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Sobre a peça Frei Luis de Sousa, de Almeida Garrett

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UFRJ / Fac. de Letras - Narrativa Portuguesa – 2021/1 – 7:30 h - Prof.ª Márcia Maia
Sobre Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett
* FONTES DO AUTOR: a biografia de Manuel de Sousa Coutinho 
1) Almeida Garrett (Memória lida em 6 de maio de 1843 Ao Conservatório Real): 
“Na história de Frei Luís de Sousa [...] há toda a simplicidade de uma fábula trágica antiga. [...] A catástrofe é um duplo e tremendo suicídio; mas não se obra pelo punhal ou pelo veneno; foram duas mortalhas que caíram sobre dois cadáveres vivos: - jazem em paz no mosteiro, o sino dobra por eles; morreram para o mundo, mas vão esperar ao pé da Cruz que Deus os chame quando for a sua hora. [...] Esta é uma verdadeira tragédia – se as pode haver e como só imagino que as possa haver sobre fatos e pessoas comparativamente recentes. Não lhe dei, todavia, este nome [...]. Demais, posto que eu não creia no verso como língua dramática possível para assuntos tão modernos, também não sou tão desabusado, contudo, que me atreva a dar a uma composição em prosa o título solene que as musas gregas deixaram consagrado à mais sublime e difícil de todas as composições poéticas. [...] Nem amores, nem aventuras, nem paixões, nem caracteres violentos de nenhum gênero. Com uma ação que se passa entre pai, mãe e filha, um frade, um escudeiro velho e um peregrino que apenas entra em duas ou três cenas – tudo gente honesta e temente a Deus – sem um mau para contraste, sem um tirano que se mate ou mate alguém, pelo menos no último ato, como eram as tragédias de antes – sem uma dança macabra de assassínios, de adultérios e de incestos, tripudiada ao som das blasfêmias e das maldições, como hoje se quer fazer o drama – eu quis ver se era possível excitar fortemente o terror e a piedade ao cadáver das nossas platéias [...]”.
2) Palmira Nabais (in Frei Luís de Sousa – introdução. 3. ed. Lisboa: Ulisséia, 1987. p.7-36): 
“Quanto ao espaço, os três atos desenrolam-se em Almada, embora o primeiro no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho e os outros dois no de D. João de Portugal, em virtude do fogo por aquele ateado à sua própria casa. Do mesmo modo o tempo sofre alguma dilatação: entre o primeiro e o segundo atos medeiam oito dias e entre o segundo e o terceiro algumas horas. No entanto esse fato não é relevante pois decorre diretamente da ação e destina-se a dar-lhe veracidade. Examinemos então a ação. [...] A hybris (o desafio ao destino) concretiza-se no segundo casamento de D. Madalena, sem nunca ter tido a confirmação definitiva da morte do primeiro marido, D. João. É por isso que ela nos aparece dominada sempre por pressentimentos duma desgraça iminente, em tudo vendo sinais da tragédia que sobre eles vai desabar – os presságios de Telmo quanto ao regresso do seu amo, as crenças sebastianistas de Telmo e de Maria, os retratos de Manuel e de D. João. Tudo isso se vai entretecendo ao longo dos atos I e II formando um clímax de fatalismo que culminará na anagnórise (reconhecimento) do final do ato II com a identificação do Romeiro como o primeiro marido de D. Madalena, donde deriva o pathos (sofrimento) que envolve toda a família. Presidindo a todos esses acontecimentos, inexoravelmente presente desde o início, a anankê (destino). É com efeito a fatalidade que parece guiar os passos de todas as personagens”. 
3) Maria João Brilhante (in Frei Luís de Sousa – introdução. Lisboa: Seara Nova / Comunicação, 1982. p.13-45):
“O salto que inevitavelmente operamos vai do conflito familiar para o conflito nacional – de mentalidades, de objetivos sociais e políticos – entre o liberalismo que representa o progresso e o cabralismo (por exemplo) que se lê como regresso de uma ordem passada. Tal como o sebastianismo é o pecado pelo qual a sociedade portuguesa deverá ser punida através da ocupação espanhola, também o fascínio por uma determinada ordem terá na perda da liberdade o seu castigo. Frei Luís de Sousa parece essencialmente apontar em duas direções, ou propor duas linhas de leitura. A primeira, temática, mostra-nos o conflito entre um passado delirante e decadente e um presente fascinado por esse passado, a ele submetido; enfim, a inevitável oposição entre a Vida e a Morte. A segunda, estrutural, revela os próprios processos de construção de um texto dramático e do gênero trágico. Projeta uma outra economia, a ‘ressurreição’ da tragédia como modo de expressão teatral de situações nacionais.”

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