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Inflamação e Infecção → Sepse Definição É uma síndrome clínica por resposta inflamatória desregulada a uma infecção, levando a disfunção no funcionamento de órgãos e sistemas. ANTIGO CONCEITO → infecção generalizada X NOVO CONCEITO → foco infeccioso com resposta sistêmica descontrolada Continuum de gravidade → infecção não complicada → sepse → choque séptico → síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMOS) → morte. Epidemiologia Brasil → 600.000 casos/ano, 25% dos pacientes em UTI – causa mais comum de óbito → mortalidade de 55% → 85% dos casos de sepse e óbitos em países em desenvolvimento Obs: 1/2 dos casos no mundo são na faixa etária pediátrica (20 milhões). Incidência → aumento global devido aos seguintes fatores: 1. aumento de imunossuprimidos (transplantados, quimioterapia, HIV/AIDS). 2. microrganismos multirresistentes. 3. aumento da expectativa de vida (> 65 anos – 60 a 85% dos casos). Fatores de risco: Morbidade → hipotrofia muscular, impacto cognitivo, ansiedade, depressão, infecções recorrentes, exacerbação de disfunções prévias ( DPOC, DRC e IC) + impacto na reintegração sociolaboral. Escore Mottling Livedo reticular → resposta vasoespástica superficial da derme – redução da RVP. Fisiopatologia Etiologia: A causa mais comum de sepse é pneumonia → 48% das evoluções. → pulmão (63,5%), abdome (19,6%), corrente sanguínea (15,1%), trato urinário (14,3%), pele (6,6%), uso de cateter (4,7%) e sistema nervoso central (2,9%). → > 100% +1 de um sítio de infecção. Origem → comunidade (>80% dos casos), ambiente hospitalar (nosocomial) ou associada a cuidados de saúde. Microrganismos mais comuns → Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Streptococcus pneumoniae. Patogenia → resposta pró-inflamatória generalizada, de causa multifatorial: 1. efeito direto dos microrganismos ou dos produtos tóxicos → parede celular bacteriana – endotoxina, peptideoglicano, ácido lipoteicóico → toxinas bacterianas – enterotoxina estafilocócica B, exotoxina A de Pseudomonas e proteína M de estreptococos hemolíticos do grupo A. 2. liberação exagerada de mediadores pró-inflamatórios → TNF-alfa e IL- 1 3. ativação do sistema complemento 4. suscetibilidade genética individual – hiperprodução de IL-10 (anti-inflamatória) → resposta imune protetora por feedback negativo com o TNF-alfa · SUPERANTÍGENOS → antígenos bacterianos que se ligam ao MHC classe II. Resultado → ligação forte, pouco reversível e estimula a produção de uma grande tempestade de citocinas pelos linfócitos T. → intensa resposta inflamatória: vasodilatação, redução da resistência vascular periférica, choque e dano ao endotélio vascular. Ex: toxina-1 da síndrome tóxica estafilocócica (TSST-1), exotoxina pirogênica estreptocócica (SPE), exotoxina estafilocócica (SE) e exotoxinas da E. coli enterotoxigênica (ETEC). Mecanismo: inflamação intravascular descontrolada, não regulada e autossustentável → lesão celular (precursor da disfunção orgânica). → isquemia tecidual e lesão citopática – disfunção mitocondrial e indução de apoptose. Os mediadores inflamatórios também estão implicados na coagulação intravascular disseminada (CIVD) → microtromboses e hemorragias. Alterações hemodinâmicas Alterações ventilatórias Dificuldade das trocas gasosas → diminuição da relação PaO2/FiO2 (<300). RX de tórax → preenchimento alveolar bilateral, poupando ápices pulmonares, com eventuais broncogramas aéreos + derrame pleural (80%). Alterações cardiológicas Redução do cronotropismo e inotropismo + aumento da troponina I (não por obstrução coronariana) – injúria miocárdica. Alterações renais Alterações neurológicas Encefalopatia associada à sepse (ES): 1. aguda → delirium e mudanças agudas/subagudas do nível de consciência + agitação, sonolência, alucinações, alterações do ciclo sono-vigília e coma. 2. crônica → memória, atenção, fluência verbal e função executora + depressão, ansiedade e estresse pós-traumático. → Não há tratamento específico para essa disfunção. Alterações gastrointestinais Hiperbilirrubinemia total e direta → marcador de maior correlação com a mortalidade Obs: Os hepatócitos raramente sofrem insuficiência aguda, então as transaminases estão geralmente pouco alteradas. → O estado toxêmico e pró-inflamatório impede o estímulo vagal parassimpático. Alterações hematológicas Trombose microvascular → CIVD – coagulação intravascular disseminada. → múltiplas disfunções orgânicas sem necessariamente uma trombose visível ou sangramento exteriorizado. → hemácias deformadas pelos microtrombos – esquizócitos – resultados da hemólise intravascular microangiopática. → alargamento do tempo de tromboplastina parcial (TTPA) e aumento do tempo de protrombina (TP) Obs: A sepse causada por gram-negativos têm maior capacidade de resultar em CIVD, pela presença do LPS (lipopolissacarídeo) – superantígeno. · anemia Alterações endócrinas 1. Disfunção adrenal → redução da secreção de mineralocorticoides e glicocorticoides – aumento do choque distributivo. → primária (por redução da perfusão do córtex adrenal) ou secundária (IL-1β e o TNFα inibem a secreção de CRH pelo hipotálamo e do ACTH pela hipófise,). Choque refratário + suspeita de insuficiência adrenal → doses baixas de hidrocortisona. 2. hiperglicemia → resistência periférica à insulina + gliconeogênese hepática. Manifestações clínicas Os sinais e sintomas podem ser relacionados à infecção, à resposta inflamatória sistêmica ou à disfunção ou falência orgânica. Choque séptico → disfunção hemodinâmica e metabólica associada à sepse. ATENÇÃO! Alguns achados podem ser modificados por doenças ou medicações: → idosos e uso de betabloqueadores – ausência de taquicardia. → jovens – taquicardia grave, mas sem hipotensão até descompensação grave. → hipertensos crônicos → hipoperfusão crítica com PA mais elevada. Exames complementares Todos os pacientes com suspeita → 2 pares de hemoculturas (anaeróbio e aeróbio) de 2 sítios diferentes – preferencialmente antes da administração de antibióticos. Ultrassonografia point-of-care (USPOC) → indicação do diagnóstico etiológico (pneumonia, pielonefrite, apendicite), presença de complicações (disfunção miocárdica) e orientar o tratamento (reposição volêmica). Diagnóstico ANTES: Ferramentas para triagem de pacientes no departamento de emergência: 1. SIRS ≥ 2 pontos: alta sensibilidade, mas baixa especificidade 2. qSOFA ≥ 2 pontos: baixa sensibilidade, alta especificidade Obs: Esse critério não é recomendado para a triagem de sepse no DE. 3. NEWS ≥ 4 pontos: melhor acurácia no DE (AUC 0,91) sensibilidade do SIRS e especificidade do qSOFA. Tratamento Estabilização: 1. Suplementação de O2 – alvo de SatO2 ≥ 94%. 2. Intubação orotraqueal e ventilação mecânica invasiva: → rebaixamento de nível de consciência incapaz de proteger via aérea → hipoxemia refratária a suplementação não invasiva de oxigênio → esforço ventilatório 3. Acesso venoso periférico → objetivo – não atrasar a infusão de volume, antibioticoterapia e drogas vasoativas (até a inserção de um cateter venoso central (CVC). Antimicrobianos: Antibioticoterapia precoce → até 1h da apresentação do paciente no DE. → controvérsias em relação aos benefícios (redução da mortalidade na SEPSE). → Benefício comprovado no CHOQUE SÉPTICO (-7,6%/hora de atraso). A recomendação inicial são drogas ou associação de amplo espectro, considerando: ATENÇÃO! O espectro deve ser ajustado conforme a determinação do microrganismo e do padrão de sensibilidade. A administração empírica de antifúngicos não é justificada em não neutropênicos. Neutropênicos/forte suspeita → equinocandinas (Candida) ou voriconazol (Aspergillus). Ressuscitação volêmica: Sinais de má perfusão → reposição volêmica inicial com 30 mL/kg de solução cristalóide (solução fisiológica ou ringer lactato). → início em até 1 hora da apresentação e fim nas primeiras 3 horas. → administração em bolus, infusãorápida (Ex: 500mL aberto). Obs: Idealmente, deve-se avaliar a responsividade antes de cada infusão. Fluidorrespondedor → aumento de 15% do débito cardíaco (avaliação pelo ECO) com a manobra de elevação passiva das perna. → na impossibilidade de avaliação – análise da resposta clínica-hemodinâmica e a presença ou ausência de congestão pulmonar antes e após cada bolus. Lactato (não é um marcador direto) → >2 mmol/L (> 18 mg/dL) na admissão – 2ª dosagem 2-4 h após o início da RV. → avaliação das medidas já implantadas e indicação prognóstico. Escolha das soluções → não há evidências de diferenças em relação a mortalidade, disfunção orgânica ou tempo de internação hospitalar e em UTI entre soluções de albumina ou cristaloides (1ª escolha pelo custo-efetividade). → preferências pelas balanceadas – ringer lactato (não aumenta o lactato sérico). A RV restritiva ao cloreto está associada à redução de injúria renal aguda e necessidade de terapia renal substitutiva. Obs: Ainda há necessidade de mais estudos para descartar a solução fisiológica no DE. ATENÇÃO! Evitar as soluções de amido → aumento da mortalidade e a necessidade de terapia substitutiva renal em pacientes com choque séptico. CONTROVÉRSIA! Bicarbonato de sódio → apenas em pacientes com acidose metabólica grave (pH < 7,1 e BIC < 7 mEq/L). → BIC 8,4% em bolus de 1-2 mEq/kg, diluído em SG 5% 850 mL + NaHCO3 8,4% 150 mL). → eletrólitos (principalmente Ca) e nova gasometria após 30-60 minutos da infusão. Drogas vasoativas: Alvo de pressão arterial média (PAM) no choque séptico → 65 mmHg. → hipertensos crônicos – PAM entre 80- 85 mmHg. → a principal droga vasoativa é a noradrenalina (NA) Noradrenalina precoce (diagnóstico) → durante a RV – controle mais rápido do choque Adição de 2ª ou 3ª droga à NA → dados controversos na seleção do agente. Suporte adicional: 1. Uso de corticosteroides → ainda controverso. 2. Transfusões de hemácias → hemoglobina ≤ 7 g/dL. Exceções → choque hemorrágico concomitante ou isquemia miocárdica ativa. 3. Intubação traqueal – evitar drogas cardiodepressoras ou hipotensoras como o midazolam, fentanil e o propofol → quetamina e etomidato (*pacientes críticos). 4. Ventilação mecânica → ventilação protetora. 5. Injúria renal induzida pela sepse → o início do suporte renal agudo (SRA) deve ser discutido com o nefrologista. 6. Controle glicêmico → glicemia sérica < 180 mg/dL, se necessário com insulina de ação rápida. 7. Profilaxia de tromboembolismo venoso (TEV) → pacientes com mobilidade reduzida com enoxaparina 40 mg SC 1x/dia ou heparina 5.000 U SC 3x/dia. 8. Profilaxia de úlcera gástrica → recomendada pela Campanha de Sobrevivência a Sepse (controvérsias pelo aumento da incidência de pneumonia hospitalar). Síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e refratariedade ao tratamento → reavaliação de hipótese diagnóstica e plano + terminalidade e cuidados paliativos. Seguimento: Escolha da unidade de internação → características individuais. 1. choque séptico ou insuficiência respiratória + vasopressores ou ventilação mecânica → UTI. 2. sem choque e responsivo à antibioticoterapia → leito de internação. 3. limítrofes → avaliação cuidadosa e o limiar baixo para escolha da UTI.
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