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DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS UNIASSELVI-PÓS Autoria: Nadia Studzinski Estima de Castro Indaial - 2021 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jairo Martins Jóice Gadotti Consatti Marcio Kisner Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C355d Castro, Nadia Studzinski Estima de Didática do ensino de línguas. / Nadia Studzinski Estima de Castro. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 117 p.; il. ISBN 978-65-5646-321-6 ISBN Digital 978-65-5646-320-9 1. Ensino de línguas. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Didática do Ensino de Línguas: Fundamentações Teórica e Prática .......................................................................... 7 CAPÍTULO 2 Pressupostos Pedagógicos para o Ensino de Língua Materna ........................................................................... 41 CAPÍTULO 3 Métodos e Abordagens para o Ensino de Língua Estrangeira ................................................................................. 81 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico da pós-graduação! Seja muito bem-vindo! Neste livro, o objetivo é construir uma trajetória de aprendizagens a respeito dos temas diretamente relacionados com a Didática do ensino de línguas. Portanto, você é convidado a construir conhecimento acerca das fundamentações teórica e prática de livros e de materiais didáticos para o ensino da língua; dos pressupostos pedagógicos para o ensino das línguas materna e estrangeira, a partir das teorias da linguagem e das propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais; dos métodos e das abordagens para o ensino da língua estrangeira; e da especificidade da avaliação no ensino de LE. A partir da orientação de leitura, desejamos que você compreenda que o conhecimento é construído por uma dinâmica baseada no diálogo. Assim, questione sempre, pois questionar é importante para a construção do saber. Dessa forma, queremos que, ao fim dos estudos deste livro, a sua busca pelo saber não finalize aqui. Continue fazendo leituras para ampliar os seus conhecimentos, certo?! Lembre-se de que a proposição de questões motiva a busca por soluções para os problemas do cotidiano. Desafiamo-nos como profissionais e aperfeiçoamos a nossa prática docente, uma vez que a Didática é a prática e a ação é pautada no conhecimento teórico. Este livro está dividido em três capítulos, com o intuito de ampliar os seus saberes acerca do campo da Didática na formação de professores para uma atuação embasada em teoria, esta, sempre, relacionada com a prática docente. É um campo amplo, portanto, a delimitação do tema é necessária. Assim, a divisão desta leitura acontece da seguinte forma: primeiramente, Didática do ensino de línguas: fundamentações teórica e prática; em segundo plano, pressupostos pedagógicos para o ensino da língua materna; e, por fim, métodos e abordagens para o ensino da língua estrangeira. No primeiro capítulo, iniciaremos os nossos estudos a respeito da Didática do ensino de línguas com as fundamentações teórica e prática referentes ao campo da Didática. O objetivo, desta etapa inicial, é ampliar os seus saberes a partir de um panorama e de uma contextualização histórica da Didática para o ensino das línguas, acrescentando conhecimentos da teoria e da prática referentes a livros e a materiais didáticos no contexto do ensino de línguas. Da mesma forma, é importante que você reconheça o significado da Didática para a sua atuação profissional. A partir desta proposta de estudo, você estará habilitado para reconhecer a trajetória de consolidação histórica do campo e para ampliar os saberes da teoria e da prática em Didática do Ensino de Línguas. Neste primeiro capítulo, também, retomaremos algumas normativas vigentes, tendo, como base, a legislação atual e os documentos norteadores da educação no contexto do Brasil. Bons estudos! CAPÍTULO 1 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Saber o panorama e a contextualização histórica da Didática para o ensino de línguas, com a ampliação dos conhecimentos de teoria e de prática de livros e de materiais didáticos no contexto do ensino de línguas. • Reconhecer a trajetória da consolidação histórica do campo para ampliar os saberes da teoria e da prática em Didática do Ensino de Línguas. 8 Didática do Ensino de Línguas 9 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO O mundo da sala de aula apresenta uma complexidade observada por diferentes fi lósofos, psicólogos, historiadores, sociólogos, economistas etc. Desde a Antiguidade, busca-se entender o processo de ensino, a formação dos sujeitos e de que forma essa dinâmica acontece. Estudos fi losófi cos mais antigos indicavam uma formação mais passiva para os sujeitos envolvidos nos processos de ensino e de aprendizagem. Com o passar do tempo, com os avanços investigativos, e com um olhar mais apurado, possibilita-se a consolidação, então, da pedagogia como campo de estudo. Passa-se a perceber que os seres humanos são ativos nos processos de ensino e de aprendizagem. A mestra (o mestre) e a professora (o professor) desempenham o papel de intermediadores, de facilitadores do processo. Assim, a educação é uma ação pautada no mundo que cerca os seres humanos, no entendimento dessas dinâmicas sociais, econômicas, políticas, culturais, interculturais etc. Entretanto, então, de que forma organizar as dinâmicas da sala de aula com esse entendimento? Que disciplina/campo busca investigar práticas produtivas para a sala de aula, tendo, como base, essa visão de ensino? Esse é o desafi o investigativo da Didática. Como um dos ramos da pedagogia, o seu objeto de estudo está no entendimento do processo de ensino e do estudo ativo. Essa abordagem, portanto, gera impactos nas políticas educacionais, na elaboração de materiais didáticos etc. Na complexa dinâmica, considere, para a sua prática docente, as dimensões envolvidas no processo didático: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Lembre-se de que a Didática é uma disciplina de natureza pedagógica, considerada aplicada, mantendo as suas orientações para fi ns educativos e estando comprometida com as questões da docência, mas, sobretudo, com os interesses e as expectativas dos alunos. A Didática desenha um espaço de investigação considerado, portanto, teórico-prático, com o objetivo-fi m de compreender as múltiplas dimensões da docência, percebida como ensino em ação. Boa leitura! 2 DIDÁTICA: ESTUDOS INICIAIS Para iniciar este processo de aprendizagem, começaremos com alguns questionamentos: em que conjunto de conhecimentos podemos situar (aproximar) a Didática? Conseguiu pensar em algo? Se você pensou na Pedagogia, acertou, pois, a Didática, podemos dizer, é um dos ramos de estudo dessa grande área. 10 Didática do Ensino de Línguas 1 - Desafi amos você a pensar em ações docentes com objetivo formativo que podem ser conduzidas em espaços não tradicionais de ensino. Pense em lugares, interações e possibilidadesde atividade/interação que possam ensinar, considerando o ensino da língua materna e da língua estrangeira. Pensou? Agora, esquematize as suas ideias em uma nuvem de ideias. Em seguida, apresente, para os seus colegas, as suas anotações, e escute as propostas dos outros alunos da turma. É possível estabelecer um diálogo entre essas ideias e novas sugestões podem ser propostas em conjunto. O objetivo é construir o conhecimento de forma conjunta. De acordo com Libâneo (1990, p. 15), há uma “subordinação do processo didático a fi nalidades educacionais”, ou seja, à Didática, impõe-se o desafi o de esquematizar o conhecimento das técnicas relacionadas com os processos de ensino e de aprendizagem. A Didática se faz presente na prática de todo professor, pois está relacionada com as estratégias utilizadas em sala de aula; a formação docente, considerando teoria e prática; as metodologias; a elaboração de atividades diversas, com objetivos e fi nalidades determinadas etc. Ou seja, trata-se de uma análise ampla, de diferentes fatores, de tal forma que oriente a ação educativa para o alcance dos melhores resultados. Saiba que, nesse contexto, não podemos limitar a Didática ao espaço da sala de aula, pois o processo de ensino (objeto de estudo da Didática) acontece, também, fora dela. De acordo com Libâneo (1990, p. 15), “o trabalho docente é uma das modalidades específi cas da prática educativa mais ampla que ocorre na sociedade”, portanto, a formação humana é algo amplo, que considera o conjunto de processos educativos e de ensino que, em certa medida, são exigências da vida em sociedade, ou seja, na interação com os outros e com o mundo, isso ocorre na sala de aula e fora dela. Assim, todo espaço é um lugar potencial de formação para os sujeitos. 11 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 Educação Não Escolar como Campo de Práticas Pedagógicas José Leonardo Rolim de Lima Severo O texto apresenta considerações acerca do conceito de Educação Não Escolar (ENE), e, a partir delas, estabelece contribuições críticas ao debate que envolve o reconhecimento e o fortalecimento dos processos educativos que se inserem nesse âmbito, sob o entendimento da Pedagogia como ciência da educação capaz de imprimir sentidos pedagógicos nesses processos. Admitindo a existência de dimensões formativas intrínsecas a diferentes relações e processos sociais infl uenciados por uma nova racionalidade educativa contemporânea, discutem-se as perspectivas da sociedade pedagógica e da aprendizagem ao longo da vida, o lugar da ENE quanto às categorias descritivas do fenômeno educacional e os aspectos que a confi guram como cenário de práticas pedagógicas fundadas pela práxis da Pedagogia. Palavras-chave: Educação Não Escolar. Pedagogia. Práticas pedagógicas. Educação não formal. Acesse https://www.scielo.br/pdf/rbeped/v96n244/2176-6681- rbeped-96-244-00561.pdf. Para tanto, surge a Pedagogia, como a ciência que se dedica a investigar a teoria e a prática da educação em relação aos vínculos que estabelece com a prática social, de forma global. A Didática, por sua vez, é a disciplina que “estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino, tendo em vista fi nalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 1990, p. 16). A Didática se fundamenta na Pedagogia, e, dessa forma, é considerada uma disciplina pedagógica. Para esta etapa inicial da leitura, é importante reforçar que, ao estudar a educação nos aspectos sociais, políticos, econômicos e psicológicos, a Pedagogia faz uso de contribuições de outras ciências, como da fi losofi a, história, sociologia, psicologia etc. Consequentemente, esses estudos convergem na Didática, uma vez que ela “reúne, no seu campo de conhecimentos, objetivos e modos de ação pedagógica na escola” (LIBÂNEO, 1990, p. 16) e fora dela. 12 Didática do Ensino de Línguas Teoria do Conhecimento, você já ouviu algo a respeito ou já leu sobre? Apresentamos uma pequena refl exão: A Teoria do Conhecimento se caracteriza como disciplina fi losófi ca independente apenas na Idade Moderna, tendo o nome de John Locke considerado como o seu fundador, o qual, na sua obra intitulada de An Essay Concerning Human Understanding (tradução, em português, para Ensaio Acerca do Entendimento Humano), trata, de modo sistemático, das questões referentes à origem, à essência e à certeza do conhecimento humano. Ficou curioso? Quer saber mais a respeito dessa teoria? Indicamos a leitura do livro Teoria do Conhecimento, de Johanees Hessen. Para não se confundir, lembre-se de que a Pedagogia é uma ciência da e para a educação. Logo, estuda a educação, a instrução e o ensino. A Didática, como um ramo da pedagogia (como fi losofi a da educação, sociologia da educação, psicologia da educação etc.), investiga os fundamentos, as condições e os modos de realização do processo educativo. Conforme explica Libâneo (1990, p. 26), à Didática, “cabe converter objetivos sociais, políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar métodos e conteúdos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades” individuais dos alunos. Para o autor, a Didática está diretamente relacionada com a Teoria de Educação, a Teoria da Organização Escolar, e, de uma forma muito especial, com a Teoria do Conhecimento ea Psicologia de Educação. A Didática se dedica à teoria geral do ensino, portanto, metodologias específi cas, as quais integram o campo da Didática, ocupam-se de conteúdos e de métodos específi cos de cada matéria (por exemplo, Didática do Ensino de Línguas) e da relação que se estabelece com fi ns educativos. Isso quer dizer que a Didática, na sua relação com a Pedagogia, “generaliza processos e procedimentos que são obtidos na investigação de matérias específi cas, das ciências que dão embasamento ao ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática docente” (LIBÂNEO, 1990, p. 25). A Didática está relacionada com a formação docente, considerando a dimensão técnico-prática. Libâneo (1990) explica que a Didática se caracteriza como a mediação entre as bases teórico-científi cas da 13 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 educação escolar e a prática docente. Portanto, opera como uma ponte entre o “o que” e o “como” do processo pedagógico de ensino. A Didática, resumidamente, é a responsável por descrever e por explicar os nexos, as ligações e as relações entre os processo de ensino e de aprendizagem, investigar os fatores determinantes dos processos citados anteriormente, indicar os princípios, as condições e os meios de direcionamento do ensino, sempre tendo a aprendizagem como fi nalidade, considerando o que há de comum entre todas as disciplinas e as especifi cidades em didáticas específi cas. 1 - Qual é a relação entre Pedagogia e Didática? Por que a Didática é considerada como o eixo de formação profi ssional? Nesta etapa da leitura, você já está habilitado para entender o espaço que a Didática ocupa como disciplina independente, mesmo que diretamente relacionada (ramo da Pedagogia) e fazendo uso dos saberes teóricos de outras disciplinas (Teoria da Educação, Filosofi a da Educação etc.). Qual foi o percurso histórico da consolidação da Didática ao longo do tempo? A seguir, contextualizaremos, historicamente, a disciplina, e conheceremos alguns nomes importantes, os quais contribuíram para a construção dos princípios da Didática. Vamos lá! 3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA A Didática está relacionada com a prática do professor em sala de aula, certo? Sim! Essas práticas são fundamentais para a efetiva construção do conhecimento. Como arte de ensinar tudo para todos, considerando as necessidades individuais de todoestudante, o termo didática (do grego, didaktiké) foi utilizado, pela primeira vez, por Ratke (1629) e por Comenius (1967), conforme Fereira et al. (2018). A partir de Comenius, a Didática foi conquistando espaço como disciplina. 14 Didática do Ensino de Línguas FIGURA 1 – WOLFGANG RATKE FONTE: <http://lapedagogiadels-xvii.blogspot.com/2018/11/aspectos- que-surgen-en-la-pedagogia_7.html>. Acesso em: 24 abr. 2021. FIGURA 2 – TRATADO DA ARTE UNIVERSAL DE ENSINAR TUDO A TODOS FONTE: A autora “Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos” (COMENIUS, 2011, p. 131). Na obra Didática Magna, Comenius escreveu a respeito da prática do ensinar-aprender, indicando ter descoberto um método efi caz para se chegar à aprendizagem de todos. O autor defendeu um método de ensinar, de modo 15 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 certo, para obter resultados, sem que isso fosse cansativo para educandos e educadores, pelo contrário, esse processo pudesse ser acompanhado de grande alegria, mas de forma sólida e não superfi cial, conduzindo todos à cultura, aos bons costumes e à piedade mais profunda. Outro nome importante para a consolidação histórica da Didática foi Rousseau (século XVIII). De acordo com Fereira et al. (2018), Rousseau apresentou um conhecimento revolucionário para a Didática, pois declarou uma defi nição importante para o conceito infância. Dessa forma, surgiu como um autor que conferia continuidade para os pensamentos formulados pelos autores anteriores, com uma formulação que fez o campo avançar, pois se tratava da condição do ser criança. FIGURA 3 – JEAN JACQUES ROUSSEAU (PINTURA DE MAURICE QUENTIN DE LA TOUR) FONTE: <https://www.infoescola.com/fi losofi a/jean-jacques- rousseau/>. Acesso em: 24 abr. 2021. Para você compreender a importância dessa mudança de perspectiva em relação ao entendimento acerca da condição do ser criança, considere que, da Antiguidade até o século XIX, predominava o pensamento de que, na prática escolar, a aprendizagem acontecia de forma passiva e receptiva. “Aprender era quase, exclusivamente, memorizar” (HAYDT, 2006, p. 14). Assim, a compreensão ativa, a ação, a compreensão não desempenhava um papel ativo. O aluno/a criança era alguém que precisava moldado. Aprender um ofício ou a ler e a escrever era ensinado da mesma forma. Repetição e exercícios eram utilizados para o processo de ensino. O sistema de perguntas e de respostas foi utilizado, e, os conhecimentos repassados reduzidos. Conforme explica Haydt (2006, p. 15): Este era o chamado método catequético, cuja origem remonta, pelo menos, na cultura ocidental, aos antigos gregos. A palavra 16 Didática do Ensino de Línguas Em 1762, Jean-Jacques Rousseau publicou Emilio ou Da Educação. Este tratado, de uma total novidade para a época, encontrou grande sucesso, revolucionou a Pedagogia, e serviu de ponto de partida para as teorias de todos os grandes educadores dos séculos XIX e XX. Trata-se de um romance pedagógico que conta a educação de um órfão nobre e rico, Emilio, do nascimento até o casamento. Fiel a seu princípio, segundo o qual o homem nasce naturalmente bom, Rousseau estima que é preciso partir dos instintos naturais da criança para desenvolvê-los. A educação negativa (essa que propõe o fi lósofo), na qual o papel do preceptor (professor) é, sobretudo, o de preservar a criança, deveria substituir a educação positiva, que forma a inteligência prematura e impensadamente. O ciclo completo da nova educação comporta quatro períodos: 1. O primeiro período vai de 0 a 5 (zero a cinco) anos, correspondendo a uma vida puramente física, apta a fortifi car o corpo sem forçá-lo; período espontâneo e orientado graças, notadamente, ao aleitamento materno. 2. O segundo período vai de 5 aos 12 (cinco a doze) anos, e é aquele no qual a criança desenvolve o corpo e o caráter no contato com as realidades naturais, sem intervenção ativa do preceptor. 3. O preceptor intervém, mais diretamente, no terceiro período, que vai de 12 a 15 (doze a quinze) anos, período no qual o jovem inicia, essencialmente, pela experiência, à geografi a e à física, ao mesmo tempo em que aprende uma profi ssão manual ou ofício. 4. Dos 15 aos 20 (quinze aos vinte) anos, compreende-se o quarto período, no qual o homem fl oresce para as vidas moral, religiosa e social. catecismo provém do termo grego katechein, que signifi ca “fazer eco". Esse método era usado por todas as disciplinas e consistia na apresentação, pelo professor, de perguntas acompanhadas das respostas já prontas. Esse ensino mecânico foi sendo questionado e se passou a buscar (por fi lósofos e educadores) uma forma de ensino “mais estimulante e adaptada aos interesses dos alunos e às reais condições de aprendizagem” (HAYDT, 2006, p. 15). Nesse processo de descoberta, fi lósofos e educadores passaram a formular teorias que tentavam explicar de que forma (de que formas) as pessoas eram capazes de aprender e de assimilar o mundo. Essas teorias do conhecimento foram sendo acompanhadas pela formulação de princípios didáticos. 17 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 Comenius Didática Magna (1632) Princípios defendidos: 1. Apresentar o objeto ou a ideia diretamente, fazendo demonstração, pois o aluno aprende através dos sentidos, principalmente, vendo e tocando. 2. Mostrar a utilidade específi ca do conhecimento transmitido e a aplicação na vida diária. Este é, pois, o modelo básico de educação, proposto por Rousseau, para substituir a educação tradicional que, em nome da civilização e do progresso, obriga os homens a desenvolverem, na criança, a formação apenas do intelecto, em detrimento da educação física, do caráter moral e da natureza própria de cada indivíduo. FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/fi losofi a/a-educacao-no- emilio-rousseau.htm>. Acesso em: 24 abr. 2021. Nesse processo de desenvolvimento do conhecimento, retomamos alguns pensadores e contribuições para a consolidação histórica da Didática. Primeiramente, Sócrates (século V a.C.), que defendia que o saber não é algo a ser transmitido por um mestre para um discípulo. Para Sócrates, o conhecimento é uma descoberta feita pelo aprendiz, na relação com os desafi os e os conhecimentos apresentados, o sujeito vai aprendendo. É um processo e parte da interação. Conhecer, portanto, é ação. Essa ação acontece no interior dos indivíduos. Entretanto, então, qual seria a função do educador (do mestre)? Para Sócrates, o mestre desempenha o papel de auxiliar os discípulos para que estes descubram, autonomamente, a verdade. As contribuições de Comenius (1592-1670), já citado anteriormente nesta leitura, evidenciam que “o objetivo da educação é ajudar o homem a atingir essa fi nalidade transcendente e cósmica (a felicidade), desenvolvendo o domínio de si mesmo através do conhecimento de si próprio e de todas as coisas” (HAYDT, 2006, p. 16, grifo da autora). 18 Didática do Ensino de Línguas Para ampliar os seus saberes, leia Naturalismo Pedagógico de Rousseau. O século XVIII teve, como um dos seus pontos marcantes, o aparecimento do Naturalismo Pedagógico, concepção educativa que vê, na natureza, o fi m e o método de ensino; a natureza é, pois, considerada como realidade suprema, da qual emanam toda a lei e toda a ciência. O líder desse movimento foi Rousseau, que propôs a fé na natureza, em substituição à lei da razão. Leia mais em http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/ arquivos_destaque/9gdcolYckPSfb41_2013-6-27-16-59-32.pdf. 3. Fazer referência à natureza e à origem dos fenômenos estudados, isto é, às causas. 4. Explicar, primeiramente, os princípios gerais, e, “só depois, os detalhes”. 5. Passar para o assunto ou tópico seguintedo conteúdo apenas quando o aluno tiver compreendido o anterior (HAYDT, 2006). Além dos pensadores citados até aqui, há, ainda, Heinrich Pestalozzi (1746- 1827). Pestalozzi defendia, nos seus escritos, a doutrina considerada naturalista (principalmente, nos parâmetros do Naturalismo Pedagógico de Rousseau). Nessa linha de pensamento, Pestalozzi defendia que o ser humano nasce bom e o caráter é formado pelo contexto/ambiente em que está inserido. Portanto, o ambiente de aprendizagem deve se aproximar dos reais contextos/condições naturais para que os sujeitos possam se desenvolver de forma contextualizada. Uma formação voltada para a positividade. Assim, a transformação do todo acontece pela educação, que tem, como fi nalidade, “o desenvolvimento natural, progressivo e harmonioso de todas as faculdades e aptidões do ser humano” (HAYDT, 2006, p. 17). 19 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 FIGURA 4 – JOHANN HEINRICH PESTALOZZI FONTE: <http://grandesnomesnahistoriadaeducacao.blogspot. com/p/jo.html>. Acesso em: 24 abr. 2021. Considerando, então, que toda criança deveria ter acesso à educação, Pestalozzi semeou sementes da Pedagogia e da Didática, pois, de forma direta, defendia que a educação deve respeitar o desenvolvimento infantil. Para isso, são necessários os desenvolvimentos físico, intelectual e moral, e isso só ocorre pela vivência e pela experiência, as quais devem ser apresentadas de forma gradual, e de acordo com o desenvolvimento de cada um, para o pleno exercício das capacidades. Nessa concepção, respeitar a individualidade do aluno é fundamental, e o objetivo deve estar centrado no desenvolvimento de habilidades e de técnicas para a ação social. Mais dois nomes precisam ser citados para o entendimento do desenvolvimento histórico da Didática e das infl uências sofridas pelo campo: John Frederick Herbart (1776-1841) e John Dewey (1859-1952). O primeiro deles, infl uenciado diretamente por Pestalozzi, formulou princípios educacionais “fundamentados na ideia da unidade do desenvolvimento e da vida mental” (HAYDT, 2006, p. 20). Ou seja, o ser humano é uma unidade e o desenvolvimento acontece [...] em torno da noção de função assimiladora, que ele denominou de apercepção. A apercepção é a assimilação de novas ideias através da experiência e da relação com as ideias ou conceitos já, anteriormente, formados (HAYDT, 2006, p. 20). 20 Didática do Ensino de Línguas FIGURA 5 – JOHN FREDERICK HERBART FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/1775/herbart-o-organizador- da-pedagogia-como-ciencia>. Acesso em: 24 abr. 2021. Assim, duas fontes contribuem para desenvolver e integrar as representações mentais: o contato com a natureza, por meio da experiência; e o contato com a sociedade, por meio do contato social. Herbert, então, formula, [...] de modo claro e explícito, uma teoria do interesse. Ele afi rmava que o interesse não era apenas um meio para garantir a atenção do aluno durante a aula, mas uma forma de assegurar que as novas ideias ou representações fossem assimiladas e integradas, organicamente, àquelas já existentes, formando uma nova base de conduta (HAYDT, 2006, p. 21). Por último, surgia Dewey, que apresentou as concepções do homem e da vida dele e fundamentou a Pedagogia. Para ele, a ação precede o conhecimento e o pensamento e é inerente ao ser humano. Nessa concepção, a teoria é entendida como resultado da prática. Isso signifi ca que o ensino e a mobilização do conhecimento estão, necessariamente, relacionados com a ação, com a prática e com a experiência. Da mesma forma, o ser humano é um ser social, e são as suas necessidades sociais que norteiam a sua ação, portanto, o trabalho cooperativo é necessário para a vida em coletividade e para a satisfação das necessidades sociais, logo, para o desenvolvimento humano. Para Dewey, é fundamental associar as vidas humana, social e cooperação. Todos esses elementos devem ser observados, e, logicamente, pela educação escolar. Conforme destaca Haydt (2006, p. 22), Dewey salientou “a importância social do trabalho e valorizou o trabalho manual. Afi rmou que a escola deve se tornar uma verdadeira comunidade de trabalho, em vez de um lugar isolado, onde se aprendem lições sem ligação com a vida”. 21 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 FIGURA 6 – JOHN DEWEY FONTE: <https://www.udesc.br/ceart/noticia/udesc_ceart_oferece_grupo_ de_estudos_e_leituras_sobre_john_dewey>. Acesso em: 24 abr. 2021. Contudo, você pode estar se perguntando: qual a relação/infl uência desses escritos, desses autores/fi lósofos e dessas refl exões para a Didática? Os pressupostos indicam algo fundamental para a construção da Didática, pois evidenciam que educar é algo muito mais amplo do que ensinar. Ensino é a orientação para a aprendizagem, e a educação se refere ao processo da formação humana. Portanto, a Didática se consolida como uma das áreas específi cas da Pedagogia, e faz a construção do pensamento em relação à teoria e à prática da instrução e do ensino, considerando a efetividade de práticas educativas centradas nas vivências, nas experiências e na relação com os diferentes contextos, valorizando a aprendizagem individual dos sujeitos. As refl exões vão evoluindo e se tornando mais complexas até o entendimento de que o objetivo da educação por competências está no pleno desenvolvimento das pessoas. Isso apenas é possível com a aproximação entre teoria e prática e, mais ainda, com o esclarecimento de ações pedagógicas que valorizem a prática contextualizada. À Didática, portanto, cabe o desafi o de refl etir a respeito dos princípios gerais e específi cos, de acordo com cada disciplina e as possibilidades. A Didática é ação de ensinar a partir da relação entre as pessoas, e, destas, com espaços sociais e públicos. De acordo com Libâneo (1990, p. 26): A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. Segundo essa ideia, a ela, cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses 22 Didática do Ensino de Línguas 1 - Nesta seção de leitura proposta para você, a educação em um contexto de mais ação (e menos passivo) foi algo tratado com mais evidência, ou seja, as mudanças nos princípios do processo de formação do ser humano passaram do inatismo (passividade do sujeito nos processos de ensino e de aprendizagem) para algo pautado na ação, no social, na interação etc. Dessa forma, elabore um pequeno parágrafo para explicar de que forma propostas de trabalho para a sala de aula podem (e devem) ser planejadas para que a dinâmica considere o protagonismo do aluno no processo formativo. objetivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a aprendizagem. Dessa forma, entendemos que a Didática, desde a origem até o momento atual, busca estudar e entender o próprio objeto de estudo, que transforma objetos de saber em objetos de ensino. Assim, desde o início do século XX, ela é uma disciplina obrigatória nos currículos dos cursos de Licenciatura no Brasil. A partir desse entendimento, passaremos, na próxima seção, a refl etir a respeito dos materiais didáticos. Estes são parte importante da transformação de objetos de saber em objetos de ensino, pois são instrumentos de ação e fazem a intermediação entre a informação e os sujeitos. Ação para formação pressupõe atividades que estejam relacionadas com o mundo do trabalho, com debates políticos atuais, com entendimentos econômico e social multifacetados, assim, mobiliza-se o conhecimento do aluno para a cidadania e para a ação social. É o formar da vida para a escola e da escola para a vida. 23 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕESTEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 4 TEORIA E PRÁTICA DE LIVROS E MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA O que você imagina quando pensa em material didático? Quais são as imagens mentais que você formula? Livros, folhas de atividades, mapas, vídeos, podcast, jogos, objetos interativos de aprendizagem, fi lmes, documentários, realidade virtual etc.? Se você pensou nessas opções e em tantas outras, você está certo. O material didático, nas suas diferentes formas de apresentação, de acordo com o meio de divulgação, pode ser conceituado como um “produto pedagógico utilizado na educação” (BANDEIRA, 2009, p. 14). Portanto, todo e qualquer material que tenha fi nalidade didática (mobilizar conhecimento para o ensino) deve ser considerado material didático. O que pode variar é o suporte ou o uso da mídia. Os materiais didáticos podem ser classifi cados em impressos, audiovisuais e tecnológicos (considerando o uso de novas tecnologias). FIGURA 7 – MATERIAL DIDÁTICO E SUPORTE FONTE: Bandeira (2009, p. 15) O material impresso, desempenhando papel de material didático, pode ser livro, mapa, cartilha, fi gura etc. Amplamente aceito por todos (professores e alunos), é a forma clássica de material didático. É de fácil manuseio e “pode ser utilizado em todas as etapas e modalidades da educação. O aluno e o professor podem consultá-lo fora da sala de aula, pois o material impresso não requer equipamento ou recurso tecnológico para a utilização” (BANDEIRA, 2009, p. 17). 24 Didática do Ensino de Línguas FIGURA 8 – LIVRO DIDÁTICO IMPRESSO FONTE: <https://www.angra.rj.gov.br/noticia.asp?vid_ noticia=53802&indexsigla=imp>. Acesso em: 11 abr. 2021. FIGURA 9 – MAPA IMPRESSO FONTE: <https://segredosdomundo.r7.com/mapa-do-mundo-63-versoes- que-voce-nao-aprende-na-escola/>. Acesso em: 11 abr. 2021. Atualmente, muitos materiais, até então, apenas impressos, podem ser encontrados em formato digital, como e-books, mapas interativos, cartilhas em PDF etc. Evidentemente que o uso desses materiais exige computadores, projetores e internet, o que não é uma possibilidade para todas as escolas brasileiras. O contexto deve ser investigado para que os recursos didáticos possam ser utilizados de forma adequada, lembre-se disso! Mesmo um material impresso precisa do estudo do contexto, pois o sucesso do uso de determinado material, em um determinado contexto, não garante amplo uso; em outros espaços, o material pode não ser adequado. Pense nisso! 25 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 O material didático possibilita a construção de uma infi nidade de projetos de aula. Com os recursos digitais, instrumentos tradicionais (como um mapa impresso) podem ser abordados, didaticamente, de formas diversas. Observe que interessante a dica a seguir para utilizar com os seus alunos: Mapa do mundo, 63 versões que você não aprende na escola O mapa do mundo tem várias versões, que vão muito além daquela que você conheceu e estudou na escola. Conheça algumas das várias. 1. Mapa animado do clima da Terra. 2. Mapa da vegetação mundial. 3. Mapa Mundi da Pangeia, levando em consideração a divisão política atual. Você sabe o que é a Pangeia? A Pangeia, segundo alguns especialistas, teria sido um único continente que teria existido há milhares de anos, antes de se fragmentar e criar vários outros continentes. Esse é um mapa do mundo, levado em consideração a divisão política atual na Pangeia. 5. Mapa com as bandeiras de cada país. 6. Mapa colorido, de acordo com os países mais visitados do mundo. 8. Mapa das linhas aéreas mundiais. Etc. Para saber mais, acesse https://segredosdomundo.r7.com/ mapa-do-mundo-63-versoes-que-voce-nao-aprende-na-escola/. Consideraremos, agora, os materiais digitais. Estes dependem de programação/edição com o uso de ferramentas específi cas (desde as mais simples até as mais complexas), disponibilizados por meio de programas específi cos. Dominar a linguagem de programação (mesmo que apenas as mais simples), as ferramentas de edição etc. é importante para a elaboração desse tipo de material, caso você tenha interesse na elaboração de materiais tecnológicos mais complexos. 26 Didática do Ensino de Línguas Pense, por exemplo, na elaboração de uma apresentação com o uso do Canva, ou, até mesmo, do PowerPoint. São editores de materiais que exigem, do autor, domínio de edição. No Canva, por exemplo, é possível criar pequenos vídeos educativos com integração de imagem e som, certo?! Resumindo, dos mais simples aos mais complexos, os materiais digitais utilizam a tecnologia como suporte para a interação. Temos, como exemplos de materiais didáticos vinculados por meio digital, simuladores, jogos, vídeos, animações, e-books interativos, textos com hiperlinks, ambientes virtuais de aprendizagem etc. Conhecer as possibilidades dessas ferramentas é importante para a construção de materiais didáticos variados. Pense nisso! FIGURA 10 – INGLÊS NA REDE FONTE: <https://idiomas.gcfglobal.org/pt/curso/ingles/a1/ cumprimentos-em-ingles/>. Acesso em: 11 abr. 2021. De acordo com os Referenciais para Educação (BRASIL, 2007, p. 11): Os ambientes virtuais de aprendizagem são programas que permitem o armazenamento, a administração e a disponibilização de conteúdos no formato Web. Destacam-se: aulas virtuais, objetos de aprendizagem, simuladores, fóruns, salas de bate-papo, conexões a materiais externos, atividades interativas, tarefas virtuais (webquest), modeladores, animações, e textos colaborativos (wiki). Dessa forma, saiba que todo material didático de suporte digital deve ser elaborado a partir da exploração das potencialidades oferecidas pela tecnologia digital. Para essa ação, equipes colaborativas e multidisciplinares são fundamentais. Profi ssionais com conhecimento de programação, design, UX (experiência do usuário) etc., quando trabalham em conjunto, podem construir 27 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 diferentes materiais didáticos para usos específi cos de ampla divulgação. Além da construção do material, são fundamentais a manutenção e a verifi cação da utilização efetiva do material proposto. Por exemplo, cursos elaborados para salas de aula virtual precisam ser construídos e testados para que possam operar de forma efetiva. A adaptação contínua é importante para potencializar os usos dos materiais didáticos. Outra questão importante acerca dos materiais didáticos está na classifi cação em estruturados e granulares. Você já ouviu/leu a respeito dessa diferença? Os materiais defi nidos como estruturados são aqueles que, no processo de produção, consideram a sustentação e a organização de uma proposta, previamente elaborada, de ensino e de aprendizagem. Nessa construção, o material é sistemático para atender à proposta de ensino e de aprendizagem. Há uma organização dos conteúdos para que o processo seja efetivo. Coleções, por exemplo, representam materiais estruturados. Têm-se conteúdos curriculares, atividades pedagógicas e suporte ao professor, tudo isso de forma estruturada. Esses materiais acompanham e conferem suporte ao educador. De acordo com Louzano et al. (2014), o material didático estruturado: • Garante os conteúdos mínimos para todos os alunos. • Garante maior cobertura do conteúdo. • Estimula o professor a ampliar o tempo de planejamento. • Aumenta a economia de tempo de trabalho do professor. • Diminui o uso da lousa pelo professor. Os materiais granulares, por sua vez, dão conta de algum aspecto dos processos de ensino e de aprendizagem. Representam, conforme o nome enuncia, pequenas estruturas que, ao serem combinadas, podem formar uma estrutura mais ampla de material didático, formando, por exemplo, objetos de aprendizagem, módulos e cursos.Os materiais didáticos podem ser tipifi cados em próprios e adaptados. Nessa classifi cação, consideram-se a autoria e o propósito da composição do material. Materiais próprios podem ser elaborados, por educadores, de forma individual ou em conjunto. Por exemplo, as equipes de Língua Portuguesa, de Literatura e de Língua Estrangeira se reúnem e organizam a produção de um e-book para ser utilizado de forma conjunta (multidisciplinar), pelos professores das três disciplinas. Cada um dos educadores contribui com textos, atividades e conteúdos autorais, de forma que a aprendizagem seja integrada. Esse material, com fi m didático, é reunido, e confi gura um e-book que pode ser utilizado com recursos digitais e de apoio aos processos de ensino e de aprendizagem em um contexto específi co, podendo, após a primeira experiência de aplicabilidade, ser 28 Didática do Ensino de Línguas reutilizado, conforme a usabilidade. Quanto mais for defi nida a contextualização utilizada, menores são as chances de reuso do material. Materiais próprios também podem ser encomendados por instituições de ensino ou por órgãos governamentais, além de ser ofertados por editoras específi cas. O processo de elaboração é direcionado e atende a pré-requisitos específi cos: temática, público-alvo, conteúdo específi co, atividades específi cas etc. Os objetivos são delineados previamente, e a produção autoral é direcionada para os usos restrito e específi co. Os materiais adaptados são aqueles produzidos por um autor (ou um grupo de autores), o qual permite a adaptação do material por terceiros. Por exemplo, Jonas é professor de espanhol e atua em três escolas. Ele produz, em conjunto com outros professores de uma das escolas na qual atua, uma cartilha para o ensino de inglês, voltada para o quarto ciclo do Ensino Fundamental, e precisa utilizar esse mesmo material em outra escola, mas dois dos textos já estão defasados e ele pretende buscar outros, adaptando o material. Desta forma, esse material é classifi cado como adaptado. 1 - Imagine, após a indicação da leitura de diferentes mapas, um planejamento para as suas aulas de ensino de línguas. O que você poderia propor, utilizando um dos tipos de mapas disponíveis? O uso de cada tipo de material é de escolha dos professores, e de acordo com o planejamento pedagógico da equipe. O importante é combinar diferentes materiais para um trabalho produtivo na sala de aula e para além dela. Agora, refl etiremos, mais diretamente, a respeito dos materiais didáticos para o ensino de línguas, os quais devem estar alinhados com Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio (PCNEM) e Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 29 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 Para a sua formação, é importante que você conheça os PCNs e a BNCC. Para este momento, indicamos algumas leituras específi cas: BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: língua estrangeira. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. PCN Ensino Médio Parte II – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_ EF_110518_versaofi nal_site.pdf. De acordo com os documentos citados, os materiais didáticos de língua portuguesa e de língua estrangeira devem estar orientados para o multiletramento e as participações crítica, refl exiva e criativa na sociedade. Essa consideração dos novos e multiletramentos, e das práticas da cultura digital no currículo, não contribui somente para que uma participação mais efetiva e crítica, nas práticas contemporâneas de linguagem, por parte dos estudantes, possa ter lugar, mas permite, também, que se possa ter em mente mais do que um “usuário da língua/das linguagens”, na direção do que alguns autores vão denominar de designer: alguém que toma algo que já existe (inclusive, textos escritos), mescla, remixa, transforma, redistribui, produzindo novos sentidos, processo que alguns autores associam à criatividade. Parte do sentido de criatividade em circulação, nos dias atuais (“economias criativas”, “cidades criativas” etc.), tem algum tipo de relação com esses fenômenos de reciclagem, mistura, apropriação e redistribuição. No processo de construção de materiais didáticos, essa orientação deve ser sempre observada. Por exemplo, na disciplina de Língua Portuguesa, o professor deve valorizar todas as vozes possíveis, o que é possível com a seleção de textos canônicos e textos ditos “periféricos” (fora do cânone). Autores não recorrentes, em manuais de Literatura, por exemplo, podem conquistar espaço na sala de aula, a partir da atuação do professor na construção dos planos de aula. 30 Didática do Ensino de Línguas Na elaboração de materiais autorais ou adaptados, o educador pode contemplar a cultura digital, as diferentes linguagens e os diferentes letramentos (desde os mais lineares, com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que incluem hipermídia). Como premissa da BNCC, tem-se a diversidade cultural, e ela se faz presente nas hibridizações, apropriações e mesclas. É importante contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente. Existem eixos norteadores de língua portuguesa, os quais correspondem a práticas de linguagem e que devem ser considerados nos momentos de elaboração de materiais didáticos, como oralidade, leitura/escuta, produção (escrita multissemiótica), e análise linguística/semiótica. Esse último eixo considera conhecimentos linguísticos em relação ao sistema de escrita, ao sistema de língua e à norma padrão, ao texto, ao discurso e aos modos de organização. O professor deve apresentar, nos projetos de aula (seleção de materiais), diferentes gêneros textuais, de acordo com cada etapa de ensino. Para o ensino de línguas, é preciso considerar a gramática das línguas sempre de forma contextualizada (práticas linguísticas). Nessa abordagem, necessita, o professor, escutar e conferir espaço para diferentes vozes, as quais apresentam escritas e opiniões múltiplas. As redes sociais, por exemplo, podem ser utilizadas em sala de aula, e as múltiplas formas de expressão conseguem ser pauta de debate. O Instagram, por exemplo, é uma rede que usa a imagem como forma de expressão; o Twitter, por sua vez, faz uso da escrita para manifestação de pensamentos e compartilhamento de ideias e de opiniões. Todas as possibilidades podem ser estudadas em sala de aula, pois são práticas de linguagem atuais, observadas com criticidade. Para o ensino de língua estrangeira, os preceitos são os mesmos listados para a Língua Portuguesa, considerando que, na segunda língua, a dimensão intercultural também é citada como eixo norteador. Observe: A aprendizagem de língua estrangeira contribui para o processo educacional como um todo, indo muito além da aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas. Leva a uma nova percepção da natureza da linguagem, aumenta a compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve maior consciência do funcionamento da própria língua materna. Ao mesmo tempo, ao promover uma apreciação dos costumes e dos valores de outras culturas, contribui para desenvolver a percepção da própria cultura por meio da compreensão da (s) 31 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 cultura (s) estrangeira (s). O desenvolvimento da habilidade de entender/dizer o que outras pessoas, em outros países, diriam em determinadas situações, leva, portanto, à compreensão das culturas estrangeiras e da cultura materna.Essa compreensão intercultural promove, ainda, a aceitação das diferenças nas maneiras de expressão e de comportamento (BRASIL, 1998, p. 37). Dessa forma, há explícita relação entre língua materna e língua estrangeira no processo de aprendizagem, uma vez que “o processo sociointeracional, de construir conhecimento linguístico e aprender a usá-lo, já foi percorrido pelo aluno no desafi o de aprender a sua língua materna” (BRASIL, 1998, p. 28). Agora, com a inserção da aprendizagem da língua estrangeira, o aluno é desafi ado a: • Aumentar o conhecimento a respeito da linguagem que constrói sobre a língua materna, por meio de comparações com a língua estrangeira em vários níveis. • Possibilitar o envolvimento nos processos de construir signifi cados nessa língua, como um ser discursivo no uso de uma língua estrangeira. Com a leitura feita até esta etapa, você percebe que o processo de ensino, considerando a prática, e pautado nas diretrizes vigentes, busca, com a inserção da aprendizagem de uma língua estrangeira (língua inglesa, por exemplo), a criação de novas formas de engajamento e de participação dos alunos em um mundo social cada vez mais globalizado e plural, no qual as fronteiras entre países e interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão cada vez mais difusas e contraditórias. Assim, o estudo da língua inglesa pode possibilitar, a todos, o acesso aos saberes linguísticos necessários para o engajamento e a participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e de mobilidade, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de continuidade dos estudos. É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas. Assim, pensando na elaboração de materiais didáticos para o ensino de línguas, a preparação deve ser efi ciente para o propósito de ensino-aprendizagem, de forma que compreenda a língua como uma habilidade sociointeracional e discursiva, mas, também, como fato histórico e, sobretudo, um espaço de produção de sentidos. Para a seleção e a elaboração de materiais didáticos, é imprescindível selecionar, além de elaborar espaços de interação entre pessoas e entre pessoas e sociedade, considerando as diversas práticas sociais, as quais são inerentes a 32 Didática do Ensino de Línguas Gêneros do discurso Roxane Rojo Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP/ Instituto de Estudos da Linguagem-IEL Vivendo a vida com os textos, isto é, atuando e nos comunicando nos diferentes campos/esferas de atividade, pelos quais circulamos no nosso cotidiano – em casa, no trabalho, estudando, informando- nos por meio do jornalismo, consumindo, apreciando e fruindo obras de arte, divertindo-nos –, enunciamos e materializamos nossos textos orais, escritos e multimodais. Os gêneros de discurso nos servem nesses momentos, pois são as formas de dizer mais ou menos estáveis da nossa sociedade. Todos os cidadãos sabem o que são e reconhecem notícias, anúncios, bulas de remédio, cheques, livros didáticos, bilhetes etc. Esses gêneros discursivos são nossos conhecidos e são reconhecidos pela forma de composição dos textos a eles pertencentes e pelos temas e funções que viabilizam o estilo de linguagem. Os textos pertencentes a um gênero possibilitam os discursos de um campo ou de uma esfera social. Por exemplo, as notícias, os editoriais e os comentários fazem circular os discursos e as posições das mídias jornalísticas. Esses três elementos – forma composicional, tema e estilo – não são dissociáveis uns dos outros: os temas de um texto ou de um enunciado se realizam somente a partir de um certo estilo e de uma forma de composição específi ca. O tema é mais do que, meramente, o conteúdo, o assunto ou o tópico principal de um texto (ou conteúdo temático). O tema é o conteúdo enfocado com base em uma apreciação de valor, na avaliação, no acento valorativo que o locutor (falante ou autor) dá. É o elemento mais importante do texto ou do enunciado: um texto é todo construído (composto e estilizado) para fazer ecoar um tema qualquer esfera da atividade humana, e que, nas quais, naturalmente, as pessoas são envolvidas, direta ou indiretamente. Essas interações acontecem por meio de enunciados, os quais se materializam pela língua (escrita ou falada). O professor deve, portanto, considerar que cada situação comunicativa apresenta sequências de enunciados estáveis: os gêneros discursivos. 33 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 irrepetível em outras circunstâncias. O tema é o sentido de um dado texto/discurso tomado como um todo, “único e irrepetível”, justamente, porque se encontra viabilizado pela apreciação de valor do locutor no momento da produção. É pelo tema que a ideologia circula. A forma de composição e o estilo do texto vêm a serviço de fazer ecoar o tema daquele texto. O estilo são as escolhas linguísticas que fazemos para dizer o que queremos dizer (“vontade enunciativa”), para gerar o sentido desejado. Essas escolhas podem ser de léxico (vocabulário), estrutura frasal (sintaxe), registro linguístico (formal/informal, gírias) etc. Todos os aspectos da gramática estão envolvidos. O que é a forma de composição? Ela é, pois, a organização e o acabamento do todo do enunciado, do texto como um todo. Está relacionada ao que a teoria textual chama de “estrutura” do texto, à progressão temática, à coerência e à coesão do texto. Seria muito interessante, para o desenvolvimento dos letramentos, que a escola tratasse dos textos orais, escritos e multimodais, para a compreensão e a produção, como exemplares de gêneros discursivos, dando prioridade máxima aos temas que fazem ecoar por meio dos processos estilísticos e da composição [...]. FONTE: <http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/ verbetes/generos-do-discurso>. Acesso em: 11 abr. 2021. Sendo papel, da educação, o de preparar os sujeitos para a atuação social, torna-se fundamental que, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Língua Estrangeira, construam-se propostas de trabalho com uma grande variedade de gêneros do discurso. Apropriado dos diferentes gêneros, a aluno amplia o repertório de enunciados. O domínio da Língua Estrangeira, portanto, possibilita a ampliação da possibilidade de ação no mundo por meio do discurso, além do que a língua materna oferece. “Da mesma forma que o ensino da língua materna, o ensino da língua estrangeira incorpora a questão de como as pessoas agem na sociedade por meio da palavra, construindo o mundo social, a si mesmas e os outros a sua volta” (BRASIL, 1998, p. 43). Assim, os temas devem ser transversais, em 34 Didática do Ensino de Línguas práticas discursivas, que consideram outras dinâmicas sociais e culturais. Por exemplo, para o ensino de Língua Inglesa, o professor pode desenvolver uma refl exão a respeito das variantes da língua falada, de acordo com o contexto. A Língua Inglesa é falada em todo o mundo de forma uniforme? Essa temática pode ser trabalhada em sala de aula. O mesmo, inclusive, para a língua materna (considerando a Língua Portuguesa): é falada de forma uniforme no Brasil? A questão da variação linguística possibilita a construção de conhecimento das práticas discursivas e pode fazer parte de propostas didáticas. Questionamentos, como os citados, podem ser utilizados para a mobilização e a construção do conhecimento. De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998), é uma experiência de grande valor educacional (o ensino da língua estrangeira), posto que fornece os meios para os aprendizes se distanciarem de temas ao examiná-los por meio de discursos construídos em outros contextossociais, de modo a poderem pensar neles, criticamente, no meio social em que vivem. Na prática, como conduzir esse trabalho em sala de aula? Dica de procedimento pedagógico: a linguagem, como prática social, considera escolhas de quem escreve ou fala no processo de construção de signifi cados e na relação com outras pessoas, em contextos culturais, históricos e institucionais específi cos, logo, para a prática em sala de aula, submeta textos orais ou escritos com sete perguntas: quem escreveu/falou, sobre o que, para quem, para que, quando, de que forma e onde? (BRASIL, 1998). As respostas para as perguntas podem conduzir a dinâmicas refl exivas acerca de temáticas mais amplas, como o respeito à ética nas relações cotidianas, no trabalho e no meio político brasileiro; a preocupação com a saúde; a garantia de que todo cidadão brasileiro tenha direito ao trabalho; a consciência dos perigos de uma sociedade que privilegia o consumo em detrimento das relações entre as pessoas; o respeito aos direitos humanos (aqui, incluídos os culturais e os linguísticos); a preservação do meio ambiente etc. Questões que podem ser trabalhadas na aproximação entre Brasil e mundo, entre língua materna e língua estrangeira. Em todos os processos didáticos, considere os objetivos delineados nos PCNs (BRASIL, 1998): • Compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e de deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo, para si, o mesmo respeito. • Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes 35 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar confl itos e de tomar decisões coletivas. • Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais, como meio para construir, progressivamente, a noção de identidades nacional e pessoal, além do sentimento de pertinência ao país. • Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro e aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando- se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais. • Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identifi cando elementos e interações, contribuindo, ativamente, para a melhoria do meio ambiente. • Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confi ança nas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca do conhecimento e no exercício da cidadania. • Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis, como um dos aspectos básicos da qualidade de vida, e agindo, com responsabilidade, em relação à própria saúde e à saúde coletiva. • Utilizar as diferentes linguagens, verbal, musical, matemática, gráfi ca, plástica e corporal, como meios para produzir, expressar e comunicar ideias, interpretar e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação. • Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos. • Questionar a realidade, formulando-se problemas e tratando de resolvê- los, utilizando, para isso, o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verifi cando a adequação. Os PCNs apresentam, na segunda parte, um capítulo destinado a orientações didáticas. Nesse espaço, são delineados os seguintes elementos: • Habilidades comunicativas. • Compreensão. • Compreensão escrita. • Orientações didáticas para o ensino de compreensão escrita (Pré-leitura, Leitura e Pós-leitura). • Compreensão oral 36 Didática do Ensino de Línguas • Orientações didáticas para o ensino da compreensão oral. • Produção. • Produção escrita. • Produção oral. • Orientações didáticas para o ensino da produção escrita e da produção oral. • Orientações para uma avaliação formativa. O objetivo desta parte é apresentar refl exões acerca dos procedimentos didáticos voltados para o desenvolvimento de habilidades comunicativas. Caso a escola tenha disponibilidade de revistas, jornais, TVs, livros, gravadores de vídeo e de áudio, computadores, internet etc., é possível utilizar tais recursos para importar o mundo estrangeiro, e o espaço do mundo, fora da sala de aula, para o interior. Tarefas podem ser elaboradas de forma a estabelecer vínculos do que se faz na sala de aula e do que, efetivamente, acontece no mundo exterior a ela (as pessoas estão, no dia a dia, envolvidas na construção social do signifi cado). Ainda, há possibilidades, que existem fora da sala de aula, para continuar a aprender uma língua estrangeira (BRASIL, 1998). Para a elaboração e a seleção de materiais didáticos, é importante ter consciência do impacto da tecnologia da informática na sociedade, no ensino e na aprendizagem, além da valorização da noção de tarefa. Para esse primeiro item, destacam, os PCNs (1998, p. 87): É inegável que aumenta, cada vez mais, a possibilidade de acesso às redes de informação do tipo internet, e as exigências do mundo do trabalho passam a incluir o domínio do uso dessas redes. O conhecimento de língua estrangeira é crucial para se poder participar ativamente dessa sociedade em que, tudo indica, a informatização passa a ter um papel cada vez maior. O professor pode ter o apoio de softwares específi cos para o ensino da língua estrangeira, mas é imprescindível a análise crítica desses materiais para a certifi cação, da parte do docente, de que não sejam meras reproduções de um tipo de instrução programada popular nas décadas de 60 e 70 (BRASIL, 1998). A instrução programada se baseava em uma prática instrucional individualizada que consistia em uma série de exercícios linguísticos, exigindo a resposta certa do aluno, de forma mecânica, como condição para que prosseguisse na aprendizagem. 37 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 Para escapar do formato exposto, o professor, no processo de ensino de línguas, pode apresentar experiências de aprendizagem que estejam relacionadas com metas ou atividades mais específi cas, que são realizadas por meio do uso da linguagem e da ação, com acionamento de diferentes conjuntos de enunciados. Essas relações podem aproximar o contexto do mundo real com a dinâmica da sala de aula, ou seja, situações simuladas que oferecem experimentação de situações reais. Por exemplo: quais são os enunciados mais presentes em uma reunião de negócios? E em uma reunião familiar? São os mesmos? Quais são os grupos de enunciados que se fazem presentes em cada um desses contextos? E na escrita de um artigo científi co? O discurso construído é o mesmo? Como essas questões operam no contexto do ensino de línguas? FIGURA 11 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES 38 Didática do Ensino de Línguas FONTE: Brasil (2000, p. 14-15) Essas dinâmicas podem se estabelecer em relação à produção e à compreensão, considerando diferentes níveis de conhecimento sistêmico e de profundidade de compreensão que são acionados. Imagine que uma determinada tarefa solicite, como resposta, uma representação gráfi ca, uma tabela, uma planilha, um roteiro ou o preenchimento de um formulário. Você percebe que há relações de produção e de compreensão distintas e que desafi am o aluno para ir além da dinâmica perguntas-respostas. Pense nisso para a construção/seleção de materiais didáticos. Busque, sempre, o engajamentodo aluno nas suas propostas didáticas, tendo, como objetivo, a aprendizagem ativa. Tenha objetivos previamente delimitados e busque os alcançar com as atividades propostas. Procure manter o foco no signifi cado e na relevância da atividade para o aluno. As tarefas, assim, integrando as dimensões interacional, linguística e cognitiva da aprendizagem das línguas, funcionam como experiências construtoras da aprendizagem. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Nesta parte inicial do livro, buscamos compreender o conceito de Didática a partir de informações relacionadas com a defi nição do termo e a construção histórica. Nesse processo de consolidação, como disciplina independente, mas sendo um ramo da Pedagogia, você passa a entender que o objeto de investigação está relacionado com a ação de ensinar, ou seja, de construir um embasamento teórico acerca da ação de ensino, na busca por práticas, em sala de aula, que valorizem os múltiplos letramentos, e que se tenha uma proximidade de vivências de situações reais. Tudo isso norteado pelo princípio de uma formação cidadã. 39 DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA Capítulo 1 Ao conhecer a trajetória de consolidação histórica do campo, você amplia os seus saberes a respeito da teoria e da prática em Didática do Ensino de Línguas, e modifi ca a sua ação como docente. Você está habilitado para elaborar, adaptar e selecionar materiais didáticos ao reconhecer as possibilidades existentes, os usos que podemos fazer dos diferentes materiais e dos recursos empregados. Da mesma forma, você pode reforçar a sua leitura de textos normativos (PCNs e BNCC), os quais servem como norteadores dos processos educativos. O principal objetivo desta leitura foi apresentar algumas orientações didáticas, para o processo de ensino de línguas, que valorizem as habilidades comunicativas. Acreditamos que expor o leitor aos princípios adjacentes dos documentos é necessário para o envolvimento no processo de refl exão a respeito do trabalho que se realiza em sala de aula. A intenção é mobilizar o pensamento no alinhamento da ação do professor com os parâmetros e os princípios construídos para a educação brasileira, os quais não precisam ser aplicados diretamente e de forma plena. Podem, na verdade, ser questionados, criticados e adaptados, da melhor forma possível, para que a ação educativa seja efetiva em cada contexto. Por fi m, em todos os sentidos, entende-se o ensino como prática social concreta, complexa e desafi adora. A Didática, então, é a teoria da docência. Portanto, é ensinar, aprender, pesquisar, avaliar. Essas dimensões se integram e se complementam, e o ensino apenas ocorre na relação com as três dimensões. REFERÊNCIAS BANDEIRA, D. Materiais didáticos. Curitiba: IESDE, 2009. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Referenciais para elaboração de material didático para EaD no ensino profi ssional e tecnológico. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 2007. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio – Parte II: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2000. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1998. COMENIUS, I. A. Didática magna. São Paulo: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. FEREIRA, V. et al. Didática. Porto Alegre: Sagah, 2018. 40 Didática do Ensino de Línguas HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990. LOUZANO, P. et al. Sistemas estruturados de ensino e redes municipais do Estado de São Paulo. São Paulo: Fundação Lemann, 2014. CAPÍTULO 2 PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: • Saber os pressupostos pedagógicos, as teorias da linguagem, os PCNs e todas as abordagens centradas no ensino de línguas. • Identifi car as teorias da linguagem e as especifi cidades de cada uma e as relações com a construção dos PCNs para uma atuação docente diferenciada. 42 Didática do Ensino de Línguas 43 PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Este capítulo apresentará, como proposta de refl exão, as teorias da linguagem e os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs. A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem, relacionados ao saber: conhecer os pressupostos pedagógicos, as teorias da linguagem, os PCNs e todas as abordagens centradas no ensino de línguas; e identifi car as teorias da linguagem e as especifi cidades de cada uma e as relações com a construção dos PCNs para uma atuação docente diferenciada. Na primeira seção desta leitura, construiremos conhecimentos das três teorias da linguagem. Com relação às teorias, iniciaremos pelo inatismo, depois, ampliaremos para as informações a respeito do empirismo, e fi nalizaremos com a teoria interacionista. O objetivo desta primeira etapa de refl exão é reconhecer as diferentes correntes de pensamento do processo de aquisição da linguagem para o entendimento da infl uência das escolhas de abordagem no contexto da escola e no contexto de atuação, uma vez que, de acordo com a teoria que embasa as práticas docentes, professores, alunos e a produção e a seleção de materiais didáticos são infl uenciados no processo de formação. O próprio processo de seleção, produção e adaptação de materiais didáticos sofre um impacto direto dessas decisões de abordagem. Com o passar do tempo, as teorias evoluíram e se modifi caram, ampliando o entendimento acerca do processo de aquisição do conhecimento, de um processo empirista para um inatista, até alcançar a compreensão da interação como fator de relevância. Os parâmetros curriculares, portanto, refl etem a respeito dessas teorias e das infl uências delas para a elaboração de propostas didáticas que mobilizem, de forma efetiva, o conhecimento, valorizem as formas de expressão (diversidade cultural) e capacitem os sujeitos para uma atuação cidadã. Boa leitura! 44 Didática do Ensino de Línguas 2 TEORIAS DA LINGUAGEM: INATISMO, EMPIRISMO E INTERACIONISMO A linguagem, como um sistema simbólico tipicamente humano, apresenta organização e estruturas profundas. Para a aquisição de diferentes processos e procedimentos, são postos em ação. Dessa forma, independentemente da língua a ser utilizada, a organização da linguagem em estruturas profundas é compartilhada por todas. Esse conjunto constitui os universais linguísticos. Nesse contexto, diferentes teorias apresentam análises e abordagens singulares para o funcionamento da linguagem. Portanto, conheceremos, nesta etapa da leitura, as teorias pedagógicas com um estudo a respeito do inatismo, do empirismo e do interacionismo. Visualizaremos as principais características de cada uma delas nas próximas linhas. 2.1 TEORIA INATISTA DO CONHECIMENTO Neste primeiro tópico, o desafi o será identifi car as principais características da teoria inatista do conhecimento, para ampliar os seus saberes acerca desse campo e da teoria específi ca. Vamos lá! Essa corrente de pensamento (de hipótese de aquisição da linguagem) faz parte de um conjunto de tentativas para entender e explicar de que forma se adquire uma determinada língua. Diferentes pesquisadores buscam respostas para uma pergunta central: como, efetivamente, ocorre o processo de aquisição da linguagem? A compreensão do processo possibilita, dentre tantas práticas, ampliar o processo de formação dos sujeitos, de acordo com as necessidades específi cas de cada um. Conhecer esse processo é importante para todos os profi ssionais envolvidos no processo de formação. Com este conhecimento, podematuar, didaticamente, de forma mais embasada, a partir da seleção de materiais didáticos e de práticas para a sala de aula que estejam de acordo com as teorias escolhidas por eles. Nesse exercício de conhecimento, inúmeras áreas e pesquisas se dedicam a desenhar hipóteses acerca do processo de aquisição de conhecimento. Mais diretamente, “pesquisas em aquisição de linguagem, campo de estudos 45 PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Capítulo 2 O que é gramática gerativa? Lorenzo Vitral (UFMG) A teoria linguística, chamada de Gramática Gerativa, tem sido desenvolvida por Noam Chomsky, e muitos outros pesquisadores, desde 1957. Trata-se de uma teoria que se ocupa das línguas e da linguagem. Há, entretanto, várias maneiras para se estudar as línguas e a linguagem. O que existe, na verdade, são homens que falam em uma sociedade que se organiza através da linguagem. Chamemos isso de mundo das aparências, das coisas que existem concretamente. Para tornar inteligível esse mundo das aparências, o espírito humano constrói modelos abstratos, teorias, que levam em conta, normalmente, apenas partes desse mundo. Quero dizer que cada modelo abstrato, cada teoria escolhe um aspecto da linguagem para estudar e que não existe um modelo bem-sucedido que contemple todo o fenômeno da linguagem. Essa observação é válida em outras áreas do conhecimento, como na física, por exemplo. O que se faz, então, é privilegiar um aspecto da linguagem, o dos sons, por exemplo, o signifi cado desses sons, as modifi cações da língua, geográfi ca ou historicamente. Pode-se, também, estudar a conversação, o texto etc. Ao tomar um desses aspectos da linguagem como tema de pesquisa, já se faz um primeiro trabalho de abstração. Ora, a linguagem tem lugar de maneira global, inteira, e é no interior do multidisciplinar, que congrega, além da linguística, domínios, como a psicologia cognitiva e a psicolinguística” (CARNEIRO, 2010, p. 57), dedicam-se a esses estudos: ao entendimento crítico do processo de aquisição do conhecimento. Com o passar do tempo e o aprofundamento das pesquisas, diferentes correntes teóricas criaram hipóteses que englobam o campo de forma distinta. Cada uma delas apresentou pressupostos teóricos e fi losófi cos diferenciados. Algumas, por exemplo, indicam que o aprendiz desempenha um papel passivo no processo de aquisição da linguagem, outras citam o oposto: a interação social entre sujeitos (ativos) é fundamental para a aquisição da linguagem. Iniciaremos os nossos estudos a respeito das teorias de aquisição da linguagem. Dentre essas teorias investigativas, surge a corrente inatista, oriunda da linha gerativa de abordagem da gramática. 46 Didática do Ensino de Línguas fragmento da linguagem escolhido que o pesquisador elabora o objeto de estudo. A Gramática Gerativa se ocupa, privilegiadamente, com a sintaxe das línguas, mas não é, a sintaxe das línguas, o objeto de estudo. A sintaxe das línguas é apenas um meio para se descrever uma entidade teórica chamada de Gramática Universal. Esse é o objeto de estudo da Gramática Gerativa. A Gramática Universal pode ser defi nida, inicialmente, como os aspectos sintáticos que são comuns a todas as línguas do mundo. Supõe-se, então, que, apesar da variação que existe entre as línguas, isto é, apesar das línguas serem diferentes (por exemplo, o fato de o objeto direto 70 aparecer antes do verbo em japonês, e depois do verbo em português), existiria uma gramática subjacente a todas elas. Essa gramática seria composta de 1) mecanismos que permitiriam colocar em relação termos da língua, formando níveis de representação associados com a interpretação do signifi cado dos sons; e 2) um conjunto de princípios que restringiria as possibilidades de combinação desses. Essa gramática conteria, também, certos parâmetros, que determinariam as dimensões de variação das gramáticas das línguas. Essa gramática só permitiria, também, a ocorrência de frases bem-formadas de uma língua. A dicotomia frase bem-formada/mal-formada não se confunde com a oposição frase correta/incorreta da gramática tradicional: a frase incorreta pode ser uma frase bem-formada. Embora a gramática só permita a ocorrência de frases bem-formadas, o linguista lida, também, com frases mal-formadas. O linguista trabalha, na verdade, no limite, entre as frases bem-formadas e as mal-formadas. É, nesse limite, para usar uma metáfora, entre o mundo da gramaticalidade e o mundo da agramaticalidade, que se pode identifi car os princípios da Gramática Universal. Nesse sentido, vale a brincadeira, segundo a qual o gerativista não gosta da língua. A análise da língua, que é extensa, é só um pretexto para se estabelecer a Gramática Universal. As ideias redefi niram a natureza da linguagem e da teoria linguística. Diferentemente do estruturalismo, que edifi ca a teoria a partir de uma pergunta acerca da gênese da signifi cação, a gramática gerativa propõe que o que é essencial à linguagem é a recursividade, isto é, o fato de, com elementos fi nitos, ser possível gerar frases infi nitamente. Frases em número infi nito, mas não todo 47 PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA Capítulo 2 Avram Noam Chomsky Quando o naturalista inglês Charles Darwin observou os seres vivos, e, entre eles, percebeu nexos e continuidades, combinando as ideias de evolução e de seleção natural, o mundo nunca mais foi o mesmo, porque a nossa compreensão acerca da vida mudou. Do linguista e pensador americano Avram Noam Chomsky, pode-se dizer o mesmo. Autor de mais de 70 livros traduzidos para mais de dez línguas, ele revolucionou a área científi ca, a exemplo de Darwin. tipo de frase. A questão que se coloca é saber o que faz com que uma frase seja uma frase de uma língua. Conclui-se, assim, que existem princípios que fi ltram as frases mal-formadas [...]. Para continuar a leitura, acesse http://www.periodicos. letras.ufmg.br/ index.php/anais_l ingua_portuguesa/art icle/ viewFile/8045/6961 Para a teoria inatista, conforme destaca Langacker (1977 apud CARNEIRO, 2010), o ser humano é dotado de uma predisposição inata específi ca para a aquisição da linguagem. Assim, a teoria inatista delimita (CARNEIRO, 2010, p. 57): [...] um módulo cognitivo autônomo para a linguagem, independentemente de fatores externos de ordem social, cultural, ou, mesmo, histórica. Recorrendo a noções, como à da gramática universal, tal perspectiva defende que os aspectos biológicos exercem papel determinante no processo de aquisição. De acordo com a autora, essa teoria, então, tem origens em meados da década de 50, com os estudos de Noam Chomsky, em publicações, como As Estruturas da Sintaxe (1957), Aspectos da Teoria Sintática (1965) e Linguística Cartesiana (1966). Elaborou a respeito da gramática gerativa em contraponto à visão empirista. 48 Didática do Ensino de Línguas O racionalismo foi uma corrente fi losófi ca muito importante da Modernidade. Como concepção de conhecimento fi losófi co, o racionalismo começou a tomar corpo durante o Renascentismo, mas as primeiras origens podem remontar à fi losofi a grega, com as teses idealistas platônicas e a concepção do princípio da causalidade. O racionalismo tem, como principal objetivo, teorizar o modo de conhecer dos seres humanos, não aceitando qualquer elemento empírico como fonte do conhecimento verdadeiro. Para os racionalistas, todas as ideias que temos têm origem na pura racionalidade, o que impõe, também, uma concepção inatista, isto é, de que as ideias têm origens inatas no ser humano, nascendo Chomsky mudou o objeto de estudo da linguística. Como tinha acontecido um século antes, no domínio da natureza bruta, na ciência da linguagem, pouca gente tinha ousado alguma teoria unifi cadora, e ele o fez. Acesse para conhecer um pouco mais
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