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AULA 1 INTELIGÊNCIA PSICOMOTORA: A COMPREENSÃO DA RELAÇÃO CORPO/MENTE NA APRENDIZAGEM Prof. Marcos Aurélio Iubel 2 SOBRE A RELAÇÃO CORPO/MENTE INTRODUÇÃO Cérebro. Muitas pessoas podem sentir-se desafiadas por uma simples palavra, pela complexidade existente por trás dela, das sinapses, dos neurônios, das regiões cerebrais e suas funções, de toda a estrutura complexa que emana do cérebro. Hoje sabemos muito das suas características e especificidades e podemos associar a maioria das nossas ações ao controle que o cérebro impõe ao nosso corpo. Em um plano anatômico, ele pesa em média 1,36 kg e tem em torno de 100.000.000.000 (cem bilhões) de neurônios. Cada um desses neurônios pode ter até algo em torno de 10.000 (dez mil) entradas sinápticas de outros neurônios, formando uma interconexão neural, ou seja, temos aí 1.000.000.000.000.000 (um quatrilhão) de sinapses. Toda essa atividade que ocorre dentro das nossas cabeças pode consumir até 20% do nosso metabolismo, mesmo o cérebro representando, na média de um adulto com o peso adequado, apenas 5% da massa corporal total (Amthor, 2017). O cérebro conseguiu chegar a esta estrutura após bilhões de anos de evolução. Quando o nosso planeta ainda era tomado completamente pela água, as primeiras formas de vida eram as unicelulares procarióticas, células que não tinham um núcleo celular; que posteriormente formaram as células eucarióticas, que têm um núcleo; e que, mais tarde, seguindo a teoria dos biólogos evolucionistas, formariam a vida multicelular, que culminariam nas formas de vida que conhecemos hoje (Amthor, 2017). O Sistema Nervoso Central (SNC), formado pelo cérebro, medula espinhal e retina ocular, é o carro-chefe para interpretarmos o mundo que nos cerca. Todavia, seria ineficiente sem os outros sistemas que formam uma rede inter- relacionada com órgãos, músculos e receptores existentes no Sistemas Nervoso Periférico (SNP), que são alimentados de informações pelos axônios sensoriais e motores. Outro sistema existente é o autônomo, responsável pela regulação da digestão e também pela manutenção da frequência cardíaca. Já o sistema nervoso entérico controla todo o processo gastrointestinal (Amthor, 2017). Neurônios, segundo a definição de Frank Amthor (2017), são ‘’células especializadas que processam informação’’, ou seja, são as responsáveis por esmiuçar o tipo de informação recebida e processar/interpretar para o cérebro executar a ação correta e necessária. 3 Existem quatro tipos de neurônios: os sensoriais, os motores, os de comunicação e os de associação. Os neurônios sensoriais são responsáveis por informar ao cérebro sobre os acontecimentos ao seu redor, como a percepção de se está dia ou noite, calor ou frio, e interpretar as informações externas e internas. Os neurônios motores são responsáveis pela contração e relaxamento muscular e por mediar comportamentos; também são incumbidos de estimularem glândulas e órgãos. Os neurônios de comunicação, como o próprio nome sugere, levam os sinais de uma área do cérebro para outra. Os neurônios de associação interpretam os estímulos que vêm através dos sentidos, confrontam com o que está na memória e utilizam o mesmo padrão para planejar e executar um comportamento. Se escutamos um barulho muito alto, podemos ter sempre a intenção de colocar as mãos no ouvido para abafar o som ou, ainda, falar mais alto para que nossa voz possa ser melhor compreendida (Amthor, 2017). Figura 1 – Cérebro Créditos: Sebastian Kaulitzki / Shutterstock. Quando observamos um cérebro pela vista lateral, podemos identificar algumas estruturas básicas, como o lóbulo frontal (1), lóbulo parietal (2), lóbulo occipital (3), lóbulo temporal (4) e cerebelo (5). Os lóbulos formam o neocórtex, estrutura que é mais desenvolvida nos mamíferos e que pode distinguir a nossa maior capacidade de processamento de informações (Amthor, 2017). O cerebelo (5) é definido por Frank Amthor (2017) como ‘’uma estrutura de coordenação motora complexa que, segundo algumas estimativas, contém tantos neurônios quanto o resto do sistema nervoso’’, sendo parte fundamental para os movimentos que dominamos ou ainda poderemos aprender. Danos a esta estrutura acarretam movimentos lentos e descoordenados, com imprecisão e pouca força, muitas vezes lembrando um robô (Amthor, 2017). 1 2 3 3 4 5 4 O movimento, componente importante do nosso dia a dia, é essencial para qualquer atividade recreativa, profissional ou laboral. Ele começa no cérebro, passa pela medula espinhal, chega aos músculos e gera a ação necessária. Quanto mais repetimos um mesmo movimento, mais ele torna-se eficiente, preciso, com menos gasto energético. Ao longo desta aula, poderemos aprender mais sobre a neurofisiologia do comportamento motor, como um estímulo pode ser respondido com um movimento e todas as suas possíveis ações (Amthor, 2017). TEMA 1 – O MOVIMENTO É NECESSÁRIO Os movimentos que fazemos ao longo do nosso dia foram aprendidos em algum momento de nossas vidas. A caminhada, a preensão de um lápis, o corte de um legume na cozinha, tudo teve o seu tempo e seu momento para ser aprendido. Por mais específicos que sejam estes exemplos, podemos analisar que nunca é tarde para aprendermos alguma habilidade nova, porém a nossa estrutura, corporal e cognitiva, deve estar pronta para receber estes novos estímulos (Oliveira, 2015). Esta estimulação provocará novas reações e respostas, que precisarão de novas sinapses, descritas como uma conexão entre um neurônio e outro, para transmitir estas novas informações. Oliveira (2015) define que o aprender “significa usar sinapses normalmente não usadas. O uso, de maior ou menor número de sinapses é o que condiciona uma aprendizagem no sentido neurológico”. Por isso, o movimento é tão necessário desde os primeiros meses de vida, pois a cada desafio superado pelos bebês, mais eles conseguem desenvolver o cérebro para novos desafios, lembrando sempre de respeitar o processo de maturação e não exceder estes estímulos, pois o sistema nervoso não se desenvolve de uma vez e segue uma sequência. Lourenço Filho (1964, p. 35) citado por Oliveira (2015) aponta que “a aprendizagem supõe um mínimo de maturidade de onde possa partir qualquer que seja o comportamento considerado”. A teoria das fases do desenvolvimento motor de Gallahue e Ozmun (2005) corrobora essa ideia de um sistema cognitivo maduro ser necessário para o aprendizado de uma habilidade motora. Por exemplo, uma criança que está na fase motora fundamental, no estágio inicial, terá entre dois e três anos, as 5 atividades propostas a ela, uma brincadeira que seja, devem estar condizentes com o seu nível de compreensão cognitiva e motora (Oliveira, 2015). Entretanto, não somente a maturação é importante para a aprendizagem, outros fatores como a condição social, a interação com o meio ambiente, a experimentação de novas atividades e exercícios são aspectos muito importantes para um bom desenvolvimento mental. Para tal afirmação, Oliveira (2015) concorda com Bee e Mitchell (1984) quando eles dizem que “o desenvolvimento motor é afetado pela oportunidade de praticar e pelas variações ambientais mais importantes. [...] o ritmo pode ser retardado pela ausência de pratica ou experiências adequadas”. Podemos pensar em um grupo de alunos que começaram juntos em uma escola de natação, fazendo aula com o mesmo professor, sendo que nenhum deles havia frequentado a estas aulas anteriormente. Este professor, no caso, não sabe ensinar o nado costas para os seus alunos e também não deixa que eles tentem por si aprender tal estilo, priorizando os outros três estilos: borboleta, peito e crawl. Ao final de um trimestre de aulas, devemos considerar a evolução destes alunoscomo satisfatória ou não para o ensino da natação? Nas habilidades de deslocamento e mergulho de frente, eles conseguem realizar as atividades, mas quando mudamos o decúbito, as coisas já não saem de uma maneira positiva, pois os alunos não tiveram aquela vivência de deitar na água, deslizar, fazer um nado elementar de costas até o padrão do movimento do nado completo. Por mais que um aluno tenha o espaço adequado (uma piscina) e um intermediador (o professor), ele só consegue alcançar o máximo da sua eficiência motora quando é estimulado a experimentar os mais variados movimentos e diferentes formas de se realizar um mesmo objetivo. Se a ideia é atravessar a piscina sem colocar o pé no chão, o aluno pode ir nadando um dos quatros estilos, mas também pode ir nadando de “cachorrinho” ou, ainda, intercalando um estilo de nado com mergulho, enfim, da maneira que quiser experimentar o seu corpo no meio, adotando a maneira mais eficiente que ele encontrar. As crianças que não têm uma maturação suficiente para criar um movimento ou pensar na melhor forma de transpor um desafio, geralmente copiam aquelas que já conseguiram, parecendo pequenos robôs copiando o movimento dos outros. Crianças que vivem em um ambiente pouco encorajador, como famílias superprotetoras, ou ambiente que tenham pouco espaço para a recreação, acabam tendo pouca experiência motora e apresentam uma desvantagem no 6 desenvolvimento motor global, comparado com outras crianças da mesma idade (Oliveira,2015). Por isso, Oliveira (2015) afirma que a psicomotricidade pode auxiliar as crianças a alcançarem um desenvolvimento integral, o que propiciará uma melhora na aprendizagem, não somente na área motora, mas também, em consequência, nas cognitivas. TEMA 2 – NEUROFISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO MOTOR Segundo a definição de Krebs et al. (2013), a neurofisiologia “é o estudo dos movimentos de íons através de uma membrana. Estes movimentos podem iniciar a transdução de sinal e a geração de potenciais de ação”. Estes potenciais de ação também podem ser denominados como impulsos elétricos, que ocorrem ao longo da superfície dos neurônios. São eles que, por meio de sinapses, levam a informação correta para o local certo (Krebs et al., 2013). Por exemplo, se estamos praticando tênis de mesa, devemos caracterizar o nosso padrão de movimento para esta atividade. Com um padrão correto de movimento e força, analisamos o tamanho do local de jogo, a velocidade da bola, a área da raquete, entre outros componentes (Gallahue; Ozmun, 2005). A área do comportamento motor pode ser dividida em outra três, com denominações diferentes, porém interligadas: a aprendizagem motora, o controle motor e o desenvolvimento motor (Tani et al., 2010). Essas áreas de estudo podem abranger pesquisadores que estudam a neurociência cognitiva, a neurofisiologia, a bioengenharia, a educação física, entre outras, que têm o movimento como objeto de estudo. Quando aprendemos um novo padrão motor, devemos passar por uma sequência pré-existente de aquisição de movimento. Primeiro nós aprendemos para depois controlarmos melhor as ações e, assim, desenvolvê-las. Já os interesses de estudo da neurofisiologia estão integrados com a neurociência, que interagem também com os campos dos estudos comportamentais; e as últimas pesquisas mostram que o comportamento motor se mostra cada vez mais relacionado com a biomecânica e a neurofisiologia (Tani et al., 2010). Nos últimos anos, duas teorias foram mais difundidas dentro da literatura sobre o comportamento motor, conforme Meijer e Roth (1998), citados por Tani et al. (2010): a teoria de perspectiva dos sistemas motores (teoria motora), que enfatiza o Sistema Nervoso Central como controlador dos movimentos, e a 7 perspectiva dos sistemas de ação (teoria de ação), que denota a interação do corpo com o ambiente. A teoria motora diz que os movimentos realizados copiam padrões já existentes na nossa memória cerebral e que os músculos servem como um “servomecanismo” do SNC (Tani et al., 2010). Em contraposição, a teoria de ação enfatiza a troca de informações entre o corpo e o ambiente, as respostas que recebemos dos órgãos sensoriais para planejar e executar uma resposta ao estímulo recebido. Quando um skatista começa a andar pelas ruas, deve absorver várias informações, como o tipo de piso, se existe algum obstáculo, como uma escada, se ele deve transpor este obstáculo, quais ações ele deve tomar – flexionar os joelhos, abaixar o centro de gravidade para um melhor controle, afastar mais os braços para melhorar o equilíbrio, entre outras ações (Tani et al., 2010). Retomando as definições neurais, entendemos que a função principal do Sistema Nervoso Central é controlar o movimento, e são os neurônios motores que conduzem a contração e o relaxamento dos músculos, que, junto com as células musculares são concebidos como efetivadores do sistema motor. Saindo da medula espinhal para controlar os braços e pernas, temos os neurônios motores (Amthor, 2017). Os movimentos existentes no corpo humano podem ser separados basicamente em voluntários e involuntários, porém, dentro destas distinções, podemos caracterizar um pouco mais cada tipo. O autor Frank Amthor (2017) disserta sobre estes tipos: (A) movimentos que regulam funções corporais internas, (B) movimentos reflexivos, (C) movimentos voluntários totalmente conscientes. A. O sistema nervoso autônomo, que acaba controlando as funções corporais, regula as contrações estomacais e intestinais, frequência cardíaca e respiração. Normalmente não estamos conscientes da respiração, contudo podemos controlá-la, fazendo um exercício físico por exemplo, dentro ou fora d’água. B. São o resultado de um estímulo sensorial, como o afastamento da mão de uma ação dolorida e o reflexo de engasgo. C. Os humanos conseguem realizar uma sequência aprimorada de movimentos, pois proporcionalmente temos cérebros grandes, comparados ao tamanho médio do corpo. Assim, temos uma grande área de lobo frontal, responsável pela representação do movimento, ou seja, 8 podemos realizar um planejamento melhor de um movimento, aumentando sua qualidade (Amthor, 2017). 2.1 Controle do movimento Os tipos de contrações musculares podem variar de ações automáticas, reflexivas e planejadas, cada qual com uma exigência diferente. 2.1.1 Movimentos involuntários Ainda para definir a representação dos tipos de músculos e tecidos, Frank Amthor (2017) define que “movimento que não são controlados voluntariamente são normalmente realizadas por músculos lisos [...] nas paredes dos vasos capilares, permitem que os vasos contraiam e dilatem para ajudar o coração a movimentar o sangue”. As células musculares lisas se contraem de maneira espontânea, pois elas próprias produzem os seus potenciais de ação, intestino e sistema digestivo, por exemplo. 2.1.2 Movimento de reflexo Quando conciliamos uma ação motora e uma sensorial, temos o reflexo, isto é, o movimento que é originário depois de passarmos por uma sensação desagradável (colocar a mão numa superfície muito quente) ou inesperada (som de um pneu de caminhão estourando). Frank Amthor (2017) explicou esta ação usando como exemplo o momento em que colocamos o dedo em uma tachinha. 1. A ponta penetra a pele e ativa os receptores de terminações nervosas [...]; 2. Os receptores de dor enviam suas mensagens através dos potenciais de ação por seus axônios, [...] para o gânglio da raiz dorsal que recebe a informação de toque do dedo; 3. O axônio do receptor de dor libera o glutamato neurotransmissor na área cinzenta espinhal para interneurônios da medula espinhal; 4. Os interneurônios espinhais contatam neurônios motores para o bíceps e tríceps; 5. Os axônios do neurônio motor deixam a parte ventral da medula espinhal e entram e viajam nomesmo nervo que a entrada sensorial em direção ao gânglio da raiz dorsal; 9 6. O resultado final: o tríceps relaxa enquanto o bíceps flexiona, fazendo o braço se afastar da tachinha. Este movimento não depende de uma ação cerebral, ele ocorre diretamente na medula espinhal, ou seja, os sinais sensoriais não têm tempo de chegar ao cérebro para que ele possa planejar uma ação motora. 2.1.3 Locomoção Quando caminhamos, estamos realizando uma atividade coordenada, controlada na medula espinhal e diversificada com segmentos, interagindo os dois braços e as duas pernas basicamente. Os circuitos neurais que existem na medula espinhal, conhecidos como gerador de padrão central, podem alternar o controle do movimento, assim sendo, nós não controlamos um estilo de caminhada, simplesmente realizamos este padrão motor. Podemos até andar de uma maneira diferente a que estamos acostumados, porém precisamos recrutar uma parte do lobo frontal para tal ação. A existência de um controle hierárquico serve para direcionar o processo geral, para definir um “rumo”, não havendo preocupação com ações específicas de cada membro (Amthor, 2017). Como os níveis mais baixos da medula espinhal é que cuidam dos detalhes da caminhada, o nosso cérebro não precisa focar em cada contração realizada, aumentando a eficiência. Como os detalhes são feitos nos circuitos espinhais locais, que ficam mais próximos que o cérebro, este pode monitorar o progresso geral, pois, se as transmissões dependessem de os receptores articulares irem e voltarem do cérebro, levaríamos mais tempo para sair do lugar. Existe uma sequência pré-determinada pelo cérebro para andar, porém, se tropeçamos, o reflexo espinhal aprende a tomar uma ação imediata para corrigir este “erro”, ou seja, existe uma flexibilidade na ação tomada (Amthor, 2017). Temos a impressão, com essas informações, de que não precisamos de um cérebro, porém ele é fundamental para a tomada de decisões, por exemplo: andar ou não, correr ou caminhar, para onde ir. Atividades como dançar, brincar, pular, saltitar, rolar e girar exigem sequências complexas, requerem mais do que a medula espinhal pode realizar. Para aprendermos estas ações, precisamos observar um padrão correto, pensar em como executar tal movimento, realizar um feedback do erro, ou seja, atos que acontecem dentro do cérebro (Amthor, 2017). 10 2.1.4 Comportamento motor complexo O cérebro pode controlar diretamente os músculos da medula espinhal. Estas ações são mais complexas, pois envolvem adaptabilidade, planejamento e conhecimento das situações que provocaram uma mudança. Se pensarmos em um carro que anda por uma estrada sozinho, ele pode manter o controle por vários quilômetros, entretanto, se passa por um local de um acidente, onde uma pista está bloqueada, o motorista deve assumir o comando, passar pelo caminho correto, dirigindo mais devagar e com mais atenção. Este seria o papel do cérebro e da medula espinhal, esta pode assumir o caminhar, contudo, quando precisamos tomar decisões mais concisas, precisamos do cérebro (Amthor, 2017). 2.2 As células musculares Os músculos são formados por grupos de células musculares que se contraem por conta da contração das células localizadas ao longo do seu comprimento. O nosso corpo tem dois tipos de músculo: o liso e o estriado. Os estriados são os responsáveis pelas ações voluntárias, controladas pelo sistema nervoso. Estas células musculares formam as fibras musculares, e um conjunto de fibras forma um músculo. De acordo com Frank Amthor (2017), “o número de células musculares contraídas ao longo de uma fibra determina seu encurtamento, que, por sua vez, é controlado pelo número de células musculares ativadas”; e, ainda, define que a força de contração é determinada pelo número de fibras musculares. Quanto mais neurônios motores ativados controlam um grupo muscular, mais precisão de contração teremos, isso é visto, por exemplo, quando uma criança usa muita força para abrir uma garrafa e acaba derrubando-a. Por mais que ela consiga abrir uma garrafa, pois tem força para tal, não consegue definir o quanto é necessário para romper a inércia da tampa. Acabamos desenvolvendo mais controle motor e mais neurônios motores ativados com a maturação do SN (Amthor, 2017) (Gallahue; Ozmun, 2005). 11 Figura 2 – Criança Crédito: DenisNata / Shutterstock. TEMA 3 – PLANEJANDO AS AÇÕES O ser humano é movido por ações, sejam estas de caráter recreativo ou laboral. Estamos nos movimentando na maior parte do tempo, isso inclui coisas que gostamos ou não de realizar. A sociedade opera por meio das habilidades de escolhas, que são direcionadas pelos pensamentos e pela racionalidade, na maioria das vezes. Somos livres para determinar as nossas escolhas e como iremos executá-las, trata-se do chamado livre arbítrio, contudo, qual região do cérebro é responsável por estas escolhas? (Amthor, 2017). Já vimos que o nosso corpo realiza diferentes tipos de movimentos, ações reflexas, movimentos involuntários e movimentos planejados, cada um controlado por um tipo determinado de circuito neural. Voltando ao exemplo da caminhada, em que os músculos comandados pela medula espinhal são os executantes da ação, é preciso sinalizar, contudo, que o cérebro, utilizando o córtex motor primário, pode assumir o controle muscular, caso seja necessário executar alguma ação diferente durante a trajetória, não precisando contar unicamente com os reflexos. Se pensarmos em uma queda, temos a ação de colocar as mãos para frente, a fim de evitar um ferimento maior, que pode ser evitado se, antes de isso acontecer, o cérebro enviar o comando de corrigir a ação passada; ou, ainda, em pular um buraco, antes de cair no chão (Amthor, 2017). 12 Figura 3 – Córtex motor primário e córtex somestésico primário Crédito: Alila Medical Media / Shutterstock. O controle motor cortical é que permite esta flexibilidade e adaptação no padrão do comportamento motor, o que não é possível apenas com a medula espinhal. Os neurônios motores que estão no córtex motor primário acabam mandando seus axônios através da medula espinhal, chegando nos neurônios alfa, que comandam os músculos do tronco (Amthor, 2017). Mas como o nosso cérebro sabe quais funções e em qual ordem ele deve executá-las? Quais metas o córtex motor primário deve estabelecer para determinar, planejar e executar um plano motor? Para cumprir um mesmo objetivo, você pode ter alternativas diferentes. Se estamos em um shopping e queremos ir até o cinema, existem vários caminhos que levam ao mesmo lugar. Podemos ir de elevador ou escada rolante, passar por um corredor ou por outro. A maneira (programa motor) deve ser selecionada por nós. Cada um desses caminhos pode ter uma distância diferente, uma escada, que engloba outros tipos de músculos e uma outra sequência motora (Amthor, 2017). Um córtex pré-frontal grande e desenvolvido (característico do homo sapiens) permite que possamos ter estes planos em vários níveis e complexidades. Frank Amthor (2017) define que “planos complexos requerem memórias de longo prazo que possam acessar subplanos como a forma de encontrar uma loja, como dirigir um carro e como pagar por um CD [...]”. Fazendo uma ponte com o exemplo do cinema, nós temos como objetivo final chegar ao local desejado, entretanto, antes de entrarmos para assistir a um filme, nada nos impede de comprarmos uma água ou uma pipoca nem de utilizarmos o banheiro. Nenhuma destas ações nos faz esquecer que o nosso objetivo principal é ir ao 13 cinema, elas apenas fazem parte do nosso programa motor e foram executadas na sequência correta. Primeiro compramos algo, depois fomos fazer as necessidades fisiológicas e, em seguida, sentamos para assistir ao filme – pois não faria sentido que, depois de iniciada asessão, fôssemos comprar uma pipoca ou um doce (Amthor, 2017). Outro exemplo bem simples é quando vamos viajar de carro e, antes de partir, precisamos ir ao banheiro. Isso só ocorre porque, provavelmente, já tivemos a experiência de no meio de uma viagem precisar parar o carro, procurar um local adequado para então atender às nossas necessidades. O cérebro aprende com os acontecimentos passados, ele sabe organizar as ações para otimizar o tempo, colocar as tarefas em linearidade para que possam ser mais facilmente executadas. Se nós aprendemos a cumprir uma sequência de tarefas, a memória é imprescindível para tal. Frank Amthor (2017) fala sobre a memória operacional: “É mais como uma manutenção temporária de um padrão dinâmico de disparos neurais. Cada ideia de meta [...] é um conjunto de representações neurais relacionadas espalhadas pelo cérebro”, ela é criada no lobo pré-frontal, serve como um script de um circuito temporário. A memória operacional pode armazenar até sete conceitos diferentes e, dentro destes conceitos, podem existir ainda mais outras especificações. Todo este processo decorre da interação do neurônios corticais pré-frontais com o hipocampo e a amígdala. E é esta quem decodifica os riscos e benefícios dos subplanos das metas; por exemplo, se eu vou pegar um ônibus à noite e tenho um caminho mais perigoso para atravessar e outro mais tranquilo, o córtex orbitofrontal interagindo com a amígdala avaliam se este risco vale a pena ou se devo tomar outro caminho (Amthor, 2017). Já os gânglios basais também interagem com o córtex pré-frontal, incidindo em dois aspectos diferentes para alcançar as metas: a seleção e a troca. As ações que planejamos podem ser executadas sim ou não, ou seja, nós pensamos em várias alternativas, como escolher o caminho para ir até a sala de cinema do shopping, assim que saímos do carro. Podemos selecionar (escolher) ir por um caminho e passar à frente de uma loja de que gostamos muito ou até evitar outra loja, ou qualquer outra coisa no caminho; é a interação da atividade pré-frontal e os gânglios basais que faz um caminho ser escolhido e o outro inibido. Assim que escolhemos um caminho e vamos percorrendo um corredor no shopping, deparamo-nos com uma parte interditada, sem acesso, então precisamos trocar 14 de caminho e subplanejar novamente várias ações: se vamos ter de usar uma escada, que antes não estava no caminho, ou um elevador, por exemplo. Parte deste processamento é feito entre os gânglios e o tálamo (Amthor, 2017). A capacidade que temos de estipular metas complexas, que precisarão de um longo prazo para serem concluídas, como um Trabalho de Conclusão de Curso, a escrita de um livro ou a fabricação de um móvel, é inerente exclusivamente ao ser humano, que, através do córtex pré-frontal, “adiciona sutileza, complexidade, adaptabilidade e perseverança na busca de metas [...]”, mencionou Frank Amthor (2017). O cerebelo consiste em uma área de aprendizado e coordenação, contém também os receptores sensoriais periféricos, bem como a entrada de receptores sensoriais vindos de inervações periféricas, áreas pré-frontais e outras associações corticais, que acabam enviando estas informações para o córtex motor primário. Ele tem papel fundamental quando executamos alguma tarefa difícil pela primeira vez, como dirigir um carro, em que podemos cometer erros e não fazer os movimentos com uma velocidade correta, como tirar o pé da embreagem. Quando fazemos um feedback da ação, podemos melhorar com a prática e integrar o que vemos com o que fazemos. Ele pode ser dividido em três áreas: (A) vestíbulo-cerebral, (B) espinocerebelo e (C) neocerebelo, que seguem as definições de Frank Amthor (2017). A. “Executa correção de erros e aprendizado motor para equilíbrio, usando entradas dos canais semicirculares e do sistema visual”; B. “Coordena o tempo de locomoção e a atividade do tronco”; C. “Interage com a área pré-frontal e outras áreas corticais para aprender sequências gerais do plano”. Figura 4 – Cerebelo Crédito: Sebastian Kaulitzki/ Shutterstock. 15 Então, pode-se concluir que, por mais opções que o nosso cérebro nos apresente para evitar “trabalhar desnecessariamente”, somos nós quem planejamos as ações que ele vai realizar. Se escolhemos um caminho mais longo para ir ao trabalho, evitando pegar um fluxo maior de carros, sabemos que o gasto com gasolina vai ser maior (quando tomamos esta decisão, já prevemos esta consequência) ou poderíamos fazer um trajeto mais curto, com um possível engarrafamento, gastando mais tempo para ir trabalhar. O “livre arbítrio” nos permite fazer estas escolhas e assumir as consequências, isso aumenta o histórico de nossas experiências e memórias. TEMA 4 – AÇÃO E RESULTADO O termo psicomotricidade foi descrito pela primeira vez em 1920 por Dupré. Seguindo a sua definição, era o “entrelaçamento entre o movimento e o pensamento” (Oliveira, 2015, p. 28). Segundo a autora, já em 1909, Dupré falava em uma preocupação relacionada a defeitos psicológicos e motores, fato que o levou a desenvolver o termo psicomotricidade. Vonèche e Stoltz (2007, p. 28), após analisarem um trabalho de Piaget (1950), citaram que “a ação não é somente movimento corporal, mas também intenção mental, também é a origem do movimento, pelo menos em termos de sua planificação por animais e humanos”. Podemos pensar em duas situações distintas, porém que se assemelham em busca do resultado. Uma criança com dois anos completos, brincando em casa, depara-se com uma caixa de papelão, que nunca havia visto. Ela pode explorar o objeto de várias maneiras, e uma delas é entrando nela. Para isso, ela deverá planejar a ação, por exemplo, pensando em como cada membro irá se comportar para que ocorra da maneira esperada. Primeiro ela se apoiará em algum lugar para depois conseguir elevar uma das pernas para entrar na caixa e alcançar o resultado esperado. Piaget (1961) fala “que a percepção visual é uma forma de ação pela qual o olho e o cérebro ‘imitam’ a forma do objeto percebido” (Vonèche; Stoltz, 2007). Vonèche e Stoltz (2007) citam que Piaget ainda propôs que “as imagens mentais de uma ação eram similares à ação real”, seguindo assim para o nosso segundo exemplo. Um atleta de salto em distância, pronto para realizar o seu salto em uma competição, está posicionado na pista aguardando o sinal da arbitragem 16 para poder iniciar o seu movimento. Neste momento, ele acaba “visualizando” o seu movimento, desde a corrida, passando pela aproximação na tábua de impulsão, pela fase do voo e, por fim, até a aterrissagem. Toda esta ação, antes de ser executada naquele momento, já foi treinada várias vezes em um ambiente mais tranquilo, sem a pressão dos adversários e da torcida e sem toda a responsabilidade imbuída naquele momento. O atleta sabe exatamente o que deve fazer em cada fase, mas mesmo assim ainda mantém uma concentração elevada e “visualiza” todo o movimento antes de ele acontecer. Além desta internalização do movimento, da ação proposta, Oliveira (2015) diz que Piaget (1987) enfatiza a importância de dois períodos, o sensório-motor e o da motricidade, que precedem a aquisição de linguagem. Este desenvolvimento ocorre por conta de uma “equilibração progressiva”, em que uma ação provoca o desequilíbrio do meio, o corpo tende a voltar ao equilíbrio buscando adaptar-se da melhor forma possível. Oliveira (2015) ainda cita que “a inteligência é uma adaptação ao meio ambiente, e, para que isso possa ocorrer, necessita inicialmente da manipulação pelo indivíduo dos objetos do meio com a modificação dos reflexos primários”. E esta manipulação é responsável também pela assimilação, que é “o processo de incorporação dos objetos e informações [...] já existentes, e a acomodação, a transformação dessas estruturas mentaisa partir das informações sobre os objetos” (Oliveira, 2015). Ressaltando que inteligência e cognição não são resumidas apenas a estes termos, contudo, podemos relacioná-las com a psicomotricidade. Assim, quando existe a vivência de diferentes experiências motoras, a criança tem a chance de desenvolver mais as suas funções intelectuais; e quando esta inteligência alcança um determinado patamar, ela poderá comparar, classificar, distinguir objetos, entrando nos méritos também da psicomotricidade (Oliveira, 2015). Nos primeiros meses de vida, o movimento, a ação, ocorre de maneira desordenada e indefinida, até que o controle corporal começa a ocorrer fazendo com que os movimentos reflexos passem a ser organizados. Então, assumimos um controle do centro para as extremidades, dominando por completo o nosso corpo. Os primeiros sinais de interação do bebê são os movimentos que ele faz e, mais tarde, esses sinais são expressos em palavras, até o ponto de autonomia dele (Oliveira, 2015). 17 Para tal definição, Oliveira (2015, p. 33) cita Wallon (citado por Fonseca, 2015), o qual diz que “movimento (ação), pensamento e linguagem são uma unidade inseparável. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato”. Ação e resultado irão sempre nortear os nossos movimentos, sejam eles os mais básicos, desde escrever em um papel, para criar um texto qualquer, sejam “visualizar” um movimento mesmo antes de ele acontecer, como um nadador em cima do bloco de partida, que irá fazer a sua ação motora buscando como resultado alcançar o primeiro lugar na competição. TEMA 5 – DISFUNÇÕES QUE PREJUDICAM O CÉREBRO O avanço da medicina ao longo dos últimos séculos tem sido extraordinário. Vacinas foram criadas para eliminar doenças, como sarampo, rubéola, paralisia infantil; o câncer passou a ser combatido com vários tratamentos, como radioterapia e quimioterapia, que auxiliam no processo de cura; o HIV, que surgiu como uma nova peste negra no final dos anos 80, tem sido cada vez mais combatido, e os seus portadores, que antes tinham baixas expectativas de vida, passaram a levar uma vida mais tranquila com a ajuda de remédios – os quais podem ser substituídos até por uma vacina no futuro. Contudo, as doenças que ficam cada vez mais em evidência no século XXI são as doenças mentais. Essa definição corrobora com o dado de que 5,8% da população brasileira hoje tem depressão, e 9,3%, algum tipo de ansiedade, que pode ser fobia, TOC, estresse pós-traumático ou ataque de pânico (Graciolli, 2018). Entretanto, não são apenas as doenças que podem afetar a população, alguns distúrbios de aprendizagem, síndromes e outras disfunções também acabam desafiando os profissionais da saúde, que devem promover os melhores tratamentos. Muitas dessas doenças estão ligadas à anomalia nos neurotransmissores, que podem ter sofrido uma mutação genética ou alguma experiência vivida. A trissomia 21, ou Síndrome de Down, é um exemplo de uma falha genética, já o TEPT, transtorno de estresse pós-traumático, é desenvolvido pelo ambiente (Amthor, 2017). De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª edição (DSM-5), que é a base para o diagnóstico de várias doenças, podemos contar mais de vinte tipos de transtornos mentais e suas ramificações. Entre eles, 18 o transtorno de neurodesenvolvimento, bipolar, de ansiedade, dissociativo, alimentar, neurocognitivo, de personalidade, depressivo, entre outros. Figura 5 – Doenças cerebrais Créditos: Puwadol Jaturawutthichai / Shutterstock. 5.1 Danos genéticos No momento da fecundação, espermatozoide e óvulos carregam consigo 23 cromossomos, que irão se unir e formar um novo ser, com 23 novos pares carregados geneticamente das informações paterna e materna. Com a multiplicação celular ocorrendo, alguma falha durante este processo pode ocasionar um tipo de distúrbio genético, que poderá afetar ou não a parte cognitiva ou neurológica A Síndrome de Down afeta um em cada mil nascimentos e pode afetar o aprendizado de maneira moderada a grave, como as comorbidades que afetam outros sistemas. A Síndrome do X Frágil é o resultado da mutação no cromossomo X e tem como característica a deficiência na aprendizagem e alterações tanto no comportamento quanto para lidar com as emoções. Tônus muscular baixo, orelhas grandes, rosto alongado e pés chatos são as características físicas perceptíveis. Ela é associada à baixa funcionalidade das regiões pré-frontais do cérebro. A Síndrome de Rett afeta na maioria dos casos as mulheres, que têm um distúrbio neuronal anormal, e os neurotransmissores, norepinefrina e dopamina estão abaixo da normalidade (Amthor, 2017). 19 O Transtorno do Espectro Autismo (TEA), seguindo a definição do DSM-5, é “diagnosticado quando os déficits característicos de comunicação social são acompanhados por comportamentos excessivamente repetitivos, interesses restritos e insistência nas mesmas coisas”. Por mais que se encontrem as causas genéticas pela hereditariedade, ainda não se pode afirmar com precisão. 5.2 Doenças afetadas pelo ambiente Pelo DSM-5, os transtornos por trauma ou estressores são aqueles que têm relação com a exposição a um evento traumático ou estressante; são critérios para um diagnóstico: uma morte, guerra, ameaça à integridade física, sexual ou psicológica. Segundo Frank Amthor (2017), o TEPT tem com uma de suas características a secreção desregulada do cortisol e da catecolamina, presentes em ações de defesa, como lutar ou correr de uma eminente agressão. O ambiente fetal pode influenciar diretamente o bebê. Uma mãe que passa por altas cargas de estresse durante a gestação pode gerar uma criança que tenha no futuro dificuldades cognitivas e emocionais, hiperatividade e déficit de atenção, ansiedade e atraso de linguagem. A secreção de cortisol, o hormônio do estresse, provoca efeitos insalubres no feto. Assim como a ingestão indevida de álcool. Um em cada mil nascimentos acaba afetado pelas moléculas de álcool que cruzam a placenta e acabam comprometendo os neurônios e suas estruturas cerebrais. 5.3 Componentes genéticos e ambientais Algumas doenças acabam combinando os fatores genéticos com gatilhos ambientais, como a depressão ou a esquizofrenia. A depressão, por exemplo, pode ser de ordem genética ou não. Se levarmos em conta uma pessoa que nunca apresentou nenhum sinal ou sintoma da doença, mas acaba vivenciando uma experiência traumática, como uma morte, ela pode evidenciar esta característica que estava “adormecida” e, através deste insight, ser diagnosticada com depressão. Já a epilepsia é marcada pela convulsão cerebral, que são incidentes de “atividade neural hiper-síncrona durante os quais funções cerebrais controladas e normais são severamente comprometidas”, definiu Frak Amthor (2017). Ela tem causas genéticas e contribuições ambientais, como uma foto- exposição excessiva, tanto é que pessoas propensas a epilepsias não devem 20 assistir a alguns filmes nem fazerem uso de jogos eletrônicos. Remédios anticonvulsionantes que atuam como transmissores do GABA (neurotransmissor inibitório) funcionam em cerca de 70% dos pacientes, outra opção é a cirurgia para a remoção da área cerebral que desencadeia as convulsões, porém, em muitos casos, esta opção não é possível (Amthor, 2017). A esquizofrenia é caracterizada por ser uma doença que começa na fase adulta, após a mielinização completa do lobo frontal. O pensamento desordenado não apresenta a realidade, sendo encaminhada para sintomas positivos (percebem vozes ou pessoas imaginárias as perseguindo) que acabam ativando o córtex auditivo que interage com o cérebro, ou sintomas negativos (isolamento social), em que o afeto, emoção e prazer parecem inexistir (Amthor, 2017). O transtorno obsessivo-compulsivo é “um distúrbioda ansiedade [...] que leva a comportamentos repetitivos para aliviar a ansiedade relacionada ao pensamento”, definido deste modo por Frank Amthor (2017). Nesse transtorno, os afetados, conscientes de suas ações, realizam rituais em certos procedimentos e têm preocupação excessiva com a higiene pessoal e, às vezes, do ambiente. Uma anormalidade no sistema de transmissão da serotonina foi associada ao TOC, e alguns genes ligados a ela também foram identificados, porém nenhuma ligação genética foi encontrada, reforçando o papel ambiental como desencadeador do transtorno (Amthor, 2017). De acordo com o DSM-5, a listagem de diagnósticos de transtorno, condição ou problema somam um total de 20 páginas com 759 tipificações diferentes. Isso nos demonstra o quanto o nosso cérebro pode ser afetado por condições adversas de ordem genética ou ambiental. Manter um cérebro ativo e saudável é tão fundamental quanto uma musculatura forte e ativada. 21 REFERÊNCIAS AMTHOR, F. Neurociência para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. FONSECA, V. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. KREBS, C. et al. Neurociências ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2013. TANI, G. et al. Pesquisa na área de comportamento motor: modelos teóricos, métodos de investigação, instrumentos de análise, desafios, tendências e perspectivas. Revista da Educação Física, Maringá, PR, 3. trim. 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/9254/0>. Acesso em: 15 set. 2019.
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