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Artigo -Algumas ponderações sobre bem de família

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Algumas ponderações sobre bem de família
Em nosso ordenamento jurídico o conceito de bem abrange o conceito de coisa, porém, não é sempre que esses conceitos caminham conjuntamente. Por vezes, bem é tido como uma espécie de coisas e, por outras, estas são tidas como espécies de bens. A fim de evitar esse conflito de conceitos, o Código Civil excluiu o vocabulário coisa de seus artigos, referindo-se apenas aos bens. Conforme leciona Carlos Roberto Gonçalves: 
"bens são coisas materiais ou concretas, úteis aos homens e de expressão econômica, suscetíveis de apropriação".
Portanto, os bens que podem ser objetos de direito são tangíveis, os não tangíveis (de existência abstrata, que somente podem ser objetos de cessão), determinados atos humanos (prestações), e até mesmo outros direitos (usufruto de crédito, por exemplo) e atributos da personalidade (direito a imagem, por exemplo). Ao conjunto de bens pertencentes à um particular dá-se o nome de patrimônio. Neste, não estão abrangidas as qualidade pessoais do proprietário, embora por vezes a lesão a esses bens possa acarretar em direito à indenização.
Nesse artigo, ferei uma breve exposição sobre bens de família.
O bem de família é o imóvel residencial de proriedade do casal ou da entidade familiar, em regra, recebe a qualidade de impenhorável, ou seja, não pode ser penhorado e não pode sofrer nenhuma forma de apreensão conforme a Lei nº 
8.009/90. Dessa foema não responde por dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam. 
Nas palavras de Maria Helena Diniz:
"O bem de família é um instituto originário dos Estados Unidos, que tem por escopo assegurar um lar à família ou meios para o seu sustento, pondo-a ao abrigo de penhoras por débitos posteriores à instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas condominiais".
Além disso, o bem de família é declarado inalienável pelo art. 72, do código Civil. A inalienabilidade vem estabelecida pela lei do propósito de salvaguardar a família do instituidor, proporcionando-lhe seguro asilo.
O bem de família pode ser classificado em duas espécies: voluntário e legal. O bem de família legal, diaz respeito ao imóvel utilizado como residência da entidade familiar, protegido por Lei especial, a saber, a lei nº 8.009/1990. Assim, se há duas casas, a proteção se dá na de menor valor, contudo, será protegida a de maior valor se os proprietários a inscreverem como bem de família voluntário. Ressalte-se que, esse bem de família não tem teto de valor.
“Art.1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
(...)
Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.”
Já com relação ao bem de família voluntário, disciplinado a partir do art. 1.711 do Código Civil, é o instituído por ato de vontade do casal ou de entidade familiar, mediante formalização do registro de imóveis, deflagrando dois efeitos fundamentais: impenhorabilidade limitada e inalienabilidade relativa. Conforme os dispositivos legais retro citados:
Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.
Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.
Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.
(...)
Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.
Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.
(...)
Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.
Diferente do bem de família legal, que é reconhecido com o intuito de imunizar o patrimônio de penhora por dívida já constituída, o bem de família voluntário oferece proteção futura contra qualquer dívida. Ao instituir um bem de família voluntário é necessário observar a exigência trazida pelo Código Civil que limita a escolha do imóvel.
No já mencionado artigo 1.711 do Código Civil o bem de família voluntário estabelecendo que o limite é de um terço do patrimônio líquido total, acabou por constituir limites à instituição de bem de família às famílias com maiores recursos. No entanto, é considerável a sua pouca utilização na prática, apesar da lei 8009/90 e da importância ao instituto do bem de família.
Por fim, a regra que gera grande aprovação, pouco debate, e muita empatia é de que o bem de família é aquele que deve ser protegido, por ser um patrimônio mínimo necessário para se viver com dignidade e, por isso, não pode ser penhorado.
É possível observar que o egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região concluiu que o imóvel, configurado como bem d efamília, deve ser integralmente liberado da penhora. 
"Como o imóvel penhorado na execução ora embargada pertence à embargante, cabendo ao executado outros bens, dentre eles um imóvel [...], deveria o referido bem ser parcialmente liberado da constrição no tocante à meação do executado. Todavia, como o imóvel objeto da constrição para garantia do juízo de execução fiscal é impenhorável, posto que residencial, constituindo-se em bem de família, nos termos do artigo 1º da Lei nº 8.009/0, deve ser integralmente liberado da penhora
(...)
Ademais, pode-se afirmar que a preservação da entidade familiar se mantém, ainda que o cônjuge separado judicialmente venha residir sozinho. Desse modo, a proteção da Lei nº 8.009/90 garantirá a impenhorabilidade do cônjuge varão e a nova entidade familiar que constituiu"
Dessa forma, resta demonstrado que, mesmo em caso de divórcio, a entidade familiar não se extingue. Isto é, mesmo que o proprietário daquele bem possua dívidas, ele não poderá perder o imóvel para quitar o débito, por ser um bem necessário à subsistência da família de forma que, nem mesmo em caso de cumprimento de sentença judicial, o bem pode ser penhorado o que demonstra que impenhorabilidade do bem de família pretende resguardar não somente o casal, mas a própria entidade familiar. 
REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. v. 5, 22 ed. rev. e atual. de acordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007
GOMES, Orlando. Direito de família. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 427. NETTO LÔBO, Paulo Luiz. Direito Civil: Famílias. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MARINONI, Luiz Guilherme, MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil: comentado artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
CREDIE, Ricardo Arcoverde. Bem de Família - Teoria e Prática. 3ª Ed. Editora Saraiva. 2010.
VENOSA,Silviode Salvo . Direito Civil: direito de família.3.ed.São Paulo :Atlas, 2003

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