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Didática do Ensino de Línguas

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DIDÁTICA DO ENSINO 
DE LÍNGUAS
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Nadia Studzinski Estima de Castro 
Indaial - 2021
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jairo Martins 
Jóice Gadotti Consatti
Marcio Kisner
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C355d
 Castro, Nadia Studzinski Estima de
 Didática do ensino de línguas. / Nadia Studzinski Estima de Castro. 
– Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 117 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-321-6
 ISBN Digital 978-65-5646-320-9
1. Ensino de línguas. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da 
Vinci.
CDD 370
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Didática do Ensino de Línguas: Fundamentações 
Teórica e Prática .......................................................................... 7
CAPÍTULO 2
Pressupostos Pedagógicos para o Ensino de 
Língua Materna ........................................................................... 41
CAPÍTULO 3
Métodos e Abordagens para o Ensino de Língua 
Estrangeira ................................................................................. 81
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico da pós-graduação! Seja muito bem-vindo!
Neste livro, o objetivo é construir uma trajetória de aprendizagens a respeito 
dos temas diretamente relacionados com a Didática do ensino de línguas. 
Portanto, você é convidado a construir conhecimento acerca das fundamentações 
teórica e prática de livros e de materiais didáticos para o ensino da língua; dos 
pressupostos pedagógicos para o ensino das línguas materna e estrangeira, 
a partir das teorias da linguagem e das propostas dos Parâmetros Curriculares 
Nacionais; dos métodos e das abordagens para o ensino da língua estrangeira; e 
da especificidade da avaliação no ensino de LE.
A partir da orientação de leitura, desejamos que você compreenda que o 
conhecimento é construído por uma dinâmica baseada no diálogo. Assim, questione 
sempre, pois questionar é importante para a construção do saber. Dessa forma, 
queremos que, ao fim dos estudos deste livro, a sua busca pelo saber não finalize 
aqui. Continue fazendo leituras para ampliar os seus conhecimentos, certo?! 
Lembre-se de que a proposição de questões motiva a busca por soluções para 
os problemas do cotidiano. Desafiamo-nos como profissionais e aperfeiçoamos a 
nossa prática docente, uma vez que a Didática é a prática e a ação é pautada no 
conhecimento teórico.
Este livro está dividido em três capítulos, com o intuito de ampliar os seus 
saberes acerca do campo da Didática na formação de professores para uma 
atuação embasada em teoria, esta, sempre, relacionada com a prática docente. É 
um campo amplo, portanto, a delimitação do tema é necessária. Assim, a divisão 
desta leitura acontece da seguinte forma: primeiramente, Didática do ensino de 
línguas: fundamentações teórica e prática; em segundo plano, pressupostos 
pedagógicos para o ensino da língua materna; e, por fim, métodos e abordagens 
para o ensino da língua estrangeira. 
No primeiro capítulo, iniciaremos os nossos estudos a respeito da Didática do 
ensino de línguas com as fundamentações teórica e prática referentes ao campo 
da Didática. O objetivo, desta etapa inicial, é ampliar os seus saberes a partir 
de um panorama e de uma contextualização histórica da Didática para o ensino 
das línguas, acrescentando conhecimentos da teoria e da prática referentes a 
livros e a materiais didáticos no contexto do ensino de línguas. Da mesma forma, 
é importante que você reconheça o significado da Didática para a sua atuação 
profissional.
A partir desta proposta de estudo, você estará habilitado para reconhecer a 
trajetória de consolidação histórica do campo e para ampliar os saberes da teoria 
e da prática em Didática do Ensino de Línguas. Neste primeiro capítulo, também, 
retomaremos algumas normativas vigentes, tendo, como base, a legislação atual 
e os documentos norteadores da educação no contexto do Brasil.
Bons estudos!
CAPÍTULO 1
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Saber o panorama e a contextualização histórica da Didática para o ensino de 
línguas, com a ampliação dos conhecimentos de teoria e de prática de livros e 
de materiais didáticos no contexto do ensino de línguas.
• Reconhecer a trajetória da consolidação histórica do campo para ampliar os 
saberes da teoria e da prática em Didática do Ensino de Línguas.
8
 Didática do Ensino de Línguas
9
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O mundo da sala de aula apresenta uma complexidade observada por 
diferentes fi lósofos, psicólogos, historiadores, sociólogos, economistas etc. Desde 
a Antiguidade, busca-se entender o processo de ensino, a formação dos sujeitos e 
de que forma essa dinâmica acontece. Estudos fi losófi cos mais antigos indicavam 
uma formação mais passiva para os sujeitos envolvidos nos processos de ensino 
e de aprendizagem. Com o passar do tempo, com os avanços investigativos, e 
com um olhar mais apurado, possibilita-se a consolidação, então, da pedagogia 
como campo de estudo. Passa-se a perceber que os seres humanos são ativos 
nos processos de ensino e de aprendizagem.
A mestra (o mestre) e a professora (o professor) desempenham o papel 
de intermediadores, de facilitadores do processo. Assim, a educação é uma 
ação pautada no mundo que cerca os seres humanos, no entendimento 
dessas dinâmicas sociais, econômicas, políticas, culturais, interculturais etc. 
Entretanto, então, de que forma organizar as dinâmicas da sala de aula com 
esse entendimento? Que disciplina/campo busca investigar práticas produtivas 
para a sala de aula, tendo, como base, essa visão de ensino? Esse é o desafi o 
investigativo da Didática. Como um dos ramos da pedagogia, o seu objeto de 
estudo está no entendimento do processo de ensino e do estudo ativo. Essa 
abordagem, portanto, gera impactos nas políticas educacionais, na elaboração de 
materiais didáticos etc.
Na complexa dinâmica, considere, para a sua prática docente, as dimensões 
envolvidas no processo didático: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Lembre-se 
de que a Didática é uma disciplina de natureza pedagógica, considerada aplicada, 
mantendo as suas orientações para fi ns educativos e estando comprometida com 
as questões da docência, mas, sobretudo, com os interesses e as expectativas 
dos alunos. A Didática desenha um espaço de investigação considerado, portanto, 
teórico-prático, com o objetivo-fi m de compreender as múltiplas dimensões da 
docência, percebida como ensino em ação.
Boa leitura!
2 DIDÁTICA: ESTUDOS INICIAIS
Para iniciar este processo de aprendizagem, começaremos com alguns 
questionamentos: em que conjunto de conhecimentos podemos situar (aproximar) 
a Didática? Conseguiu pensar em algo? Se você pensou na Pedagogia, acertou, 
pois, a Didática, podemos dizer, é um dos ramos de estudo dessa grande área. 
10
 Didática do Ensino de Línguas
 1 - Desafi amos você a pensar em ações docentes com objetivo 
formativo que podem ser conduzidas em espaços não tradicionais 
de ensino. Pense em lugares, interações e possibilidadesde 
atividade/interação que possam ensinar, considerando o ensino 
da língua materna e da língua estrangeira. Pensou? Agora, 
esquematize as suas ideias em uma nuvem de ideias. Em 
seguida, apresente, para os seus colegas, as suas anotações, 
e escute as propostas dos outros alunos da turma. É possível 
estabelecer um diálogo entre essas ideias e novas sugestões 
podem ser propostas em conjunto. O objetivo é construir o 
conhecimento de forma conjunta.
De acordo com Libâneo (1990, p. 15), há uma “subordinação do processo 
didático a fi nalidades educacionais”, ou seja, à Didática, impõe-se o desafi o de 
esquematizar o conhecimento das técnicas relacionadas com os processos de 
ensino e de aprendizagem.
A Didática se faz presente na prática de todo professor, pois 
está relacionada com as estratégias utilizadas em sala de aula; a 
formação docente, considerando teoria e prática; as metodologias; 
a elaboração de atividades diversas, com objetivos e fi nalidades 
determinadas etc. Ou seja, trata-se de uma análise ampla, de 
diferentes fatores, de tal forma que oriente a ação educativa para o 
alcance dos melhores resultados.
Saiba que, nesse contexto, não podemos limitar a Didática ao espaço da 
sala de aula, pois o processo de ensino (objeto de estudo da Didática) acontece, 
também, fora dela. De acordo com Libâneo (1990, p. 15), “o trabalho docente é 
uma das modalidades específi cas da prática educativa mais ampla que ocorre na 
sociedade”, portanto, a formação humana é algo amplo, que considera o conjunto 
de processos educativos e de ensino que, em certa medida, são exigências da 
vida em sociedade, ou seja, na interação com os outros e com o mundo, isso 
ocorre na sala de aula e fora dela. Assim, todo espaço é um lugar potencial de 
formação para os sujeitos.
11
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
Educação Não Escolar como Campo de Práticas Pedagógicas 
José Leonardo Rolim de Lima Severo
O texto apresenta considerações acerca do conceito de 
Educação Não Escolar (ENE), e, a partir delas, estabelece 
contribuições críticas ao debate que envolve o reconhecimento 
e o fortalecimento dos processos educativos que se inserem 
nesse âmbito, sob o entendimento da Pedagogia como ciência 
da educação capaz de imprimir sentidos pedagógicos nesses 
processos. Admitindo a existência de dimensões formativas 
intrínsecas a diferentes relações e processos sociais infl uenciados 
por uma nova racionalidade educativa contemporânea, discutem-se 
as perspectivas da sociedade pedagógica e da aprendizagem ao 
longo da vida, o lugar da ENE quanto às categorias descritivas do 
fenômeno educacional e os aspectos que a confi guram como cenário 
de práticas pedagógicas fundadas pela práxis da Pedagogia.
Palavras-chave: Educação Não Escolar. Pedagogia. Práticas 
pedagógicas. Educação não formal.
Acesse https://www.scielo.br/pdf/rbeped/v96n244/2176-6681-
rbeped-96-244-00561.pdf.
Para tanto, surge a Pedagogia, como a ciência que se dedica a investigar 
a teoria e a prática da educação em relação aos vínculos que estabelece com a 
prática social, de forma global. A Didática, por sua vez, é a disciplina que “estuda 
os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino, tendo 
em vista fi nalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 1990, p. 
16). A Didática se fundamenta na Pedagogia, e, dessa forma, é considerada uma 
disciplina pedagógica.
Para esta etapa inicial da leitura, é importante reforçar que, ao estudar a 
educação nos aspectos sociais, políticos, econômicos e psicológicos, a Pedagogia 
faz uso de contribuições de outras ciências, como da fi losofi a, história, sociologia, 
psicologia etc. Consequentemente, esses estudos convergem na Didática, uma 
vez que ela “reúne, no seu campo de conhecimentos, objetivos e modos de ação 
pedagógica na escola” (LIBÂNEO, 1990, p. 16) e fora dela.
12
 Didática do Ensino de Línguas
Teoria do Conhecimento, você já ouviu algo a respeito ou 
já leu sobre? Apresentamos uma pequena refl exão: A Teoria do 
Conhecimento se caracteriza como disciplina fi losófi ca independente 
apenas na Idade Moderna, tendo o nome de John Locke considerado 
como o seu fundador, o qual, na sua obra intitulada de An Essay 
Concerning Human Understanding (tradução, em português, 
para Ensaio Acerca do Entendimento Humano), trata, de modo 
sistemático, das questões referentes à origem, à essência e à 
certeza do conhecimento humano. Ficou curioso? Quer saber 
mais a respeito dessa teoria? Indicamos a leitura do livro Teoria do
Conhecimento, de Johanees Hessen.
Para não se confundir, lembre-se de que a Pedagogia é uma ciência 
da e para a educação. Logo, estuda a educação, a instrução e o ensino. A 
Didática, como um ramo da pedagogia (como fi losofi a da educação, sociologia 
da educação, psicologia da educação etc.), investiga os fundamentos, as 
condições e os modos de realização do processo educativo. Conforme explica 
Libâneo (1990, p. 26), à Didática, “cabe converter objetivos sociais, políticos e 
pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar métodos e conteúdos em função 
desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo 
em vista o desenvolvimento das capacidades” individuais dos alunos. Para 
o autor, a Didática está diretamente relacionada com a Teoria de Educação, a 
Teoria da Organização Escolar, e, de uma forma muito especial, com a Teoria do 
Conhecimento ea Psicologia de Educação. 
A Didática se dedica à teoria geral do ensino, portanto, metodologias 
específi cas, as quais integram o campo da Didática, ocupam-se de conteúdos 
e de métodos específi cos de cada matéria (por exemplo, Didática do Ensino de 
Línguas) e da relação que se estabelece com fi ns educativos. Isso quer dizer que a 
Didática, na sua relação com a Pedagogia, “generaliza processos e procedimentos 
que são obtidos na investigação de matérias específi cas, das ciências que dão 
embasamento ao ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática 
docente” (LIBÂNEO, 1990, p. 25). A Didática está relacionada com a formação 
docente, considerando a dimensão técnico-prática. Libâneo (1990) explica que 
a Didática se caracteriza como a mediação entre as bases teórico-científi cas da 
13
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
educação escolar e a prática docente. Portanto, opera como uma ponte entre o “o 
que” e o “como” do processo pedagógico de ensino.
A Didática, resumidamente, é a responsável por descrever e por explicar os 
nexos, as ligações e as relações entre os processo de ensino e de aprendizagem, 
investigar os fatores determinantes dos processos citados anteriormente, indicar 
os princípios, as condições e os meios de direcionamento do ensino, sempre 
tendo a aprendizagem como fi nalidade, considerando o que há de comum entre 
todas as disciplinas e as especifi cidades em didáticas específi cas.
 1 - Qual é a relação entre Pedagogia e Didática? Por que a 
Didática é considerada como o eixo de formação profi ssional?
Nesta etapa da leitura, você já está habilitado para entender o espaço 
que a Didática ocupa como disciplina independente, mesmo que diretamente 
relacionada (ramo da Pedagogia) e fazendo uso dos saberes teóricos de outras 
disciplinas (Teoria da Educação, Filosofi a da Educação etc.). 
Qual foi o percurso histórico da consolidação da Didática ao longo do tempo? 
A seguir, contextualizaremos, historicamente, a disciplina, e conheceremos alguns 
nomes importantes, os quais contribuíram para a construção dos princípios da 
Didática. Vamos lá!
3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A Didática está relacionada com a prática do professor em sala de aula, certo? 
Sim! Essas práticas são fundamentais para a efetiva construção do conhecimento. 
Como arte de ensinar tudo para todos, considerando as necessidades individuais 
de todoestudante, o termo didática (do grego, didaktiké) foi utilizado, pela primeira 
vez, por Ratke (1629) e por Comenius (1967), conforme Fereira et al. (2018). A 
partir de Comenius, a Didática foi conquistando espaço como disciplina.
14
 Didática do Ensino de Línguas
FIGURA 1 – WOLFGANG RATKE
FONTE: <http://lapedagogiadels-xvii.blogspot.com/2018/11/aspectos-
que-surgen-en-la-pedagogia_7.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.
FIGURA 2 – TRATADO DA ARTE UNIVERSAL DE ENSINAR TUDO A TODOS
FONTE: A autora
“Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de 
ensinar tudo a todos” (COMENIUS, 2011, p. 131).
Na obra Didática Magna, Comenius escreveu a respeito da prática do 
ensinar-aprender, indicando ter descoberto um método efi caz para se chegar 
à aprendizagem de todos. O autor defendeu um método de ensinar, de modo 
15
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
certo, para obter resultados, sem que isso fosse cansativo para educandos e 
educadores, pelo contrário, esse processo pudesse ser acompanhado de grande 
alegria, mas de forma sólida e não superfi cial, conduzindo todos à cultura, aos 
bons costumes e à piedade mais profunda.
Outro nome importante para a consolidação histórica da Didática foi 
Rousseau (século XVIII). De acordo com Fereira et al. (2018), Rousseau 
apresentou um conhecimento revolucionário para a Didática, pois declarou uma 
defi nição importante para o conceito infância. Dessa forma, surgiu como um 
autor que conferia continuidade para os pensamentos formulados pelos autores 
anteriores, com uma formulação que fez o campo avançar, pois se tratava da 
condição do ser criança.
FIGURA 3 – JEAN JACQUES ROUSSEAU (PINTURA 
DE MAURICE QUENTIN DE LA TOUR)
FONTE: <https://www.infoescola.com/fi losofi a/jean-jacques-
rousseau/>. Acesso em: 24 abr. 2021.
Para você compreender a importância dessa mudança de perspectiva em 
relação ao entendimento acerca da condição do ser criança, considere que, da 
Antiguidade até o século XIX, predominava o pensamento de que, na prática 
escolar, a aprendizagem acontecia de forma passiva e receptiva. “Aprender era 
quase, exclusivamente, memorizar” (HAYDT, 2006, p. 14). Assim, a compreensão 
ativa, a ação, a compreensão não desempenhava um papel ativo. O aluno/a 
criança era alguém que precisava moldado. Aprender um ofício ou a ler e a 
escrever era ensinado da mesma forma. Repetição e exercícios eram utilizados 
para o processo de ensino. O sistema de perguntas e de respostas foi utilizado, e, 
os conhecimentos repassados reduzidos. Conforme explica Haydt (2006, p. 15):
Este era o chamado método catequético, cuja origem remonta, 
pelo menos, na cultura ocidental, aos antigos gregos. A palavra 
16
 Didática do Ensino de Línguas
Em 1762, Jean-Jacques Rousseau publicou Emilio ou Da 
Educação. Este tratado, de uma total novidade para a época, 
encontrou grande sucesso, revolucionou a Pedagogia, e serviu de 
ponto de partida para as teorias de todos os grandes educadores dos 
séculos XIX e XX. Trata-se de um romance pedagógico que conta 
a educação de um órfão nobre e rico, Emilio, do nascimento até o 
casamento.
Fiel a seu princípio, segundo o qual o homem nasce naturalmente 
bom, Rousseau estima que é preciso partir dos instintos naturais da 
criança para desenvolvê-los. A educação negativa (essa que propõe 
o fi lósofo), na qual o papel do preceptor (professor) é, sobretudo, o 
de preservar a criança, deveria substituir a educação positiva, que 
forma a inteligência prematura e impensadamente. O ciclo completo 
da nova educação comporta quatro períodos:
1. O primeiro período vai de 0 a 5 (zero a cinco) anos, correspondendo a 
uma vida puramente física, apta a fortifi car o corpo sem forçá-lo; período 
espontâneo e orientado graças, notadamente, ao aleitamento materno.
2. O segundo período vai de 5 aos 12 (cinco a doze) anos, e é aquele 
no qual a criança desenvolve o corpo e o caráter no contato com as 
realidades naturais, sem intervenção ativa do preceptor.
3. O preceptor intervém, mais diretamente, no terceiro período, que 
vai de 12 a 15 (doze a quinze) anos, período no qual o jovem inicia, 
essencialmente, pela experiência, à geografi a e à física, ao mesmo 
tempo em que aprende uma profi ssão manual ou ofício.
4. Dos 15 aos 20 (quinze aos vinte) anos, compreende-se o quarto período, 
no qual o homem fl oresce para as vidas moral, religiosa e social.
catecismo provém do termo grego katechein, que signifi ca 
“fazer eco". Esse método era usado por todas as disciplinas 
e consistia na apresentação, pelo professor, de perguntas 
acompanhadas das respostas já prontas.
Esse ensino mecânico foi sendo questionado e se passou a buscar (por 
fi lósofos e educadores) uma forma de ensino “mais estimulante e adaptada aos 
interesses dos alunos e às reais condições de aprendizagem” (HAYDT, 2006, p. 
15). Nesse processo de descoberta, fi lósofos e educadores passaram a formular 
teorias que tentavam explicar de que forma (de que formas) as pessoas eram 
capazes de aprender e de assimilar o mundo. Essas teorias do conhecimento 
foram sendo acompanhadas pela formulação de princípios didáticos.
17
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
Comenius
Didática Magna (1632)
Princípios defendidos:
1. Apresentar o objeto ou a ideia diretamente, fazendo demonstração, 
pois o aluno aprende através dos sentidos, principalmente, vendo 
e tocando. 
2. Mostrar a utilidade específi ca do conhecimento transmitido e a 
aplicação na vida diária. 
Este é, pois, o modelo básico de educação, proposto por 
Rousseau, para substituir a educação tradicional que, em nome da 
civilização e do progresso, obriga os homens a desenvolverem, na 
criança, a formação apenas do intelecto, em detrimento da educação 
física, do caráter moral e da natureza própria de cada indivíduo.
FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/fi losofi a/a-educacao-no-
emilio-rousseau.htm>. Acesso em: 24 abr. 2021.
Nesse processo de desenvolvimento do conhecimento, retomamos 
alguns pensadores e contribuições para a consolidação histórica da Didática. 
Primeiramente, Sócrates (século V a.C.), que defendia que o saber não é algo a 
ser transmitido por um mestre para um discípulo. Para Sócrates, o conhecimento 
é uma descoberta feita pelo aprendiz, na relação com os desafi os e os 
conhecimentos apresentados, o sujeito vai aprendendo. É um processo e parte 
da interação. Conhecer, portanto, é ação. Essa ação acontece no interior dos 
indivíduos. Entretanto, então, qual seria a função do educador (do mestre)? Para 
Sócrates, o mestre desempenha o papel de auxiliar os discípulos para que estes 
descubram, autonomamente, a verdade.
As contribuições de Comenius (1592-1670), já citado anteriormente nesta 
leitura, evidenciam que “o objetivo da educação é ajudar o homem a atingir essa 
fi nalidade transcendente e cósmica (a felicidade), desenvolvendo o domínio de 
si mesmo através do conhecimento de si próprio e de todas as coisas” (HAYDT, 
2006, p. 16, grifo da autora).
18
 Didática do Ensino de Línguas
Para ampliar os seus saberes, leia Naturalismo Pedagógico de 
Rousseau.
O século XVIII teve, como um dos seus pontos marcantes, o 
aparecimento do Naturalismo Pedagógico, concepção educativa 
que vê, na natureza, o fi m e o método de ensino; a natureza é, pois, 
considerada como realidade suprema, da qual emanam toda a lei e 
toda a ciência. O líder desse movimento foi Rousseau, que propôs a 
fé na natureza, em substituição à lei da razão.
Leia mais em http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/
arquivos_destaque/9gdcolYckPSfb41_2013-6-27-16-59-32.pdf.
3. Fazer referência à natureza e à origem dos fenômenos estudados, 
isto é, às causas. 
4. Explicar, primeiramente, os princípios gerais, e, “só depois, os 
detalhes”. 
5. Passar para o assunto ou tópico seguintedo conteúdo apenas 
quando o aluno tiver compreendido o anterior (HAYDT, 2006).
Além dos pensadores citados até aqui, há, ainda, Heinrich Pestalozzi (1746-
1827). Pestalozzi defendia, nos seus escritos, a doutrina considerada naturalista 
(principalmente, nos parâmetros do Naturalismo Pedagógico de Rousseau). 
Nessa linha de pensamento, Pestalozzi defendia que o ser humano nasce 
bom e o caráter é formado pelo contexto/ambiente em que está inserido. Portanto, 
o ambiente de aprendizagem deve se aproximar dos reais contextos/condições 
naturais para que os sujeitos possam se desenvolver de forma contextualizada. 
Uma formação voltada para a positividade. Assim, a transformação do todo 
acontece pela educação, que tem, como fi nalidade, “o desenvolvimento natural, 
progressivo e harmonioso de todas as faculdades e aptidões do ser humano” 
(HAYDT, 2006, p. 17). 
19
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
FIGURA 4 – JOHANN HEINRICH PESTALOZZI
FONTE: <http://grandesnomesnahistoriadaeducacao.blogspot.
com/p/jo.html>. Acesso em: 24 abr. 2021.
Considerando, então, que toda criança deveria ter acesso à educação, 
Pestalozzi semeou sementes da Pedagogia e da Didática, pois, de forma direta, 
defendia que a educação deve respeitar o desenvolvimento infantil. Para isso, 
são necessários os desenvolvimentos físico, intelectual e moral, e isso só ocorre 
pela vivência e pela experiência, as quais devem ser apresentadas de forma 
gradual, e de acordo com o desenvolvimento de cada um, para o pleno exercício 
das capacidades. Nessa concepção, respeitar a individualidade do aluno é 
fundamental, e o objetivo deve estar centrado no desenvolvimento de habilidades 
e de técnicas para a ação social.
Mais dois nomes precisam ser citados para o entendimento do 
desenvolvimento histórico da Didática e das infl uências sofridas pelo campo: 
John Frederick Herbart (1776-1841) e John Dewey (1859-1952). O primeiro 
deles, infl uenciado diretamente por Pestalozzi, formulou princípios educacionais 
“fundamentados na ideia da unidade do desenvolvimento e da vida mental” 
(HAYDT, 2006, p. 20). Ou seja, o ser humano é uma unidade e o desenvolvimento 
acontece
[...] em torno da noção de função assimiladora, que ele 
denominou de apercepção. A apercepção é a assimilação de 
novas ideias através da experiência e da relação com as ideias 
ou conceitos já, anteriormente, formados (HAYDT, 2006, p. 20).
20
 Didática do Ensino de Línguas
FIGURA 5 – JOHN FREDERICK HERBART
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/1775/herbart-o-organizador-
da-pedagogia-como-ciencia>. Acesso em: 24 abr. 2021.
Assim, duas fontes contribuem para desenvolver e integrar as representações 
mentais: o contato com a natureza, por meio da experiência; e o contato com a 
sociedade, por meio do contato social. Herbert, então, formula,
[...] de modo claro e explícito, uma teoria do interesse. Ele 
afi rmava que o interesse não era apenas um meio para garantir 
a atenção do aluno durante a aula, mas uma forma de assegurar 
que as novas ideias ou representações fossem assimiladas e 
integradas, organicamente, àquelas já existentes, formando 
uma nova base de conduta (HAYDT, 2006, p. 21). 
Por último, surgia Dewey, que apresentou as concepções do homem e da 
vida dele e fundamentou a Pedagogia. Para ele, a ação precede o conhecimento e 
o pensamento e é inerente ao ser humano. Nessa concepção, a teoria é entendida 
como resultado da prática. Isso signifi ca que o ensino e a mobilização do 
conhecimento estão, necessariamente, relacionados com a ação, com a prática e 
com a experiência. Da mesma forma, o ser humano é um ser social, e são as suas 
necessidades sociais que norteiam a sua ação, portanto, o trabalho cooperativo 
é necessário para a vida em coletividade e para a satisfação das necessidades 
sociais, logo, para o desenvolvimento humano. Para Dewey, é fundamental 
associar as vidas humana, social e cooperação. Todos esses elementos devem 
ser observados, e, logicamente, pela educação escolar. Conforme destaca Haydt 
(2006, p. 22), Dewey salientou “a importância social do trabalho e valorizou o 
trabalho manual. Afi rmou que a escola deve se tornar uma verdadeira comunidade 
de trabalho, em vez de um lugar isolado, onde se aprendem lições sem ligação 
com a vida”.
21
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
FIGURA 6 – JOHN DEWEY
FONTE: <https://www.udesc.br/ceart/noticia/udesc_ceart_oferece_grupo_
de_estudos_e_leituras_sobre_john_dewey>. Acesso em: 24 abr. 2021.
Contudo, você pode estar se perguntando: qual a relação/infl uência desses 
escritos, desses autores/fi lósofos e dessas refl exões para a Didática?
Os pressupostos indicam algo fundamental para a construção da Didática, 
pois evidenciam que educar é algo muito mais amplo do que ensinar. Ensino é a 
orientação para a aprendizagem, e a educação se refere ao processo da formação 
humana. Portanto, a Didática se consolida como uma das áreas específi cas da 
Pedagogia, e faz a construção do pensamento em relação à teoria e à prática 
da instrução e do ensino, considerando a efetividade de práticas educativas 
centradas nas vivências, nas experiências e na relação com os diferentes 
contextos, valorizando a aprendizagem individual dos sujeitos.
As refl exões vão evoluindo e se tornando mais complexas até o entendimento 
de que o objetivo da educação por competências está no pleno desenvolvimento 
das pessoas. Isso apenas é possível com a aproximação entre teoria e prática e, 
mais ainda, com o esclarecimento de ações pedagógicas que valorizem a prática 
contextualizada. À Didática, portanto, cabe o desafi o de refl etir a respeito dos 
princípios gerais e específi cos, de acordo com cada disciplina e as possibilidades. 
A Didática é ação de ensinar a partir da relação entre as pessoas, e, destas, com 
espaços sociais e públicos. De acordo com Libâneo (1990, p. 26):
A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. 
Investiga os fundamentos, condições e modos de realização 
da instrução e do ensino. Segundo essa ideia, a ela, cabe 
converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos 
de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses 
22
 Didática do Ensino de Línguas
 1 - Nesta seção de leitura proposta para você, a educação em 
um contexto de mais ação (e menos passivo) foi algo tratado com 
mais evidência, ou seja, as mudanças nos princípios do processo 
de formação do ser humano passaram do inatismo (passividade 
do sujeito nos processos de ensino e de aprendizagem) para 
algo pautado na ação, no social, na interação etc. Dessa forma, 
elabore um pequeno parágrafo para explicar de que forma 
propostas de trabalho para a sala de aula podem (e devem) ser 
planejadas para que a dinâmica considere o protagonismo do 
aluno no processo formativo. 
objetivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a 
aprendizagem.
Dessa forma, entendemos que a Didática, desde a origem até o momento 
atual, busca estudar e entender o próprio objeto de estudo, que transforma 
objetos de saber em objetos de ensino. Assim, desde o início do século XX, ela 
é uma disciplina obrigatória nos currículos dos cursos de Licenciatura no Brasil.
A partir desse entendimento, passaremos, na próxima seção, a refl etir a 
respeito dos materiais didáticos. Estes são parte importante da transformação de 
objetos de saber em objetos de ensino, pois são instrumentos de ação e fazem a 
intermediação entre a informação e os sujeitos.
Ação para formação pressupõe atividades que estejam relacionadas com o 
mundo do trabalho, com debates políticos atuais, com entendimentos econômico 
e social multifacetados, assim, mobiliza-se o conhecimento do aluno para a 
cidadania e para a ação social. É o formar da vida para a escola e da escola para 
a vida.
23
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕESTEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
4 TEORIA E PRÁTICA DE LIVROS 
E MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O 
ENSINO DE LÍNGUA
O que você imagina quando pensa em material didático? Quais são as 
imagens mentais que você formula? Livros, folhas de atividades, mapas, vídeos, 
podcast, jogos, objetos interativos de aprendizagem, fi lmes, documentários, 
realidade virtual etc.? Se você pensou nessas opções e em tantas outras, você 
está certo. O material didático, nas suas diferentes formas de apresentação, 
de acordo com o meio de divulgação, pode ser conceituado como um “produto 
pedagógico utilizado na educação” (BANDEIRA, 2009, p. 14). Portanto, todo e 
qualquer material que tenha fi nalidade didática (mobilizar conhecimento para o 
ensino) deve ser considerado material didático. O que pode variar é o suporte ou 
o uso da mídia.
Os materiais didáticos podem ser classifi cados em impressos, audiovisuais e 
tecnológicos (considerando o uso de novas tecnologias).
FIGURA 7 – MATERIAL DIDÁTICO E SUPORTE
FONTE: Bandeira (2009, p. 15)
O material impresso, desempenhando papel de material didático, pode 
ser livro, mapa, cartilha, fi gura etc. Amplamente aceito por todos (professores e 
alunos), é a forma clássica de material didático. É de fácil manuseio e “pode ser 
utilizado em todas as etapas e modalidades da educação. O aluno e o professor 
podem consultá-lo fora da sala de aula, pois o material impresso não requer 
equipamento ou recurso tecnológico para a utilização” (BANDEIRA, 2009, p. 17).
24
 Didática do Ensino de Línguas
FIGURA 8 – LIVRO DIDÁTICO IMPRESSO
FONTE: <https://www.angra.rj.gov.br/noticia.asp?vid_
noticia=53802&indexsigla=imp>. Acesso em: 11 abr. 2021.
FIGURA 9 – MAPA IMPRESSO
FONTE: <https://segredosdomundo.r7.com/mapa-do-mundo-63-versoes-
que-voce-nao-aprende-na-escola/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Atualmente, muitos materiais, até então, apenas impressos, podem ser 
encontrados em formato digital, como e-books, mapas interativos, cartilhas 
em PDF etc. Evidentemente que o uso desses materiais exige computadores, 
projetores e internet, o que não é uma possibilidade para todas as escolas 
brasileiras. O contexto deve ser investigado para que os recursos didáticos 
possam ser utilizados de forma adequada, lembre-se disso!
Mesmo um material impresso precisa do estudo do contexto, pois o sucesso 
do uso de determinado material, em um determinado contexto, não garante amplo 
uso; em outros espaços, o material pode não ser adequado. Pense nisso!
25
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
O material didático possibilita a construção de uma infi nidade de 
projetos de aula. Com os recursos digitais, instrumentos tradicionais 
(como um mapa impresso) podem ser abordados, didaticamente, 
de formas diversas. Observe que interessante a dica a seguir para 
utilizar com os seus alunos:
Mapa do mundo, 63 versões que você não aprende na escola
O mapa do mundo tem várias versões, que vão muito além 
daquela que você conheceu e estudou na escola. Conheça algumas 
das várias.
1. Mapa animado do clima da Terra.
2. Mapa da vegetação mundial.
3. Mapa Mundi da Pangeia, levando em consideração a divisão política atual.
Você sabe o que é a Pangeia? A Pangeia, segundo alguns 
especialistas, teria sido um único continente que teria existido 
há milhares de anos, antes de se fragmentar e criar vários outros 
continentes. Esse é um mapa do mundo, levado em consideração a 
divisão política atual na Pangeia.
5. Mapa com as bandeiras de cada país.
6. Mapa colorido, de acordo com os países mais visitados do mundo.
8. Mapa das linhas aéreas mundiais.
Etc.
Para saber mais, acesse https://segredosdomundo.r7.com/
mapa-do-mundo-63-versoes-que-voce-nao-aprende-na-escola/.
Consideraremos, agora, os materiais digitais. Estes dependem de 
programação/edição com o uso de ferramentas específi cas (desde as mais 
simples até as mais complexas), disponibilizados por meio de programas 
específi cos. Dominar a linguagem de programação (mesmo que apenas as mais 
simples), as ferramentas de edição etc. é importante para a elaboração desse tipo 
de material, caso você tenha interesse na elaboração de materiais tecnológicos 
mais complexos.
26
 Didática do Ensino de Línguas
Pense, por exemplo, na elaboração de uma apresentação com o uso do 
Canva, ou, até mesmo, do PowerPoint. São editores de materiais que exigem, 
do autor, domínio de edição. No Canva, por exemplo, é possível criar pequenos 
vídeos educativos com integração de imagem e som, certo?! Resumindo, dos 
mais simples aos mais complexos, os materiais digitais utilizam a tecnologia 
como suporte para a interação. Temos, como exemplos de materiais didáticos 
vinculados por meio digital, simuladores, jogos, vídeos, animações, e-books 
interativos, textos com hiperlinks, ambientes virtuais de aprendizagem etc. 
Conhecer as possibilidades dessas ferramentas é importante para a construção 
de materiais didáticos variados. Pense nisso!
FIGURA 10 – INGLÊS NA REDE
FONTE: <https://idiomas.gcfglobal.org/pt/curso/ingles/a1/
cumprimentos-em-ingles/>. Acesso em: 11 abr. 2021.
De acordo com os Referenciais para Educação (BRASIL, 2007, p. 11):
Os ambientes virtuais de aprendizagem são programas 
que permitem o armazenamento, a administração e a 
disponibilização de conteúdos no formato Web. Destacam-se: 
aulas virtuais, objetos de aprendizagem, simuladores, fóruns, 
salas de bate-papo, conexões a materiais externos, atividades 
interativas, tarefas virtuais (webquest), modeladores, 
animações, e textos colaborativos (wiki).
Dessa forma, saiba que todo material didático de suporte digital deve 
ser elaborado a partir da exploração das potencialidades oferecidas pela 
tecnologia digital. Para essa ação, equipes colaborativas e multidisciplinares 
são fundamentais. Profi ssionais com conhecimento de programação, design, UX 
(experiência do usuário) etc., quando trabalham em conjunto, podem construir 
27
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
diferentes materiais didáticos para usos específi cos de ampla divulgação. Além 
da construção do material, são fundamentais a manutenção e a verifi cação da 
utilização efetiva do material proposto. Por exemplo, cursos elaborados para 
salas de aula virtual precisam ser construídos e testados para que possam operar 
de forma efetiva. A adaptação contínua é importante para potencializar os usos 
dos materiais didáticos.
Outra questão importante acerca dos materiais didáticos está na classifi cação 
em estruturados e granulares. Você já ouviu/leu a respeito dessa diferença?
Os materiais defi nidos como estruturados são aqueles que, no processo 
de produção, consideram a sustentação e a organização de uma proposta, 
previamente elaborada, de ensino e de aprendizagem. Nessa construção, o 
material é sistemático para atender à proposta de ensino e de aprendizagem. Há 
uma organização dos conteúdos para que o processo seja efetivo. Coleções, por 
exemplo, representam materiais estruturados. Têm-se conteúdos curriculares, 
atividades pedagógicas e suporte ao professor, tudo isso de forma estruturada. 
Esses materiais acompanham e conferem suporte ao educador. De acordo com 
Louzano et al. (2014), o material didático estruturado:
• Garante os conteúdos mínimos para todos os alunos.
• Garante maior cobertura do conteúdo.
• Estimula o professor a ampliar o tempo de planejamento.
• Aumenta a economia de tempo de trabalho do professor.
• Diminui o uso da lousa pelo professor.
Os materiais granulares, por sua vez, dão conta de algum aspecto dos 
processos de ensino e de aprendizagem. Representam, conforme o nome 
enuncia, pequenas estruturas que, ao serem combinadas, podem formar uma 
estrutura mais ampla de material didático, formando, por exemplo, objetos de 
aprendizagem, módulos e cursos.Os materiais didáticos podem ser tipifi cados em próprios e adaptados. 
Nessa classifi cação, consideram-se a autoria e o propósito da composição do 
material. Materiais próprios podem ser elaborados, por educadores, de forma 
individual ou em conjunto. Por exemplo, as equipes de Língua Portuguesa, de 
Literatura e de Língua Estrangeira se reúnem e organizam a produção de um 
e-book para ser utilizado de forma conjunta (multidisciplinar), pelos professores 
das três disciplinas. Cada um dos educadores contribui com textos, atividades e 
conteúdos autorais, de forma que a aprendizagem seja integrada. Esse material, 
com fi m didático, é reunido, e confi gura um e-book que pode ser utilizado com 
recursos digitais e de apoio aos processos de ensino e de aprendizagem em um 
contexto específi co, podendo, após a primeira experiência de aplicabilidade, ser 
28
 Didática do Ensino de Línguas
reutilizado, conforme a usabilidade. Quanto mais for defi nida a contextualização 
utilizada, menores são as chances de reuso do material.
Materiais próprios também podem ser encomendados por instituições 
de ensino ou por órgãos governamentais, além de ser ofertados por editoras 
específi cas. O processo de elaboração é direcionado e atende a pré-requisitos 
específi cos: temática, público-alvo, conteúdo específi co, atividades específi cas 
etc. Os objetivos são delineados previamente, e a produção autoral é direcionada 
para os usos restrito e específi co.
Os materiais adaptados são aqueles produzidos por um autor (ou um grupo 
de autores), o qual permite a adaptação do material por terceiros. Por exemplo, 
Jonas é professor de espanhol e atua em três escolas. Ele produz, em conjunto 
com outros professores de uma das escolas na qual atua, uma cartilha para o 
ensino de inglês, voltada para o quarto ciclo do Ensino Fundamental, e precisa 
utilizar esse mesmo material em outra escola, mas dois dos textos já estão 
defasados e ele pretende buscar outros, adaptando o material. Desta forma, esse 
material é classifi cado como adaptado. 
 1 - Imagine, após a indicação da leitura de diferentes mapas, 
um planejamento para as suas aulas de ensino de línguas. O 
que você poderia propor, utilizando um dos tipos de mapas 
disponíveis?
O uso de cada tipo de material é de escolha dos professores, e de acordo 
com o planejamento pedagógico da equipe. O importante é combinar diferentes 
materiais para um trabalho produtivo na sala de aula e para além dela.
Agora, refl etiremos, mais diretamente, a respeito dos materiais didáticos para 
o ensino de línguas, os quais devem estar alinhados com Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCNs), Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio (PCNEM) 
e Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
29
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
 Para a sua formação, é importante que você conheça os PCNs 
e a BNCC. Para este momento, indicamos algumas leituras 
específi cas:
 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros 
Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino 
Fundamental: língua estrangeira. Secretaria de Educação 
Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
 PCN Ensino Médio 
 Parte II – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
 BNCC: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofi nal_site.pdf.
De acordo com os documentos citados, os materiais didáticos de língua 
portuguesa e de língua estrangeira devem estar orientados para o multiletramento 
e as participações crítica, refl exiva e criativa na sociedade.
Essa consideração dos novos e multiletramentos, e das práticas da cultura 
digital no currículo, não contribui somente para que uma participação mais efetiva 
e crítica, nas práticas contemporâneas de linguagem, por parte dos estudantes, 
possa ter lugar, mas permite, também, que se possa ter em mente mais do que 
um “usuário da língua/das linguagens”, na direção do que alguns autores vão 
denominar de designer: alguém que toma algo que já existe (inclusive, textos 
escritos), mescla, remixa, transforma, redistribui, produzindo novos sentidos, 
processo que alguns autores associam à criatividade. Parte do sentido de 
criatividade em circulação, nos dias atuais (“economias criativas”, “cidades 
criativas” etc.), tem algum tipo de relação com esses fenômenos de reciclagem, 
mistura, apropriação e redistribuição.
No processo de construção de materiais didáticos, essa orientação deve ser 
sempre observada. Por exemplo, na disciplina de Língua Portuguesa, o professor 
deve valorizar todas as vozes possíveis, o que é possível com a seleção de textos 
canônicos e textos ditos “periféricos” (fora do cânone). Autores não recorrentes, 
em manuais de Literatura, por exemplo, podem conquistar espaço na sala de 
aula, a partir da atuação do professor na construção dos planos de aula.
30
 Didática do Ensino de Línguas
Na elaboração de materiais autorais ou adaptados, o educador pode 
contemplar a cultura digital, as diferentes linguagens e os diferentes letramentos 
(desde os mais lineares, com baixo nível de hipertextualidade, até aqueles que 
incluem hipermídia). Como premissa da BNCC, tem-se a diversidade cultural, 
e ela se faz presente nas hibridizações, apropriações e mesclas. É importante 
contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura 
das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma 
ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente.
Existem eixos norteadores de língua portuguesa, os quais correspondem 
a práticas de linguagem e que devem ser considerados nos momentos de 
elaboração de materiais didáticos, como oralidade, leitura/escuta, produção 
(escrita multissemiótica), e análise linguística/semiótica. Esse último eixo 
considera conhecimentos linguísticos em relação ao sistema de escrita, ao 
sistema de língua e à norma padrão, ao texto, ao discurso e aos modos de 
organização.
O professor deve apresentar, nos projetos de aula (seleção de materiais), 
diferentes gêneros textuais, de acordo com cada etapa de ensino. Para o ensino 
de línguas, é preciso considerar a gramática das línguas sempre de forma 
contextualizada (práticas linguísticas). Nessa abordagem, necessita, o professor, 
escutar e conferir espaço para diferentes vozes, as quais apresentam escritas e 
opiniões múltiplas.
As redes sociais, por exemplo, podem ser utilizadas em sala de aula, e as 
múltiplas formas de expressão conseguem ser pauta de debate. O Instagram, 
por exemplo, é uma rede que usa a imagem como forma de expressão; o 
Twitter, por sua vez, faz uso da escrita para manifestação de pensamentos e 
compartilhamento de ideias e de opiniões. Todas as possibilidades podem ser 
estudadas em sala de aula, pois são práticas de linguagem atuais, observadas 
com criticidade.
Para o ensino de língua estrangeira, os preceitos são os mesmos listados 
para a Língua Portuguesa, considerando que, na segunda língua, a dimensão 
intercultural também é citada como eixo norteador. Observe:
A aprendizagem de língua estrangeira contribui para o 
processo educacional como um todo, indo muito além da 
aquisição de um conjunto de habilidades linguísticas. Leva a 
uma nova percepção da natureza da linguagem, aumenta a 
compreensão de como a linguagem funciona e desenvolve 
maior consciência do funcionamento da própria língua materna. 
Ao mesmo tempo, ao promover uma apreciação dos costumes 
e dos valores de outras culturas, contribui para desenvolver a 
percepção da própria cultura por meio da compreensão da (s) 
31
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
cultura (s) estrangeira (s). O desenvolvimento da habilidade de 
entender/dizer o que outras pessoas, em outros países, diriam 
em determinadas situações, leva, portanto, à compreensão das 
culturas estrangeiras e da cultura materna.Essa compreensão 
intercultural promove, ainda, a aceitação das diferenças nas 
maneiras de expressão e de comportamento (BRASIL, 1998, 
p. 37).
Dessa forma, há explícita relação entre língua materna e língua estrangeira 
no processo de aprendizagem, uma vez que “o processo sociointeracional, de 
construir conhecimento linguístico e aprender a usá-lo, já foi percorrido pelo aluno 
no desafi o de aprender a sua língua materna” (BRASIL, 1998, p. 28). Agora, com 
a inserção da aprendizagem da língua estrangeira, o aluno é desafi ado a:
• Aumentar o conhecimento a respeito da linguagem que constrói sobre a 
língua materna, por meio de comparações com a língua estrangeira em 
vários níveis.
• Possibilitar o envolvimento nos processos de construir signifi cados nessa 
língua, como um ser discursivo no uso de uma língua estrangeira.
Com a leitura feita até esta etapa, você percebe que o processo de ensino, 
considerando a prática, e pautado nas diretrizes vigentes, busca, com a inserção 
da aprendizagem de uma língua estrangeira (língua inglesa, por exemplo), a 
criação de novas formas de engajamento e de participação dos alunos em um 
mundo social cada vez mais globalizado e plural, no qual as fronteiras entre países 
e interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais estão cada vez 
mais difusas e contraditórias. Assim, o estudo da língua inglesa pode possibilitar, 
a todos, o acesso aos saberes linguísticos necessários para o engajamento e a 
participação, contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o 
exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de interação e 
de mobilidade, abrindo novos percursos de construção de conhecimentos e de 
continuidade dos estudos. É esse caráter formativo que inscreve a aprendizagem 
de inglês em uma perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na 
qual as dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas.
Assim, pensando na elaboração de materiais didáticos para o ensino de 
línguas, a preparação deve ser efi ciente para o propósito de ensino-aprendizagem, 
de forma que compreenda a língua como uma habilidade sociointeracional 
e discursiva, mas, também, como fato histórico e, sobretudo, um espaço de 
produção de sentidos.
Para a seleção e a elaboração de materiais didáticos, é imprescindível 
selecionar, além de elaborar espaços de interação entre pessoas e entre pessoas 
e sociedade, considerando as diversas práticas sociais, as quais são inerentes a 
32
 Didática do Ensino de Línguas
Gêneros do discurso
Roxane Rojo
Instituição: Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP/
Instituto de Estudos da Linguagem-IEL
Vivendo a vida com os textos, isto é, atuando e nos comunicando 
nos diferentes campos/esferas de atividade, pelos quais circulamos 
no nosso cotidiano – em casa, no trabalho, estudando, informando-
nos por meio do jornalismo, consumindo, apreciando e fruindo obras 
de arte, divertindo-nos –, enunciamos e materializamos nossos textos 
orais, escritos e multimodais. Os gêneros de discurso nos servem 
nesses momentos, pois são as formas de dizer mais ou menos 
estáveis da nossa sociedade. Todos os cidadãos sabem o que são 
e reconhecem notícias, anúncios, bulas de remédio, cheques, 
livros didáticos, bilhetes etc.
Esses gêneros discursivos são nossos conhecidos e são 
reconhecidos pela forma de composição dos textos a eles 
pertencentes e pelos temas e funções que viabilizam o estilo de 
linguagem. Os textos pertencentes a um gênero possibilitam os 
discursos de um campo ou de uma esfera social. Por exemplo, as 
notícias, os editoriais e os comentários fazem circular os discursos e 
as posições das mídias jornalísticas. Esses três elementos – forma 
composicional, tema e estilo – não são dissociáveis uns dos outros: 
os temas de um texto ou de um enunciado se realizam somente a 
partir de um certo estilo e de uma forma de composição específi ca.
O tema é mais do que, meramente, o conteúdo, o assunto ou 
o tópico principal de um texto (ou conteúdo temático). O tema é o 
conteúdo enfocado com base em uma apreciação de valor, na 
avaliação, no acento valorativo que o locutor (falante ou autor) dá. 
É o elemento mais importante do texto ou do enunciado: um texto 
é todo construído (composto e estilizado) para fazer ecoar um tema 
qualquer esfera da atividade humana, e que, nas quais, naturalmente, as pessoas 
são envolvidas, direta ou indiretamente. Essas interações acontecem por meio de 
enunciados, os quais se materializam pela língua (escrita ou falada). O professor 
deve, portanto, considerar que cada situação comunicativa apresenta sequências 
de enunciados estáveis: os gêneros discursivos. 
33
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
irrepetível em outras circunstâncias. O tema é o sentido de um 
dado texto/discurso tomado como um todo, “único e irrepetível”, 
justamente, porque se encontra viabilizado pela apreciação de valor 
do locutor no momento da produção. É pelo tema que a ideologia 
circula.
A forma de composição e o estilo do texto vêm a serviço 
de fazer ecoar o tema daquele texto. O estilo são as escolhas 
linguísticas que fazemos para dizer o que queremos dizer (“vontade 
enunciativa”), para gerar o sentido desejado. Essas escolhas 
podem ser de léxico (vocabulário), estrutura frasal (sintaxe), registro 
linguístico (formal/informal, gírias) etc. Todos os aspectos da 
gramática estão envolvidos. O que é a forma de composição? Ela é, 
pois, a organização e o acabamento do todo do enunciado, do texto 
como um todo. Está relacionada ao que a teoria textual chama de 
“estrutura” do texto, à progressão temática, à coerência e à coesão 
do texto.
Seria muito interessante, para o desenvolvimento dos 
letramentos, que a escola tratasse dos textos orais, escritos e 
multimodais, para a compreensão e a produção, como exemplares 
de gêneros discursivos, dando prioridade máxima aos temas que 
fazem ecoar por meio dos processos estilísticos e da composição 
[...].
FONTE: <http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/
verbetes/generos-do-discurso>. Acesso em: 11 abr. 2021.
Sendo papel, da educação, o de preparar os sujeitos para a atuação social, 
torna-se fundamental que, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Língua 
Estrangeira, construam-se propostas de trabalho com uma grande variedade 
de gêneros do discurso. Apropriado dos diferentes gêneros, a aluno amplia o 
repertório de enunciados.
O domínio da Língua Estrangeira, portanto, possibilita a ampliação da 
possibilidade de ação no mundo por meio do discurso, além do que a língua 
materna oferece. “Da mesma forma que o ensino da língua materna, o ensino da 
língua estrangeira incorpora a questão de como as pessoas agem na sociedade 
por meio da palavra, construindo o mundo social, a si mesmas e os outros a 
sua volta” (BRASIL, 1998, p. 43). Assim, os temas devem ser transversais, em 
34
 Didática do Ensino de Línguas
práticas discursivas, que consideram outras dinâmicas sociais e culturais. Por 
exemplo, para o ensino de Língua Inglesa, o professor pode desenvolver uma 
refl exão a respeito das variantes da língua falada, de acordo com o contexto. 
A Língua Inglesa é falada em todo o mundo de forma uniforme? Essa temática 
pode ser trabalhada em sala de aula. O mesmo, inclusive, para a língua materna 
(considerando a Língua Portuguesa): é falada de forma uniforme no Brasil? A 
questão da variação linguística possibilita a construção de conhecimento das 
práticas discursivas e pode fazer parte de propostas didáticas. Questionamentos, 
como os citados, podem ser utilizados para a mobilização e a construção do 
conhecimento.
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998), é uma experiência de grande valor 
educacional (o ensino da língua estrangeira), posto que fornece os meios para 
os aprendizes se distanciarem de temas ao examiná-los por meio de discursos 
construídos em outros contextossociais, de modo a poderem pensar neles, 
criticamente, no meio social em que vivem.
Na prática, como conduzir esse trabalho em sala de aula? Dica de 
procedimento pedagógico: a linguagem, como prática social, considera escolhas 
de quem escreve ou fala no processo de construção de signifi cados e na relação 
com outras pessoas, em contextos culturais, históricos e institucionais específi cos, 
logo, para a prática em sala de aula, submeta textos orais ou escritos com sete 
perguntas: quem escreveu/falou, sobre o que, para quem, para que, quando, de 
que forma e onde? (BRASIL, 1998).
As respostas para as perguntas podem conduzir a dinâmicas refl exivas 
acerca de temáticas mais amplas, como o respeito à ética nas relações cotidianas, 
no trabalho e no meio político brasileiro; a preocupação com a saúde; a garantia 
de que todo cidadão brasileiro tenha direito ao trabalho; a consciência dos 
perigos de uma sociedade que privilegia o consumo em detrimento das relações 
entre as pessoas; o respeito aos direitos humanos (aqui, incluídos os culturais e 
os linguísticos); a preservação do meio ambiente etc. Questões que podem ser 
trabalhadas na aproximação entre Brasil e mundo, entre língua materna e língua 
estrangeira.
Em todos os processos didáticos, considere os objetivos delineados nos 
PCNs (BRASIL, 1998):
• Compreender a cidadania como participação social e política, assim 
como exercício de direitos e de deveres políticos, civis e sociais, 
adotando, no dia a dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio 
às injustiças, respeitando o outro e exigindo, para si, o mesmo respeito.
• Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes 
35
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar confl itos e 
de tomar decisões coletivas.
• Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, 
materiais e culturais, como meio para construir, progressivamente, 
a noção de identidades nacional e pessoal, além do sentimento de 
pertinência ao país.
• Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro 
e aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-
se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de 
classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características 
individuais e sociais.
• Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, 
identifi cando elementos e interações, contribuindo, ativamente, para a 
melhoria do meio ambiente.
• Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de 
confi ança nas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de 
inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança 
na busca do conhecimento e no exercício da cidadania.
• Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando hábitos 
saudáveis, como um dos aspectos básicos da qualidade de vida, e 
agindo, com responsabilidade, em relação à própria saúde e à saúde 
coletiva.
• Utilizar as diferentes linguagens, verbal, musical, matemática, gráfi ca, 
plástica e corporal, como meios para produzir, expressar e comunicar 
ideias, interpretar e usufruir das produções culturais em contextos 
públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de 
comunicação.
• Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos 
para adquirir e construir conhecimentos.
• Questionar a realidade, formulando-se problemas e tratando de resolvê-
los, utilizando, para isso, o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a 
capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verifi cando 
a adequação.
Os PCNs apresentam, na segunda parte, um capítulo destinado a orientações 
didáticas. Nesse espaço, são delineados os seguintes elementos:
• Habilidades comunicativas.
• Compreensão.
• Compreensão escrita.
• Orientações didáticas para o ensino de compreensão escrita (Pré-leitura, 
Leitura e Pós-leitura).
• Compreensão oral 
36
 Didática do Ensino de Línguas
• Orientações didáticas para o ensino da compreensão oral. 
• Produção. 
• Produção escrita.
• Produção oral.
• Orientações didáticas para o ensino da produção escrita e da produção 
oral.
• Orientações para uma avaliação formativa.
O objetivo desta parte é apresentar refl exões acerca dos procedimentos 
didáticos voltados para o desenvolvimento de habilidades comunicativas. Caso a 
escola tenha disponibilidade de revistas, jornais, TVs, livros, gravadores de vídeo 
e de áudio, computadores, internet etc., é possível utilizar tais recursos para 
importar o mundo estrangeiro, e o espaço do mundo, fora da sala de aula, para 
o interior. Tarefas podem ser elaboradas de forma a estabelecer vínculos do que 
se faz na sala de aula e do que, efetivamente, acontece no mundo exterior a ela 
(as pessoas estão, no dia a dia, envolvidas na construção social do signifi cado). 
Ainda, há possibilidades, que existem fora da sala de aula, para continuar a 
aprender uma língua estrangeira (BRASIL, 1998).
Para a elaboração e a seleção de materiais didáticos, é importante ter 
consciência do impacto da tecnologia da informática na sociedade, no ensino e 
na aprendizagem, além da valorização da noção de tarefa. 
Para esse primeiro item, destacam, os PCNs (1998, p. 87):
É inegável que aumenta, cada vez mais, a possibilidade de 
acesso às redes de informação do tipo internet, e as exigências 
do mundo do trabalho passam a incluir o domínio do uso 
dessas redes. O conhecimento de língua estrangeira é crucial 
para se poder participar ativamente dessa sociedade em que, 
tudo indica, a informatização passa a ter um papel cada vez 
maior.
O professor pode ter o apoio de softwares específi cos para o ensino da 
língua estrangeira, mas é imprescindível a análise crítica desses materiais para 
a certifi cação, da parte do docente, de que não sejam meras reproduções de um 
tipo de instrução programada popular nas décadas de 60 e 70 (BRASIL, 1998).
A instrução programada se baseava em uma prática instrucional 
individualizada que consistia em uma série de exercícios linguísticos, exigindo 
a resposta certa do aluno, de forma mecânica, como condição para que 
prosseguisse na aprendizagem.
37
DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
Para escapar do formato exposto, o professor, no processo de ensino de 
línguas, pode apresentar experiências de aprendizagem que estejam relacionadas 
com metas ou atividades mais específi cas, que são realizadas por meio do uso da 
linguagem e da ação, com acionamento de diferentes conjuntos de enunciados. 
Essas relações podem aproximar o contexto do mundo real com a dinâmica da 
sala de aula, ou seja, situações simuladas que oferecem experimentação de 
situações reais. Por exemplo: quais são os enunciados mais presentes em uma 
reunião de negócios? E em uma reunião familiar? São os mesmos? Quais são os 
grupos de enunciados que se fazem presentes em cada um desses contextos? 
E na escrita de um artigo científi co? O discurso construído é o mesmo? Como 
essas questões operam no contexto do ensino de línguas?
FIGURA 11 – COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
38
 Didática do Ensino de Línguas
FONTE: Brasil (2000, p. 14-15)
Essas dinâmicas podem se estabelecer em relação à produção e à 
compreensão, considerando diferentes níveis de conhecimento sistêmico e de 
profundidade de compreensão que são acionados. Imagine que uma determinada 
tarefa solicite, como resposta, uma representação gráfi ca, uma tabela, uma 
planilha, um roteiro ou o preenchimento de um formulário. Você percebe que há 
relações de produção e de compreensão distintas e que desafi am o aluno para ir 
além da dinâmica perguntas-respostas. Pense nisso para a construção/seleção 
de materiais didáticos.
Busque, sempre, o engajamentodo aluno nas suas propostas didáticas, 
tendo, como objetivo, a aprendizagem ativa. Tenha objetivos previamente 
delimitados e busque os alcançar com as atividades propostas. Procure manter 
o foco no signifi cado e na relevância da atividade para o aluno. As tarefas, assim, 
integrando as dimensões interacional, linguística e cognitiva da aprendizagem das 
línguas, funcionam como experiências construtoras da aprendizagem.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Nesta parte inicial do livro, buscamos compreender o conceito de Didática 
a partir de informações relacionadas com a defi nição do termo e a construção 
histórica. Nesse processo de consolidação, como disciplina independente, mas 
sendo um ramo da Pedagogia, você passa a entender que o objeto de investigação 
está relacionado com a ação de ensinar, ou seja, de construir um embasamento 
teórico acerca da ação de ensino, na busca por práticas, em sala de aula, que 
valorizem os múltiplos letramentos, e que se tenha uma proximidade de vivências 
de situações reais. Tudo isso norteado pelo princípio de uma formação cidadã.
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DIDÁTICA DO ENSINO DE LÍNGUAS: 
FUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICAFUNDAMENTAÇÕES TEÓRICA E PRÁTICA
 Capítulo 1 
Ao conhecer a trajetória de consolidação histórica do campo, você amplia os 
seus saberes a respeito da teoria e da prática em Didática do Ensino de Línguas, 
e modifi ca a sua ação como docente. Você está habilitado para elaborar, adaptar 
e selecionar materiais didáticos ao reconhecer as possibilidades existentes, os 
usos que podemos fazer dos diferentes materiais e dos recursos empregados. 
Da mesma forma, você pode reforçar a sua leitura de textos normativos (PCNs 
e BNCC), os quais servem como norteadores dos processos educativos. O 
principal objetivo desta leitura foi apresentar algumas orientações didáticas, para 
o processo de ensino de línguas, que valorizem as habilidades comunicativas. 
Acreditamos que expor o leitor aos princípios adjacentes dos documentos 
é necessário para o envolvimento no processo de refl exão a respeito do 
trabalho que se realiza em sala de aula. A intenção é mobilizar o pensamento no 
alinhamento da ação do professor com os parâmetros e os princípios construídos 
para a educação brasileira, os quais não precisam ser aplicados diretamente e de 
forma plena. Podem, na verdade, ser questionados, criticados e adaptados, da 
melhor forma possível, para que a ação educativa seja efetiva em cada contexto. 
Por fi m, em todos os sentidos, entende-se o ensino como prática social 
concreta, complexa e desafi adora. A Didática, então, é a teoria da docência. 
Portanto, é ensinar, aprender, pesquisar, avaliar. Essas dimensões se integram e 
se complementam, e o ensino apenas ocorre na relação com as três dimensões.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, D. Materiais didáticos. Curitiba: IESDE, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Referenciais para elaboração de 
material didático para EaD no ensino profi ssional e tecnológico. Brasília: 
Ministério da Educação e Cultura, 2007.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio – Parte II: 
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 2000.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares 
Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental: língua estrangeira. 
Brasília: MEC/SEF, 1998.
COMENIUS, I. A. Didática magna. São Paulo: Fundação Calouste Gulbenkian, 
2001.
FEREIRA, V. et al. Didática. Porto Alegre: Sagah, 2018.
40
 Didática do Ensino de Línguas
HAYDT, R. C. C. Curso de didática geral. São Paulo: Ática, 2006.
LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.
LOUZANO, P. et al. Sistemas estruturados de ensino e redes municipais do 
Estado de São Paulo. São Paulo: Fundação Lemann, 2014.
CAPÍTULO 2
PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA 
O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Saber os pressupostos pedagógicos, as teorias da linguagem, os PCNs e todas 
as abordagens centradas no ensino de línguas.
• Identifi car as teorias da linguagem e as especifi cidades de cada uma e as 
relações com a construção dos PCNs para uma atuação docente diferenciada.
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 Didática do Ensino de Línguas
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PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA 
O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
 Capítulo 2 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo apresentará, como proposta de refl exão, as teorias da 
linguagem e os Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCNs. A partir da 
perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de 
aprendizagem, relacionados ao saber: conhecer os pressupostos pedagógicos, 
as teorias da linguagem, os PCNs e todas as abordagens centradas no ensino de 
línguas; e identifi car as teorias da linguagem e as especifi cidades de cada uma e 
as relações com a construção dos PCNs para uma atuação docente diferenciada.
Na primeira seção desta leitura, construiremos conhecimentos das três 
teorias da linguagem. Com relação às teorias, iniciaremos pelo inatismo, depois, 
ampliaremos para as informações a respeito do empirismo, e fi nalizaremos com a 
teoria interacionista.
O objetivo desta primeira etapa de refl exão é reconhecer as diferentes 
correntes de pensamento do processo de aquisição da linguagem para o 
entendimento da infl uência das escolhas de abordagem no contexto da escola 
e no contexto de atuação, uma vez que, de acordo com a teoria que embasa 
as práticas docentes, professores, alunos e a produção e a seleção de materiais 
didáticos são infl uenciados no processo de formação.
O próprio processo de seleção, produção e adaptação de materiais didáticos 
sofre um impacto direto dessas decisões de abordagem. Com o passar do 
tempo, as teorias evoluíram e se modifi caram, ampliando o entendimento acerca 
do processo de aquisição do conhecimento, de um processo empirista para um 
inatista, até alcançar a compreensão da interação como fator de relevância.
Os parâmetros curriculares, portanto, refl etem a respeito dessas teorias e 
das infl uências delas para a elaboração de propostas didáticas que mobilizem, 
de forma efetiva, o conhecimento, valorizem as formas de expressão (diversidade 
cultural) e capacitem os sujeitos para uma atuação cidadã.
Boa leitura!
44
 Didática do Ensino de Línguas
2 TEORIAS DA LINGUAGEM: 
INATISMO, EMPIRISMO E 
INTERACIONISMO
A linguagem, como um sistema simbólico tipicamente humano, apresenta 
organização e estruturas profundas. Para a aquisição de diferentes processos 
e procedimentos, são postos em ação. Dessa forma, independentemente da 
língua a ser utilizada, a organização da linguagem em estruturas profundas é 
compartilhada por todas. Esse conjunto constitui os universais linguísticos. 
Nesse contexto, diferentes teorias apresentam análises e abordagens 
singulares para o funcionamento da linguagem. Portanto, conheceremos, nesta 
etapa da leitura, as teorias pedagógicas com um estudo a respeito do inatismo, 
do empirismo e do interacionismo. Visualizaremos as principais características de 
cada uma delas nas próximas linhas.
2.1 TEORIA INATISTA DO 
CONHECIMENTO
Neste primeiro tópico, o desafi o será identifi car as principais características 
da teoria inatista do conhecimento, para ampliar os seus saberes acerca desse 
campo e da teoria específi ca. Vamos lá!
Essa corrente de pensamento (de hipótese de aquisição da linguagem) 
faz parte de um conjunto de tentativas para entender e explicar de que forma 
se adquire uma determinada língua. Diferentes pesquisadores buscam respostas 
para uma pergunta central: como, efetivamente, ocorre o processo de aquisição 
da linguagem? A compreensão do processo possibilita, dentre tantas práticas, 
ampliar o processo de formação dos sujeitos, de acordo com as necessidades 
específi cas de cada um. Conhecer esse processo é importante para todos os 
profi ssionais envolvidos no processo de formação. Com este conhecimento, 
podematuar, didaticamente, de forma mais embasada, a partir da seleção de 
materiais didáticos e de práticas para a sala de aula que estejam de acordo com 
as teorias escolhidas por eles.
Nesse exercício de conhecimento, inúmeras áreas e pesquisas se dedicam 
a desenhar hipóteses acerca do processo de aquisição de conhecimento. 
Mais diretamente, “pesquisas em aquisição de linguagem, campo de estudos 
45
PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA 
O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
 Capítulo 2 
O que é gramática gerativa? 
Lorenzo Vitral (UFMG)
A teoria linguística, chamada de Gramática Gerativa, tem sido 
desenvolvida por Noam Chomsky, e muitos outros pesquisadores, 
desde 1957. Trata-se de uma teoria que se ocupa das línguas e 
da linguagem. Há, entretanto, várias maneiras para se estudar as 
línguas e a linguagem. O que existe, na verdade, são homens que 
falam em uma sociedade que se organiza através da linguagem. 
Chamemos isso de mundo das aparências, das coisas que existem 
concretamente. Para tornar inteligível esse mundo das aparências, o 
espírito humano constrói modelos abstratos, teorias, que levam em 
conta, normalmente, apenas partes desse mundo. Quero dizer que 
cada modelo abstrato, cada teoria escolhe um aspecto da linguagem 
para estudar e que não existe um modelo bem-sucedido que 
contemple todo o fenômeno da linguagem. Essa observação é válida 
em outras áreas do conhecimento, como na física, por exemplo. 
O que se faz, então, é privilegiar um aspecto da linguagem, o dos 
sons, por exemplo, o signifi cado desses sons, as modifi cações da 
língua, geográfi ca ou historicamente. Pode-se, também, estudar a 
conversação, o texto etc.
Ao tomar um desses aspectos da linguagem como tema de 
pesquisa, já se faz um primeiro trabalho de abstração. Ora, a 
linguagem tem lugar de maneira global, inteira, e é no interior do 
multidisciplinar, que congrega, além da linguística, domínios, como a psicologia 
cognitiva e a psicolinguística” (CARNEIRO, 2010, p. 57), dedicam-se a esses 
estudos: ao entendimento crítico do processo de aquisição do conhecimento.
Com o passar do tempo e o aprofundamento das pesquisas, diferentes 
correntes teóricas criaram hipóteses que englobam o campo de forma distinta. 
Cada uma delas apresentou pressupostos teóricos e fi losófi cos diferenciados. 
Algumas, por exemplo, indicam que o aprendiz desempenha um papel passivo 
no processo de aquisição da linguagem, outras citam o oposto: a interação social 
entre sujeitos (ativos) é fundamental para a aquisição da linguagem. Iniciaremos 
os nossos estudos a respeito das teorias de aquisição da linguagem.
Dentre essas teorias investigativas, surge a corrente inatista, oriunda da 
linha gerativa de abordagem da gramática.
46
 Didática do Ensino de Línguas
fragmento da linguagem escolhido que o pesquisador elabora o 
objeto de estudo.
A Gramática Gerativa se ocupa, privilegiadamente, com a 
sintaxe das línguas, mas não é, a sintaxe das línguas, o objeto de 
estudo. A sintaxe das línguas é apenas um meio para se descrever 
uma entidade teórica chamada de Gramática Universal. Esse é o 
objeto de estudo da Gramática Gerativa.
A Gramática Universal pode ser defi nida, inicialmente, como os 
aspectos sintáticos que são comuns a todas as línguas do mundo.
Supõe-se, então, que, apesar da variação que existe entre as 
línguas, isto é, apesar das línguas serem diferentes (por exemplo, 
o fato de o objeto direto 70 aparecer antes do verbo em japonês, e 
depois do verbo em português), existiria uma gramática subjacente 
a todas elas. Essa gramática seria composta de 1) mecanismos que 
permitiriam colocar em relação termos da língua, formando níveis de 
representação associados com a interpretação do signifi cado dos 
sons; e 2) um conjunto de princípios que restringiria as possibilidades 
de combinação desses. Essa gramática conteria, também, certos 
parâmetros, que determinariam as dimensões de variação das 
gramáticas das línguas. Essa gramática só permitiria, também, a 
ocorrência de frases bem-formadas de uma língua.
A dicotomia frase bem-formada/mal-formada não se confunde 
com a oposição frase correta/incorreta da gramática tradicional: a 
frase incorreta pode ser uma frase bem-formada. Embora a gramática 
só permita a ocorrência de frases bem-formadas, o linguista lida, 
também, com frases mal-formadas. O linguista trabalha, na verdade, 
no limite, entre as frases bem-formadas e as mal-formadas. É, nesse 
limite, para usar uma metáfora, entre o mundo da gramaticalidade e 
o mundo da agramaticalidade, que se pode identifi car os princípios 
da Gramática Universal. Nesse sentido, vale a brincadeira, segundo 
a qual o gerativista não gosta da língua. A análise da língua, que é 
extensa, é só um pretexto para se estabelecer a Gramática Universal.
As ideias redefi niram a natureza da linguagem e da teoria 
linguística. Diferentemente do estruturalismo, que edifi ca a teoria 
a partir de uma pergunta acerca da gênese da signifi cação, a 
gramática gerativa propõe que o que é essencial à linguagem é a 
recursividade, isto é, o fato de, com elementos fi nitos, ser possível 
gerar frases infi nitamente. Frases em número infi nito, mas não todo 
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PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS PARA 
O ENSINO DE LÍNGUA MATERNAO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA
 Capítulo 2 
Avram Noam Chomsky
Quando o naturalista inglês Charles Darwin observou os seres 
vivos, e, entre eles, percebeu nexos e continuidades, combinando 
as ideias de evolução e de seleção natural, o mundo nunca mais 
foi o mesmo, porque a nossa compreensão acerca da vida mudou. 
Do linguista e pensador americano Avram Noam Chomsky, pode-se 
dizer o mesmo. Autor de mais de 70 livros traduzidos para mais de 
dez línguas, ele revolucionou a área científi ca, a exemplo de Darwin. 
tipo de frase. A questão que se coloca é saber o que faz com que 
uma frase seja uma frase de uma língua. Conclui-se, assim, que 
existem princípios que fi ltram as frases mal-formadas [...].
Para continuar a leitura, acesse http://www.periodicos.
letras.ufmg.br/ index.php/anais_l ingua_portuguesa/art icle/
viewFile/8045/6961
Para a teoria inatista, conforme destaca Langacker (1977 apud CARNEIRO, 
2010), o ser humano é dotado de uma predisposição inata específi ca para a 
aquisição da linguagem. Assim, a teoria inatista delimita (CARNEIRO, 2010, p. 
57):
[...] um módulo cognitivo autônomo para a linguagem, 
independentemente de fatores externos de ordem social, 
cultural, ou, mesmo, histórica. Recorrendo a noções, como 
à da gramática universal, tal perspectiva defende que os 
aspectos biológicos exercem papel determinante no processo 
de aquisição. 
De acordo com a autora, essa teoria, então, tem origens em meados da 
década de 50, com os estudos de Noam Chomsky, em publicações, como As 
Estruturas da Sintaxe (1957), Aspectos da Teoria Sintática (1965) e Linguística 
Cartesiana (1966). Elaborou a respeito da gramática gerativa em contraponto à 
visão empirista.
48
 Didática do Ensino de Línguas
O racionalismo foi uma corrente fi losófi ca muito importante 
da Modernidade. Como concepção de conhecimento fi losófi co, o 
racionalismo começou a tomar corpo durante o Renascentismo, mas 
as primeiras origens podem remontar à fi losofi a grega, com as teses 
idealistas platônicas e a concepção do princípio da causalidade.
O racionalismo tem, como principal objetivo, teorizar o 
modo de conhecer dos seres humanos, não aceitando qualquer 
elemento empírico como fonte do conhecimento verdadeiro. Para 
os racionalistas, todas as ideias que temos têm origem na pura 
racionalidade, o que impõe, também, uma concepção inatista, isto 
é, de que as ideias têm origens inatas no ser humano, nascendo 
Chomsky mudou o objeto de estudo da linguística. Como 
tinha acontecido um século antes, no domínio da natureza bruta, 
na ciência da linguagem, pouca gente tinha ousado alguma teoria 
unifi cadora, e ele o fez.
Acesse para conhecer um pouco mais

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