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AULA 02 – AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL 1. Títulos Executivos Judiciais e Extrajudiciais 1.1 Introdução O devedor, quando em mora para com sua obrigação, acabará acarretando para si a responsabilidade patrimonial, ou seja deverá responder pelo pagamento do débito com o seu patrimônio. Ou seja, todo aquele que deve, seja em decorrência do disposto num contrato, numa nota promissória, num cheque, em virtude de ato ilícito, estará sujeito a ser alvo de demanda judicial, na qual o seu patrimônio será colocado em xeque, a fim de saldar o débito. 1.2 Título Executivo Título executivo é um ato (ou fato) jurídico a que a lei atribui eficácia executiva, tornando adequada a via executiva como forma de fazer atuar a responsabilidade patrimonial. 1.3 Título Executivo Judicial Em algumas hipóteses, será necessário que o credor ingresse com uma ação de conhecimento (mais longa, morosa, haja vista que necessário o procedimento comum para análise da causa e resolução da lide – por isso o nome de ação de conhecimento (conhecer a verdade dos fatos; conhecimento acerca do direito discutido), a fim de demonstrar que possui direito (crédito) em face do devedor, para, então, obter decisão judicial que obrigue o devedor a pagá-lo, sob pena de responder o devedor com seu patrimônio (penhora de bens). A sentença dessa ação de conhecimento, uma vez que reconheça o direito alegado pela parte, será um TÍTULO EXECUTIVO. Nesse caso TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL. Ex.: ação de indenização por danos morais, tendo em vista adiamento de voo. Autor foi vítima de defeito do serviço da companhia aérea, tendo ingressado com a ação de conhecimento sob o rito comum e provado o referido defeito. Veio a obter sentença favorável, com arbitramento de 10 mil reais de indenização. A cia aérea recorreu (apelação). Foi mantida a decisão. Cia Aérea recorreu novamente (RESP). O RESP foi inadmitido. A Cia Aérea, então, não mais recorre. Resultado: trânsito em julgado da decisão que reconheceu o direito à indenização. 2 Agora temos um título executivo judicial, a ser objeto de execução ou, na nomenclatura mais técnica, de cumprimento definitivo de sentença. Art. 523, CPC: “No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver”. Então, somente após transcorrido todo o processo de conhecimento e interpostos os recursos cabíveis, é que surgirá a possibilidade de cumprimento definitivo da sentença, haja vista ter se constituído de pleno direito o título executivo (sentença) judicial. Um processo dessa natureza em Vara Cível, passando por todos trâmites acima, até que se chegue ao título executivo judicial a ser executado, levará, em média, dependendo da Vara pela qual tramite, de 02 a 03 anos. Ou seja, 03 anos para que o devedor seja efetivamente intimado para pagar ao credor o que lhe deve em decorrência do ilícito praticado. A lei diz quais são os títulos executivos judiciais? R: Sim. Artigo 515, CPC. Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial (ACORDO FEITO NOS AUTOS DO PROCESSO); III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza (ACORDO EXTRAJUDICIAL HOMOLOGADO EM JUÍZO); IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; 3 VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; 1.4 Título Executivo Extrajudicial 1.4.1 Introdução Em primeiro lugar, atenção ao artigo 771, CPC: LIVRO II DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TÍTULO I DA EXECUÇÃO EM GERAL CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva. O LIVRO II termina, tão somente, no artigo 925 do CPC. Como poderemos ver, em outras situações, o credor já portará, de imediato, um título, que lhe permitirá ingressar com demanda judicial executiva, de forma direta, sem passar pela fase de conhecimento de um processo judicial, sendo instado o devedor a pagar o que deve já no primeiro ato de comunicação da existência do processo (mandado de citação e intimação), sob pena de penhora de bens. Ou seja, no exemplo anterior (ação de indenização em face Cia Aérea), esperou-se 03 anos para, enfim, instar o devedor a cumprir sua obrigação. De fato, 4 não havia outro caminho para tal hipótese, pois se tratava de obrigação (dever de indenizar) que surgiu a partir da prática de ato ilícito (defeito de serviço). Entretanto, em outras hipóteses, o caminho a ser percorrido pelo credor será bem mais célere. Se houver um título executivo extrajudicial, por exemplo, o primeiro ato do processo já será obrigar o devedor a cumprir o que deve, sob pena de imediata responsabilização patrimonial. Necessário que a obrigação seja certa, líquida e exigível, fundamentada em título executivo. Eis a redação do artigo 786, CPC: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a OBRIGAÇÃO CERTA, LÍQUIDA E EXIGÍVEL CONSUBSTANCIADA EM TÍTULO EXECUTIVO”. Exemplo: execução por quantia certa. Não pagamento de nota promissória assinada pelo devedor, com vencimento previsto para 10.02.2020. Autor/Exequente ingressará com ação de execução de título extrajudicial, socorrendo-se do artigo 824 e seguintes do CPC. Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação. Art. 827. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos pelo executado. § 1º No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será reduzido pela metade. Honorários advocatícios já acrescidos ao débito e em vez de 03 anos que o devedor terá, em média, para pagar, como no caso do exemplo anterior (até que se encerre ação de conhecimento), aqui o devedor terá 03 dias para quitar a dívida, sob pena de sofrer penhora de bens. 1.4.2 Quais são os títulos executivos extrajudiciais previstos pelo CPC? Resposta: Art. 784, CPC Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; 5 II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas; IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal; V - o contrato garantido por hipoteca, penhor,anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução; VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte; VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio; VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas; XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei; XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva. * Atenção ao inciso XII: EXEMPLOS: Art. 106 e artigo 107, inciso I da Lei n. 6.404/76: Art. 106. O acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação correspondente às ações subscritas ou adquiridas. § 1° Se o estatuto e o boletim forem omissos quanto ao montante da prestação e ao prazo ou data do pagamento, caberá aos órgãos da administração 6 efetuar chamada, mediante avisos publicados na imprensa, por 3 (três) vezes, no mínimo, fixando prazo, não inferior a 30 (trinta) dias, para o pagamento. § 2° O acionista que não fizer o pagamento nas condições previstas no estatuto ou boletim, ou na chamada, ficará de pleno direito constituído em mora, sujeitando-se ao pagamento dos juros, da correção monetária e da multa que o estatuto determinar, esta não superior a 10% (dez por cento) do valor da prestação. Art. 107. Verificada a mora do acionista, a companhia pode, à sua escolha: I - promover contra o acionista, e os que com ele forem solidariamente responsáveis (artigo 108), processo de execução para cobrar as importâncias devidas, servindo o boletim de subscrição e o aviso de chamada como título extrajudicial nos termos do Código de Processo Civil; ou O advogado, portanto, deverá identificar se o crédito apresentado por seu cliente está consubstanciado em algum dos documentos previstos no artigo 784 do CPC. Caso esteja, poderá propor a ação de execução de título extrajudicial. Ex.: cliente que apresenta nota promissória e pretende ingressar com ação em face do devedor. * Atenção à data do vencimento e prazo prescricional para execução. Nota Promissória: 03 anos a contar do vencimento. Artigo 70, Decreto 57.663/66: “Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (três) anos a contar do seu vencimento”. 2. Caso Concreto Confissão de Dívida em que Paulo reconhece dever R$ 100.000,00 a Tiago, quantia a ser paga até 10.01.2020. A confissão é firmada por duas testemunhas. Passado um mês desde o vencimento, não houve pagamento. Paulo é domiciliado em Curitiba e Tiago em Florianópolis. Ajuizar a ação cabível. (*Atenção aos artigos: 781, inciso I,; 784, inciso III; 786 e 798, todos do CPC).
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