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M2 - Contratos

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- Dê um exemplo (descreva a situação, conte a historinha) de um contrato aleatório na modalidade prevista no art. 459 do Código Civil. Não será pontuada a mera repetição de conceito legal ou doutrinário.
Um exemplo de contrato previsto no art. 459 do CC é o contrato de sessão de crédito. É costume de cidades pequenas que vendedores locais passem de casa em casa vendendo produtos a prazo, sem qualquer documentação, cujos pagamentos se efetivam de forma parcelada mediante cobranças mensais diretamente na porta das casas. Também é costume que, posteriormente, os vendedores revendam esses créditos a terceiros, os quais passam a ser novos credores perante os terceiros devedores. 
Nessa toada, ao comprar os créditos, o terceiro comprador dos créditos assume o risco de não receber tais valores, de modo que o inadimplemento dos devedores é risco inerente ao próprio negócio, não podendo se escusar a cumprir sua obrigação. 
Tal tipo de contrato diz respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir foi assumido por um dos contratantes, de modo que o outro terá direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
Exemplo tirado do processo de n. 00028083820198140004  do Juizado Especial Cível, publicado no Diário de Justiça do Estado do Pará de 20 de Outubro de 2020 (p. 4140-1).
Um exemplo com a aplicação do parágrafo único do art. 459 diz respeito ao contrato de compra e venda da safra de produto agrícola celebrada com o arrendatário de terras, em que houve adiantamento parcial do preço e cuja obrigação fora cumprida apenas em parte, em razão da derrubada da lavoura pela proprietária da fazenda e arrendante das terras.
Conforme decisão do magistrado, o dever de restituição do preço correspondente à parte da safra não entregue se impõe tanto ao alienante da safra (arrendatário) quanto à proprietária do terreno (arrendante) que destruiu a plantação em desprestígio ao contrato celebrado por aquele com o autor.
A proprietária arrendante, ao derrubar a lavoura (destruição do objeto prestacional) violou o dever de abstenção e interferiu dolosamente no contrato celebrado entre o autor e o arrendatário, dando causa ao inadimplemento de parte das obrigações por este assumidas – conduta que configura ato ilícito (art. 186 do CC) e faz emergir a responsabilidade civil pelos danos causados, devendo indenizar o autor, nos termos do art. 927 do CC.
Por sua vez, o autor, adquirente, não assumiu os riscos da existência da safra, que inclusive colheu em parte, mas apenas o risco da diferença na quantidade estimada, fazendo jus à reparação dos prejuízos, posto que a destruição de parte do pomar não estava incluída na álea inerente ao contrato – aplicação dos artigos 483 e 459, parágrafo único, do código civil.
Exemplo extraído do julgado TJSP; Apelação Cível 0008756-89.2014.8.26.0201; Rel. Edgard Rosa; Órgão Julgador: 25ª Câmara de Direito Privado; Foro de Garça - 3ª Vara; Data do Julgamento: 21/09/2017.
Pedro, 25 anos, professor de educação física, comprou um sofá de Márcia, 32 anos, farmacêutica, em 14/09/2021. No momento da tradição o sofá aparentava estar em bom estado, sem marcas de avarias. Em 10/11/2021 Pedro percebeu a presença de cupins no móvel, os quais começaram a se manifestar provavelmente devido à época do ano, quando começou a esquentar. Analisando com calma a estrutura do sofá, depois de descolar parte do seu forro, Pedro percebeu que o móvel estava com várias marcas de cupins, que pareciam existir há tempos. Nesse caso, Pedro pode alegar que o sofá continha um vício redibitório? Justifique. Em caso positivo, até quando ele poderá reclamar do defeito do móvel? Indique o fundamento.
Entende-se por vício redibitório algum problema ou defeito oculto em algo que foi adquirido por via de um contrato bilateral comutativo, mas que, no momento da compra, o comprador não poderia tomar conhecimento (tampouco lhe foi avisado a respeito), de tal maneira que este defeito transforme o seu uso ou destinação ineficiente ou inadequada, ou mesmo diminui seu valor. 
Nesses casos, nosso ordenamento jurídico protege o comprador independente de uma previsão contratual, posto que o alienante deve garantir ao adquirente o uso do produto, para que seja alcançada sua finalidade.
Analisando o caso em tela, é possível identificar a configuração de um vício redibitório, uma vez que Pedro não tinha ciência da existência dos cupins no sofá, a qual resulta na diminuição do seu valor e, a longo prazo, acaba por deteriorá-lo.
Conforme disposto no art. 444 do CC, se o sofá já estava com cupins e vier a perecer devido a eles, a responsabilidade de Márcia subsiste, ainda que tal fato se dê quando o sofá estiver em poder de Pedro.
Diante dessa situação, Pedro pode adotar três condutas, quais sejam: (i) se Márcia também não era ciente do defeito, poderá rejeitar o sofá e exigir a quantia paga de volta, mais as despesas do contrato (art. 441 e 443 do CC); (ii) pode optar por continuar com o sofá, mas exigir um abatimento no valor pago (art. 442 do CC) e (iii) caso Márcia tivesse conhecimento da presença de cupins no sofá, além de rejeitá-lo e exigir a quantia paga de volta, Pedro também tem o direito de pleitear por perdas e danos (art. 443 do CC).
Segundo o disposto no caput do art. 445 do CC, o prazo para alegar a existência de vício redibitório decai em trinta dias, contados da data da tradição. Entretanto, no caso de Pedro, devido à natureza do defeito, o prazo contar-se-á a partir do momento em que teve ciência dos cupins, até o prazo máximo de 180 dias, conforme disposto no §1° do referido artigo.
- Dê um exemplo (descreva a situação, conte a historinha) de uma situação em que ocorreu uma evicção total. Não será pontuada a cópia dos exemplos dos slides.
A evicção "consiste na perda parcial ou integral do bem, via de regra, em virtude de decisão judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem, em decorrência de motivo jurídico anterior ao contrato de aquisição, podendo ocorrer, ainda, em virtude de ato administrativo do qual também decorra a privação da coisa." (Resp 1332112/GO, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 21/03/2013).
Como exemplo de evicção total de bem imóvel podemos citar uma ação de rescisão de contrato particular de compromisso de compra e venda de bem imóvel, no qual, após o pagamento, o autor tomou conhecimento de que o lote objeto do negócio pertencia a terceiro. Entretanto, decisão judicial anterior a compra já havia reconhecido a irregularidade do loteamento ao qual o terreno adquirido pelo autor pertencia. Ao tomar conhecimento das irregularidades, entrou com ação judicial, resolvida em favor desse terceiro.
Destarte, o autor adquiriu onerosamente o bem imóvel e, em seguida, perdeu totalmente a posse e a propriedade sobre ele, em razão do direito de terceiro sobre a coisa, por fatos jurídicos anteriores, reconhecidos por sentença judicial com trânsito em julgado (TJSC AC n. 2010.064882-5, Rel. Des. Júlio César M. Ferreira de Melo, j. 30/08/2016).
Também pode ocorrer a evicção total de bens móveis, como no caso de um contrato de compra e venda de um veículo supostamente furtado. Decorridos dois anos da compra, o autor decidiu negociá-lo como parte do pagamento de outro veículo. Entretanto, a tratativa foi frustrada porque descobriu, no momento da sua transferência junto ao Detran, que o automóvel era furtado. Houve apreensão do veículo por parte da autoridade policial quando da constatação de adulteração dos registros do veículo (o entendimento jurisprudencial reconhece a evicção também nos atos de apreensão do poder público).
Inconformado, o autor entrou com ação requerendo o ressarcimento do valor pago pelo veículo. O magistrado em primeiro grau reconheceu o direito do autor, condenando a ré ao pagamento do valor correspondente ao veículo (TJSC, AC n. 2009.020318-4, rel. Victor Ferreira, j. 28/04/2011).
- Pesquise um julgado no STJ ou em algum tribunal estadual em que tenhahavido revisão ou extinção de contrato em razão da onerosidade excessiva. Colacione a ementa e na sequência apresente um pequeno resumo do caso com as suas palavras.
APELAÇÃOES CÍVEIS. AÇÃO DE REVISÃO E RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ENSINO SUPERIOR. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA.
RECURSO DA RÉ.
PLEITO VISANDO A MANUTENÇÃO DE CLÁUSULA CONSIDERADA ABUSIVA. INVIABILIDADE. NULIDADE DA CLÁUSULA MANTIDA. PREVISÃO DE VENCIMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA EM CASO DE RESCISÃO DO CONTRATO PELO CONTRATANTE. OBRIGAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO EM OFERTAR O CURSO CONFORME CONTRATADO. COMUNICAÇÃO DE QUE O CURSO NÃO SERIA MAIS OFERTADO NO TURNO MATUTIVO. RECISÃO POR CULPA DA RÉ. VENCIMENTO ANTECIPADO QUE SE MOSTRA ABUSIVO, COM ONEROSIDADE EXCESSIVA AO CONSUMIDOR. SENTENÇA MANTIDA.
INSCRIÇÃO INDEVIDA. TUTELA ANTECIPADA DEFERIDA. DETERMINAÇÃO DE ABSTENÇÃO DA REQUERIDA A PROMOVER A INSCRIÇÃO DO NOME DO AUTOR. PARTE QUE MESMO CIENTE DA DECISÃO REALIZOU A INSCRIÇÃO NOS CADASTROS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. DANO MORAL IN RE IPSA. DEVER DE INDENIZAR MANTIDO.
INSURGÊNCIA COMUM DAS PARTES. QUANTUM INDENIZATÓRIO. AUTOR QUE INTENTA A MAJORAÇÃO E RÉ QUE ALMEJA A MINORAÇÃO. INACOLHIMENTO. VALOR FIXADO EM OBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE (R$ 10.000,00). HONORÁRIOS RECURSAIS FIXADOS.
RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS.
(TJSC, Apelação n. 0302569-30.2018.8.24.0064, rel. José Agenor de Aragão, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 12/05/2022).
Trata-se se ação de revisão e rescisão contratual em face de Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá Ltda, na qual o autor alegou, em síntese, que se matriculou em um curso de nível superior e efetuou contrato de parcelamento das mensalidades acadêmicas do primeiro e segundo semestre de 2017, com pagamento de 30% das mensalidades durante o curso e outros 70% após a formatura. Da mesma forma procedeu quanto ao primeiro semestre de 2018. Entretanto, após efetuar o pagamento da primeira mensalidade, a coordenadora do curso informou que não haveria mais turma no período matutino, o que o impossibilitou de continuar o curso. Tal situação culminou na cobrança do valor de R$ 10.740,81 referente ao vencimento antecipado das mensalidades.
Inconformado, o autor requereu a declaração de nulidade da cláusula contratual que estabelece o vencimento antecipado de toda a dívida do saldo remanescente em caso de rescisão ou não renovação do contrato, posto não ter dado causa à rescisão e, consequentemente, a declaração de inexistência do débito no valor de R$ 10.740,81 referente a este vencimento; que fosse oportunizado o pagamento do valor remanescente a partir da data estabelecida no contrato (após a data prevista para a conclusão do curso); que fosse declarada a rescisão do contrato de parcelamento firmado primeiro semestre de 2018, condenando-se a ré a restituir o valor referente à mensalidade paga; além da condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais e ao pagamento do ônus sucumbencial. 
Na contestação, a ré alegou, em síntese, a legalidade das cobranças, ressaltando que por ter trancado a sua matricula, o autor perdeu a oferta de desconto concedido, razão pela qual o saldo remanescente fora antecipado.
Sustentou não configurar a ocorrência de danos morais e que não foram comprovados os danos materiais, na medida em que o serviço contratado foi integralmente cumprido. Elaborou considerações sobre o equilíbrio contratual e os riscos predeterminados, argumentando que, ainda que se trate de contrato de adesão, o pacto não é nulo, pois fora firmado livremente entre as partes, sendo lícita a cobrança antecipada do saldo remanescente. Por fim, requereu a improcedência dos pedidos formulados na inicial, condenando-se o autor ao pagamento do ônus sucumbencial.
A magistrada de primeiro grau julgou parcialmente procedente o pedido do autor, declarando a nulidade da cláusula contratual objeto da lide, a qual impõe o vencimento antecipado de toda a dívida do saldo remanescente, mantendo-se inalterados os contratos com relação à forma de parcelamento do pagamento do referido saldo após a data prevista para a conclusão do curso; tornando inexigível o valor de R$ 10.740,81 até o implemento da condição suspensiva prevista contratualmente.
Decidiu pela rescisão do contrato de parcelamento do primeiro semestre de 2018, condenando a ré a restituir de forma simples ao autor o valor referente à mensalidade paga, e condenou a ré a pagar ao autor danos morais e o pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios em favor do patrono do autor.
Inconformadas, ambas as partes interpuseram recurso de apelação. A ré sustentou pela declaração de validade da cláusula contratual e a possível a cobrança antecipada das parcelas, além defender a inexistência de ato ilícito a ensejar a condenação ao pagamento de danos morais. O autor, por sua vez, requereu a majoração do valor fixado a título de danos morais.
Em sede recursal, o relator decidiu, com base no art. 51, II e IV, do Código de Defesa do Consumidor, ser impossível considerar válida a cláusula objeto da lide, uma vez que sua aplicação causaria ao autor onerosidade exagerada, devendo a sentença de primeiro grau ser mantida no ponto. Segundo ele, restou configurada a prática abusiva por parte da ré, haja vista a previsão de antecipação do pagamento da dívida (fazendo com que a rescisão contratual a pedido do contratante/autor fosse onerosa demais para esse), bem como a sua culpa exclusiva na rescisão do contrato (pois deixou de ofertar o curso no turno contratado) e o fato de informar o autor cerca de um mês antes do início das aulas.
Decidiu, ainda, que, ao realizar a inscrição do nome do autor nos cadastros de proteção ao crédito mesmo após ter sido intimada da decisão que determinou para se abster de tal, o ato ilícito foi devidamente configurado, restando evidente o dever de indenizar. Contudo, entendeu que o valor da condenação fora estipulado em consonância com a situação, mostrando-se suficiente para reparar o dano, não havendo razões para acolher o pleito recursal.
Por fim, o relator majorou a verba honorária em favor do patrono do autor, considerando ser descabida a fixação em favor do patrono da ré, pois o autor não foi condenado ao pagamento de verba honorária na origem.
Assim, votou no sentido de conhecer dos recursos e negar-lhes provimento.

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