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AULA 3 GESTÃO DO SUAS – PLANOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E PACTO DE APRIMORAMENTO DO SUAS Profª Adriana Zanqueta Wilbert Ito 2 TEMA 1 – PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Apresentar o conceito de Plano demanda permear pelo processo de planejamento como elemento constituinte da gestão das políticas públicas. No caso da Política Nacional de Assistência Social, a LOAS caracteriza a assistência social como direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (Brasil, 1993) Nesse sentido, a Norma Operacional Básica - NOB/SUAS 2012, que tem como objetivo organizar a referida política no cenário brasileiro, atribui responsabilidades para as três esferas do governo para viabilizar o Sistema Único de Assistência Social – SUAS em todo território nacional (Brasil, 2012). Para tanto, o Plano de Assistência Social constitui uma ferramenta para dar diretrizes, priorizar e operacionalizar esta política pública. Sendo assim, o que seria um plano? Carvalho (1978, citado por Teixeira, 2009, p. 4) contribui conceituando elementos constituintes do planejamento de políticas públicas: PLANO é o documento mais abrangente e geral, que contém estudos, análises situacionais ou diagnósticos necessários à identificação dos pontos a serem atacados, dos programas e projetos necessários, dos objetivos, estratégias e metas de um governo, de um Ministério, de uma Secretaria ou de uma Unidade. PROGRAMA é o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem alcançar o objetivo maior de uma política pública. PROJETO é a menor unidade do processo de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de execução de empreendimentos específicos, direcionados para as mais variadas atividades interventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado. A distinção básica entre plano, programa e projeto está, portanto, no nível de agregação de decisões e no detalhamento das operações de execução, ou seja, o plano tem maior nível de agregação de decisões que o programa e este, mais que o projeto. Por outro lado, o projeto tem maior detalhamento das operações a serem executadas que o programa e este, mais que o plano. Uma vez compreendido o conceito do plano, é possível compreender que é uma ferramenta de gestão que orienta os gestores do poder público a tomar decisões fundamentais a respeito das necessidades da população. Para além disso, possibilita tornar transparente todo o processo, uma vez que ficam evidente os objetivos, metas e ações em que os recursos públicos serão aplicados. 3 O art. 30 da LOAS determina o Plano como uma condição para o repasse de recursos para os municípios, estados e Distrito Federal (Brasil, 1993). No texto produzido pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação e pela Secretaria Nacional de Assistência (2015), é possível acompanhar que as diretrizes para a elaboração de um plano estão presentes na Resolução CNAS n. 33, de 12 de dezembro de 2012, a qual aprova a NOB/SUAS. Nessa normativa, é possível encontrar todos os elementos que devem constar no documento, os quais serão posteriormente observados pelos Conselhos de Assistência Social, respeitando cada esfera do governo. A NOB/SUAS 2012, em seu art. 22, informa que os Planos de Assistência Social devem observar: I. Deliberações das conferências de assistência social para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; II. Metas nacionais pactuadas, que expressam o compromisso para o aprimoramento do SUAS para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; III. Metas estaduais pactuadas que expressam o compromisso para o aprimoramento do SUAS para Estados e Municípios; IV. Ações articuladas e intersetoriais; V. Ações de apoio técnico e financeiro à gestão descentralizada do SUAS. (Brasil, 2012) O Plano possibilita também identificar quais áreas estão desprotegidas nos territórios de abrangência da política de assistência social. É importante olhar para a realidade concreta e direcionar as ações para atender às seguranças sociais que a legislação prescreve: a de acolhida, a de convivência e a de sobrevivência. A realização de um bom diagnóstico permite identificar as demandas que já estão atendidas, bem como aquelas que ainda precisam de atenção. Na sequência, vamos ver a possibilidade de elaborar ações que venham responder à proteção social prevista na legislação vigente. 1.1 Dimensões do Plano de Assistência Social 1.1.1 Responsabilidade do Estado A LOAS (Brasil, 1993) determina que a assistência social é uma política pública de responsabilidade do Estado na garantia da universalização do acesso a direitos e serviços sociais. Também destaca a participação da sociedade como uma condição necessária para o exercício do controle social e na elaboração de ações para a própria política. As ações são desenvolvidas por órgãos governamentais e por organizações não governamentais. O Plano de Assistência 4 Social fica sob coordenação do órgão gestor, juntamente com os Conselhos e Fundos, e integra a gestão pública do SUAS (Brasil, 2008). 1.1.2 Instrumento de descentralização democrática O SUAS pressupõe gestão intergovernamental, bem como estabelece a necessidade de construir novas relações entre Estado e sociedade civil. O exercício do diálogo, da negociação e da pactuação entre os vários atores fomenta a elaboração de Planos de Assistência Social com metas, diante da diversidade socioterritorial e das competências de cada esfera de governo (Brasil, 2008). 1.1.3 Intersetorialidade das políticas sociais A assistência social deve buscar dados e informações disponíveis nas demais políticas, integrando as diferentes visões da realidade. A interlocução entre as políticas setoriais deve ser mantida em todo o processo de planejamento e durante a execução do plano. Também a relação entre territorialidade e matricialidade familiar, que considera os indivíduos nos seus núcleos familiar, comunitário e societário, demanda reavaliar estudos e planejamentos conjuntos e complementares entre as distintas áreas, qualificando a análise das necessidades sociais e os níveis de intervenção socioterritorial (Brasil, 2008). 1.1.4 Desafios para a reconstrução da cultura institucional A Política Nacional de Assistência Social/2004 e sua regulamentação pela NOB/2005 apresentam concepções, diretrizes e normas que permitem concretizar o redirecionamento dessa área, abrindo novas possibilidades de resultados e impactos às suas ações. Nesse ínterim, o Plano de Assistência Social se caracteriza como planejamento governamental, como produto de prioridades a serem definidas no âmbito da política de assistência social. A lógica para estabelecimento de um Sistema Único da Assistência Social exige um ordenamento definido, com regras claras e pactuadas para que se transversalize a gestão da política com unidade e coerência. A elaboração de planos nas várias instâncias constitui instrumento estratégico, permitindo o ajuste das intervenções entre as esferas estaduais e municipais e sua coerência com a Política Nacional de Assistência Social (Brasil, 2008). 5 TEMA 2 – DIMENSÕES ESTRATÉGICAS DO PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A perspectiva do SUAS é de possibilitar uma dinâmica diferenciada para a política de Assistência Social, requerendo a superação da visão reducionista e formalista, da tendência dicotômica que separa planejamento e execução (Brasil, 2008). Para tanto, cabe elaborar estratégias que possibilitem uma integração entre os serviços dentro da própria política da assistência e de outras políticas públicas, que permitam realimentar o plano, reformulando as táticas, sempre que necessário. De acordocom Brasil (2008, p. 29), o Plano de Assistência Social – PAS constitui um subsidio estratégico para a implantação de um Sistema: É a possibilidade de uma abordagem racional e metódica sobre as situações de vulnerabilidade e risco que se expressam nos territórios, viabilizando o ordenamento de atos decisórios, seleção de ações, escolhas de caminhos estratégicos, em momentos definidos, baseados em conhecimentos teóricos e técnicos. Diante do exposto, o SUAS propõe que o Plano se constitua como um instrumento que permita construir a política de forma planejada, visando melhorar de maneira significativa as situações de vulnerabilidade e risco sociais mapeadas nos territórios. Uma vez tendo clareza das genuínas necessidades, serve como parâmetro para democratizar o processo decisório. Propõe um investimento no aparato tecnológico e no sistema de comunicação, permitindo constituir bancos de dados dos serviços oferecidos à população. Também permite caracterizar as instituições que compõem a rede socioassistencial. Ao elaborar bancos de informações, facilita a análise de indicadores que permite traçar as características da população usuária, identificar regiões territoriais que demandam atendimento prioritário, facilitando a identificação de áreas que estão descobertas pelos serviços. A proposta é que os planos sejam elaborados de forma democrática e participativa, utilizando metodologias e técnicas para tanto, o que demanda escolhas de planejamentos estratégicos que: • Levam o plano a se completar e refazer na ação; • Consideram cenários/ contextos/ circunstâncias; • Percebem e manejam o contexto social na correlação das forças políticas, das relações de poder e conflitos; • Articulam áreas e setores; • Formulam e negociam estratégias tendo em vista assegurar a direção que se pretenda imprimir; 6 • Atribuem um caráter participativo e comunicacional fazendo do plano um produto coletivo; • Conduzem o processo de decisão no contexto das relações de poder que estão em jogo. (Brasil, 2008, p. 31) Desta feita, o plano avança a perspectiva de ferramenta técnica e alcança a dimensão política, caracterizando-se nas dimensões ética, teórico-política e técnico-operacional. O método de análise da realidade social permite observar para além das características geográficas, populacionais e culturais e perceber as forças políticas presentes no território. Deve ser pensado de forma flexível, permitindo a mudança de rotas, quando necessário. Com a participação dos usuários e da comunidade, supera a visão corporativa, estabelecendo laços cooperativos. Nesse sentido, deve ser Formulado como resultado da interação entre diferentes atores sociais, o Plano deve contar também com a intuição, a criatividade e a inovação. No debate público, a informação e o conhecimento são sempre instigadores de distintas contribuições que constituem insumos relevantes na busca de novas e alternativas formas de ação. (Brasil, 2008, p. 32) Esse contexto exige formação, capacitação, perfil criativo e ousado. É preciso construir um enfoque próprio de planejamento e gerenciamento social, caracterizado por marcos conceituais específicos e instrumentos técnicos de execução, monitoramento e avaliação adequados (Brasil, 2008, p. 32). O Plano de Assistência Social deve provocar, instigar, promover reflexões críticas para ampliar o olhar para a realidade concreta e pensar alternativas de garantia de direitos a população brasileira. TEMA 3 – DIAGNÓSTICO SOCIOTERRITORIAL Ao desenvolver o tópico sobre o diagnóstico socioterritorial, é necessário empreender um olhar ampliado para essa ferramenta de gestão. Trata-se de um cenário em que se estabelecem as relações da vida em sociedade. Em relação a esse tema, Viudes e Ferreira (2017, p. 2) afirmam o seguinte: “A dimensão socioterritorial do diagnóstico tem por objetivo justamente aproximar as pessoas e os números (estatísticos), ou seja, dar base para os números, até para ser possível comparar um lugar e outro de uma mesma cidade”, uma vez que é possível que um lugar seja considerado pior que outro não somente porque seus moradores são pobres, mas porque além da pobreza se percebe que faltam serviços urbanos (esgoto, água, luz, estrada, 7 transporte), de saúde, de educação, de assistência social. Não basta dizer “quem são as pessoas”, se faz necessário também responder “onde elas estão”. (Brasil, 2013, p. 70) Ampliando os horizontes, Santos (2002, p. 14, citado por Viudes e Ferreira, 2017, p. 3) promove uma reflexão nos convidando a pensar o diagnóstico socioterrial como o “chão nas suas particularidades e complexidades”: Santos (2002) faz referência ao uso da palavra chão, dizendo que o território usado é o chão mais a identidade, O território tem que ser entendido como o território usado, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho; o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida. Sob essa perspectiva, é importante olhar para o território para além do “espaço administrativo, circunscrito a um limite artificialmente definido em um mapa chamado de político-administrativo” (Viuves; Ferreira, 2017, p. 3). Vale salientar que é um elemento importante para o desenvolvimento da análise, mas precisa ser ampliado de maneira a observar que neste espaço ocorrem as relações sociais. Assim sendo, por informações na forma de números e estatísticas, como também por informações que se traduzem em histórias de vida dos lugares, de suas famílias e instituições, atores sociais os mais diversos. Para isso, se faz necessário definir também quem participa desse processo de construção do conhecimento, em que são igualmente valorizados os dados estatísticos, bem como os dados considerados mais qualitativos. Trata- se de duas formas de ler a realidade que são complementares. (Brasil, 2013, p. 71) Dessa forma, o exercício de observação e análise deve se debruçar no sentido de conhecer a realidade do local (se urbano ou rural), as características da população, cultura, mapeamento das instituições e serviços públicos oferecidos. Tudo isso demanda reconhecer as genuínas necessidades da população. Para tanto, é necessário cruzar dados como de saúde, educação, habitação, trabalho e renda. E mais: mapear indicadores de pobreza, vulnerabilidade e risco social. Utilizar metodologias de pesquisa qualitativa e participativa enriquece esse olhar, o que significa conversar com as famílias, com a comunidade, com os líderes locais – é necessário envolver todos os atores desse cenário. Reportando às normativas, o art. 21 da NOB/SUAS 2012 determina que a realização do diagnóstico socioterritorial deve ser desenvolvido da seguinte maneira: 8 a. processo contínuo de investigação das situações de risco e vulnerabilidade social presentes nos territórios, acompanhado da interpretação e análise da realidade socioterritorial e das demandas sociais que estão em constante mutação, estabelecendo relações e avaliações de resultados e de impacto das ações planejadas; b. identificação da rede socioassistencial disponível no território, bem como de outras políticas públicas, com a finalidade de planejar a articulação das ações em resposta às demandas identificadas e a implantação de serviços e equipamentos necessários; c. reconhecimento da oferta e da demanda por serviços socioassistenciais e definição de territórios prioritários para a atuação da política de assistência social. d. utilização de dados territorializados disponíveis nos sistemas oficiais de informações. (Brasil, 2012, p. 25-26) Outro elemento que precisa ser considerado na realização do diagnóstico socioterritorial é o grau de alcance das seguranças afiançadas à população que está em situação de desproteçãosocial. Sejam elas: acolhida, renda, convívio ou vivência familiar, comunitária e social, desenvolvimento de autonomia, apoio e auxílio. Elaborar um diagnóstico socioterritorial requer a realização de duas etapas, conforme estabelecido na NOB/SUAS 2012: • Interpretação e análise da realidade socioterritorial: investigação das situações de risco e vulnerabilidade social presentes nos territórios e das demandas sociais. Permite o reconhecimento da demanda • Identificação da rede socioassistencial disponível no território e de outras políticas públicas. Permite o reconhecimento dos serviços socioassistenciais. (Brasil, 2012, p. 25) Assim sendo, o diagnóstico socioterritorial é uma ferramenta de gestão que tem o propósito de elencar subsídios, contribuindo para que os trabalhadores do SUAS responsáveis pela gestão tomem decisões assertivas, melhorando os serviços já ofertados e criando novos e viabilizando a elaboração de um plano que fomente a garantia dos direitos da população brasileira. TEMA 4 – PRINCIPAIS ELEMENTOS QUE CONSTITUEM UM PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Conforme já vimos nos tópicos anteriores, a Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) n. 33/2012, em seu art. 18 determina que o Plano de Assistência Social, de que trata o art. 30 da LOAS, é um instrumento de planejamento estratégico que organiza, regula e norteia a execução da Política Nacional de Assistência Social na perspectiva do SUAS (Brasil, 2012). A elaboração desse documento é de responsabilidade do órgão gestor da referida 9 política que, ao finalizar a redação, deve submeter ao Conselho de Assistência Social para aprovação. Segundo o art. 18, parágrafo 2º da NOB/SUAS 2012, a elaboração do Plano de Assistência Social deve conter, além da identificação do plano e da introdução, as seguintes etapas: a. Diagnóstico socioterritorial; b. Objetivos; c. Diretrizes e prioridades deliberadas; d. Ações estratégicas; e. Metas; f. Resultados e impactos esperados; g. Recursos materiais, humanos e financeiros; h. Mecanismos e fontes de financiamento; i. Cobertura da rede prestadora de serviços;2 j. Indicadores de monitoramento e avaliação; k. Espaço temporal de execução. (Brasil, 2012) A NOB/SUAS (Brasil, 2012) determina também que os planos devem ser elaborados em um recorte de tempo de 4 anos, respeitando os períodos de elaboração do Plano Plurianual – PPA. Para o melhor entendimento da leitura desse texto, conceituaremos o PPA, que é um instrumento do planejamento orçamentário definido pela Constituição Federal de 1988. Esse plano, em parceria com a Lei de Diretrizes Orçamentares (LDO) e a Lei de Orçamentária Anual (LOA) permitem que o gestor possa planejar o sistema de orçamento das políticas públicas. Sendo assim, o PPA estabelece “as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada” (Brasil, 1988), conforme exposto no art. 165 da Constituição. Ele é elaborado no primeiro ano de governo, portanto, a cada quatro anos. A elaboração do Plano de Assistência Social pede a utilização do Planejamento Estratégico Situacional (PES), pois assim como previsto na NOB/SUAS, esse processo deve ser desenvolvido de maneira participativa e democrática. Nesse sentido, cabe destacar alguns elementos fundamentais para a qualificação deste processo: • a gestão e o conselho municipal marcam esta tarefa na agenda técnico- política da assistência social municipal; • a gestão convida todos os atores sociais relacionados ao tema e com responsabilidades públicas; • realização de um planejamento coletivo sobre como será o desenvolvimento das atividades necessárias, estabelecendo um cronograma para o trabalho; • definição dos responsáveis pela coordenação das atividades, importante para dar direção na condução da tarefa; 10 • este coletivo tem uma tarefa a realizar, e ao final dos trabalhos precisam ter um produto, que é o PAS; • dependendo do porte do município, haverá necessidade de maior volume de trabalho e este pode ser distribuído em grupos de trabalho (GTs), para otimização da tarefa. • considerar a seguinte dinâmica no desenvolvimento dos trabalhos: que haja momentos de concentração e momentos de dispersão dos participantes na elaboração. Momentos para alinhamento de concepções, informações e formas de elaboração, e momentos dedicados para a operação de coleta de dados para o diagnóstico. Esta dinâmica facilita o acompanhamento e a avaliação do processo de elaboração, apontando novos caminhos se for necessário. • os momentos de tomada de decisão vão requerer da gestão e dos participantes do processo de elaboração posicionamentos calcados nos seus compromissos com a cidadania e a política pública. (Brasil, 2015, p. 72) Conhecer a realidade é um dos principais momentos para a elaboração de um plano, pois esse exercício permite identificar as necessidades e anseios da população. Demanda escolher um método de investigação que permita levantar o conjunto de informações que embasarão a elaboração das ações que serão executadas. Ao finalizar a construção do documento, segue para outra etapa muito importante que trataremos no próximo tópico: o monitoramento e a avaliação do Plano de Assistência Social. TEMA 5 – MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Este tópico irá discorrer sobre as categorias do monitoramento e avaliação da Política Nacional de Assistência Social. Como já comentado anteriormente, é uma política de desenvolve ações intersetorialmente para atender às necessidades da população. A Política de Monitoramento e Avaliação do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, definida pela Portaria n. 329, de 11 de outubro de 2006, assevera no art. 2º que são consideradas ações de monitoramento aquelas que se destinam ao acompanhamento da implementação e execução dos programas e ações, visando à obtenção de informações para subsidiar gerenciamento e a tomada de decisões cotidianas, bem como a identificação precoce de eventuais problemas. (Brasil, 2006) A NOB/SUAS 2012, por sua vez, define o monitoramento como: “o acompanhamento contínuo e sistemático do desenvolvimento dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais em relação ao cumprimento de seus objetivos e metas” (Brasil, 2012). Dessa forma, contribui para os processos de gestão e controle social. 11 O monitoramento permite ampliar o olhar dos gestores, permitindo tomar decisões sobre a implantação e implementações de ações, como: • Contribuir para a eficiência das políticas e dos programas: O monitoramento pode retroalimentar a gestão e subsidiar a melhoria da implementação, otimizando a utilização dos recursos e a redução dos custos; • Guiar, revisar e ajustar o desenvolvimento do programa: O monitoramento é um instrumento de gestão e aprendizagem indispensável para subsidiar a reflexão e os ajustes da estratégia da política e do programa. • Possibilitar a transparência na informação e fortalecer a comunicação: O monitoramento pode ter a função de manter diferentes atores (integrantes, parceiros e o público em geral interessado) informados sobre o andamento das ações e as situações relativas ao programa. Pode esclarecer sobre os sucessos, mas também sobre os problemas muitas vezes enfrentados na implementação. (Piecha; Valerelli, 2008, citado por Brasil, 2015, p. 88) Além de monitorar, é necessário avaliar também os processos. Há uma diferença entre monitorar e avaliar. A avaliação e o monitoramento da política de assistência social estão inerentes à gestão e ao controle social e consistem no acompanhamento contínuo e sistemático do desenvolvimento dos serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais, em relação ao cumprimento de seus objetivos e metas (Brasil, 2012, citadopor Bueno; Carloto, 2015, p. 17-18). O monitoramento é desenvolvido processualmente por intermédio do acompanhamento de indicadores e informações produzidas in loco, dados de sistemas de informação. A avaliação, por sua vez, poderá ser realizada por meio de “contratação de serviços de órgãos e instituições de pesquisa, visando à produção de conhecimentos sobre a política e o sistema de assistência social” (Brasil, 2012, citado por Bueno; Carloto, 2015, p.18). No âmbito do SUAS, o monitoramento é uma atividade da Vigilância Socioassistencial, setor responsável por levantar um conjunto de informações de forma sistemática referente aos serviços ofertados, tipo e volume das ofertas. Esse setor organiza as informações de dados secundários, aqueles oriundos de sistemas de informação, base de dados oficiais, relatórios administrativos, assim como dados primários, por meio de visitas in loco (Brasil, 2015). A avaliação tem que ser realizada com base em critérios estabelecidos. A melhor forma é aderir a métodos e instrumentos técnicos para aferir os resultados. Esses procedimentos realimentam o plano, contribuem para a decisão de novas rotas, caso seja necessário, e otimiza a aplicação dos recursos. 12 A avaliação deve ser compreendida de forma ampliada e como processo, o qual deve acompanhar todo o ciclo da política pública de forma sistemática. Conforme Mario, Laisner e Granja (2016, p. 43), A avaliação da política pública pode ser definida, em termos gerais, como o processo em que se questiona como uma política está funcionando na prática, refletindo sobre os meios empregados e sobre os objetivos e os resultados alcançados. Ela permite pensar a eficácia de uma política pública, questionando a validade, e o sucesso ou falha dos projetos colocados em prática. Ao avaliar uma política, é necessário um olhar para as relações existentes no âmbito da sociedade – uma percepção conjuntural. Mapear como os usuários acessam a política, de que maneira os atores participam dela, os impactos gerados para a sociedade. De forma a operacionalizar esse processo, é importante delimitar os indicadores que orientam as avaliações e análises. Mario, Laisner e Granja pontuam as reflexões de Bernadete Gatti (2004), que enfatiza que é preciso que o olhar avaliativo se vincule a três aspectos básicos: primeiro ao cenário histórico-social; segundo, e relacionado ao anterior, ao papel social da própria avaliação, e, ligado a ambos, a uma perspectiva de conhecimento como instrumento para o desenvolvimento Avaliação de Políticas Sociais e Participação Popular: uma abordagem política de políticas que visem a melhoria da qualidade de vida dos beneficiários. Sem base nestes fundamentos, de acordo com a mesma autora, pouco se avança na “real efetividade desses programas”, sem possibilidades substantivas de influenciar nos fatores institucionais e processuais geradores de ineficiências crônicas no desempenho das políticas e programas sociais. Assim, pode-se concluir que a avaliação de políticas públicas não tem a menor possibilidade de ser apenas técnica, instrumental ou neutra. (Mario; Laisner; Granja, 2016, p. 54-55) O entendimento de Mario, Laisner e Granja (2016) é muito interessante: eles compreendem a política pública como uma rede intrincada de relações sociais. Nessa rede, diferentes sujeitos recebem determinada intervenção, porém nem sempre possuem os mesmos interesses; o que pode gerar inúmeros processos contraditórios. O desafio posto está na possibilidade de aplicar sistemas de informação e metodologias avaliativas que articulem as diversas dimensões de análise e de compreender que a concepção funcionalista da avaliação não consegue ampliar os horizontes das análises das relações que estão imbricadas no âmbito das políticas públicas. Nesse sentido, é importante salientar que os processos de monitoramento alimentam a avaliação e vice-versa. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. 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