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• INTRODUÇÃO: A síndrome nefrótica resulta da perda da capacidade da membrana glomerular de reter proteínas plasmáticas, sendo caracterizada pela proteinúria maciça (> 3,5 g/dia/1,73 m2 em adultos ou maior que 50 mg/kg/dia em crianças), causando edema, hipoalbuminemia e dislipidemia. • FORMAS CLÍNICAS: Primária: lesão exclusivamente glomerular que pode ocorrer em qualquer faixa etária Secundária: quando o comprometimento renal decorre de uma doença sistêmica ou de uma patologia extrarrenal Em crianças, predomina na doença por lesões mínimas; nos adultos, a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) e glomerulonefrite membranosa são as causas mais comuns • CAUSAS: Doenças glomerulares primárias: a. Doença de lesões mínimas b. GESF c. Glomerulonefrite membranosa d. Glomerulonefrite mesangiocapilar Doenças glomerulares secundárias: a. Doenças sistêmicas: lúpus eritematoso sistêmico (LES), púrpura de Henoch- Schönlein, artrite reumatoide, amiloidose, sarcoidose, doença de cadeia leve ou pesada b. Neoplasias: de mama, rim e tireoide, carcinomas, leucemias, linfomas, mieloma, melanoma c. Doenças heredofamiliares: síndrome de Alport, doença de Fabry, nefropatia da membrana fina d. Doenças infecciosas: infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus da hepatite tipos B e C, herpes-zóster, malária, esquistossomose, sífilis, tuberculose e. Doenças metabólicas: diabetes, doença de Graves, mixedema, obesidade f. Medicamentos: probenecida, penicilamina, lítio, rifampicina, contrastes g. Drogas ilícitas: cocaína, heroína h. Alergia, imunizações, venenos de animais. • MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS •Edema: discreto ou generalizado (anasarca); derrames cavitários (ascite, derrame pleural) •Aumento do peso corporal •Hipovolemia •Maior suscetibilidade a infecções (perda urinária de imunoglobulina) •Dislipidemia •Eventos trombóticos •Dispneia •Urina espumosa devido à perda anormal de proteínas pela urina •Manifestações da doença de base nos casos de glomerulopatia secundária. • EXAMES COMPLEMENTARES: •Exame simples de urina: proteinúria, glicosúria (reflete acometimento tubular devido à glomerulopatia em pacientes não diabéticos), hematúria e leucocitúria estéril (podem ou não ocorrer), lipidúria (corpos gordurosos podem ser observados) •Proteinúria de 24 horas: maior que 3,5 g/dia em adultos e maior que 50 mg/kg/dia em crianças •Proteinograma: hipoalbuminemia •Eletroforese de proteínas: além de documentar a hipoalbuminemia pode sugerir síndrome nefrótica secundária ou associada a infecções crônicas •Perfil lipídico: aumento do colesterol (lipoproteínas de muito baixa densidade [VLDL], densidade intermediária [IDL] e baixa densidade [LDL]) e dos triglicerídeos •Creatinina sérica: normal ou aumentada. • INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA: Esquistossomose; Hepatite tipos B e C; HIV; Fatores antinucleares (FAN); Neoplasias; Diabetes. INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL: •Glicemia •Pesquisa de FAN •Complemento (CH50 e frações do complemento) •Testes sorológicos para hepatite tipos B e C, e HIV •Investigação para doenças neoplásicas (principalmente em idosos) •Exame parasitológico de fezes. • COMPROVAÇÃO DIAGNÓSTICA: Dados clínicos + exames laboratoriais + biópsia em casos selecionados para definir o tipo histológico da lesão renal e escolha do tratamento mais adequado. • COMPLICAÇÕES: Raquitismo em crianças; Alteração dos hormônios tireoidianos; Hipercoagulabilidade (tromboses arteriais e venosas); Infecções por germes encapsulados (uma das principais causas de morbidade e mortalidade); Deficiência de metais (zinco, ferro, cobre); Hipovolemia e insuficiência renal aguda; Doença cardiovascular acelerada pela dislipidemia. • TRATAMENTO: •Dieta com restrição de sódio e normoproteica, desde que não haja déficit importante da função renal •Perda ponderal em caso de obesidade •Restrição hídrica (volume hídrico ingerido não deve exceder o da diurese atual) •Dieta com baixo teor de gorduras e estatinas •IECA para reduzir proteinúria (enalapril 5 a 10 mg/dia por via oral [VO]) •Anticoagulantes se houver trombose •Uso criterioso de diuréticos •Infusão de albumina nos casos de hipovolemia grave e hipotensão ortostática •Peso diário e controle da diurese •Tratamento específico da glomerulopatia (de acordo com a causa e o tipo histológico). • EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO: •Varia de acordo com a causa e o tratamento, podendo-se obter: •Remissão completa: negativação da proteinúria < 0,3 g/dia •Remissão parcial: redução da proteinúria para níveis entre 0,3 e 2 g/dia •Recidivas podem ocorrer •Evolução para insuficiência renal crônica. • REFERÊNCIAS: Filho, Luciano, F. e Elvino Barros. Medicina interna na prática clínica. Disponível em: Minha Biblioteca, Grupo A, 2013. Porto, Celmo, C. e Arnaldo Lemos Porto. Clínica Médica na Prática Diária. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022. CASO CLÍNICO: Uma paciente do sexo feminino, 47 anos, estava apresentando, ha ́ 60 dias, edema periorbital, seguido de edema de membros inferiores. Ela relatou que sua urina tinha aspecto espumoso. Ha ́ 30 dias, percebeu aumento de volume do abdome e sensação de corpo inchado. A paciente afirmou não haver sintomas, doenças prévias, história familiar de nefropatia, diabetes melito ou hipertensão arterial. Teve duas gestações normais. No exame físico, foram verificados pressão arterial de 110/70 mmHg, frequência cardíaca de 86 bpm, edema de mmii, do tipo mole, de ++++/4 (até os joelhos). A partir do exame do abdome, observou- se ascite de grau leve. Os exames laboratoriais realizados e seus respectivos resultados foram os seguintes: exame qualitativo de urina: proteína de ++++/4+, eritrócitos de 42/µL, leucócitos de 8/µL, 20 cilindros hialinos e 2 cilindros gordurosos; hematócritos de 42%, ureia de 32 mg/dL, creatinina de 0,8 mg/dL, glicose de 87, albumina sérica de 2,1 g/L, colesterol total de 380 mg/dL, triglicerídeos de 270 mg/ dL; proteinúria de 24 horas de 3,9 g e IPC de 8,6. Os exames realizados para investigação complementar e seus respectivos resultados foram os seguintes: Fator antinuclear (FAN): não reagente, C3: 23, C4: 95, anti-DNAds: negativo; anti-HIV, anti- HCV e HbsAg: negativos; VDRL (veneral disease research laboratory): negativo; crioglobulinas: negativo; proteinograma sérico e urinário: ausência de pico monoclonal. A ultrassonografia de vias urinárias evidenciou rins de tamanho, forma e ecogenicidade normais. COMENTÁRIO: O diagnóstico de SN é evidente pelo quadro de edema, hipoalbuminemia, proteinúria > 3,5 g/24 h, associado a ̀ hiperlipidemia. Para complementar a investigação e planejar o tratamento dessa paciente, é necessária a hospitalização. A biópsia renal sempre é indicada quando os quadros clínico e laboratorial apontam para uma glomerulopatia primária (ausência de doença sistêmica). A histopatologia, nesse caso, evidenciou GNM, com espessamento da membrana basal glomerular e spikes característicos na coloração pela prata metenamina. A partir da imunofluorescência, são verificados depósitos granulares em alças capilares de IgG e C3, típicos da GNM. A abordagem terapêutica dessa glomerulonefrite, quando a função renal é normal e a proteinúria menor do que 4,0 g/24 h, envolve um tempo de observação de pelo menos seis meses, pois, nesse período, pode ocorrer resolução espontânea da GNM. Nesses seis meses, indica-se o uso de IECA ou bloqueador do receptor AT1 da angiotensina II (AG-II) para redução de proteinúria. Se a paciente não apresentar remissão espontânea após esse período, pode-se utilizar imunossupressão com corticosteroide (metilprednisolona IV e prednisona VO) e ciclofosfamida, via oral, durante seis meses (esquema Ponticelli). Em caso denão haver resposta ao tratamento, a ciclosporina neoral esta ́ indicada como tratamento de resgate. Alguns centros utilizam ciclosporina como a primeira opção de tratamento. E ́ importante a monitoração clínica (p. ex., desenvolvimento de complicações, como infecção) e laboratorial (p. ex., função renal, nível de proteinúria, leucopenia, etc.) quinzenal inicialmente e, depois, mensal durante todo o período do tratamento imunossupressor