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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Sistemas e Tratamento de Efluentes Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamento Terciário Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Daniela Debone Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução; • Lodos Ativados; • Sistemas de Aeração; • Filtração; • Processos Oxidativos. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivo • Discutir os principais processos do tratamento terciário de efluentes, tais como os sistemas de lodos ativados, filtração, adsorção com carvão ativado e processos de oxidação química. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Processo de Tratamento Aplicado a Efluentes: Tratamento Terciário UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Contextualização Para começar esta unidade, leia a reportagem sobre um surto de cólera que deixou muitas vítimas em Zimbábue, na África: Zimbábue declara emergência depois de 20 mortes por cólera na capital, disponível em: https://goo.gl/tqbSrQ Oriente sua reflexão através dos seguintes questionamentos: • É possível transformar água de esgoto em água potável para consumo humano? • É possível, através dos processos de filtração, atender às exigências legais quanto à qualidade da água para consumo humano a partir do esgoto? 6 7 Introdução Até aqui, aprendemos que, no tratamento preliminar, são retirados sólidos grosseiros dos efluentes. A etapa de tratamento primário deve que ser empregada para a remoção de uma grande parcela dos sólidos em suspensão e também para remover parte da ma- téria orgânica. E na etapa de tratamento secundário, vimos que ocorrem processos bio- lógicos para a remoção de matéria orgânica dissolvida e matéria orgânica em suspensão. O tratamento terciário, também conhecido como tratamento avançado, é aplicado para se obter um efluente de alta qualidade. Consiste em uma série de processos destinados a melhorar a qualidade dos efluentes provenientes do tratamento primário ou do secundário. Geralmente, essa etapa pode ser aplicada para a redução de sólidos em suspensão, car- ga orgânica biodegradável e não biodegradável, compostos tóxicos e nutrientes, podendo ser realizada em diversas partes, a depender do tipo de poluição e do grau de depuração do efluente. Lodos Ativados O processo de lodos ativados é um sistema de tratamento de efluentes que apre- senta elevada eficiência na remoção de matéria orgânica presente em efluentes sani- tários e industriais. O princípio básico desse processo é o retorno das bactérias presentes no decantador para o tanque de aeração, com o objetivo de aumentar a concentração de bactérias nessa unidade. Quanto mais bactérias houver em suspensão, maior será o consumo de alimento, portanto, maior será a assimilação da matéria orgânica presente no esgoto bruto (Figura 1). Trata-se de um processo de natureza biológica, exclusivamente aeróbio, em que a matéria orgânica é depurada, por meio de colônias de microrganismos heterogêneos específicos, na presença de oxigênio. Essas colônias de microrganismos formam uma massa denominada de lodo ativo, ativado ou biológico. a�uente e�uente REATOR AERADO DECANTADOR SECUNDÁRIO Lodo Recirculado Lodo Excedente Figura 1 – Fluxograma simplifi cado sistema de lodo ativado 7 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Na Figura 1, pode-se ver que o lodo é recirculado para o reator, com o objetivo de provocar a decomposição da matéria orgânica através da atividade metabólica de microrganismos presentes. No reator, o ambiente aeróbio é mantido por aeradores mecânicos, que também auxiliam na mistura desses flocos de lodo ativado. Após deter- minado tempo, o esgoto é conduzido para um tanque de decantação, onde os flocos se separam do efluente. Parte do lodo sedimentado é recirculada, a fim de manter a con- centração desejada de organismos no reator; e a parte excedente é retirada do sistema, para estabilização e destinação final. O sistema de lodos ativados é muito utilizado em todo o mundo, com a finalidade de tratar efluentes domésticos e efluentes provenientes das indústrias. Em destaque, deve-se levar em consideração algumas características para a sua implementação, tais como o alto grau de mecanização, operação mais sofisticada e maior consumo de energia elétri- ca, quando comparado a outros sistemas de tratamento. Além disso, algumas variações podem ocorrer nesse tipo de processo, destacam-se: o tipo de fluxo (contínuo ou intermitente), a origem do efluente (esgoto bruto, efluente de decantado e primário, efluente de reator anaeróbio ou efluente de outro processo de tratamento) e a idade do lodo (Tabela 1). Tabela 1 – Classifi cação dos sistemas de lodo ativado nos tratamentos de efl uentes em função da idade do lodo Idade do lodo DBO/unid. de vol. Faixa de idade Denominação usual Reduzidíssima Altíssima Inferior a 3 dias Aeração modificada Reduzida Alta 4 a 10 dias Lodos ativados convencionais Intermediária Intermediária 11 a 17 dias – Elevada Baixa 18 a 30 dias Aeração prolongada Fonte: adaptada de Von Sperlling (1997) Sistema de Lodos Ativados Convencional Esse sistema é caracterizado pelo fluxo contínuo, a quantidade de biomassa elevada no interior do reator e a alta atividade metabólica, portanto, é necessário remover uma quantidade de lodo equivalente à que é produzida. O fornecimento de oxigênio é feito por aeradores mecânicos ou ar difuso. O processo de recirculação exige uma unidade de decantação primária, com a finali- dade de remover os sólidos sedimentáveis do efluente bruto. Nesse processo, a idade do lodo (θc) pode variar de 4 a 10 dias e o tempo de deten- ção hidráulica (θH) pode variar entre 6 a 8 horas. Sistema de Lodos Ativados de aeração prolongada Bem semelhante ao sistema convencional, também caracterizado pelo fluxo contí- nuo, nos sistemas de lodos ativados com aeração prolongada, a biomassa permanece no sistema por um período prolongado, recebendo a mesma carga de DBO do efluente 8 9 bruto que o sistema convencional, portanto, há menor disponibilidade de alimento para os microrganismos. Devido à maior idade do lodo e maior quantidade de biomassa, o reator possui maior volume, assim, há menos matéria orgânica por unidade de volume do tanque de aera- ção. Como resultado, os microrganismos, para sobreviver, passam a utilizar nos seus processos metabólicos a própria matéria orgânica componente das suas células, corres- pondendo a uma estabilização da biomassa, no próprio tanque de aeração. Os sistemas de aeração prolongada usualmente não possuem decantadores primários, para evitar a necessidade de estabilizar o lodo primário. Nesse processo, a idade do lodo (θc) pode variar de 18 a 30 dias e o tempo de deten- ção hidráulica (θH) pode variar entre 16 a 30 horas. Sistemas de lodos ativados em reator de batelada O sistema de lodos ativados em reator de batelada, ou de regime intermitente, apre- senta estrutura diferente,uma vez que as operações do sistema, aeração e a decantação não ocorrem em série, como normalmente ocorre em outros sistemas. Esse sistema possui ciclos bem definidos de operação: enchimento, reação, sedimenta- ção, esvaziamento e repouso. Geralmente, recebe-se o efluente de forma contínua, portan- to, há dois tanques de aeração trabalhando em paralelo. Enquanto um tanque está no ciclo de decantação, o outro tanque está recebendo o efluente no ciclo de enchimento (Figura 2). Nesse tipo de sistema, o volume do reator determinará a quantidade de efluente a ser tratada, a idade do lodo e o tempo de detenção hidráulica. sólidos sólidos GRADE DESARENADOR Reator em Decantação Reator em Reação Lodo Estabilizado E�uente Figura 2 – Fluxograma de sistemas de lodos ativados em reator de batelada Exemplos de cálculos operacionais – Sistema de Lodos Ativados • Idade do Lodo (I.L.) » Variáveis: Volume Tanque de Aeração (V) = 4374 m3; Sólidos em Suspensão Tanque de Aeração (SSTA) = 3500 mg/l; Sólidos em Suspensão Retorno de 9 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Lodo (SSRL) = 6000 mg/l (Retorno/ Descarte do Lodo); Vazão de Descarte de Lodo (QDLE) = 150 m3/d. IL = V × SSTA Q × SSRL = 4374 × 3500 150 × 6000 = 17 dias LDE • Vazão de Descarte de lodo em excesso para obtenção de uma determinada I.L. » Variáveis: V = 4374 m3; SSTA = 3500 mg/l; SSRL = 6000 mg/l; I.L. desejada = 8 dias Q = V × SSTA IL × SSRL = 4374 × 3500 8 × 6000 = 318 m /d LDE 3 • Índice Volumétrico de Lodo (IVL) – Representa o volume em ml ocupado por um grama de sólidos em suspensão (seco), dado pela divisão do resíduo sedimentável (SS) por SSTA, expresso em ml/g; indica qualitativamente os padrões de sedimen- tabilidade do lodo. » Variáveis: SSTA = 3500 mg/l; SS = 400 ml/l IVL = SS × 1000 SSTA = 400 × 1000 3500 = 114 ml/g • Fator F/M – Relação Alimento/Microorganismo (Food/Microorganism Ratio) » Dados: Carga Orgânica = 5500 Kg DBO/d; Volume do Tanque de Aeração = 4374 m3; SSTA = 3500 mg/l F/M = C.O. × 1000 V × SSTA = 5500 × 1000 4374 × 3500 = 0,35 kkg DBO/d. Kg SSTA • Recirculação do Lodo, balanço de massa e remoção do lodo excedente » A recirculação do lodo proporciona a manutenção de uma alta concentração de sólidos no reator, possibilita manter a idade do lodo maior que o tempo de deten- ção hidráulica (θc > θH) e é dada pela seguinte equação: R Q Q R= » Onde: QR é a vazão de recirculação; Q é a vazão do sitema. O balanço de massa é um fator importante nos processos de batelada com recircu- lação de lodos ativados. Em reatores de mistura completa em estado estacionário, o balanço de massa é dado, considerando que: • Acumulação: 0 (não existe acúmulo de massa no estado permanente); • Produção: Consumo (crescimento bacteriano = retirada de lodo excedente); 10 11 • Entrada: carga sólidos suspensos efluentes brutos + carga sólidos suspensos lodo recirculado; • Saída: carga sólidos suspensos totais acumulada; • Entrada: Saída → QR ⋅ XR = (Q + QR) ⋅ X. » Assim, o controle hidráulico do sistema, ou seja, a retirada do lodo excedente no reator é dado por: Q Vex c = q » Já a retirada do lodo excedente na linha de recirculação, que proporciona uma menor vazão (Qex) e, consequentemente, proporciona uma vazão menor de lodo que deverá ser tratado posteriormente é dada por: Q V X Xex c r = q Sistemas de Aeração Nos sistemas em que se utiliza o tratamento biológico aeróbio, o oxigênio é adicio- nado ao processo com a finalidade de atender às demandas dos processos de oxidação da matéria orgânica. Na oxidação da matéria orgânica carbonácea, ocorre a oxidação do carbono orgâ- nico, fornecendo mais energia para os processos de síntese bacteriana; esse sistema é denominado respiração endógena. Já na matéria orgânica de nitrificação, as formas de aeração ocorrem por injeção artificial de ar ou oxigênio no líquido, o que provoca um grande turbilhonamento, aumentando a área de exposição do líquido ao ar e proporcionando a introdução do ar no líquido (aeração superficial ou mecânica). Os principais mecanismos de transferência de oxigênio por aeradores superficiais são: transferência do oxigênio atmosférico às gotas e finas películas de líquidos aspergi- dos no ar (cerca de 60% da transferência total); transferência do oxigênio na interface ar-líquido, onde as gotas em queda entram em contato com o líquido no reator (cerca de 30% da transferência total); transferência do oxigênio por bolhas de ar, transportadas da superfície ao seio da massa líquida (cerca de 10% da transferência). A aeração mecânica pode ser classificada com relação ao eixo de rotação, que pode ser vertical ou horizontal. No caso de aeradores de eixo vertical, ainda se pode destacar a baixa rotação com fluxo radial e a alta rotação com fluxo axial (Figura 3). 11 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário AERADOR DE EIXO VERTICAL ROTOR DE EIXO HORIZONTAL Figura 3 – Tipos de aeradores quanto ao eixo O controle do fornecimento de oxigênio (ar) é definido conforme o processo adotado. No caso de aeração mecânica, os fatores de influência para o controle de oxigênio são: pos- sibilidade de ligar e desligar os aeradores; variação da velocidade de rotação dos aeradores (duas velocidades ou velocidades variáveis); variação do nível das pás dos aeradores (variação da submergência dos aeradores através da atuação no seu eixo); variação do volume do líqui- do (variação da submergência dos aeradores através do ajuste do vertedor de saída). E no caso de aeração por ar difuso, os fatores de influência para o controle de oxi- gênio são: variação da velocidade dos sopradores; variação das aletas de entrada; ajuste das válvulas de sucção de todos os sopradores ligados, de forma a manter uma pressão constante na tubulação de alimentação de ar. Filtração A filtração, processo físico-químico e, em alguns casos, biológico, é utilizada para a se- paração de impurezas em suspensão no efluente, por sua passagem através de um meio poroso. Diversos materiais granulares podem ser usados como meio poroso, tais como areia (mais comum e mais barato), antracite, areia de granada, carvão ativado granular e outros. Os filtros são classificados entre lentos ou rápidos, de acordo com a velocidade que o efluente atravessa o meio filtrante; e em ascendentes ou descendentes, de acordo com o sentido do fluxo do efluente. O uso da filtração por gravidade, similar ao empregado nas instalações de tratamento de águas, pode ser utilizado para remover sólidos em suspensão e bactérias que não foram removidos em decantadores de tratamento secundário. Os filtros de areia ou antracite, além de filtros rotativos, são os mais aplicados. O uso de filtros pode reduzir de 25 a 10 mg/L os sólidos em suspensão, provenientes do sis- tema de lodos ativados. Agentes coagulantes, como sulfato de alumínio e polieletrólitos, podem ser utiliza- dos visando ao aumento da eficiência de remoção. O uso de coagulantes e sedimenta- ção, seguida de filtração, pode levar o nível dos sólidos suspensos a valores extrema- mente reduzidos. 12 13 Filtros de membrana A tecnologia de separação por membranas é outro tipo de sistema também empre- gado no tratamento terciário de efluentes. Possibilita a obtenção de um efluente tratado com qualidade superior para ser devolvido ao ambiente em condições seguras. Assim, essa tecnologia tem assumido grande importância para o tratamento de efluentes indus- triais e para o tratamento de água para consumo. Os processos de separação por membranas podem ser enquadrados em uma das seguintes categorias: separação sólido-líquido; separação de substâncias inorgânicas dis- solvidas; separação de compostos orgânicos, dissolvidos ou não. A membrana faz o papel de barreira seletiva, impedindo que componentes indese- jados a ultrapassem, além disso, pode efetivamente remover microrganismos, servindo como uma barreira absoluta.Os processos de separação por membranas são operados por escoamento tangencial (fluxo cruzado), no qual o efluente flui paralelamente à superfície da membrana, enquan- to o permeado (filtrado) é transportado transversalmente à mesma (Figura 4). Figura 4 – Separação por membranas por escoamento tangencial Fonte: labvirtual.eq.uc.pt Para que a separação por membrana seja eficiente, é importante usar a membrana adequada para cada caso. Há diversos tipos de membranas, cada uma oferece um tipo diferente de filtração. Os principais processos de separação e tipos de membranas são: • Microfiltração (MF): Sistema de membrana porosa, diâmetro do poro entre 0,05 e 3 µm, utiliza pressão hidráulica para reter sólidos em suspensão e alguns vírus e bactérias presentes no efluente. Através da microfiltração, é possível obter uma redução significativa na turbidez do efluente tratado; • Ultrafiltração (UF): Sistema de membrana porosa, diâmetro entre 0,001 e 0,05 µm, também utiliza pressão, é capaz de concentrar colóides e macromoléculas com massa molecular próxima de 1000 g/mol; Para se aprofundar nas aplicações da ultrafiltração no tratamento de efluentes, leia o tra- balho Processo de ultrafiltração e a sua aplicação em águas residuais, produzido na Universidade do Porto, pelo curso de Mestrado integrado de Engenharia do Ambiente. Disponível em: https://goo.gl/XDcCsG 13 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário • Nanofiltração (NF): Sistema de membrana densa, o diâmetro dos poros é da ordem de 0,001 µm. Utiliza pressão osmótica e mecanismos de solubilidade e difusão. É ca- paz de separar moléculas com massa molecular de até 200 g/mol e íons bivalentes, como cálcio e magnésio, mas não é tão eficiente quanto a dessalinização; • Osmose Reversa (OR): Sistema de membrana densa, diâmetro dos poros é menor do que 0,001 µm. Aplica-se uma pressão hidráulica superior à pressão osmótica de equilíbrio para promover a separação de contaminantes com baixa massa mole- cular – iônicos ou não. Dessalinização de água salina e salobra, produção de água ultrapura, concentração de soluções específicas para recuperar elementos de inte- resse, tratamento de efluentes são as principais aplicações (Figura 5); ÁGUA SALGADA OSMOSE REVERSA ÁGUA FRESCA Membrana Molécula de Água Molécula de Sal PRESSÃO Figura 5 – Representação esquemática de OR para produção de água pura Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images • Eletrodiálise (ED): Membranas aniônicas e catiônicas, dispostas alternadamente entre dois eletrodos. Assim, as cargas elétricas são utilizadas para promover a se- paração de espécies iônicas (Figura 6). Produção de água potável, tratamento de efluentes, concentração de sais e obtenção de cloro e hidróxido são algumas apli- cações. Para aplicações industriais, centenas de pares de células são montadas em uma pilha, melhorando a eficiência energética. Figura 6 – Representação esquemática de ED Fonte: pha.poli.usp.br 14 15 As figuras 7 e 8 mostram respectiva e sinteticamente a capacidade de separação dos principais processos de separação por membranas e as técnicas de separação em função do contaminante Figura 7 – Capacidade de separação dos principais processos de separação por membranas Fonte: pha.poli.usp.br Figura 8 – Técnicas de separação em função do contaminante presente no efl uente Fonte: pha.poli.usp.br 15 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Adsorção com carvão ativado A adsorção com carvão ativado de poluentes presentes no efluente baseia-se na adesão desses compostos na superfície porosa do carvão ou na retenção física desses poluentes no interior dos poros (link abaixo). Representação da estrutura porosa do carvão ativado, disponível em: https://goo.gl/mPxzj5 Pode ser empregado como pré-tratamento da osmose reversa, a aplicação do carvão ati- vado no tratamento de efluentes pode ser realizada com carvão ativado granular ou em pó. Frequentemente, depois do tratamento secundário, pode estar presente no efluente compostos orgânicos solúveis não biodegradáveis, tais como pesticidas e fenóis, respon- sáveis por odores e sabores indesejáveis, podendo ser removidos por adsorção com car- vão ativado. Além desses compostos, esse processo pode ser aplicado para a redução de micropoluentes orgânicos e metais pesados, tais como prata, mercúrio (completamente removidos), chumbo e cobre (reduzidos a níveis aceitáveis). Além da vasta eficiência, possui vantagem econômica relacionada, principalmente, com o reuso do carvão ativado contaminado. Os principais métodos de regeneração do carvão ativado são: regeneração térmica, realizada por incineração; regeneração quími- ca (dessorção com solvente ou oxidação úmida); e regeneração biológica (processo lento e que requer espécies adsorvidas facilmente biodegradáveis). Leia mais sobre os benefícios da aplicação do sistema de carvão ativado. Disponível em: https://goo.gl/7BK68b Processos Oxidativos A oxidação química é um processo que demonstra grande potencial no tratamento de efluentes com poluentes tóxicos não biodegradáveis. Através de reações químicas de oxidação, ocorre a degradação desses poluentes, ou mineralização orgânica, acompa- nhada de diminuição significativa de DQO. Os processos oxidativos convencionais utilizam como agentes oxidantes oxigênio, ozônio, cloro, hipoclorito de sódio, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio e outros. Oxidação com peróxido de hidrogênio O H2O2 é muito utilizado na remoção de cianetos, sulfetos, sulfitos, nitritos, metais pesados, na indústria têxtil, de papel, de alimentos, metalúrgicas, petroquímica e outras. Também pode ser utilizado na produção de água potável e na remediação de solos con- taminados e efluentes perigosos. 16 17 Considerado um ácido fraco, em contato com a água, o peróxido de hidrogênio se dissocia facilmente, formando dois compostos iônicos distintos, conforme descri- to na equação: H2O2 + H2O ↔ H3O + + HO2- Dentre as vantagens que o processo com H2O2 oferece, estão a grande capacidade de oxidar compostos diretamente, a sua solubilidade em água, a formação de dois ra- dicais HO2- por meio da própria molécula de H2O2 e boa estabilidade térmica. Como desvantagens, é possível destacar que a taxa de oxidação é limitada exatamente pela formação dos radicais OH, e que o H2O2 pode se tornar um receptor de OH, o que ocorre na reação inversa, conforme observado na equação. Oxidação com ozônio O ozônio (O3) é muito utilizado na remoção de cianetos, sulfetos, nitritos e metais pesados. É utilizado no tratamento de efluentes das indústrias de papel e têxteis, propor- cionando a degradação de seus compostos poluentes. Também pode ser utilizado em pré-tratamento, oxidação e desinfecção de água potável, na remoção de ferro e manga- nês, na inativação de bactérias, na degradação de efluentes agrícolas e na remoção de odores em fases gasosas. Possui alto poder oxidante (E° = 2,08V). Em solução aquosa, se decompõe em O2 e em espécies radicais, como o OH- e o OH2- (ver equação abaixo), ambos compostos iônicos também possuem grande poder oxidativo. O3 + H2O → H2O2 + O2 Processos oxidativos avançados Cada vez mais, legislações que tratam da presença de poluentes em águas e efluentes estão, aliadas às demandas sociais em relação aos impactos dessas substâncias sobre o meio ambiente e a saúde humana, têm impulsionado o desenvolvimento de novas tec- nologias de tratamento, entre as quais incluem-se processos oxidativos e foto-oxidativos, juntos denominados Processos Oxidativos Avançados (POAs) (Figura 9). Figura 9 – Esquema representativo dos principais POAs que resultam em mineralização orgânica Fonte: ufjf.br 17 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Tais tecnologias envolvem espécies reativas de oxigênio, que permitem a degrada- ção de poluentes orgânicos, ou mineralização orgânica de diferentes grupos funcionais. Alguns poluentestóxicos são resistentes à ação dos agentes oxidativos convencionais, tornando-se necessária a aplicação de POAs, que constituem basicamente a formação de radicais OH, espécie reativa de oxigênio com potencial de oxidação bastante elevado, pois são capazes de reagir com praticamente todas as classes de compostos orgânicos. Dentre os POAs, destaca-se o processo de Fenton, que utiliza íons ferrosos (Fe2+) ou férricos (Fe3+) como catalisadores, em meio ácido, para promover a decomposição de H2O2 e, assim, gerar radicais OH, como mostra a equação: Fe2+ + H2O2 → Fe 3+ + OH– + HO O processo tem se mostrado bastante eficiente na oxidação de compostos orgânicos tóxicos e não biodegradáveis, apresentando inúmeras vantagens, tais como operação simples e flexível, facilidade de manuseio e uso de produtos químicos de baixo custo. Entretanto, também tem desvantagem, tais como: não alcança a mineralização total dos poluentes orgânicos, pode apresentar riscos devido ao transporte e armazenamento de H2O2 e necessidade de grandes quantidades de produtos químicos. De acordo com o que vimos nesta disciplina, os efluentes precisam ser tratados para retornarem aos corpos hídricos; se despejados diretamente, os impactos ambientais e à saúde gerados e os custos associados são imensuráveis. O tipo de tratamento é indicado conforme com a carga poluidora e a presença de contaminantes. Há diversas Estações de Tratamento de Água (ETAs) e Estações de Tra- tamento de Efluentes (ETEs) pelo Brasil, que são responsáveis pelo processo de desin- fecção das águas e efluentes (link a seguir), para que esses retornem ao meio ambiente e à população. Amostras de efluente não tratado (esquerda) e tratado (direita), disponível em: https://goo.gl/gCnw9H Para finalizar esta disciplina, leia a reportagem sobre intensa poluição do rio Tietê e reflita so- bre a importância do tratamento de águas e efluentes. Disponível em: https://goo.gl/ZnGjzG 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Tratamento de Efluentes por Fenton Experimento em laboratório de Fenton, um vídeo de tratamento de efluentes por Fenton. https://youtu.be/TLfQbkG6S6M Lodo Ativado com boa depuração Mostra a diversidade microbiológica do lodo ativado. https://youtu.be/HXf-5aVS36g Parâmetros importantes nos Tanques de Aeração – LODO ATIVADO CONVENCIONAL Parâmetros importantes nos Tanques de Aeração – lodo ativado convencional. https://youtu.be/6-nwj9bYn2Q Leitura Processos oxidativos avançados: uma revisão de fundamentos e aplicações no tratamento de águas residuais urbanas e efluentes industriais SANTOS DE ARAÚJO, K. et al. Processos oxidativos avançados: uma revisão de fundamen- tos e aplicações no tratamento de águas residuais urbanas e efluentes industriais. Ambiente & Água-An Interdisciplinary Journal of Applied Science, v. 11, n. 2, 2016. https://goo.gl/eTBKER Avaliação de desempenho do tratamento de esgoto sanitário por sistema combinado anaeró- bio seguido de aeróbio QUEIROZ, S. C. B. et al. Avaliação de desempenho do tratamento de esgoto sanitário por sistema combinado anaeróbio seguido de aeróbio. Revista de engenharia e tecno- logia, v. 10, n. 1, p. 217-228, 2018. https://goo.gl/3FrjWC 19 UNIDADE Processo de Tratamento Aplicado a Efl uentes: Tratamento Terciário Referências ACQUA ENGENHARIA. Manual de Operação Lodos Ativados. Disponível em: <http://www.fernandosantiago.com.br/manuallodos.pdf>. Acesso em: 18 set. 2018/. AQUINO, A. As diferenças entre nanofiltração, ultrafiltração, microfiltração e os- mose reversa. Revista e portal Meio Filtrante, ano X, n. 53, nov./dez. 2011. BASTOS, J. Processo de ultrafiltração e a sua aplicação em águas residuais. 2015. 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