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Legislação Educacional Brasileira Apresentação Você sabia que a legislação é um conjunto de leis que regulam as relações sociais em um país ou em determinada área? E você sabe o que é a legislação educacional brasileira? É um conjunto de leis que normatiza a educação quanto às questões pedagógicas e administrativas. Este conjunto de leis é composto por normas, resoluções, portarias e decretos (atos normativos). Nesta unidade de aprendizagem, você estudará a legislação educacional brasileira. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a hierarquia da legislação educacional brasileira.• Visualizar o processo e as divisões da legislação educacional brasileira.• Identificar a educação nas constituições brasileiras.• Desafio Para garantir a permanência de estudantes na escola e a continuidade dos seus estudos, a Constituição (Art. 208) aponta ações por meio de programas governamentais vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação (FNDE). O FNDE foi criado em 1968, ainda no governo militar, e tem por finalidade a captação de recursos para projetos educacionais. Mesmo que esses recursos tenham foco escolar, qualquer profissional da área da educação, mesmo atuando nas organizações, tem a necessidade de entender e identificar os processos desses programas. Você trabalha numa Secretaria Estadual de Educação. Certo dia, recebeu a ligação de um professor de uma escola pública, perguntando sobre a obtenção de livros didáticos. O professor havia lido algo sobre um programa federal de distribuição de livros didáticos e gostaria de saber como consegui-los. Exponha para o professor o nome do programa, sua finalidade e forma de fazer parte dele. Infográfico O infográfico a seguir apresenta a hierarquia da legislação educacional brasileira. Confira! Conteúdo do livro O Sistema Educacional Brasileiro é regulamentado por inúmeras legislações. E destacamos a importância de se entender que existe uma hierarquia das leis que precisam ser respeitadas. O principal grupo da legislação educacional brasileira é composto pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional considerada a lei maior do sistema de educação do país. O dever do Estado de garantir a oferta da educação se concretiza por meio da implementação de políticas públicas, que visam atender as demandas da sociedade. No que diz respeito à legislação educacional, existe um longo percurso histórico até se chegar ao atual estado democrático de direito. Neste capítulo, você para estudar a hierarquia da legislação educacional brasileira, em segundo momento vai entender como está dividida a legislação educacional brasileira, e por fim, você vai estudar sobre a como a educação é discutida nas diferentes constituições brasileiras. Acesse o capítulo Legislação Educacional Brasileira para aprender mais sobre os temas tratados nesta Unidade de Aprendizagem. Boa leitura. PEDAGOGIA EMPRESARIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a hierarquia da legislação educacional brasileira. > Visualizar o processo e as divisões da legislação educacional brasileira. > Identificar a educação nas constituições brasileiras. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a legislação educacional brasileira, com desta- que para os significados e as hierarquias. Na primeira seção, serão abordados os Conselhos de Educação (a nível nacional, estadual e municipal). Na segunda, o regime de colaboração entre União, Estado e Município para a elaboração da legislação. Por fim, na terceira seção, você vai ver como a educação é abordada nas constituições brasileiras, a partir de um resgate histórico. Legislação educacional brasileira: hierarquia A princípio, é importante entender o que é a legislação de um Estado de- mocrático. Uma legislação é proveniente de um processo legislativo que compreende a elaboração, a análise e a votação de vários tipos de propostas, decisões e interesses políticos, sociais e econômicos, definidos pelo poder Legislação educacional brasileira Karina Gomes Rodrigues legislativo. Em resumo, a legislação é um conjunto de leis e normas legais dadas a um povo. Quando discutimos a legislação educacional, abordamos todas as leis que objetivam organizar as políticas públicas educacionais tanto nas questões pedagógicas quanto nas administrativas. Isso abrange desde a regulamen- tação do direito à educação escolar em seus níveis e modalidades até a sua articulação com as demais instâncias da sociedade. De acordo com Pinto e Pizzirani (2017, p. 10), a legislação educacional pode ser de natureza reguladora ou regulamentadora. É reguladora quando é descritiva e se refere a leis, sejam federais, estaduais ou municipais, ou seja, as normas que regulam o sistema nacional de educação. A legislação é regulamentadora quando é prescritiva, ou seja, está voltada à práxis da educação. Podemos citar, como exemplo, os decretos, as diretrizes e as resoluções que prescrevem como serão executadas as regras jurídicas ou disposições legais contidas no processo de regulação da educação nacional. A Figura 1 mostra a hierarquia das leis nacionais adotada no processo democrático brasileiro. Figura 1. Pirâmide da hierarquia da legislação brasileira em um processo democrático de elaboração legislativa. Fonte: Adaptada de Pinto e Pizzirani (2017). Constituição Federal Emenda à Constituição Lei Complementar Lei Ordinária ou Código ou Consolidação Lei Delegada Decreto Legislativo Resolução Decreto Instrução Normativa Instrução Administrativa Ato Normativo Ato Administrativo Portaria Aviso Legislação educacional brasileira2 Considerando essa hierarquia, a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]) e as Emendas Constitucionais encontram-se no topo, sendo as prin- cipais fontes de inspiração para as demais normas gerais que organizam o sistema educacional, compreendido em seus três níveis: União, estados e municípios. A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]), Seção I do Capítulo III, estabelece os pontos fundamentais da educação e orienta a organização dos sistemas de ensino. Além disso, define os deveres do Estado, estabelece que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino, trata dos recursos públicos destinados à educação e deixa claro seus objetivos, que, de acordo com art. 205, são “[...] o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, [2016], documento on-line). De 1988 até hoje, houve várias Emendas Constitucionais. Pinto e Pizzirani (2017, p. 12) explicam que “[...] a Emenda Constitucional acontece devido a necessidades posteriores de regulamentação e que não foram contempladas no texto da versão original”. As autoras ainda destacam que: “Em hierarquia similar à da Constituição, porém, em jurisdição própria, encontram-se as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas dos Municípios (as Leis Orgânicas funcionam à semelhança de uma Constituição para o Município)” (PINTO; PIZZIRANI, 2017, p. 12). Logo abaixo na hierarquia, há as leis complementares que derivam da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]), como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394 (BRASIL, 1996), aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente em 20 de dezembro de 1996. Segundo Pinto e Pizzirani (2017, p. 13), essa legislação que deriva da Constituição Federal “[...] é chamada de Lei Complementar, pois complementa as normas institucionais. A Lei Complementar foi introduzida na hierarquia da legislação brasileira após a Constituição de 1967 e tem sido usada com maior frequência após a Constituição Federal de 1988”. Acredita-se que isso acontece em decorrência da redemocratização do Estado e das demandas contemporâneas da sociedade. Mais abaixo na hierarquia, há os decretos, as resoluçõese os pareceres, que definem a estrutura legal da educação brasileira. A LDBEN prevê a existência de órgãos normativos dos diferentes sistemas de ensino. Na esfera Federal, a União é responsável pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), criado pela Lei nº 9.131/1995 e vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Na esfera Estadual, existem os Conselhos Estaduais Legislação educacional brasileira 3 de Educação. Nos municípios, é facultativa a organização dos Conselhos Municipais de Educação. O atual CNE, órgão colegiado de responsabilidade administrativa do MEC, foi sancionado pela Lei nº 9.131 (BRASIL, 1995), de 25 de novembro de 1995, com o propósito de colaborar na criação da Política Nacional de Educação. De acordo com o art. 7º da respectiva lei, “[...] possui atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto” dentro do assunto ou matéria de sua competência (BRASIL, 1995, documento on-line). Souza e Menezes (2017) destacam que a função norma- tiva do CNE se dá por meio de pareceres e resoluções. Por isso, ele deve ter provisão legal e sua intencionalidade é a de executar o ordenamento jurídico que lhe dá fundamento. A LDBEN, em seu art. 9, regulamenta que, “[...] na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de Educação, com funções normativas e de supervisão e [de] atividade permanente, criado por lei” (BRASIL, 1996, docu- mento on-line). O art. 10 determina que os estados devem se incumbir de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamen- tal, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios (BRASIL, 1996, documento on-line). Indicando que devem trabalhar no âmbito do regime de cooperação recí- proca, o exercício da função normativa é prerrogativa desses entes federativos no que tange às suas atribuições referentes à educação escolar. O Art. 11 da Lei nº 9.394/96 determina que aos municípios cabe “[...] or- ganizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados” (BRASIL, 1996, documento on-line). O artigo também reforça a prerrogativa da colaboração entre os entes federados e destaca que: “Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica” (BRASIL, 1996, documento on-line). Mais abaixo na hierarquia, há um conjunto de leis complementares e ordinárias que, muitas vezes, se sobrepõem ou se anulam. São também leis ordinárias as medidas provisórias do governo para casos urgentes e relevan- Legislação educacional brasileira4 tes, os Decretos Legislativos e as Resoluções e Decretos Administrativos. As resoluções dão origem a uma série de documentos legais de explicitação e execução. Como exemplo, é possível citar a Resolução CNE/CP nº 1 de 2006 (BRASIL, 2006), que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia. Por fim, na hierarquia, temos as instruções normativas, as instruções administrativas, os atos e as portarias, que permitem a execução das leis. O Quadro 1 mostra as diferenças entre diretriz, decreto, resolução e parecer de acordo com a estrutura legal da educação brasileira. Quadro 1. Diferenças entre as Leis Complementares na estrutura legal da educação brasileira Leis Complementares Definição Diretriz Tem como intuito indicar a direção a ser seguida para colocar em prática os preceitos legais. As diretrizes têm a incumbência de sistematizar os princípios legais e transformá- los em orientações para assegurar a formação básica comum em território nacional. As diretrizes podem ser organizadas em forma de decretos federais ou estaduais. Decreto São ordens emanadas pelo poder executivo, ou seja, presidência, governo de estado e prefeituras. Os decretos ordenam ações que levem a cabo os preceitos legais. Exemplo: as diretrizes e bases da educação nacional de 2013 foram decretadas pela presidente do Brasil. Resolução Ato do poder administrativo, emanado pela autoridade superior, com o objetivo de normatizar um assunto de sua competência específica. Uma resolução não pode causar efeitos externos. Por exemplo, um secretário de educação municipal pode baixar uma resolução que defina procedimentos para matrículas nas escolas daquele município. Tal resolução não poderá ter efeito em outros municípios. Parecer Ato enunciativo pelo qual um órgão emite um encaminhamento fundamentado sobre uma matéria de sua competência. Quando homologado por autoridade competente da administração pública, ganha força vinculante. Fonte: Adaptado de Pinto e Pizzirani (2017). Legislação educacional brasileira 5 Na hierarquia da legislação educacional, existem também as instru- ções normativas, os atos e as portarias para permitir a execução das leis. Eles fazem sempre o detalhamento de como executar, cobrar e dispensar serviços, verificar aplicação legal ou executar obrigações paralelas. Processo e divisões da legislação educacional brasileira O sistema educacional brasileiro segue os princípios da Constituição Federal (BRASIL, [2016]) e está organizado a partir da LDBEN, sendo dividido em federal, estadual e distrital e municipal. A partir da reflexão sobre a legislação e a cidadania na educação escolar, é importante compreender a hierarquia exis- tente na estrutura educacional. Aos profissionais da educação, é importante entender que os órgãos federais (MEC e CNE) são as instâncias da União que, acima das demais, executam os programas e definem as diretrizes para a educação, que serão desenvolvidas em todo o Brasil. Nessa concepção, Pacheco e Cerqueira (2013, p. 25) destacam que: Na estrutura da República Federativa, em que estados e municípios são entes autônomos, estão as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação e os Conse- lhos Estaduais de Educação, instâncias de poder nas quais são tomadas decisões que orientam a organização e a ação educativa nos estados bem como se fixam as diretrizes para os sistemas estaduais de ensino, sem, com isso, contrariar as deliberações das instâncias federais. Em relação às políticas públicas educacionais, ao processo e às divisões da legislação educacional, é importante saber que, embora possa haver casos específicos em que os municípios legislam sobre os aspectos educacionais, todos os entes federativos devem atender à Constituição Federal e à LDBEN. Existe uma hierarquia nas leis que regulam a educação, bem como nos res- pectivos órgãos responsáveis por essas leis em cada esfera administrativa. Ou seja, um estado ou município, ao criar uma resolução ou lei, deve elaborá-la em consonância com as instâncias superiores que a antecederam (Figura 2). Legislação educacional brasileira6 Figura 2. Pirâmide da hierarquia da legislação da educação brasileira. CF LDBN Programa de polí�cas do Ministério da educação Resoluções do Conselho Nacional de Educação Resoluções das Secretarias Estaduais de Educação Resoluções e pareceres dos Conselhos Estaduais de Educação Resoluções e pareceres das Secretarias Municipais de Educação Resoluções, pareceres e normas dos Conselhos Municipais de Educação União Estado Município De acordo com o art. 211 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]), os municípios atuam prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, sob a gestão das Secretarias Municipais de Educação, obedecendo às normas do respectivo Conselho Municipal de Educação, quando implantado o sistemamunicipal de ensino. Quando o município, respeitando a LDBEN, optar por não constituir um sistema de ensino autônomo, este, além de seguir as determinações federais, integrará e se submeterá às normas do respectivo sistema estadual, sem renunciar ao atendimento específico das demandas decorrentes das peculiaridades locais. Nesse sentido, Pacheco e Cerqueira (2013, p. 26) afirmam que: [...] a legislação da educação caracteriza-se como conjunto de normas — artigos da Constituição, leis, decretos, resoluções, pareceres, portarias, instruções e atos — que dá forma e regulamenta a estrutura e o funcionamento da educação, com amplitude maior ou menor. Contudo, Saviani (2008, documento on-line) destaca a subordinação entre as leis no sistema educacional: Ora, a própria Constituição, ao prescrever no artigo 22, inciso XXIV, que compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional; que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto (artigo 24, inciso IX); e que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência (artigo 23, inciso V), não estendeu aos municípios a competência para legislar em matéria de educação. Portanto, Legislação educacional brasileira 7 não tendo autonomia para baixar normas próprias sobre educação ou ensino, os municípios estariam constitucionalmente impedidos de instituir sistemas próprios, isto é, municipais, de educação ou de ensino. Não obstante, o texto constitucional deixa margem, no artigo 211, para que se possa falar em sistemas de ensino dos municípios quando estabelece que "a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os seus sistemas de ensino". Isso objetiva o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional sobre algumas matérias, entre elas as educacionais. Ou seja, sobre a educação, as três instâncias da federação poderão definir leis, desde que a deliberação da de menor poder não implique em descumprimento do es- tabelecido pelas esferas superiores a ela. Pacheco e Cerqueira (2013, p. 26) ressaltam a importância de conhecermos a legislação educacional e de exercermos de modo democrático o nosso papel de cidadão de direitos: Conhecer a legislação educacional torna-se fator relevante ao exercício da cidada- nia, uma vez que é nela que estão, não apenas definidos, mas também limitados tanto nossos direitos quanto nossos deveres. O que nos permite conhecer nossos limites, os limites das autoridades de nosso município e estado, bem como a quais instâncias cabe cada responsabilidade, o que eleva nossa capacidade de reivindicação e de proposição de sugestões. Nessa mesma perspectiva, Pinto e Pizzirani (2017) comentam sobre a ne- cessidade e importância do profissional da educação de conhecer a legislação educacional. As autoras ainda trazem um exemplo prático: Um coordenador pedagógico para proporcionar aos docentes, alunos e comunidade o repensar contínuo do projeto educativo e do processo de ensino e aprendizagem na escola em que atua necessita de uma compreensão maior da educação, certo? Ou seja, precisa compreender, entre outras, a LDB e suas intenções, as políticas educacionais em vigência e as orientações para a educação, a fim de promover reflexões, mudanças, orientações no contexto escolar, contribuindo para uma educação de qualidade e emancipadora (PINTO; PIZZIRANI, 2017, p. 16). É muito importante que o profissional da educação conheça a legislação, pois só assim entenderá a ação e as responsabilidades do Estado na organi- zação do sistema educacional. Além disso, conhecerá seus direitos e deveres assegurados por lei. Legislação educacional brasileira8 Toda legislação citada neste capítulo para o nível federal serve igualmente para os níveis estadual e municipal. Cada estado tem uma constituição e um conjunto de leis estaduais próprios, e ambos devem sempre estar de acordo com a esfera federal. Da mesma forma, nos municípios, as leis orgânicas e as demais leis devem estar de acordo com as leis estadual e federais. Os estados e municípios, com base na Constituição Federal, definem leis para solucionar seus problemas de educação. Como cada estado e município vive situações específicas, as leis definidas por eles vão solucionar essas questões pontuais. O profissional da educação precisa conhecer a legislação educacional tanto em relação à carta magna quanto em relação às constituintes estaduais e municipais. Assim, será capaz de desenvolver seu trabalho de modo consciente, contribuindo para a qualidade da educação. Planos de Educação Os Planos de Educação são considerados os principais instrumentos da política pública educacional. Eles têm força de lei e estabelecem metas para garantir que o direito à educação de qualidade seja prioridade para o município, estado ou país no período de dez anos. Esses documentos abordam as diretrizes para o atendimento educacional em um território, envolvendo redes municipais, estaduais, federais e instituições privadas que atuam em diferentes níveis e modalidades da educação: das creches até as universidades. O Plano Nacional de Educação (PNE) é um instrumento da política educa- cional, uma lei ordinária prevista na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]). De duração decenal, o PNE tem por finalidade “[...] articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades” (BRASIL, [2016], documento on-line). Ele faz isso a partir de ações integradas com outros poderes públicos de diversas esferas federativas. O PNE tem como objetivos: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto (BRASIL, [2016], documento on-line). Legislação educacional brasileira 9 Assim, o PNE, Lei nº 13.005/2014 (BRASIL, 2014), passa a ser uma política do Estado brasileiro, tornando-se obrigatório. A partir de sua vigência, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem tomá-lo como base para o desenvolvimento de seus planos educacionais. O PNE, a cada cinco anos, é avaliado pela Secretaria da Educação Básica (SEB), que formula políticas públicas para a educação do Brasil e estimula os estados e municípios a criarem seus planos correspondentes de acordo com a própria lei. Todas as ações e os programas da SEB visam ao alcance das metas do PNE. Em relação ao Plano Estadual de Educação (PEE), Souza e Menezes (2017, p. 3) destacam que eles são considerados importantes instrumentos de gestão, [...] cuja particularidade implica, de um lado, integrar objetivos e metas do plano nacional, traduzindo-os, portanto, para a realidade territorial do estado e, de outro, prever a sua articulação às demandas municipais, a fim de que essas localidades possam adequar o planejamento nacional às suas particularidades. As políticas e os planos estaduais, além de consoantes ao PNE, devem visar não apenas à integração e à coordenação de suas ações, mas também às relativas ao âmbito municipal, embora não haja obrigatoriedade de os municípios elaborarem o seu Plano Municipal de Educação (PME). É importante considerar que os “[...] PEEs devem fornecer elementos que subsidiem, de modo integrado e articulado, a elaboração de PMEs (Brasil, 2001, Capítulo VI)” (SOUZA; ALCÂNTARA, 2017, p. 716). Monlevade (2002, p. 58) aponta que os PEEs têm função estratégica na implantação efetiva do PNE, já que suas metas somente serão atingidas se “[...] os Planos Estaduais ascompatibilizarem pela média de seus Municípios”. Por isso, é muito importante o envolvimento dessas localidades na elaboração do PEE. Caso contrário, cada município se responsabiliza “[...] por alcançar ou ultrapassar as metas nacionais” (MONLEVADE, 2002, p. 58). Dias (2018, documento on-line) ressalta que o PME é “[...] uma lei elaborada com participação popular, discutido em audiências públicas, fóruns e confe- rências municipais, apresentado pelo Poder Executivo ao Legislativo para sua votação, aprovação e publicação”. O Poder Executivo do município recebe as demandas da população quanto às necessidades no âmbito da educação e, a partir dessas ideias e solicitações, a Câmara de Vereadores, em seu Poder Legislativo, regulamenta e elabora as leis do campo educacional. Nesse caso, a Câmara também é a responsável por zelar pelo seu cumprimento. Vale destacar que, para que as metas dos Planos de Educação (PNE, PEE e PME) se concretizem, é importante o apoio de vários órgãos e entes públi- Legislação educacional brasileira10 cos municipais, estaduais e federais. Dias (2018, documento on-line) alerta que “[...] existe a necessidade do legislador e Poder Executivo planejar sua execução, ao longo dos dez anos de sua vigência, levando-o em conta ao elaborar as peças orçamentárias municipais, reservando orçamento próprio para cumprimento e efetivação da Lei”. Reconhecido como um importante instrumento da política educacional, o PME diagnostica a realidade local educacional e prevê ações planejadas e sistemáticas para atender a demandas identificadas, junto ao PNE e ao PEE (SOUZA; MENEZES, 2017). O MEC, em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), criou uma rede de suporte para orientar, acompanhar e assessorar o trabalho de elaboração e aprovação dos PMEs em todo o Brasil. O MEC destaca que: A Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e o novo PNE, que agora é lei, estipulam que as metas nacionais, especialmente aquelas que dizem respeito às etapas obrigatórias da educação nacional, são responsabilidades conjuntas da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Considerando que as visões de políticas públicas e as soluções para os desafios educacionais são as mais diversas e que os Planos Municipais de Educação a serem elaborados ou adequados ao novo PNE e aos PEEs exigem compromisso e envolvimento de todos — sociedade e governos [...] (BRASIL, 2014, p. 6). Os Planos de Educação são importantes nas esferas nacional, estadual e municipal. Eles são instrumentos de planejamento e desenvolvimento da política educacional e devem respeitar à hierarquia da legislação educacional vigente, bem como articular estratégias com os demais planos de médio e longo prazo e com leis orçamentárias referentes ao nível governamental em que estão vinculados. Esse engajamento serve para atingir as metas no período previsto. Vale ressaltar que os municípios, além de respeitar a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]), a LDBEN, o PNE e as demais leis nacionais, estaduais e municipais, devem estar vinculados aos planos locais de médio e longo prazo, como o Plano Diretor e o Plano Plurianual (PPA), cumprindo com o compromisso e envolvimento de todos os entes federados. Legislação educacional brasileira 11 A LDBEN, em seu art. 24, estabelece que a carga horária mínima anual será de 800 horas para o ensino fundamental e médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar (BRASIL, 1996). O estado ou o município deve organizar o seu sistema de ensino respeitando essa diretriz. É possível ampliar a carga horária, mas jamais diminuí-la. Em São Paulo, por exemplo, a carga horária dos anos iniciais do ensino fundamental é de 1.000 horas, 200 a mais do que a lei prevê. Educação nas constituições brasileiras A Constituição Federal, lei suprema de um país, é o documento que reúne as leis fundamentais de estruturação do Estado, a formação de poderes, as formas de governo e os direitos e deveres dos cidadãos (TOLEDO, 2016). A legislação como um todo deve estar subordinada e em consonância com a Constituição. No Brasil, estamos na oitava constituição, que iniciou-se em 1988. A legislação educacional brasileira evoluiu e, atualmente, assegura o direito à educação como direito público subjetivo, respaldado pela Consti- tuição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]). Porém, a positivação de um direito não significa sua imediata concretização e efetivação para os cidadãos. O resgate histórico da evolução do direito à educação pela Constituição começa nos tempos do Império. Veja a seguir. Legislação educacional no Brasil Colônia As práticas educativas no Brasil tiveram início a partir da chegada dos je- suítas, que tinham como principal objetivo disseminar e preservar a cultura portuguesa e religiosa (católica). As primeiras regras normativas educacionais foram formuladas pelo fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. Houve a Constituição da Companhia de Jesus (1547‒1551) e a Ratio Atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (1548‒1599). A Companhia de Jesus foi expulsa em 1759 e obrigada a sair do Brasil em 1760, com a política pombalina (PINTO; PIZZIRANI, 2017). Na perspectiva dos autores: Um novo sistema educacional é implantado, pior que o anterior, devido às precárias condições de trabalho dos professores, de um ensino fragmentado e da falta de um currículo regular. Além disso, há continuidade na escolarização, baseada na formação clássica, ornamental e “europeizante” dos jesuítas (PINTO; PIZZIRANI, 2017, p. 24). Legislação educacional brasileira12 A seguir, vamos abordar o Brasil Imperial. Legislação educacional no Brasil Imperial A partir da Declaração da Independência do Brasil, em 1822, novas preocupa- ções surgiram para o Estado. A elite que dirigia o País tinha como prioridade o enfrentamento a lutas armadas, tanto internas quanto externas, atreladas à consolidação do Estado nacional. Assim, a educação foi deixada de lado. D. Pedro I reservou apenas dois incisos do art. 179 da Carta Constitucional de 1824 para tratar a educação (PINTO; PIZZIRANI, 2017). Ele limitou-se à gratuidade da instrução primária a todos os cidadãos. Pinto e Pizzirani (2017, p. 25) destacam que, em 1827, “[...] em forma de lei, a criação de escolas de primeiras letras passa a ser orientada em todas as cidades, vilas e lugares populosos do Império”. Isso, na prática, não se efetivou. Legislação educacional na República A República, inaugurada em 1889, foi consolidada pela Constituição, que tinha o objetivo de organizar um regime livre e democrático. Para a educação, a Constituição Republicana de 1891 trouxe uma abordagem indireta. Segundo Bulhões (2009, p. 181), na leitura do art. 72, parágrafo § 6º, nota-se “[...] o princípio da liberdade e da laicidade do ensino ministrado nos estabeleci- mentos públicos”: a separação do Estado e da Igreja, “[...] limitando, assim, os poderes de ingerência de um sobre o outro” (BULHÕES, 2009, p. 181). A Constituição também definiu que cada estado organizaria sua educação, mantendo como base um regime democrático e com ensino público e leigo. Vale destacar o art. 35, que incumbe, ao Congresso, mas não apenas a ele (BRASIL, 1891, documento on-line): � animar no País o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e o comércio, sem privilégios que tolham a ação dos governos locais; � criar instituições de ensino superior e secundário nos estados; � prover a instrução secundária no Distrito Federal. No entanto, a organização de dois sistemas escolares permanece. A dua- lidade do ensino, com origem no Brasil Colônia, foi ganhando força. Legislação educacional brasileira 13 Legislação educacional do Estado Novo ao Golpe Militar Na década de 1920, o movimento educacional conhecido como Escola Novaganhou força no Brasil, propondo mudanças à educação. Em 1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: a reconstrução educacional no Brasil. O período de 1930 a 1945 é chamado de Era Vargas. O governo de Getúlio Vargas apresentou características nacionalistas, de autoritarismo e incentivo por parte do Estado ao desenvolvimento industrial e populista. Nesse período, foram promulgadas duas Constituições: a de 1934 e a de 1937 (PACHECO; CERQUEIRA, 2013). A Constituição de 1934 assumiu como responsabilidade elaborar o PNE. “Segundo Fávero (2005, p. 13), [no] texto constitucional de 1934 [...] o direito à educação aparece disposto, de forma explícita, no art. 149, que compreende as disposições acerca da família, da educação e da cultura” (BULHÕES, 2009, p. 181). Vale destacar que o direito à educação passa a ser dividido entre o Estado e a família, ou seja, a família tem a obrigatoriedade de enviar e manter os filhos nas escolas, enquanto os poderes públicos têm de assegurar a gra- tuidade do ensino. Considerando o contexto de desenvolvimento industrial do país, aproveitou-se para estabelecer a gratuidade do ensino primário fora dos centros escolares. Tornou-se dever das empresas industriais ou agrícolas com mais de cinquenta trabalhadores oferecer educação aos funcionários e a seus filhos. A Constituição de 1937 foi a segunda Carta brasileira outorgada. Nesse caso, foi pelo Estado Novo, “[...] que teve por objetivo ‘assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência’” (BULHÕES, 2009, p. 182). Essa Constituição significou um retrocesso considerável em relação à Constituição anterior, especialmente em relação à educação, atribuindo-se à família a responsabilidade primeira pela educação integral da prole. Ao Estado, havia “[...] o dever de colaborar para a execução dessa responsabi- lidade. [...] O art. 130 define o ensino primário como obrigatório e gratuito, mas a ênfase do texto [está no Estado subsidiar o] provimento da educação àqueles a quem faltarem recursos” (BULHÕES, 2009, p. 182). O período neoliberal de 1946 Com a Constituição Federal de 1946, o Estado perde a primazia, enquanto a sociedade a ganha. A liberdade objetivava maior participação popular na vida Legislação educacional brasileira14 social e econômica. Na Constituição de 1946, a educação se torna um direito público subjetivo, sendo dever do Estado e da família. “Os incisos I e II do art. 168 definem a obrigatoriedade e a gratuidade [do] ensino primário oficial” (BULHÕES, 2009, p. 182). No entanto, dispõem sobre o Estado subsidiar o “[...] provimento do ensino oficial posterior para aqueles que provarem a falta ou insuficiência de recursos” (BULHÕES, 2009, p. 183). Vale lembrar que é a partir da Constituição neoliberal de 1946 que surge o: [...] ciclo das leis de diretrizes e bases, sendo a Lei nº 4.024/61 [...] a primeira lei geral de educação. Essa Lei previa o Plano Nacional de Educação (PNE), [...] elaborado em 1962, revisto em 1965 e complementado pelo Conselho Federal de Educação (CFE) em 1966. O PNE visava a instrumentalizar os dois princípios fundamentais da LDBEN, ou seja, o direito de todos à educação e a igualdade de oportunidades (BULHÕES, 2009, p. 183). Ditadura Militar A Constituição de 1967, de inspiração militar, limitou o poder da sociedade civil. Ela foi decretada e promulgada pelo Congresso Nacional. “O direito à educação encontra-se previsto no art. 168, [que dispõe] da família, da edu- cação e da cultura” (BULHÕES, 2009, p. 183). Ainda segundo Bulhões (2009, p. 183), “O texto constitucional mantém alguns princípios gerais da educação, como o direito de todos, a liberdade de ensino, a igualdade de oportunidades e a limitação da gratuidade, mas inaugura o regime de bolsas de estudos restituíveis, no ensino superior”. A Emenda Constitucional nº 1 de 1969 [passa a ser a] nova Constituição [do País], com características mais ditatoriais que sua antecessora. [...] No entanto, manteve todos os dispositivos referentes à educação e reconheceu, pela primeira vez, [em seu] (art. 176), que a educação é um direito de todos e dever do Estado, devendo ser ministrada tanto no lar quanto na escola. As bolsas de estudos restituíveis se estendem ao ensino médio (BULHÕES, 2009, p. 183-184). Década de 1980: redemocratização do Brasil Entre 1983 e 1984, o Brasil se organizou em torno de um dos maiores movi- mentos de massa da história do País: o Diretas Já. Em 1985, terminou o período ditatorial. A organização de diferentes movimentos sociais, que lutavam pela redemocratização do Brasil e reivindicavam o retorno de um Estado de direito, contribuiu para a elaboração de uma nova Constituição Federal, Legislação educacional brasileira 15 promulgada em 5 de outubro de 1988 (BRASIL, [2016]), que estabeleceu o Estado Democrático de Direito. Chamada de Constituição Cidadã, ela mobilizou a sociedade brasileira e ampliou o rol dos direitos sociais (dentro do qual se insere o direito à edu- cação) e as atribuições do poder público. A declaração do direito à educação encontra-se bem detalhada, com maior abrangência e precisão de redação, e descreve os instrumentos jurídicos que garantam tal direito. O direito à educação aparece na Carta Magna já no art. 6º, pela primeira vez como um dos direitos sociais: “São direitos sociais a educação, a saúde, [...], o trabalho, [...], o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, [2016], documento on-line). Na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, [2016]), foram dedicados à educa- ção os artigos de 205 a 214 da seção I do capítulo III do título VIII, além do art. nº 60 das disposições constitucionais transitórias. Nota-se que a educação é considerada relevante pelo legislador e reconhecida como importante mecanismo na promoção da justiça social, mobilidade social e diminuição das desigualdades. O art. nº 205 dispõe que a educação é direito de todos e um dever do Estado (BRASIL, [2016]). Sua promoção tem como finalidade o desenvolvimento tanto da pessoa quanto da própria sociedade. O ensino começa a ser especificado no art. nº 206, que expõe como seus princípios norteadores (BRASIL, [2016], documento on-line): � igualdade de condições para o acesso e permanência na Escola; � gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; � garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida. O ensino superior é, pela primeira vez, posto como gratuito, no art. nº 207 (BRASIL, [2016]). Ele aponta que as universidades têm “[...] autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” (BRASIL, [2016], documento on-line). Além disso, devem obedecer ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. O detalhamento do direito à educação se dá no art. nº 208 (BRASIL, [2016], documento on-line): O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, prefe- rencialmente na rede regular de ensino; Legislação educacional brasileira16 IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Em 2009, a Emenda Constitucional nº 59 alterou a redação do inciso I, que passou a vigorar da seguinte forma: “A educação básica obri- gatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade,assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 2009, documento on-line). O art. nº 211 dispõe sobre a organização dos sistemas de ensino (BRASIL, [2016], documento on-line): A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 2º – Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na edu- cação infantil. § 3º – Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino funda- mental e médio. Os entes federados, em regime de colaboração, organizam as responsabi- lidades pela oferta do ensino em todos os níveis e modalidades da educação. A educação infantil é obrigatória e gratuita a partir dos 4 anos de idade, e a LDBEN garante a vaga na escola pública de educação infantil mais próxima de sua residência. O ensino médio é universalizado e gratuito. Em comparação com as constituições anteriores, é evidente o avanço em relação ao direito à educação. Também é possível perceber que, ao longo do período analisado, o direito à educação recebeu diferentes tratamentos, refletindo ideologias e valores da época. Para concluir, vale lembrar que não basta garantir direitos. Além disso, é imprescindível protegê-los e efetivá-los. Ainda há um longo caminho a trilhar em relação a isso. No entanto, o sistema educacional brasileiro está adequadamente estruturado e respaldado na legislação do País. Legislação educacional brasileira 17 Em 1948, foi apresentado à Câmara Federal um projeto de reforma geral da educação nacional, elaborado por três subcomissões: do Ensino Primário, do Ensino Secundário e do Ensino Superior. Foi desse projeto que nasceu a primeira LDBEN. Ela trouxe como novidade a maior liberdade das escolas na elaboração de programas e no desenvolvimento de conteúdos de ensino, além de proporcionar a criação de setores especializados nas esco- las para coordenar suas atividades. A primeira LDBEN também apresentou a equivalência entre os cursos propedêutico e profissionalizante, abrindo-se ao Ensino Superior, e uma ênfase no ensino da ciência como superior à religião. Referências BRASIL. [Constituição (1891)]. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de fevereiro de 1891). Rio de Janeiro: República dos Estados Unidos do Brasil, 1891. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao91.htm. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Emenda Constitucional n. 59, de 11 de novembro de 2009. Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da União... Brasília: Presidência da República, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc59.htm. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Lei n. 9.131, de 24 de novembro de 1995. Altera dispositivos da Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9131.htm. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 7 jun. 2021. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Legislação educacional brasileira 19 Dica do professor O vídeo a seguir aborda o conceito, os objetivos e os princípios de educação sob a Constitução Federal. Assista! Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/29a74474b00ce9cdeb1408d99d3800d2 Exercícios 1) A atual Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 5 de outubro de 1988. No que se refere à educação, ela determina: A) Que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. B) Que a educação, direito de todos e dever do município e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. C) Que a educação é direito de todos e dever da família. D) Que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração individual dos sujeitos, visando ao seu pleno desenvolvimento,seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. E) Que a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. 2) Segundo Demerval Saviani (2008), a educação brasileira não é um sistema. Como é vista a educação brasileira por esse autor? A) Um planejamento. B) Uma estrutura. C) Diretrizes. D) Um conjunto de planos educacionais. E) Um processo. 3) Com relação ao ensino fundamental, o que a Lei de Diretrizes e Bases considera? A) O acesso ao ensino fundamental é um direito público subjetivo. B) O acesso ao ensino fundamental não é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. C) O acesso ao ensino superior é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. D) O acesso ao ensino fundamental é direito privado dos órgãos, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. E) O acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. 4) O artigo 3o da LDB apresenta os princípios sobre os quais o ensino deve ser ministrado: "Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:" Escolha a alternativa CORRETA. A) Desrespeito à liberdade e apreço à intolerância. B) Existência apenas de instituições públicas. C) Vinculação entre a educação escolar, o trabalho voluntário e a renda familiar. D) Garantia de padrão de qualidade. E) Valorização da experiência escolar. 5) Tratando-se de educação, o que o poder público (Art. 80) deve incentivar? A) O desenvolvimento de programas de ensino presencial como recurso tecnológico aos vários níveis de ensino e como forma de promoção e ampliação da educação continuada. B) Incentivar o desenvolvimento de programas de ensino a distância como recursos de aprendizagem aos vários níveis de ensino e como forma de promoção e ampliação da educação continuada. C) O desenvolvimento de programas de ensino a distância como recurso tecnológico aos vários níveis de ensino e como forma de promoção e ampliação da educação continuada. D) O desenvolvimento de processos de ensino a distância como recurso tecnológico aos vários níveis de ensino e como forma de promoção e ampliação da educação continuada. E) O desenvolvimento de programas de ensino a distância como recurso tecnológico ao ensino infantil e como forma de promoção e ampliação da educação continuada. Na prática http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-seres/323- seLegisla%C3%A7%C3%A3o%20Educacionalcretarias-112877938/orgaos-vinculados- 82187207/13003-legislacao-educacionalVeja na prática a hierarquia da legislação educacional brasileira. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sistema educacional brasileiro Vídeo disponibilizado pelo canal Vinícius Reccanello de Almeida a respeito do sistema educacional brasileiro. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Legislação Educacional Leia mais sobre Legislação Educacional Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. LDB 9394/96 Atualizada em 2013/Lei 13.278/2016 que promove a mudança nos currículos dos diversos níveis da educação básica e Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/F0kmUGFHqFE http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-regulacao-e-supervisao-da-educacao-superior-seres/323-seLegisla%C3%A7%C3%A3o%20Educacionalcretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/13003-legislacao-educacional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm