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PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL NA PRÁTICA ESPORTIVA 02 2 INTRODUÇÃO 3 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 4 1. PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICAS 6 Definição 6 Quais São os Principais tipos? Erro! Indicador não definido. Estrategia que Aumentam as Adaptações pelo exercicio 7 Proteina 7 Carboidrato (Estimulo Low-Carb) 12 Carboidarato (Recomendaçoes de Ingestão) 13 Jejum 16 Treinar em Estado Hipohidratado 17 2. SUPLEMENTAÇÃO ESPORTIVA 19 Cafeina 19 Creatina 20 Wey Protein 24 3. ESTRATEGIAS QUE PODEM DIMINUIR AS ADAPTAÇÕES PROMOVIDAS PELO EXERCICIO 28 Antioxidante 28 Alterações na Nutrição em Razão da Fase do Treino Fisico 28 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32 03 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA 3 INTRODUÇÃO Está bastante esclarecido na literatura que as adaptações fisiológicas promovidas pelo exercício físico podem ser ampliadas ou reduzidas por meio da nutrição. Um exemplo é o consumo de proteínas de alto valor biológico, o qual pode favorecer o anabolismo proteico muscular e a hipertrofia do músculo esquelético. Neste sentido, diversas estratégias são estudadas e aplicadas a fim de favorecer as mudanças decorrentes do treinamento físico, não apenas no aspecto muscular, mas também em outros tecidos biológicos, como melhora na capacidade de absorção intestinal e aumento na tolerância à desidratação. A presente apostila objetiva definir o termo periodização nutricional, também conhecido como treinamento nutricional, bem como apresentar os principais métodos nutricionais apresentados na literatura com o fim de otimizar as adaptações promovidas pela prática de exercício físico em atletas. São apresentadas também ferramentas nutricionais que podem comprometer as adaptações ao exercício, devendo ser evitadas. 4 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Ementa da disciplina: A disciplina objetiva abordar aspectos gerais acerca da periodização nutricional no contexto da nutrição esportiva, bem como as principais estratégias desta ciência que poderiam ser implementadas na prática clínica. As informações apresentadas são baseadas em evidências científicas bem consolidadas. Objetivo da disciplina: Discutir sobre aspectos gerais associados à periodização nutricional no contexto da nutrição esportiva, bem como as principais estratégias de periodização nutricional que poderiam ser implementadas na prática clínica. Objetivos específicos: • Definir o termo periodização nutricional no contexto da nutrição esportiva. • Apresentar, em detalhes, as principais estratégias de periodização nutricional para atletas. • Abordar os métodos que poderiam comprometer a periodização nutricional para atletas. Habilidades e competências a serem alcançadas: • Compreender o que é periodização nutricional no contexto da nutrição esportiva, bem como os principais métodos utilizados. • Compreender e estar apto para aplicar as estratégias mais eficazes de periodização nutricional para atletas. • Compreender os métodos que podem comprometer a periodização nutricional para atletas. 6 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA 1. PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL PARA ATLETAS Definição O termo periodização nutricional, também conhecido como treinamento nutricional (periodized nutrition ou nutrition periodization e nutritional training), se refere ao uso combinado de estratégias de nutrição e de exercício físico com o principal objetivo de promover adaptações que melhorem a performance. Não obstante, o termo periodização nutricional também pode ser utilizado para se referir às mudanças na dieta em razão do período do treinamento em que o indivíduo está, por exemplo: na fase preparatória, na fase da competição ou na off- season. Quais são os principais tipos? Os métodos mais comuns de periodização nutricional incluem estratégias low- e high-carb, ou seja, a restrição ou a sobrecarga de carboidratos. Além disso, métodos para aumentar a tolerância à desidratação (que envolvem treinar no estado hipohidratado) e o uso de suplementos (com o objetivo 7 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA principal de aumentar o desempenho físico) são técnicas de periodização nutricional. Vale ressaltar que a aplicação ou não destas estratégias depende do objetivo do atleta, bem como de diversas características do indivíduo e do exercício, por exemplo: as necessidades do indivíduo de acordo com a fase de treinamento, se o esporte em questão é individual ou em equipe, se no esporte predomina os sistemas energéticos anaeróbios ou aeróbios etc. Salienta-se que, embora diversos destes métodos não tenham respaldo científico suficiente, muitos deles são aplicados na prática clínica. Neste contexto, enfatiza-se a importância do profissional que assessora atletas utilizar apenas estratégias bem consolidadas a fim de não colocar a saúde e o desempenho do indivíduo em risco. Estratégias que aumentam as adaptações promovidas pelo exercício Proteína É bem elucidado na literatura que a ingestão de proteínas de alto valor biológico favorece o anabolismo proteico, permitindo que haja hipertrofia muscular em decorrência da prática do exercício físico. De forma oposta, quando a ingestão proteica é insuficiente, a síntese proteica é baixa e o músculo pode sofrer um desequilíbrio entre anabolismo e catabolismo proteico, com predominância do segundo. A hipertrofia do músculo esquelético é interessante principalmente para atletas de força e para aqueles que competem com base na sua composição corporal, como bodybuilders. As proteínas de alto valor biológico, também denominadas de proteínas completas, são aquelas que fornecem todos os aminoácidos indispensáveis em quantidades adequadas ao organismo. Os aminoácidos indispensáveis são denominados dessa forma, pois não são sintetizados pelo organismo e, por consequência, precisam ser consumidos diariamente por meio da dieta. Exemplos de proteínas completas são alimentos de 8 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA origem animal, como carnes, ovos e laticínios. A recomendação de ingestão diária de proteínas para atletas, tanto de endurance quanto de força, é superior à de sedentários ou de indivíduos moderadamente ativos (de 0,8 a 1,0 g/kg de peso corporal). Para atletas de endurance, recomenda-se a ingestão diária de 1,2 a 1,4 gramas de proteína por quilo de peso corporal, enquanto para atletas engajados em exercícios de força, a recomendação de ingestão diária é ainda maior: 1,7 a 1,8 gramas de proteína por quilo de peso corporal. Em situações específicas, como em períodos de restrição calórica, a recomendação de ingestão proteica pode ser superior (2,3 a 3,1 gramas de proteína/kg de peso corporal/dia), com o intuito de manter a massa magra corporal. Porém, é importante destacar que a ingestão de quantidades excessivas de proteína não promove efeitos adicionais na síntese de proteínas totais corporais e, portanto, não deve ser encorajada. Além da quantidade, a qualidade da proteína também deve ser levada em consideração. Proteínas completas, ou seja, que contêm todos os aminoácidos indispensáveis em quantidades adequadas, são as mais apropriadas para serem consumidas ao longo do dia (cerca de 0,3 gramas/kg de peso corporal a cada 3 – 5 horas). Quando não for possível consumir proteínas completas, a ingestão de alimentos que se complementem, noque concerne ao seu teor de aminoácidos indispensáveis, é uma estratégia interessante. Como exemplo, cita-se o consumo concomitante de cereais (usualmente ricos em metionina, mas pobres em lisina) e leguminosas (ricas em lisina, porém deficientes em metionina), como o tradicional arroz com feijão. Evidências indicam que proteínas com alto teor de leucina (aminoácido com potencial de induzir a síntese proteica) e de rápida digestão, como as proteínas do soro do leite (whey protein), são mais efetivas em induzir o anabolismo proteico e promover hipertrofia muscular, quando associadas ao exercício físico. A ingestão destas proteínas após a sessão de exercício (cerca 9 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA de 20 a 40 gramas ou 0,3 gramas/kg de peso corporal) parece ser uma estratégia importante para favorecer a síntese proteica muscular e a recuperação no período pós- treino. Vale ressaltar que apesar do período após o exercício ser interessante para consumir proteínas, em vista do músculo estar mais sensível ao anabolismo proteico neste momento, a ingestão adequada de proteínas completas deve ocorrer ao longo do dia todo a fim de favorecer o anabolismo proteico e a hipertrofia muscular. Outra questão importante para ser discutida acerca do consumo de proteínas completas e da promoção de hipertrofia muscular, é a ingestão de proteínas antes do período de sono. Evidências demonstraram que a ingestão de proteínas completas e com elevado teor de leucina antes de dormir é uma estratégia muito relevante para otimizar a síntese proteica durante o sono, favorecendo a recuperação do treinamento resistido, bem como a hipertrofia muscular e o ganho de força. Estudos têm sugerido que a ingestão de 40 gramas de proteína antes de dormir elevam, de forma máxima, a taxa de síntese proteica durante o sono. A quantidade de 40 gramas foi indicada, visto que evidências demonstraram que 20 e 30 gramas de proteína são insuficientes para manter a síntese proteica muscular no seu auge durante o sono. No Quadro 1 são apresentados exemplos de fontes de 40 gramas de proteínas. Quadro 1. Fontes de 40 gramas de proteína que podem ser consumidas antes de dormir. FONTE QUANTIDADE Ovos cozidos 7 ovos Leite desnatado 5 copos (total de 1.025 mL) Iogurte desnatado 5 copos (total de 1.176 mL) Peito de frango 2 peitos (176 gramas) Bife bovino 2 bifes (168 gramas) Proteína concentrada diluída em água 3 scoops (60 gramas) 10 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA Proteína concentrada diluída em leite 2 scoops (20 gramas) em 300 mL Fonte: Trommelen e van Loon (2016). É de extrema importância ressaltar que o excesso do consumo alimentar antes de dormir pode prejudicar o sono de maneira drástica, bem como favorecer o desenvolvimento de agravos gastrointestinais, como refluxo e desconforto. Dessa forma, se o indivíduo já não tiver o costume de se alimentar antes de dormir, a utilização de suplementos proteicos é uma estratégia muito mais coerente. Carboidrato (estratégias low- carb) Um mesmo nutriente pode ser manipulado de diversas formas diferentes com o intuito de promover resultados diferentes. Por exemplo: dietas low-carb podem otimizar a utilização de lipídios como fonte de energia, enquanto dietas high-carb teriam a premissa de promover adaptações no trato gastrointestinal (TGI) de forma a aumentar a capacidade de absorção de carboidratos. Logo, a utilização de uma ou outra estratégia irá depender dos objetivos do atleta, bem como de características do indivíduo e do exercício praticado. Por exemplo: um atleta com o objetivo de apresentar o mínimo possível de gordura corporal pode ser beneficiado com o consumo de pequenas concentrações de carboidrato, principalmente quando nos períodos pré- competitivo e competitivo. O treinamento low (training low), ou seja, treinamento com baixa disponibilidade de carboidrato, pode ser promovido por meio de baixas concentrações de glicogênio (muscular e hepático) e/ou baixa ingestão de carboidrato durante e após o treino. Evidências científicas demonstram que a baixa concentração de glicogênio está associada ao aumento da expressão e da atividade da proteína quinase ativada por adenosina monofosfato (AMPK), da 3-hidroxiacil-CoA desidrogenase, e de outras proteínas vinculadas aos processos de lipólise e beta- oxidação, o que seria responsável por otimizar a utilização de 11 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA lipídios como fonte de energia. Neste contexto, a adoção de dietas low-carb pode favorecer a redução de gordura corporal. Evidências indicam que o uso crônico de carboidrato durante o exercício impede adaptações promovidas pelo treinamento físico. Isso porque o fornecimento de carboidrato durante a atividade pode atenuar o aumento de AMPK e citrato sintase (CS), o que por sua vez reduz o acúmulo de glicogênio muscular. Além disso, a suplementação com glicose atenua o processo de lipólise, o que diminui a utilização de lipídios como fonte de energia, dificultando a redução de gordura corpórea. Considerando as informações apresentadas, em 1920 autores propuseram reduzir o consumo de carboidratos e aumentar a ingestão de lipídios da dieta como forma de aumentar a taxa de oxidação lipídica, porém, observou-se que os indivíduos submetidos a esta estratégia apresentavam importante efeito ergolítico – ou seja, havia significativa redução da performance. Logo, ressalta-se a essencialidade do consumo de carboidratos para indivíduos que praticam exercícios de alta intensidade e de longa duração. Enfatiza-se que nenhum estudo bem delineado demonstrou os efeitos da dieta cetogênica (low- carb e high-fat) no desempenho físico. Outra estratégia seria restringir a ingestão de carboidrato durante cinco horas após o exercício físico com o intuito de ativar genes que induzem adaptações ao organismo. Tradicionalmente, recomenda-se o consumo de carboidrato imediatamente após o treino a fim de aumentar a taxa de ressíntese do glicogênio, no entanto, alguns estudos demonstram que a privação de carboidrato neste período poderia ser interessante para promover adaptações. Ressalta-se, entretanto, que diversos estudos não corroboraram com esta hipótese, e que vários órgãos importantes na área da Nutrição Esportiva, como o American College of Sports Medicine, recomendam o consumo de carboidrato no período pós- treino. 12 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA Vale salientar que,mesmo que a dieta seja low-carb, devem ser respeitadas as porcentagens de macronutrientes propostas pelas DRIs (Dietary Reference Intakes) e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Dessa forma, a dieta low carb pode incluir a porcentagem mínima de carboidrato recomendada por estas diretrizes. Carboidrato (estratégias high-carb) Apesar de evidências indicarem que planos alimentares contendo baixas concentrações de carboidratos tenham efeitos benéficos, é vastamente conhecida na literatura a importância dos carboidratos como fonte de energia durante o exercício físico, havendo uma relação direta entre ingestão de carboidratos e aumento de performance. Assim, o carboidrato é o nutriente com o potencial ergogênico mais bem esclarecido na literatura. O termo training high se refere ao treinamento com elevada disponibilidade de carboidrato, sendo que o exercício se inicia com elevados estoques de glicogênio muscular e hepático, e há suplementação com carboidrato durante o exercício físico. Existem duas principais razõespara se utilizar este protocolo – a primeira porque há um vínculo importante entre o consumo de carboidratos e o aumento da performance aeróbia, e a segunda porque a suplementação com carboidrato aparentemente aumenta a capacidade absortiva do intestino. Durante o exercício físico extenuante, há diminuição da absorção intestinal em razão do estresse promovido pelo exercício físico. Isso porque ocorre redução do fluxo sanguíneo para o TGI, pois a maior demanda de sangue é requerida pelo músculo em movimento. A desidratação desempenha um papel importante em agravar ainda mais a diminuição do fluxo sanguíneo ao TGI. Neste cenário, distúrbios gastrointestinais são extremamente comuns entre atletas, em especial aqueles engajados em exercícios de endurance. Como resultado da menor capacidade absortiva intestinal, há uma menor absorção de 13 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA carboidratos, repercutindo na menor chegada deste nutriente na corrente sanguínea e nos tecidos biológicos, como músculo esquelético e cérebro, o que compromete o desempenho físico. Logo, treinar o intestino seria interessante para desenvolver adaptações intestinais que melhorariam a absorção de nutrientes, como o carboidrato. Evidências indicam que o intestino é um órgão extremamente adaptável, sendo que o esvaziamento gástrico, por exemplo, pode ser aumentado ou diminuído de acordo com a composição nutricional da dieta. Não obstante, há indícios de que a dieta também pode modular a capacidade absortiva do intestino, sendo que dietas ricas em carboidrato aumentam o número e a atividade de transportadores de glicose (dependentes de sódio) no intestino. Assim, há aumento da absorção e da utilização de carboidrato durante o exercício após ingestão de elevadas quantidades deste nutriente. Carboidrato (recomendações de ingestão) No período pré-treino, recomenda-se a ingestão de carboidratos de baixo a moderado índice glicêmico, visto que carboidratos de alto índice glicêmico são rapidamente absorvidos e, dessa forma, não mantêm a glicemia adequada por períodos prolongados. Sugere-se o consumo de uma refeição que contenha de 1 a 4 gramas de carboidratos por quilo de peso corporal no intervalo de 1 a 4 horas antes do treino. Quanto maior o intervalo antes do exercício, maior deve ser o consumo de carboidratos, ou seja, caso a refeição seja realizada 4 horas antes do treino, ela deve conter cerca de 4 gramas de carboidratos por quilo de peso corporal e assim sucessivamente, logo, 3 gramas/kg de peso para 3 horas antes, 2 gramas/kg de peso para 2 horas antes e 1 grama/kg de peso para 1 hora antes. A ingestão de carboidratos durante o exercício físico só é necessária quando a sessão tem duração superior a uma hora. Nestes casos, recomenda-se a suplementação com carboidratos na quantidade de 30 – 60 gramas/hora em exercícios com duração de até 2 horas e 30 14 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA minutos e 90 gramas/hora em exercícios com duração superior a 2 horas e 30 minutos.A forma como os carboidratos são oferecidos para o consumo (líquida ou sólida) parece não influenciar no seu efeito ergogênico. A inclusão de diferentes carboidratos, como glicose e frutose, em uma mesma fórmula, pode apresentar resultados interessantes. A absorção intestinal destes carboidratos ocorre de forma distinta, o que permite uma maior eficiência na absorção de substratos energéticos. Além disso, a combinação de carboidratos favorece a maior absorção de sódio e água, evitando a desidratação do atleta. É importante mencionar que, em condições ambientais quentes, a oferta de bebidas com baixa concentração de carboidratos (4 a 6%) é mais adequada para evitar o retardo do esvaziamento gástrico e a ocorrência de distúrbios gastrointestinais. Vale salientar que a suplementação deve ser recomendada apenas por profissionais capacitados, como o nutricionista, levando em consideração diversos fatores, como os objetivos e a tolerância do atleta. No período pós-treino, é sugerida a ingestão de carboidratos de alto índice glicêmico que induzam a síntese de glicogênio de forma rápida. Recomenda-se a ingestão de 1,0 a 1,2 gramas de carboidratos/kg de peso corporal/hora durante as primeiras 4 – 6 horas após o exercício a fim de favorecer a reposição dos estoques de glicogênio e a recuperação do atleta. No que se refere às recomendações de ingestão diária, o Consenso de 2009 da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte recomenda que a ingestão de carboidratos esteja entre 5 e 8 gramas/kg de peso corporal/dia. Entretanto, para atletas engajados em atividades de longa duração ou treinos intensos (acima de 70% do consumo máximo de oxigênio), é recomendado o consumo de 10 gramas/kg de peso/dia. Os órgãos internacionais “American College of Sports Medicine”, “Academy of 15 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA Nutrition and Dietetics” e “Dietitians of Canada”propõem diversas recomendações de consumo de carboidrato, que variam de acordo com a duração e intensidade da sessão de treino, sendo a ingestão mínima de 3 gramas/kg de peso corporal/dia e a ingestão máxima de 12 gramas/kg de peso corporal/dia (Quadro 2). Quadro 2. Resumo das recomendações de ingestão de carboidratos para atletas. INTENSIDADE DO EXERCÍCIO TIPO DE EXERCÍCIO E DURAÇÃO RECOMENDAÇÕES DIÁRIAS Leve Exercícios de intensidade baixa ou atividades baseadas em habilidades 3 a 5 gramas/kg de peso Moderada Programa de exercícios de intensidades moderadas (até 1 hora por dia) 5 a 7 gramas/kg de peso Alta Programas de endurance (1 a 3 horas/dia, moderada-alta intensidade) 6 a 10 gramas/kg de peso Muito alta Exercícios de “extremo comprometimento” (> 4 a 5 horas/dia, moderada-alta intensidade) 8 a 12 gramas/kg de peso Fonte: Position of the Academy of Nutrition and Dietetics, Dietitians of Canada, and the American College of Sports Medicine: Nutrition and Athletic Performance, 2016 Além destas recomendações, estes órgãos ainda propuseram diversas estratégias de ingestão de carboidratos que poderiam melhorar o desempenho físico do atleta (Quadro 3). 16 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA Quadro 3. Estratégias de ingestão de carboidratos para o aprimoramento do desempenho físico. SITUAÇÃO ESTRATÉGIA Preparação para eventos com duração inferior a 90 minutos. 7 a 12 g/kg de peso no período de 24 horas antes do evento. Preparação para eventos de exercício contínuo/intermitente com duração superior a 90 minutos. 10 a 12 g/kg de peso no período de 36 a 48 horas antes do evento. Recuperação entre duas sessões de exercício com intervalo inferior a 8 horas. 1 a 1,2 g/kg de peso/hora nas primeiras 4 horas e em seguida retomar as recomendações diárias. Período que antecede exercícios com duração superior a 60 minutos. 1 a 4 g/kg de peso a serem consumidos no intervalo proporcional de 1 a 4 horas antes do exercício. Fonte: Position of the Academy of Nutrition and Dietetics, Dietitians of Canada, and the American College of Sports Medicine: Nutrition and Athletic Performance, 2016. Recomenda-se, ainda, que atletas de endurance que estão treinando intensamente reduzam o consumo de lipídios para menos de 25% do valor energético total (VET) da dieta para atingir a recomendação de carboidratos, que passaria a constituir de 60% a 70% do VET. Jejum O treinamento após o jejum noturno (de 8 a 12 horas) é uma forma de training low. Neste sentido, a redução do glicogênio não se dá por excessode treinamento, mas sim por meio de jejum. No caso de jejum, apesar de não haver redução nas concentrações de glicogênio muscular, há drástica diminuição no conteúdo de glicogênio hepático. Alguns estudos demonstram que, em razão do treinamento em jejum crônico (acima de seis semanas), a capacidade oxidativa muscular foi aumentada, por meio, por exemplo, da maior atividade da enzima CS. Observou-se, também, aumento da oxidação de lipídios como fonte de energia, o que poderia favorecer a modulação da composição corporal de forma a haver menor porcentagem de gordura. Outra versão de jejum que também apresentou achados promissores é o train high-sleep low, que consiste em treinar de forma intensa à noite, o que reduz as reservas de 17 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA glicogênio, e ir dormir imediatamente após o treino. Embora os resultados dos estudos sejam interessantes, as evidências científicas ainda são conflitantes e insuficientes acerca deste assunto. Não obstante, diversas questões práticas não foram respondidas por meio da literatura já existente, como: qual o tipo de treinamento, no que se refere à intensidade e à duração, seria mais adequado para aplicar em jejum?Quantos dias da semana deveriam ser destinados ao treino em jejum? Quantas semanas seriam necessárias até que se observasse algum resultado? A performance física seria a mesma treinando no estado em jejum e alimentado? Considerando que não há, ainda, evidências suficientes acerca da performance de indivíduos que praticam training low por meio de jejum, não se recomenda que esta estratégia seja aplicada pela primeira vez no período pré- competitivo e/ou competitivo, para que não haja possível queda no desempenho que interfira no resultado da competição. Treinar em estado hipohidratado É bastante claro na literatura que a desidratação tem um impacto importante na performance e na saúde do atleta, comprometendo ambos. No entanto, estudos demonstram que indivíduos que começam o exercício físico no estado hipohidratado têm menor redução de desempenho físico comparado com indivíduos que começam o exercício no estado eu hidratado. Na avaliação da percepção de esforço constatou-se, também, que os indivíduos hipohidratados sofrerem menos com a desidratação do que os indivíduos que iniciaram o exercício hidratados. Neste sentido, é possível que a familiarização com a hipohidratação seja um importante recurso para adaptar o atleta a lidar contra este evento, o que pode minimizar o efeito ergolítico decorrente da desidratação. 19 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA 2. SUPLEMENTOS ESPORTIVOS Cafeína A cafeína é uma purina lipossolúvel que, após a ingestão oral, é prontamente absorvida pelo trato gastrointestinal, principalmente no intestino delgado, com início de ação em 15 a 45 minutos e pico de concentração plasmática atingido em até 1 hora, independente da dose ingerida. As concentrações de cafeína no plasma aumentam para ~ 15–20 µmol/ L com uma dose baixa de cafeína (3 mg/ kg de peso corporal), ~ 40 µmol/ L com uma dose moderada (6 mg/kg de peso corporal) e ~ 60–70 µmol/L com uma dose alta de 9 mg/kg de peso corporal. Em adultos saudáveis, a meia-vida da cafeína– o tempo necessário para o corpo eliminar metade da quantidade total desta substância consumida em um determinado momento – é de aproximadamente 3-4 horas. Nas mulheres que utilizam contraceptivos orais, a duração é de 5 a 10 horas e, em gestantes a meia-vida é de aproximadamente de 9 a 11 horas. Em bebês e crianças, a meia-vida pode durar até 30 horas. A cafeína é comumente utilizada para aumentar o alerta e aliviar o sono e a percepção do esforço físico. Sua ação estimulante no sistema nervoso 20 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA central está diretamente relacionada com a dose ingerida. O consumo de doses baixas (entre 85 e 200 mg, equivalentes a uma ou duas xícaras de café) estimula o córtex cerebral, reduzindo o sono e a sensação de cansaço, além de aumentar a sensação de bem-estar, vigor e euforia e proporcionar períodos prolongados de produtividade e esforço mental. A cafeína, quando suplementada em doses baixas e moderadas (~ 3 a 6 mg por kg de peso corporal), na forma de cafeína anidra (ou seja, pílula ou pó), 60 minutos antes da sessão de exercício, apresenta efeito ergogênico para atletas bem treinados. Este efeito é superior ao apresentado após consumo de café. A suplementação com esta substância é indicada para atletas de esportes de endurance, com duração superior a cinco minutos, como ciclismo, corrida e natação. Pode, também, ser indicada para atletas de esportes de equipe e exercícios intermitentes, como futebol e rugby, mas não para exercícios resistidos. Vale ressaltar que a suplementação com doses maiores de cafeína (≥9 mg/kg de peso corporal) não parece beneficiar o desempenho físico e pode aumentar o risco de efeitos colaterais, como náusea, ansiedade, cefaleia, arritmias, insônia e inquietação, resultados que claramente acarretariam prejuízos ao desempenho. Creatina A creatina (ácido α-metil- guanidinoacético) é uma amina de ocorrência natural em células eucarióticas, sendo encontrada apenas em alimentos de origem animal, como carnes vermelhas, peixes e laticínios (Quadro 4). 21 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA QUADRO 4. QUANTIDADE DE CREATINA EM ALGUNS ALIMENTOS Alimento Porção Quantidade de creatina (g) Arenque 225 g 2,0 a 4,0 Salmão 225 g 1,5 a 2,5 Bacalhau 225 g 0,7 Linguado 225 g 0,5 Atum 225 g 0,9 Carne bovina 225 g 1,5 a 2,5 Carne suína 225 g 1,5 a 2,5 Leite 250 ml 0,05 Adaptado de Heaton et al., (2017). No organismo humano, a creatina está presente nas formas livre e fosforilada (fosforilcreatina), nas quantidades de 60-70% e 30- 40%, respectivamente, sendo que cerca de 95% do total de creatina estão armazenados no tecido muscular esquelético. Diariamente, cerca de 2 gramas de creatina são convertidos espontaneamente à creatinina e excretados na urina. Neste cenário, é necessário que a síntese endógena seja de 2 gramas ou mais para manter as concentrações corporais de creatina. Em mulheres e idosos a síntese endógena é menor, quando comparada a de homens saudáveis, sendo importante que o consumo dietético mantenha os níveis orgânicos de creatina. A principal função da creatina é a rápida provisão de energia por meio da doação de fosfato da fosforilcreatina para a adenosina difosfato (ADP), ressintetizando a adenosina trifosfato (ATP), processo denominado sistema creatina fosfato (Figura 1). Esse sistema é de suma importância para tecidos com alta demanda energética, como o músculo esquelético e o cérebro, e durante atividades físicas de alta intensidade e curta duração. Desse modo, diversas evidências científicas indicam melhora da performance anaeróbia (aumento do pico de torque muscular, da potência de pico e da potência média no cicloergômetro, entre outros) com a suplementação de creatina. 22 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA Figura 1. Sistema creatina fosfato. Abreviações: ADP: adenosina difosfato; ATP: adenosina trifosfato; C: creatina; P: fosfato. A suplementação com creatina é comum no âmbito esportivo e, em algumas modalidades, pode chegar a ser utilizada por cerca de 75% dos atletas. Desde 1992, é sabido que a suplementação com creatina (5 gramas) aumenta as concentrações musculares de creatina e fosforilcreatina,sendo que o pico de creatina plasmática ocorre cerca de uma hora após a administração. É, também, conhecido que a ingestão de várias doses deste nutriente ao longo do dia (20 gramas fracionadas em quatro vezes), durante cinco dias, é capaz de elevar de maneira significativa o conteúdo intramuscular das formas livre e fosforilada de creatina. Interessantemente, os indivíduos mais responsivos à suplementação são aqueles com baixas concentrações basais desta amina, sendo que o oposto ocorre com indivíduos com elevados níveis musculares de creatina pré- suplementação. A fase de carregamento envolve a ingestão de altas doses de creatina – 20 a 30 gramas por dia ou 300 mg/kg de peso corporal/dia – e, geralmente, dura de cinco a sete dias, enquanto a fase de manutenção, que se inicia logo após o loading, normalmente tem duração de três meses e consiste na ingestão de doses de cerca de 5 gramas por dia ou 0,06 g/kg de peso corporal/dia. É válido ressaltar que existem outras formas de suplementação que excluem o período de carregamento, sendo o resultado bastante semelhante ao protocolo apresentado acima, apesar do tempo para alcançar o 23 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA pico de creatina muscular ser mais longo. Embora a maior parte dos protocolos compreenda a suplementação por até três meses, a duração da intervenção dependerá, também, das necessidades e objetivos do atleta. Aminoácidos de cadeia ramificada (ACR) Os ACR receberam esta designação por apresentarem ramificações em relação à cadeia carbônica linear principal (Figura 2). Figura 2. Comparação entre a estrutura de um aminoácido convencional e a estrutura de aminoácidos de cadeia ramificada (ACR) – leucina, isoleucina e valina. Estudos indicam que a leucina ativa a síntese proteica por diversos mecanismos: (i) por meio da redução do catabolismo dos outros dois ACR (isoleucina e valina)e seus respectivos cetoácidos de cadeia ramificada (α-CCR), (ii) por estimular a síntese de hormônios anabólicos, como a insulina e, (iii) diretamente, por ativar vias anabólicas. A leucina atua em nível pós- transcricional, mais especificamente durante a fase de iniciação da tradução do RNA mensageiro em proteína. O mecanismo pelo qual haveria estímulo para a tradução de proteínas envolve o aumento na concentração intracelular de leucina e sua capacidade de promover a ativação da proteína quinase denominada alvo da rapamicina em mamíferos (mTOR: mammalian target of rapamycin). Esta proteína 24 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA estimularia a síntese proteica por intermédio de três outras proteínas regulatórias: a proteína quinase ribossomal S6 de 70 kDA (p70S6k); a proteína 1 ligante do fator de iniciação eucariótico 4E (4E-BP1) e o fator de iniciação do eucariótico 4G (eIF4G). Entretanto, vale ressaltar que a administração isolada de leucina pode gerar antagonismos entre os ACR e, para síntese proteica, é necessária a presença dos três aminoácidos indispensáveis (leucina, isoleucina e valina) em quantidades adequadas.Evidências científicas indicam que a ingestão de suplementos com proteínas intactas, como whey protein e caseína, é mais eficiente em induzir a síntese proteica do que a ingestão de aminoácidos isolados, como os ACR. Logo, se o intuito for promover a síntese proteica muscular, o mais interessante é a suplementação com proteínas que contemplem quantidades significativas de ACR, e não a suplementação com ACR isolados. Whey protein O soro do leite bovino (whey protein) é considerado como um subproduto da fabricação de laticínios acidificados e, devido ao seu reduzido valor econômico, era subestimado pela indústria. Entretanto, nos dias atuais, novas aplicabilidades têm sido propostas para o soro do leite, tendo em vista seu elevado valor nutricional, principalmente no que se refere ao seu alto teor de aminoácidos de cadeia ramificada – ACR (leucina, isoleucina e valina). O valor nutricional depende do tipo de whey protein. Existem três principais tipos: o concentrado, o isolado e o hidrolisado. O concentrado apresenta maior teor de lipídios e carboidratos e, por consequência, menor conteúdo proteico, comparado ao whey protein isolado, no qual a quantidade de proteínas chega a ser superior a 90%. No hidrolisado, as proteínas foram submetidas à hidrólise enzimática e, deste modo, apenas aminoácidos estão presentes nesta forma. O whey protein hidrolisado é indicado, principalmente, para indivíduos com distúrbios no sistema digestório, pois a digestão é facilitada nesta forma (contém apenas aminoácidos). Parte das propriedades nutricionais do whey protein é explicada pela sua composição aminoacídica. A β-lactoglobulina é o 25 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA peptídeo mais importante, em relação à quantidade, do whey protein. Este peptídeo é rico em ACR, cerca de 25,1% da concentração total de aminoácidos. Além deste, a α-lactoalbumina também se apresenta como uma importante fonte de leucina. As informações nutricionais do whey protein concentrado são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Informações nutricionais do whey protein concentrado. INFORMAÇÕES NUTRICIONAIS QUANTIDADE POR 100 G DE WHEY PROTEIN CONCENTRADO Calorias 414 kcal Carboidratos 8 g Gorduras Totais 7 g Proteínas 80 g Leucina 11,8 mg Isoleucina 4,7 mg Valina 4,7 mg Glutamina 3,4 mg Alanina 4,9 mg Arginina 2,4 mg Asparagina 3,8 mg Ácido aspártico 10,7 mg Cisteína 1,7 mg Ácido glutâmico 15,4 mg Glicina 1,7 mg Histidina 1,7 mg Lisina 9,5 mg Metionina 3,1 mg Fenilalanina 3,0 mg Prolina 4,2 mg Serina 3,9 mg Treonina 4,6 mg Triptofano 1,3 mg Tirosina 3,4 mg 26 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRÁTICA Ferro 1,2 mg Sódio 170 mg Cálcio 600 mg Adaptado de Haraguchi et al. (2006) Devido ao alto valor nutricional, este suplemento é utilizado, especialmente no âmbito esportivo, com fins de modulação da composição corporal e melhora no desempenho físico. Diversos estudos relatam que a ingestão de whey protein após treinos de força promove aumento da síntese proteica, estando vinculada à hipertrofia muscular. Estudos indicam, ainda, que proteínas com alto teor de leucina (aminoácido com potencial de induzir a síntese proteica) e de rápida digestão, como as proteínas do soro do leite (whey protein), são mais efetivas em induzir o anabolismo proteico e promover hipertrofia muscular, quando associadas ao exercício físico. O consumo destas proteínas imediatamente após a sessão de exercício (cerca de 20 a 40 gramas ou 0,3 gramas/kg de peso) parece ser uma estratégia importante para favorecer a síntese proteica muscular e a recuperação no período pós-treino. Salienta-se que, após o exercício, a ingestão de carboidratos e de proteínas deve ser adequada, visto que, no consumo insuficiente de carboidratos, as proteínas serão desviadas ao fornecimento de energia, não cumprindo com a sua função anabólica. 28 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA ATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA 3. ESTRATÉGIAS QUE PODEM DIMINUIR AS ADAPTAÇOES PROMOVIDAS PELO EXERCICIO Antioxidantes Estudos indicam que a suplementação com altas doses de antioxidantes minimiza as adaptações promovidas pelo treinamento, tendo em vista que as espécies reativas (vulgo radicais livres) têm um papel importante na sinalização celular, permitindo que o organismo se adapte aos “agravos” promovidos pelo exercício físico, como o estresse oxidativo e a inflamação.Como os antioxidantesneutralizam os radicais livres, eles não seriam capazes de desempenhar as suas “funções adaptativas”. No entanto, os estudos acerca deste tema são conflitantes e escassos. Na prática clínica, recomenda-se que a utilização de antioxidantes esteja dentro das recomendações nutricionais (não ultrapassando a UL – Tolerable Upper Intake Level), evitando-se os excessos. Alterações na nutrição em razão da fase do treinamento Este tópico é bastante complexo, pois depende dos objetivos do atleta e, principalmente, do tipo de exercício físico praticado, por exemplo: se é um exercício predominantemente anaeróbio ou aeróbio. 29 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA ATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA De um modo geral, nos momentos em que o atleta objetivar ganhar massa muscular, a dieta deve ser hipercalórica, enquanto nos momentos em que ele objetivar reduzir o peso corporal, a dieta deve ser hipocalórica. Por exemplo: um atleta que compete no sistema de categorias de peso pode precisar perder peso em períodos próximos da competição. Outro exemplo são atletas de força no período off- season, que objetivam aumentar o conteúdo de massa muscular e, portanto, precisam consumir mais energias do que gastam, devendo aderir a dietas hipercalóricas. Na necessidade de manutenção do peso, a dieta deve ser normocalórica. Normalmente quando a dieta é hipocalórica, há, também, redução do consumo de carboidratos (no limite mínimo sugerido nas recomendações). Como mencionado em tópicos anteriores, evidências indicam que dietas low-carb poderiam otimizar a oxidação de lipídios, sendo uma estratégia para diminuir o percentual de gordura corporal, o que seria interessante para os atletas que têm que reduzir o peso corporal. De forma oposta, normalmente quando a dieta é hipercalórica, há predominância do consumo de carboidratos, devendo- se sempre respeitar as recomendações nutricionais. O consumo adequado de proteínas é sempre importante para garantir a manutenção ou o aumento da massa muscular, sendo que, em situações de restrição energética, o consumo proteico deve ser bastante aumentado a fim de poupar o conteúdo muscular (esta questão é debatida no tópico sobre proteínas). Por exemplo: para um bodybuilder em momentos próximos a competições uma estratégia é reduzir o consumo de carboidratos a fim de otimizar a oxidação de lipídios e aumentar o consumo de proteínas, de modo a minimizar os efeitos catabólicos de uma dieta hipocalórica e hipoglicídica. A adequação de micronutrientes também pode ser requerida, por exemplo, para indivíduos submetidos a exercícios em elevadas altitudes, a adequação do mineral ferro é extremamente importante. Além disso, em momentos de exercício extenuante, em que o indivíduo se torna mais suscetível ao desenvolvimento de distúrbios imunológicos, a adequação de nutrientes com potencial imunomodulador e 30 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA ATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA antioxidante, como zinco e vitamina C, é fundamental. Finalmente, ressalta-se a importância de modular a dieta caso o indivíduo apresente lesões musculoesqueléticas, de forma a favorecer a recuperação. Por exemplo: um atleta lesionado não deve aderir a uma dieta extremamente hipocalórica senão a recuperação será prejudicada. No entanto, este atleta também não deve consumir uma dieta extremamente hipercalórica, pois provavelmente não estará treinando, o que pode favorecer o ganho de gordura corporal. As modulações dietéticas também devem ser feitas quando o indivíduo estiver viajando para competições, de forma a promover adaptação aos ambientes que o indivíduo estará, bem como evitar obstipação ou diarreia do viajante, quadros que podem comprometer o desempenho físico e a saúde do atleta. 31 32 PERIODIZAÇÃO NUTRICIONAL: UMA ABORDAGEM PRATICA ATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA 4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Aguiar, C.L.; Coró, F.A.G.; Pedrão, M.R.Componentes ativos de origem animal.B CEPPA 2005; 23(2):413-34. Bonvini, A.; Coqueiro, A.Y.; Tirapegui, J.; Calder, P.C.; Rogero, M.M.Immunomodulatory role of branched-chain amino acids. Nutrition Reviews, 2018. 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