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- ÍNDICE - ABORDAGEM DE FERIDAS 1º PASSO: CLASSIFI CAÇÃO DAS FERIDAS 2º PASSO: TRATA MENTO DAS FERIDAS ABORDAGEM DE FERIDAS Seguindo a tendência dos concursos de residência, cada vez mais direcionados para as condições do dia a dia do posto de saúde, um cenário bastante provável na sua prova prática é o de abordagem de feridas. O que fazer nessa situação? Que aspectos devem ser valorizados? Fechar ou não a lesão? Fazer ou não antibiótico? Vamos organizar, a seguir, os pontos fundamentais desta abordagem, sistematizando uma conduta que será fundamental para a sua estação prática! 1º PASSO: CLASSIFI CAÇÃO DAS FERIDAS Pensando em trauma, como sempre reforçamos, você deve verificar se o paciente se encontra com as vias aéreas abertas, ventilando espontaneamente, com parâmetros hemodinâmicos estáveis, e com todas as potenciais emergências médicas contornadas. Em resumo, sempre seguir à risca o ABCDE. A partir daí, com mais tranquilidade, podemos nos direcionar exclusivamente para a abordagem da ferida que foi apresentada. Ao pé da letra, o termo "ferida" é bem amplo e se refere apenas à ruptura de integridade da pele. Por esse motivo, o primeiro passo deve ser a sua classificação. A classificação inicial se baseia em definir a cronologia da ferida: aguda ou crônica. As feridas crônicas, como as úlceras de pressão, úlceras venosas, pé diabético etc., não seguem as etapas habituais da cicatrização e costumam levar à perda da integridade anatômica e funcional. Por isso mesmo, exigem uma abordagem muito mais refinada e preferencialmente por uma equipe voltada para este objetivo. Trataremos aqui das feridas agudas, que são o alvo de qualquer profissional que preste o primeiro atendimento no pronto-socorro. Em seguida, podemos classificá-la de acordo com a origem: cirúrgica, ulcerativa ou traumática. Cirúrgica: provocada intencional mente, seguindo alguns critérios funcionais e estéticos. ● Incisão: quando não há perda de tecido (ou perda mínima de tecido) e as bordas são geralmente fechadas por sutura. O exemplo é a incisão inicial de uma laparotomia, inguinotomia, entre outras. ● Excisão: também feita de maneira intencional e com fins terapêuticos, no entanto, aqui temos a remoção do tecido. Por exemplo, a remoção de uma área doadora de enxerto. ● Punção: resultantes de procedimentos como biópsias, punções centrais, entre outros. Ulcerativa: são lesões escavadas com profundidade variável, atingindo desde camadas mais superficiais da pele, podendo chegar até os músculos. É classificada em: ● Estágio I: pele avermelhada não rompida; ● Estágio II: pequenas lesões na epiderme ou ulcerações na derme. Temos geralmente abrasão ou a presença de bolhas; ● Estágio III: afeta derme e tecido subcutâneo; ● Estágio IV: atinge músculos e tendões, podendo ter a exposição óssea. Traumática: ferida provocada de forma acidental, não respeitando limites ou funções da pele sadia. Pode decorrer da ação de agentes mecânicos (prego, espinho, agressão), químicos (ácidos, soda cáustica), físicos (temperatura, pressão, eletricidade) ou biológicos (contato com animais, penetração de parasitos). Lesão mecânica cortocontusa. Neste momento, nosso foco se dará exatamente para as lesões traumáticas!!! E, aqui, a ideia central é a de que quanto mais detalhes pudermos extrair delas, maior a chance de não esquecermos nenhum item fundamental na sua abordagem. Assim, elas devem ser caracterizadas sob alguns aspectos: Profundidade Superficiais: atingem a pele, o tecido celular subcutâneo, as aponeuroses e os músculos, sem lesar estruturas profundas ou nobres, como nervos, tendões, vasos de maior calibre, vísceras e ossos. As escoriações são um tipo de ferida superficial que atinge somente a pele. Além disso, podem ser abertas, quando as bordas estão afastadas (feridas contusas, frequente nas emergências), ou fechadas, quando as bordas estão justapostas (feridas de pós-operatório ou já suturadas). Profundas: são aquelas que atingem estruturas mais nobres e que podem ameaçar a vida do paciente. Geralmente, as estudamos na abordagem dos politraumatismos. Conteúdo microbiano Limpa: lesão feita seguindo os cuidados com assepsia e antissepsia (ferida cirúrgica). Limpa contaminada: lesão sem contaminação significativa, com tempo de evolução menor do que 6 horas (feridas com facas domésticas). Lesão mecânica perfuro contusa. Lesão química. Contaminada: feridas com presença de agentes contaminantes, mas ainda sem processo infeccioso local ou com o tempo superior a 6 horas (lesões cortocontusas com material sujo). Infectada: lesão com evidência de inflamação local, com destruição tecidual, podendo haver a presença de pus. Natureza do agente vulne rante Feridas incisas: produzidas por agentes cortantes, afiados, capazes de cortar a pele, produzindo ferida linear, com bordas regulares e pouco traumatizadas. Exemplo: ferida cirúrgica. Feridas contusas: produzidas por objeto de natureza geralmente romba, capaz de romper a integridade da pele, produzindo feridas irregulares, retraídas e com bordas muito traumatizadas. Feridas perfurantes: são aquelas cujo objeto é geralmente fino e pontiagudo, capaz de perfurar a pele e tecidos subjacentes, produzindo lesão cutânea puntiforme ou linear, de bordas regulares ou não. A profundidade atingida não pode ser estabelecida à simples inspeção. Feridas penetrantes: são as de mesmas características anteriores, cujo objeto é capaz de perfurar os tecidos e penetrar numa cavidade natural do organismo. Feridas transfixantes: consti tuem uma variedade de ferida perfurante ou penetrante, na qual o objeto vulnerante é capaz de penetrar e atravessar os tecidos de determinado órgão em toda a sua espessura. Complexidade Simples: não ocorre perda de tecidos nem contaminação grosseira. Aqui está incluída a maioria das feridas produzidas por acidentes domésticos. Complexas: são graves, irregulares, nas quais geralmente ocorre perda de substância, esmagamento, queimadura, avulsão, dissecção e deslocamento de tecidos. 2º PASSO: TRATA MENTO DAS FERIDAS Dentro das lesões traumáticas, que são o foco da nossa abordagem, temos de dar atenção particular a três situações com mais chance de aparecer nas provas: ferida comum, por mordeduras e por queimaduras. VIDEO_01_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_14 1- FERIDA COMUM 1) Orientar o paciente sobre o procedimento; 2) Lavagem das mãos e calçamento de luvas (técnica asséptica); 3) Lavagem exaustiva da ferida; 4) Assepsia das bordas da ferida; 5) Colocação de campo cirúrgico; 6) Infiltração de anestésico local; 7) Explorar a ferida e realizar debridamento quando necessário; 8) Realizar hemostasia; 9) Aproximação dos planos (sutura); 10) Lavar novamente a ferida; 11) Fazer curativo; 12) Orientações sobre vacinação antitetânica. Aqui, se encaixam as feridas traumáticas mais comuns, que são as de origem mecânica (ex.: acidentes domésticos). Após caracterizar a ferida, partiremos para a abordagem propriamente dita da lesão. Nosso objetivo é restabelecer a integridade anatômica e funcional dos tecidos, sem se esquecer do aspecto estético!!! - Inicialmente, devemos realizar a lavagem das mãos e informar ao paciente sobre o procedimento. Além disso, devemos garantir uma técnica asséptica e o uso do material apropriado, de acordo com a necessidade e os indicativos de precaução. - O procedimento se inicia então pela lavagem copiosa da ferida utilizando SF 0,9%, buscando a retirada dos resíduos e a limpeza do ferimento. - Após esta limpeza inicial, devemos utilizar agentes tópicos para a assepsia das bordas da ferida e colocar os campos cirúrgicos. - Outro fator indispensável é a cooperação do paciente e um dos obstáculos é a dor no procedimento. Por isso, devemos realizar a infiltração de anestésico local. - Explorar novamente a ferida com o auxílio de uma pinça, retirando possíveis estruturas residuais e também realizar o debridamento das bordas e interior da lesão. Esta remoção do tecido não viável permite a regeneração do tecido saudávelsubjacente. Agora atenção, devemos evitar danos ao tecido já granulado e viável durante o debridamento. Ele pode ser feito através de técnica cirúrgica, mecânica, enzimática ou autolítica. Cada procedimento tem as suas vantagens e, atualmente, a combinação das técnicas parece ser o meio mais eficaz. - Realizar a hemostasia e somente após iniciaremos a aproximação dos planos (mais detalhes no tópico sobre suturas). De uma forma geral, podemos dizer que o fechamento primário é contraindicado nas seguintes situações: ● Intervalo maior que 6-8 horas entre o traumatismo e o início do tratamento (esse critério é relativo); ● Tecidos com suprimento sanguíneo inadequado; ● Impossibilidade técnica de aproximação das bordas da ferida em consequência de perda de pele e tecido celular subcutâneo; ● Ferida por mordedura (embora atualmente vários autores defendam uma abordagem primária da lesão, principalmente naquelas ocorridas na face e no couro cabeludo). - Lavar novamente a ferida (fechada agora) e realizar o curativo. Uma dúvida muito comum é se devemos manter o curativo seco ou se ele deve ser úmido. É conceito vigente que o curativo deve manter certo grau de umidade. Estudos mostram uma taxa de epitelização 50% mais rápida em um ambiente úmido. Veja as vantagens: evitar traumas, redução da dor, manter a temperatura, remoção do tecido necrótico, acelerar a angiogênese, estimular a epitelização e a formação do tecido de granulação. - Por último, não podemos nunca nos esquecer de avaliar o status vacinal do paciente em relação à profilaxia antitetânica: SAIBA MAIS Agulhas Um curativo nada mais é do que a utilização de um meio favorável à cicatrização. Nossas preocupações podem ser resumidas com o mnemônico TIME: 2- FERIDA POR MORDEDURA 1) Orientar o paciente sobre o procedimento; 2) Lavagem das mãos e calçamento de luvas (técnica asséptica); 3) Lavagem exaustiva da ferida; 4) Assepsia das bordas da ferida; 5) Colocação de campo cirúrgico; 6) Infiltração de anestésico local; 7) Explorar a ferida e realizar debridamento quando necessário; 8) Realizar hemostasia; 9) Aproximação das bordas (QUESTIONÁVEL!!!!); 10) Lavar novamente a ferida; 11) Fazer curativo; 12) Prescrição de antibiotico profilaxia (amoxicilina + clavulanato); 13) Orientações sobre vacinação antitetânica e antirrábica; 14) Lembrar que acidente por animal potencialmente transmissor da raiva é de notificação imediata. Neste tipo de lesão, devemos sempre estar atentos aos riscos de infecção, prejuízo estético e transmissão de doenças como o tétano e a raiva. As lesões podem ser causadas por animais e também lesões por mordedura humana. As provocadas por cães são as mais comuns, porém mordedura de outros animais como gatos, cavalos e até mesmo roedores também são observadas. Na maior parte dos casos, os ferimentos são superficiais, mas alguns casos podem ter um acometimento mais profundo. Pensando na mordedura humana, a literatura é precisa em destacar a ocorrência devido a agressões. As lesões por mordedura humana e de gatos têm um risco maior de infecção quando comparadas às lesões por mordedura canina. Em todos os casos, no entanto, é necessária a prescrição de antibióticos (duração = 3-5 dias). Além disso, na mordedura humana, a transmissão de algumas doenças como as hepatites B e C, tuberculose, sífilis, tétano e aids tem sido relatada. T(Tissue): retirar o tecido não viável; I(Infection): controle da infecção/inflamação; M(Moisture): manutenção do meio úmido; E(Edge): epitelização das bordas das lesões. De forma semelhante às feridas abertas, devemos ter os devidos cuidados com a assepsia e as devidas precauções. Os ferimentos devem ser tratados com anestesia local ou geral, dependendo da extensão. A limpeza exaustiva da ferida é essencial. Jatos com SF 0,9% devem ser realizados até a completa limpeza da ferida. Após, realiza-se o debridamento do tecido desvitalizado, seguido de uma cuidadosa hemostasia. VIDEO_02_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_14 Outro ponto fundamental: além da profilaxia antitetânica, deve ser avaliado o risco de transmissão da raiva. Relembre as recomendações a seguir: 3- FERIDA POR QUEIMADURA 1) Medidas de atendimento pré-hospitalar (via aérea, hidratação, prevenção de hipotermia etc.); 2) Lavagem das mãos e calçamento de luvas (técnica asséptica); 3) Explorar a ferida e realizar debridamento quando necessário (a depender da gravidade da queimadura); 4) Fazer curativo com sulfadizina de prata (troca diária); 5) Avaliar necessidade de enxertos; 6) Avaliar procedimentos especiais (escarotomia / fasciotomia); 7) Orientações sobre vacinação antitetânica. Inicialmente, ainda no atendimento pré-hospitalar, os cuidados são básicos e simples. Neste momento, devemos nos preocupar apenas com a proteção do ambiente pela aplicação de um curativo seco ou um lençol limpo para cobrir a parte envolvida. Os curativos úmidos devem ser evitados para prevenir a hipotermia. Além disso, o paciente deve der envolvido em um cobertor para minimizar a perda de calor e controlar a temperatura durante o transporte. No ambiente hospitalar, após afastar as causas de um colapso iminente (ABCDE) e estabelecer as medidas apropriadas para a reposição volêmica, devemos voltar a nossa atenção ao tratamento propriamente dito das queimaduras. O objetivo do curativo é controlar o crescimento bacteriano, remover o tecido desvitalizado e estimular a epitelização, ou preparar o leito receptor para a enxertia. - O passo inicial é a remoção do tecido necrótico, desvitalizado e/ou infectado, deixando Esquemas de reexposição com uso de vacina de cultivo celular Tipo de esque ma Esquema de reexposição Completo Até 90 dias: não realizar esquemas profiláticos. Após 90 dias: duas doses, uma no dia, outra no dia 3. Incompleto* Após 90 dias: completar o número de doses. Após 90 dias: ver esquema de pós- exposição (conforme o caso). a ferida limpa e adequada para a cobertura imediata com pele ou substitutos cutâneos. - Nas queimaduras de 1° grau, nenhum cuidado específico deve ser tomado, não sendo necessária a realização de curativos específicos. O paciente deve receber analgesia por via oral e agentes tópicos para o conforto também podem ser prescritos, além disso, o uso de compressas frias pode ser orientado. - Nos outros tipos de queimaduras, de uma maneira geral, devemos realizar a limpeza do local com auxílio de ducha para a limpeza e debridamento das flictenas e tecido desvitalizado. Clorexidina ou um sabão neutro como antisséptico podem ser utilizados. Após, devemos secar com gaze estéril e realizar um curativo oclusivo com sulfadiazina de prata. - Para as queimaduras de 2° grau superficiais: troca diária do curativo com remoção da sulfadiazina e, depois, nova aplicação e novo curativo oclusivo deve ser realizado. Já as queimaduras mais profundas de 2° grau e 3° grau, não cicatrizam em tempo hábil sem a utilização de enxertos. Por isso, esses pacientes se beneficiam da realização de uma excisão da lesão, seguida de enxertia do território lesado. Após a excisão de uma queimadura, a ferida deve ser recoberta. Ferimentos que acometem até 30% da SCQ podem ser recobertos com o auxílio de autoenxertos. No entanto, nas grandes queimaduras, devemos pensar também nos aloenxertos. FIQUE ATENTO!!! Existe muita discussão sobre o que fazer com as famosas bolhas decorrentes da queimadura. A grande dúvida é: devo ou não estourar as bolhas. Muito cuidado pois aqui ainda não existe um conceito. A conduta varia entre as instituições. Algumas preconizam que o debridamento deve ser feito e após a remoção dos flictenas, devemos cobrir a área com sulfadiazina de prata tópica e curativo. Outros serviços afirmam que isso depende do momento do atendimento. Se a lesão for complexa e com pouco tempo de evolução, estaria indicado a drenagem do conteúdo e a preservação da pele como forma de curativo biológico. Mas se a lesão não for recente, devemos realizar o debridamento do flictena. Curativos sintéticos e biológicos: Eles propiciamuma cobertura da ferida sem a necessidade de trocas diárias. Outra vantagem é que eles não inibem a epitelização como a maioria dos antibióticos. Mas lembre-se de um detalhe: eles não possuem atividade antimicrobiana e por isso devem ser aplicados de maneira precoce de modo a impedir a colonização bacteriana. Procedimentos especiais na queimadura: escarotomia e fasciotomia. Quando o paciente apresentar queimaduras de 2° ou 3° graus profundas circunferenciais em uma extremidade, a circulação periférica para este membro pode ser comprometida. Com o edema resultante abaixo de uma escara não complacente, temos a diminuição do retorno venoso e possivelmente o comprometimento da vascularização arterial, criando uma síndrome compartimental no membro. Essas extremidades requerem escarotomia, que são liberações da escara da queimadura, realizadas no leito, pela incisão dos aspectos lateral e medial da extremidade com um bisturi ou eletrocautério. Toda escara obstrutiva deve ser incisada longitudinalmente para aliviar o obstáculo ao fluxo sanguíneo. Caso haja aumento nas pressões dos compartimentos musculares, a fasciotomia pode ser necessária. Aqui, diferente da escarotomia, acessamos planos mais profundos até o compartimento muscular. As principais complicações desses procedimentos são a perda sanguínea e a liberação de metabólitos anaeróbicos, causando hipotensão transitória. Uma escara constritiva no tronco pode causar um fenômeno similar, com a exceção de que o efeito é reduzir a ventilação pela limitação da expansão torácica. Veja, qualquer redução na ventilação de um paciente queimado deve levar a inspeção do tórax para avaliar uma provável escara circunferencial. O mesmo pode ocorrer no abdome e resultar no desenvolvimento de uma síndrome compartimental abdominal. VIDEO_03_CPMED_EXTENSIVO_APOSTILA_14 Escarotomia. Fasciotomia.
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