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MENOPAUSA E CLIMATÉRIO APG 28: 1. Compreender a definição, fisiologia, fatores que influenciam, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da menopausa e climatério. INTRODUÇÃO A menopausa natural é definida como a cessação permanente dos períodos menstruais (envelhecimento reprodutivo), determinada retrospectivamente após uma mulher ter experimentado 12 meses de amenorreia sem qualquer outra causa patológica ou fisiológica óbvia. Ocorre em uma idade média de 51,4 anos e é um reflexo da depleção folicular ovariana completa, ou quase completa, com hipoestrogenemia resultante e altas concentrações de hormônio folículo estimulante (FSH) A transição menopausal (perimenopausa) ocorre após os anos reprodutivos, mas antes da menopausa, e é caracterizada por ciclos menstruais irregulares, alterações endócrinas e sintomas como ondas de calor. Inúmeros fatores influenciam a cronologia do UCM em cada mulher. Fatores genéticos e familiares são dados importantes A transição da menopausa se refere aos processos de envelhecimento reprodutivo que envolvem alteração do ciclo menstrual, irregularidade menstrual e ruptura dos padrões hormonais reprodutivos normais e mecanismos de feedback que caracterizam os ciclos férteis de mulheres entre 40 e 50 anos. Os padrões de produção de hormônios reprodutivos são alterados de modo que os ciclos se tornam mais curtos e a produção de progesterona diminui. Os níveis de FSH se elevam porque o reservatório folicular remanescente exige cada vez mais estimulação para produzir um folículo préovulatório. Por fim, o FSH não consegue manter a foliculogênese e a menstruação se torna irregular. Como a reserva ovariana aumenta e diminui durante esse período de transição, os ciclos não são interrompidos abruptamente. Em vez disso, os ciclos ovulatórios e anovulatórios geralmente se alternam de modo aleatório. Esse processo resulta em flutuações hormonais que podem ser debilitantes para muitas mulheres. Desse modo, os sintomas da menopausa não aparecem simplesmente com o UCM, ocorrendo em geral durante toda a transição, embora possam ser intensificados com o passar do tempo. A transição da menopausa (ou perimenopausa) começa, em média, quatro anos antes do período menstrual final (FMP) A determinação da proximidade de uma mulher de seu UCM tem implicações importantes para a saúde geral de várias maneiras. ● UCM precoce: A mulher passará um período maior da sua vida em um estado de deficiência relativa de estrogênio, que terá consequências na sua saúde óssea e pode ter consequências também para sua saúde cardiovascular. ● UCM tardio: A mulher é mais propensa a doenças relacionadas ao estrogênio, tais como cânceres de mama e de endométrio. Não existe um exame complementar definitivo que consiga prever o UCM de modo confiável. No entanto, o nível sérico do hormônio antimulleriano (AMH), é um representante confiável da reserva ovariana. Se o nível de AMH estiver baixo, isso ajuda a fazer uma estimativa de cronologia do UCM. Diretrizes atuais para o manejo da menopausa concordam apenas que o tratamento sintomático é indicado para essa transição normal da vida Climatério é um termo mais abrangente; refere-se a toda a transição ao estágio não reprodutivo de vida. A expressão insuficiência ovariana prematura descreve o que acontece com cerca de 1% das mulheres, que entram na menopausa antes dos 40 anos. As que não menstruaram por 1 ano inteiro ou apresentam níveis persistentemente altos de FSH (> 20 mUI/μℓ) estão na menopausa. FISIOLOGIA A menopausa é causada pela cessação gradativa da função ovariana e pela redução resultante dos níveis de estrogênio. Embora os estrogênios originados do córtex suprarrenal continuem a circular no corpo das mulheres, não são suficientes para manter as características sexuais secundárias da mesma maneira que os estrogênios ovarianos. Por essa razão, os pelos corporais, a elasticidade da pele e a gordura subcutânea diminuem. As mamas tornam-se pendulares com a redução da massa de tecidos, restando apenas ductos, gordura e tecido conjuntivo. Os ovários e o útero diminuem de tamanho e o colo do útero e a vagina tornam-se pálidos e friáveis. O pH vaginal aumenta: em geral, pH maior que 4,5 indica deficiência de estrogênio. Entre os problemas que podem resultar da atrofia do sistema urogenital estão ressecamento vaginal, incontinência urinária de esforço, urgência urinária, noctúria, vaginite e infecções urinárias. Algumas mulheres podem achar as relações sexuais dolorosas e traumáticas, ainda que seja útil usar algum tipo de lubrificante vaginal. Um creme vaginal de estrogênio pode ser recomendado para tratar o ressecamento e a atrofia da vagina. Ainda existem controvérsias quanto às vantagens e desvantagens de uma quantidade pequena de estrogênio transdérmico (mais provavelmente um gel ou spray) para atenuar as queixas vulvovaginais. Alguns especialistas acreditam que o gel ou spray transdérmicos sejam mais eficazes que um adesivo e causem menos riscos à saúde. Em nível sistêmico, as mulheres podem ter instabilidade vasomotora significativa secundária à redução dos níveis dos estrogênios e aos aumentos relativos dos outros hormônios, inclusive FSH, LH, GnRH, di-hidroepiandrosterona, androstenediona, epinefrina, corticotrofina, β-endorfina, hormônio do crescimento e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina. Essa instabilidade pode causar “fogachos” (ou ondas de calor), palpitações, tontura e cefaleias à medida que os vasos sanguíneos dilatem. Apesar da coexistência com essas alterações bioquímicas, a causa básica dos fogachos é desconhecida. Existem variações substanciais quanto ao início, à frequência, à gravidade e à duração do período em que as mulheres têm ondas de calor. Quando ocorrem à noite e acompanhados de transpiração significativa, os fogachos são descritos como sudorese noturna. Insônia e despertares frequentes em consequência dos sintomas vasomotores podem causar privação de sono. Algumas mulheres podem ter irritabilidade, ansiedade e depressão em consequência dos episódios incontroláveis e imprevisíveis. Além das alterações que acompanham diretamente a cessação da função ovariana, ao longo dos anos ocorrem outras que afetam a saúde e o bem-estar das mulheres pós-menopausa. Entre as consequências da privação crônica de estrogênio estão osteoporose secundária a um desequilíbrio da remodelação óssea (i. e., a reabsorção óssea ocorre a uma taxa mais acelerada que a formação) e aumento do risco de doença cardiovascular (a aterosclerose é acelerada), principal causa da morte de mulheres após a menopausa. Outros riscos potenciais à saúde, que refletem o envelhecimento e a cessação da função ovariana, incluem déficit visual secundário à degeneração macular e disfunção cognitiva. O cérebro é rico em receptores de estrogênio e especulasse que a sinalização do receptor de estrogênio medeie múltiplos processos-chave no SNC, incluindo, mas não se limitando, a efeitos neurotróficos e neuroproteção. Menopausa e avanço na idade impõem efeitos adversos no SNC. Estudos demonstram as diferenças sexuais na estrutura e na função do hipocampo e no lobo temporal, que se acredita estar relacionada às diferenças nos efeitos organizacionais e ativacionais do estradiol no desempenho da memória. As diferenças estruturais mediadas pelo estrogênio no hipotálamo sejam traduzidas em função executiva superior nas mulheres. Consequentemente, ansiedade e alterações de humor são mais comuns em mulheres na perimenopausa e nas mulheres que entraram recentemente na menopausa, sobretudo aquelas com história pregressa de disfunção do humor. A saúde óssea é significativamente afetada pelos esteroides gonadais. Durante a transição da menopausa, as concentrações séricas de estradiol e estrona diminuem até 90%. Esse processo é acompanhado por um período de perda óssea acelerada e progressiva. Aumenta-se a atividade osteoclástica, reabsorção óssea acelerada e taxas atenuadas de remodelagem óssea. Ganho ponderal e alteração da distribuição de gordura são queixas comuns dasmulheres na perimenopausa e na menopausa. É importante salientar que o tecido adiposo, um órgão endócrino, expressa receptores de estrogênio e especula-se que o estrogênio aumente a lipólise de adipócitos. Desse modo, é razoável teorizar que a menopausa impulsiona alterações fisiopatológicas do tecido adiposo MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS É um desafio distinguir as manifestações relacionadas ao envelhecimento daqueles referentes à menopausa. Existem quatro sintomas fundamentais que são considerados como diretamente relacionados à menopausa, com base na associação desses sintomas com a transição e a capacidade de serem tratados com hormônios; consistem em sintomas vasomotores/ondas de calor, ressecamento vaginal, transtornos do sono e transtornos do humor/cognitivos. ● Sintomas vasomotores: Ondas de calor e sudorese noturna ● Ressecamento vaginal, dispareunia e sintomas urogeitais: Ressecamento, irritação crônica ou sensação de queimação na vagina e na vulva; as mulheres sexualmente ativas relatam falta de lubrificação com tentativa de relação sexual, dor durante a relação sexual ou sangramento após a relação sexual. Polaciuria, uretrite e infecções urinárias frequentes também podem ocorrer. Acredita-se que todos esses sintomas sejam consequentes a hipogonadismo e ausência de exposição do epitélio vaginal e do sistema urinário ao estrogênio ● Transtornos do sono: Incluem a apneia do sono e a síndrome das pernas inquietas (SPI) ● Transtornos disfóricos: Deterioração do humor, sintomas depressivos TRATAMENTO A terapêutica inclui medidas de ordem geral, orientação dietética, apoio psicológico e tratamento medicamentoso. Este, por sua vez, pode ser hormonal ou não. As opções hormonais devem ser reservadas para mulheres com SVM que comprometam a qualidade de vida. As terapias hormonais incluem estradiol, estrogênios e, quando as mulheres têm útero, progestina. Os riscos e efeitos colaterais da terapia hormonal são modulados pela via de administração, pela formulação hormonal, pela idade, pelo período de tempo transcorrido desde o UCM e pela existência ou não de útero, bem como morbidades coexistentes tais como doença cardiovascular, demência e diabetes melito. A ocorrência de neoplasia uterina aumenta em condições de exposição crônica ao estrogênio sem oposição em mulheres com o útero intacto. Portanto, a indicação primária da terapia de progesterona durante a menopausa é a prevenção de hiperplasia endometrial induzida pelo estradiol e câncer. Entre as progestinas comumente prescritas estão acetato de medroxipogesterona, acetato de noretindrona e progestina micronizada (progesterona nativa). A progestina administrada de modo contínuo ou sequencial fornece proteção endometrial adequada Risco de câncer de mama e terapia hormonal da menopausa são relatados tanto no ensaio clínico de controle randomizado como nos estudos observacionais. Diferentes tipos de formulações hormonais da menopausa, a duração da terapia e o período em que a terapia hormonal da menopausa é iniciado podem modificar e aumentar o risco para o câncer de mama Ao longo das últimas quatro décadas, o tratamento de reposição hormonal (TRH) tem sido prescrito com frequência às mulheres na pós-menopausa. Inicialmente, era usado apenas para atenuar os sintomas e depois como profilaxia da osteoporose. Durante a década de 1990, evoluiu à condição de reposição de um hormônio vital perdido em razão da falência dos órgãos endócrinos (menopausa). Esse tratamento era oferecido rotineiramente a todas as mulheres depois da menopausa com base nas evidências crescentes de que trazia efeitos benéficos profiláticos em diversas áreas. Durante esses anos, dados fornecidos por estudos de acompanhamento revelaram redução de 50% nos índices de mortalidade por cardiopatia coronariana (CC) entre as mulheres que se submetiam ao TRH. Outras vantagens atribuídas ao tratamento eram redução dos riscos de disfunção neurocognitiva, perda de densidade óssea e doença periodôntica. O tipo de TRH prescrito era determinado pelo útero normal. As mulheres nessa situação recebiam uma combinação de estrogênio e progesterona (EPT), enquanto as pacientes que tinham retirado o útero usavam apenas estrogênio (ET). O acréscimo de progesterona ao TRH era o protocolo estabelecido para mulheres com útero intacto, em vista da associação demonstrada na década de 1970 entre ação desimpedida do estrogênio e desenvolvimento de câncer de endométrio. A ação desimpedida do estrogênio pode resultar no desenvolvimento de hiperplasia endometrial, que, em alguns casos, pode aumentar o risco de câncer de endométrio. O TRH que inclui estrogênio e progesterona não está associado a esse tipo de câncer. Quando administrada a intervalos cíclicos (tratamento sequencial contínuo com estrogênio-progesterona [TSCEP]), a progesterona é acrescentada por 12 a 14 dias para estimular a maturação de qualquer endométrio que tenha sido desenvolvido em resposta ao estrogênio. A interrupção da administração provoca desprendimento do endométrio (i. e., sangramento cíclico). Quando o TRH é usado continuamente, uma dose pequena de progesterona é acrescentada ao esquema diário de estrogênio. Essa exposição contínua à progesterona inibe o desenvolvimento do endométrio. Por fim, o tratamento prolongado combinado com estrogênio e progesterona (TCCEP) não causa sangramento. Contudo, pode estar associado a sangramentos irregulares e manchas de sangue até que o revestimento endometrial esteja atrofiado. A prevenção da hiperplasia endometrial por desprendimento do endométrio desenvolvido ou por impedimento de seu desenvolvimento reduz o risco de câncer do endométrio. Hoje em dia, essa proteção é considerada quando se comparam os riscos e os benefícios do TRH. Referências BEREK, Jonathan S. Tratado de Ginecologia. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2014. 978-85-277-2398-5. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/ 978-85-277-2398-5/. Goldman, Lee e Andrew I. Schafer. Goldman-Cecil Medicina . Disponível em: Minha Biblioteca, (26ª edição). Grupo GEN, 2022 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-277-2398-5/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-277-2398-5/
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