doença de Crohn Doença de Crohn Leve a Moderada Sulfassalazina (5-ASA) é superior ao placebo para o tratamento de doença de Crohn ativa na região íleo-colônica e com taxas de resposta variando de 45 a 55% para a doença leve a moderada, embora não seja claramente eficaz para a doença do intestino delgado isoladamente. No entanto, 5-ASA não é eficaz para manter a remissão. Para doença de Crohn leve a moderada, que envolve a porção distal do intestino delgado ou cólon proximal budesonida, proporciona LUANA PASTORE – T4 4 cerca de 70% de taxa de resposta após 8 semanas e é bem mais eficaz que a Mesalazina. Doença de Crohn Moderada a Grave Os pacientes com doença moderada a grave são inicialmente tratados com corticosteroides sistêmicos, mas estes não devem ser usados como terapia de manutenção. As opções para induzir uma remissão ou manter uma remissão induzida por esteroides incluem 6- mercaptopurina, azatioprina, metotrexato, infliximabe, adalimumabe e certolizumab. Para doença de Crohn grave, o paciente é hospitalizado, permanece em jejum, é reidratado com fluidos intravenosos e medicado com corticosteroides parenterais. Pacientes que respondem aos corticosteroides parenterais passam a ser medicados com altas doses de corticosteroides orais (prednisona), e a dose de prednisona é gradualmente reduzida. Aos pacientes com doença de Crohn grave que não responderem a corticosteroides parenterais dentro de uma semana convém considerar infliximabe ou cirurgia. Terapia Cirúrgica Considerando que a ressecção cirúrgica não é curativa na doença de Crohn, e levando em conta tambémserem prováveis as recidivas, a abordagem é mais conservadora em termos da quantidade de tecido removido. Para doença de Crohn do intestino delgado, o procedimento cirúrgico mais comum é a ressecção segmentar para obstrução ou fístula. Para pacientes com doença colônica extensa, inclusive do reto, o procedimento de escolha é proctocolectomia total com ileostomia de Brooke. Referências Goldman Cecil Medicina – 24ª edição, Volume 1 – Capítulo 143, Páginas 3048-3070.