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ARTIGO CONTO

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OS CONTOS DE FADAS E SUA INFLUÊNCIA NO 
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA EDUCAÇÂO 
INFANTIL 
 
RESUMO 
Essa monografia trata-se de uma pesquisa voltada para a investigação sobre como os Contos 
de Fadas influencia no desenvolvimento total da criança na Educação Infantil. O presente 
estudo, de cunho monográfico, de natureza exploratória e que tem como abordagem do 
problema uma pesquisa qualitativa, primeiramente faz um levantamento histórico do 
surgimento da Educação Infantil, assim como da Literatura Infantil, e suas relevâncias pra a 
formação da criança. Logo após foi realizado uma minuciosa análise sobre os Contos de 
Fadas: como surgiram, quais os principais autores e obras, suas características e personagens. 
Por fim, realizou-se uma pesquisa sobre a contribuição que os Contos de Fadas oferecem para 
o desenvolvimento infantil. Dentre as contribuições, pode-se citar que essas histórias possuem 
contribuições no campo moral, social e cognitivo da criança, além de incentivar o gosto pela 
leitura. 
 
Palavras-chave: Educação Infantil; Literatura Infantil; Contos de Fadas; Desenvolvimento. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A pesquisa aborda a importância dos contos de fadas para o desenvolvimento das 
crianças na Educação Infantil, assim como fazer uma breve contextualização da educação 
infantil no Brasil e no mundo e analisar o importante papel que a literatura infantil possui 
neste nível de ensino. 
Diversas pesquisas foram feitas a respeito da importância de se contar histórias na 
Educação Infantil, não somente como distração, mas sim como auxílio no desenvolvimento 
infantil, e para que isso ocorra é necessário que a literatura seja inserida na vida da criança 
desde muito pequena. 
Os contos de fadas trazem histórias com diversos temas diferentes que fazem com que 
a criança desenvolva sua imaginação, conseguindo refletir sobre os casos ocorridos no conto, 
já que, geralmente, os contos de fadas trazem elementos que fazem parte da vida da criança, 
como o amor, as dificuldades da infância, a auto descoberta, a carência, dentre outros temas 
pertinentes a realidade infantil. 
Além de possuir esses elementos tão rotineiros da infância, as histórias ainda trazem 
seres mágicos que logo prendem a atenção da criança fazendo-a querer ouvi-las 
repetitivamente. 
 
Para que o aprendizado ocorra é necessário que os contos de fadas tenham algum valor 
significativo para as crianças, fazendo com que elas reconheçam suas dificuldades e ao 
mesmo tempo sugerindo soluções para seus problemas internos. Esses contos tem o poder de 
encantar na infância. Sabe-se como é importante despertar nas crianças a fantasia e a 
imaginação, levando-as ao mundo mágico de encantamento e magia. 
As histórias podem ser uma grande aliada ao educador, pois estas divertem, estimula o 
imaginário e ainda proporciona à criança uma atividade sadia, enriquecendo seu cognitivo e 
contribuindo ao desenvolvimento da imaginação e adaptação no contexto social. 
Além de estimular a imaginação e contribuir para a resolução dos conflitos internos no 
meio em que está inserida, a criança com o conto, pode também desenvolver e alcançar 
diversos objetivos, sendo esses: a expansão da linguagem infantil, facilitando a expressão 
corporal; estímulo à inteligência; conseguir trazer os conflitos das histórias para a realidade 
em que está inserida, resolvendo assim os problemas e dificuldades; socialização; formação e 
modificação de hábitos e atitudes sociais e morais 
Os contos de fadas têm um papel de suma importância, pois através da leitura o 
educador oferece várias situações que possibilitam o desenvolvimento integral da criança, 
sempre com a função de entreter, estimular a imaginação e principalmente resolver conflitos 
internos quando inserido no mundo social. É através do ato de ouvir essas histórias, que as 
crianças vão organizando seus sentimentos e construindo seu desenvolvimento cognitivo 
moral e social. 
Sendo assim, essa pesquisa busca analisar os benefícios que os contos de fadas podem 
trazer para o desenvolvimento psíquico e social da criança. Pretende-se contribuir para o 
melhor entendimento sobre as mensagens que são transmitidas nessas histórias e sua grande 
importância para o desenvolvimento cognitivo, imaginário, moral e social da criança na 
primeira infância. Para o embasamento teórico foi utilizado, principalmente, os estudos, 
Coelho (2000), Abramovich (1997) e Bettelheim (2004). 
A escolha do tema “Contos de fadas e sua influência no desenvolvimento da criança 
na Educação Infantil” partiu das considerações feitas pelas acadêmicas nos estágios 
remunerados e obrigatório, sendo este último exigido pela Universidade. Durante os estágios, 
percebemos que os contos de fadas são trabalhados, porém de maneira vaga, sem muitos 
objetivos. Sabemos que os contos de fadas são muito importantes para o desenvolvimento da 
imaginação, do cognitivo e do convívio social da criança. Ouvi-las na primeira infância 
estimula a construção de muitas ideias, através de descobertas, de lugares, de épocas, modos 
 
de agir, além de esclarecer melhor suas próprias dificuldades e encontrar um caminho para a 
resolução delas. 
Os contos de fadas trazem consigo muitas lições, resolução dos conflitos internos das 
personagens, e do meio social em que acontece a história, contribuindo grandemente no 
desenvolvimento da criança. 
Sabe-se que é através das histórias que a imaginação e a criatividade são 
desenvolvidas, desse modo, iremos analisar diferentes histórias dos contos de fada, a fim de 
trazê-las para a realidade da criança. Portanto, pretende-se com esta pesquisa proporcionar um 
maior esclarecimento sobre a contribuição dos contos de fadas para o desenvolvimento da 
criança da Educação Infantil. Para tanto surgiu a seguinte problemática: como os contos de 
fadas podem contribuir na formação do caráter da criança, na resolução dos conflitos 
ocorridos dentro e fora da sala de aula? 
A pesquisa teve como objetivo geral analisar as principais contribuições dos contos de 
fadas no desenvolvimento infantil. Já nos objetivos específicos tratou-se de contextualizar a 
partir das referências teóricas a educação infantil no Brasil e no mundo; fazer um 
levantamento histórico dos principais contos de fadas a partir literatura infantil e por último 
analisar como os contos de fadas influenciam no desenvolvimento do aluno da Educação 
Infantil. 
Durante as análises bibliográficas foi possível construir alguns resultados que 
justificam o fato dos contos de fadas serem importantes para a construção social, moral, 
psíquica e cognitiva do indivíduo. Pode-se perceber que apesar de possuírem origem celta, de 
se perderem no tempo, essas narrativas promove na criança o desenvolvimento pleno de 
estimular a imaginação, o que facilita a compreensão dos conflitos internos e do meio em que 
ela está inserida. 
A pesquisa possibilitou uma profunda análise sobre a importância dos Contos de fadas 
no desenvolvimento da criança durante a Educação Infantil aprofundando-se em várias 
questões envolvidas no tema principal, como a importância da Educação Infantil e da 
Literatura Infantil. Foi feito também uma minuciosa análise da origem e importância dos 
Contos de Fadas no desenvolvimento da criança como leitora e também na resolução de 
conflitos pessoais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
De acordo com Abramovich (1997), ter o hábito de contar histórias para as crianças 
desde sua primeira infância poderá influenciar no desenvolvimento e formação delas, logo 
que, ao escutar histórias desde pequena, poderá ser o início de uma caminhada para 
transformar-se em um bom leitor. 
 
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL E NO 
MUNDO 
 
A Educação Infantil é considerada um fato novo na sociedade, pois durante séculos 
não houve nenhuma instituição que educasse as crianças, eleseram mantidas em casa e 
aprendiam as tradições que lhe eram passadas de seus familiares. Também não havia 
nenhuma preocupação com a criança, ela era tratada como um adulto em miniatura, e assim 
como as mulheres, elas não tinham valor algum à sociedade. De acordo com Ariés (1981), a 
infância durante a idade média era algo desconhecido. 
Durante o período moderno, época em que a era medieval deu lugar a era capitalista, 
mais precisamente entre o século XVI e XVII, houve uma mudança no olhar que se tinha a 
 
criança, Ariés (1981), acredita que a infância é um produto do mercantilismo, ou seja, produto 
da história moderna, pois foi através da mudança na sociedade que surgiram novos 
pensamentos e necessidades sociais, o que influenciou diretamente na estrutura familiar. Com 
isso a criança antes vista como um ser sem importância começou a receber cuidados especiais 
e educação. 
Com a valorização infantil surgiu também um novo modelo doméstico, onde a criança 
torna-se o centro familiar, ou seja, o sujeito do qual mais necessita de cuidados, por agora se r 
considerado frágil, assim dá-se início a famílias harmônicas e mais dedicadas uns aos outros. 
Segundo Bujes (2001), a Educação Infantil surgiu relacionada a escola moderna e ao 
pensamento pedagógico moderno, pois com este novo olhar para a infância surgiu também a 
necessidade de um espaço específico para a educação das mesmas. 
De acordo com Luzuriaga (1959), a escola moderna surgiu no período Iluminista, 
século XVIII, e iniciou-se na Alemanha, sucedendo as escolas religiosas mantidas pela Igreja 
medieval. Foi então que surgiram as escolas públicas, de responsabilidade do Estado, que 
tinha como objetivo formar súditos, era uma educação autoritária, formadora de militares e 
funcionários. No final do século XVIII, com a Revolução Francesa, surge uma nova 
educação: Educação pública nacional, com a finalidade de formar cidadãos. E por último a 
escola moderna propõe uma educação pública democrática, parecida com a que temos na 
atualidade, com o intuito de trabalhar na formação completa do homem. As pré-escolas e 
creches vieram após a escola, devido a revolução industrial onde muitas mulheres saíram para 
trabalhar. 
Durante o século XVIII, surgiu na França e Inglaterra as primeiras pré-escolas, 
Kuhlmann Junior (2000), diz que essas instituições tinham um forte caráter assistencialista, 
que pretendiam afastar as crianças do trabalho escravo. A partir do século XIX, iniciaram-se 
as primeiras pré-escolas destinadas a alfabetização, e somente em meados do século XX, a 
Educação Infantil passou a ser vista como uma Instituição Educacional. 
No Brasil não era diferente, o contexto histórico da Educação Infantil, se parece em 
diversos aspectos com a história da Europa, mas também possui características próprias. 
Durante o século XVIII, as crianças derivadas de famílias pobres eram feitas de escravas, de 
acordo com Kuhlmann Junior (2000), as crianças entre 6 e 12 anos praticavam atividades 
mais leves e eram consideradas auxiliares, depois que completavam 12 anos já eram 
consideradas adultos, aptas para o trabalho e para a vida sexual. As crianças oriundas de 
famílias rica e branca começava a estudar aos 6 anos de idade. 
 
Segundo Oliveira (2011), até a metade do século XIX praticamente não existiam no 
Brasil instituições de atendimento a crianças pequenas, elas eram educadas em casa por suas 
mães. Como no Brasil grande parte da população, nesse período moravam na área rural, os 
fazendeiros eram quem assumia a educação das crianças que por ali moravam, muitas órfãs ou 
abandonadas por conta de serem filhos de índias e negras com homens brancos, ricos e 
casados. Na cidade quando uma criança era abandonada, por conta de algum motivo social ou 
financeiro, eram levadas a “roda dos expostos” que de acordo com Oliveira (2011, p.59) 
eram: “cilindros ocos de madeira, giratórios, construídos em muros de igrejas ou hospitais de 
caridade que permitiam que bebês fossem neles deixados sem que a identidade de quem trazia 
precisasse ser identificada”. 
Umas das influencias europeias no Brasil foi a criação do Jardim de Infância, que 
expandiu devido aos pensamentos da Escola Nova, vindo da Europa, que foi muito bem 
recebido por algumas pessoas influentes do meio social e também criticado por alguns 
políticos daquele período. O Jardim de Infância, como traz Oliveira (2011), foi inicialmente 
criado, em 1875 no Rio de Janeiro e em 1877 em São Paulo, a favor de ajudar crianças 
carentes, com isso acreditava-se que eles não poderiam ser mantidos pelos órgãos públicos, 
então ficaram a cargo de entidades privadas. Somente alguns anos depois o setor público 
passou a ser o responsável pelos Jardins de Infância, tornando-se assim a primeira etapa do 
ensino primário, porém eles foram destinados à educação das crianças vindas de famílias 
ricas. 
Assim como na Europa, as primeiras creches brasileiras também tinham caráter 
assistencialista, construídas para ajudar as famílias pobres e aos filhos das operárias de 
indústrias. O movimento social higienista, composto por médicos e também pela burguesia foi 
um forte influente para o surgimento das primeiras creches no Brasil, e tinham como objetivo 
combater a mortalidade infantil, algo muito comum nesse período, por conta da falta de 
saneamento que traziam diversas doenças e bactérias. E sofreu também influência das novas 
leis trabalhistas, que precisavam de um lugar em que as crianças ficassem para que seus pais 
pudessem trabalhar, e assim não faltar mão de obra nas indústrias. 
Existia uma dicotomia dentro da educação infantil no Brasil, as escolas eram dividida 
em jardins de infância, destinado aos filhos dos burgueses e as creches que recebiam as 
crianças oriundas de famílias pobres. 
Kuhlmann Junior (2000), aponta que, dentro dos fatos históricos, houve um 
movimento que também ajudou no reconhecimento da importância da Educação Infantil, o: 
Programa Educacional do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, de 1932, que tinha como 
 
objetivo o “desenvolvimento das instituições de educação e assistência física e psíquica às 
crianças na idade pré-escolar e de todas as instituições pré-escolares e pós-escolares” (FARIA 
apud KUHLMANN JUNIOR, 2000, p.9). 
Como já foi mencionado, a Educação Infantil passou a ter caráter educacional somente 
no final do século XX: 
 
 
Na quarta última parte dos anos 1900, a educação infantil brasileira vive intensas 
transformações. É durante o regime militar, que tantos prejuízos trouxe para a 
sociedade e para a educação brasileiras, que se inicia esta nova fase, que terá seus 
marcos de consolidação nas definições da Constituição de 1988 e na tardia Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. A legislação nacional passa a 
reconhecer que as creches e pré-escolas, para crianças de 0 a 6 anos, são parte do 
sistema educacional, primeira etapa da educação básica (KUHLMANN JUNIOR, 
2000, p. 7). 
 
 
Nesse período, as instituições de Educação Infantil foram divididas da seguinte forma: 
as creches atendiam crianças de 0 a 3 anos, em tempo integral ou parcial, e as escolas 
denominadas jardim de infância ou pré-escolas eram destinadas a crianças de 4 a 6 anos. 
Bujes (2001), aponta que a partir deste período a escola precisa trabalhar o cuidar 
relacionado ao educar, pois são crianças muito pequenas que necessitam de cuidado integral: 
 
 
Por outro lado, a criança vive um momento fecundo, em que a interação com as 
pessoas e as coisas do mundo vai levando-a a atribuir significados aquilo que a 
cerca. Este processo que faz com que a criança passe a participar de uma experiência 
cultural que é própria de seu grupo social, é o que chamamos de educação (BUJES, 
2001, p. 16). 
 
 
É necessário que haja uma integração entre o cuidar e o educar, sem priorizar 
nenhuma das partes, já que ambas são importantes para o desenvolvimentoinfantil. Portanto, 
o atendimento institucional da Educação Infantil, no Brasil, foi marcado pelo caráter 
assistencial. Em 1896, em São Paulo, nasceu a primeira instituição pública que atendia 
crianças entre 4 e 6 anos, da classe média. As crianças mais pobres eram atendidas em creches 
de cunho caridoso, que dependiam em geral de voluntários. 
 
Ao longo do tempo, a Educação Infantil, e as funções dos profissionais foram se 
modificando. O marco inicial se deu com a Constituição de 1988, que traz a educação como 
direito de crianças de 0 a 6 anos, e obrigação do Estado, reafirmando esse aspecto na Lei de 
Diretrizes e Base 9394/96 (LDB), que coloca esse nível de ensino como parte da educação 
básica. Com a LDB foi dividido em dois níveis de atendimento, em creches, para crianças de 
0 a 3 anos e, em pré-escolas para crianças de 4 a 6 anos. 
Em 1998, foram colocados em circulação pelo Ministério da Educação, os Referências 
Curriculares Nacionais para a educação infantil, Diretrizes Curriculares Nacionais da 
educação infantil e outros documentos que possuem propostas direcionadas ao atendimento de 
crianças até 6 anos. 
 
2.1.2 A Importância da Educação Infantil 
 
A Educação Infantil, durante um longo período, tinha como finalidade ajudar crianças 
de baixa renda, sem nenhum interesse pedagógico, somente assistencial, devido a isso essas 
instituições eram mantidas com baixo custo e com profissionais que não eram capacitados, 
para assim, se obter mão de obra barata e evitar custos, com isso somente existia uma 
preocupação com o cuidado e nenhuma com o educar. 
Com a Constituição Federal de 1988, e a LDB 9394/96, a Educação Infantil passou a 
ser vista com outros olhares pela sociedade brasileira. Oliveira (2011), sem vírgula relata que 
diversos movimentos feministas e sociais possibilitaram a conquista de uma nova 
Constituição em 1988, que reconheceu a Educação Infantil como um direito da criança e 
dever do Estado. 
Assim como na LDB que traz em seu artigo 29 que a finalidade da Educação Infantil é 
“o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade em seus aspectos físicos, 
psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” 
(BRASIL, 1996, p. 22). Neste artigo percebe-se que passa a existir uma preocupação com o 
educar de fato na Educação Infantil, visando uma interação entre as crianças e os adultos, a 
fim de proporcionar diversas situações com a criança, para que elas comecem a tomar 
significado do que é a sociedade em que ela vive e o papel dela dentro dessa sociedade. No 
ano de 2013 houve uma alteração no art. 29 onde se estabelece que crianças de até 5 anos de 
idade esteja matriculadas em uma escola de Educação Infantil. 
 
A Educação Infantil passou a seguir uma proposta pedagógica com o intuito de 
valorizar a criança como alguém importante na sociedade, que possui direitos como qualquer 
outro cidadão, portanto: 
 
 
Na educação infantil, hoje, busca-se ampliar certos requisitos necessários para 
adequada inserção da criança no mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), 
solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crítico (autonomia, pensamento 
divergente). Tal ampliação é feita por intermédio de diversas experiências nas quais 
conhecimentos historicamente elaborados são elementos mediadores do 
desenvolvimento infantil (OLIVEIRA, 2011, p. 50). 
 
 
Para que esses requisitos ocorressem de fato na Educação Infantil, o artigo 62 da LDB 
traz que para se trabalhar nas instituições de Educação Infantil é preciso ter nível superior ou 
formação de docente em nível médio. 
Os documentos Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, que 
apresentam as normas e princípios da educação básica brasileira,sem vírgula expõem as 
seguintes características da Educação Infantil no Brasil: 
 
 
As creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos educacionais 
públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade 
por meio de profissionais com a formação específica legalmente determinada, a 
habilitação para o magistério superior ou médio, refutando assim funções de caráter 
meramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às necessidades 
básicas de todas as crianças. (BRASIL, 2013, p. 84). 
 
 
A Educação Infantil atual tem como objetivo o cuidar entrelaçado ao educar, cabendo 
ao professor mediar esses dois processos. O cuidado com a criança é de extrema importância 
na Educação Infantil, pois se tratam de crianças muito pequenas, no Referencial Curricular 
Nacional Para a Educação Infantil (RCNEI), revela que o cuidado é parte integrante desta 
etapa da educação da criança, e que exige conhecimentos e habilidades que vão muito além 
dos conhecimentos pedagógicos, e também possui um papel fundamental no desenvolvimento 
integral da criança, já que é nessa fase que os infantes estão aprendendo sobre o que é a 
afetividade, e também os cuidados básicos de saúde. 
De acordo com o RCNEI: 
 
 
 
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e 
aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o 
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com 
os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas 
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste 
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de 
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, 
estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e 
saudáveis (BRASIL, 1998, p.23). 
 
 
Educar na Educação Infantil está relacionado ao brincar, pois é através de brincadeiras 
direcionadas que o aluno irá desenvolver a imaginação, já que eles recriam outros papeis 
enquanto brincam. 
Como citado na LDB 9393/96 o profissional que deseja atuar na Educação Infantil, 
precisa ter concluído o curso superior em Pedagogia, ou possuir um diploma de curso técnico 
voltado para a educação, denominado atualmente como Formação de docentes. Porém, não 
são em todas as escolas que exigem uma formação do professor, muitas vezes que trabalha em 
creches e pré-escolas, são pessoas sem nenhuma formação e conhecimento específico. No 
artigo 89 da LDB consta que há um período dedicado para o profissional de Educação Infantil 
se habilitar na área, pois não serão mais admitidos profissionais que não se enquadram nos 
itens exigidos. 
O professor de creches e pré-escolas precisa estar preparado e assumir uma total 
responsabilidade pela criança, e esta responsabilidade, como relata Bujes (2001), possui 
inúmeros conflitos, pois exige diversas tarefas, portanto o professor que escolher a profissão 
precisa se dedicar ao máximo ao seu trabalho, a pensadora Hannah Arent enfatiza que: 
 
 
pela concepção e pelo nascimento, os pais humanos, não apenas dão vida aos seus 
filhos como, ao mesmo tempo, os introduzem no mundo. Pela educação, os pais 
assumem por isso uma dupla responsabilidade— pela vida e pelo desenvolvimento 
da criança, mas também pelo continuidade do mundo. Estas duas responsabilidades 
não coincidem de modo algum e podem mesmo entrar em conflito. Num certo 
sentido, a responsabilidade de desenvolvimento da criança vai contra a 
responsabilidade pelo mundo: a criança tem necessidade de ser especialmente 
protegida e cuidada para evitar que o mundo a possa destruir (ARENT, 1961, p.8). 
 
 
 
A família é o principal responsável pela criança desde o seu nascimento, mas o 
professor precisa caminhar junto com eles diante dessa responsabilidade, pois é, no espaço 
escolar, que as crianças darão início na vida em sociedade passando assim pelo processo da 
educação, e o professor é o principal agente desse processo que é a educação. 
Segundo o RCNEI,para que a educação seja um processo que envolva toda a 
formação pessoal e social da criança, a Educação Infantil foi dividida em sete eixos: 
identidade e autonomia, movimento, artes visuais, música, natureza e sociedade, matemática e 
linguagem oral e escrita. Dentro do eixo identidade e autonomia traz a importância das 
interações sociais das crianças com os adultos e com outras crianças, e dentro dessas 
interações encontram-se as seguintes brincadeiras que ajudam na formação da identidade 
pessoal e social da criança: a imitação, o faz-de-conta, a oposição, a linguagem e a 
apropriação da imagem corporal. 
 
2.1.3 A Contação de História na Educação Infantil 
 
Para Abramovich (1997) o faz-de-conta, a linguagem e até mesmo a imitação 
englobam-se na contação de história, pois por meio das histórias a criança descobre um 
universo novo, que desperta seu interesse e também sua curiosidade. 
A contação de história existe há milhares de anos, é uma das atividades mais antigas 
existentes, contam-se histórias desde o surgimento do homem, antes mesmo da existência da 
escrita. E mesmo hoje muitas famílias ainda têm o hábito de contar histórias, avós, pais e 
mães podem passar informações preciosas da cultura familiar para as crianças através delas. 
Abramovich (1997, p. 16) relata que o primeiro contanto que as crianças têm com 
textos é pela oralidade por isso: “é importante para a formação de qualquer criança ouvir 
muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor 
é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...” 
E essa prática não é importante somente no seio familiar, dentro das escolas o hábito 
de contar histórias pode influenciar o aluno de diversas formas, inclusive na formação do 
mesmo como leitor, no incentivo da imaginação, na aprendizagem de palavras desconhecidas 
e conhecendo outras culturas também. 
Mesmo que na Educação Infantil os alunos sejam muito pequenos, é de fundamental 
importância o hábito de contar histórias a eles também, pois mesmo que ainda não saibam ler, 
eles já despertam, desde pequenos, o gosto por histórias. 
 
O professor de Educação Infantil, para se trabalhar a imaginação e o faz-de-conta, para 
obter um resultado satisfatório com seus alunos, precisa estabelecer o hábito de contar história 
as crianças, e são inúmeras as possibilidades de praticar essa atividade, e para que ocorra 
conforme foi esperado, precisa ser bem planejado. 
Abramovich (1997) diz que contar história é uma arte, portanto o professor precisa se 
preparar para aplicar essa atividade. Muitos professores usam os textos como pretextos para 
passar o tempo na sala de aula, fazendo um mau uso dos mesmos. Segundo a autora “quando 
se vai ler uma história – seja qual for – para crianças, não se pode fazer isso de qualquer jeito, 
pegando o primeiro volume que se vê na estante... E aí, no decorrer da leitura, demonstrar que 
não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias) [...]” (1997, p.18). 
Para que a contação de histórias ocorra é preciso que o professor esteja atento ao tema 
que vai ser exposto à criança, e não seja feita com improviso, pois isso pode acarretar um mal 
estar durante a leitura, devido ao fato de o professor não conhecer o que está lendo. 
A contação de história exige um trabalho antecipado do professor, para que o mesmo 
esteja ciente sobre o conteúdo do livro, para que no momento da leitura ele a faça de modo 
que os alunos se emocionem e tenham curiosidade em ouvi-la. 
O modo como a história é contada também é importante para Abramovich (1997), que 
traz alguns modos de aproveitar o texto no momento da contação: 
 
 
É bom que quem esteja contando crie todo um envolvimento, de encanto... Que 
saiba dar pausas, criar os intervalos, respeitar o tempo para o imaginário de cada 
criança, construir se cenário, visualizar seus monstros, criar seus dragões, adentrar 
pela casa, vestir a princesa, pensar na cara do padre, sentir o galope do cavalo, 
imaginar o tamanho do bandido e outras coisas mais... (ABRAMOVICH, 1997, 
p.21). 
 
 
Se o professor de Educação Infantil estiver disposto a se dedicar a contação de história 
as aulas terão mais significado para as crianças, trazendo mais aprendizagens para as mesmas, 
pois as histórias têm muito a dizer e a ensinar. 
Trabalhar com histórias literárias na educação infantil, muitas vezes, pode parecer um 
trabalho sem muitos fundamentos, mas é justamente o contrário, apesar da criança ser um pré-
leitor, ou seja, ainda não dominar a técnica da leitura, ele pode sim aprender muito através 
delas, se identificando muitas vezes com as mesmas. 
 
São diversos os textos que podem ser usados para a contação, são eles: lendas, fábulas, 
poesia, poema, contos de fadas, entre muitos outros. Existe um leque muito grande de textos 
para as crianças dentro da literatura infantil, que pode ser muito bem aproveitado pelo 
professor, como veremos adiante. 
 
2.2 LITERATURA INFANTIL 
 
Muitos estudos procuram entender o que é de fato a Literatura Infantil, se é um meio 
pedagógico de trabalho ou se pode ser considerado uma arte. Por levar em seu nome o 
adjetivo “infantil” acredita-se que seja uma literatura sem muita importância, porém o que 
será visto nesta pesquisa é que a Literatura Infantil é tão válida e preciosa como qualquer 
outra literatura. Coelho nos traz a seguinte definição de literatura infantil: 
 
 
A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de 
criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os 
sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível 
realização (COELHO, 2012, p.27). 
 
 
A literatura infantil origina-se da literatura geral, considerada a literatura para adultos, 
das quais possuem diversas obras clássicas e autores renomados, mas mesmo essa literatura 
tão rebuscada traz, por meio da ficção, uma realidade da qual os leitores se identificam, e são 
esses temas que tanto lembram a vida real que fizeram com que diversas obras, de diversos 
tempo diferentes, sejam apreciadas até nos dias de hoje. Com a literatura infantil não é 
diferente, seus temas são pertinentes a qualquer realidade, a qualquer tempo e a qualquer 
espaço, atravessando séculos e tornando-se também grandes clássicos. 
Coelho (2000),sem vírgula aponta que existe uma questão a respeito da Literatura 
Infantil em relação a sua natureza: ela pertence à arte literária ou à área da pedagogia? E de 
acordo com a autora: 
 
se analisarmos as grandes obras que através dos tempos se impuseram como 
“literatura infantil”, veremos que pertencem simultaneamente a essas duas áreas 
distintas (embora limítrofes e, as mais das vezes, interdependentes): a da arte e a da 
pedagogia. Sob esse aspecto, podemos dizer que, como objeto que provoca 
emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de 
seu leitor, a literatura infantil é arte. Sob outro aspecto, como instrumento 
 
manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na área da pedagogia 
(COELHO, 2012, p.46). 
 
 
Para Arroyo (2011, p.12) a Literatura Infantil: “não pode ser confundida com 
exercícios intelectuais ou pedagógicos estritos, fórmulas de moral ou de pureza gramatical, 
variáveis em suas vinculações históricas”, para o autor a Literatura Infantil é feita 
exclusivamente para o gosto infantil, como arte e não como pedagogia. 
Portanto, a Literatura Infantil não pode ser considerada um entretenimento, pois ela 
exerce mais de uma função na vida da criança, ela além de ser informativa ainda auxilia no 
processo da educação. 
Considerando essas questões, a Literatura Infantil, não está relacionada com temas 
pobres e sem significado, e também não está a serviço unicamente da descontração, muito 
pelo contrário, nela se encontra a mesma qualidadepertencente aos grandes clássicos. 
 
2.2.1 Contexto Histórico da Literatura Infantil 
 
Com base na tradição oral, e na contação de histórias, a Literatura Infantil é um dos 
gêneros literários mais recentes, que teve seu início no século XVIII, período em que se 
obteve a ascensão da família burguesa, durante o Iluminismo, onde, conforme já foi dito, 
passou-se a ter um olhar diferente para as crianças, antes vista como um adulto em miniatura. 
Esse novo olhar fez com que a infância fosse vista como a idade de ouro, principalmente por 
conta das industrializações, que de certa forma, passou a lucrar mais com a criança sendo 
vista como algo para ser melhor cuidado, com isto, segundo Zilberman a literatura infantil 
surge a partir das exigências da época do qual: 
 
 
Trata-se da emergência da família burguesa, a que se associam, em decorrência, a 
formação do conceito atual de infância, modificando o status da criança na 
sociedade e no âmbito doméstico, e o aparecimento de aparelhos ideológicos que 
visarão preservar a unidade do lar e, especialmente, o lugar do jovem no meio social 
(2003, p. 34). 
 
 
No período Iluminista, de acordo com Zilberman (2003), houve uma mudança na 
estrutura familiar, antes centrada na figura patriarcal, e depois voltada para uma família mais 
 
harmoniosa, onde existe o afeto. A mulher se torna a dona do lar e passa a ser responsável 
pela casa e pela criação das crianças, e a infância passou a ser vista como um período onde a 
criança necessita de cuidados e educação. É nesse contexto que começam a surgir os 
primeiros escritos para as crianças, que inicialmente eram vistos como pedagógicos, mas sua 
estrutura peculiar logo contraria a ideia de ser escrito para fins que não sejam o da arte. 
Nessa direção, Os autores mais conhecidos da época são: o francês Charles Perrault 
(1628-1703), que escreveu os Contos da mamãe ganso, os alemães Jacob Grimm (1785-1863) 
e Wilhelm Grimm (1786-1859), mais conhecidos como os irmãos Grimm, autores de obras 
como Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Branca de Neve, Cinderela, e diversas outras, e o 
dinamarquês Hans Christian Andersen, autor de contos como O sapato vermelho, O menino 
mal, A pequena sereia, A meninas dos fósforos, entre outras. 
Segundo Zilberman (2013) os primeiros escritos deste gênero foram feitos por 
professores e pedagogos, sem nenhuma intenção literária, devido a isso a Literatura infantil é, 
até hoje, vista como uma colônia da pedagogia. 
No Brasil a Literatura, por um longo período, foi influenciada pela literatura europeia, 
pois era colônia de Portugal, não existia até então uma literatura brasileira. Devido a isso a 
Literatura Infantil também era estrangeira, de acordo com Sandroni: 
 
 
No entanto, seu aparecimento não se dá por acaso. Foi preciso que muitos outros, 
aqui chamados fundadores da literatura infantil brasileira, tenha dado sua 
contribuição sob a forma inicial de traduções das obras produzidas na Europa para o 
público infantil, fossem elas didáticas ou de pura criação, e em seguida obras 
destinadas à escola escritas num português já abrasileirado com o fito de aproximar 
a linguagem escrita da falada (2011, p. 29). 
 
 
Dentre os principais tradutores estavam Manuel Bonfim, Olavo Bilac, Coelho Neto e 
Alberto Figueiredo Pimentel. 
Segundo Arroyo: 
 
 
A exemplo, portanto, da literatura infantil europeia, a nossa literatura, que nesse 
primeiro momento era somente nossa quanto ao fato de ser traduzida em língua 
portuguesa abrasileirada, trazia em seu bojo a preocupação com o aspecto formativo 
da literatura. Diferenciava-se, entretanto, da literatura veiculadas nas escola, 
marcada por ideias pedagógicos e se qualquer alusão ao elemento maravilhoso 
(ARROYO, 2011, p.178). 
 
 
No período colonial poucos livros eram circulados em terras brasileiras, pois o 
governo pretendia manter seus colonos na ignorância, e livros que lhes pudessem enxergar 
outra realidade, como a ideia de liberdade, eram muito difíceis de ser encontrados, 
praticamente não havia livrarias e bibliotecas, além da maioria da população, principalmente 
os pobres, serem analfabetos. Somente a elite tinha acesso aos livros e a uma boa educação. 
Com a vinda de D. João VI, e grande parte da sua corte, para o Brasil em 1808, 
houveram algumas mudanças, além da primeira biblioteca, vinda com D. João, o Rei ainda 
deu permissão para a construção de várias escolas de primeiras letras e de ensino superior. 
Esse acontecimento foi muito importante para o Brasil também por conta do desenvolvimento 
urbano e surgimento de diversos empregos. Segundo Sandroni (2011) esse foi a momento 
perfeito para que houvesse o início de uma Literatura Infantil brasileira. É com Monteiro 
Lobato por meio do clássico Sítio do Pica Pau Amarelo, que se inicia a Literatura Infantil 
brasileira de fato. 
 
 
2.2.2 Monteiro Lobato 
 
José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), nascido na cidade de Taubaté, interior de 
São Paulo, é o escritor pioneiro da Literatura Infantil do Brasil, além de ser um dos maiores 
autores de obras infantis da história deste país. Era formado em direito e trabalhou em um 
cargo público, também era herdeiro das fazendas de se Avô. 
É considerado o grande precursor da Literatura Infantil no Brasil, como destaca 
Coelho (2000, p.138) “foi Monteiro Lobato que, entre nós, abriu caminho para que as 
inovações que começavam a se processar no âmbito da literatura adulta (com o Modernismo) 
atingissem também a infantil”. 
Escreveu por volta de trinta livros, tanto para adultos, quanto para crianças. Foi diretor 
da Revista do Brasil, da qual, algum tempo depois tornou-se proprietário, e então publicou 
seu primeiro livro Urupês, um livro de contos que já o colocou entre os melhores escritores 
brasileiros. 
Sandroni (2011, p.49) destaca que “é nessa fase de sucesso editorial que inicia sua 
obra destinada as crianças e na qual, mais do que qualquer outra área de sua atuação, conhece 
o sucesso do público e da escrita”. A primeira obra de Lobato para as crianças é A Menina do 
Narizinho Arrebitado, em 1920, logo mais, em 1931 ele reeditou a história que passou a 
 
chamar Reinações de Narizinho. A partir desta história que são apresentados os famosos 
personagens de Monteiro Lobato como: Narizinho, D. Benta, Tia Anastácia, Emília, Pedrinho, 
entre tantos outros, e também é revelado o ambiente mágico em que se passa a história: O 
Sítio do Picapau Amarelo. 
De acordo com Sandroni: 
 
 
O que permite unificação de todo esse legado escrito numa obra coesa é, 
basicamente, a galeria de personagens criados pela imaginação de Monteiro Lobato 
e o microcosmo em que habitam: o Sítio do Picapau Amarelo. [...] cada um dos seus 
habitantes corresponde a uma faceta da personalidade desse escritor múltiplo e 
representa um aspecto de realidade com a qual a criança brasileira se identifica 
(SANDRONI, 2011, p. 55). 
 
 
Monteiro Lobato faz uma dura crítica a sociedade de sua época em suas obras, 
desmistificando a sociedade tradicional, seus personagens tem voz ativa dentro do sítio, 
prezando a liberdade e a individualidade de cada um, com isso ele mostra a importância da 
democracia, e de todos terem voz em suas comunidades. 
Além da crítica a sociedade, Monteiro Lobato também faz em suas obras reflexões 
através do humor e da ironia, e para isso ele faz de Emília sua porta voz. Emília, uma boneca 
de pano, é uma personagem que está sempre em busca da verdade, os outros personagens do 
sítio, de acordo com Coelho (2000), são personagens modelos, cheios de boas qualidades, 
enquanto que a boneca de pano tem uma personalidade forte com características 
individualistas, segundo a autora: 
 
 
Como intenção de valorização, vemos o espírito de líder que caracteriza a boneca, 
sua ascendência “mandona”, mas brejeira, sobre os que convivem com ela ou ainda 
a obstinação com que ela sabe querer as coisas ou como mantémseus pontos de 
vistas ou suas opiniões. Positiva é também sua incessante mobilidade, o seu fazer 
coisas, sua curiosidade aberta para tudo ou a franqueza rude com que ela manifesta 
sua crítica aos “erros” ou “tolices” dos que a rodeiam ou da nossa civilização 
(COELHO, 2000, p. 144). 
 
 
Monteiro Lobato tornou-se um dos mais importantes influentes da Literatura Infantil 
brasileira devido ao fato de ter sido o primeiro autor a escrever de fato para o público infantil, 
 
acreditando que as crianças têm inteligência o suficiente para entender suas obras. Sandroni 
afirma que: 
 
 
Seus textos estão cheios de citações e alusões que remetem a outros personagens, a 
outras épocas históricas e seus protagonistas. Ele foi um autor engajado, 
comprometido com os problemas de seu tempo. Tinha um projeto definido: influir 
na formação de um Brasil melhor através das crianças. A partir dele, no Brasil, a 
literatura infantil perde uma de suas principais características, a de ser um 
instrumento de dominação do adulto e de uma classe, modelo de estruturas que 
devem ser reproduzidas. Passa a ser fonte de reflexão, questionamento e crítica 
(2011, p. 61). 
 
 
 
As obras de Monteiro Lobato relacionam o mundo real com o mundo imaginário, 
trazendo tanto personagens que remetem a realidade infantil, quanto personagens fantásticos, 
vivendo em um mesmo ambiente que é o Sítio do Picapau Amarelo, isso, entre tantas outras 
coisas que já foram expostas, faz que com as obras de Lobatos sejam clássicos, lidos por 
gerações de crianças. 
Nos anos que sucederam Monteiro Lobato a literatura infantil brasileira cresceu e 
surgiram diversos novos bons autores, entre eles pode-se citar Ana Maria Machado, 
Bartolomeu Campos de Queirós, Mariana Colassanti, Lygia Bojunga, Ricardo Azevedo, entre 
muitos outros. 
 
2.2.3 A Importância da Literatura Infantil na Escola 
 
A escola é o principal espaço de formação da criança, é nela que os alunos se iniciarão 
na vida em sociedade e também na leitura, portanto, para Coelho: 
 
 
E, nesse espaço, privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais 
abrangente do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a 
percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em ralação 
ao outro; a leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o 
estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente (...) 
(COELHO, 2000, p.16). 
 
 
 
Quando se trata de Educação Infantil, muitos pensam em se tratar somente de 
brincadeiras e cuidados, como já foi visto a Educação Infantil é muito mais que somente isso, 
pois é o momento em que a criança está se descobrindo como sujeito e é, portanto, nesse 
período que se deve inserir a Literatura em suas rotinas. A Literatura Infantil precisa estar 
presente no cotidiano da criança desde muito pequena se a intenção é formar futuros leitores, 
sem ser usada apenas como entretenimento ou passatempo. 
Para Dalvi (2013): 
 
 
Na educação infantil, o trabalho com a oralidade e com as formas populares 
frequentemente não é visto como uma inserção no mundo da literatura. No entanto 
ela é imprescindível: não apenas porque a literatura ajudaria as crianças a pensarem 
e a enfrentarem seus dilemas e os problemas subjetivos, psíquicos, indentitários, 
sociais; o trabalho com a literatura é fundamental também para que, a partir de 
práticas efetivas de aproximação do literário, as crianças percebem a sonoridade nas 
quadrinhas, nos poemas infantil e nas trovas (...) (DALVI, 2013, p. 71). 
 
 
Além de auxiliar a criança na resolução de conflitos existentes na sociedade onde 
vivem, pois em muitas histórias podem existir temas pertinentes a realidade da criança, como 
a pobreza na infância e maus tratos dos pais como se encontra na história de João e Maria. 
Abramovich (1997) diz que por meio das histórias os pequenos irão sorrir, trabalhar a 
imaginação, solucionar problemas, sentir diversas emoções, conhecer diversos lugares e se 
encantarem cada vez mais com o mundo das palavras, desenvolvendo assim o gosto pela 
leitura podendo até se tornarem grandes leitores. 
Para Chartier (2008, p. 128-129) “não se deve esquecer a literatura, pois as leituras 
infantis não têm como objetivo distrair ou habituar as crianças a utilizarem esses textos, mas 
que é através dessas leituras que se forma a personalidade, a inteligência, o caráter (...)”. 
Ana Maria Machado (2009) aponta que não se pode forçar uma criança a ler ou a 
gostar de uma história, para a autora ler é um direito que as pessoas possuem e não um dever 
a ser seguido, portanto o professor não pode forçar o aluno a ler ou a gostar de um livro, mas 
sim motivá-los a criar o hábito da leitura. Machado também traz a definição do que é um livro 
clássico que: “não é um livro antigo e fora de moda. É um livro eterno que não sai de moda” 
(2009, p.15) e que para inserir essas histórias na rotina da criança não precisa ser algo forçado 
mas sim bem trabalhado, sem forçar a criança, para que ela, espontaneamente, tenha a 
curiosidade em ler essas obras. 
 
Para que se forme bons leitores é fundamental a participação do professor nesse 
processo, e para isso é importante também que o professor seja um sujeito leitor para que ele 
esteja preparado para escolher as obras que usará em suas aulas. 
 
2.3 CONTOS DE FADAS 
 
Os contos de fadas tratam-se de um gênero literário que vem passando de geração em 
geração há séculos, através da oralidade. Bettelheim (2004), explica que os contos de fadas 
além de divertirem a criança, também influenciam no desenvolvimento da sua personalidade, 
proporcionam reflexões e resoluções dos conflitos internos e externos, além do mais, 
possibilitam o desenvolvimento com o meio social em que ela está inserida. 
 
2.3.1 A Origem dos Contos de Fadas 
 
Schneider e Torossian (2009) abordam que os primeiros contos de fadas podem ter 
uma origem céltica (século II A.C.), pois há diversos contos registrados nessa época que 
trazem características bastante semelhantes a essas histórias, como, segundo as autoras, 
Apuleio, filósofo do século II D.C, e seu romance O Asno de Ouro que em muito lembra o 
conto A Bela e a Fera, também no Egito nos papiros dos irmãos Anúbis e Bata foram 
encontrados registros de contos de fadas, mas esses contos ainda não eram dedicados às 
crianças já que possuíam temas pertinentes a vida adulta, como o canibalismo e adultério. 
Coelho (2012) também afirma que os contos de fadas receberam influencia celta e 
inicialmente apareceram como poemas com heróis e heroínas, onde as aventuras estavam 
ligadas ao sobrenatural, a coisas além da vida humana e visavam à realização interior. 
Somente no século XVII segundo Ariés (1981), as crianças passaram a ser vistas como 
um sujeito com suas peculiaridades e não mais como mini adultos. A partir de então, surgiu 
uma literatura voltada especificamente para elas. A primeira coletânea de contos para o 
público infantil foi publicada nesse mesmo século, na França, durante o reinado de Luís XIV. 
Mas só no século XIX que nasceram os estudos da literatura popular e folclórica de cada 
nação. 
Coelho (2012) deixa claro que a necessidade do homem contar história surgiu quando 
o sujeito primitivo buscava explicações para o mundo. Através dos mitos eles tentavam 
entender os fenômenos da natureza. Um exemplo é a existência de mitos que relatavam que a 
 
chuva, o sol, o relâmpago e a força dos mares, eram todos controlados por deuses, deusas e 
sereias. Corso e Corso (2006, p. 16) explicam que: 
 
 
As narrativas populares europeias, matrizes dos modernos contos infantis que, a 
partir das adaptações feitas no século XIX, passaram a integrar a rica mitologia 
universal, não apresentavam a riqueza simbólica que faz dos contos de fadas um 
depositário de significações inconscientes abertos à interpretação psicanalítica.Na 
verdade, eles nem eram destinados especificamente às crianças, nem parecem 
aliados a uma pedagogia iluminista. 
 
 
Dessa forma pode-se perceber que os contos de fadas não eram indicados inicialmente 
para as crianças pois, eram apenas relatos de situações cotidianas que expressavam as 
dificuldades e os conflitos humanos. Só foram constituídos para a literatura infantil europeia 
durante toda a Idade Média e a Idade Moderna. Corso e Corso (2006) afirmam que os contos 
de fadas que encantam todas as gerações humanas datam do século XIX e são derivadas de 
uma criação de família nuclear e da criação da infância tal como conhecemos hoje. 
O grande pioneiro dessas obras clássicas é o francês Charles Perrault (1628-1703). Seu 
primeiro conto foi Pele de Asno em 1694, redigido em versos seguidos por uma versão em 
prosa de A Bela Adormecida no Bosque, sendo essa uma adaptação de uma história medieval 
que relatava o estupro, escrita em uma revista francesa. Entre suas principais obras está o livro 
publicado em 1697 com o nome de Os Contos da Mamãe Gansa que incluíam várias histórias, 
entre elas: Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas, Cinderela, O Pequeno Polegar e 
Chapeuzinho Vermelho. 
Segundo Coelho (2012) esses contos traziam uma mensagem no final da história em 
versos, cuja sua autoria ele atribuiu ao seu filho Pierre Perault. Contudo, apesar dessas obras 
terem sido adaptadas às crianças, originalmente elas traziam muita violência. Jean- Marie 
Gillig (1999, p.31) reforça a afirmação da autora quando esclarece “que esses contos 
atribuídos a Charles Perrault, eram inicialmente destinados apenas aos adultos e as crianças 
das classes cultas, pois cada conto terminava com uma lição de moral, em versos, segundo seu 
gosto por uma estilização literária”. 
Perrault, ao coletar essas narrativas populares transmitidas de geração a geração, 
conseguiu perceber que essas se modificavam de acordo com o tempo e com a sociedade de 
cada época, onde suas origens se perdiam. Sua intenção com seus escritos não era de apenas 
 
divertir a população, mas sim de instruir e moralizar o sujeito visto que, a princípio eram 
somente leitores adultos e depois de um tempo as crianças. 
O título Os Contos da Mamãe Gansa dado a sua primeira obra recebeu este nome por 
ser mais popular. Embora que, no final do século XVII a maioria dos franceses ainda não 
sabiam ler, Perrault tentou conquistar não somente a classe culta. Conforme Jean-Marie Gillig 
(1999) o sucesso de seus contos se deu pois, eram oriundos da tradição popular. Nas classes 
nobres os contos de fadas também ganharam um entusiasmo maior. De 1704 a 1720 surgiram 
outros dez novos volumes de histórias de contos com arranjos populares, imitando Perrault. 
A força que os contos de fadas ganharam na sociedade europeia se justifica pela sua grande 
capacidade de lidar com a moral e os costumes da época. 
O gênero literatura infantil surgiu com Perrault, mas somente no século XIX através 
de várias pesquisas linguísticas feitas pelos alemães Jacob Grimm (1785-1863) e Wilhelm 
Grimm (1786-1859) também conhecidos como os Irmãos Grimm, seria eternamente 
constituída, ganhando espaço para se expandir na Europa e por toda a América. Escreveram 
diversos contos mundialmente famosos e deram sequência a essa forma de literatura. De 
acordo com Schneider e Torossian (2009, p. 136): 
 
 
Publicaram (1812-1822) 210 histórias em três volumes para crianças e adultos. Seus 
contos são povoados por madrastas malvadas, príncipes encantados, casas de 
chocolate, bruxas perversas, feras, entre outros personagens singulares. Entre os 
contos que foram traduzidos para o português, destacam-se: A Bela e a Fera, Os 
Músicos de Bremen, Branca de Neve e os Sete Anões, Chapeuzinho Vermelho e 
Gata Borralheira. 
 
 
Além de escreverem contos de fadas os irmãos também ficaram conhecidos como 
filólogos por estudarem e escreverem dicionários, livros sobre gramática e sobre a história da 
linguagem da cultura alemã. Reuniram também mitos germânicos, lendas e claro, contos de 
fadas. Jean- Marie Gillig (1999) explica que na primeira década do século XIX eles 
começaram a coletar contos populares. Ainda segundo Jean- Marie Gillig (1999, p.36), “o 
objetivo deles não era apenas divertir como os contistas franceses dos séculos XVII e XVIII, 
mas, acima de tudo, procurar manter viva a tradição oral”. Os contos de fadas foram 
coletados, revisados e divulgados ao longo dos anos desde 1812 até 1857, sendo escrita a 
última versão ainda com os irmãos vivos. 
 
Canton (2009) deixa claro que os Grimm eram fervorosos nacionalistas. O período que 
eles coletaram e organizaram seus contos era de ocupação napoleônica. Segundo a mesma, o 
desejo de ambos era criar um estilo de contos de fadas verdadeiramente alemão, respeitando 
ao máximo o jeito folclórico e popular de se contar as histórias. A autora afirma que eles 
pesquisaram não somente ouvindo as histórias, mas também analisando livros e escritos de 
diversos autores, entre esses Perrault, dando ao contos suas versões com um toque pessoal, 
refletindo suas crenças e seus ideais. Muitos acreditam que os irmãos coletaram as histórias 
através de viagens realizadas por toda a Alemanha, mas isso não aconteceu. O trabalho em 
uma biblioteca e o fato de viverem na cidade de Hanau, no estado de Hessen, no centro da 
Alemanha, favoreceu o estudo e a construção de suas obras já que, tinham acesso a muitos 
materiais antigos e recebiam conhecimento folclórico de pessoas que viviam em toda a parte 
do país. Conforme Coelho: 
 
 
Duas mulheres teriam sido as principais testemunhas de que se valeram os Irmãos 
Grimm para essa homérica recolha de textos: a velha camponesa Katherina 
Wieckmann, de prodigiosa memória, e Jeannette Hassenpflug, descendente de 
franceses e amiga intima da família Grimm. (2012, p. 29) 
 
 
A primeira citada pela autora era uma velha senhora vendedora de verduras, que por 
algum dinheiro a mais contava as histórias para os irmãos. Foi a maior contribuição de 
narrativas orais que os Grimm tiveram. Ela relatou cerca de trinta e sete contos que entraram 
nos seus livros. Já Jeannette, era amiga da irmã dos pesquisadores, e sempre que ia a casa 
deles, era instigada a relatar as histórias que conhecia, contribuindo grandemente na pesquisa 
sobre os contos. 
Jean-Marie Gillig (1999) esclarece que o primeiro livro escrito pelos Irmãos Grimm 
foi lançado um pouco antes da noite de Natal em 1812. Continha oitenta e seis contos e 
recebia o nome de Os Contos da Infância e do Lar. Um volume complementar, com o mesmo 
nome, foi lançado em 1815, e reunia setenta contos. Ambos os volumes possuíam uma escrita 
diferente de Perrault, traziam muitas referências a Deus, a Virgem Maria, aos Anjos da 
Guarda e de uma maneira geral, a luta e a distinção entre o bem o mal. O próximo livro foi 
escrito em 1819, onde só foram redigidos contos estritamente nacionais. Nesta edição os 
autores retiraram alguns textos que eram marcados por características estrangeiras, entre eles 
estavam Barba Azul e O Gato de Botas. Utilizavam um estilo de escrita mais direta, incluindo 
 
termos mais interessantes, modificando algumas palavras estrangeiras. Dominavam a prática 
de transformar uma situação simples em algo mágico e rico em detalhes. Outras mudanças na 
escrita ocorreram nas edições de 1837, 1840, 1843, 1850 e 1857. Não podemos dizer que 
todos os duzentos e dez contos foram coletados diretamente das fontes históricas. A maioria 
foram escritos com base no que as pessoas relatavam. 
Canton (2009) argumenta que os valores escritos por Jacob e Wilhelm eram diferentes 
daqueles presentes nos contos de Perrault. Nos contos do francês as noções de civilização 
eram explicitas, buscando educar moralmente as crianças. Os irmãos davam ênfase nas 
qualidades, na justiça e na perseverança como forma para a sobrevivência, onde quem faz obem, recebe o bem, e quem faz o mal, recebe o mal. Jean-Marie Gillig (1999) explica que em 
Os Contos da Infância e do Lar, as narrativas se situam na floresta com a existência de vários 
seres mágicos como anões, gigantes, bruxas, cães, humanos transformados em animais. Em 
Os Contos da Mamãe Gansa, não existe anões, com exceção de O Pequeno Polegar. Os 
personagens mágicos são modificados por outros com uma aparência mais humana. 
Para os irmãos a fidelidade às fontes prevalecia em relação às considerações literárias. 
Realizavam algumas mudanças, aumentavam as descrições com o interesse de tornar a 
história mais cativante, substituíam o discurso direto por falas das personagens, diminuíam o 
tempo em que se passava a história e modificavam algumas expressões desconectadas na 
narrativa. Essas modificações sob a forma dos contos resultou em um estilo uniforme, 
potente, coerente e poético que permitiu que os contos históricos se tornassem o que 
conhecemos hoje. 
Schneider e Torossian (2009) afirmam que o escritor considerado pai da literatura 
infantil foi o poeta e novelista dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), que de 
acordo com as autoras ele se destacou justamente por escrever contos voltados diretamente 
para as crianças. As autoras afirmam que a família influenciou Andersen se tornar escritor: 
 
 
Fortemente influenciado pelas histórias narradas por seu pai, um humilde sapateiro, 
Andersen utilizou-se do sofrimento observado nas crianças menos favorecidas e 
pobres para rechear seus contos. Soube como ninguém retratar os desejos da 
população, fazendo com que suas histórias assumissem a estrutura de crônicas 
tristes, muitas vezes com conteúdo extraídos de seu próprio cotidiano, inaugurando, 
assim, o que hoje denominamos de literatura infantil. (SCHNEIDER; TOROSSIAN, 
2009, p.137). 
 
 
 
As obras mais conhecidas de Andersen são: O Patinho Feio, Soldadinho de Chumbo, 
A Sereiazinha (que conhecemos como A Pequena Sereia), A Menina e os Fósforos, A 
Princesa e as Ervilhas e A Roupa Nova do Imperador. Foram publicados cerca de cento e 
sessenta e oito contos, escritos durante 1830 e 1872. 
Com Andersen a redescoberta da literatura oral surgiu, adepta de uma criação própria 
onde o autor utilizava a imaginação para criar suas histórias. Isso não isola o fato de não ter 
sido empregada em seus contos à transmissão oral, vez ou outra. A cultura folclórica 
dinamarquesa era utilizada como inspiração. Seu primeiro livro continha narrativas que ela 
havia ouvido quando criança com o título Contos de Fadas e Historias. No entanto, em 1837 
escreveu seus próprios contos. 
Jean-Marie Gillid (1999) explica que o autor era de origem muito pobre, com um pai 
sapateiro e uma mãe lavadeira, e foi a partir de uma infância miserável que ele criou uma 
ideologia contra a adversidade e a desigualdade. Em concordância, Coelho (2012, p. 30) 
esclarece que “Andersen foi sintonizado com os ideais românticos de exaltação da 
sensibilidade, da fé cristã, dos valores populares, dos ideais da fraternidade e da generosidade 
humana”, se tornando a grande voz a falar com as crianças com a linguagem da alma. Seus 
contos se alimentavam da realidade do cotidiano onde a injustiça social, a solidão e egoísmo 
estavam grandemente aparentes. E através desses acontecimentos trágicos conseguia 
transforma-los em magicas obras literárias. 
De acordo com Canton (2009) em suas histórias as personagens são diferentes. Ele se 
identificava com os marginalizados, estranhos, considerados feios, grandes ou pequenos 
demais. Essa atenção dada a esses personagens fizeram com que seus contos se tornassem 
inesquecíveis. Segundo a mesma, existia uma ironia na maneira de Andersen apresentar a 
classe nobre em seus textos já que, estavam tão distantes da sua realidade de vida. Em O 
Patinho Feio, o dinamarquês relata sua própria história de vida, que depois de muita 
dificuldade, se tornou celebre e adulado, como no desfecho deste conto. 
Conforme Jean-Marie Gillig (1999) Andersen é o criador desse estilo literário para as 
crianças, já que primeiro ele sonhou a infância e depois a transcreveu em suas narrativas, 
utilizando as mesmas técnicas de Perrault, mas acrescentando mais emoção, apresentando a 
vida de uma maneira mais leve, com uma sensibilidade mais humana, misturando os sonhos e 
a realidade, a fantasia e o real. 
 
2.3.2 A Origem dos Contos de Fadas no Brasil 
 
 
A Literatura Infantil surgiu no Brasil com a chegada de Joao VI, em 1808, através da 
empresa Régia. Diferentemente do que ocorreu na Europa, no nosso país, os contos de fadas 
eram conhecidos pelas crianças por meio da comunicação oral. No início do século XIX já 
havia um olhar voltado para as crianças brasileiras já que, o país estava caminhando para uma 
modernização e necessitava apresentar a imagem de uma nação grande, com cidadãos críticos, 
desenvolvidos, nacionalistas e civilizados. A primeira etapa do surgimento das narrativas 
infantis se deu na literatura escolar. Os autores brasileiros começavam a serem incluídos nas 
publicações portuguesas. Sandroni (2011) salienta que alguns desses escritores se dedicaram a 
esse tipo de literatura, com raríssimos volumes com um valor significativo como por 
exemplo, Através do Brasil de Olavo Bilac e Manuel Bonfim, Saudade de Tales de Andrade e 
Contos Pátrios de Coelho Neto. 
Nesse sentido surgiram discussões sobre o material utilizado para atender o público 
infantil que estavam nas instituições escolares. A leitura era realizada por meio de adaptações 
feitas dos escritos europeus, e as edições trabalhadas eram de cunho português, que se 
distanciavam da linguagem brasileira, o que prejudicava o entendimento das crianças. Por 
esses acontecimentos, surgiu a necessidade do abrasileiramento dos textos, sendo realizado 
por intermédio das traduções. Surgiram então, ótimos trabalhos neste setor, sempre sob a 
orientação de professores e escritores. 
Arroyo (2011) destaca a atuação de Carlos Jansen (1829-1889), a quem se deve a 
apresentação de muitas obras clássicas da literatura infantil, em tradução brasileira. Não 
ganhou ênfase apenas pelas traduções, mas também por se preocupar com o percurso e as 
deficiências que esse gênero literário enfrentava no país. Traduziu e adaptou diversas obras, 
entre elas estavam: As Viagens de Gulliver, Dom Quixote de La Mancha, um volume de 
histórias das Mil e Uma Noites, Robinson Crusoé, um livro com oito cromolitografias com o 
nome Aventuras Pasmosas do Celebérrimo Barão de Münchhausen e Contos para Filhos e 
Netos. É possível que Carlos Jansen tenha traduzido outros tantos livros alemãs. 
As traduções desses clássicos indicados para o público infantil, foi publicada 
principalmente no Rio de Janeiro. Mas ainda segundo Arroyo (2011, p. 246), “isso não 
impedia, entretanto que em outras regiões brasileiras, de iniciativa ou não de escritores e 
educadores de outras regiões, aparecessem traduções, frequentemente impressas fora do país”. 
Em 1852, Justiniano José da Rocha (1812-1862), redigiu um volume intitulado 
Coleção de Fábulas, contendo imitações das fábulas de Esopo e de La Fontaine, para as 
crianças. Livro que alcançou uma popularidade gigantesca, com várias edições, sendo a 
última impressa em Paris no ano de 1895. O mais antigo registro de tradução das fábulas no 
 
Brasil é de 1857, publicado no Rio de Janeiro pelo escritor Francisco de Paula Brito, com 
trezentas e sessenta e cinco páginas e noventa e duas peças escritas. 
Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914) foi outro grande nome das traduções 
literárias infantis, trouxe uma nova orientação popular para esta, já que até esse momento essa 
literatura se manifestava por meio dos livros, interessados somente ao sistema educacional. 
Os contos passavam então, a não alimentarem o desejo exclusivamente do público escolar. 
Sandroni (2011) explica que, a Livraria Quaresma-Editora percebeuque as crianças 
apresentavam dificuldades em compreender e interpretar os textos, em linguagem portuguesa, 
e decidiu convidar Figueiredo para escrever uma coleção endereçada especialmente para essa 
faixa etária. Publicou então, no ano de 1894, um livro com o título Contos da Carochinha. Já 
em 1896 escreveu um volume com traduções de Perrault, dos Irmãos Grimm e de outros 
autores com o nome Contos de Fadas. Também em 1896 escreveu Historias da Avozinha e 
Histórias da Baratinha. 
Ele não recolheu os contos de forma direta, mas sim por buscas em livros franceses e 
portugueses, adaptando-os e traduzindo-os para a linguagem brasileira. Foram mais de dez 
títulos publicados, todos alcançando grande êxito entre as crianças e os adultos pois, eram 
escritos com uma linguagem leve, espontânea e com a forma bem brasileira da época. Em seu 
livro Contos da Carochinha foram organizados cerca de sessenta e um contos, com muito 
êxito já que, foram vendidos em torno de cem mil exemplares. Sandroni (2011, p.37) clarifica 
que: 
 
 
Em Contos da carochinha, primeiro volume da coleção, diz o autor na dedicatória: 
“São histórias para crianças, mas todas tem um fundo moral, muito proveitoso, 
ensinando que a única felicidade está na virtude, e que a alegria só vem de uma vida 
honesta e serena.” E ainda: “E lembra-te que a vida de família é a única feliz, que o 
lar é o único mundo onde se vive bem, onde a mulher, boa, santa, pura, carinhosa, 
impera como rainha”. 
 
 
Dessa forma era possível encontrar em seus contos historias europeias e portuguesas 
que falavam de todos os seres mágicos e também narrativas que valorizavam a cultura 
brasileira do século XIX. Eram compostos por ideias de socialização, nacionalistas, com 
valores morais, de formas implícitas, além de favorecem o desenvolvimento da imaginação. 
No livro era possível encontrar versões das histórias A Festa no Céu, A Bela e a Fera, A Onça 
e o Gato e o Patinho Aleijado, sendo este último uma tradução do conto de Andersen, onde 
 
Figueiredo tentou abordar costumes e valores da época numa visão destinada para o trabalho 
pedagógico. Figueiredo e Andersen trabalhavam a sensibilidade humana através da fantasia, 
da magia e do lúdico, permitindo a reflexão sobre a exclusão, por meio de situações 
cotidianas. 
Sandroni (2011) cita também Arnaldo de Oliveira Barreto, organizador de uma 
biblioteca em São Paulo que se iniciou pelo conto O Patinho Feio em 1915. E Olavo Bilac 
que já era poeta consagrado quando traduziu vários contos para a Editora Laemmert, usando o 
pseudônimo de Pantásio. Uma de suas obras mais conhecida é Juca e Chico. As diferenças 
entre as histórias brasileiras, escritas sob a influência da cultura indígena, das europeias eram 
extremamente grandes. Sandroni (2011, p. 39), explica que: 
 
 
Em sua cristalina simplicidade, as primeiras falam do valor da inteligência, do 
conflito entre o forte e o fraco de uma forma muito mais direta e saudável do que as 
outras originarias de povos civilizados, marcadíssimos pela religião católica 
dominadora e todo o sentimento de culpa que ela acarreta. 
 
 
Além de serem mais simples, as narrativas brasileiras traziam uma sutileza maior ao se 
tratar de grandes conflitos, permitindo uma maior compreensão do público infantil. De forma 
lúdica tratavam de grandes assuntos que contribuíam de maneira significativa para o 
desenvolvimento do sujeito infantil. Dessa maneira, é possível dizer que ao compreender a 
história dos contos infantis no Brasil e no mundo, é possível perceber a imensa importância 
que esse gênero literário possuiu para as crianças numa sociedade onde a maioria dos leitores 
faziam parte de uma pequena elite cultural que dominava todos os escritos. 
Os contos de fadas permitem entender a evolução humana e a evolução da escrita, por 
meio do modo de se contar as histórias, da socialização e dos conhecimentos de todas as 
culturas e povos. Onde de acordo com Corso e Corso (2006, p. 16) “os autores são pais e 
contadores de histórias, têm a sabedoria de não esgotar pela explicação psicanalítica todos os 
elementos que compõe a magia dos contos de fadas.” 
A construção dos contos de fadas está ainda muito presente. Mesmo sofrendo algumas 
mudanças, continuam atendendo as necessidades psicológicas e sócias dos pequenos leitores. 
A forma como os contos foram escritos permite ter uma visão histórica e globalizada de como 
era a cultura das nações onde foram dissertados, possibilitam também, observar como a 
 
realidade foi transmitida para os livros, facilitando a adequação das obras para o presente, sem 
no entanto, perder a origem histórica dos locais e dos momentos onde foram escritos. 
Essas narrativas continuam tão contemporâneas visto que, as crianças continuam 
interessadas nos mistérios, nos conflitos, na magia e na imaginação que estas proporcionam, 
tratando de assuntos atuais e do cotidiano que permite, depois de séculos, continuar 
fascinando tanto os pequenos como os adultos. Conseguem penetrar nas gerações atuais e 
permaneceram como tradição das gerações futuras. 
 
2.3.3 As Características dos Contos de Fadas 
 
Os contos de fadas como já dito, possuem origem Celta, mas existem registros que 
sugerem que esse gênero literário é ainda mais antigo. Presentes até os dias atuais, essas 
narrativas sofreram algumas mudanças, mas não perderam suas características estruturais 
fixas, o que contribui para serem ainda, tão importantes para o desenvolvimento infantil. 
 
2.3.3.1 Os Contos de Fadas se Diferem dos Contos Maravilhosos e dos Mitos 
 
Os contos maravilhosos se constituem em uma das categorias dos contos populares 
dos quais surgiram também os contos de fadas. Ambos tratam da fantasia e dos elementos 
mágicos por isso, na maioria das vezes, são considerados iguais, mas de acordo com Coelho 
(1987) eles apresentam problemáticas diferentes. A estrutura dos contos maravilhosos tem 
raízes nas histórias orientais, transmitidas pelos árabes, onde o meio das aventuras é sempre 
voltado para a natureza material, social ou sensorial, ou seja, os personagens dessas narrativas 
estão sempre em busca de riquezas, da satisfação do corpo ou da conquista do poder. Aladim 
e a Lâmpada Maravilhosa é um grande exemplo desses contos maravilhosos. Ainda segundo 
Coelho (2000) os contos de fadas se diferem pois, apresentam uma natureza mais espiritual, 
ética e existencial. As aventuras e os personagens se ligam ao sobrenatural e ao mistério além 
da vida, com o intuito de proporcionar a realização da vida humana. 
Já Corso e Corso (2006) acreditam que a denominação: contos de fadas possuem o 
mesmo significado de contos maravilhosos. Esse último traz esse nome devido à presença de 
algum elemento mágico ou fantástico na história. Já a cultura popular optou por nomeá-los 
como fadas, justificando o fato de existirem, em algumas narrativas, as fadas. Jean-Marie 
Gillig (1999) afirma que ambos não se diferem e que o maravilhoso presente nesse gênero 
literário em partes, é o mesmo encontrado nos sonhos, já que ambos tratam da realização de 
 
um desejo. O autor esclarece que até mesmo o psicanalista Freud se interessou por essas 
narrativas folclóricas e enxergou nelas algumas representações de sonhos. 
Todos os materiais mágicos encontrados nos contos de fadas são muitas vezes, 
equivalentes aos fantasmas (como a psicanalise nomeia) dos sonhos. Esses fantasmas 
presentes nos contos, afirma ainda Jean- Marie Gillig (1999) que são muitos e referem-se ao 
processo do inconsciente, e o maravilhoso está presente para vesti-los e os tornarem aceitáveis 
e desejáveis pelo indivíduo. Já Bettelhim (1988) afirma que de certo modo, as diferenças entre 
os contos de fadas e os sonhos são bem significativas. Para ele nos sonhos a satisfação dos 
desejos é disfarçada, enquanto nos contos é expressa abertamente. Os sonhos são muitas vezes 
resultados de pressões internas que não possuemsoluções e estes também não apresentam 
nenhuma contribuição para a resolução de conflitos internos. Já o conto de fadas faz o oposto, 
ele projeta o alivio de todos os problemas e ainda oferece soluções para resolvê-los de forma 
que tudo termine com um desfecho feliz. 
Considera-se então, que a maior diferença entre os contos de fadas e os contos 
maravilhosos se dá no sentido que ambas possuem naturezas diferentes. Nos contos de fadas a 
busca insaciável é pelo herói, para que ocorra uma realização interior, já nos contos 
maravilhosos a busca é pela ascensão social e pela realização exterior. Os personagens não 
são heróis, são apresentados como protagonistas que partem da pobreza para a busca 
incansável pelas riquezas, onde os conflitos se iniciam. É interessante esclarecer que nos 
contos de fadas, a busca pela realização se dá pelos conflitos, onde a dualidade entre o bem e 
o mal é característica essencial. Os contos maravilhosos não contam com a presença de fadas, 
apenas de outros seres mágicos como os duendes, ogros, bruxas e animais ou objetos falantes. 
Os contos de fadas dispõem de características que se diferem das fábulas e dos mitos. 
Bettelhim (1988) explica que ambos proporcionam ensinamentos. Os mitos e as fábulas 
tratam da aprendizagem de forma mais direta e clara, já os contos trazem esses ensinamentos 
de uma maneira mais sutil, gentil, indireto e sem solicitações. No final de uma fábula, é 
encontrada sempre uma moral, onde incentiva o leitor a praticar hábitos que diferem ou 
justificam as atitudes das personagens. Assim também se faz nos mitos onde as práticas que 
são corretas, estão explicitas nas atitudes das figuras da história. O conto de fadas com todo 
seu lúdico e seu encantamento, apresenta essas características de modo implícito e otimista. 
Outra diferença entre os mitos e os contos de fadas é que esse primeiro trata de 
acontecimentos grandiosos, que não poderiam acontecer com os leitores. Em contraste esse 
último mesmo com situações inusitadas e improváveis, transmite a ideia de que os 
acontecimentos são fatos comuns e possíveis de acontecer com qualquer pessoa. E isso 
 
acontece devido ao fato das histórias terem sido escritas de maneira casual e cotidiana. Uma 
diferença ainda mais significativa apontada por Bettelhim (1988) é o final de cada história, 
onde nos mitos quase sempre é trágico, enquanto nos contos de fadas na maioria das vezes é 
feliz. De forma clara o autor explica: 
 
 
O mito é pessimista, enquanto a estória de fadas é otimista, mesmo que alguns traços 
sejam terrivelmente sérios. É esta diferença decisiva que separa os contos de fadas 
de outras estórias nas quais igualmente ocorrem coisas fantásticas, que o resultado 
seja feliz devido às virtudes do herói, à sorte, ou à interferência de figuras 
sobrenaturais (BETTELHIM 1988; p. 47). 
 
 
Os contos de fadas oferecem matérias de fantasia que sugerem às crianças 
significados, através dos símbolos, para conseguir uma auto realização e por consequência, 
um final feliz. Já os heróis míticos oferecem ótimas imagens para o desenvolvimento da 
criança, mas os elementos utilizados levam ao desencorajamento do sujeito para progredir. 
Conforme Bettelhim (1988) explica, os personagens dos mitos, especificamente os heróis, 
possuem uma vida sobre-humana, o que contribui para essas histórias não serem tão bem 
aceitas pelos pequenos. A criança não consegue ainda, por em pratica as atitudes dos heróis já 
que, para ela são feitos incomuns e impossíveis de serem realizados. O autor deixa claro que 
isso não ocorre nos contos de fadas. Os heróis são simples, com dificuldades e 
insignificâncias, são de certa forma, esse é o ponto que impressiona as crianças. 
Bettelhim (1988; p. 52) clarifica, por meio de elementos psíquicos, a distinção entre os 
mitos e o conto de fadas, quando diz que estes “projetam uma personalidade ideal agindo na 
base das exigências do superego, enquanto os contos de fadas descrevem uma interação do 
ego que permite uma satisfação apropriada dos desejos do id”. Vale explicar que o id é a 
estrutura do aparelho psíquico, formado pelo ego e pelo superego. É responsável pelos 
instintos, pelos impulsos orgânicos e pelos desejos do inconsciente. Essa diferença mostrada 
por Bettelhim (1988) nada mais é que, a resposta dada pelo contraste entre o pessimismo que 
compõe os mitos, e o otimismo presente nos contos de fadas. 
 
2.3.3.2 As Fadas 
 
 
Apesar de todas as mudanças que os contos de fadas sofreram durante esses séculos, 
as fadas continuam fazendo parte como um dos principais elementos simbólicos dessas 
narrativas. Coelho (2000, p. 173) afirma que o nome fada deriva do termo latino “fatum” que 
significa destino, onde foram incluídas primeiramente nos mitos. Conforme a autora, não se 
sabe ao certo a origem das fadas já que, elas nasceram pela primeira vez na imaginação do 
homem, numa época onde o pensamento mágico dominava a humanidade. 
Alguns historiadores levantaram a hipótese de que as fadas faziam parte de um culto 
primitivo, e mesmo com a evolução do homem e o surgimento das novas religiões, elas teriam 
sobrevivido ao paganismo. Porém, para Coelho (2000) elas só sobreviveram devido ao fato de 
possuírem uma ligação com a figura da mulher, apresentando por esse motivo, uma 
característica mais misteriosa e feminina. As fadas de acordo com a escritora, talvez 
simbolizavam a face luminosa e positiva da força da mulher, do seu poder de dispor da vida e 
de conter em si o futuro. O inverso seria uma visão feminina frustrada, que representa a 
transformação da fada em bruxa, ou seja, a mulher que interrompe o destino e frustra a 
realização do ser. 
Alguns registros afirmam que as primeiras fadas apresentadas como personagens de 
uma história, teriam surgido nas novelas de cavalaria celtas. Representavam ainda, as forças 
psíquicas e metafisicas. Com o tempo, passaram a fazer parte do meio popular. Em meio às 
crianças e os adultos, sua principal característica se sobressaiu, e até os dias atuais fascinam a 
todos, que é a de possuir um poder mágico. Por se tornarem tão reconhecidas e encantadoras, 
passaram a fazer parte das histórias literárias. 
Nos contos de fadas, as fadas aparecem para ajudar os personagens ou contraria-los, 
pois elas são boas ou más, dessa forma afirma Jean-Marie Gillig (1999, p. 71) que “as 
primeiras são mais conhecidas, são aquelas que pronunciam os votos positivos no nascimento 
do herói ou ainda ajudam no parto. As outras têm poderes maléficos e se opõem à busca 
iniciadora”. Para essa última podemos citar o exemplo da madrasta de Branca de Neve, que 
apesar de não receber nome de fada, possui todos os poderes de uma. 
Jean-Marie Gillig (1999, p. 71) elucida que as fadas apareceram em números contados 
nos contos escritos por Perrault e pelos Irmãos Grimm, “no primeiro caso, elas aparecem 
principalmente em As Fadas, Cinderela, A Bela Adormecida do Bosque e Riquete da Crista. 
Em Pele de Asno, a fada tem apenas alguns poderes e dá, sobretudo, conselhos”. Nos contos 
de Perrault as fadas não possuem nomes. Existe uma exceção para o fato de serem atentas ao 
nascimento do herói já que, no conto de Bela Adormecida a fada é a última a chegar ao 
 
batismo, com o papel de madrinha, que significa proteger a menina até a adolescência e 
depois desaparecer. 
Já nos contos dos Irmãos Grimm, as fadas apareceram somente a partir da edição de 
1819, onde passou a se tornar uma mulher parteira, sábia e mágica. Conforme Jean-Marie 
Gillig (1999; p. 72) explica, nos contos escritos pelos alemães, “as fadas tem a aparência de 
uma velha senhora, ao contrário da imagem da fada esplendorosa e luminosa do conto 
francês”. Para o autor o papel de “parteira” que as fadas recebem, representa a transmissão 
dos conhecimentos religiosos e sociais onde, por meio desses, o homem pode inserir-se no 
mundo e garantir nele o seu

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