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|Margarida Andrade OCLUSÃO E DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR DINFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES ARTICULARES Vamos então começar por falar na classificação destas disfunções. Estas dividem-se em: Disfunções congénitas e de desenvolvimento Aplasia (ICD-9 754.0) Hipoplasia (ICD-9 526.89) Hiperplasia (ICD-9 526.89) Hiperplasia coronóide (desordem extra-capsular) Hiperplasia condilar Condromatose Displasia Fibrosa DISFUNÇÕES ADQUIRIDAS, aquelas sobre as quais nos vamos debruçar Artralgia (ICD-9 524.62) - Causa mecânica - Artrite (sinovite/capsulite) Desordens complexo disco-côndilo - Deslocamento do disco sem hipomobilidade Deslocamento do disco com redução (ICD-9 524.63) Deslocamento do disco sem redução sem limitação da abertura (ICD-9 524.63) - Deslocamento do disco com hipomobilidade Deslocamento do disco com redução com travamento intermitente (ICD-9 524.63) Deslocamento do disco sem redução com limitação da abertura (ICD-9 524.63) Disfunções com hipomobilidade - Anquilose (ICD-9 524.61) Fibrosa (adesões) Óssea Disfunções com hipermobilidade (ICD-9 830.1) - Sub-luxação - Luxação Desordens ósseas não reumáticas - Doença degenerativa da articulação (ICD-9 715.18) - Reabsorção condilar idiopática Disfunções reumáticas - Poliartrites (ICD-9 714.9) Artrite reumatóide juvenil Artrite reumatóide Espondílite anquilosante Artrite psoriática Gota… |Margarida Andrade Artrite infeciosa Artrite metabólica Fratura (ICD-9 802.3) Neoplasma (ICD-9 213.1 {benigno}; 170.1{maligno}) As que estão destacadas são as que vamos dar especial atenção, uma vez que são as que se verificam mais frequentemente e que nós lidamos habitualmente. SENSIBILIDADE / ESPECIFICIDADE A sensibilidade e a especificidade no caso das desordens temporomandibulares articulares podem sofrer algumas variações consideráveis. SENSIBILIDADE ESPECIFICIDADE Artralgia 0,91 0,96 Deslocamento do disco com redução 0,33 0,94 Deslocamento do disco com redução com travamento intermitente 0,46 0,97 Deslocamento do disco sem redução com limitação da abertura 0,80 0,97 Deslocamento do disco sem redução sem limitação da abertura 0,54 0,79 Doença degenerativa da articulação 0,49 0,86 Dislocação 0,98 1,00 |Margarida Andrade Como se pode verificar pela tabela, temos alguns tipos de diagnóstico com sensibilidade e especificidades elevadíssimos, como é o caso da atralgia, deslocação e deslocamento do disco sem redução com limitação de abertura. Mas temos outros que têm sensibilidades muito mais baixas, sendo as especificidades um pouco mais elevadas para qualquer um deles. Ou seja, a não presença de disfunção com um diagnóstico no sentido da sua não presença é bastante fiável, mas às vezes para termos a certeza que aquela disfunção está verdadeiramente presente pode não ser fácil, os testes e exames que existem por vezes não são os mais fiáveis. ATRALGIA / DOR ARTICULAR PATOFIOSIOLOGIA Fisiopatologicamente está associada a inflamações, traumas (sejam eles macro ou microtraumas) e iatrogenia (por algum tipo de tratamento, de modificação do sistema, que possa influenciar a condição articular). CARATERÍSTICAS CLÍNICAS Dor na região auricular e/ou peri-auricular. No fundo, presença de dor onde se situa a articulação temporomandibular. Dor pode agravar com a função Pode ocorrer sensação de má oclusão súbita (Máxima Intercuspidação Habitual – MIH alterada), mais percetível no lado afetado Pode existir edema detetado com palpação do polo lateral da ATM Dor à palpação posterior da ATM com validade duvidosa (possível relação com retrodiscite), devido a edema Isto ainda é referido aqui, em termos de avaliação, porque existia no passado um tipo de palpação que se fazia através do canal auditivo externo e que poderia dar um sinal positivo que se associava habitualmente com situações possíveis de retrodiscite (inflamação a nível dos tecidos retrodiscais) devido a esse edema. Mas a validade deste teste é muito duvidosa, porque pode dar algum tipo de sensação diferente por questões do lado auditivo. Assim, este é um tipo de palpação que está fora do exame e não é habitual. |Margarida Andrade ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO TRATAMENTO O tratamento passa por: Eliminação do fator etiológico (se for possível). Por exemplo, quando se trata de um trauma que já não existe, mas que existiu em determinado momento, o fator etiológico já passou. Já não é possível eliminá-lo porque ele já está eliminado. Assim, apenas nos dedicamos aos efeitos que ele produziu. Termoterapia: corresponde a uma terapia física por calor húmido, sendo das situações mais frequentes a prescrever Calor húmido: 4-6x/dia; 15 a 30 minutos cada aplicação; durante cerca de 2 semanas no mínimo Farmacologia: tem o objetivo não de eliminar a situação, mas de aliviar a dor Podemos prescrever um anti-inflamatório não esteróide, o Ibuprofeno 400/600mg; com/sem protetor gástrico pois há pessoas que podem precisar por sensibilidade a nível gástrico aos AI Analgésico Terapia cognitiva comportamental Executar movimentos dentro de limites indolores Reaprendizagem alimentação, de forma a executar uma mastigação pausada I. História Clínica No último mês, existe dor na mandíbula, temporal, em frente ao ouvido ou no próprio ouvido, com a confirmação do clínico da estrutura afetada E Dor modifica-se com a função, movimento ou parafunção II. Exame da ATM - Dor familiar: Dor que existe deve ser familiar, seja por Palpação do polo lateral ou à volta do polo lateral OU Abertura máxima não-assistida ou assistida, movimentos laterais ou protrusivos Artralgia / Dor articular: Dor articular afetada pelos movimentos mandibulares, função ou parafunção e esta dor pode ser replicada com os testes de provocação articular Sensibilidade (0,91) e especificidade (0,96) muito elevadas Sem Artralgia SIM NÃO |Margarida Andrade Habitualmente consiste em fazer os movimentos de forma relativamente pausada e não à pressa Outras situações podem passar, por exemplo, pela execução de um aparelho interoclusal miorrelaxante, com o objetivo de reduzir a pressão intra-articular. Isto é feito nos casos de etiologia por microtrauma (parafunção, bruxismo). DISFUNÇÕES DO COMPLEXO DISCO-CÔNDILO PATOFIOSIOLOGIA Estão relacionadas muitas das vezes com iatrogenia Maloclusões Embora aqui seja duvidoso, porque apesar de no passado se ter achado que o encaixe oclusal ou a parte da oclusão mecânica pudesse ter muita influência na existência de determinadas disfunções, fossem elas musculares ou articulares, sabemos hoje em dia que o papel da oclusão dentária é muito relativo na manifestação de quaisquer tipos de disfunções. A existência por si só de maloclusões não é razão suficiente para podermos dizer que temos uma disfunção. É um fator que pode contribuir, mas que isoladamente não há nada provado que assim o seja. Traumas, sejam eles macro ou microtraumas, são importantes em termos da origem destes problemas. Vamos dividir estas disfunções do complexo disco-côndilo em algumas entidades: DESLOCAMENTO DO DISCO COM REDUÇÃO CARATERÍSTICAS CLÍNICAS Existência de estalido na abertura, sendo esta uma das situações típicas. Existe sempre. Estalido recíproco pode existir ou não, que consiste num estalido durante o encerramento Momento do estalido variável com a força e a velocidade de abertura. O estalido de abertura e encerramento (recíproco) não têm necessariamente de coexistir na mesma amplitude de abertura bucal. Desvio para o lado afetado na abertura/protrusão no momento do estalido Um desvioconsiste num deslocamento da mandíbula, neste caso para o lado afetado, mas com um retorno à linha média durante o resto do movimento que está a ser executado (seja ele de abertura ou de protrusão). Isto é diferente daquilo a que chamamos uma deflexão, em que a mandíbula se desloca para o lado afetado e não retorna à linha média, quando nós fazemos o movimento de abertura ou de protrusão. |Margarida Andrade Artralgia (dor articular) pode estar presente ou não. De notar que podemos então ter aqui um diagnóstico duplo. Isto corresponde a uma ATM saudável: Em que aqui temos o côndilo com o disco interposto, encaixados na cavidade articular, e a eminência articular anteriormente. Também se verifica a presença dos tecidos retrodiscais, bem como o pterigoidéu externo superior, ligado ao bordo anterior do disco. Esta é então tipicamente a anatomia duma ATM saudável. Quando nós temos um deslocamento do disco com redução, o que acontece é exatamente isto: Temos o disco deslocado para a frente (1) e o côndilo a relacionar-se com a zona dos tecidos retrodiscais (2). No momento em que se inicia o movimento de abertura, o disco permanece na sua zona mais anterior, até que ocorre um estalido. O estalido corresponde exatamente à altura em que se dá a recuperação ou a redução do disco. Ou seja, o côndilo recupera a posição correta de interposição do disco. Côndilo Disco Eminência articular Cavidade articular Pterigoidéu externo superior Tecidos retrodiscais (2) (1) Lua Fidalgo Highlight Lua Fidalgo Highlight |Margarida Andrade Aqui vemos o disco que já recuperou e o côndilo na sua posição correta. Assim, o movimento daqui adiante ocorre de forma normal, até ao movimento limite. Depois inicia-se o movimento de retrocesso até ao encerramento da boca, de forma normal. A fase final do encerramento consiste numa perfeita coadaptação entre as estruturas, do côndilo do disco e da cavidade articular. Sendo que no final, ocorrendo estalido ou não, o disco volta a fugir e a escapar para a sua zona anterior. Volta a ficar deslocado anteriormente. |Margarida Andrade ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO Temos ainda uma outra variante que é o DESLOCAMENTO DO DISCO COM REDUÇÃO COM TRAVAMENTO INTERMITENTE. Nesta variante a diferença é que o paciente refere (quando fazemos a história clínica) que, para além de existir o tal ruído articular no último mês, por vezes há uma sensação de travamento intermitente com limitação de abertura (não consegue abrir a boca na totalidade). Desordem biomecânica intracapsular que envolve o complexo disco-côndilo. Na posição de boca fechada o disco apresenta uma posição anterior relativa à cabeça do côndilo, e o disco reduz intermitentemente na abertura (ou seja, por vezes não faz a redução). Quando o disco não reduz está associado com limitação na amplitude da abertura mandibular, mas é transitório, por isso é que se chama intermitente. Deslocamento medial e lateral pode estar presente. Ruído articular pode estar presente. Sensibilidade (0,46) e especificidade (0,97) I. História Clínica Paciente refere que, no último mês, existiu algum ruído articular II. Exame objetivo: Verifica-se que esse ruído articular na abertura e/ou encerramento é detetado à palpação em pelo menos 1 de 3 repetições de abertura e encerramento E Ruído articular detetado à palpação em pelo menos 1 de 3 repetições de movimentos laterais ou protrusivos (portanto não basta que ruído esteja presente na abertura e encerramento) Deslocamento do disco com redução: Desordem biomecânica intracapsular que envolve o complexo disco- côndilo. Na posição de boca fechada o disco apresenta uma posição anterior relativa à cabeça do côndilo, e o disco reduz na abertura. Deslocamento é habitualmente medial (habitualmente está para a frente e para medial), mas também pode ser lateral (é raro mas pode acontecer). Ruído articular pode estar presente, sendo bastante frequente na abertura e menos frequente no encerramento. Sensibilidade (0,33) e especificidade (0,94) Lua Fidalgo Highlight |Margarida Andrade De notar que a sensibilidade é maior na situação de deslocamento do disco com travamento intermitente, uma vez que este é um dado adicional, pelo que é relativamente mais fácil de identificar. Se for necessário fazer uma confirmação de diagnóstico, o exame por excelência é a ressonância magnética. É um exame auxiliar de diagnóstico com o objetivo de ver a posição do disco. E será positivo se: Na posição de MIC, o bordo posterior do disco estiver localizado anteriormente e o côndilo não estiver localizado na posição intermédia do disco. E Na abertura máxima, a cabeça do côndilo está posicionada na zona intermédia do disco Ou seja, esta é uma ressonância magnética que nós temos de avaliar não só numa posição de ICM, mas também na posição de abertura máxima. De acordo com a literatura o deslocamento do disco com redução é muito frequente/prevalente e não tem grandes consequências clínicas, desde que não seja acompanhado de dor ou de limitação de mobilidade mandibular. O que significa que nós vamos encontrar frequentemente estalidos na população em geral, que estão associados na maior parte das vezes a deslocamentos do disco com redução, mas que não são elegíveis para tratamento só porque existe o estalido e só |Margarida Andrade porque nós sabemos que existe um deslocamento com redução. Mas, se existir dor associada ou limitação de função aí sim temos que intervir. Se não tiver, é uma situação que se deve vigiar e eventualmente perceber o que pode estar por detrás disso e modificar o comportamento do paciente no sentido de prevenir, e não como um tratamento ativo. TRATAMENTO Deslocamento do disco com redução Normalmente não se procura a recaptura do disco Apenas tratar sintomatologia dolorosa (quando existe) Exercícios de coordenação muscular/articular Trata-se dum exercício chamado o exercício do espelho. Este consiste em instruir o paciente a realizar movimentos de abertura e encerramento durante o dia em frente a um espelho, com o objetivo de ele próprio se coordenar e conseguir fazer o movimento correto. Deve tentar manter o alinhamento do maxilar superior com a mandíbula e evitar o tal desvio que ocorre durante o estalido. Usa o espelho para poder orientar-se e às vezes até pedimos para fazer um traço com um marcador de forma a ter uma linha guia e fazer um alinhamento correto durante esse movimento. 2 a 3 séries de 10 repetições Exercícios de aumento abertura: Podem ser úteis em algumas situações, por exemplo, quando a abertura da boca está ligeiramente limitada e se pretende aumentar a amplitude de abertura Como já foi referido, os ruídos articulares (o estalido em si) são comuns na maior parte da população e não parecem estar relacionados com a dor ou diminuição da mobilidade mandibular. Mas, quando existe associação de estalido a dor ou limitação da mobilidade, nós devemos tratar. Isto quer dizer que nós podemos não conseguir eliminar os estalidos, mas devemos conseguir eliminar a dor e corrigir a limitação de mobilidade. Nós conseguimos, com os tratamentos que introduzimos, reduzir a frequência do estalido e, eventualmente, a sua intensidade, podendo mesmo desparecer. Mas esta é uma promessa que nós não devemos fazer. Não devemos criar essa falsa expectativa, até porque o estalido por si só não tem um significado muito problemático. Estudos revelam que não há nenhuma evidência que este estalido possa evoluir para situações de limitação de abertura completa, ou seja, que progrida para aquilo que se chama um locking, que é a incapacidade de não conseguirrecuperar o disco. É verdade que uma situação evolutiva pode ser passada duma situação de deslocamento com redução para deslocamento sem redução, onde não se consegue o alinhamento do disco com o côndilo e não se consegue abrir a boca ao máximo. Contudo, não há |Margarida Andrade nenhuma certeza nem nenhuma indicação que esta progressão seja o resultado duma situação não tratada. De facto, podem haver pessoas que tenham a vida inteira estalidos e que nunca procurem dentistas e isso não significa que irão desenvolver um deslocamento sem redução e ficar com uma limitação na abertura da boca. Deslocamento do disco com redução com travamento intermitente Apenas tratar sintomatologia dolorosa (quando existe) Normalmente autolimitante. Isto significa que o paciente na grande maioria das vezes consegue resolver sozinho o locking intermitente, com um jeitinho resolve a situação. Por vezes, pode requerer manipulação, alguma ajuda nossa para conseguir fazê-lo. Controlar a frequência dos eventos, isto porque, se cada vez for mais frequente, aí sim se calhar há uma tendência para o paciente passar de uma situação de deslocamento do disco com redução para uma situação sem redução. E aí já é importante fazer alguma coisa. DESLOCAMENTO DO DISCO SEM REDUÇÃO CARATERÍSTICAS CLÍNICAS Caraterística mais típica: Sensação de travamento mandibular na abertura, sem conseguir abrir na totalidade Limitação severa da mobilidade mandibular é frequente Ausência de ruídos articulares. Isto porque o ruído corresponde à recaptura/redução do disco e, como nós não temos a redução, então não vamos ter estalido. Deflexão na abertura/protrusão, para o lado afetado (em vez do desvio). Isto é facilmente compreensível. Se nós temos dois côndilos que quando nós estamos a fazer abertura começam a rodar e depois deslocam-se ao longo da eminência articular, e se de repente num dos lados há um travamento que não consegue fazer o movimento todo, mas o outro consegue, então a mandíbula torce. Ou seja, faz uma deflexão, e deflete para o lado afetado, que deixou de ter mobilidade. Artralgia (dor articular) pode estar presente ou não A situação inicial é semelhante, o disco está numa posição anterior ao côndilo. |Margarida Andrade Começamos a fazer o movimento e o côndilo começa a se deslocar para a frente e para baixo. E chega a um ponto em que em vez de existir o tal estalido, com redução do disco, simplesmente não consegue avançar mais. O côndilo não consegue progredir, não consegue ultrapassar esta zona espessa do bordo posterior do disco, e fica naquela posição. O disco está à frente, não consegue recuperar e ficamos com o movimento limitado a meio. Até que quando se executa o movimento de encerramento, volta à posição de encerramento habitual, sempre com o disco numa posição anterior. Podemos ter limitações severas (sem grande dificuldade de diagnóstico) ou relativas (situação de recuperação do disco relativa). Nas limitações relativas, o paciente consegue ir com os côndilos até um bocado à frente, mas não consegue percorrer toda a eminência articular. O disco está enrolado à frente. Esta situação com alguma mobilidade é muitas vezes confundida com uma situação de normal movimentação. Isto porque neste caso temos um deslocamento sem redução, mas sem uma limitação efetiva da mobilidade, ou seja, quando vamos medir a amplitude máxima da abertura da boca, o paciente consegue fazer uma abertura mais ou menos dentro de limites aceitáveis. Assim isto pode criar uma certa dificuldade no diagnóstico, pelo que este normalmente só é feito através do exame auxiliar de diagnóstico. Para que consigamos ter a certeza e conseguir ver através das imagens imagiológicas o que está verdadeiramente a acontecer. Lua Fidalgo Highlight |Margarida Andrade ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO Deslocamento anterior do disco sem redução sem limitação de abertura: Desordem biomecânica intracapsular que envolve o complexo disco-côndilo: Na posição de boca fechada o disco apresenta uma posição anterior relativa à cabeça do côndilo (isto só se vê imagiologicamente), e o disco não reduz na abertura. Deslocamento medial e lateral pode estar presente. Esta desordem não está associada com a limitação da abertura, contrariamente ao que seria de esperar. Sensibilidade (0,54) e especificidade (0,79) Ou seja, se o paciente diz que sente a mandíbula presa, não consegue abrir mais e nós avaliamos e a abertura máxima é superior a 40mm, então em princípio temos isto. Mas não é garantido pois como podemos ver a sensibilidade é muito baixa. Não ouvimos estalido porque existe uma situação de não redução, pelo que poderá confundir-se normalmente com uma situação duma ATM normal, sem alterações. É difícil ter a certeza, pelo que é necessário o exame auxiliar de diagnóstico. I. História Clínica Mandíbula prende sem que se consiga abrir mais E Limitação severa que interfira com a capacidade de alimentação II. Exame objetivo: Verificamos a abertura máxima assistida (com alongamento passivo do paciente). Para esta avaliação da abertura máxima, temos que incluir (somar) o trespasse vertical, não basta medir entre bordos incisais. Isto porque os incisivos superiores começam duma posição sobreposta com os incisivos inferiores. Assim, obtemos o nosso valor de abertura máxima, que nos vai servir de referência. Se este for: Deslocamento anterior do disco sem redução com limitação da abertura: Desordem biomecânica intracapsular que envolve o complexo disco-côndilo: Na posição de boca fechada o disco apresenta uma posição anterior relativa à cabeça do côndilo, e o disco não reduz na abertura. Deslocamento medial e lateral pode estar presente, embora como já foi visto o medial seja mais frequente. Esta desordem está associada com a limitação da abertura Sensibilidade (0,80) maior e especificidade (0,97) muitíssimo elevada ≥ 40 mm 40 < 40 mm 40 |Margarida Andrade Se for necessário fazer uma confirmação de diagnóstico, o exame por excelência é a ressonância magnética. É um exame auxiliar de diagnóstico com o objetivo de ver a posição do disco articular. E será positivo se: Na posição de MIC, o bordo posterior do disco estiver localizado anteriormente e o côndilo não estiver localizado na posição intermédia do disco. E Na abertura máxima, a cabeça do côndilo não estiver posicionada na zona intermédia do disco e há uma presença ou ausência de limitação da abertura determinada clinicamente TRATAMENTO Deslocamento do disco sem redução sem limitação de abertura Apenas tratar sintomatologia dolorosa (quando existe). Portanto, tratar a parte da atralgia. Podemos eventualmente tentar a recaptura, mas habitualmente sem grande sucesso. Até porque estas situações só nos aparecem quando já temos uma situação crónica de há imenso tempo. De facto, enquanto as pessoas têm a capacidade de tolerância e de controlar a situação, vão suportando, até ao momento que procuram ajuda. Mas muitas vezes já é com uma situação crónica instalada. Estudos revelaram que com o passar do tempo, a maior parte dos pacientes atinge função articular relativamente normal mesmo com o disco permanentemente deslocado, ou seja, mesmo com a tal situação de deslocamento anterior sem redução. Isto porque há uma tendência de adaptação do sistema e das estruturas intra-articulares de forma a conseguir |Margarida Andrade adquirir uma função dentro de parâmetros mais ou menos normais. Sempre com limitação, mas o suficiente para se conseguirem alimentar e fazer a mastigação relativamente normal. Portanto, há uma capacidade bastante ampla de adaptação destes sistemas. De facto, segundo a literatura, pacientes não tratados com deslocamento do disco semredução tendem a melhorar a sua eficácia e movimento mastigatório de forma espontânea. Estudos mostram melhoria espontânea na eletromiografia sem qualquer tratamento após o diagnóstico, com a melhoria dos sinais e sintomas clínicos. Portanto os músculos tendem a melhorar de forma relativamente espontânea. O facto de existir tensão muscular ou alguma limitação de movimento associada à parte articular tende a melhorar, isso é visto eletromiograficamente. A questão dos sinais e sintomas clínicos também tende a melhorar de forma espontânea sem grande tratamento. No entanto, são situações que habitualmente devemos tratar! Deslocamento do disco sem redução com limitação de abertura Tratar sintomatologia dolorosa (quando existe) Podemos tentar recaptura, embora não costuma haver grande sucesso Aqui é importante fazer exercícios de abertura em posição protrusiva para remodelação funcional. Estamos a falar de um tipo de exercício em que o paciente deve movimentar a mandíbula para a posição dentária topo-a-topo, e a partir daí fazer um movimento de abertura pausado até à abertura máxima e encerrar pausadamente. Por vezes estes exercícios tendem a fazer uma melhoria ou podem eventualmente ajudar a remodelar um pouco a morfologia do disco, de maneira a que com o alívio da pressão intra-articular este disco possa com o tempo ser recapturado. Isto não é algo garantido que vá acontecer, mas é uma possibilidade e é algo que o paciente é instruído e faz sozinho em casa. 3 séries de 10 aberturas e encerramentos, 2 a 3 vezes por dia Cirurgia Cirurgia interventiva para posicionamento do disco. Esta pode deixar sequelas, pelo que normalmente só se propõe tratamento cirúrgico se o ganho que se obtém com essa cirurgia for superior às limitações e sequelas com que pode ficar. Deve ser muito bem ponderado. Artroscopia ou artrocentese, que consistem muitas vezes numa lavagem articular e que pode ser feita de forma a remover todos os mediadores inflamatórios e de dor presentes. Normalmente é uma situação mais para a parte sintomatológica de dor, do que propriamente para a questão mecânica. Poderá melhorar um pouco a questão mecânica, mas é mais pela dor e fluidez de movimento. Não porque consiga resolver a falta de redução do disco. |Margarida Andrade DOENÇA DEGENERATIVA DA ARTICULAÇÃO ETIOLOGIA Não é verdadeira condição inflamatória Geralmente resulta duma sobrecarga articular (regional) ou dum comprometimento sistémico (de alguma alteração a nível sistémico) CARATERÍSTICAS CLÍNICAS A doença degenerativa da articulação divide-se em duas entidades, que clinicamente podem ser identificadas: Osteoartrite Presença de dor, principalmente em função Pode existir alguma limitação funcional Osteoartrose (estadio adaptativo) Há uma tendência para reduzir a intensidade da dor quando presente, mas de aumentar as limitações funcionais. Correspondendo a um verdadeiro estadio adaptativo da articulação. Ou seja, há uma redução de alguns sintomas de dor e de desconforto, mas a limitação funcional tende a aumentar. Tem maiores limitações de amplitude de movimentos e maior dificuldade em abrir a boca embora sem queixas de dor. ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO I. História Clínica Último mês, algum ruído articular presente. Aqui temos uma história clínica relativamente semelhante ao deslocamento anterior do disco com redução, isto porque os pacientes não nos dizem exatamente qual é o tipo de ruído que têm. Não sabem identificá-lo, apenas descrevem aquilo que sentem da forma que para eles lhes parece mais lógica. Cabe-nos a nós depois fazer uma condução para perceber exatamente o que é que acontece. II. Exame objetivo: Crepitação (e não um estalido) detetada à palpação durante abertura máxima não assistida, assistida, ou movimentos laterais ou protrusivos OU O próprio paciente reporta ruídos articulares “tipo areia” durante o exame, é como se sentisse areia entre as superfícies articulares, que é um ruído como se arranhasse, tipo crepitação. |Margarida Andrade É habitual em situações deste género nós pedirmos exames auxiliares de diagnóstico. Até porque as alterações ósseas que estão associadas a este tipo de disfunção só são visíveis com exame imagiológico e o exame típico é a tomografia computorizada. Fazemos a TAC da articulação com a boca aberta e fechada. Positivo para pelo menos um dos seguintes achados: Quisto(s) subcondral Erosão(s) das superfícies ósseas, normalmente mais frequente nos côndilos (mais do que a cavidade articular e eminência) Esclerose óssea generalizada nas superfícies articulares Osteófito(s): pequenas formações ósseas na superfície ou do côndilo ou da cavidade articular, que também é relativamente frequente de encontrar Mais frequente: erosões, osteócitos eventualmente quistos e esclerose. Mas atenção, não é por encontramos um aplanamento ou esclerose da cortical óssea, que é muito frequente ver-se numa ortopantomografia, que vamos pensar que estamos perante uma osteoartrite ou uma osteoartrose. Estes podem ser achados completamente indeterminados para a doença degenerativa da articulação. Pode eventualmente representar uma normal variação, efeito da idade do paciente ou consequência ou percursor de DDA. Ou seja, é um achado que pode eventualmente nos dar o alerta para ir analisar com mais cuidado a articulação, mas depois é preciso ir encontrar outras coisas, que já tem a ver com o algoritmo de diagnóstico. Doença Degenerativa da Articulação (possivelmente, porque a sensibilidade é baixa): Deterioração do tecido articular com concomitantes alterações ósseas no côndilo e eminência articular. Sensibilidade (0,49) e especificidade (0,86) Sem Doença Degenerativa da Articulação SIM NÃO |Margarida Andrade TRATAMENTO É importante a diminuição da sobrecarga articular. Esta pode ser feita com: Goteira Aumento da DVO Eventualmente com algum elemento reabilitador, se apresentar caraterísticas mecânicas de oclusão que assim o indique Farmacologia Anti-inflamatório não esteroide Ibuprofeno 400/600mg; com ou sem protetor gástrico (numa fase inicial, habitualmente para a fase da osteoartrite) Eventualmente um analgésico Terapia cognitiva comportamental: é importantíssima, trata-se duma modelação do comportamento do paciente Executar todas as atividades dentro de limites indolores, principalmente da mastigação Reaprendizagem da alimentação para movimentos pausados. De facto, quanto mais rápidos forem os movimentos, maior a força necessária para manter a trajetória da mandíbula na mastigação, e isso implica aumento da carga articular. Portanto é importantíssimo reduzir essa carga nesta fase. Terapêutica visco-suplementadora Trata-se de fazer uma nutrição da articulação através da toma por via sistémica ou local de alguns suplementos (sulfato de condroitina e glucosamina). Estes aumentam a fluidez e a capacidade de função da articulação, da fluidez de movimentos. Não faz milagres, mas melhora Tempo Os sintomas desta patologia têm uma curva padrão em forma de sino. Ou seja, têm uma fase ascendente, depois um planalto, que pode ser mais curto ou mais longo, e uma fase descendente. A fase ascendente está normalmente associada à fase de osteoartrite e a fase adaptativa já com a fase descendente. O tempo é um grande amigo desta situação. O tratamento definitivo pode passar por tratamento cirúrgico Cirurgia com o objetivo de corrigir anomalias das estruturas articulares de forma a conseguir uma melhor mobilidade articular, com eventualmente menos sintomas. Mas mais uma vez sempre a ponderar os riscos, complicações e consequências inerentes a umacirurgia deste género. Só quando os benefícios são superiores às consequências é que optamos por isto. Por exemplo, uma pessoa que tem uma limitação de abertura e só consegue abrir 1cm se passar a abrir 2,5cm pode ser uma melhoria significativa mesmo que depois fique com uma limitação de não conseguir abrir mais do que isso para sempre. |Margarida Andrade DISLOCAÇÕES COM HIPERMOBILIDADE Aquilo que nós habitualmente conhecemos como luxação e subluxação. ETIOLOGIA Normalmente não é patológico. A sua etiologia parte duma situação anatomo-funcional, que conjuga: Parede posterior da eminência articular curta Parede anterior da eminência articular bastante plana Grande elasticidade a nível ligamentar: Pessoas com grande elasticidade no seu corpo, que conseguem grande amplitude de movimentos com as articulações. Ou, neste caso, atendendo às caraterísticas anatómicas ósseas, a liberdade de movimentos que é permitida por estes ligamentos é exagerada face a estas caraterísticas anatómicas e daí a possibilidade de ocorrer a situação da dislocação com hipermobilidade. Ou seja, aqui temos um movimento muito amplo que resulta duma anatomia da ATM com uma eminência articular curta, ligeiramente aplanada e com uma liberdade de movimentos muito grande dada pelos ligamentos. De facto, existem ligamentos na zona posterior da ATM que limitam este movimento anterior da mandíbula. Se esses ligamentos permitem esticar muito, permitem que a mandíbula vá muito para a frente. E, portanto, não há grande limitação que compense esta anatomia da ATM. CARATERÍSTICAS CLÍNICAS Clinicamente verificamos: “Ressalto” do côndilo aquando de uma abertura muito ampla, nos movimentos de abertura máxima. Neste caso temos um ruído articular que nós identificamos como um Baque. O baque é como se fosse um estalido de grande dimensão, mas com um som mais surdo e abafado. Enquanto o estalido está associado a um “click” muito agudo, este é um som abafado. Desvio da abertura aquando do ressalto Tipicamente apresenta uma depressão pré-auricular, o que significa que, quando se dá o ressalto, a zona que fica exatamente à frente do ouvido apresenta uma depressão muito acentuada. Como se de repente se abrisse ali um buraco. Geralmente sem dor Situação repetitiva Pode acontecer só unilateralmente, não é obrigatório que seja bilateral |Margarida Andrade ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO Luxação quando paciente sofre este problema de dislocação espontânea prolongada e não consegue sozinho retornar à sua posição normal, precisa da ajuda dum terceiro com formação específica, normalmente um clínico. Subluxação quando o paciente sozinho consegue fazê-lo e o faz no seu dia a dia quando acontece. I. História Clínica História de travamento mandibular numa posição de abertura máxima (paciente refere que de vez em quando abre a boca e tem dificuldade em fechá-la) E Incapacidade de fechar a mandíbula sem uma manobra específica, tem de dar um jeito para fechar II. Exame objetivo: Quando fazemos a avaliação há uma incapacidade para retornar à posição normal de boca fechada sem o paciente/clínico realizar uma manobra específica Dislocação com hipermobilidade Uma desordem de hipermobilidade envolvendo o complexo disco-côndilo e a eminência articular. Na posição de boca aberta, o complexo disco- côndilo está posicionado numa posição anterior à eminência articular e é incapaz de retornar à posição normal de boca fechada sem uma manobra específica. A duração da dislocação pode ser momentânea ou prolongada. Quando prolongada o paciente pode necessitar de ajuda do clínico para reduzir a hipermobilidade e normalizar os movimentos mandibulares. Sensibilidade (0,98) e especificidade (1,00) Sem Dislocação SIM NÃO Subluxação Luxação |Margarida Andrade Sensibilidade elevadíssima e especificidade máxima, é super fácil de identificar. A caraterística muito típica é o facto de ser um paciente com travamento na abertura, mas apenas na abertura máxima e que tem um ruído articular na abertura máxima. Enquanto os ruídos do deslocamento anterior do disco são algures durante o movimento de abertura, raramente durante o limite máximo de abertura, este acontece no momento em que o paciente está a abrir praticamente o máximo. Acontece nas situações de aberturas máximas, quando bocejamos, quando comemos coisas que exijam uma grande abertura da boca, com uma sandes gigante, etc. Temos aqui esquematizada uma situação em que vemos no exame complementar de diagnóstico uma situação de boca fechada e uma situação de boca aberta, em que temos o côndilo para lá do limite da eminência articular (posicionado anteriormente à eminência). O que nos falta aqui é saber onde está o disco porque não se consegue perfeitamente ver em termos de raio x. TRATAMENTO Não há um tratamento até porque não é uma verdadeira disfunção, apesar de o tratarmos como tal. Quando acontece é uma situação traumática para a ATM, mas o tratamento é essencialmente preventivo. Terapia cognitiva comportamental, neste caso de restrição mandibular em termos de amplitude de movimento. Queremos que o paciente não abra a boca na totalidade. Para o caso do bocejo podemos ensinar ao paciente o truque de manter a ponta da língua a tocar no palato, o que lhe dá a satisfação do bocejo, porque é um mecanismo fisiológico que nos faz falta. Desta forma, limita bastante a abertura e não corre o risco Objetivo: contração mioestática - eventual uso de dispositivo intraoral Em termos curativos: ensinar paciente a reposicionar mandíbula. |Margarida Andrade É uma manobra muito específica. Posicionamos os polegares na face oclusal dos molares inferiores e agarramos na parte inferior da mandíbula com os outros dedos. O movimento a executar é um movimento para baixo e para a frente com a mandíbula, de maneira a que depois o côndilo rode ligeiramente de forma a fechar a mandíbula e para que encaixe novamente por detrás desta eminência. Temos de estar bem informados desta situação. Se tentarmos forçar o encerramento pode acontecer fratura da eminência articular ou mais frequentemente do côndilo. Podemos ensinar o paciente a fazer por ele próprio, não é algo muito complicado, às vezes basta nalguns casos fazermos uma pequena pressão com o nosso indicador ou polegar em cima do mento do paciente, que é o suficiente. Quando isto acontece os pacientes habitualmente ficam muito tensos, os músculos entram em grande tensão, especialmente se for a primeira vez, o que pode dar alguma dor. Portanto, o aspeto principal é acalmar o paciente. A partir desse momento às vezes a recuperação é quase espontânea. - Temos de acalmar o paciente para ele nos permitir criar algum tipo de movimento com a mandíbula. Se isto não acontecer, como os músculos da mastigação são muito fortes e têm uma capacidade de manter uma tensão muscular extremamente elevada, não conseguimos manipular. Tratamento definitivo Cirurgia (eminectomia): reduzimos ainda mais esta eminência de maneira a que ela não exista e assim o disco e côndilo vão para a frente e para trás sem grande problema e limitação. Isto é o último recurso e faz-se quando os pacientes têm quase todos os dias uma situação destas e têm de ir sempre ao médico porque não conseguem reposicionar.
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