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OS CONTOS DE FADAS E SUA INFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÂO INFANTIL RESUMO Essa monografia trata-se de uma pesquisa voltada para a investigação sobre como os Contos de Fadas influencia no desenvolvimento total da criança na Educação Infantil. O presente estudo, de cunho monográfico, de natureza exploratória e que tem como abordagem do problema uma pesquisa qualitativa, primeiramente faz um levantamento histórico do surgimento da Educação Infantil, assim como da Literatura Infantil, e suas relevâncias pra a formação da criança. Logo após foi realizado uma minuciosa análise sobre os Contos de Fadas: como surgiram, quais os principais autores e obras, suas características e personagens. Por fim, realizou-se uma pesquisa sobre a contribuição que os Contos de Fadas oferecem para o desenvolvimento infantil. Dentre as contribuições, pode-se citar que essas histórias possuem contribuições no campo moral, social e cognitivo da criança, além de incentivar o gosto pela leitura. Palavras-chave: Educação Infantil; Literatura Infantil; Contos de Fadas; Desenvolvimento. 1 INTRODUÇÃO A pesquisa aborda a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil, assim como fazer uma breve contextualização da educação infantil no Brasil e no mundo e analisar o importante papel que a literatura infantil possui neste nível de ensino. Diversas pesquisas foram feitas a respeito da importância de se contar histórias na Educação Infantil, não somente como distração, mas sim como auxílio no desenvolvimento infantil, e para que isso ocorra é necessário que a literatura seja inserida na vida da criança desde muito pequena. Os contos de fadas trazem histórias com diversos temas diferentes que fazem com que a criança desenvolva sua imaginação, conseguindo refletir sobre os casos ocorridos no conto, já que, geralmente, os contos de fadas trazem elementos que fazem parte da vida da criança, como o amor, as dificuldades da infância, a auto descoberta, a carência, dentre outros temas pertinentes a realidade infantil. Além de possuir esses elementos tão rotineiros da infância, as histórias ainda trazem seres mágicos que logo prendem a atenção da criança fazendo-a querer ouvi-las repetitivamente. Para que o aprendizado ocorra é necessário que os contos de fadas tenham algum valor significativo para as crianças, fazendo com que elas reconheçam suas dificuldades e ao mesmo tempo sugerindo soluções para seus problemas internos. Esses contos tem o poder de encantar na infância. Sabe-se como é importante despertar nas crianças a fantasia e a imaginação, levando-as ao mundo mágico de encantamento e magia. As histórias podem ser uma grande aliada ao educador, pois estas divertem, estimula o imaginário e ainda proporciona à criança uma atividade sadia, enriquecendo seu cognitivo e contribuindo ao desenvolvimento da imaginação e adaptação no contexto social. Além de estimular a imaginação e contribuir para a resolução dos conflitos internos no meio em que está inserida, a criança com o conto, pode também desenvolver e alcançar diversos objetivos, sendo esses: a expansão da linguagem infantil, facilitando a expressão corporal; estímulo à inteligência; conseguir trazer os conflitos das histórias para a realidade em que está inserida, resolvendo assim os problemas e dificuldades; socialização; formação e modificação de hábitos e atitudes sociais e morais Os contos de fadas têm um papel de suma importância, pois através da leitura o educador oferece várias situações que possibilitam o desenvolvimento integral da criança, sempre com a função de entreter, estimular a imaginação e principalmente resolver conflitos internos quando inserido no mundo social. É através do ato de ouvir essas histórias, que as crianças vão organizando seus sentimentos e construindo seu desenvolvimento cognitivo moral e social. Sendo assim, essa pesquisa busca analisar os benefícios que os contos de fadas podem trazer para o desenvolvimento psíquico e social da criança. Pretende-se contribuir para o melhor entendimento sobre as mensagens que são transmitidas nessas histórias e sua grande importância para o desenvolvimento cognitivo, imaginário, moral e social da criança na primeira infância. Para o embasamento teórico foi utilizado, principalmente, os estudos, Coelho (2000), Abramovich (1997) e Bettelheim (2004). A escolha do tema “Contos de fadas e sua influência no desenvolvimento da criança na Educação Infantil” partiu das considerações feitas pelas acadêmicas nos estágios remunerados e obrigatório, sendo este último exigido pela Universidade. Durante os estágios, percebemos que os contos de fadas são trabalhados, porém de maneira vaga, sem muitos objetivos. Sabemos que os contos de fadas são muito importantes para o desenvolvimento da imaginação, do cognitivo e do convívio social da criança. Ouvi-las na primeira infância estimula a construção de muitas ideias, através de descobertas, de lugares, de épocas, modos de agir, além de esclarecer melhor suas próprias dificuldades e encontrar um caminho para a resolução delas. Os contos de fadas trazem consigo muitas lições, resolução dos conflitos internos das personagens, e do meio social em que acontece a história, contribuindo grandemente no desenvolvimento da criança. Sabe-se que é através das histórias que a imaginação e a criatividade são desenvolvidas, desse modo, iremos analisar diferentes histórias dos contos de fada, a fim de trazê-las para a realidade da criança. Portanto, pretende-se com esta pesquisa proporcionar um maior esclarecimento sobre a contribuição dos contos de fadas para o desenvolvimento da criança da Educação Infantil. Para tanto surgiu a seguinte problemática: como os contos de fadas podem contribuir na formação do caráter da criança, na resolução dos conflitos ocorridos dentro e fora da sala de aula? A pesquisa teve como objetivo geral analisar as principais contribuições dos contos de fadas no desenvolvimento infantil. Já nos objetivos específicos tratou-se de contextualizar a partir das referências teóricas a educação infantil no Brasil e no mundo; fazer um levantamento histórico dos principais contos de fadas a partir literatura infantil e por último analisar como os contos de fadas influenciam no desenvolvimento do aluno da Educação Infantil. Durante as análises bibliográficas foi possível construir alguns resultados que justificam o fato dos contos de fadas serem importantes para a construção social, moral, psíquica e cognitiva do indivíduo. Pode-se perceber que apesar de possuírem origem celta, de se perderem no tempo, essas narrativas promove na criança o desenvolvimento pleno de estimular a imaginação, o que facilita a compreensão dos conflitos internos e do meio em que ela está inserida. A pesquisa possibilitou uma profunda análise sobre a importância dos Contos de fadas no desenvolvimento da criança durante a Educação Infantil aprofundando-se em várias questões envolvidas no tema principal, como a importância da Educação Infantil e da Literatura Infantil. Foi feito também uma minuciosa análise da origem e importância dos Contos de Fadas no desenvolvimento da criança como leitora e também na resolução de conflitos pessoais. 2 REFERENCIAL TEÓRICO De acordo com Abramovich (1997), ter o hábito de contar histórias para as crianças desde sua primeira infância poderá influenciar no desenvolvimento e formação delas, logo que, ao escutar histórias desde pequena, poderá ser o início de uma caminhada para transformar-se em um bom leitor. 2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL E NO MUNDO A Educação Infantil é considerada um fato novo na sociedade, pois durante séculos não houve nenhuma instituição que educasse as crianças, eleseram mantidas em casa e aprendiam as tradições que lhe eram passadas de seus familiares. Também não havia nenhuma preocupação com a criança, ela era tratada como um adulto em miniatura, e assim como as mulheres, elas não tinham valor algum à sociedade. De acordo com Ariés (1981), a infância durante a idade média era algo desconhecido. Durante o período moderno, época em que a era medieval deu lugar a era capitalista, mais precisamente entre o século XVI e XVII, houve uma mudança no olhar que se tinha a criança, Ariés (1981), acredita que a infância é um produto do mercantilismo, ou seja, produto da história moderna, pois foi através da mudança na sociedade que surgiram novos pensamentos e necessidades sociais, o que influenciou diretamente na estrutura familiar. Com isso a criança antes vista como um ser sem importância começou a receber cuidados especiais e educação. Com a valorização infantil surgiu também um novo modelo doméstico, onde a criança torna-se o centro familiar, ou seja, o sujeito do qual mais necessita de cuidados, por agora se r considerado frágil, assim dá-se início a famílias harmônicas e mais dedicadas uns aos outros. Segundo Bujes (2001), a Educação Infantil surgiu relacionada a escola moderna e ao pensamento pedagógico moderno, pois com este novo olhar para a infância surgiu também a necessidade de um espaço específico para a educação das mesmas. De acordo com Luzuriaga (1959), a escola moderna surgiu no período Iluminista, século XVIII, e iniciou-se na Alemanha, sucedendo as escolas religiosas mantidas pela Igreja medieval. Foi então que surgiram as escolas públicas, de responsabilidade do Estado, que tinha como objetivo formar súditos, era uma educação autoritária, formadora de militares e funcionários. No final do século XVIII, com a Revolução Francesa, surge uma nova educação: Educação pública nacional, com a finalidade de formar cidadãos. E por último a escola moderna propõe uma educação pública democrática, parecida com a que temos na atualidade, com o intuito de trabalhar na formação completa do homem. As pré-escolas e creches vieram após a escola, devido a revolução industrial onde muitas mulheres saíram para trabalhar. Durante o século XVIII, surgiu na França e Inglaterra as primeiras pré-escolas, Kuhlmann Junior (2000), diz que essas instituições tinham um forte caráter assistencialista, que pretendiam afastar as crianças do trabalho escravo. A partir do século XIX, iniciaram-se as primeiras pré-escolas destinadas a alfabetização, e somente em meados do século XX, a Educação Infantil passou a ser vista como uma Instituição Educacional. No Brasil não era diferente, o contexto histórico da Educação Infantil, se parece em diversos aspectos com a história da Europa, mas também possui características próprias. Durante o século XVIII, as crianças derivadas de famílias pobres eram feitas de escravas, de acordo com Kuhlmann Junior (2000), as crianças entre 6 e 12 anos praticavam atividades mais leves e eram consideradas auxiliares, depois que completavam 12 anos já eram consideradas adultos, aptas para o trabalho e para a vida sexual. As crianças oriundas de famílias rica e branca começava a estudar aos 6 anos de idade. Segundo Oliveira (2011), até a metade do século XIX praticamente não existiam no Brasil instituições de atendimento a crianças pequenas, elas eram educadas em casa por suas mães. Como no Brasil grande parte da população, nesse período moravam na área rural, os fazendeiros eram quem assumia a educação das crianças que por ali moravam, muitas órfãs ou abandonadas por conta de serem filhos de índias e negras com homens brancos, ricos e casados. Na cidade quando uma criança era abandonada, por conta de algum motivo social ou financeiro, eram levadas a “roda dos expostos” que de acordo com Oliveira (2011, p.59) eram: “cilindros ocos de madeira, giratórios, construídos em muros de igrejas ou hospitais de caridade que permitiam que bebês fossem neles deixados sem que a identidade de quem trazia precisasse ser identificada”. Umas das influencias europeias no Brasil foi a criação do Jardim de Infância, que expandiu devido aos pensamentos da Escola Nova, vindo da Europa, que foi muito bem recebido por algumas pessoas influentes do meio social e também criticado por alguns políticos daquele período. O Jardim de Infância, como traz Oliveira (2011), foi inicialmente criado, em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo, a favor de ajudar crianças carentes, com isso acreditava-se que eles não poderiam ser mantidos pelos órgãos públicos, então ficaram a cargo de entidades privadas. Somente alguns anos depois o setor público passou a ser o responsável pelos Jardins de Infância, tornando-se assim a primeira etapa do ensino primário, porém eles foram destinados à educação das crianças vindas de famílias ricas. Assim como na Europa, as primeiras creches brasileiras também tinham caráter assistencialista, construídas para ajudar as famílias pobres e aos filhos das operárias de indústrias. O movimento social higienista, composto por médicos e também pela burguesia foi um forte influente para o surgimento das primeiras creches no Brasil, e tinham como objetivo combater a mortalidade infantil, algo muito comum nesse período, por conta da falta de saneamento que traziam diversas doenças e bactérias. E sofreu também influência das novas leis trabalhistas, que precisavam de um lugar em que as crianças ficassem para que seus pais pudessem trabalhar, e assim não faltar mão de obra nas indústrias. Existia uma dicotomia dentro da educação infantil no Brasil, as escolas eram dividida em jardins de infância, destinado aos filhos dos burgueses e as creches que recebiam as crianças oriundas de famílias pobres. Kuhlmann Junior (2000), aponta que, dentro dos fatos históricos, houve um movimento que também ajudou no reconhecimento da importância da Educação Infantil, o: Programa Educacional do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932, que tinha como objetivo o “desenvolvimento das instituições de educação e assistência física e psíquica às crianças na idade pré-escolar e de todas as instituições pré-escolares e pós-escolares” (FARIA apud KUHLMANN JUNIOR, 2000, p.9). Como já foi mencionado, a Educação Infantil passou a ter caráter educacional somente no final do século XX: Na quarta última parte dos anos 1900, a educação infantil brasileira vive intensas transformações. É durante o regime militar, que tantos prejuízos trouxe para a sociedade e para a educação brasileiras, que se inicia esta nova fase, que terá seus marcos de consolidação nas definições da Constituição de 1988 e na tardia Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. A legislação nacional passa a reconhecer que as creches e pré-escolas, para crianças de 0 a 6 anos, são parte do sistema educacional, primeira etapa da educação básica (KUHLMANN JUNIOR, 2000, p. 7). Nesse período, as instituições de Educação Infantil foram divididas da seguinte forma: as creches atendiam crianças de 0 a 3 anos, em tempo integral ou parcial, e as escolas denominadas jardim de infância ou pré-escolas eram destinadas a crianças de 4 a 6 anos. Bujes (2001), aponta que a partir deste período a escola precisa trabalhar o cuidar relacionado ao educar, pois são crianças muito pequenas que necessitam de cuidado integral: Por outro lado, a criança vive um momento fecundo, em que a interação com as pessoas e as coisas do mundo vai levando-a a atribuir significados aquilo que a cerca. Este processo que faz com que a criança passe a participar de uma experiência cultural que é própria de seu grupo social, é o que chamamos de educação (BUJES, 2001, p. 16). É necessário que haja uma integração entre o cuidar e o educar, sem priorizar nenhuma das partes, já que ambas são importantes para o desenvolvimentoinfantil. Portanto, o atendimento institucional da Educação Infantil, no Brasil, foi marcado pelo caráter assistencial. Em 1896, em São Paulo, nasceu a primeira instituição pública que atendia crianças entre 4 e 6 anos, da classe média. As crianças mais pobres eram atendidas em creches de cunho caridoso, que dependiam em geral de voluntários. Ao longo do tempo, a Educação Infantil, e as funções dos profissionais foram se modificando. O marco inicial se deu com a Constituição de 1988, que traz a educação como direito de crianças de 0 a 6 anos, e obrigação do Estado, reafirmando esse aspecto na Lei de Diretrizes e Base 9394/96 (LDB), que coloca esse nível de ensino como parte da educação básica. Com a LDB foi dividido em dois níveis de atendimento, em creches, para crianças de 0 a 3 anos e, em pré-escolas para crianças de 4 a 6 anos. Em 1998, foram colocados em circulação pelo Ministério da Educação, os Referências Curriculares Nacionais para a educação infantil, Diretrizes Curriculares Nacionais da educação infantil e outros documentos que possuem propostas direcionadas ao atendimento de crianças até 6 anos. 2.1.2 A Importância da Educação Infantil A Educação Infantil, durante um longo período, tinha como finalidade ajudar crianças de baixa renda, sem nenhum interesse pedagógico, somente assistencial, devido a isso essas instituições eram mantidas com baixo custo e com profissionais que não eram capacitados, para assim, se obter mão de obra barata e evitar custos, com isso somente existia uma preocupação com o cuidado e nenhuma com o educar. Com a Constituição Federal de 1988, e a LDB 9394/96, a Educação Infantil passou a ser vista com outros olhares pela sociedade brasileira. Oliveira (2011), sem vírgula relata que diversos movimentos feministas e sociais possibilitaram a conquista de uma nova Constituição em 1988, que reconheceu a Educação Infantil como um direito da criança e dever do Estado. Assim como na LDB que traz em seu artigo 29 que a finalidade da Educação Infantil é “o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996, p. 22). Neste artigo percebe-se que passa a existir uma preocupação com o educar de fato na Educação Infantil, visando uma interação entre as crianças e os adultos, a fim de proporcionar diversas situações com a criança, para que elas comecem a tomar significado do que é a sociedade em que ela vive e o papel dela dentro dessa sociedade. No ano de 2013 houve uma alteração no art. 29 onde se estabelece que crianças de até 5 anos de idade esteja matriculadas em uma escola de Educação Infantil. A Educação Infantil passou a seguir uma proposta pedagógica com o intuito de valorizar a criança como alguém importante na sociedade, que possui direitos como qualquer outro cidadão, portanto: Na educação infantil, hoje, busca-se ampliar certos requisitos necessários para adequada inserção da criança no mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crítico (autonomia, pensamento divergente). Tal ampliação é feita por intermédio de diversas experiências nas quais conhecimentos historicamente elaborados são elementos mediadores do desenvolvimento infantil (OLIVEIRA, 2011, p. 50). Para que esses requisitos ocorressem de fato na Educação Infantil, o artigo 62 da LDB traz que para se trabalhar nas instituições de Educação Infantil é preciso ter nível superior ou formação de docente em nível médio. Os documentos Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, que apresentam as normas e princípios da educação básica brasileira,sem vírgula expõem as seguintes características da Educação Infantil no Brasil: As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade por meio de profissionais com a formação específica legalmente determinada, a habilitação para o magistério superior ou médio, refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às necessidades básicas de todas as crianças. (BRASIL, 2013, p. 84). A Educação Infantil atual tem como objetivo o cuidar entrelaçado ao educar, cabendo ao professor mediar esses dois processos. O cuidado com a criança é de extrema importância na Educação Infantil, pois se tratam de crianças muito pequenas, no Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil (RCNEI), revela que o cuidado é parte integrante desta etapa da educação da criança, e que exige conhecimentos e habilidades que vão muito além dos conhecimentos pedagógicos, e também possui um papel fundamental no desenvolvimento integral da criança, já que é nessa fase que os infantes estão aprendendo sobre o que é a afetividade, e também os cuidados básicos de saúde. De acordo com o RCNEI: Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998, p.23). Educar na Educação Infantil está relacionado ao brincar, pois é através de brincadeiras direcionadas que o aluno irá desenvolver a imaginação, já que eles recriam outros papeis enquanto brincam. Como citado na LDB 9393/96 o profissional que deseja atuar na Educação Infantil, precisa ter concluído o curso superior em Pedagogia, ou possuir um diploma de curso técnico voltado para a educação, denominado atualmente como Formação de docentes. Porém, não são em todas as escolas que exigem uma formação do professor, muitas vezes que trabalha em creches e pré-escolas, são pessoas sem nenhuma formação e conhecimento específico. No artigo 89 da LDB consta que há um período dedicado para o profissional de Educação Infantil se habilitar na área, pois não serão mais admitidos profissionais que não se enquadram nos itens exigidos. O professor de creches e pré-escolas precisa estar preparado e assumir uma total responsabilidade pela criança, e esta responsabilidade, como relata Bujes (2001), possui inúmeros conflitos, pois exige diversas tarefas, portanto o professor que escolher a profissão precisa se dedicar ao máximo ao seu trabalho, a pensadora Hannah Arent enfatiza que: pela concepção e pelo nascimento, os pais humanos, não apenas dão vida aos seus filhos como, ao mesmo tempo, os introduzem no mundo. Pela educação, os pais assumem por isso uma dupla responsabilidade— pela vida e pelo desenvolvimento da criança, mas também pelo continuidade do mundo. Estas duas responsabilidades não coincidem de modo algum e podem mesmo entrar em conflito. Num certo sentido, a responsabilidade de desenvolvimento da criança vai contra a responsabilidade pelo mundo: a criança tem necessidade de ser especialmente protegida e cuidada para evitar que o mundo a possa destruir (ARENT, 1961, p.8). A família é o principal responsável pela criança desde o seu nascimento, mas o professor precisa caminhar junto com eles diante dessa responsabilidade, pois é, no espaço escolar, que as crianças darão início na vida em sociedade passando assim pelo processo da educação, e o professor é o principal agente desse processo que é a educação. Segundo o RCNEI,para que a educação seja um processo que envolva toda a formação pessoal e social da criança, a Educação Infantil foi dividida em sete eixos: identidade e autonomia, movimento, artes visuais, música, natureza e sociedade, matemática e linguagem oral e escrita. Dentro do eixo identidade e autonomia traz a importância das interações sociais das crianças com os adultos e com outras crianças, e dentro dessas interações encontram-se as seguintes brincadeiras que ajudam na formação da identidade pessoal e social da criança: a imitação, o faz-de-conta, a oposição, a linguagem e a apropriação da imagem corporal. 2.1.3 A Contação de História na Educação Infantil Para Abramovich (1997) o faz-de-conta, a linguagem e até mesmo a imitação englobam-se na contação de história, pois por meio das histórias a criança descobre um universo novo, que desperta seu interesse e também sua curiosidade. A contação de história existe há milhares de anos, é uma das atividades mais antigas existentes, contam-se histórias desde o surgimento do homem, antes mesmo da existência da escrita. E mesmo hoje muitas famílias ainda têm o hábito de contar histórias, avós, pais e mães podem passar informações preciosas da cultura familiar para as crianças através delas. Abramovich (1997, p. 16) relata que o primeiro contanto que as crianças têm com textos é pela oralidade por isso: “é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...” E essa prática não é importante somente no seio familiar, dentro das escolas o hábito de contar histórias pode influenciar o aluno de diversas formas, inclusive na formação do mesmo como leitor, no incentivo da imaginação, na aprendizagem de palavras desconhecidas e conhecendo outras culturas também. Mesmo que na Educação Infantil os alunos sejam muito pequenos, é de fundamental importância o hábito de contar histórias a eles também, pois mesmo que ainda não saibam ler, eles já despertam, desde pequenos, o gosto por histórias. O professor de Educação Infantil, para se trabalhar a imaginação e o faz-de-conta, para obter um resultado satisfatório com seus alunos, precisa estabelecer o hábito de contar história as crianças, e são inúmeras as possibilidades de praticar essa atividade, e para que ocorra conforme foi esperado, precisa ser bem planejado. Abramovich (1997) diz que contar história é uma arte, portanto o professor precisa se preparar para aplicar essa atividade. Muitos professores usam os textos como pretextos para passar o tempo na sala de aula, fazendo um mau uso dos mesmos. Segundo a autora “quando se vai ler uma história – seja qual for – para crianças, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante... E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias) [...]” (1997, p.18). Para que a contação de histórias ocorra é preciso que o professor esteja atento ao tema que vai ser exposto à criança, e não seja feita com improviso, pois isso pode acarretar um mal estar durante a leitura, devido ao fato de o professor não conhecer o que está lendo. A contação de história exige um trabalho antecipado do professor, para que o mesmo esteja ciente sobre o conteúdo do livro, para que no momento da leitura ele a faça de modo que os alunos se emocionem e tenham curiosidade em ouvi-la. O modo como a história é contada também é importante para Abramovich (1997), que traz alguns modos de aproveitar o texto no momento da contação: É bom que quem esteja contando crie todo um envolvimento, de encanto... Que saiba dar pausas, criar os intervalos, respeitar o tempo para o imaginário de cada criança, construir se cenário, visualizar seus monstros, criar seus dragões, adentrar pela casa, vestir a princesa, pensar na cara do padre, sentir o galope do cavalo, imaginar o tamanho do bandido e outras coisas mais... (ABRAMOVICH, 1997, p.21). Se o professor de Educação Infantil estiver disposto a se dedicar a contação de história as aulas terão mais significado para as crianças, trazendo mais aprendizagens para as mesmas, pois as histórias têm muito a dizer e a ensinar. Trabalhar com histórias literárias na educação infantil, muitas vezes, pode parecer um trabalho sem muitos fundamentos, mas é justamente o contrário, apesar da criança ser um pré- leitor, ou seja, ainda não dominar a técnica da leitura, ele pode sim aprender muito através delas, se identificando muitas vezes com as mesmas. São diversos os textos que podem ser usados para a contação, são eles: lendas, fábulas, poesia, poema, contos de fadas, entre muitos outros. Existe um leque muito grande de textos para as crianças dentro da literatura infantil, que pode ser muito bem aproveitado pelo professor, como veremos adiante. 2.2 LITERATURA INFANTIL Muitos estudos procuram entender o que é de fato a Literatura Infantil, se é um meio pedagógico de trabalho ou se pode ser considerado uma arte. Por levar em seu nome o adjetivo “infantil” acredita-se que seja uma literatura sem muita importância, porém o que será visto nesta pesquisa é que a Literatura Infantil é tão válida e preciosa como qualquer outra literatura. Coelho nos traz a seguinte definição de literatura infantil: A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização (COELHO, 2012, p.27). A literatura infantil origina-se da literatura geral, considerada a literatura para adultos, das quais possuem diversas obras clássicas e autores renomados, mas mesmo essa literatura tão rebuscada traz, por meio da ficção, uma realidade da qual os leitores se identificam, e são esses temas que tanto lembram a vida real que fizeram com que diversas obras, de diversos tempo diferentes, sejam apreciadas até nos dias de hoje. Com a literatura infantil não é diferente, seus temas são pertinentes a qualquer realidade, a qualquer tempo e a qualquer espaço, atravessando séculos e tornando-se também grandes clássicos. Coelho (2000),sem vírgula aponta que existe uma questão a respeito da Literatura Infantil em relação a sua natureza: ela pertence à arte literária ou à área da pedagogia? E de acordo com a autora: se analisarmos as grandes obras que através dos tempos se impuseram como “literatura infantil”, veremos que pertencem simultaneamente a essas duas áreas distintas (embora limítrofes e, as mais das vezes, interdependentes): a da arte e a da pedagogia. Sob esse aspecto, podemos dizer que, como objeto que provoca emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de seu leitor, a literatura infantil é arte. Sob outro aspecto, como instrumento manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área da pedagogia (COELHO, 2012, p.46). Para Arroyo (2011, p.12) a Literatura Infantil: “não pode ser confundida com exercícios intelectuais ou pedagógicos estritos, fórmulas de moral ou de pureza gramatical, variáveis em suas vinculações históricas”, para o autor a Literatura Infantil é feita exclusivamente para o gosto infantil, como arte e não como pedagogia. Portanto, a Literatura Infantil não pode ser considerada um entretenimento, pois ela exerce mais de uma função na vida da criança, ela além de ser informativa ainda auxilia no processo da educação. Considerando essas questões, a Literatura Infantil, não está relacionada com temas pobres e sem significado, e também não está a serviço unicamente da descontração, muito pelo contrário, nela se encontra a mesma qualidadepertencente aos grandes clássicos. 2.2.1 Contexto Histórico da Literatura Infantil Com base na tradição oral, e na contação de histórias, a Literatura Infantil é um dos gêneros literários mais recentes, que teve seu início no século XVIII, período em que se obteve a ascensão da família burguesa, durante o Iluminismo, onde, conforme já foi dito, passou-se a ter um olhar diferente para as crianças, antes vista como um adulto em miniatura. Esse novo olhar fez com que a infância fosse vista como a idade de ouro, principalmente por conta das industrializações, que de certa forma, passou a lucrar mais com a criança sendo vista como algo para ser melhor cuidado, com isto, segundo Zilberman a literatura infantil surge a partir das exigências da época do qual: Trata-se da emergência da família burguesa, a que se associam, em decorrência, a formação do conceito atual de infância, modificando o status da criança na sociedade e no âmbito doméstico, e o aparecimento de aparelhos ideológicos que visarão preservar a unidade do lar e, especialmente, o lugar do jovem no meio social (2003, p. 34). No período Iluminista, de acordo com Zilberman (2003), houve uma mudança na estrutura familiar, antes centrada na figura patriarcal, e depois voltada para uma família mais harmoniosa, onde existe o afeto. A mulher se torna a dona do lar e passa a ser responsável pela casa e pela criação das crianças, e a infância passou a ser vista como um período onde a criança necessita de cuidados e educação. É nesse contexto que começam a surgir os primeiros escritos para as crianças, que inicialmente eram vistos como pedagógicos, mas sua estrutura peculiar logo contraria a ideia de ser escrito para fins que não sejam o da arte. Nessa direção, Os autores mais conhecidos da época são: o francês Charles Perrault (1628-1703), que escreveu os Contos da mamãe ganso, os alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), mais conhecidos como os irmãos Grimm, autores de obras como Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Branca de Neve, Cinderela, e diversas outras, e o dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de contos como O sapato vermelho, O menino mal, A pequena sereia, A meninas dos fósforos, entre outras. Segundo Zilberman (2013) os primeiros escritos deste gênero foram feitos por professores e pedagogos, sem nenhuma intenção literária, devido a isso a Literatura infantil é, até hoje, vista como uma colônia da pedagogia. No Brasil a Literatura, por um longo período, foi influenciada pela literatura europeia, pois era colônia de Portugal, não existia até então uma literatura brasileira. Devido a isso a Literatura Infantil também era estrangeira, de acordo com Sandroni: No entanto, seu aparecimento não se dá por acaso. Foi preciso que muitos outros, aqui chamados fundadores da literatura infantil brasileira, tenha dado sua contribuição sob a forma inicial de traduções das obras produzidas na Europa para o público infantil, fossem elas didáticas ou de pura criação, e em seguida obras destinadas à escola escritas num português já abrasileirado com o fito de aproximar a linguagem escrita da falada (2011, p. 29). Dentre os principais tradutores estavam Manuel Bonfim, Olavo Bilac, Coelho Neto e Alberto Figueiredo Pimentel. Segundo Arroyo: A exemplo, portanto, da literatura infantil europeia, a nossa literatura, que nesse primeiro momento era somente nossa quanto ao fato de ser traduzida em língua portuguesa abrasileirada, trazia em seu bojo a preocupação com o aspecto formativo da literatura. Diferenciava-se, entretanto, da literatura veiculadas nas escola, marcada por ideias pedagógicos e se qualquer alusão ao elemento maravilhoso (ARROYO, 2011, p.178). No período colonial poucos livros eram circulados em terras brasileiras, pois o governo pretendia manter seus colonos na ignorância, e livros que lhes pudessem enxergar outra realidade, como a ideia de liberdade, eram muito difíceis de ser encontrados, praticamente não havia livrarias e bibliotecas, além da maioria da população, principalmente os pobres, serem analfabetos. Somente a elite tinha acesso aos livros e a uma boa educação. Com a vinda de D. João VI, e grande parte da sua corte, para o Brasil em 1808, houveram algumas mudanças, além da primeira biblioteca, vinda com D. João, o Rei ainda deu permissão para a construção de várias escolas de primeiras letras e de ensino superior. Esse acontecimento foi muito importante para o Brasil também por conta do desenvolvimento urbano e surgimento de diversos empregos. Segundo Sandroni (2011) esse foi a momento perfeito para que houvesse o início de uma Literatura Infantil brasileira. É com Monteiro Lobato por meio do clássico Sítio do Pica Pau Amarelo, que se inicia a Literatura Infantil brasileira de fato. 2.2.2 Monteiro Lobato José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), nascido na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, é o escritor pioneiro da Literatura Infantil do Brasil, além de ser um dos maiores autores de obras infantis da história deste país. Era formado em direito e trabalhou em um cargo público, também era herdeiro das fazendas de se Avô. É considerado o grande precursor da Literatura Infantil no Brasil, como destaca Coelho (2000, p.138) “foi Monteiro Lobato que, entre nós, abriu caminho para que as inovações que começavam a se processar no âmbito da literatura adulta (com o Modernismo) atingissem também a infantil”. Escreveu por volta de trinta livros, tanto para adultos, quanto para crianças. Foi diretor da Revista do Brasil, da qual, algum tempo depois tornou-se proprietário, e então publicou seu primeiro livro Urupês, um livro de contos que já o colocou entre os melhores escritores brasileiros. Sandroni (2011, p.49) destaca que “é nessa fase de sucesso editorial que inicia sua obra destinada as crianças e na qual, mais do que qualquer outra área de sua atuação, conhece o sucesso do público e da escrita”. A primeira obra de Lobato para as crianças é A Menina do Narizinho Arrebitado, em 1920, logo mais, em 1931 ele reeditou a história que passou a chamar Reinações de Narizinho. A partir desta história que são apresentados os famosos personagens de Monteiro Lobato como: Narizinho, D. Benta, Tia Anastácia, Emília, Pedrinho, entre tantos outros, e também é revelado o ambiente mágico em que se passa a história: O Sítio do Picapau Amarelo. De acordo com Sandroni: O que permite unificação de todo esse legado escrito numa obra coesa é, basicamente, a galeria de personagens criados pela imaginação de Monteiro Lobato e o microcosmo em que habitam: o Sítio do Picapau Amarelo. [...] cada um dos seus habitantes corresponde a uma faceta da personalidade desse escritor múltiplo e representa um aspecto de realidade com a qual a criança brasileira se identifica (SANDRONI, 2011, p. 55). Monteiro Lobato faz uma dura crítica a sociedade de sua época em suas obras, desmistificando a sociedade tradicional, seus personagens tem voz ativa dentro do sítio, prezando a liberdade e a individualidade de cada um, com isso ele mostra a importância da democracia, e de todos terem voz em suas comunidades. Além da crítica a sociedade, Monteiro Lobato também faz em suas obras reflexões através do humor e da ironia, e para isso ele faz de Emília sua porta voz. Emília, uma boneca de pano, é uma personagem que está sempre em busca da verdade, os outros personagens do sítio, de acordo com Coelho (2000), são personagens modelos, cheios de boas qualidades, enquanto que a boneca de pano tem uma personalidade forte com características individualistas, segundo a autora: Como intenção de valorização, vemos o espírito de líder que caracteriza a boneca, sua ascendência “mandona”, mas brejeira, sobre os que convivem com ela ou ainda a obstinação com que ela sabe querer as coisas ou como mantémseus pontos de vistas ou suas opiniões. Positiva é também sua incessante mobilidade, o seu fazer coisas, sua curiosidade aberta para tudo ou a franqueza rude com que ela manifesta sua crítica aos “erros” ou “tolices” dos que a rodeiam ou da nossa civilização (COELHO, 2000, p. 144). Monteiro Lobato tornou-se um dos mais importantes influentes da Literatura Infantil brasileira devido ao fato de ter sido o primeiro autor a escrever de fato para o público infantil, acreditando que as crianças têm inteligência o suficiente para entender suas obras. Sandroni afirma que: Seus textos estão cheios de citações e alusões que remetem a outros personagens, a outras épocas históricas e seus protagonistas. Ele foi um autor engajado, comprometido com os problemas de seu tempo. Tinha um projeto definido: influir na formação de um Brasil melhor através das crianças. A partir dele, no Brasil, a literatura infantil perde uma de suas principais características, a de ser um instrumento de dominação do adulto e de uma classe, modelo de estruturas que devem ser reproduzidas. Passa a ser fonte de reflexão, questionamento e crítica (2011, p. 61). As obras de Monteiro Lobato relacionam o mundo real com o mundo imaginário, trazendo tanto personagens que remetem a realidade infantil, quanto personagens fantásticos, vivendo em um mesmo ambiente que é o Sítio do Picapau Amarelo, isso, entre tantas outras coisas que já foram expostas, faz que com as obras de Lobatos sejam clássicos, lidos por gerações de crianças. Nos anos que sucederam Monteiro Lobato a literatura infantil brasileira cresceu e surgiram diversos novos bons autores, entre eles pode-se citar Ana Maria Machado, Bartolomeu Campos de Queirós, Mariana Colassanti, Lygia Bojunga, Ricardo Azevedo, entre muitos outros. 2.2.3 A Importância da Literatura Infantil na Escola A escola é o principal espaço de formação da criança, é nela que os alunos se iniciarão na vida em sociedade e também na leitura, portanto, para Coelho: E, nesse espaço, privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais abrangente do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em ralação ao outro; a leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente (...) (COELHO, 2000, p.16). Quando se trata de Educação Infantil, muitos pensam em se tratar somente de brincadeiras e cuidados, como já foi visto a Educação Infantil é muito mais que somente isso, pois é o momento em que a criança está se descobrindo como sujeito e é, portanto, nesse período que se deve inserir a Literatura em suas rotinas. A Literatura Infantil precisa estar presente no cotidiano da criança desde muito pequena se a intenção é formar futuros leitores, sem ser usada apenas como entretenimento ou passatempo. Para Dalvi (2013): Na educação infantil, o trabalho com a oralidade e com as formas populares frequentemente não é visto como uma inserção no mundo da literatura. No entanto ela é imprescindível: não apenas porque a literatura ajudaria as crianças a pensarem e a enfrentarem seus dilemas e os problemas subjetivos, psíquicos, indentitários, sociais; o trabalho com a literatura é fundamental também para que, a partir de práticas efetivas de aproximação do literário, as crianças percebem a sonoridade nas quadrinhas, nos poemas infantil e nas trovas (...) (DALVI, 2013, p. 71). Além de auxiliar a criança na resolução de conflitos existentes na sociedade onde vivem, pois em muitas histórias podem existir temas pertinentes a realidade da criança, como a pobreza na infância e maus tratos dos pais como se encontra na história de João e Maria. Abramovich (1997) diz que por meio das histórias os pequenos irão sorrir, trabalhar a imaginação, solucionar problemas, sentir diversas emoções, conhecer diversos lugares e se encantarem cada vez mais com o mundo das palavras, desenvolvendo assim o gosto pela leitura podendo até se tornarem grandes leitores. Para Chartier (2008, p. 128-129) “não se deve esquecer a literatura, pois as leituras infantis não têm como objetivo distrair ou habituar as crianças a utilizarem esses textos, mas que é através dessas leituras que se forma a personalidade, a inteligência, o caráter (...)”. Ana Maria Machado (2009) aponta que não se pode forçar uma criança a ler ou a gostar de uma história, para a autora ler é um direito que as pessoas possuem e não um dever a ser seguido, portanto o professor não pode forçar o aluno a ler ou a gostar de um livro, mas sim motivá-los a criar o hábito da leitura. Machado também traz a definição do que é um livro clássico que: “não é um livro antigo e fora de moda. É um livro eterno que não sai de moda” (2009, p.15) e que para inserir essas histórias na rotina da criança não precisa ser algo forçado mas sim bem trabalhado, sem forçar a criança, para que ela, espontaneamente, tenha a curiosidade em ler essas obras. Para que se forme bons leitores é fundamental a participação do professor nesse processo, e para isso é importante também que o professor seja um sujeito leitor para que ele esteja preparado para escolher as obras que usará em suas aulas. 2.3 CONTOS DE FADAS Os contos de fadas tratam-se de um gênero literário que vem passando de geração em geração há séculos, através da oralidade. Bettelheim (2004), explica que os contos de fadas além de divertirem a criança, também influenciam no desenvolvimento da sua personalidade, proporcionam reflexões e resoluções dos conflitos internos e externos, além do mais, possibilitam o desenvolvimento com o meio social em que ela está inserida. 2.3.1 A Origem dos Contos de Fadas Schneider e Torossian (2009) abordam que os primeiros contos de fadas podem ter uma origem céltica (século II A.C.), pois há diversos contos registrados nessa época que trazem características bastante semelhantes a essas histórias, como, segundo as autoras, Apuleio, filósofo do século II D.C, e seu romance O Asno de Ouro que em muito lembra o conto A Bela e a Fera, também no Egito nos papiros dos irmãos Anúbis e Bata foram encontrados registros de contos de fadas, mas esses contos ainda não eram dedicados às crianças já que possuíam temas pertinentes a vida adulta, como o canibalismo e adultério. Coelho (2012) também afirma que os contos de fadas receberam influencia celta e inicialmente apareceram como poemas com heróis e heroínas, onde as aventuras estavam ligadas ao sobrenatural, a coisas além da vida humana e visavam à realização interior. Somente no século XVII segundo Ariés (1981), as crianças passaram a ser vistas como um sujeito com suas peculiaridades e não mais como mini adultos. A partir de então, surgiu uma literatura voltada especificamente para elas. A primeira coletânea de contos para o público infantil foi publicada nesse mesmo século, na França, durante o reinado de Luís XIV. Mas só no século XIX que nasceram os estudos da literatura popular e folclórica de cada nação. Coelho (2012) deixa claro que a necessidade do homem contar história surgiu quando o sujeito primitivo buscava explicações para o mundo. Através dos mitos eles tentavam entender os fenômenos da natureza. Um exemplo é a existência de mitos que relatavam que a chuva, o sol, o relâmpago e a força dos mares, eram todos controlados por deuses, deusas e sereias. Corso e Corso (2006, p. 16) explicam que: As narrativas populares europeias, matrizes dos modernos contos infantis que, a partir das adaptações feitas no século XIX, passaram a integrar a rica mitologia universal, não apresentavam a riqueza simbólica que faz dos contos de fadas um depositário de significações inconscientes abertos à interpretação psicanalítica.Na verdade, eles nem eram destinados especificamente às crianças, nem parecem aliados a uma pedagogia iluminista. Dessa forma pode-se perceber que os contos de fadas não eram indicados inicialmente para as crianças pois, eram apenas relatos de situações cotidianas que expressavam as dificuldades e os conflitos humanos. Só foram constituídos para a literatura infantil europeia durante toda a Idade Média e a Idade Moderna. Corso e Corso (2006) afirmam que os contos de fadas que encantam todas as gerações humanas datam do século XIX e são derivadas de uma criação de família nuclear e da criação da infância tal como conhecemos hoje. O grande pioneiro dessas obras clássicas é o francês Charles Perrault (1628-1703). Seu primeiro conto foi Pele de Asno em 1694, redigido em versos seguidos por uma versão em prosa de A Bela Adormecida no Bosque, sendo essa uma adaptação de uma história medieval que relatava o estupro, escrita em uma revista francesa. Entre suas principais obras está o livro publicado em 1697 com o nome de Os Contos da Mamãe Gansa que incluíam várias histórias, entre elas: Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela, O Pequeno Polegar e Chapeuzinho Vermelho. Segundo Coelho (2012) esses contos traziam uma mensagem no final da história em versos, cuja sua autoria ele atribuiu ao seu filho Pierre Perault. Contudo, apesar dessas obras terem sido adaptadas às crianças, originalmente elas traziam muita violência. Jean- Marie Gillig (1999, p.31) reforça a afirmação da autora quando esclarece “que esses contos atribuídos a Charles Perrault, eram inicialmente destinados apenas aos adultos e as crianças das classes cultas, pois cada conto terminava com uma lição de moral, em versos, segundo seu gosto por uma estilização literária”. Perrault, ao coletar essas narrativas populares transmitidas de geração a geração, conseguiu perceber que essas se modificavam de acordo com o tempo e com a sociedade de cada época, onde suas origens se perdiam. Sua intenção com seus escritos não era de apenas divertir a população, mas sim de instruir e moralizar o sujeito visto que, a princípio eram somente leitores adultos e depois de um tempo as crianças. O título Os Contos da Mamãe Gansa dado a sua primeira obra recebeu este nome por ser mais popular. Embora que, no final do século XVII a maioria dos franceses ainda não sabiam ler, Perrault tentou conquistar não somente a classe culta. Conforme Jean-Marie Gillig (1999) o sucesso de seus contos se deu pois, eram oriundos da tradição popular. Nas classes nobres os contos de fadas também ganharam um entusiasmo maior. De 1704 a 1720 surgiram outros dez novos volumes de histórias de contos com arranjos populares, imitando Perrault. A força que os contos de fadas ganharam na sociedade europeia se justifica pela sua grande capacidade de lidar com a moral e os costumes da época. O gênero literatura infantil surgiu com Perrault, mas somente no século XIX através de várias pesquisas linguísticas feitas pelos alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) também conhecidos como os Irmãos Grimm, seria eternamente constituída, ganhando espaço para se expandir na Europa e por toda a América. Escreveram diversos contos mundialmente famosos e deram sequência a essa forma de literatura. De acordo com Schneider e Torossian (2009, p. 136): Publicaram (1812-1822) 210 histórias em três volumes para crianças e adultos. Seus contos são povoados por madrastas malvadas, príncipes encantados, casas de chocolate, bruxas perversas, feras, entre outros personagens singulares. Entre os contos que foram traduzidos para o português, destacam-se: A Bela e a Fera, Os Músicos de Bremen, Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho e Gata Borralheira. Além de escreverem contos de fadas os irmãos também ficaram conhecidos como filólogos por estudarem e escreverem dicionários, livros sobre gramática e sobre a história da linguagem da cultura alemã. Reuniram também mitos germânicos, lendas e claro, contos de fadas. Jean- Marie Gillig (1999) explica que na primeira década do século XIX eles começaram a coletar contos populares. Ainda segundo Jean- Marie Gillig (1999, p.36), “o objetivo deles não era apenas divertir como os contistas franceses dos séculos XVII e XVIII, mas, acima de tudo, procurar manter viva a tradição oral”. Os contos de fadas foram coletados, revisados e divulgados ao longo dos anos desde 1812 até 1857, sendo escrita a última versão ainda com os irmãos vivos. Canton (2009) deixa claro que os Grimm eram fervorosos nacionalistas. O período que eles coletaram e organizaram seus contos era de ocupação napoleônica. Segundo a mesma, o desejo de ambos era criar um estilo de contos de fadas verdadeiramente alemão, respeitando ao máximo o jeito folclórico e popular de se contar as histórias. A autora afirma que eles pesquisaram não somente ouvindo as histórias, mas também analisando livros e escritos de diversos autores, entre esses Perrault, dando ao contos suas versões com um toque pessoal, refletindo suas crenças e seus ideais. Muitos acreditam que os irmãos coletaram as histórias através de viagens realizadas por toda a Alemanha, mas isso não aconteceu. O trabalho em uma biblioteca e o fato de viverem na cidade de Hanau, no estado de Hessen, no centro da Alemanha, favoreceu o estudo e a construção de suas obras já que, tinham acesso a muitos materiais antigos e recebiam conhecimento folclórico de pessoas que viviam em toda a parte do país. Conforme Coelho: Duas mulheres teriam sido as principais testemunhas de que se valeram os Irmãos Grimm para essa homérica recolha de textos: a velha camponesa Katherina Wieckmann, de prodigiosa memória, e Jeannette Hassenpflug, descendente de franceses e amiga intima da família Grimm. (2012, p. 29) A primeira citada pela autora era uma velha senhora vendedora de verduras, que por algum dinheiro a mais contava as histórias para os irmãos. Foi a maior contribuição de narrativas orais que os Grimm tiveram. Ela relatou cerca de trinta e sete contos que entraram nos seus livros. Já Jeannette, era amiga da irmã dos pesquisadores, e sempre que ia a casa deles, era instigada a relatar as histórias que conhecia, contribuindo grandemente na pesquisa sobre os contos. Jean-Marie Gillig (1999) esclarece que o primeiro livro escrito pelos Irmãos Grimm foi lançado um pouco antes da noite de Natal em 1812. Continha oitenta e seis contos e recebia o nome de Os Contos da Infância e do Lar. Um volume complementar, com o mesmo nome, foi lançado em 1815, e reunia setenta contos. Ambos os volumes possuíam uma escrita diferente de Perrault, traziam muitas referências a Deus, a Virgem Maria, aos Anjos da Guarda e de uma maneira geral, a luta e a distinção entre o bem o mal. O próximo livro foi escrito em 1819, onde só foram redigidos contos estritamente nacionais. Nesta edição os autores retiraram alguns textos que eram marcados por características estrangeiras, entre eles estavam Barba Azul e O Gato de Botas. Utilizavam um estilo de escrita mais direta, incluindo termos mais interessantes, modificando algumas palavras estrangeiras. Dominavam a prática de transformar uma situação simples em algo mágico e rico em detalhes. Outras mudanças na escrita ocorreram nas edições de 1837, 1840, 1843, 1850 e 1857. Não podemos dizer que todos os duzentos e dez contos foram coletados diretamente das fontes históricas. A maioria foram escritos com base no que as pessoas relatavam. Canton (2009) argumenta que os valores escritos por Jacob e Wilhelm eram diferentes daqueles presentes nos contos de Perrault. Nos contos do francês as noções de civilização eram explicitas, buscando educar moralmente as crianças. Os irmãos davam ênfase nas qualidades, na justiça e na perseverança como forma para a sobrevivência, onde quem faz obem, recebe o bem, e quem faz o mal, recebe o mal. Jean-Marie Gillig (1999) explica que em Os Contos da Infância e do Lar, as narrativas se situam na floresta com a existência de vários seres mágicos como anões, gigantes, bruxas, cães, humanos transformados em animais. Em Os Contos da Mamãe Gansa, não existe anões, com exceção de O Pequeno Polegar. Os personagens mágicos são modificados por outros com uma aparência mais humana. Para os irmãos a fidelidade às fontes prevalecia em relação às considerações literárias. Realizavam algumas mudanças, aumentavam as descrições com o interesse de tornar a história mais cativante, substituíam o discurso direto por falas das personagens, diminuíam o tempo em que se passava a história e modificavam algumas expressões desconectadas na narrativa. Essas modificações sob a forma dos contos resultou em um estilo uniforme, potente, coerente e poético que permitiu que os contos históricos se tornassem o que conhecemos hoje. Schneider e Torossian (2009) afirmam que o escritor considerado pai da literatura infantil foi o poeta e novelista dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), que de acordo com as autoras ele se destacou justamente por escrever contos voltados diretamente para as crianças. As autoras afirmam que a família influenciou Andersen se tornar escritor: Fortemente influenciado pelas histórias narradas por seu pai, um humilde sapateiro, Andersen utilizou-se do sofrimento observado nas crianças menos favorecidas e pobres para rechear seus contos. Soube como ninguém retratar os desejos da população, fazendo com que suas histórias assumissem a estrutura de crônicas tristes, muitas vezes com conteúdo extraídos de seu próprio cotidiano, inaugurando, assim, o que hoje denominamos de literatura infantil. (SCHNEIDER; TOROSSIAN, 2009, p.137). As obras mais conhecidas de Andersen são: O Patinho Feio, Soldadinho de Chumbo, A Sereiazinha (que conhecemos como A Pequena Sereia), A Menina e os Fósforos, A Princesa e as Ervilhas e A Roupa Nova do Imperador. Foram publicados cerca de cento e sessenta e oito contos, escritos durante 1830 e 1872. Com Andersen a redescoberta da literatura oral surgiu, adepta de uma criação própria onde o autor utilizava a imaginação para criar suas histórias. Isso não isola o fato de não ter sido empregada em seus contos à transmissão oral, vez ou outra. A cultura folclórica dinamarquesa era utilizada como inspiração. Seu primeiro livro continha narrativas que ela havia ouvido quando criança com o título Contos de Fadas e Historias. No entanto, em 1837 escreveu seus próprios contos. Jean-Marie Gillid (1999) explica que o autor era de origem muito pobre, com um pai sapateiro e uma mãe lavadeira, e foi a partir de uma infância miserável que ele criou uma ideologia contra a adversidade e a desigualdade. Em concordância, Coelho (2012, p. 30) esclarece que “Andersen foi sintonizado com os ideais românticos de exaltação da sensibilidade, da fé cristã, dos valores populares, dos ideais da fraternidade e da generosidade humana”, se tornando a grande voz a falar com as crianças com a linguagem da alma. Seus contos se alimentavam da realidade do cotidiano onde a injustiça social, a solidão e egoísmo estavam grandemente aparentes. E através desses acontecimentos trágicos conseguia transforma-los em magicas obras literárias. De acordo com Canton (2009) em suas histórias as personagens são diferentes. Ele se identificava com os marginalizados, estranhos, considerados feios, grandes ou pequenos demais. Essa atenção dada a esses personagens fizeram com que seus contos se tornassem inesquecíveis. Segundo a mesma, existia uma ironia na maneira de Andersen apresentar a classe nobre em seus textos já que, estavam tão distantes da sua realidade de vida. Em O Patinho Feio, o dinamarquês relata sua própria história de vida, que depois de muita dificuldade, se tornou celebre e adulado, como no desfecho deste conto. Conforme Jean-Marie Gillig (1999) Andersen é o criador desse estilo literário para as crianças, já que primeiro ele sonhou a infância e depois a transcreveu em suas narrativas, utilizando as mesmas técnicas de Perrault, mas acrescentando mais emoção, apresentando a vida de uma maneira mais leve, com uma sensibilidade mais humana, misturando os sonhos e a realidade, a fantasia e o real. 2.3.2 A Origem dos Contos de Fadas no Brasil A Literatura Infantil surgiu no Brasil com a chegada de Joao VI, em 1808, através da empresa Régia. Diferentemente do que ocorreu na Europa, no nosso país, os contos de fadas eram conhecidos pelas crianças por meio da comunicação oral. No início do século XIX já havia um olhar voltado para as crianças brasileiras já que, o país estava caminhando para uma modernização e necessitava apresentar a imagem de uma nação grande, com cidadãos críticos, desenvolvidos, nacionalistas e civilizados. A primeira etapa do surgimento das narrativas infantis se deu na literatura escolar. Os autores brasileiros começavam a serem incluídos nas publicações portuguesas. Sandroni (2011) salienta que alguns desses escritores se dedicaram a esse tipo de literatura, com raríssimos volumes com um valor significativo como por exemplo, Através do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim, Saudade de Tales de Andrade e Contos Pátrios de Coelho Neto. Nesse sentido surgiram discussões sobre o material utilizado para atender o público infantil que estavam nas instituições escolares. A leitura era realizada por meio de adaptações feitas dos escritos europeus, e as edições trabalhadas eram de cunho português, que se distanciavam da linguagem brasileira, o que prejudicava o entendimento das crianças. Por esses acontecimentos, surgiu a necessidade do abrasileiramento dos textos, sendo realizado por intermédio das traduções. Surgiram então, ótimos trabalhos neste setor, sempre sob a orientação de professores e escritores. Arroyo (2011) destaca a atuação de Carlos Jansen (1829-1889), a quem se deve a apresentação de muitas obras clássicas da literatura infantil, em tradução brasileira. Não ganhou ênfase apenas pelas traduções, mas também por se preocupar com o percurso e as deficiências que esse gênero literário enfrentava no país. Traduziu e adaptou diversas obras, entre elas estavam: As Viagens de Gulliver, Dom Quixote de La Mancha, um volume de histórias das Mil e Uma Noites, Robinson Crusoé, um livro com oito cromolitografias com o nome Aventuras Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen e Contos para Filhos e Netos. É possível que Carlos Jansen tenha traduzido outros tantos livros alemãs. As traduções desses clássicos indicados para o público infantil, foi publicada principalmente no Rio de Janeiro. Mas ainda segundo Arroyo (2011, p. 246), “isso não impedia, entretanto que em outras regiões brasileiras, de iniciativa ou não de escritores e educadores de outras regiões, aparecessem traduções, frequentemente impressas fora do país”. Em 1852, Justiniano José da Rocha (1812-1862), redigiu um volume intitulado Coleção de Fábulas, contendo imitações das fábulas de Esopo e de La Fontaine, para as crianças. Livro que alcançou uma popularidade gigantesca, com várias edições, sendo a última impressa em Paris no ano de 1895. O mais antigo registro de tradução das fábulas no Brasil é de 1857, publicado no Rio de Janeiro pelo escritor Francisco de Paula Brito, com trezentas e sessenta e cinco páginas e noventa e duas peças escritas. Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914) foi outro grande nome das traduções literárias infantis, trouxe uma nova orientação popular para esta, já que até esse momento essa literatura se manifestava por meio dos livros, interessados somente ao sistema educacional. Os contos passavam então, a não alimentarem o desejo exclusivamente do público escolar. Sandroni (2011) explica que, a Livraria Quaresma-Editora percebeuque as crianças apresentavam dificuldades em compreender e interpretar os textos, em linguagem portuguesa, e decidiu convidar Figueiredo para escrever uma coleção endereçada especialmente para essa faixa etária. Publicou então, no ano de 1894, um livro com o título Contos da Carochinha. Já em 1896 escreveu um volume com traduções de Perrault, dos Irmãos Grimm e de outros autores com o nome Contos de Fadas. Também em 1896 escreveu Historias da Avozinha e Histórias da Baratinha. Ele não recolheu os contos de forma direta, mas sim por buscas em livros franceses e portugueses, adaptando-os e traduzindo-os para a linguagem brasileira. Foram mais de dez títulos publicados, todos alcançando grande êxito entre as crianças e os adultos pois, eram escritos com uma linguagem leve, espontânea e com a forma bem brasileira da época. Em seu livro Contos da Carochinha foram organizados cerca de sessenta e um contos, com muito êxito já que, foram vendidos em torno de cem mil exemplares. Sandroni (2011, p.37) clarifica que: Em Contos da carochinha, primeiro volume da coleção, diz o autor na dedicatória: “São histórias para crianças, mas todas tem um fundo moral, muito proveitoso, ensinando que a única felicidade está na virtude, e que a alegria só vem de uma vida honesta e serena.” E ainda: “E lembra-te que a vida de família é a única feliz, que o lar é o único mundo onde se vive bem, onde a mulher, boa, santa, pura, carinhosa, impera como rainha”. Dessa forma era possível encontrar em seus contos historias europeias e portuguesas que falavam de todos os seres mágicos e também narrativas que valorizavam a cultura brasileira do século XIX. Eram compostos por ideias de socialização, nacionalistas, com valores morais, de formas implícitas, além de favorecem o desenvolvimento da imaginação. No livro era possível encontrar versões das histórias A Festa no Céu, A Bela e a Fera, A Onça e o Gato e o Patinho Aleijado, sendo este último uma tradução do conto de Andersen, onde Figueiredo tentou abordar costumes e valores da época numa visão destinada para o trabalho pedagógico. Figueiredo e Andersen trabalhavam a sensibilidade humana através da fantasia, da magia e do lúdico, permitindo a reflexão sobre a exclusão, por meio de situações cotidianas. Sandroni (2011) cita também Arnaldo de Oliveira Barreto, organizador de uma biblioteca em São Paulo que se iniciou pelo conto O Patinho Feio em 1915. E Olavo Bilac que já era poeta consagrado quando traduziu vários contos para a Editora Laemmert, usando o pseudônimo de Pantásio. Uma de suas obras mais conhecida é Juca e Chico. As diferenças entre as histórias brasileiras, escritas sob a influência da cultura indígena, das europeias eram extremamente grandes. Sandroni (2011, p. 39), explica que: Em sua cristalina simplicidade, as primeiras falam do valor da inteligência, do conflito entre o forte e o fraco de uma forma muito mais direta e saudável do que as outras originarias de povos civilizados, marcadíssimos pela religião católica dominadora e todo o sentimento de culpa que ela acarreta. Além de serem mais simples, as narrativas brasileiras traziam uma sutileza maior ao se tratar de grandes conflitos, permitindo uma maior compreensão do público infantil. De forma lúdica tratavam de grandes assuntos que contribuíam de maneira significativa para o desenvolvimento do sujeito infantil. Dessa maneira, é possível dizer que ao compreender a história dos contos infantis no Brasil e no mundo, é possível perceber a imensa importância que esse gênero literário possuiu para as crianças numa sociedade onde a maioria dos leitores faziam parte de uma pequena elite cultural que dominava todos os escritos. Os contos de fadas permitem entender a evolução humana e a evolução da escrita, por meio do modo de se contar as histórias, da socialização e dos conhecimentos de todas as culturas e povos. Onde de acordo com Corso e Corso (2006, p. 16) “os autores são pais e contadores de histórias, têm a sabedoria de não esgotar pela explicação psicanalítica todos os elementos que compõe a magia dos contos de fadas.” A construção dos contos de fadas está ainda muito presente. Mesmo sofrendo algumas mudanças, continuam atendendo as necessidades psicológicas e sócias dos pequenos leitores. A forma como os contos foram escritos permite ter uma visão histórica e globalizada de como era a cultura das nações onde foram dissertados, possibilitam também, observar como a realidade foi transmitida para os livros, facilitando a adequação das obras para o presente, sem no entanto, perder a origem histórica dos locais e dos momentos onde foram escritos. Essas narrativas continuam tão contemporâneas visto que, as crianças continuam interessadas nos mistérios, nos conflitos, na magia e na imaginação que estas proporcionam, tratando de assuntos atuais e do cotidiano que permite, depois de séculos, continuar fascinando tanto os pequenos como os adultos. Conseguem penetrar nas gerações atuais e permaneceram como tradição das gerações futuras. 2.3.3 As Características dos Contos de Fadas Os contos de fadas como já dito, possuem origem Celta, mas existem registros que sugerem que esse gênero literário é ainda mais antigo. Presentes até os dias atuais, essas narrativas sofreram algumas mudanças, mas não perderam suas características estruturais fixas, o que contribui para serem ainda, tão importantes para o desenvolvimento infantil. 2.3.3.1 Os Contos de Fadas se Diferem dos Contos Maravilhosos e dos Mitos Os contos maravilhosos se constituem em uma das categorias dos contos populares dos quais surgiram também os contos de fadas. Ambos tratam da fantasia e dos elementos mágicos por isso, na maioria das vezes, são considerados iguais, mas de acordo com Coelho (1987) eles apresentam problemáticas diferentes. A estrutura dos contos maravilhosos tem raízes nas histórias orientais, transmitidas pelos árabes, onde o meio das aventuras é sempre voltado para a natureza material, social ou sensorial, ou seja, os personagens dessas narrativas estão sempre em busca de riquezas, da satisfação do corpo ou da conquista do poder. Aladim e a Lâmpada Maravilhosa é um grande exemplo desses contos maravilhosos. Ainda segundo Coelho (2000) os contos de fadas se diferem pois, apresentam uma natureza mais espiritual, ética e existencial. As aventuras e os personagens se ligam ao sobrenatural e ao mistério além da vida, com o intuito de proporcionar a realização da vida humana. Já Corso e Corso (2006) acreditam que a denominação: contos de fadas possuem o mesmo significado de contos maravilhosos. Esse último traz esse nome devido à presença de algum elemento mágico ou fantástico na história. Já a cultura popular optou por nomeá-los como fadas, justificando o fato de existirem, em algumas narrativas, as fadas. Jean-Marie Gillig (1999) afirma que ambos não se diferem e que o maravilhoso presente nesse gênero literário em partes, é o mesmo encontrado nos sonhos, já que ambos tratam da realização de um desejo. O autor esclarece que até mesmo o psicanalista Freud se interessou por essas narrativas folclóricas e enxergou nelas algumas representações de sonhos. Todos os materiais mágicos encontrados nos contos de fadas são muitas vezes, equivalentes aos fantasmas (como a psicanalise nomeia) dos sonhos. Esses fantasmas presentes nos contos, afirma ainda Jean- Marie Gillig (1999) que são muitos e referem-se ao processo do inconsciente, e o maravilhoso está presente para vesti-los e os tornarem aceitáveis e desejáveis pelo indivíduo. Já Bettelhim (1988) afirma que de certo modo, as diferenças entre os contos de fadas e os sonhos são bem significativas. Para ele nos sonhos a satisfação dos desejos é disfarçada, enquanto nos contos é expressa abertamente. Os sonhos são muitas vezes resultados de pressões internas que não possuemsoluções e estes também não apresentam nenhuma contribuição para a resolução de conflitos internos. Já o conto de fadas faz o oposto, ele projeta o alivio de todos os problemas e ainda oferece soluções para resolvê-los de forma que tudo termine com um desfecho feliz. Considera-se então, que a maior diferença entre os contos de fadas e os contos maravilhosos se dá no sentido que ambas possuem naturezas diferentes. Nos contos de fadas a busca insaciável é pelo herói, para que ocorra uma realização interior, já nos contos maravilhosos a busca é pela ascensão social e pela realização exterior. Os personagens não são heróis, são apresentados como protagonistas que partem da pobreza para a busca incansável pelas riquezas, onde os conflitos se iniciam. É interessante esclarecer que nos contos de fadas, a busca pela realização se dá pelos conflitos, onde a dualidade entre o bem e o mal é característica essencial. Os contos maravilhosos não contam com a presença de fadas, apenas de outros seres mágicos como os duendes, ogros, bruxas e animais ou objetos falantes. Os contos de fadas dispõem de características que se diferem das fábulas e dos mitos. Bettelhim (1988) explica que ambos proporcionam ensinamentos. Os mitos e as fábulas tratam da aprendizagem de forma mais direta e clara, já os contos trazem esses ensinamentos de uma maneira mais sutil, gentil, indireto e sem solicitações. No final de uma fábula, é encontrada sempre uma moral, onde incentiva o leitor a praticar hábitos que diferem ou justificam as atitudes das personagens. Assim também se faz nos mitos onde as práticas que são corretas, estão explicitas nas atitudes das figuras da história. O conto de fadas com todo seu lúdico e seu encantamento, apresenta essas características de modo implícito e otimista. Outra diferença entre os mitos e os contos de fadas é que esse primeiro trata de acontecimentos grandiosos, que não poderiam acontecer com os leitores. Em contraste esse último mesmo com situações inusitadas e improváveis, transmite a ideia de que os acontecimentos são fatos comuns e possíveis de acontecer com qualquer pessoa. E isso acontece devido ao fato das histórias terem sido escritas de maneira casual e cotidiana. Uma diferença ainda mais significativa apontada por Bettelhim (1988) é o final de cada história, onde nos mitos quase sempre é trágico, enquanto nos contos de fadas na maioria das vezes é feliz. De forma clara o autor explica: O mito é pessimista, enquanto a estória de fadas é otimista, mesmo que alguns traços sejam terrivelmente sérios. É esta diferença decisiva que separa os contos de fadas de outras estórias nas quais igualmente ocorrem coisas fantásticas, que o resultado seja feliz devido às virtudes do herói, à sorte, ou à interferência de figuras sobrenaturais (BETTELHIM 1988; p. 47). Os contos de fadas oferecem matérias de fantasia que sugerem às crianças significados, através dos símbolos, para conseguir uma auto realização e por consequência, um final feliz. Já os heróis míticos oferecem ótimas imagens para o desenvolvimento da criança, mas os elementos utilizados levam ao desencorajamento do sujeito para progredir. Conforme Bettelhim (1988) explica, os personagens dos mitos, especificamente os heróis, possuem uma vida sobre-humana, o que contribui para essas histórias não serem tão bem aceitas pelos pequenos. A criança não consegue ainda, por em pratica as atitudes dos heróis já que, para ela são feitos incomuns e impossíveis de serem realizados. O autor deixa claro que isso não ocorre nos contos de fadas. Os heróis são simples, com dificuldades e insignificâncias, são de certa forma, esse é o ponto que impressiona as crianças. Bettelhim (1988; p. 52) clarifica, por meio de elementos psíquicos, a distinção entre os mitos e o conto de fadas, quando diz que estes “projetam uma personalidade ideal agindo na base das exigências do superego, enquanto os contos de fadas descrevem uma interação do ego que permite uma satisfação apropriada dos desejos do id”. Vale explicar que o id é a estrutura do aparelho psíquico, formado pelo ego e pelo superego. É responsável pelos instintos, pelos impulsos orgânicos e pelos desejos do inconsciente. Essa diferença mostrada por Bettelhim (1988) nada mais é que, a resposta dada pelo contraste entre o pessimismo que compõe os mitos, e o otimismo presente nos contos de fadas. 2.3.3.2 As Fadas Apesar de todas as mudanças que os contos de fadas sofreram durante esses séculos, as fadas continuam fazendo parte como um dos principais elementos simbólicos dessas narrativas. Coelho (2000, p. 173) afirma que o nome fada deriva do termo latino “fatum” que significa destino, onde foram incluídas primeiramente nos mitos. Conforme a autora, não se sabe ao certo a origem das fadas já que, elas nasceram pela primeira vez na imaginação do homem, numa época onde o pensamento mágico dominava a humanidade. Alguns historiadores levantaram a hipótese de que as fadas faziam parte de um culto primitivo, e mesmo com a evolução do homem e o surgimento das novas religiões, elas teriam sobrevivido ao paganismo. Porém, para Coelho (2000) elas só sobreviveram devido ao fato de possuírem uma ligação com a figura da mulher, apresentando por esse motivo, uma característica mais misteriosa e feminina. As fadas de acordo com a escritora, talvez simbolizavam a face luminosa e positiva da força da mulher, do seu poder de dispor da vida e de conter em si o futuro. O inverso seria uma visão feminina frustrada, que representa a transformação da fada em bruxa, ou seja, a mulher que interrompe o destino e frustra a realização do ser. Alguns registros afirmam que as primeiras fadas apresentadas como personagens de uma história, teriam surgido nas novelas de cavalaria celtas. Representavam ainda, as forças psíquicas e metafisicas. Com o tempo, passaram a fazer parte do meio popular. Em meio às crianças e os adultos, sua principal característica se sobressaiu, e até os dias atuais fascinam a todos, que é a de possuir um poder mágico. Por se tornarem tão reconhecidas e encantadoras, passaram a fazer parte das histórias literárias. Nos contos de fadas, as fadas aparecem para ajudar os personagens ou contraria-los, pois elas são boas ou más, dessa forma afirma Jean-Marie Gillig (1999, p. 71) que “as primeiras são mais conhecidas, são aquelas que pronunciam os votos positivos no nascimento do herói ou ainda ajudam no parto. As outras têm poderes maléficos e se opõem à busca iniciadora”. Para essa última podemos citar o exemplo da madrasta de Branca de Neve, que apesar de não receber nome de fada, possui todos os poderes de uma. Jean-Marie Gillig (1999, p. 71) elucida que as fadas apareceram em números contados nos contos escritos por Perrault e pelos Irmãos Grimm, “no primeiro caso, elas aparecem principalmente em As Fadas, Cinderela, A Bela Adormecida do Bosque e Riquete da Crista. Em Pele de Asno, a fada tem apenas alguns poderes e dá, sobretudo, conselhos”. Nos contos de Perrault as fadas não possuem nomes. Existe uma exceção para o fato de serem atentas ao nascimento do herói já que, no conto de Bela Adormecida a fada é a última a chegar ao batismo, com o papel de madrinha, que significa proteger a menina até a adolescência e depois desaparecer. Já nos contos dos Irmãos Grimm, as fadas apareceram somente a partir da edição de 1819, onde passou a se tornar uma mulher parteira, sábia e mágica. Conforme Jean-Marie Gillig (1999; p. 72) explica, nos contos escritos pelos alemães, “as fadas tem a aparência de uma velha senhora, ao contrário da imagem da fada esplendorosa e luminosa do conto francês”. Para o autor o papel de “parteira” que as fadas recebem, representa a transmissão dos conhecimentos religiosos e sociais onde, por meio desses, o homem pode inserir-se no mundo e garantir nele o seu
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