Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gabriella Cumerlato – T3 Osteoartrite • Também chamada de artrose, artrite degenerativa ou ainda doença articular degenerativa • É o tipo mais comum de doença articular, representando cerca de 30 a 40% das consultas em ambulatórios de Reumatologia, e uma das mais incapacitantes • Ela é mais frequente após os 50 anos, mas pode afetar os jovens • É uma doença de início silencioso • É um distúrbio caracterizado pela falência articular progressiva na qual todas as estruturas da articulação sofrem alterações patológicas • A alteração característica é a perda de cartilagem articular hialina, acompanhada pelo aumento da espessura e esclerose das placa óssea subcondral, crescimento excessivo de osteófitos na margem articular, estiramento da capsula articular e fraqueza muscular Patologias Ósseas Articulações comumente afetadas A osteoartrite é uma doença das articulações diartrodiais (sinoviais) como as interfalângicas, úmero-ulnar, joelho, articulação coxofemoral • A osteoartrite tem certa preferência pelas mulheres • Há locais de maior comprometimento no sexo feminino, por exemplo mãos e joelhos, outros no masculino, como a da articulação coxofemoral (do fêmur com a bacia) Causas 1. O envelhecimento e os efeitos mecânicos são as principais causas, fatores genéticos também podem desempenhar um papel na doença 2. Fatores de risco adquiridos são: idade, obesidade, trauma, atividades ocupacionais repetitivas e história familiar ou lesão articular 3. Influências genéticas associadas à osteoartrite são: anomalias bioquímicas no colágeno e proteoglicanas, displasia congénita de quadril * Não existem ainda métodos para interromper a progressão desta doença e não existem meios satisfatórios de prevenção Fisiopatologia da osteoartrose • A cartilagem hialina é avascular, aneural e alinfática. Ela é composta de 95% de água e matriz da cartilagem extracelular, e somente 5% de condrócitos • Os condrócitos têm o ciclo celular mais longo do corpo (similar às células musculares e do sistema nervoso central) • As articulações normais sofrem pouca fricção com o movimento e não se desgastam com uso típico, excessivo ou traumas • A Saúde e função da cartilagem dependem da compressão, descarga de peso e do uso (a compressão bombeia líquido da cartilagem para espaço articular, capilares e vênulas, enquanto libera a cartilagem para reexpandir, hiperidratar e absorver os eletrólitos e nutrientes necessários) • O gatilho da osteoartrose é geralmente desconhecido, mas às vezes a osteoartrite começa com uma lesão tecidual por lesão mecânica (lesão do menisco), transmissão de mediadores inflamatórios da sinóvia para a cartilagem ou defeitos no metabolismo da cartilagem • A obesidade desencadeia alguns desses defeitos no metabolismo da cartilagem, levando a danos na matriz cartilaginosa e remodelação do osso subcondral mediada por adipocinas como a leptina e a adiposina • Em todos os tipos de osteoartrite, a cartilagem articular é o principal alvo das alterações degenerativas -> vai perdendo sua elasticidade e seu conteúdo de água • Os condrócitos vão perdendo sua capacidade de sintetizar cartilagem e suas enzimas passam a degradar a cartilagem articular -> diminuição da capacidade de absorção de impacto desempenhada pela articulação • A erosão progressiva da cartilagem , expõe o osso subjacente. Uma vez que a cartilagem é destruída, o osso exposto torna-se esclerótico • Os reforços para a reparação estimulam a produção de enzimas, que degradam a cartilagem, bem como de citocinas inflamatórias • Os mediadores inflamatórios desencadeiam um ciclo inflamatório que posteriormente estimula condrócitos e células da membrana sinovial a eventualmente “romperem” a cartilagem. Os condrócitos sofrem apoptose • Há espessamento do osso subcondral Todos os tecidos articulares e alguns periarticulares podem estar comprometidos na osteoartrose: • O osso subcondral enrijece, depois sofre um infarto e desenvolve cistos subcondrais. As tentativas de reparação óssea produzem esclerose subcondral e osteófitos nas margens articulares • Os osteófitos parecem se desenvolver na tentativa de estabilizar a articulação • Tendões e ligamentos periarticulares se estressam, resultando em contraturas e tendinites • À medida que a articulação diminui a mobilidade, os músculos circundantes ficam mais fracos e dão menos suporte • O menisco fissurado pode fragmentar • A sinóvia se inflama, torna-se espessada e produz líquido sinovial com menos viscosidade Classificação etiológica 1. Osteoartrite idiopática primária: fenômeno do envelhecimento com disfunção das células da cartilagem que sofrem alterações metabólicas e bioquímicas, desencadeando inflamação. A doença afeta articulações isoladas (mãos, pés, joelhos, quadris, coluna, ombros), ou pode ser generalizada (inclui 3 ou mais articulações) 2. Osteoartrite secundária: pode ser decorrente de lesões micro ou macrotraumáticas, como no atleta jovem. Pode ser decorrente da deformidade congênita de alguma articulação, devido à obesidade acentuada ou devido à outra patologia sistêmica como a Diabete, artrite reumatoide, acromegalia, hipotireoidismo, displasias epifisárias Manifestações Clínicas 1. Início gradativo 2. Dores articulares geralmente pioram com atividades físicas e levantamento de peso 3. Dor na articulação não aparece em período de repouso ou à noite; (dor à noite pode ser um alerta para uma etiologia diferente ou gravidade) 4. Rigidez matinal por mais de 30 minutos. As articulações inflamadas provocam rigidez matinal e fadiga 6. Normalmente, assimétrica 7. Pode ser mono ou poliarticular 8. Nas vértebras pode ocorrer pinçamento de nervos e a dor irradiar para outras regiões, espasmos musculares e atrofia muscular 9. Com a progressão da doença, há destruição da cartilagem articular e os pacientes podem desenvolver deformidades e incapacidade para a realização de suas atividades A Osteoartrite de mãos é também chamada de Nodal • É mais comum em mulheres do que em homens, relação 10:1, tendo seu início por volta da 4ª e 5ª década da vida • Via de regra, seu início coincide com as alterações hormonais próprias da menopausa. • As articulações interfalangianas distais são geralmente as mais comprometidas, produzindo os nódulos de Heberden, mas pode haver também o comprometimento das distais (nódulos de Bouchard) • Outra manifestação clinicas na Osteoartrose de joelhos é o Genu varo bilateral, mais marcado à esquerda, decorrente da perda de cartilagem articular no compartimento femorotibial medial, com perda do alinhamento articular. Achados laboratoriais 1. VHS, provas de fase aguda, hemoglobina e leucometria normais 2. O fator reumatoide está ausente na maioria dos pacientes 3. Entre os marcadores mais estudados estão a hidroxiprolina, as proteínas oligoméricas de matriz cartilaginosa (COMP), o queratan sulfato, epítopos de sulfato de condroitina, pró-peptídeos do prócolágeno tipo II, ácido hialurônico sérico, osteocalcina sérica e sialoproteína óssea • No entanto, atualmente, o uso desses marcadores com finalidades diagnósticas e prognósticas é limitado à pesquisa cientifica. 4. Sinovianálise: Ocasionalmente são observados fragmentos de cartilagem e cristais de hidroxiapatita no liquido sinovial Artrite reumatoide • Doença inflamatória sistêmica crônica, que pode afetar diversos tecidos e órgãos como pele, vasos sanguíneos, coração, pulmões e músculos, mas afeta principalmente as articulações • Apesar das características sistêmicas, o alvo principal é a membrana sinovial, que é responsável pela maior parte das manifestações clinicas • A artrite reumatoide produz nas articulações uma sinovite proliferativa e inflamatória não-supurativa que geralmente progride para a destruição da cartilagem articular e anquilose das articulações O tecido sinovial prolifera de forma descontrolada, resultando em uma produção excessiva de liquido, destruição da cartilagem, erosão do osso marginal e dano aos tendões e ligamentos Etiologia • Etiologia desconhecida, porém a auto-imunidade desempenha um papelcentral no seu desenvolvimento crônico e progressão • O desenvolvimento da AR parece necessitar da interação entre fatores genéticos e ambientais com o sistema imune. Genética • O risco estimado de familiares de pacientes com AR desenvolverem a doença é de 4% para irmãos, 4,7% para pais e filhos e 1,9% para familiares de segundo grau. Por sua vez, familiares de primeiro grau de pacientes com AR em sua forma erosiva podem ter mais de 15% de chance de desenvolver a doença • A predisposição genética se explica pela transferência na população de alelos* de susceptibilidade como os genes dos antígenos leucocitários humanos (hLA) também conhecidos como Mhc. Os alelos hLA-DR1 ou DR4, estão presentes em pacientes com AR. Foi identificada uma sequência de aminoácidos em uma região hipervariável da cadeia DRB1 , que fica na superfície das células apresentadoras de antígeno e permite aos linfócitos T reconhecerem o autoantígeno apresentado * Os alelos são as formas alternativas, gerados por mutações, de um mesmo gene Fatores Ambientais • Em consequência da exposição prolongada ao cigarro ou a outros estímulos ambientais, há modificações pós-traducionais que tornam as moléculas próprias imunogênicas. Este seria o caso da resposta do sistema imunológico adaptativo aos peptídios citrulinados, que pode preceder em anos o aparecimento dos sintomas clínicos da AR. Tanto o fribrinogênio como a vimentina citrulinados já foram identificados nas articulações de pacientes com AR e é provável que outras proteínas além dessas sofram reações de citrulinização • Ainda, já se encontra bem estabelecida a relação entre o uso de tabaco e a maior suscetibilidade ao desenvolvimento da AR em pacientes HLA-SE positivos. Foi demonstrado que em pacientes portadores do HLA-SE, o cigarro acelera as reações de citrulinização em proteínas pulmonares, o que dispara a produção de autoanticorpos Infecções • Sugere-se que, além da susceptibilidade genética e da participação dos fatores ambientais, seria necessária a presença de um antígeno específico, que desencadearia o processo inflamatório contra a membrana sinovial. Esse antígeno poderia ser endógeno e/ou exógeno. – Diversos agentes já foram descritos como possíveis causadores: parvovírus, vírus da rubéola, Epstein-Barr vírus, HTLV-1, micoplasma e micobactérias. Apesar da indução de sinovite crônica em modelos experimentais por esses agentes, ainda não há provas conclusivas do seu papel na fisiopatogenia da doença. • Na membrana sinovial que reveste a superfície articular há uma infiltração de células inflamatórias, entre as quais linfócitos Th1 e Th17 • Os Linfócitos Th1 produzem Ifn-γ e Linfócitos Th17 produzem IL-17, estimulando macrófagos a produzirem diversas citocinas com destaque para o TNF-α e IL-1β • TNF-α ativa endotélio, fibroblastos, osteoclastos, condrócitos e mastócitos • Linfócitos B (LB) ativados por autoantígenos produziriam autoanticorpos contra antígenos citrulinados e fator Reumatoide • Ainda, fibroblastos e células endoteliais, mantêm o processo inflamatório Fator reumatoide (FR) • O FR representa um grupo de autoanticorpos caracterizados pela habilidade de reagir com determinados epítopos da porção Fc da IgG,, sendo sua presença sugestiva de prognóstico desfavorável • O FR pode ser das classes IgA, IgG ou IgM, porém a classe IgM é a que se detecta sorologicamente com maior frequência • Teoricamente, um estímulo antigênico pode levar ao aparecimento de uma IgG anormal na sinóvia, resultando na produção de FR e no desenvolvimento posterior da doença reumática. Assim, o FR provavelmente não inicia o processo inflamatório na doença reumática, mas atua perpetuando e amplificando esse processo. Anticorpo anti-CCP • A citrulinização consiste na modificação pós-traducional de determinada proteína, na qual um resíduo de arginina é convertido em citrulina. Os anticorpos anti-CCP são produzidos localmente na membrana sinovial inflamada e no líquido sinovial de pacientes com AR e são capazes de reagir com diversos peptídios citrulinados Fisiopatologia da artrite reumatoide • Os tecidos sinoviais são o alvo primário do processo inflamatório autoimune • Uma vez iniciada a AR, os tecidos sinoviais em todo o corpo tornam-se o local de interação entre células T, células B, macrófagos e células sinoviais • A proliferação dos tecidos sinoviais (sinovite) resultante acarreta a produção de quantidade excessiva de líquido sinovial e a infiltração do pannus no osso • Pannus (nódulo reumatoide) é uma massa de células sinoviais e estroma sinovial com células inflamatórias, fibroblastos, e tecido granulomatoso, capaz de invadir e destruir o tecido cartilaginoso articular e tecido ósseo ( causando a sua erosão) • É responsável pela extensa destruição articular frequentemente observada na artrite reumatoide • O pannus une os ossos opostos formando uma anquilose óssea. Manifestações clinicas • O curso clínico da AR é variável. A doença começa lentamente e de forma insidiosa. É incomun o início agudo • Essencialmente, todos os pacientes apresentam algumas manifestações sistémicas como febre baixa, formigamento nas mãos, mal-estar, fadiga e dor músculo-esquelética generalizada, antes das articulações serem afetadas • Podem ocorre períodos de remissão, mas os sintomas sempre retornam e a doença é progressiva • Quando o quadro de artrite se inicia ele é caracteristicamente uma poliartrite simétrica • As articulações das mãos são, em geral, as primeiras a serem acometidas • A sinovite resulta na destruição da cartilagem, do osso marginal, e no estiramento ou ruptura dos ligamentos, dos tendões e das cápsulas articulares, levando as deformações características: desvio radial do punho, desvio ulnar dos dedos, e anormalidades de flexão(a deformidade em botoeira) e hiperextensão dos dedos, resultando em articulações deformadas e com pouco movimento • Clinicamente, a mão desvia radialmente e mantém uma posição supina. Isto causa o desvio ulnar das falanges e metacarpos, uma vez que forças extrínsecas dos extensores e flexores puxam os dedos para essa posição • Outra hipótese para o desvio de falanges e metacarpo é a “frouxidão” dos tendões, permitindo esse desvio. As atividades diárias (como segurar uma xicara) aumentam do desvio ulnar dos dedos se a AR está causando a frouxidão dos tendões • O desvio radial do punho e o desvio ulnar da junção carpo-metacarpal tendem a acontecer de forma simultânea. Quanto maior o desvio radial do punho, maior o desvio ulnar dos dedos • Dedo em pescoço de cisne ou ganso (hiperextensão da interfalangiana proximal e flexão da interfalangiana distal). Esta manifestação clínica é rara ultimamente devido ao tratamento precoce • Polegar em “Z” • Presença de nódulos reumatoides que apresentam-se como nódulos subcutâneos de 2mm a 5cm de tamanho, solitários ou múltiplos, localizados, principalmente, nas superfícies extensoras dos antebraços, nas articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais • Correspondem a granulomas granulomas, com área central necrótica, circundados por macrófagos histiocíticos, todos envelopados por linfócitos, células plasmáticas e fibroblastos • Representam a manifestação extra-articular mais comum da artrite reumatoide • Outros sinais extra-articulares incluem vasculite (causa úlceras no membro inferior); mononeurite múltipla; derrames pleurais ou pericárdicos; infiltrado ou fibrose pulmonar • Isquemia e necrose de polpas digitais dos dedos mão em decorrência de quadro de vasculite Sítios de acometimento da mão e punho e as suas potencias causas Diagnóstico • Segundo o Colégio Americano de Reumatologia, o diagnóstico de artrite reumatoide é feito quando pelo menos 4 dos seguintes critérios estão presentes por pelo menos 6 semanas: • Rigidez articular matinal durando pelo menos 1 hora • Artrite em pelo menos três áreas articulares, com sinais de inflamação • Artrite de articulações das mãos: punhos, interfalangeanas proximais (articulação do meio dos dedos) e metacarpofalangeanas (entre os dedos e mão) • Artrite simétrica(por exemplo no punho esquerdo e no direito) • Presença de nódulos reumatoides • Fator Reumatoide sérico positivo • Alterações radiográficas: erosões ar?culares ou descalcificações localizadas em radiografias de mãos e punhos Exames de laboratório • Hemograma, fator reumatoide, analise do liquido sinovial, proteina C reativa * O teste de FR negativo não descarta a doença • Cerca de 20% das pessoas com AR apresentarão níveis muito baixos ou indetectáveis do FR. Nestes casos, o teste de anticorpo anti ACPA (Anticorpo antipeptídeo citrulinado cíclico) pode ser positivo e usado para confirmar a AR • O resultado positivo para o teste de FR também pode ser observado em 1% a 5% de pessoas saudáveis e em algumas com doenças/estados clínicos como síndrome de Sjögren, esclerodermia, lúpus eritematoso sistêmico, sarcoidose, endocardite, tuberculose, sífilis, HIV/AIDS, hepatite, mononucleose infecciosa, cânceres como leucemia e mieloma múltiplo, infecções parasitárias ou doenças hepáticas, pulmonares ou renais Avaliação da atividade da doença • Recomenda-se que o médico avalie a atividade da doença periodicamente. Os parâmetros principais são: • Contagem do número de articulações dolorosas e do número de articulações edemaciadas • Provas de atividade inflamatória (VHS, proteína-C-reativa) – avaliação da intensidade da dor, avaliação da mobilidade articular e da capacidade funcional • O exame radiográfico deve ser repetido, a critério clínico, para avaliar a progressão ou não da doença Tratamento • AINES • Analgésicos • Drogas modificadoras do curso da doença (DMCD): Hidroxicloroquina e Cloroquina, sulfazalazina, metotrexato → efeito imunomodulador, redução do dano articular • Bloqueadores de TNF → redução da resposta imune • Azatioprina → imunossupressão 2023.01
Compartilhar