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Idade Moderna: Bases Sócio-Históricas da Educação Física Carolina Cunha Seidel Idade Moderna: Bases Sócio-Históricas da Educação Física 2 Introdução Neste conteúdo estudaremos as bases sócio-históricas e filosóficas da Educação Física, compreendendo quais acontecimentos modernos interferiram nos pressupostos da formação do campo de saberes estudados. Conheceremos a relação entre os processos de industrialização e de urbanização e a educação do corpo, reconhecendo-a como um campo multirreferenciado e multidisciplinar. Desejamos a você bons estudos e que os conteúdos aqui estudados tragam importantes reflexões para sua formação. Objetivos da Aprendizagem Ao final deste conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • analisar transformações sócio-históricas da Educação Física na Modernidade; • relacionar a Educação Física à industrialização e à urbanização das civilizações ocidentais; • compreender as bases filosóficas da Educação Física na Idade Moderna; • reconhecer a Educação Física como um campo de saber de influência multidisciplinar. 3 Concepções de corpo: interfaces da educação física com a filosofia e a ciência a Educação Física, com o formato que conhecemos hoje, passou por muitos significados ao longo da história, surgindo pela necessidade de um homem mais forte, mais ágil, mais empreendedor. Relacionou-se aos cuidados do corpo, passando a ter um caráter higiênico, como banhar-se, escovar os dentes, lavar as mãos. Na perspectiva militar, teve como característica o preparo físico para tornar o indivíduo mais apto, aparecendo nas escolas vinculadas a esse rigor com as ginásticas e com a calistenia. Calistenia: sistema de ginástica sueca que associa música ao ritmo dos exercícios, desenvolvidos à mão livre, usando o próprio corpo e pequenos acessórios (pesos, caneleiras etc.) para fins corretivos, fisiológicos e pedagógicos. Curiosidade Figura 1 – Corpo e ciência. Fonte: Plataforma Deduca (2020). 4 É sabida a relação entre a Educação Física e a produção cultural na sociedade, especialmente no tocante aos conhecimentos e às tradições de jogos, de ginástica e de esportes. É preciso perceber a importância de se ressignificar o olhar e o espaço da Educação Física, por muito tempo vista apenas em sua esfera prática – ou seja, com ênfase na dimensão procedimental, capacitando a saber fazer. As esferas conceituais e atitudinais dos conteúdos formam de maneira integral e, portanto, devem ser incluídas nos programas, compondo o espaço com a prática e com a esfera procedimental dos conteúdos, contextualizando-os. Assim, ao nos dedicarmos a compreender um pouco melhor as relações entre a Educação Física, a Filosofia e a Ciência, pontuando aproximações, percebemos que olhar para motricidade humana, de forma estrutural e articulada, faz-nos perceber que existe uma cadeia de significados para a cultura e para a educação. Figura 2 – Integração entre corpo e pensamento. Fonte: Plataforma Deduca (2020). A partir dos anos 1980, conceitos científicos passaram a nortear, de forma mais expandida, os conteúdos da Educação Física, que passou a aprofundar estudos sobre habilidades e sobre capacidades físicas, direcionando as práticas e representando um importante salto de qualidade na área. 5 Outro aspecto de suma importância para o entendimento disso é o fato de a relação entre teoria e prática, na Educação Física, não se limitar às questões físicas e técnico- cientificas. Ao contrário, temos uma importante fundamentação sobre o corpo e sobre seus desdobramentos na Filosofia, na Antropologia, na Sociologia, na Psicologia, entres outras áreas correlatas. A Ciência passou a figurar nas bases dos conceitos diretamente relacionados à Educação Física, conforme podemos observar no esquema a seguir Biomecânica Fisiologia Aprendizagem motora Bases científicas da Educação Física Figura 3 – Relação entre Ciência e Educação Física. Fonte: Elaborada pela autora (2020). Assim, temos a interdisciplinaridade como ponto de partida para os estudos sobre concepções do corpo e sobre possíveis relações e interfaces. Ao pensarmos na prática de atividades físicas, temos o movimento em si e, com ele, múltiplas possibilidades de análise pela Ciência. Ao mesmo tempo, temos a interpretação do movimento, que ocorre a partir do sentido que lhe for atribuído, gerando múltiplos sentidos e fundamentando a prática conceitualmente. Vejamos o funcionamento dessa estrutura. 6 corpo sensação pensamento movimento Figura 4 – Interseções entre a Ciência e a Filosofia no movimento. Fonte: Elaborado pela autora (2020). Dessa forma, vemos, claramente, a intersecção entre Ciência e Filosofia nos estudos sobre motricidade. O corpo e o movimento se constituem como espaço de construção de sentidos e de identidade; como campo de construções e de entendimentos filosóficos e sociológicos; e como algo que pode ser visto e analisado fisiológica e anatomicamente: [a] escola, o processo pedagógico, a formação da consciência sobre o corpo, a motricidade como expressão de si mesmo ainda é o templo da sustentação de um princípio legítimo da formação ser humano. Ali, repousa as interações de mais precisão no contexto da prática na sua total relevância. Na escola, vivencia espaços e tempos singulares, realiza- se, produz-se, transformam-se realidades. Juntam-se grupos sociais na mescla categorizadas de elementos corporais e motores cujo significado exige a interação de si com si mesmo, com o outro e com o mundo. (FENSTERSEIFER et a.l, 2007, p. 25). A Educação Física nos parece ser capaz de unir os campos de saberes, encontrando pontos de diálogo entre a ação física e o entendimento dessa ação, criando sentidos e significados, uma vez que, justamente na reflexão filosófica, aproximamos teoria e prática. Higienismo Para entendermos as noções higienistas atreladas à Educação Física, remeteremos às influências militares e médicas. Perceberemos relações estreitas entre os conceitos 7 deste tópico e do próximo, uma vez que as noções de higienismo e de eugenia aparecem atreladas e vinculadas, tanto na teoria quanto na estruturação e na proposição das práticas. No estudo sobre o corpo e sobre o movimento, temos o ideário higienista colocado em ação por duas vias: a médica e a militar. Vamos às definições. Figura 5 – Relação entre movimento e a área médica. Fonte: Plataforma Deduca (2020). 1. Higienismo considera a doença um fenômeno social e parte da ideia de controle dos corpos para manutenção da vida e da saúde. 2. Influência militar indica a ginástica como forma de sistematização dos conhecimentos práticos. Acreditava que, por meio da ginástica e do treinamento, o corpo poderia ser condicionado e controlado. 3. Influência médica pesquisas que preconizam a Educação Física como forma de melhoramento da saúde e de promoção do controle do corpo, de suas funções e de emoções. Pensava-se, ainda, que o modelo colaboraria com o controle de instintos destrutivos e sexuais, inclusive no tocante a vícios. 8 Na Educação, podemos observar a ginástica na grade curricular de escolas civis, dada por militares, com a finalidade de cumprir os ideais apontados, compondo o campo da cultura física no Brasil. Figura 6 – Militares conduziam treinamentos físicos para civis. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Um marco nesse processo é Arthur Higgins, que passa a praticar atividades físicas por recomendação médica, como tratamento complementar para o reestabelecimento de um quadro de tuberculose aos 23 anos. Tal fato ocorreu no final do século XIX e se envolve com a área, passando a ser treinador de ginástica e escrevendo uma importante obra de concepção higienista na área da Educação Física, denominada de Compêndio de Ginástica Escolar. Atenção As interferências da área militar na educação do corpo permanecem ativas por longos anos, até, aproximadamente, a terceira década do século XX, com a formação profissional dos instrutoresde ginástica. Após essa data, os métodos militares adotados, de origem predominantemente alemã, são substituídos por métodos franceses. Tais métodos franceses, também focados na ginástica, por sua vez, consolidam-se a partir de estudos médicos e biomédicos, mantendo caracteres 9 higienistas, que intencionam explicitar os benefícios das práticas físicas por meio de modelos anatomofisiológicos. Figura 7 – Imagem: Modelo anatomofisiológicos. Fonte: Plataforma Deduca (2020). O higienismo, juntamente ao pensamento eugênico, consolida-se a partir de um desejo da burguesia de melhoramento e de supremacia da raça branca. “Afirmava ser necessário [...] restringir a proliferação de infra-homens, de semi-alienados e de dementes, pela higiene do corpo e do espírito [...] (além de) fazer com que as pessoas fortes, equilibradas, inteligentes e bonitas, tenham um maior número de filhos, para que o número médio destas pessoas [...] se eleve progressivamente”. (SOARES apud MAGALHÃES, 2005, p. 93). Na área da Educação, podemos observar alguns defensores das práticas físicas pautadas nos treinamentos militares. Segundo Magalhães (2005), Fernando de Azevedo foi um dos que enviou professores para serem formados nos cursos do Exército. Até o início da década de 1940, ainda temos médicos e militares responsáveis pelo plano formativo dos profissionais que atuam na Educação Física, sendo seus professores apenas executores de um plano prescrito, sem fundamentação pedagógica. 10 Mudanças são observadas no curso da década de 1970, quando as disciplinas pedagógicas passam a compor a grade curricular das licenciaturas em Educação Física, marcando novos olhares e formatos e promovendo o protagonismo do professor dessa disciplina. Figura 8 – Novos olhares para Educação Física. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Para compreender melhor as relações entre os ideais eugenistas e higienistas, sugerimos que acesse este link e leia o artigo “Higienismo e eugenia: discursos que não envelhecem”. Curiosidade O fim do governo militar marca, definitivamente, uma nova perspectiva, rompendo o paradigma higienista e inaugurando uma visão mais crítica e criativa na área da Educação Física, em que o movimento é entendido de forma múltipla, capaz de contribuir com a formação para a cidadania. 11 Eugenismo Você sabe o que é eugenismo? Acreditamos que sim, mas iniciaremos este tópico com a definição do termo. O eugenismo é o movimento que defende a eugenia, que acredita ser possível “melhorar” a população por meio do controle social e da seleção genética das pessoas. Parte da noção de seleção natural darwinista, entendendo que os mais fortes devem prevalecer e que os mais fracos devem ser eliminados. O higienismo, tema do tópico anterior, é um dos principais mecanismos utilizados pelos eugenistas, que passam a ganhar espaço de forma acentuada, com o crescimento da industrialização e da urbanização. Ao olharmos para o corpo e para o movimento, vemos a necessidade de ordenação e de controle, que podemos observar com a passagem do passatempo à esportivização, que conheceremos agora. O esporte ou desporto foi, durante muito tempo, o termo utilizado para fazer referência a uma grande variedade de passatempos e de divertimentos, sem maiores critérios. Com o tempo, o desporto passou a ser utilizado para tipos de recreação, sendo que o desempenho físico e as regras para manter a disputa ocupavam boa parte do tempo livre, especialmente na Inglaterra e em todos os lugares para onde foram importados seus modelos de produção industrial. A industrialização influenciava o modo de vida das pessoas, e não seria diferente com as atividades de lazer, que, como vimos no tópico anterior, passam a assumir funções especificas no início do século XIX. 12 Figura 9 – Esporte com regras passa a ocupar o lugar dos passatempos. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Na Antiguidade Clássica, a expressão que se utilizava para significar o que se entende, hoje, como lazer era o otium (ócio). A Grécia considerava o trabalho pejorativo; em contrapartida, a contemplação era bastante valorizada. A partir da dominação romana, os valores mudaram. As guerras são um exemplo disso: o tempo de não trabalho (otium) não concorria com o tempo de trabalho (nec-otium, que originou nossa palavra “negócio”). Muito pelo contrário, o Império Romano entendia essas duas esferas como interrelacionadas. Curiosidade 13 Figura 10 – Urbanização crescente. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Para conseguirmos realizar uma análise da história do desporto e da transição dos passatempos para os esportes, é necessário compreender como aconteceu o desenvolvimento da sociedade em aspectos globais, considerando dimensões sociais, políticas, econômicas e culturais. O transcurso do século XVIII na Inglaterra é marcado pela busca de soluções não violentas para os conflitos, por meio de regras aceitas por todos, mediadas pelo Estado, de modo que grupos rivais deixassem de guerrear e encontrassem outras maneiras de expressão, de representação e de reivindicação. Assim, percebemos que o processo de civilização e de desenvolvimento da estrutura político-social inglesa do final do século XVIII tem estreita relação com o movimento eugenista, que atua, também, por meio da desportivização dos passatempos. Na medida em que os confrontos passam a ter características dos desportos, afastam- se dos confrontos violentos; e as disputas passam a ser mais complexas, estando mais na esfera do jogo do que da violência. Se, antes, observávamos atividades livres e de cunho recreativo, passamos a práticas com características do desporto moderno, com regras escritas, com medidas punitivas, com fiscalizadores das normas e com aplicadores das punições intrajogo. 14 As principais características do esporte moderno são • igualdade de chances entre os jogadores; • acontecimento em espaços próprios, como campos, estádios, velódromos, pistas, ginásios, entre outros; • tempo regrado; • calendário próprio; • código de regras e práticas potencialmente universais; • diminuição do nível de violência aceitável. Figura 11 – Função social da esportivização. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Com tais características, vemos que o esporte começa a ter um corpo próprio, com características que tendem a superar especificidades locais, noções de ética e a busca pelo prazer no jogo. Para conhecer um pouco da história da esportivização dos passatempos no Brasil, leia o livro O esporte na cidade, de Ricardo de Figueiredo Lucena, publicado, em 2001, pela Editora Autores Associados. Curiosidade 15 Renascimento e as bases pedagógicas da Educação Física atual Como vimos nos tópicos anteriores, o fim do governo militar foi muito importante para que a Educação Física tivesse o formato que conhecemos hoje. Com a expansão das pesquisas na área, observamos mais autonomia e protagonismo dos profissionais, que, inclusive, passam a articular seus saberes com outras áreas, especialmente da Educação. Figura 12 – Educação Física e pedagogia. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Nessa aproximação, as práticas pedagógicas em Educação Física começam a flertar com ideais contra-hegemônicos, com importantes críticas ao tecnicismo, ao modelo biomédico, à hegemonia do esporte e à docilização dos corpos. (MAGALHÃES, 2005). Assim, a Educação Física passa, aos poucos, a ser vista como prática social, podendo estar manifesta em formatos e em categorias, de acordo com as seguintes concepções. 1. Educação Física convencional ainda com forte influência dos ideais eugenistas, faz parte da pedagogia tradicional, que valoriza o intelecto em detrimento do corpo. Essa dicotomia faz com que o trabalho com o corpo ocorra de maneira fragmentada, educando o físico com especial relevância de aspectos anátomos-fisiológicos ou motores. 16 2. Educação Física modernizadora concebe a educação por meio do corpo físico, e não do treinamento do corpo físico.Além do biológico, preocupa-se com o psicológico, enfocando a educação no âmbito individual. Essa abordagem ainda é adotada por boa parte dos profissionais da área, já que apresenta uma visão mais abrangente em relação ao processo educativo e à realidade. 3. Educação Física revolucionária concepção mais ampla, percebe o indivíduo em todas as suas dimensões, além das suas relações com o outro e com o mundo. O corpo é entendido de maneira integrada, sendo o homem, e não parte dele. Para os adeptos desse enfoque, os educadores são os verdadeiros agentes transformadores e renovadores da sociedade. Figura 13 – Educação Física escolar. Fonte: Plataforma Deduca (2020). 17 Podemos observar esse olhar mais abrangente e renovado expresso na Lei do Desporto Brasileiro, publicada em 1993: [...] capítulo III: Da conceituação e das finalidades do Desporto Art. 3º O desporto como atividade predominantemente física e intelectual pode ser reconhecido em qualquer das seguintes manifestações: I – desporto educacional, através dos sistemas de ensino e formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral e a formação para a cidadania e o lazer; II - desporto de participação, e modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e da educação e na preservação do meio ambiente; III - desporto de rendimento, praticado segundo as normas internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com outras nações. (BRASIL, 1993, p. 6) O esporte de rendimento não é responsabilidade da instituição escolar, que deve, sim, representar espaço de ensino e de expressão das múltiplas possibilidades da cultura corporal, possibilitando a formação integral do sujeito. Portanto, a Educação Física é considerada a prática que melhor dá conta de ensinar aos indivíduos elementos da cultura corporal do movimento – ou seja, norteá-los quanto àquilo que os compõe, que os antecede e que os atravessa: aquilo que os faz humanos. 18 Figura 14 – Educação Física e múltiplos saberes. Fonte: Plataforma Deduca (2020). Essa cultura corporal do movimento é composta por um conjunto diversificado de saberes que norteia o sujeito quanto à realidade em que está inserido para, posteriormente, ampliá-la, capacitando-o a desempenhar um papel transformador na sociedade. É importante ressaltar a importância de se superar a Educação Física com práticas que se restrinjam à prática de esportes tradicionais, os quais se limitam ao saber fazer já citado, não fornecendo ao sujeito repertório da cultura corporal do movimento. Clique aqui e aprofunde seus conhecimentos sobre o conteúdo com o material disponibilizado pelo Governo Federal, com o qual podemos conhecer mais sobre as bases e sobre os pressupostos do esporte e da Educação Física no Brasil. Curiosidade 19 Métodos ginásticos europeus O Movimento Ginástico Europeu surge como resposta do Estado ao fascínio da população pelos artistas e pelas apresentações de rua. Considerados subversivos e perigosos, os artistas circenses, acrobatas, estrangeiros, entre outros marginalizados, encantavam e movimentavam a cena com apresentações consideradas imorais e perigosas pelos governantes europeus, em meados do século XIX. “Nos meios urbanos, são diferentes manifestações lúdicas de caráter popular realizadas com base nas atividades circenses que se impõem [...]. Suas apresentações aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradição de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentração de pessoas do povo. Artistas, estrangeiros, errantes. Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barbárie e de civilização nos lugares por onde passavam”. (SOARES, 2002, p. 24, 25). Saiba mais Assim, o poder público cria, com intenção moralizadora, o movimento sistematizado de ginástica, também influenciado pela crescente industrialização e com ideal higienista. Veja como se dava seu funcionamento. moral método ordem disciplinaGinástica científica Figura 15 – Ginástica Científica Europeia. Fonte: Elaborada pela autora (2020). 20 A ginástica científica era pautada em métodos criados por médicos e por militares; e valorizava hábitos saudáveis e a prática de atividades físicas regulares, escondendo um projeto patriótico que visava a regular comportamentos e a docilizar corpos. Conheceremos, agora, as três principais escolas: a alemã, a sueca e a francesa. 1. Escola Alemã: pautada em preceitos nacionalistas, a ginástica é vista como preparação para guerra. Utiliza métodos essencialmente biológicos e militares; e indica prática diária, promovida pelo Estado, para todos os cidadãos. É organizada para alcançar objetivos físicos e morais. 2. Escola Sueca: a ginástica sueca nasce com o grande propósito de eliminar os vícios da sociedade, regenerando a população. De caráter não militar, tem prerrogativas sociais e pedagógicas, assegurando força, beleza e saúde aos praticantes. É conhecida como calistenia. 3. Escola Francesa: baseada na proposta alemã, uniu, aos ideais militares, morais e patrióticos, preocupações com o desenvolvimento social. Intencionava a formação do homem em sua totalidade, desenvolvendo habilidades como força, destreza, agilidade e resistência. Ao conhecermos as características das escolas de ginástica europeias, podemos perceber que, guardadas suas peculiaridades, os métodos se relacionam e exercem influência uns sobre os outros, tendo, como pressuposto, o conteúdo anatomofisiológico. Junto a esse “núcleo” biológico, temos, ainda, os conteúdos moralizantes e a valorização da disciplina, da obediência, a formação de hábitos, entre outras características similares. 21 Além dessas escolas, temos outras, porém menos voltadas ao desenvolvimento da ginástica e que não obtiveram tanto destaque. Para conhecer com mais profundidade, acesse este link e leia o artigo “Século XIX e o Movimento Ginástico Europeu: o processo de sistematização da ginástica”, de autoria de Aline Menezes Dodô e de Lorena Nabanete dos Reis. Curiosidade Os Jogos Olímpicos da Era Moderna Após a interrupção dos Jogos Olímpicos em 392, temos, em 6 de abril de 1896, a inauguração dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. A primeira edição se deu em Atenas, na Grécia, promovida pelo francês Barão de Coubertin, que ficou conhecido como pai da Olimpíada Moderna. Com a intenção de utilizar o esporte como estratégia de propagação da paz e da união dos povos, o Barão dizia que “o importante é competir”, frase que ficou bastante conhecida por todo o mundo. Figura 16 – Jogos olímpicos surgem de uma proposta de paz e de união dos povos. Fonte: Plataforma Deduca (2020). 22 Em junho do mesmo ano, foi fundado o Comitê Olímpico Internacional, composto, na época, por representantes de quinze países, em atividade até os dias de hoje. A forma de abertura dos Jogos Olímpicos também é um elemento que se mantém, até hoje, de acordo com a estrutura proposta pelo Rei George 1º da Grécia, que disse "Declaro abertos os primeiros Jogos Olímpicos em Atenas", frase que se tornou marca registrada para todas as cerimônias de abertura seguintes. As provas dessa edição foram atletismo, ciclismo, luta, esgrima, ginástica, halterofilismo, natação e tênis. Disputaram 285 atletas do gênero masculino, de 13 países diferentes. Inspirados nos Jogos Olímpicos criados na Grécia em 2500 a.C., guardou o nome da cidade de origem, Olímpia, na Grécia antiga, quando os jogos aconteciam em homenagem a Zeus. Ainda que o Barão tenha criado os jogos como forma de união dos povos, assistimos, hoje, à espetacularização acentuada das Olimpíadas, que representam, atualmente, grandes gastose um evento tão midiático quanto esportivo. Para saber mais sobre os Jogos Olímpicos da Era Moderna, acesse este link e leia o artigo “Jogos Olímpicos da Era Moderna: uma proposta de periodização”, de Katia Rubio.. Curiosidade 23 Conclusão Neste conteúdo de aprendizagem, seguimos com nossos estudos da disciplina “Introdução e História da Educação Física”, momento dedicado ao estudo da Idade Moderna, que representam as bases sócio-históricas da Educação Física como a conhecemos hoje. Aprendemos sobre as interfaces entre a Ciência e a Filosofia na concepção da Educação Física, de modo que entendemos que um movimento pode (e deve) ser visto para além de seus caracteres biológicos, uma vez que traz em si sentido e significado. Conhecemos os movimentos eugenistas e higienistas, que influenciaram, de maneira acentuada, o campo do movimento e da educação do corpo durante o processo de crescimento da industrialização, especialmente por meio da ginástica prescrita por médicos e por militares. Por fim, conhecemos as escolas europeias de ginástica, suas origens e suas características, entendendo o quanto seus pressupostos influenciam os trabalhos do mundo todo, inclusive os brasileiros. Esperamos ter contribuído para seu percurso formativo. Até a próxima! 24 Referências BOARINI, M. L.; YAMAMOTO, O. H. Higienismo e eugenia: discursos que não envelhecem. Psicol. rev, v. 13, n. 1, p. 59-71, maio 2004. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud. org/portal/resource/pt/lil-418250. Acesso em: 13 maio 2020. BRASIL. Senado Federal. Nova Lei do desporto Brasileiro: Lei n.º 8672, de 6 de julho de 1993. Brasília, DF: Senado Federal, 1993. DODÔ, A. M.; REIS, L. N. Século XIX e o Movimento Ginástico Europeu: o processo de sistematização da ginástica. EFDeportes, Buenos Aires, v. 18, n. 190, mar. 2014. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd190/seculo-xix-e-o-movimento- ginastico-europeu.htm. Acesso em: 13 maio 2020. FENSTERSEIFER, P. E. et al. Professoras de Educação Física: duas histórias um só destino. Movimento, Porto Alegre, v. 13, n. 2, p. 13-35, maio/ago. 2007. MAGALHÃES, C. H. F. Breve histórico da Educação Física e suas tendências atuais a partir das identificações de algumas tendências de ideias e ideias de tendências. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 16, n. 1, p. 91-102, jan./jul. 2005. RUBIO, K. Jogos Olímpicos da Era Moderna: uma proposta de periodização. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v. 24, n. 1, p.55-68, jan./mar. 2010. Disponível em: https:// www.scielo.br/pdf/rbefe/v24n1/v24n1a06.pdf. Acesso em: 13 maio 2020. SOARES, C. L. Imagens da Educação no Corpo: Estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. 2ed. Campinas: Autores Associados, 2002.
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