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Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com DA UNIÃO ESTÁVEL INTRODUÇÃO Antigamente, o casamento era a única maneira aceita pelo ordenamento jurídico brasileiro para a constituição de uma unidade familiar. Isso implicava em dizer que, no que tange Às relações conjugais, apenas o casamento possuía proteção jurídica. Qualquer relacionamento/união formada por meios que não o casamento era considerado um concubinato13. Hoje, entende-se que esse termo é sinônimo de união estável. CONCUBINATO -> União livre e prolongada com aparência de casamento. Ocorre que, mesmo sem a proteção jurídica, as pessoas não deixavam de se relacionar, o que causava problemas práticos. Havia a liberdade de descumprir os deveres impostos ao casamento. → Divisão de bens por dissolução de sociedade de fato (Súmula 380, STF) → Alimentos prestados como verba indenizatória por serviços prestados → Ausência de presunção da paternidade dos filhos advindos dessas relações Com a promulgação da CF/88, o ordenamento jurídico passa a adotar outras formas de constituição familiar, dentre elas a união estável. Hoje, o concubinato não mais possui o mesmo significado14. Art. 226, §3º, CF: Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Hoje, a união estável é compreendida como o relacionamento entre um homem e uma mulher que pretendem formar uma entidade familiar sem as solenidades atribuídas ao casamento. 13 O termo concubinato é amplo e aborda diversas hipóteses, dentre as quais menciona-se a principal, qual seja a formação de família por meios que não o casamento. Outras formas de concubinato são o casamento religioso somente, o casamento realizado no estrangeiro não homologado pelas autoridades brasileiras, e o casamento posteriormente nulo. 14 Conforme discorre Gonçalves (2023), a expressão “concubinato” é hoje utilizada para designar o relacionamento amoroso envolvendo pessoas casadas, que infringem o dever de fidelidade, também conhecido como adulterino. Também diz respeito à relação que não pode se tornar casamento em razão de algum impedimento. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com União por mais de 5 anos ou com prole. Direitos dos companheiros no campo dos alimentos e da sucessão. Muito criticada por não oferecer meios suficientes à satisfação de problemas práticos identificados nos casos concretos. Maior atuação da jurisprudência Regula a união estável de forma mais completa. União estável nos casos de separação de fato. Presunção de esforço comum na aquisição de bens. Extingue o requisito temporal para configuração de união estável. A união estável é configurada quando há o relacionamento contínuo e duradouro e público, com ânimo de constituição de família. A união estável é configurada quando há o relacionamento contínuo e duradouro e público, com ânimo de constituição de família. Independe de coabitação União estável nos casos de separação de fato. Deveres de lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e educação dos filhos. Equiparação mais evidente da união estável ao casamento. Aplicação do regime da comunhão parcial de bens. Alterava a Constituição Federal de 1988 os paradigmas socioculturais brasileiros, ao retirar o concubinato do seu histórico espaço marginal e passar a identifica-lo não mais como uma relação aventureira e de segunda categoria, mas, doravante, como uma entidade familiar denominada como união estável, assemelhada ao casamento, com identidade quase absoluta de pressupostos, e com a alternativa de ser transformada em casamento. - Rolf Madaleno EVOLUÇÃO NORMATIVA Lei 8.971/94 Lei 9.278/96 CC/2002 Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com PRESSUPOSTOS/REQUISITOS PARA A UNIÃO ESTÁVEL Art. 1.723, CC: É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecia com o objetivo de constituição de família. A união estável se instaura a partir do instante em que resolvem seus integrantes iniciar a convivência, como se fossem casados, renovando dia a dia tal conduta, e recheando-a de afinidade e afeição, com vistas à manutenção da intensidade. - Antonio Carlos Mathias Coltro PUBLICIDADE -> A publicidade, no sentido tratado pelo CC, é a ausência de clandestinidade. Ou seja, o relacionamento entre os conviventes é de conhecimento público e não às escondidas. Trata-se a relação pública de relação conhecida no meio social dos conviventes, perante seus vizinhos, amigos, parentes e colegas de trabalho. Para Rolf Madaleno (2022) essa publicidade se relaciona com o sentido de morarem os companheiros juntos, mantendo vida em comum e em comunhão plena. ➔ Ficam afastadas da configuração de uma entidade familiar aquelas relações consistentes em encontros velados, às escondidas, só conhecidos no estrito ambiente doméstico, incompatíveis com a constituição de uma verdadeira família no seio social. Publicidade Continuidade Durabilidade Ânimo de constituir família União Estável Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com DURABILIDADE -> Trata-se da expectativa de que o relacionamento dure e gere reflexos no tempo. Deverá o juiz, em cada caso concreto, verificar se a união perdura por tempo suficiente, ou não, para o reconhecimento da estabilidade familiar, perquirindo sempre o intuito de constituição de família, que constitui o fundamento do instituto em apreço. CONTINUIDADE -> Reflete a seriedade e estabilidade do relacionamento. Ocorrendo a separação de fato em algum momento do relacionamento, será tarefa do juiz verificar se presentes os pressupostos configuradores do relacionamento estável, sendo certo que eventuais rupturas ao longo do tempo não são, por si sós, capazes de desconfigurar a união estável. Trata-se de uma análise casuística. Não se descarta, portanto, a existência de eventuais lapsos de interrupção ocasionados por brigas entre casais. OBJETIVO DE CONSTITUIR FAMÍLIA -> Este objetivo de constituir família, para o STJ, é algo imediato. Ou seja, a família já está constituída. Isso diferencia a união estável do namoro e do noivado, este considerado pelo STJ como namoro qualificado. ➔ Para a configuração da união estável não basta o animus, mas deve existir a efetiva constituição familiar. O período de namoro e noivado que antecedeu o casamento não configura união estável para fins de partilhamento dos bens então adquiridos. - TJRS, Ap. 598.349.306, 7ª Câm. Cív., rel. Desa. Maria Berenice Dias, j. 17-3-1999 O namoro prolongado, mesmo com congresso íntimo, desenrolado enquanto as partes resolviam anteriores casamentos, não induz união estável”. - TJRS, Ap. 599.152.105, 7ª Câm. Cív., rel. Des. Teixeira Giorgis, j. 12-5-1999 Não integra o período de namoro o prazo de vigência da união estável, devendo-se ter como termo a quo do relacionamento, para efeitos de partição patrimonial, o momento em que passaram a coabitar sob o mesmo teto. - TJRS, Ap. 597.242.791, 7ª Câm. Cív, rel. Desa. Maria Berenice Dias, j. 24-6-1998 Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com Outro ponto importante é que o objetivo de constituir família se reflete na forma como os conviventes se apresentam à sociedade, como se casados fossem, por exemplo. Para Rolf Madaleno (2022), o objetivo de constituir família, in casu, se externaliza nas ações do casal e como eles se apresentam à sociedade. No entanto, não se resume a apenas a publicidade do casamento, como também se relaciona ao comportamento patrimonial do casal, como por exemplo a manutenção de conta conjunta,previdência social, ou seguros e planos de saúde. Outros são os elementos destacados pelo autor: → Comunidade de afeto → Desenvolvimento da personalidade → Compartilhamento → Mútua assistência Nessa linha de pensamento deve ser vista a união estável e a emissão da vontade de constituir família, que não tem uma fórmula própria, sacramental e única, mas é pesquisada no comportamento global dos conviventes, considerando a coabitação, passível de ser dispensada por ponderáveis exceções, sua prolongada convivência, eventual existência de contrato escrito de união estável, e apresentação pública dos conviventes em comunhão de vida, como se fossem marido e mulher. - Rolf Madaleno, 2022 IMPORTANTE! Com o julgamento da ADPF n. 132 e da ADI n. 4277/DF, não é preciso que os companheiros tenham sexos diferentes, sendo possível o reconhecimento de união estável a partir de relações homoafetivas. Outros aspectos importantes sobre a união estável da forma como é entendida pelo atual ordenamento jurídico: A união estável independe de filhos e de coabitação15. Gonçalves (2023) indica que é difícil compreender uma união estável quando as pessoas não compartilham moradia, tendo em vista que este compartilhamento é a característica mais forte de uma união estável. Se o casal, mesmo morando em locais diferentes, assumiu uma relação afetiva, se o homem e a mulher estão imbuídos do ânimo firme de constituir família, se estão na posse do estado de casados, 15 Rolf Madaleno (2022) defende que a regra geral deve ser a coabitação, devendo existir uma situação fática que explique a ausência da mesma. Ele fundamenta esse posicionamento no dever previsto pelo art. 1.566 do CC. O CC, entretanto, não engloba em seu art. 1723 a existência de coabitação para o reconhecimento da união estável. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com e se o círculo social daquele par, pelo comportamento e atitudes que os dois adotam, reconhece ali uma situação com aparência de casamento, tem-se de admitir a existência de união estável. - Gonçalves, 2023 Existem, inclusive, julgados no STJ que defendem a desnecessidade de coabitação para a configuração da união estável. Não exige a lei específica (Lei n. 9.278/96) a coabitação como requisito essencial para caracterizar a união estável. Na realidade, a convivência sob o mesmo teto pode ser um dos fundamentos a demonstrar a relação comum, mas a sua ausência não afasta, de imediato, a união estável. Diante da alteração dos costumes, além das profundas mudanças pelas quais tem passado a sociedade, não é raro encontrar cônjuges ou companheiros residindo em locais diferentes. O que se mostra indispensável é que a união se revista de estabilidade, ou seja, que haja aparência de casamento. - REsp 474.962-SP, 4ª T., rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 1º-3-2004 Deve existir o informal consentimento em manter o relacionamento, identificado pela dupla vontade dos conviventes em convergirem para a formação de uma família em estado de comunhão plena de vida. Deve-se respeitar o princípio da monogamia também na união estável. Assim, há impedimento no caso de homem ou mulher já casados16. Além disso, é absolutamente incompatível com a monogamia uma união estável com outra união estável. Para a configuração da união estável não pode existir impedimento matrimonial (§1º. Art. 1.723, CC). Art. 1.723, §1º, CC: A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso IV no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. 16 A lei rejeita a relação extramatrimonial simultânea com a união legítima, como afasta uniões legítimas ou informai, salvo exista separação judicial ou de fato, ou o divórcio. Nestes casos, não existe o dever de fidelidade. Érika Cerri dos Santos erikacerridossantos@hotmail.com DIREITOS E DEVERES Deveres Art. 1,724, CC: As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. Lealdade -> Corresponder à confiança do parceiro17. Respeito -> Compromisso moral e de formação que o ser humano deve exercer em todas as suas relações pessoais. Assistência -> Assegurar necessidades do lar; cooperação entre os companheiros. Em sede de união estável, a lei não prevê nenhuma sanção pela quebra de qualquer um dos deveres impostos aos conviventes, inexistindo a possibilidade de serem invocadas causas culposas para caracterização da impossibilidade da comunhão de vida dos conviventes. Direitos São direitos dos companheiros: → Alimentos (art. 1.694, CC) → Meação → Sucessão hereditária CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO Art. 1726, CC: A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Trata-se de um dispositivo muito criticado, uma vez que não esclarece o procedimento a ser adotado. Neste caso, mais fácil seria a realização do casamento em si. 17 A lealdade não se confunde com a fidelidade.
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