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Gestão Estratégica de Pessoas Marcos Baptista Lopez Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Ariane Rodrigues Pereira Presidente Prudente Unoeste - Universidade do Oeste Paulista 2016 Dalmau, Marcos Baptista Lopez. Gestão Estratégica de Pessoas. / Marcos Baptista Lopez Dalmau, Valdecir Cahoni Rodrigues, Ariane Rodri- gues Pereira. – Presidente Prudente: Unoeste – Univer- sidade Oeste Paulista, 2016. 174 p.: il. Bibliografia. ISBN: 978-85-88755-25-3 1. Administração de Pessoal. 2. Mercado de Traba- lho. I. Rodrigues, Valdecir Cahoni. II. Pereira, Ariane Rodrigues. III. Título. CDD\22ª. ed. © Copyright 2016 Unoeste - Todos os direitos reservados Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade do Oeste Paulista. Gestão Estratégica de Pessoas Marcos Baptista Lopez Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Ariane Rodrigues Pereira Reitora: Ana Cristina de Oliveira Lima Vice-Reitor: Brunno de Oliveira Lima Aneas Pró-Reitor Acadêmico: José Eduardo Creste Pró-Reitor Administrativo: Guilherme de Oliveira Lima Carapeba Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Adilson Eduardo Guelfi Diretor Geral: Augusto Cesar de Oliveira Lima Núcleo de Educação a Distância: Dayene Miralha de Carvalho Sano, Marcelo Vinícius Creres Rosa, Maria Eliza Nigro Jorge, Mário Augusto Pazoti e Sonia Sanae Sato Coordenação Tecnológica e de Produção: Mário Augusto Pazoti Projeto Gráfico: Luciana da Mata Crema Diagramação: Aline Miyamura Takehana e Luciana da Mata Crema Ilustração e Arte: Antônio Sérgio Alves de Oliveira, Fernanda Sutkus de Oliveira Mello e Luciana da Mata Crema Revisão Técnica: Valdecir Cahoni Rodrigues Revisão: Renata Rodrigues dos Santos Colaboração: Vanessa Nogueira Bocal Direitos exclusivos cedidos à Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC), mantenedora da Universidade do Oeste Paulista Rua José Bongiovani, 700 - Cidade Universitária CEP: 19050-920 - Presidente Prudente - SP (18) 3229-1000 | www.unoeste.br/ead 658.3 D155g Catalogação na fonte: Rede de Bibliotecas Unoeste Marcos Baptista Lopes Dalmau Valdecir Cahoni Rodrigues Graduado em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção da UFSC, na área de Mídia e Conhecimento. É professor do Departamento de Ciências da Administração da UFSC, no CPGA – Curso de Pós-graduação em Administração (Mestrado) e do PPGAU – Programa de Pós-graduação em Administração Universitária da UFSC. É avaliador do MEC e da Secretaria de Educação de Santa Catarina, exercendo também consultorias de Recursos Humanos para empresas do estado de Santa Catarina. Graduado em Administração pela Faculdade de Ilha Solteira (FAISA). Especialista em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional pelo Centro Universitário Toledo, da cida- de de Araçatuba, especialista em Administração com ênfase em Gestão Ambiental pela Faculdade de Ilha Solteira. Mestre em Administração na área de Estratégia pela Universi- dade Paulista (UNIP), de São Paulo. Faz parte do corpo docente da Unoeste, também é revisor técnico de material didático do Núcleo de Ensino a Distância da Unoeste. Sobre os autores Ariane Rodrigues Pereira Graduada em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mes- tranda do Programa de Pós-graduação em Administração pela mesma universidade, cur- sa Especialização em Gestão Pública CAD/EAD/UFSC. Possui experiência nas áreas de planejamento e controle da produção, logística internacional e nacional, bem como nas subáreas de recursos humanos e finanças. Possui trabalhos completos publicados em congressos e periódicos. Carta ao aluno O ensino passa por diversas e constantes transformações. São mudanças importantes e necessárias frente aos avanços da sociedade na qual está inserido. A Educação a Distância (EAD) é uma das alternativas de estudo, que ganha cada vez mais espaço, por comprovadamente garantir bons referenciais de qualidade na formação pro- fissional. Nesse processo, o aluno também é agente, pois organiza o seu tempo confor- me suas atividades e disponibilidade. Maior universidade do oeste paulista, a Unoeste forma milhares de profissio- nais todos os anos, nas várias áreas do conhecimento. São 40 anos de história, sendo responsável pelo amadurecimento e crescimento de diferentes gerações. É com esse mesmo compromisso e seriedade que a instituição iniciou seus trabalhos na EAD em 2000, primeiramente com a oferta de cursos de extensão. Hoje, a estrutura do Nead (Núcleo de Educação a Distância) disponibiliza totais condições para você obter os co- nhecimentos na sua área de interesse. Toda a infraestrutura, corpo docente titulado e materiais disponibilizados nessa modalidade favorecem a formação em plenitude. E o mercado precisa e busca sempre profissionais capacitados e que estejam antenados às novas tecnologias. Agradecemos a confiança e escolha pela Unoeste e estamos certos de que suas expectativas serão atendidas, pois você está em uma universidade reconhecida pelo MEC, que oportuniza o desenvolvimento constante de Ensino, Pesquisa e Extensão. Aqui, além de graduação, existe pós-graduação lato e stricto sensu, com mestrados e doutorado recomendados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), prêmios conquistados em âmbito nacional por suas ações extensivas e pesquisas que colaboram com o desenvolvimento da cidade, região, estado e país; en- fim, são inúmeros os referenciais de qualidade. Com o fortalecimento da EAD, a Unoeste reforça ainda mais a sua missão que é “desenvolver a educação num ambiente inovador e crítico-reflexivo, pelo exercício das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão nas diversas áreas do conhecimento cien- tífico, humanístico e tecnológico, contribuindo para a formação de profissionais cidadãos comprometidos com a responsabilidade social e ambiental”. Seja bem-vindo e tenha bons estudos! Reitoria Sumário Capítulo 1 Mercado de Trabalho 1.1 Gestão de Pessoas e Mercado de Trabalho ....................................................................14 1.2 O Excesso de Contingente e o Mercado de Reserva .......................................................18 1.3 Afinal, o que as Empresas Querem? E o que Elas Podem Fazer? .....................................20 1.4 A Influência da Rotatividade nas Empresas ...................................................................23 Capítulo 2 recruTaMenTo e Seleção 2.1 Recrutamento.............................................................................................................28 2.2 Seleção ......................................................................................................................34 Capítulo 3 TreinaMenTo e deSenvolviMenTo 3.1 Conceitos de Treinamento e Desenvolvimento ..............................................................42 3.2 Etapas Constitutivas do Treinamento e Desenvolvimento ...............................................45 3.2.1 Levantamento de Necessidades de Treinamento – LNT ...............................................45 3.2.2 Planejamento do Treinamento ..................................................................................47 3.2.3 Execução do Treinamento .........................................................................................54 3.2.4 Avaliação do Treinamento .........................................................................................55 Capítulo 4 avaliação de deSeMpenho 4.1 Introdução ao Contexto e ao Conceito ..........................................................................62 4.2 Construção do Processo de Avaliação de Desempenho ..................................................65 4.2.1 A Fasedo Planejamento ...........................................................................................66 4.2.2 As Fases da Execução e do Feedback ........................................................................74 Capítulo 5 TópicoS eSpeciaiS - educação a diSTância, GeSTão de coMpeTência e GeSTão do conheciMenTo 5.1 Enfoques Organizacionais da Gestão Estratégica de Pessoas ..........................................80 5.2 Educação a Distância ..................................................................................................81 5.3 Gestão de Competências .............................................................................................86 5.4 Gestão do Conhecimento ............................................................................................90 Capítulo 6 culTura orGanizacional 6.1 Cultura ......................................................................................................................98 6.1.1 Conceito de Cultura..................................................................................................99 6.1.2 Cultura Organizacional ........................................................................................... 100 6.1.2.1 Início de uma Cultura Organizacional .................................................................... 101 6.1.2.2 Mantendo a Cultura ............................................................................................. 103 6.1.2.2.2.1 Métodos de Socialização ................................................................................ 106 6.1.2.3 Componentes da Cultura Organizacional ............................................................... 113 6.1.2.4 Cultura Forte versus Cultura Fraca ........................................................................ 116 6.1.2.5 Mudando a Cultura de uma Organização ............................................................... 116 6.1.3 Fusões e Cultura Corporativa .................................................................................. 120 Capítulo 7 culTura afro-braSileira e indíGena 7.1 Cultura ..................................................................................................................... 124 7.2 Cultura Brasileira....................................................................................................... 125 7.3 Cultura Negra no Brasil .............................................................................................. 126 7.3.1 Alimentação ........................................................................................................... 126 7.3.2 Religiões Afro-brasileiras ......................................................................................... 127 7.3.3 Danças .................................................................................................................. 129 7.3.4 Festas ................................................................................................................... 133 7.4 Racismo ................................................................................................................... 134 7.5 Índios ...................................................................................................................... 137 7.6 Inclusão Social.......................................................................................................... 138 Capítulo 8 novaS abordaGenS eM GeSTão eSTraTéGica de peSSoaS 8.1 Direitos dos Funcionários ...............................................................................144 8.1.1 Negociações Sindicais .................................................................................146 8.2 Gestão de Pessoas Internacionais ...................................................................148 8.2.1 Recrutamento e Seleção Internacionais ........................................................150 8.3 Banco de Dados e Sistema de Informações de Gestão de Pessoas .....................152 8.3.1 Banco de Dados ..........................................................................................152 8.3.2 Sistema de Informações de Recursos Humanos .............................................155 8.4 Resiliência .....................................................................................................156 Referências .........................................................................................................167 Estudos Complementares .....................................................................................173 11 Apresentação O objetivo deste livro é proporcionar subsídios referentes à Gestão Estratégica de Pessoas. Por isso, abordamos tanto os preceitos teóricos quanto os aspectos práticos da vida profissional que tivemos a oportunidade de desenvolver. Acreditamos que assim o material ficará, ao mesmo tempo, acadêmico e crítico o suficiente, pois muitas teorias, da maneira como são apresentadas nos livros didáticos, costumam ser pouco contextualizadas à realidade profissional brasileira. Esperamos que você desenvolva uma visão crítica deste assunto. Também espe- ramos que se sinta estimulado a aplicar alguns dos conceitos que serão transmitidos, a fim de desenvolver o seu modelo de gestão de pessoas. Gostaríamos de mencionar que é uma satisfação poder trocar ideias com você. Ao longo do livro, será possível observar que faremos diversas perguntas provocativas. Elas servem para que você se posicione e, principalmente, reflita! Por fim, esperamos que goste do que foi elaborado. E, se possível, envie um feedback, pois assim poderemos conhecer também outros pontos de vista além dos nossos. Um grande abraço e bons estudos! 13 Mercado de Trabalho Capítulo 1 14 Este capítulo tem por objetivo proporcionar subsídios para que você possa entender os conceitos e exigências referentes ao mercado de trabalho. Neste livro como um todo, veremos diversos subsistemas de Recursos Hu- manos considerados estratégicos para uma gestão mais efetiva. Porém, antes de iniciar o detalhamento sobre os subsistemas, veremos alguns pontos substanciais referentes ao ambiente que rege tudo isso, que é o mercado de trabalho. Dessa forma, é importante que você leia o material com atenção, tendo em vista que todos nós convivemos em tal ambiente. Vamos lá! Introdução 1.1 Gestão de Pessoas e Mercado de Trabalho Geralmente, ao estudarmos Gestão Estratégica de Pessoas, encontramos in- formações sobre os subsistemas, que devem estar todos interligados para possibilitar extrair o máximo de vantagens possível. Neste livro, você verificará que eles são inter- dependentes, ou seja, dependem e influenciam uns aos outros. Todavia, enquanto não avançamos para os capítulos que tratarão sobre os subsistemas, destaco que todos eles podem ser considerados fundamentais para que os gestores tenham condições de obter diferenciais para competir em um ambiente externo às suas organizações, chamado de mercado de trabalho. Cabe aos gestores manterem- -se antenados ao que acontece no mercado, que, embora seja externo, é um ambiente muito importante para as organizações. Saiba Mais Ficou curioso sobre o que é subsistema? Vamos entender o assunto. Primeiro, tenha- mos em mente que o sistema é o nosso objeto de estudo, no caso a Gestão Estratégica de Pessoas; os subsistemas são as partes identificadas de forma estruturada, ou seja, são as temáticas classificadas em grupos, como: Recrutamento e Seleção, Treinamento e Desenvolvimento, Remuneração, Avaliação de Desempenho; por fim, o supersistema ou também chamado de ecossistema é o todo, ou seja, o macroambiente. As definições de sistema, subsistema e ecossistema estão de acordo com a proposta de Andrade e Amboni (2011), mencionadas no livro de Administração - Teorias, da EAD/Unoeste. 15 Mas, o que é mercado de trabalho? Por que os gestores devem ficar atentos a ele? Por acaso o entendimento sobre o mercado de trabalho pode gerar diferenciaiscompetitivos aos gestores? E aos profissionais de forma geral? Para começar, vamos definir mercado de trabalho. No meu entendimento, mercado de trabalho significa o ambiente onde está concentrada a mão de obra dispo- nível para uma possível contratação. Além da mão de obra disponível, encontra-se tam- bém a “indisponível”, ou seja, aquela que temporariamente não está procurando novas oportunidades. Reflita se você concorda com a definição. Continuando, o mercado de trabalho que nós vivenciamos hoje é bem dife- rente do mercado que nossos pais vivenciavam, por exemplo. Não acredita? Pergunte a eles como era antigamente. Você vai ver que o que eles dirão é algo muito interessante, quando as oportunidades eram maiores, assim como a possibilidade de fazer o que cha- mamos de carreira em uma organização. O que fez com que houvesse essa mudança é algo que você já deve estar ciente, seja por vivência própria, ou por leituras, ou estudos sobre o assunto. Na visão de Karl Albrecht (2000), por exemplo, são várias as razões para que isso tenha acontecido. E olha que a visão dele ainda é considerada como uma referência explicativa para os dias de hoje! No entendimento dele, o que ocasionou uma alteração no conceito de mercado de trabalho foi a própria mudança oriunda das inovações tecnológicas e da nova concepção de serviços. Não entendeu? Vamos aprofundar a explicação! Para Albrecht (2000), o paradigma antigo de mercado de trabalho se concen- trava em pessoas que tivessem habilidades para fazer algo que exigisse pouco intelecto e mais habilidades físicas, uma vez que o entendimento de trabalho valorativo era mais bra- çal do que intelectual. Dessa forma, podemos exemplificar que o mercado de trabalho do século passado era muito mais voltado à obtenção de pessoas com características físicas, que proporcionavam a realização de atividades que utilizavam o emprego da força. Importante Paradigma: “‘Paradigma’ é um conceito que vem da Grécia antiga, onde significava ‘mostrar lado a lado’”, segundo Magalhães (2005 apud NOGUEIRA, 2007, p. 103). Mas, em se tratando do contexto da Administração: um paradigma administrativo é uma referência ou matriz de condutas que inclui as atividades de planejamento, organiza- ção, execução e controle, as técnicas e os procedimentos acei- tos e adotados pelas empresas ao longo do tempo (NOGUEI- RA, 2007, p. 104). Sendo assim, é um modelo de comparação, é uma fonte de referência para algum tema em específico. 16 Ao analisarmos o mercado de trabalho do Brasil, hoje, tal situação não mu- dou tanto. Ainda existe demanda para esse tipo de característica profissional para de- terminados trabalhos. Mas o que mudou foram pontos muito pertinentes: a quantidade e as exigências. Com a inovação tecnológica, o trabalho braçal acabou perdendo o seu valor. A nova concepção de riqueza passou a ser oriunda do intelecto, isso faz com que nós te- nhamos que nos adaptar/estudar frequentemente para criarmos diferenciais em relação a outras pessoas. A inovação tecnológica trouxe mais velocidade para as organizações, aumen- tou a exigência por pessoas que saibam fazer as coisas, tomar decisões, transformar in- formações em ações concretas e que deem retorno financeiro positivo, bem como enten- dam e saibam manusear as próprias tecnologias! Quem não sabe, por exemplo, acaba ficando à mercê de uma situação mais complicada, em que as oportunidades de trabalho são compatíveis e equivalentes àquelas dos profissionais com baixa qualificação. Tal situação, além de intrigante, é muito interessante por sua complexidade e volatilidade, porque acabou modificando o próprio entendimento de trabalho e empre- go. Você saberia dizer o que é um e o que é outro? Vamos lá. Você se lembra da definição física de trabalho? Trabalho é o resul- tado da utilização da força pelo deslocamento. Adaptando para a realidade profissional, entende-se por trabalho a capacidade de realizar algo, de utilizar o esforço e o desem- penho na produção de algo que seja necessário. Logo, a pessoa que cata papelão na rua para vender está trabalhando. A pessoa que está estudando também está trabalhando! Você concorda? Já emprego é a relação de trabalho dentro de uma formalização trabalhista. O emprego é derivado de uma relação de troca formal, em que os direitos e deveres es- tão regidos por lei e que geram o que chamamos de obrigações trabalhistas para ambas as partes: empresa/organização e profissional. Dando continuidade, para Albrecht (2000), a nova concepção dos serviços mudou também o entendimento do mercado de trabalho. Por quê? Porque o mundo administrativo que existia no século passado era predominantemente industrial, ainda mais na realidade norte-americana. Na realidade brasileira, tal situação não era tão di- ferente, apesar de que depois de 1990 o Brasil começou a vivenciar uma situação bem interessante, porém sofrível para diversos profissionais. Você saberia dizer qual situação seria essa? Para seu conhecimento ou para relembrar, em 1990, o então presidente da república Fernando Collor de Melo “abriu as portas” do país à globalização. O que isso quer dizer? Quer dizer que qualquer empresa de fora teria condições de instalar e forne- 17 cer produtos/serviços no país. Isso foi algo considerado por muitos como positivo, pois fez com que forçosamente houvesse um aumento nas ações/investimentos em mão de obra para concorrer com o capital estrangeiro, assim como para competir em âmbito global. Tal situação era muito complexa, pois até 1990 o Brasil viveu em um ambiente fe- chado e extremamente dependente daquilo que se produzia internamente, fazendo com que a população tivesse acesso a produtos/serviços de qualidade, porém com poucas ofertas diferenciadas e com preços caros, ocasionados pelas altas taxas inflacionárias. Comentários Essa situação me fez lembrar o exemplo da indústria automotiva, na época o carro con- siderado mais “moderno” era um carro que na Argentina estava mais que consolidado [...]. Ou então que para termos acesso a “produtos modernos”, necessitávamos ir ao Paraguai ou trazê-lo de Manaus. Todavia, quando o presidente Collor abriu as portas do país, várias empresas acabaram tendo problemas, pois não conseguiram se manter competitivas em relação às empresas do exterior. Mas, o que elas tinham de diferente das brasileiras? Além de pro- dutos diferentes, elas começaram a oferecer serviços diferenciados e também a utilizar a informação para produzir algo que não existia no mercado brasileiro. Isso foi algo sem precedentes na história do país. Ao mesmo tempo em que a modernização vinha ao Brasil, o atraso referente à gestão ficava mais do que evidente. E isso, de certa forma, acabou forçosamente modificando o pensamento administrativo relacionado à gestão estratégica de pessoas, pois obrigou os gestores a utilizarem as técnicas de gestão para atrair e manter os melhores profissionais, bem como a modificar os seus paradigmas referentes a essas pessoas/profissionais. Tal situação, evidentemente, até hoje não foi bem “digerida” pelos gestores, porque é difícil ser empreendedor no Brasil. Querendo ou não, as relações trabalhistas são complicadas/complexas, e a compreensão dos direitos e deveres é fundamental. Mas, além deles, também não foi aceita pelas pessoas pertencentes ao mercado de tra- balho. O motivo? Simples, porque na visão delas é obrigação do Governo dar condições para que se consiga trabalho. E elas têm razão e, ao mesmo tempo, não têm, porque essas condições são subjetivas. O que seriam essas condições? Estariam elas ligadas diretamente à escolaridade? A existência de vagas de emprego? O que se percebe hoje em dia é que ambas as situações existem. É perfeita- mente aceitável afirmar que as oportunidades de trabalho e emprego são derivadas das nossas capacidades, incluindo aí os nossos conhecimentos, as nossas habilidades e as nossas atitudes. Se você fizer uma pesquisa nos dados oficiais do Governo Federal, po- derá constatarque existem diversas ações voltadas para o aumento da escolaridade em todos os níveis. Mas apenas isso não resolve, pois não adianta ter escolaridade se não 18 1.2 O Excesso de Contingente e o Mercado de Reserva Conforme apontado no subitem anterior, o que se percebe é que a exigência de escolaridade contribuiu para que houvesse uma mudança nos parâmetros de traba- lho/emprego nos dias de hoje. Porém, pode-se afirmar que não foi apenas a escolarida- de que fez com que isso se tornasse uma necessidade para todos os trabalhadores, foi também a competição entre todos aqueles que querem o que chamamos de “lugar ao sol”. Explico melhor: você não tem aspirações de um dia poder ter a sua casa, ter um carro, ter uma boa condição de vida? Essas e outras aspirações, que em diversos casos acabam se tornando necessidades, também mudaram com o passar dos tempos. Mas, o que mudou? Além das necessidades, a quantidade e a qualidade, pois passamos de uma sociedade do “ser” para uma sociedade de consumo, ou uma sociedade do “ter”. Isso é algo muito cruel, pois acabamos nos tornando escravos das nossas próprias aspi- rações, de nossos próprios desejos. A rigor, o desejo e a necessidade são distintos. A necessidade pode ser en- tendida como falta de alguma coisa. Já o desejo significa que queremos algo, mas com o tempo o nosso desejo pode diminuir ou até mesmo aumentar! Nem sempre necessidade e desejo são tratados como coisas distintas, tendo em vista que, como já mencionado, as pessoas querem o ter e não necessariamente ser. No caso do mercado de trabalho isso pode ser um problema, pois as pessoas querem bons salários, boas oportunidades, querem boas condições de trabalho e não se contentam com qualquer coisa. É algo aceitável até o momento em que permanecem sem trabalho porque também querem algo que está além de suas capacidades. É de se pensar. Por outro lado, é ainda uma questão cultural, porque várias pessoas prefe- rem ficar sem emprego a trabalhar desenvolvendo atividades consideradas de “baixo va- lor agregado”. Isso nos Estados Unidos ou na Europa não é visto dessa maneira, porque trabalho é trabalho, ainda mais se considerarmos as relações trabalhistas. Concorda? soubermos trabalhar na prática. Para tanto, percebe-se também o aumento da oferta de vagas em Escolas Técnicas, que têm como princípio básico fornecer subsídios para que as pessoas saibam trabalhar em uma área específica. Isso é algo positivo, tanto que a taxa de contratação de pessoas com nível técnico vem aumentando significativamente ano após ano. Entretanto, como ficam as pessoas que não tiveram acesso ou não conse- guiram estudar em Escolas Técnicas ou simplesmente estudar? Nesse caso, acabam à mercê de oportunidades mais escassas, em que o tipo de trabalho e a relação trabalhista se torna fruto da sorte, dependência de auxílio governamental ou da informalidade, o que é algo cruel. 19 Não sei se você está acompanhando o problema do mercado de trabalho no mundo, mas é fato que as empresas estão exigindo cada vez mais de seus futuros pro- fissionais no momento da seleção; afinal, elas poderão recompensá-los de alguma forma com algo que deva atender suas necessidades ou desejos. Porém, não é tão simples assim, pois existe algo que chamamos de mercado de reserva, o que pode atrapalhar os planos de qualquer pessoa que esteja pleiteando uma vaga em uma empresa. Você sabe o que é isso? Entende-se por mercado de reserva o contingente de pessoas que está sem trabalho ou não está empregado em uma empresa. Muitas vezes, em função da circuns- tância do momento, tais pessoas se sujeitam a trabalhar com qualquer coisa, desde que tenham condições de satisfazer suas necessidades e desejos profissionais, mesmo que temporários. No Brasil, por exemplo, costumamos ver tal situação no serviço público, em que muitas pessoas fazem o que chamamos de carreira trampolim, ou seja, entra em uma carreira não tão disputada para ter um salário, uma relação trabalhista, além da segurança inerente a esse tipo de serviço, mas continua tentando prestar concursos pú- blicos para outras instituições que pagam melhor ou oferecem benefícios mais atrativos. Mas, voltando ao assunto, na Europa e nos Estados Unidos, a situação re- latada é um pouco diferente, o que faz com que o mercado de trabalho seja também um tanto diferenciado. Neste momento, estamos constatando mais uma mudança nos paradigmas referentes ao assunto, tendo em vista que em função da globalização a mo- bilidade populacional aumentou. Se você analisar o caso europeu, tal situação tende a ficar cada vez mais caótica, pois, com a unificação, as pessoas estão migrando para os países que estão em condições de ofertar melhores empregos. Isso faz com que o povo nativo tenha que competir em um mercado de reserva mais complicado. São exemplos: Espanha, Portu- gal, Alemanha, Itália. Todos esses países estão, inclusive, tendo problemas referentes às taxas de emprego; afinal, em função da economia, não conseguem mais gerar novas oportunidades. Com isso, parte-se para a informalidade, como já mencionado, ou criam- -se leis que obrigam e/ou estimulam as empresas a gerarem novas vagas de trabalho. Nos Estados Unidos, tal situação está começando a ficar muito parecida com a da Europa, apesar de também estar parecida com a brasileira! Tudo isso é fruto de uma recessão. Agora, se analisarmos a situação no Brasil, o Governo Federal vem afirmando que a taxa de desemprego está diminuindo. Pode até ser que esteja mesmo. Mas, ape- sar de tudo, é fato de que no Brasil o perfil do trabalhador mudou. A rigor, você já sabe a razão. Porém, assim como aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, aconteceu no Brasil também. 20 Em outras palavras, o mercado de reserva no Brasil está aumentado, uma vez que a rotatividade nas empresas tem crescido, seja por causa dos altos custos em- pregatícios, seja porque o trabalho desenvolvido na empresa não satisfaz as necessida- des de uma pessoa, entre outros motivos. Qual o significado disso? Significa que querendo ou não todos nós dispu- taremos uma vaga em empresas que pagam mais e melhor, ou então disputaremos uma vaga no mercado de trabalho para que possamos ser escolhidos para trabalhar em algum lugar, o que nos permitirá começar e continuar a nossa relação trabalhista. Com- plicado, não é? Atente-se a isso! É importante destacar ainda um ponto de vista bem recorrente relacionado ao modo como as empresas percebem a situação referente ao mercado de trabalho. É correto afirmar que o nosso mercado está mais voltado à questão intelectual e, com isso, as empresas estão buscando pessoas que saibam utilizar o intelecto para gerar os dife- renciais competitivos já comentados, o que não representa mais a garantia do emprego vitalício, uma ideia trabalhada desde 1995 por Minarelli (1995). 1.3 Afinal, o que as Empresas Querem? E o que Elas Podem Fazer? As duas questões do título deste subitem são extremamente norteadoras quando conversamos sobre mercado de trabalho. Afinal, o que as empresas querem? Bom, depois de tudo o que foi exposto até o presente momento, é correto afirmar que as empresas querem pessoas que tenham experiência, preparo, que tenham passado por posições que lhe permitam decidir, gerar os diferenciais. E como se consegue isso? Pode-se conseguir isso a partir dos investimentos pessoais, seja na escola- ridade, como já mencionado, ou então em outros ofícios que possibilitem o seu apren- dizado. Por meio do aprendizado, espera-se que o profissional possa desenvolver o que chamamos de competências. Com tudo isso vem um conceito que é muito interessante: o de empregabi- lidade. Você sabe o que é isso? Entende-se por empregabilidade a capacidade de uma pessoa conquistar e manter seus empregos. Em outras palavras, uma pessoa empregável é aquela que está sempre pronta para novos desafios, independente do tipo de empresa e do tipo de tra- balho que se tem pela frente. 21 Como conseguir isso, considerandotodas as dificuldades existentes? Além das já citadas, é perfeitamente possível mediante o que denominamos de trabalho vo- luntário, ou então o trabalho temporário, ou por meio de estágios. São alternativas capazes de incrementar a vida profissional de uma pessoa. Apesar de circunstancial, pois dependem das condições financeiras para o próprio sustento, assim como estar disponível para o que der e vier, tais alternativas vêm aparecendo com frequência no nosso país, já reparou? Para tanto, basta verificar a quantidade de novas ofertas de trabalho que são disponibilizadas em épocas festivas ou em épocas que no país a demanda por produtos/ serviços é grande. Já no caso do voluntariado, é o tipo de trabalho que pode ser encon- trado a qualquer hora, apesar de os gestores, em alguns casos, não estarem receptivos a isso, pois temem receber processos trabalhistas futuros. Apesar de tudo, o que importa é que uma pessoa consiga permanecer em- pregável. Se ela reunir as características fundamentais, dificilmente lhe faltará trabalho e emprego. Agora, aproveitando a oportunidade, devo apresentar outro conceito bem interessante que tem contribuído direta e indiretamente para que uma pessoa possa se manter empregável: a empresabilidade. Você imagina o que seja isso? Vamos lá! Entende-se por empresabilidade a capacidade das empresas em desenvol- ver e utilizar as competências de seus profissionais. Mas, o que esse conceito tem a ver com a empregabilidade? Simples! A partir do momento em que o gestor entende que ele também é responsável pelo desenvolvimento de sua capacidade profissional, existe uma tendência da relação empregatícia ser diferenciada, onde o ganha-ganha que as empresas estavam acostumadas passa a ser melhor distribuído com seus funcionários. Isso acontece por intermédio do fornecimento de cursos pagos pelas empre- sas, pela possibilidade de novas oportunidades de carreira dentro das próprias empre- sas, entre outros fatores. Já está acontecendo com você? Caso positivo, aproveite, pois o maior beneficiado tende a ser você mesmo. Porém, não se esqueça de retribuir com trabalho o que ela investiu, pois tal ação, quando existe a contrapartida, gera novos in- vestimentos, e por aí vai. Em outras palavras, essas são ações que as empresas podem fazer por um profissional. Dando continuidade às respostas das perguntas geradas no título do subi- tem, as empresas querem pessoas que sejam especialistas, mas também querem em determinadas situações o que chamamos de generalistas. Vamos às diferenças concei- tuais? Sem dúvida essas serão bem mais fáceis de entender. O especialista é aquele que sabe muito de um determinado assunto. Já o generalista é aquele que sabe um pouco de vários assuntos. Podemos exemplificar isso 22 da seguinte forma: em um curso de graduação você tende a se tornar um generalista, pois aprenderá de tudo um pouco. Terá acesso a informações que lhe proporcionarão conhecimentos que poderão ser utilizados no dia a dia. Porém, caso queira se aprofun- dar mais, ou se tornar o especialista, terá que estudar mais, seja por conta própria, seja fazendo uma especialização, um mestrado ou um doutorado. Não existe uma regra mencionando que somos apenas especialistas ou ge- neralistas. Além disso, podemos nos tornar especialistas ou generalistas várias vezes ao longo da nossa vida, pois cotidianamente nos deparamos com coisas novas! Mas cuidado com o que você quer ser lá no futuro, porque, como tudo na vida, existem vantagens e desvantagens com cada um desses pontos. Como vantagens dos especialistas, podemos dizer que quanto mais conheci- mento específico você tiver, maior será o seu diferencial competitivo frente aos demais. Porém, cuidado com a validade, pois com as mudanças, com as inovações tecnológicas, o conhecimento perde a validade rapidamente e isso pode se tornar uma desvantagem. Vamos a um exemplo: quem é especialista em computação, dependendo da linguagem, em menos de seis meses estará plenamente defasado, pois atualmente surgem diversas linguagens de programação para computadores no mundo. Porém, se a pessoa for especialista em neurocirurgia, ela conseguirá se manter empregável por muito tempo, porque o surgimento de novas técnicas ou procedimentos cirúrgicos não é tão frequente assim. Entende? Já no caso do generalista, a vantagem é que ele serve como um coringa. E o que é isso? É aquela pessoa que pode ocupar diversas posições na empresa, pois sabe fazer de tudo um pouco. Como um exemplo diferente, lembrei-me daquele personagem do programa Zorra Total, o Severino, ele faz de tudo! Agora, qual a desvantagem do generalista? Justamente por não ter um conhecimento mais aprofundado sobre o assun- to, a responsabilidade dele nas empresas tende a ficar mais no nível operacional, pois, para ocupar os níveis mais altos, é importante saber muito bem as coisas e entender o contexto maior que as empresas estão inseridas. Enfim, qual a mensagem embutida nesses conceitos? Para responder a essa pergunta, vou utilizar uma frase destacada em um texto publicado em 1999 (mesmo assim, bem atual!) do professor Antônio Carlos M. Mattos, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), em que ele diz: “Quem se decidir por uma carreira com base no que existe hoje correrá o risco de ter que ser reciclado no futuro, se quiser manter o emprego”. Interessante, não é? Pense nisso! Independente do tipo de profissional desejado, as empresas procurarão con- tratá-los para o trabalho, esse assunto será o objeto de estudo dos próximos subitens. 23 1.4 A Influência da Rotatividade nas Empresas Como já foi abordado neste capítulo, existe um excesso de contingente de profissionais à disposição das empresas, loucos por uma oportunidade de trabalho. Tal contingente é bastante volúvel, pois muitas pessoas são contratadas, diversas são demi- tidas ou pedem demissão e outras se aposentam. Das causas mais comuns, sabe-se que podem ser motivadas pela influência do que chamamos de variáveis externas e internas às empresas, conforme Chiavenato (2010, p. 90). Dentre as variáveis externas, contemplam-se: • A situação de oferta e procura do mercado de RH. • A conjuntura econômica. • As oportunidades de emprego no mercado de trabalho, etc. Já em relação às variáveis internas, podemos citar as seguintes: • A política salarial e de benefícios que a organização fornece. • O estilo gerencial. • As oportunidades de crescimento interno. • O desenho dos cargos. • O relacionamento humano. • As condições físicas e psicológicas de trabalho (relacionamento). Por outro lado, sabe-se que os motivos de demissão dos empregados podem variar desde a falta de comprometimento profissional, falta de competência, dificuldades de relacionamento e demais características que são inerentes às pessoas. Independente disso, o que se percebe no contexto empresarial é que a ro- tatividade tem aumentado significativamente quando o profissional completa o terceiro mês de trabalho, pois em termos de custos operacionais de demissão, eles tendem a ser menores, porque representa o período de experiência. Mas isso não é uma regra. Existem demissões que ocorrem com pessoas com muitos anos de empresa, pois se tornaram um custo maior do que o benefício que proporcionavam. Cruel, não é? Seja qual for o motivo, o que se sabe é que as próprias empresas se prejudi- cam com a rotatividade, afinal elas terão que começar tudo de novo, contratando gente para trabalhar, treinando, ajustando; enfim, tudo aquilo que é necessário para deixar um profissional pronto para o trabalho. Em outras palavras, acabam tendo problemas em função da influência sobre a produtividade de forma geral. 24 Para seu conhecimento, entende-se por rotatividade de pessoal, ou turnover, o movimento de saída dos profissionais de uma organização (OLIVEIRA, 2006). Quando eles saem da organização, abre-se vaga para que outra pessoa possa substituí-los (esse processo nós veremos melhor no capítulo sobre Recrutamentoe Seleção). Mas, se for possível manter a produtividade com as pessoas que já estão na organização, melhor. No entanto, geralmente, esse tipo de situação traz mais prejuízos do que benefícios quando se tem pouca gente, uma vez que alguém será sobrecarregado com o trabalho que era feito. Nesse sentido, é recomendável que o fluxo de saída de profissional seja equilibrado com o fluxo de entradas, ou seja, o movimento de admissão deve ocorrer na mesma proporção do que o de demissão. O último caso, porém, deve ser ao máximo evitado. Às vezes, é comum as empresas contarem com mais funcionários do que necessitam para o momento. Isso acontece porque é uma situação contextual, quando os negócios não estão bons o suficiente para ter trabalho a todos os funcionários. Caso essa situação aconteça, existem algumas ações voltadas para o preparo desses traba- lhadores, tais como o Plano de Demissão Voluntária. Porém, existem outras práticas que são testemunhadas em sindicato, pois as rescisões podem acabar gerando processos trabalhistas futuros. Para evitar surpresas desagradáveis para ambas as partes, é importante que o profissional se mantenha ao máximo empregável. Você já estudou isso, lembra-se? Por outro lado, as empresas devem criar mecanismos de controle que possi- bilitem o conhecimento das principais causas e, sobretudo, possam até mesmo elaborar estratégias que minimizem o índice de rotatividade. Tal índice é adequado para realizar o controle quando se tem muitas pessoas trabalhando. Para calculá-lo, recomenda-se a utilização da seguinte fórmula indicada por Chiavenato (2008): IR = (Nº de funcionários desligados x 100) / Efetivo médio da empresa Em suma, o que deve ser destacado? Que a rotatividade não necessariamente é a solução dos problemas referentes à gestão de pessoas. Às vezes, se o índice de rotati- vidade é alto, é melhor verificar o que está fazendo com que isso aconteça. Talvez alguns ajustes nos processos de recrutamento e seleção, ou então na determinação de estímulos visando manter os profissionais na empresa sejam alternativas mais adequadas. Outro ponto é que a rotatividade não é algo anormal. As pessoas, como já mencionado, também podem decidir por conta própria sair das empresas e trilharem outros caminhos. O mais importante é ter claras as razões das saídas e pensar em es- 25 tratégias de retenção que sejam aplicadas o quanto antes para não deixar o restante das pessoas que trabalham na empresa em polvorosa por ter um aumento da carga de trabalho. Resumo Você viu neste capítulo informações sobre o mercado de trabalho e suas nuances, bem como conceitos norteadores importantes que devem ser levados em con- sideração para a sua vida profissional, tendo em vista que passamos grande parte do tempo trabalhando. O entendimento do mercado de trabalho é fundamental para que possamos construir nossas qualificações com base naquilo que se é praticado. Não adianta remar contra a maré! Abordamos também alguns pontos referentes à rotatividade ou turnover, suas causas, a importância de verificar aquilo que pode ser melhorado, e que nem sem- pre a demissão é a melhor solução; enfim, todos esses aspectos merecem uma reflexão. Por fim, apresentamos uma fórmula simples de cálculo do índice de rotativi- dade proposta por Chiavenato (2008). Tal fórmula permite chegar a indicadores de con- trole, que, quando analisados em um período contínuo, possibilitam maior conhecimento organizacional. Atividades 1. O que é mercado de trabalho? Por que é importante verificarmos as exigências solici- tadas pelas empresas pertencentes ao mercado de forma geral? 2. Diferencie especialista de generalista, assim como empregabilidade de empresabilidade. 3. O que é rotatividade de pessoal? 4. Cite e explique três causas da rotatividade. 5. Por que é importante calcular o índice de rotatividade? 26 Anotações 27 recruTaMenTo e Seleção Capítulo 2 28 Introdução Como você já foi apresentado ao tema Mercado de Trabalho, podemos seguir para o próximo assunto, que é o entendimento dos subsistemas de recursos humanos aplicados ao dia a dia das empresas. Dessa forma, trabalharemos neste capítulo o que chamamos de mecanismos de comunicação e entrada de profissionais, que é o Recrutamento e a Seleção. Pertencente ao subsistema de provisão, as ações de recrutamento e de se- leção devem ser pensadas estrategicamente, ou seja, voltadas para a melhor forma de propagação da mensagem de que existe uma ou mais vagas de trabalho à disposição, tendo o intuito de escolher a melhor pessoa possível para ocupar a vaga. Vamos estudar os conceitos introdutórios pertinentes para o entendimento do assunto? Então, vamos em frente! 2.1 Recrutamento Entende-se por recrutamento a chamada, a comunicação no mercado de tra- balho de que há vagas disponíveis para pessoas desenvolverem suas atividades laborais nas empresas. Para Marras (2002, p. 69), o recrutamento é: Uma atividade que tem por finalidade a captação de recursos humanos interna e externamente à organização objetivando municiar o subsis- tema de seleção de pessoal no seu atendimento aos clientes internos da empresa. Com base nesse conceito, podemos entender que para haver a captação de pessoas internas e externas à organização, deve-se pensar em comunicar a vaga. Esse é um grande desafio, pois, para conseguir otimizar os esforços e os recursos financeiros existentes, os gestores deverão ter bem claro qual é o perfil do profissional desejado para tanto. Caso não tenha o perfil delineado, é recomendável pensar em um, pois quando não há uma referência do que se quer, acaba-se perdendo tempo e recursos para divulgar a vaga mediante adoção de estratégias que diminuirão a taxa de sucesso. A Administração de Recursos Humanos utiliza o conceito de cargo para ter claro qual é o perfil do profissional necessário. Para conhecimento, o cargo é o que se tem de mais importante no que tange às questões técnicas de RH, porque é a base de consulta para tudo. Infelizmente, considerando a realidade atual, é muito comum encon- trarmos pessoas/gestores que não levam a sério a criação dos cargos, ocasionando pro- blemas futuros de controle, pois nem sempre o que fora prescrito é, de fato, realizado. 29 É recomendável fazer a descrição do cargo da maneira mais completa pos- sível, de modo que ela reflita as atividades que uma pessoa realmente desempenhará na empresa. A não adoção desse tipo de prática é nociva se pensarmos que o cargo é a referência. Com isso, ao adotar uma prática de descrição superficial, como pensar que futuramente o processo de seleção será elaborado partindo da descrição não fidedigna daquilo que será feito? Para conhecer bem o cargo, o gestor deve pesquisar. Poderá utilizar diversas técnicas de coleta de dados, tais como: • Entrevistas. • Observação. • Livros e documentos. • Internet, por exemplo: o site da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). De todas as possibilidades para estruturar o cargo, provavelmente a mais utilizada é a CBO. Isso é muito bom, partindo da premissa de que serve como um refe- rencial padrão de construção, em que as atividades e características profissionais estão disponibilizadas ao alcance de todos. Mas não é recomendável que os gestores utilizem tais descrições como fim, tendo em vista que não necessariamente refletem a realidade de cada empresa. Em outras palavras, os cargos devem ser estruturados de maneira customizada. Visando proporcionar subsídios para definir o cargo, é importante você saber quais são seus elementos estruturantes. Vamos a eles: Título – todo cargo deve ter um título, pois somente com isso você vai saber qual cargo está trabalhando. Sumário – representa uma descrição muito simplificada da essência das atividades a serem realizadas. Atividades desenvolvidas – é um dos pontos mais importantes a serem trabalhados. Nesse item, procure escrever tudo o que deverá ser feito. Cabe destacar que não há limites para o número de atividadesdesenvolvidas. Características do cargo – é nesse ponto que você deve deixar claro quais os conhecimentos a pessoa deve ter para ocupar o cargo, bem como as habilidades e as atitudes. Procure trabalhar com o máximo de detalhes na descrição do que chamamos de CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes). Supervisão dada e supervisão recebida – em forma de organograma, tem como intuito demonstrar para a pessoa que ocupará o cargo se ela terá que se reportar a alguém ou, caso o cargo esteja em um nível mais alto, apresentar quem ela terá que controlar. 30 Ferramentas e equipamentos necessários – é o ponto para deixar claro quais equipamentos o cargo exige. Serve como uma referência para que as pessoas te- nham maior familiaridade com seus objetos de trabalho. Outras informações pertinentes – aqui se reserva um espaço para apre- sentar outras informações que possam ser, na sua visão, importantes para que o funcio- nário saiba o que fazer. Diante do exposto, caso os gestores tenham definido/estruturado o cargo, é hora de pensar nas decisões estratégicas inerentes ao tema: o recrutamento. Entre elas, citamos os tipos de recrutamento, bem como os métodos mais comuns para tanto. No que se refere aos tipos de recrutamento, podemos afirmar que existem o recrutamento interno e o externo. A diferença entre eles é evidente. Porém, qual deles é o melhor? Qual desses tipos é o mais recomendável? Essa é uma decisão, como já mencionado, estratégica! Se pensarmos em escolher prioritariamente o recrutamento interno, a de- cisão tende a servir como estímulo para os participantes, sobretudo os pertencentes ao quadro mediante oportunidades de promoção. Porém, nem sempre é recomendável escolher o recrutamento interno, pois talvez não seja possível encontrar pessoas com o perfil adequado ao que o cargo exige. Com isso, parte-se para o recrutamento externo. Existem vantagens e desvantagens tanto do recrutamento interno quanto do externo, mas elas são circunstanciais. Por isso, é importante que o gestor tenha bem claro o que ele quer e que tenha conhecimento do processo como um todo para deter- minar o que é mais adequado para a sua realidade, porque o que é desvantagem para um, pode ser vantagem para outro e vice-versa. De qualquer forma, se o recrutamento for voltado ao público interno ou externo, é responsabilidade do gestor fazer com que a mensagem acerca da vaga em aberto chegue aos canais pertinentes. Para isso, vamos falar agora sobre os métodos mais comuns? De acordo com Marras (2002, p. 73), existem duas variáveis que influenciam os métodos mais comuns de fazer recrutamento. São elas: a) Variável tempo – é aquela que determina a exigência temporal que está contida na solicitação feita pela área que tem a vaga em aberto. Em outras palavras: quanto tempo se tem para realizar todo o processo de recrutamento e seleção? b) Variável custo – é a que representa a possibilidade financeira que se dispõe para iniciar um processo de recrutamento e seleção. Em outras palavras: quanto dinheiro eu tenho para realizar o processo de recrutamento e seleção? 31 Com base no exposto, a partir do momento em que se sabe quanto tempo e recurso estão disponíveis, torna-se mais fácil decidir divulgar a vaga em aberto no mer- cado de trabalho por intermédio dessas alternativas: • Por meio de cartazes, panfletos e folders – esses meios são os mais simples de divulgar uma vaga, porém nem sempre são os mais eficazes. É uma alterna- tiva de baixo custo, mas com taxa de retorno baixa também, porque nem todos prestam atenção nos cartazes ou aceitam receber panfletos e folders. • Por meio de Universidades e Agências de Integração – interessan- tes alternativas se pensarmos em custos e abrangência de divulgação para um público específico. Nesse caso, vale a pena utilizar as duas possibilidades quando se pensa em um perfil estudantil, pois as Universidades e as Agências de Integração possuem um cadastro com diversas pessoas interessadas em participar de um estágio ou trabalhar. Pesquisar Você conhece alguma Agência de Integração? Sabe como ela trabalha? Faça essa pesqui- sa! É muito interessante. Vale considerar que utilizando esses meios as empresas podem obter ganhos de tempo e recursos mediante ampliação dos canais de comunicação. Caso as pessoas que foram encaminhadas não atendam aos requisitos determinados, pode-se começar tudo de novo em um tempo muito menor. • Por meio de anúncios em rádio, televisão e jornais – você já deve ter visto isso várias vezes na sua vida, não é? De fato, são os mais conhecidos e utilizados, uma vez que propiciam o atendimento de um amplo número de pessoas de forma padro- nizada e ainda é possível, de acordo com o caso, fazer com que a visibilidade aumente. Para aumentar a visibilidade, é importante anunciar várias vezes. Quanto menos for comunicado, menor a probabilidade das pessoas saberem, pois outras empre- sas também fazem uso desse tipo de comunicação. A comunicação em jornal tende a ser mais efetiva porque é impressa e deixa registro. As pessoas podem tomar conhecimento do seu anúncio com uma probabilidade maior se nós compararmos ao rádio e à televisão. No entanto, quanto mais destacado o anúncio melhor, pois outras empresas acabam utilizando o mesmo meio de divulgação. Você já viu a página dos classificados de empregos? É muito anúncio! Por falar em destaque e visibilidade, é válido ressaltar que os anúncios de- vem contemplar informações que possibilitem as pessoas saber sobre o cargo. Daí entra uma questão estratégica, tendo em vista que o preço varia conforme o número de carac- teres utilizados (no caso dos jornais) ou em função do tempo do anúncio (rádio e TV). 32 Para tanto, você deve ter em mente que há anúncios do tipo aberto e do tipo fechado. Nos fechados, o enfoque está na comunicação da vaga a ser preenchida, não há manifestação clara acerca da empresa que oferta a oportunidade. Esses casos são típicos de empresas que buscam obter informações do mercado de trabalho, como perfil profissional das pessoas interessadas, currículos, entre outras motivações possíveis. E o anúncio aberto? Ele explicita quem é a empresa contratante, quais ações devem ser tomadas pelo candidato, ainda ficam claras as recompensas. As empresas geralmente adotam esse tipo de anúncio. É importante salientar que o método de fun- cionamento é muito parecido ao do anúncio fechado (DALMAU; GIRARDI, 2010). Voltando aos meios de comunicação, tanto a TV quanto o rádio são alterna- tivas interessantes, pois atingem públicos específicos. Talvez entre os dois, o rádio seja mais eficiente. Nesse caso, depende de região para região. Porém, é importante que, antes de realizar o anúncio, o gestor tenha conhecimento do público-alvo que tal meio atinge para verificar se é isso mesmo que ele procura; afinal, os custos para anunciar com essas mídias são relativamente elevados. Mas, fica a dica! • Por meios eletrônicos – é fato mencionar que cada vez mais utilizamos os meios eletrônicos nas nossas vidas. E-mail, internet, WhattsApp, Skype, todos são alternativas que possibilitam uma comunicação mais rápida, independente da distância. Hoje em dia, nota-se que muitas empresas vêm utilizando com mais fre- quência os meios eletrônicos, porque, além de serem alternativas mais baratas e rápidas de acessar dados, possibilitam uma capacidade de armazenamento, trans- missão e análise de forma mais organizada e precisa. Para tanto, basta você entrar nas páginas virtuais das empresas e, provavelmente, encontrará um menu intitulado de Trabalhe Conosco. Se você clicar lá, verá um formulário para ser preenchido, con- siderando a vaga em questão e diversos campos referentes às informações necessá- rias sobre suas qualificações ao trabalho. • Por meio de palestras informativas – as empresas que não são muito conhecidas no mercado adotam essa opção para fornecer aos possíveis candidatos mais informações (DALMAU; GIRARDI, 2010). É muito comum ver esse tipo de alternativaem escolas e universidades, pois visam a atender um público específico. Porém, não se limitam apenas a esses públicos, podem ser realizadas palestras em reuniões de bairro, em associações empresariais, etc. • Consultorias de outplacement ou replacement – uma possibilidade para as empresas na hora de realizar o recrutamento é a contratação de consultores. São profissionais que podem assessorar o gestor, já que possuem conhecimento especiali- zado, encaminhando pessoas com um perfil compatível ao solicitado. Porém, costumam atender um público de nível mais gerencial, mais executivo, não sendo viável para pro- cura de cargos em nível operacional em virtude dos custos. 33 • Por meio de sindicatos ou conselhos profissionais – uma alternativa que contempla um canal de comunicação eficaz com o público é o contato com os sindi- catos e conselhos profissionais. É um caminho interessante quando se deseja contratar pessoas com perfis compatíveis à natureza dessas instituições, além de uma maneira de reforçar o próprio propósito delas. Diante de todos esses meios, é válido salientar que os gestores devem pri- meiramente saber qual é o perfil que eles desejam contratar. Depois, conhecer a fundo o modo de funcionamento de cada uma dessas alternativas, em especial seus custos de veiculação, público-alvo e amplitude de anúncio. Posteriormente, com base na sua capacidade financeira para realizar a ação de recrutamento, decidir qual é a melhor al- ternativa. Nesse caso específico, existe uma recomendação que é a seguinte: procure mesclar ou combinar os meios de comunicação. Jamais utilize um meio só. Com isso, ampliam-se as chances das pessoas tomarem conhecimento da sua empresa e da vaga em questão. Lembre-se que só é lembrado quem é visto! Outro ponto que deve ser destacado é o cuidado que o gestor deve ter quan- do planejar a forma de recrutamento. É necessário ressaltar que os anúncios precisam ter cuidado para não serem discriminatórios ou excludentes, por exemplo: “Quando se coloca frases, tais como: ‘precisa-se de funcionários do sexo feminino’, ‘precisa-se de funcionários com no mínimo 18 anos e no máximo 25’” (DALMAU; GIRARDI, 2010, p. 70). Questões como essas e outras acabam criando uma situação que fere a Constituição Federal e, portanto, podem trazer complicações à organização. Por mais que o gestor não queira trabalhar de forma discriminatória, é me- lhor utilizar frases mais genéricas para os anúncios, que não criem situações discutíveis e desagradáveis. Por fim, procure saber qual meio possibilitou o melhor retorno. É muito co- mum durante o processo seletivo os gestores perguntarem como o candidato ficou sa- bendo da vaga. Eles fazem isso para mensurar se a maneira como foi divulgado fez efeito ou não. E isso é muito importante! Dando continuidade ao recrutamento e seleção, após a comunicação e o sucesso da atividade, devemos partir para o processo seletivo em si. Nesse caso, deve estar bem estruturado para que se possa escolher o melhor entre os candidatos que res- ponderam ao seu chamado. Logo, esse assunto será desenvolvido no próximo subitem. 34 2.2 Seleção O que é selecionar? Significa escolher, correto? Logo, no âmbito da área de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas, pode-se dizer que o processo seletivo abrange a escolha daquele que é o mais indicado para ocupar um cargo que esteja em aberto na empresa. Essa definição está de acordo com o proposto por Snell e Bohlander (2010, p. 208), os quais dizem que a seleção “é o processo [...] da escolha entre indivíduos com qualificações relevantes.” Para que possamos escolher alguma coisa, devemos ter um referencial, um parâmetro de comparação, pois não é possível saber se algo é melhor ou pior sem ter uma referência. Nesse sentido, Marras (2002) destaca dois pontos que podem ajudar na definição de referências comparativas: a) Exigência do cargo – são os atributos profissionais demandados pelo car- go em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, para que haja um desempenho adequado das funções. b) Características do candidato – é o conjunto de conhecimentos, habili- dades e atitudes típicos de cada candidato para o desempenho das atividades que lhe serão atribuídas. Tendo em vista que esse é um processo de comparação, os resultados po- dem ter, ao menos, três formas distintas. Para Chiavenato (1999), a seleção pode levar a um candidato extremamente adequado, adequado ou inadequado para a função objeto do processo seletivo. O candidato que for extremamente adequado não necessariamente deve ser considerado como um problema, apesar de que muitos gestores pensam dessa forma, bem como vários autores da área de RH. Explico: devemos lembrar da questão do livre arbítrio, pois as pessoas vão participar do processo seletivo em função de um objetivo. Não há como prever que pelo fato de a pessoa apresentar características positivas exce- dentes ela vai se desmotivar logo em relação ao trabalho a ser feito e, posteriormente, sairá da empresa! É evidente que as chances são consideráveis, mas deixar de contratar alguém por causa disso é algo no mínimo inadequado. O candidato pode ser considerado adequado. Isso significa que ele apresen- ta características profissionais que estão em consonância com o que se deseja. Dessa forma, tende a ser a pessoa certa! Por fim, ele pode ser considerado inadequado ao cargo. Nesse caso, atenção especial, pois o nível de inadequação pode variar de uma pessoa para outra. E, depen- dendo do caso, existem circunstâncias nas quais os gestores acabam escolhendo a pes- soa “menos” inadequada, uma vez que dos candidatos existentes aquela era a menos 35 pior! Você sabe por que isso acontece? Porque não é mais possível continuar com a vaga em aberto. Logo, é preferível colocar alguém e treinar futuramente a sobrecarregar as pessoas que trabalham na empresa ou então permanecer com a vaga em aberto, per- dendo as oportunidades de negócio. Para fazer as escolhas, os gestores devem utilizar estratégias específicas, vamos agora conhecê-las! Há diversas possibilidades de elaborar e conduzir um processo seletivo. É o gestor quem irá definir o método a ser empregado. Na fase de planejamento, ele deve levar em conta os recursos necessários que serão empregados e considerar a melhor alternativa. Tudo isso deve estar de acordo com o tempo, o recurso financeiro, as pesso- as designadas para tarefa, porém, acima de tudo, conforme as exigências do cargo que possui a vaga em aberto. Dica Jamais pense em utilizar no processo seletivo apenas uma técnica de seleção. O reco- mendável é que se utilize o maior número possível de técnicas já que cada uma possui seus pontos fortes e fracos. Não podemos deixar de mencionar que poderão acontecer falhas durante a execução do processo seletivo. Pode-se dizer, à primeira vista, que essas falhas são cau- sadas pela percepção humana. Não há processo perfeito. Contudo, a percepção costuma sofrer influências negativas quando não há um planejamento adequado ou ainda quando foi realizado de forma superficial. Você quer um exemplo? Hoje em dia, os gestores tendem a simplificar as etapas do processo de seleção, com foco em entrevistas, sem a devida análise baseada no currículo. Na prática, as duas ferramentas – currículo e entrevista – não propiciam a condição para o gestor diferenciar quem é quem! Dessa forma, o indicado é usar mais de uma forma para a análise dos candidatos. Tendo em vista tudo o que foi abordado, veremos agora as formas de traba- lhar o processo seletivo, que são: • Entrevistas - de acordo com Marras (2002, p. 80), “a entrevista objetiva detectar dados e informações dos candidatos subsidiando a avaliação do processo sele- tivo”. A entrevista é uma das alternativas mais utilizadas no processo seletivo, uma vez que o contato frente a frente com uma pessoa permite que algumas percepções sobre ela venham à tona. Um dos pontos positivos da entrevista é que ela possibilita, por meio de uma ou mais conversas,ampliar suas impressões sobre o candidato, sendo que essas impressões podem ter sido obtidas até mesmo em outras fases do processo. 36 Porém, deve-se tomar um cuidado específico com a entrevista que é a neces- sidade de ter em mente o que se quer identificar em um candidato. Logo, a preparação dela se torna fundamental, pois o recomendável é utilizar um roteiro de perguntas que sejam comuns a todos os candidatos. Nesse sentido, as entrevistas podem ser estruturadas e não estruturadas. As estruturadas baseiam-se em um método preliminarmente definido de perguntas que devem ser respondidas de maneira bem objetiva. Caso o candidato não seja objetivo, ou procura-se trabalhar com perguntas complementares, ou se finda por avaliar mal o interessado. Cuidado com isso! As entrevistas não estruturadas são aquelas que não seguem um padrão de perguntas pré-definido. Cuidado com isso também, pois, muitas vezes, a falta de padrão não permite conhecermos as posições das pessoas em função das diferentes perguntas realizadas. É válido destacar que nas entrevistas o objetivo do gestor não é conhecer alguém, e sim saber qual é o posicionamento da pessoa frente àquilo que lhe é pergun- tado. Explico: é muito difícil “conhecer” alguém. Só com convivência e olhe lá! Logo, como podemos dizer que “conhecemos” alguém em uma ação que dura em média de 15 a 30 minutos? É algo impossível. Além do mais, não podemos deixar de pensar que os candidatos estão cada vez mais profissionais na arte de se comportar nas entrevistas. Uma característica da entrevista que gostaria de destacar é o fato de ela ser extremamente subjetiva. Você, no papel de entrevistador, seguramente ficará impres- sionado com a capacidade do entrevistado, seja por suas características positivas ou ne- gativas. A postura ideal é que o entrevistador seja isento, apesar de isso ser algo muito difícil na prática. No entanto, procure estar em consonância com as exigências do cargo. Para que você possa ter parâmetros comparativos, é importante pensar em uma escala, pois os números nos possibilitam a devida comparação. Nesse sentido, pen- se em um conjunto de perguntas e ao lado delas faça uma escala de valores. Pode ser de 1 a 3, 1 a 5, 1 a 10, tanto faz. O importante é que ao final das respostas você possa colocar a nota que achou mais conveniente para o candidato. • Dinâmicas de grupo – são realizadas com bastante frequência, em vir- tude das possibilidades de averiguar in loco certos tipos de comportamento que podem ser adotados em uma entrevista de forma enganosa. De acordo com Gil (1994), as dinâmicas mais utilizadas têm um enfoque na análise das características de liderança, sociabilidade, iniciativa, comunicação, criatividade, etc. No entanto, é preciso salientar que as dinâmicas também possuem um alto grau de subjetividade, logo existe a necessidade de serem bem conduzidas para mini- mizar as possíveis dúvidas. Se forem bem realizadas, podem expressar uma garantia e consolidação de escolhas realizadas ao longo do processo de seleção. 37 A fim de cumprir as dinâmicas com propriedade, é recomendado o trabalho em conjunto com psicólogos ou profissionais que tenham pleno domínio das técnicas a serem empregadas. • Currículo – de todas as alternativas de seleção, é fato que o currículo é a mais utilizada. Eles representam uma síntese das informações referentes ao perfil profissional. Com base nos dados informados, é possível fazer um comparativo das ca- racterísticas profissionais com o perfil desejado. Contudo, essa etapa também apresenta um problema, que é relacionado à verificação das informações contidas no currículo, pois esse documento não representa necessariamente o domínio das competências práticas. Em outras palavras: o papel tudo aceita, tudo é excelente. Já quanto à prática não se pode dizer o mesmo. Ainda é importante salientar que o currículo geralmente é usado como uma das etapas iniciais no processo seletivo. • Testes ou provas – há uma diversidade de testes ou provas que as em- presas adotam para obter mais profundidade na verificação das características do profis- sional. Nesse aspecto, Marras (2002) salienta que as organizações usualmente adotam os seguintes testes: a) Teste psicológico – por meio dele o psicólogo prospecta, mensura e avalia características exclusivas do candidato. Esse tipo de teste pode ainda ser dividido de acordo com duas categorias: a1) Testes de aptidões – que pretendem avaliar características naturais dos candidatos e traços que demonstrem tendências claras de capacidade para a execução de tarefas específicas. a2) Testes de personalidade – a fim de conhecer os sistemas endógenos dos indivíduos, composto por características singulares que determinam o perfil comporta- mental de cada indivíduo. b) Teste grafológico – denominado ainda de teste da escrita, permite pela forma como o candidato escreve ter uma noção de suas características pessoais. Consoante à visão de Marras, Gil (1994) ainda propõe o uso dos seguintes testes: a) Testes ou provas escritas – recomendado para cargos que demandam conhecimentos e habilidades específicos. Um exemplo: o uso da redação. Nesse caso, deve-se avaliar o conhecimento geral desejado do candidato para a vaga objeto do processo de seleção, também é necessário que seja formulado de maneira a não ter múltiplas interpretações. b) Testes práticos ou simulações – são indicados para avaliar as habilidades do indivíduo. São interessantes para verificar se de fato o candidato sabe fazer o trabalho ou não. O mais complicado na utilização desse tipo de teste é justamente a preparação dele, pois deve refletir da melhor maneira possível o trabalho que será feito, e não ape- nas idealizar algo que não é fruto da realidade futura de trabalho do candidato. 38 Mais uma dica: assim como na entrevista, pense em idealizar os testes com questões que possam receber o apoio de uma escala numérica para verificar quem é o melhor candidato. Nesse caso, sobretudo em testes objetivos, é importante pensar em um gabarito. No caso dos testes práticos, deve-se pensar em um padrão de respostas esperadas, com a devida quantificação delas para saber qual é a possibilidade mais valorativa. Por fim, outra recomendação. Sempre procure trabalhar o processo seletivo de forma que seja possível aproveitar o máximo de tempo para investigar mais sobre os candidatos. Logo, a ordem das etapas seletivas poderão lhe auxiliar nisso. Crie padrões mínimos de exigência e à medida que as etapas forem cumpridas, classifique os candi- datos. Aqueles que não obtiveram a nota mínima estarão eliminados. Isso é importante porque nem sempre as pessoas que vão mal na entrevista, por exemplo, são as piores para o cargo ou então as melhores. O mesmo vale para a prova. Você pode pensar no processo seletivo utilizando pesos para cada uma das etapas. É uma boa ideia! Assim você reforça o que é mais importante para ser analisado em sua opinião. Independentemente da maneira que você estimar, saiba que não existe uma única forma de fazer o processo, assim como ele pode ser modificado a cada vez que for aplicado mediante o fortalecimento daquilo que não saiu legal. Em outras palavras: você percebeu que algumas perguntas não ficaram legais, não geraram as respostas esperadas? Altere! O mais importante é que com o tempo, além de aumentar sua expe- riência, você pode melhorar o processo de tal forma que sua base de referência se torne confiável o suficiente para fazer o melhor processo seletivo possível. Resumo Neste capítulo, vimos o primeiro subsistema de Recursos Humanos ou Ges- tão de Pessoas, que é o de provisão. Nesse subsistema está o processo de recrutamento e seleção, em que recrutamento é a chamada, a divulgação de que existe um cargo em aberto e precisa ser ocupado por alguém. Há duas formas de recrutar candidatos: uma com enfoque interno e a outra externo. Para os dois casos, há tantos pontos positivos quanto negativos. Não obstante, vimostambém que não há uma forma única de realizar o re- crutamento, ou seja, há várias maneiras, para cada uma há uma peculiaridade que pode ou não estar de acordo com a realidade da empresa. 39 Além do recrutamento, vimos o processo de seleção e suas características, sendo que para isso apresentamos os tipos mais usuais no que tange os métodos de seleção (etapas), como também tratamos da importância da adoção de métodos quan- titativos para auxiliar no processo de ordenação dos candidatos. Atividades 1. Defina o que é recrutamento. 2. Há mais de um tipo de recrutamento? Se sim, diga quais são e cite suas característi- cas. Por fim, justifique se há uma melhor forma de recrutar. Investigue considerando a sua realidade pessoal e profissional, qual é ou quais são as alternativas mais utilizadas em sua cidade. 3. O que é seleção de pessoas? 4. Identifique e explique os fatores que influenciam diretamente o processo seletivo. 5. Relacione as principais formas (etapas) de fazer uma seleção de candidatos e expli- que-as. Anotações 40 41 TreinaMenTo e deSenvolviMenTo Capítulo 3 42 Neste capítulo, veremos o subsistema de desenvolvimento, que contempla as ações de Treinamento e Desenvolvimento. Provavelmente, se você quiser aprofundar os seus estudos sobre o tema em questão, encontrará com mais facilidade livros que tratam sobre treinamento, dificilmen- te encontrará sobre desenvolvimento. Isso não é um problema, uma vez que o desen- volvimento acaba contemplando a filosofia de estruturação do treinamento. Uma das possíveis explicações é que no contexto empresarial investe-se mais em ações que gerem retorno a curto prazo, característica inerente à interpretação do conceito de treinamento, como veremos adiante. Já o desenvolvimento demora mais para apresentar resultados pelo fato de ser orientado para um futuro mais distante e por conter mais de um tipo de treinamento. O assunto em questão é pertinente, pois para manter os profissionais pre- parados e com capacidade de resposta e produtividade, os investimentos em ações de treinamento são mais do que necessários. No entanto, sabe-se que pela dificuldade eco- nômica que o país em geral se encontra, sobretudo considerando a visão do gestor, nem sempre é possível fazer os treinamentos desejados, tanto em questões de quantidade quanto em questões de qualidade. Isso faz com que seja necessário entender como funciona o processo de treinamento e desenvolvimento para que, caso não seja possível investir no melhor, encontre-se alternativas para, pelo menos, realizar algo. Diante do exposto, esses e outros pontos serão tratados a seguir. Vamos lá! Introdução 3.1 Conceitos de Treinamento e Desenvolvimento O que é treinamento? Quais os objetivos do treinamento? Como fazer? O treinamento é “[...] um processo de assimilação cultural em curto prazo, que objetiva repassar ou reciclar conhecimentos, habilidades ou atitudes relacionados direta- mente à execução de tarefas ou à sua otimização no trabalho” (MARRAS, 2002, p. 145). Para Carvalho e Nascimento (1993, p. 154), o treinamento constitui-se no “processo de ajudar o empregado a adquirir eficiência no seu trabalho presente ou futu- ro, através de apropriados hábitos de pensamento e ação, habilidades, conhecimentos e atitudes.” 43 A diferença de pontos de vista nesses conceitos é bem interessante, pois apesar de terem sido formulados em épocas distintas, apresentam pontos em comum. Ambos contemplam conhecimentos, habilidades e atitudes, o que nos faz compreender que o que sabemos e o que fazemos hoje não significa que faremos no futuro, desenvol- vendo as nossas atividades de trabalho. Temos que aprender coisas novas, desenvolver novas características, até mesmo porque os problemas são diferentes, assim como o próprio trabalho. Isso não significa que pelo fato de você ser treinado, com certeza saberá resolver um problema novo, por exemplo. Tal pensamento é justificado tendo em vista que, às vezes, por melhor que seja o treinamento realizado, muitos dos problemas de desempenho são resultantes do grau de motivação baixo de um profissional ou até mes- mo por intermédio da oferta de estímulos, por parte das empresas, considerados não atrativos pelos profissionais. Nesse sentido, o que as empresas têm feito? Bom, o que se percebe é que várias estão investindo em treinamentos no intuito de gerar condições de atualização, afinal elas também ganham com isso, além de se trabalhar a lógica da recompensa dife- renciada, pois os cursos também custam dinheiro! Evidentemente que isso não precisa ser descontado da folha de pagamento no final do mês, mas serve como argumento para que os profissionais percebam que existe uma preocupação e um investimento maior do que apenas o salário. Outra estratégia bem comum hoje em dia é a de ligar os investi- mentos em treinamento como parte de remuneração estratégica, ou seja: quer ganhar mais, capacite-se! Com base nos conceitos apresentados, salienta-se que uma diferença clássi- ca entre treinamento e desenvolvimento é a questão do prazo. No treinamento, as ações são voltadas para o curto prazo, para o agora, enquanto que o desenvolvimento objetiva questões do futuro. Em outras palavras, ele visa desenvolver características que podem vir a estar de acordo com exigências futuras do cargo. É possível, então, dizer que o desenvolvimento tem foco na preparação da carreira do indivíduo. Se correlacionarmos esse assunto com o que fora desenvolvido no capítulo sobre Mercado de Trabalho, é correto afirmar que assim como as pessoas investem em suas qualificações profissionais, as empresas também contribuem para que isso acon- teça. Para tanto, a nossa trajetória nos economiza tempo, desde que, de fato, a gente aprenda a fazer coisas novas e adquira novas competências que nos tornem profissionais melhores. Os conceitos apresentados destacam uma palavra-chave na área da gestão: a eficiência. Eficiência é fazer algo bem feito. Tem a ver com o processo. Se você segue à risca o seu processo de trabalho, você está sendo eficiente. Mas isso não é tudo. Na área da gestão em geral, fala-se muito em eficácia também. Nesse sentido, o resultado, ou a eficácia, também é algo desejado, mas é apenas um resultado, que nem sempre está 44 sob o nosso controle. O que se procura é que as pessoas sejam eficientes e eficazes ao mesmo tempo. Aliás, por um contínuo de tempo, que significa, nesse caso, efetividade. Biblioteca da Disciplina Para você ter uma ideia do quanto é importante a eficiência nos processos, veja na Lei- tura Complementar 1 que o uso desse conceito pode extrapolar as fronteiras organiza- cionais. Ficou curioso? Acesse a Biblioteca da Disciplina e leia “Eficiência coletiva em arranjos produtivos locais industriais: comentando o conceito”, de Fabio Stefano Erber. Para seu conhecimento, existem diversos tipos de treinamento para serem realizados nas empresas, tais como os de integração, os técnicos-operacionais, geren- ciais, comportamentais, quando poderão ser enfatizadas ações para maximizar qualquer ponto pertencente ao CHA (conhecimento, habilidades e atitudes). Dependendo do ob- jetivo, planejam-se ações para sanar o problema. Se pensarmos em interligar os subsistemas de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas, é comum após o processo seletivo realizar o que chamamos de treinamen- tos de integração. Mas, o que são eles? Por que fazê-los? Explica-se: os treinamentos de integração são aqueles realizados com o intuito de apresentar a empresa aos novos funcionários, deixando claro os direitos e deveres de cada um, bem como a estrutura, a cultura e as divisões existentes, assim como as pessoas que pertencem à cadeia de comando na organização. Geralmente nesses treinamentos os novos funcionários têm acesso aos manuais da empresa e ao manual do cargo, para que ele saiba o que pode ou não fazer. São treinamentos considerados de curtíssimo prazo para que as pessoas se ambientem melhor à organização. Em paralelo
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