Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SOI IV APG Giovanna Jansen 4 º Período — Medicina — UNIFIPMOC Que fraqueza! Semana 4, Problema1 – 03/03/23 {Problema) Elisa leva sua filha Luísa, de 2 anos de idade, ao médico relatando que a criança iniciou há 5 dias quadro de fezes amolecidas de odor fétido, com vá- rios episódios ao dia, com presença de sangue e muco, associado a febre alta e vômitos. A mãe relata que a criança nunca foi amamentada e, desde que nasceu, toma fórmula infantil. Ao exame físico a cri- ança está com estado geral comprometido, hipoa- tiva e o sinal da prega desaparece lentamente. A mãe ficou preocupada, pois seu filho mais velho es- tava com diarreia recorrente há mais de 3 semanas e foi diagnosticado com amebíase. <Objetivos} • Explicar a fisiopatologia da diarreia; • diferenciar diarreia aguda e crônica elencando epidemiologia, etiologias, mani- festações clínicas, diagnóstico e tratamento (classificação) A classificação das diarreias pode ser feita com base no tempo de duração do sintoma, nas carac- terísticas clínicas e topográficas e na fisiopatologia. Assim, diarreias agudas são aquelas com duração menor que 2 semanas, sendo a causa mais comum por infecções. A crônica acima de 4 semanas. Por fim, a diarreia persistente, aquela de duração en- tre 2 e 4 semanas. Quanto ao mecanismo fisiopato- lógico, são categorizadas em osmótica, secretó- ria, inflamatória, disabsortiva e funcional , sendo as 4 primeiras diarreias orgânicas e a última não orgânica. • Diarreia osmótica: Ocorre por acúmulo de solutos osmoticamente ativos não absorvíveis no lúmen intestinal. Assim, ocorre retenção de líquidos intraluminais e conse- quentemente diarreia. • É a partir desse mesmo mecanismo que funci- onam os laxativos. Ex.: deficiência de dissacarídeos, alta ingestão de carboidratos pouco absorvíveis (sorbitol, mani- tol, lactulose), abuso de laxativos. • Diarreia secretória: Distúrbio no processo hidroeletrolítico pela mucosa intestinal, por meio do aumento de secre- ção de íons e água para o lúmen ou inibição da ab- sorção, por meio de drogas ou toxinas. Diferente- mente da osmótica, tem gap osmolar baixo, não me- lhora com jejum e é responsável por um grande vo- lume de fezes aquosas. Esse é o tipo de diarreia pro- vocada por E. coli enterotoxigênica, Vibrio chole- rae, Salmonella sp. • Diarreia inflamatória: Como o próprio nome induz, é causada por uma alteração inflamatória, levando a produção de muco, pus e/ ou sangue nas fezes. Pode ter alteração laboratorial da calprotectina ou lactoferrina fecal. Entre as causas, destacam-se a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. • Diarreia funcional: Nesse tipo de diarreia, a absorção e secreção estão normais, porém não há tempo suficiente para ocorrer a absorção desses nutrientes correta- mente. Ocorre por hipermotilidade intestinal. Exemplos: síndrome do intestino irritável e diar- reia diabética (neuropatia autonômica). • Diarreia disabsortiva: Também conhecido como esteatorreia. A causa dessa diarreia está associada a baixa absorção dos lipídios no intestino delgado. Por exemplo doença celíaca, doença de Crohn, doença de Whipple, giardíase, estrongiloidíase e lin- foma intestinal. • Diarreia aguda. A diarreia que começa subitamente e persiste por menos de 2 semanas geralmente é causada por agentes infecciosos. As diarreias agudas frequente- mente são subdivididas em não inflamatórias (volumes grandes) e inflamatórias (volumes pequenos) com base nas características das fezes diarreicas. SOI IV APG 2 4 º Período — Medicina — UNIFIPMOC Giovanna Jansen Alguns patógenos entéricos não são invasivos e não provocam inflamação, mas secretam toxinas que estimulam a secreção de líquidos. Outros inva- dem e destroem as células epiteliais e alteram o transporte de líquidos, de modo que a atividade se- cretória continua, mas a atividade absortiva é in- terrompida. A diarreia não inflamatória está associada à eli- minação de fezes líquidas volumosas, mas sem san- gue; cólicas periumbilicais, distensão abdominal por gases; e náuseas ou vômitos. Em muitos casos, esse tipo de diarreia é causado por bactérias produtoras de toxinas (p. ex., S. aureus, E. coli enterotoxigênica, Cryptosporidium parvum, Vibrio cholerae) ou outros patógenos (p. ex., vírus, Giardia) que interrompem a absorção ou o processo secretório normal do intestino delgado. Vômitos abundantes sugerem enterite viral ou intoxicação alimentar por S. aureus. Embora geral- mente seja branda, a diarreia pode ser volumosa e causar desidratação com hipopotassemia e acidose metabólica (i. e., cólera). Como não há invasão dos tecidos, também não há leucócitos nas fezes. A diarreia inflamatória geralmente se caracte- riza por febre e diarreia sanguinolenta (disenteria). Esse tipo de diarreia é causado pela invasão das células intestinais (p. ex., Shigella, Salmonella, Yersinia e Campylobacter) ou toxinas associadas às infecções descritas antes por C. difficile ou E. coli. Como as infecções associadas a esses microrga- nismos afetam predominantemente o intestino grosso, a eliminação de fezes é frequente e a defe- cação está associada a cólicas no quadrante infe- rior esquerdo do abdome, urgência para defecar e tenesmo. A disenteria infecciosa deve ser diferenci- ada da colite ulcerativa aguda, que pode causar di- arreia sanguinolenta, febre e dor abdominal. Diarreia que persiste por 14 dias não pode ser atribuída a patógenos bacterianos (exceto C. diffi- cile) e o paciente deve ser avaliado a procura de outra causa de diarreia crônica. • Diarreia crônica: A diarreia é considerada crônica quando os sin- tomas persistem por 4 semanas ou mais. A diarreia crônica está associada frequentemente aos dis- túrbios como DII, SCI, síndromes de má absor- ção, doenças endócrinas (hipertireoidismo, neuropatia autônoma diabética) ou colite pós- irradiação. Existem quatro grupos principais de diarreia crô- nica: conteúdo intraluminal hiperosmótico; aumento dos processos secretórios do intestino; doenças in- flamatórias; e processos infecciosos. A diarreia factícia é causada pelo uso indiscri- minado de laxantes ou pela ingestão excessiva de alimentos laxativos. Com a diarreia osmótica, a água é atraída para dentro do lúmen intestinal pela concentração hiperosmótica do seu conteúdo, a tal volume que o cólon não consegue reabsorver o ex- cesso de líquido. Em pessoas com deficiência de lactase, a intole- rância à lactose se deve à ausência da enzima lac- tase no intestino delgado para degradar a lactose em glicose e galactose. A lactose não digerida pode provocar diarreia osmótica; os produtos de sua di- gestão bacteriana podem provocar diarreia secre- tória e distensão intestinal por gás, eventos que provavelmente provocam sintomas. A intolerância à lactose se caracteriza por sinais/sintomas abdomi- nais após a ingestão de laticínios. Os sais de magnésio no leite de magnésia e em alguns antiácidos não são bem absorvidos e causam diarreia quando são ingeridos em quantidades ex- pressivas. Outra causa de diarreia crônica é a redução do tempo de trânsito, que interfere na absorção. Em geral, a diarreia osmótica regride com a suspen- são da ingestão alimentar. A diarreia secretória ocorre quando os proces- sos secretórios do intestino estão exacerbados. Esse tipo de diarreia também ocorre quando ácidos bili- ares em excesso permanecem no conteúdo intestinal à medida que chegam ao cólon. Isso acontece fre- quentemente com as doenças do íleo, porque os sais biliares são absorvidos neste segmento intestinal. Também pode ocorrer quando há proliferação bac- teriana excessiva no intestino delgado, interferindo na absorção da bile. Alguns tumores (p. ex., síndrome de Zollinger-Ellison e síndrome carcinoide) produzem hormônios, que aumentam a atividade secretória do intestino. A diarreia inflamatória está associada comu-mente à inflamação aguda ou crônica, ou a uma do- ença intrínseca do intestino grosso, inclusive colite ulcerativa ou doença de Crohn. Em geral, a diarreia inflamatória evidencia-se por aumento da frequên- cia e urgência para defecar e dor abdominal em ca- ráter em cólica. Infecções parasitárias persistentes podem causar diarreia crônica por alguns mecanis- mos. Os patógenos associados mais comumente à di- arreia crônica incluem os protozoários Giardia, E. histolytica e Cyclospora. 3 SOI IV APG Giovanna Jansen 4 º Período — Medicina — UNIFIPMOC • Pacientes imunossuprimidos são especial- mente suscetíveis aos agentes infecciosos causadores de diarreias agudas e crônicas, inclusive Cryptosporidium, citomegalovírus (CMV) e complexo Mycobacterium avium- intracellulare. <Diagnóstico e tratamento> O diagnóstico da diarreia baseia-se nas queixas de defecação frequente e no relato de fatores associados, inclusive doenças coexistentes, uso de fármacos e exposição a possíveis patógenos intesti- nais. Os distúrbios como DII e doença celíaca devem ser considerados. Quando o início da diarreia está relacionado com uma viagem ao exterior, deve-se considerar a pos- sibilidade de diarreia do viajante. Embora a maioria das diarreias agudas seja au- tolimitada e não requeira tratamento, a diarreia pode ser especialmente grave nos lactentes e nas crianças pequenas, nos pacientes com doenças coexistentes, nos idosos e nos indivíduos previa- mente saudáveis quando se estende por perío- dos longos. Desse modo, a reposição de líquidos e eletrólitos é incluída como um dos objetivos do tratamento da diarreia. Os fármacos usados para tratar diarreia incluem difenoxilato e loperamida, que são deri- vados opioides. Esses fármacos reduzem a motili- dade GI e estimulam a absorção de água e eletróli- tos. (Referências* NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Rio de Ja- neiro: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN 9788527737876. Dis- ponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/bo- oks/9788527737876/. Acesso em: 02 mar. 2023.
Compartilhar