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Comentário de O povo e a guerra

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GUERRA FILHO, Sérgio Armando Diniz. O povo e a guerra: participação das camadas populares nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia. 2012.
Luana Teixeira Barros
sevenlua@outlook.com
	Guerra Filho (2012) traz em sua dissertação uma análise da presença das classes menos abastadas da sociedade baiana oitocentista antes e depois do 2 de julho. Tal investigação contribui consideravelmente para a compreensão desse período de luta pela Independência, descontruindo as generalizações e a abordagem seletiva presente em vários trabalhos acerca do período. 
Em O povo e a Guerra, o termo “povo” é normalmente associado as camadas populares: pobres, mestiços, negros livres e escravos, bem como sua participação nos movimentos revoltosos, interpretados pela elite enquanto “desordem” e rebeldia. É importante ressaltar que existe uma construção histórica do sentimento de insatisfação e reivindicação desse “povo”, perceptível a partir da conduta com um caráter revolucionário. 
Guerra Filho propõem em tal estudo demonstrar que a participação do “povo” não é algo novo na guerra pela Independência, mas que foi gerada em meio a uma identificação de interesses e de inquietações por aqueles que não possuíam autoridade política e social, pois eram alvos de uma hierarquia estruturalizada. Pretende, dessa forma, não fazer uma abordagem voltada para o aspecto militar, mas explorar um âmbito fundamentalmente político e social, de forma que seja possível compreender as particularidades desse contexto que compõe a História da Bahia. 
	No capítulo 1, Independência do Brasil: a guerra dentro da guerra, o autor faz uma abordagem historiográfica e expõe a visão do século XX, a respeito dessa temática, enquanto uma concepção que enfatiza o heroísmo do Exército Pacificador, pelo fato de investirem contra as tropas portuguesas e terem, supostamente, alcançado uma quantidade baixa de perdas. O autor visa desconstruir tal pensamento harmonioso, e argumenta sobre o que se realmente lutava: o tempo que demanda uma guerra causa circunstâncias para além de uma realidade entre lados. Há um desgaste físico e emocional, sendo que o físico ultrapassa os limites da sobrevivência humana: fome, doenças, mortes, tensões para ambos os lados. Dessa forma, a situação interna preocupava e muito o comado do Exército Brasileiro; a guerra não era só contra os portugueses, mas com as inúmeras circunstâncias que fugiam à ordem de necessária para organização de uma unidade combatente. 
	A guerra pela independência precisa ser vista pelo lado interno, analisando as particularidades, tensões e conflitos, bem como a realidade política e social dos “verdadeiros personagens” desse marco histórico, que é pouco abordada pela historiografia. Assim, Guerra filho procura analisar o período de 1822 a 1824 em sua estrutura e conjuntura, ou seja, de que forma os acontecimentos gerais influenciarem de forma particular na guerra pela independência na Bahia. O que chama atenção para a proliferação dos ideais revolucionários da França, a ênfase nos conceitos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que, por mais foram bases para fins e interesses da Burguesia, formam interpretados por vários movimentos de caráter revolucionário, segundo a realidade sócio histórica de cada. 
	Para o autor, é crucial descontruir a ideia de pacificação das camadas populares frente a situação de guerra. Para ele, as manifestações do dito “povo” ocorriam antes mesmo da luta pela expulsão dos portugueses na Bahia. Além de serem movimentos populares que se davam de forma heterogênea. Não havia uma participação popular só no que tange ao conflito contra os portugueses, tais atos foram, muitas vezes, associados a um caráter rebelde. Ou seja, não existia uma unidade no “lado brasileiro”, os interesses e participação política estavam longe de serem homogêneos. 
	É importante dizer que a organização das tropas não era algo simples dado o contexto da guerra, havia uma junção de tropas milicianas, militares exilados e dos chamados “voluntários” que, a partir de um determinado tempo no conflito, ficaram à mercê de um comando estrangeiro, com a vinda de Labatut, o que ocasionou posicionamentos contraditórios dentro da elite e das tropas baianas. Foi necessário para apaziguar os interesses diversos, a construção de uma guerra digna de sacrifício, despertando a ideia de nação frete ao antilusitanismo. 
	Com a influência da História Social, alguns autores que estudam a História da Bahia, como Luís Henrique Dias Tavares, deixaram de enfatizar os heróis nacionais, abrindo espaço para os grupos sociais, até então pouco abordados pela historiografia. Além disso, é posposto destacar que não existia uma unidade sócio-política entre os indivíduos participantes da guerra, já que eram diversos os interesses, dos quais a elite, mesmo heterogênea em si, queria impor seu comando. O que se pode perceber, a partir dessas questões, que o “lado brasileiro” estava longe de ser homogêneo, hormônico e pacífico; o estudo da conjuntura desse período contribui para a desconstrução de uma Guerra romantizada e construída pelo heroísmo nacional. 
	Guerra Filho traz no segundo capítulo de sua dissertação uma proposta de contrastar essa entidade social chamado “povo”, sem cair na generalização e no reducionismo. Ele aborda a Bahia na Guerra pela Independência em um cenário fundamentalmente hierarquizado, tensionados pela “desigualdade, a miséria e a escravidão” (GUERRA FILHO, 2004, p. 43), contexto esse que propiciou o sentimento de rebeldia pelos menos favorecidos. Entretanto, o autor argumenta que a hierarquia social vai além da questão antagônica entre elite e “povo”, visto que existia ainda uma camada social intermediária que, mesmo estando em uma condição melhor que outros indivíduos, participam também de uma “pauta popular” (Idem, p. 44).
 Para o autor, as insatisfações das camadas populares não foi algo de momento, proporcionado pelos acontecimentos de fevereiro de 1822, mas se trava de uma construção, principalmente após a Conjuração Baiana de 1798, e que ganhou forma e traços mais nítidos com a guerra. Para o autor Braz do Amaral, as manifestações das camadas menos abastadas era uma desordem frente ao movimento de interesse maior: o de vencer os portugueses. Entretanto, tal interesse era para benefício daqueles que possuíam influência política e econômica, ou seja, para aqueles que não se encaixavam no conceito de povo. O povo seria, segundo Braz do Amaral, uma categoria homogênea que por si só não conseguia organização, o que gerava a necessidade de uma liderança e controle pelas mãos da elite. Dessa forma, para a concepção elitizada, existia uma anarquia e desordem em um período que exigia da própria elite medidas de repressão para o estabelecimento da “ordem”. 
A respeito do povo, houve a construção de uma identidade que, mesmo não sendo composta por uma unidade, foi formada a partir de interesses comuns, como as insatisfações com o comando e com as autoridades. Assim, o Exército Libertador teve que enfrentar um conjunto de situações conflitantes no período de guerra. O que deixa a entender que apesar de não ter um acontecimento revolucionário até o início da segunda década do século XIX, no que tange a Bahia, os anseios, cobranças e indignações expostas na Revolta dos Alfaiates não forma esquecidos. 
	A guerra e a repressão militar foram o principal motivo que não propiciou o povo elaborar um projeto que tivesse em sua base uma organização política capaz de unir os interesses e demandas comuns aos indivíduos. Mas foram os mesmos motivos que levaram ao povo expor suas revoltas das mais diversas formas, mesmo que de forma dispersa. 
	A fim de mostrar de que forma a classe mais abastada reagiu aos movimentos populares, Guerra Filho intitula o capítulo três como: “Elite” e “Povo”: tensões sociais e a guerra. Era crucial para a elite garantir a ordem no conflito contra as tropas portuguesa, visto que, com a crise do sistema colonial, essa classe enxergava na formação do Estado brasileiro a possibilidade de manter o favorecimentosocial, político e econômico. Por isso que houve perseguição tanto de portugueses, quanto de indivíduos que desertaram do Exército Libertador. Dessa forma, o discurso patriótico surgiu enquanto uma necessidade, a um primeiro momento, de justificar e legitimar os conflitos na luta pela Independência, para que houvesse o apoio de doações pela elite em prol da manutenção do exército. Tal discurso é denominado pelo autor de “patriotismo de elite” (GUERRA FILHO, 2004, p. 74), no qual o nome daqueles que mais contribuíram na guerra tinham seu nome registrado nas Listas Patrióticas, o que gerava uma espécie de status político e social. Entretanto, só esse tipo de discurso patriota voltado para as classes mais beneficiadas não foi suficiente para a manutenção da ordem desse período, já que parte do exército era formado pelo “povo”. O patriotismo popular, portanto, foi uma estratégia do Conselho interino para despertar o sentimento “nacional” com o interesse de manter o voluntarismo desses indivíduos e a organização da guerra. 
	Mesmo com o desenvolvimento dessa questão patriota, não foi de longe suficiente para evitar revoltas populares e, em particular, de lideranças radicais, o que era um verdadeiro problema para o Conselho Interino. A coerção foi um mecanismo utilizado pelo Conselho Interino de Governo para com esses indivíduos que espalhavam a “desordem” e “anarquia”, além de ser uma influência para as camadas menos abastadas, seja só por atos rebeldes ou por propagação de ideias políticas. Mesmo que esses líderes não tenham alcançado uma mudança que atendesse os seus interesses, seus atos chamaram a atenção do comando militar, em um período que o maior objetivo era lutar contra os portugueses, a luta se tornou muito mais complexa do que se pensava e em outras instâncias.
	A situação interna no Conselho Interino do governo, principalmente a partir do comando de Labatut, estava envolta por descontentamentos e insatisfações. O próprio Conselho alegava que Labatut promovia danos a província, como o caso da morte de 50 cativos por suas ordens. O interessante é que tal atitude gerou uma revolta entre a elite e os governadores, mas não por uma questão humanitária, e sim por se tratar de um dano econômico, perda de mão-de-obra. Os escravos eram, sem dúvidas, uma parte importante para a manutenção dos privilégios sociais dos grandes proprietários (GUERRA FILHO, 2004, p.91), assim, quando Labatut incitou a participação dos escravos com uma promessa de liberdade, atingia os interesses desses indivíduos que não queriam perder mão-de-obra, muito menos a propagação de liberdade e o desejo pela fim da escravidão. Assim, a organização de um exército de negros não era, de forma alguma, proveitosa para as classes mais abastadas, já que não atendiam os seus interesses. 
	No que que tange a participação popular na guerra, aprofundada no capítulo quatro, é perceptível que ao mesmo tempo que o povo servia ao Exército Libertador, acontecia paralelamente manifestações ditas contrárias e das mais diversas formas tanto por indivíduos que não estavam alistados no Exército ou eram desertores, ou por aqueles que formavam as tropas. Dentro ou fora do Exército não havia uma identificação e unidade do objetivo central da Guerra, os soldados voluntários não possuíam nenhuma, ou quase nenhuma preparação militar e muito menos se identificavam com a rígida disciplina imposta pelo comando. O que piorava ainda mais esse cenário erra a escassez de equipamentos, armas e de comida, a manutenção de um exército não era nada simples, ainda mais quando esse era formado por condições desfavoráveis. Guerra filho descreve esse semanário da seguinte forma, “[...] Uma guerra imóvel, onde fome e as doenças matavam provavelmente mais do que balas tocadas pelas partes beligerantes” (p. 107). O que levou muitos indivíduos quererem regressar para casa. 
	O autor cita os motins de forma que explicite essa participação popular descontruindo a ideia de pacificidade. De forma que a violência para com esses ditos rebeldes ia além de castigos físicos, trabalho forçado e pena de morte. Para a elite a desordem e “anarquia” era um insulto ao Exército, visto que havia uma remuneração dos soldados o que não garantia a esses, entretanto, boas condições de vida, o que levou a inúmeras deserções e, alguns desses desertores possuíam uma certa organização, bem como armas. Situação ainda mais preocupante para o Conselho Interino. 
	Sobre os índios na guerra pela independência, o autor aborda a presença desses indivíduos e argumenta que “Muitos se alistaram ‘por serem homens pobres haveriam e dificilmente haveriam de se identificar patrioticamente com aqueles que estavam empenhados em tomar-lhes as terras, provocando-lhes a miséria” (GUERRA FILHO< 2004, p.117). Entretanto, devido as “desordens” muitos índios formam impedidos de lutar no Exército. 
	É importante ressaltar que após o 2 de julho o “lado brasileiro” tinha uma maior guerra a enfrentar, dessa vez contra questões internas que provocaram desorganização, bem como revoltas populares. Essas, mesmo com o fim da guerra, não deixarem de acontecer e ganharam destaque principalmente no segundo semestre de 1823 e em 1824, sendo a Revolta dos Periquitos o ato mais relevante e que houve a maior presença rebelde envolvendo o “povo”. Mesmo que não houvesse, de fato, uma organização que fosse capaz de modificar a estrutura ali imposta, a participação na Guerra da Independência do Brasil na Bahia é, de longe, um dos elementos crucias para compreender a complexidade sociopolítica desse período, nem como dos acontecimentos que estavam ainda por vir.

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