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Caracterização dos Fungos

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DESCRIÇÃO
O reino Fungi e suas características morfofisiológicas e reprodutivas e suas classificações. A
relevância dos fungos no contexto econômico e ecológico como seres decompositores e no
uso alimentar e medicinal. Cogumelos venenosos e a ação de suas toxinas.
PROPÓSITO
Compreender os conceitos relacionados aos indivíduos do reino Fungi, algo importante para
diferenciá-los de outros microrganismos, como bactérias, algas e plantas, sua biologia e a
vasta importância em diversas áreas da economia e ecologia, inclusive no impacto na saúde
individual e coletiva.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar a morfofisiologia e classificação dos fungos
MÓDULO 2
Reconhecer a importância dos fungos na ecologia e na economia
MÓDULO 3
Descrever as principais características dos fungos venenosos
INTRODUÇÃO
Hoje, conheceremos os fungos, esses organismos que têm características únicas e um reino
próprio, o reino Fungi. Ao longo das eras, os fungos se adaptaram para sobreviver a
praticamente todos os tipos de ambientes, desde os mais secos e inóspitos, como o deserto do
Atacama, ao extremo oposto, nas geleiras da Antártica.
Por serem ubíquos – logo podem ser encontrados em todos os ambientes –, estamos
constantemente em contato com os fungos, seja em alguma fruta esquecida na fruteira, seja
em alguma roupa de couro que mofou dentro do armário, seja quando vemos os cogumelos
nas árvores durante uma caminhada.
Embora se estime que existam mais de 100 mil espécies de fungos conhecidas, apenas cerca
de 200 são consideradas patogênicas para os animais e os seres humanos.
Desde a Pré-História, os fungos são conhecidos tanto por seus benefícios como pelos
malefícios, que podem causar doenças em homens, animais e plantas. Eles podem ser
comestíveis ou venenosos; alguns também são alucinógenos e usados em rituais religiosos há
séculos. Os romanos e os gregos já escreviam sobre como diferenciar os cogumelos
venenosos dos comestíveis.
Em 1969, quando Whittaker propôs uma divisão dos seres vivos em cinco reinos, com base
nas características morfológicas e nutricionais, os fungos ganharam um reino próprio: o reino
Fungi. Décadas depois, em 1990, Carl Woese propôs que esses reinos poderiam ser
agrupados em três domínios distintos: Eubacteria, Archaea e Eukaria (Figura 1.1).
Fonte: udaix/Shutterstock
 Divisão dos domínios e reinos de acordo com a classificação de Carl Woese (Figura 1.1).
Os fungos, por serem eucariontes, foram alocados no domínio Eukaria, que compreende todos
os organismos com essa característica celular (Figura 1.2). Eles são estudados há muito
tempo, e a ciência que estuda sua biologia, taxonomia, morfologia, bioquímica e fisiologia é a
Micologia. Popularmente, esses microrganismos podem ser chamados de “mofo”, “bolor”,
“leveduras”, “cogumelos”, entre outros. Mais adiante, aprenderemos a diferença morfológica e
reprodutiva de cada forma.
Fonte: Aldona Griskeviciene/Shutterstock
 Comparação entre as células eucariotas de plantas, animais e fungos (Figura 1.2).
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MICOLOGIA
Mykes, em grego, significa “cogumelo” e Logos, “estudo”.
Fonte: Yavdat/Shutterstock
MOFO
Parede mofada com fungo negro.
Fonte: Kalfa/Shutterstock
BOLOR
Laranja mofada com fungo filamentoso.
Fonte: Fascinadora/Shutterstock
LEVEDURA
Fermento de pão feito de leveduras.
Fonte: Krasula/Shutterstock
COGUMELOS
Cogumelo crescendo em solo rico em matéria orgânica.
MÓDULO 1
 Identificar a morfofisiologia e classificação dos fungos
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
MORFOLOGIA E NUTRIÇÃO DOS FUNGOS
Os fungos são organismos eucariontes pluricelulares (filamentosos, bolores, cogumelos)
multinucleados ou unicelulares (leveduras), com somente um núcleo, e são haploides. A
característica mais importante que difere os fungos das plantas é que eles são aclorofilados, o
que significa que adquirem seus nutrientes de modo diferente das plantas.
A maioria dos fungos é aeróbica obrigatória; eventualmente, alguns são anaeróbios
facultativos. Os fungos são mesófilos, o que significa que podem crescer em temperaturas
entre 0 °C e 45 °C, mas o ideal, para a maioria, é entre 20 °C e 30 °C, preferencialmente em
locais úmidos.
HAPLOIDES
A célula haploide possui apenas um conjunto de cromossomos (n).
 VOCÊ SABIA
A principal diferença entre os fungos e as plantas é a ausência de clorofila e pigmentos
fotossintéticos nos fungos, que obtêm sua energia por absorção de nutrientes.
javascript:void(0)
Fonte: luchschenF/Shutterstock
 Placa de Petri com crescimento de diversos microrganismos
formando as colônias.
Os fungos microscópicos (leveduras e bolores), quando crescidos em substratos adequados,
formam estruturas denominadas “colônias”, que são visíveis a olho nu e apresentam
características que os diferenciam macroscopicamente. As colônias fúngicas são formadas por
estruturas reprodutivas e vegetativas que participam tanto do crescimento como do
catabolismo.
CATABOLISMO
Parte do metabolismo em que acontece a degradação das macromoléculas para a
liberação de energia.
Os fungos pluricelulares (bolores ou filamentosos) são compostos por células de estruturas
tubulares denominadas de hifas. Essas estruturas semelhantes a “fios de cabelo” dão aos
fungos aquela aparência de pelos e tufos, comumente encontrados em pães mofados ou frutas
estragadas, como morangos e laranjas. O conjunto dessas células tubulares compõe o micélio,
que é responsável pela absorção de nutrientes e pela sustentação.
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Fonte: Kore/Shutterstock
Microscopia de fungo filamentoso evidenciando as hifas como se fossem fios de cabelo.
Fonte: YuG/Shutterstock
Bolores crescendo em frutas estragadas parecendo tufos de pelo.
Fonte: I-ing/Shutterstock
Pão de forma mofado, evidenciando coloração esbranquiçada e verde.
Fonte: Anna Kraynova/Shutterstock
Morangos estragados com crescimento de fungos filamentosos.
Fonte: Fotosr52/Shutterstock
Laranja estragada com crescimento de bolor com coloração verde e branca.
Fonte: Kateryna Kon/Shutterstock
Micélio fúngico crescendo em meio a placa de Petri e destaque para a estrutura microscópica
das hifas.
Apesar de, em alguns casos, parecer que os fungos formam tecido verdadeiro, isso não
acontece. Inclusive, os cogumelos, na verdade, são um grande conjunto de hifas que, juntas,
apresentam aquele formato característico desse fungo macroscópico (Figura 1.3).
Fonte: Mari-Leaf/Shutterstock
 Estrutura interna dos cogumelos com o micélio
embaixo da terra (Figura 1.3).
As hifas pigmentadas são chamadas de “demáceas” (Figura 1.4); o pigmento, na maioria dos
fungos, é composto por melanina, que dá uma coloração escura (marrom ou preta). Quando as
hifas não têm coloração, são chamadas de “hialinas” (Figura 1.5). Em relação à estrutura das
hifas, elas podem apresentar septos bem delimitados, sendo nomeadas “hifas septadas”, ou
não ter esses septos visualmente delimitados, sendo chamadas de “hifas cenocíticas” ou “hifas
asseptadas” (Figura 1.6).
Fonte: Anônimo-MyFavoriteTime-Designua/Wikimedia-Shutterstock
 Imagem microscópica das hifas demáceas mostrando a coloração escura (Figura 1.4). /
Imagem microscópica das hifas hialinas mostrando a ausência de coloração (Figura 1.5). /
Classificação dos dois tipos de hifas de acordo com a morfologia (Figura 1.6).
Os fungos filamentosos (bolores) apresentam amplo espectro de coloração e diversos tipos
morfológicos: algodonosos, pulverulentos, aveludados etc. Já as leveduras têm colônias
com aparência pastosa, brilhante, cerebriforme, tendendo à coloração creme, branca, preta ou
rosa, dependendo da espécie. A seguir, conheceremos, ponto a ponto, as estruturas que
compõem a célula fúngica, iniciando pela camada mais externa: a parede celular.
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ALGODONOSOS
A aparência lembra algodão.
PULVERULENTOS
Os fungos parecem estar “empoeirados”.
AVELUDADOS
Semelhantes a um tecido de veludo.
CEREBRIFORME
A aparêncialembra a morfologia de um cérebro.
PAREDE CELULAR
A parede celular fúngica (Figura 1.7) é a estrutura que promove a rigidez da célula,
aumentando sua proteção contra o estresse osmótico e ambiental. É composta essencialmente
por camadas de carboidratos associados a proteínas e lipídeos, que variam de acordo com a
espécie do fungo, a temperatura ambiente, o pH, a idade e a composição do substrato de
crescimento.
Fonte: researchgate
 Esquema geral da estrutura da parede celular dos fungos (Figura 1.7).
A parede celular fúngica é diferente da bacteriana, principalmente por ser rica em quitina,
enquanto a parede das bactérias é composta por peptideoglicano. A quitina é o polissacarídeo
mais presente na parede fúngica, sendo composto por um polímero de unidades de N-
acetilglicosamina. Dependendo do grupo fúngico, pode haver a presença de celulose, ou a
mescla dos dois (mais raramente).
Outro componente da parede celular fúngica são as glucanas e as mananas, que são
combinadas a proteínas, formando as glicoproteínas, manoproteínas e glicomanoproteínas.
Outros polissacarídeos também estão presentes, e as β-glucanas são as mais importantes
dentre eles. Cada uma dessas estruturas está localizada em maior quantidade em uma
camada distinta da parede celular: as β-1-3-glucanas são mais internas, enquanto as camadas
mais externas contêm β-1-6-glucanas.
Por apresentar características particulares, durante a infecção, a parede celular fúngica exibe
importantes propriedades biopatológicas e, por isso, torna-se importante alvo terapêutico, já
que a parede celular possui estruturas exclusivas desses organismos e é essencial para a
sobrevivência e resistência deles.
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Β-GLUCANAS
Os β-glucanos são polissacarídeos de monômeros de D-glicose unidos por ligações
glicosídicas β.
Fonte: Wikimedia Commons
MEMBRANA CITOPLASMÁTICA
A membrana citoplasmática dos fungos, assim como de outros organismos, contém o
citoplasma e as organelas e é composta por esteróis e lipídeos complexos não encontrados
nas membranas plasmáticas procarióticas. Assim como nas células eucarióticas dos animais,
ela é composta por duas camadas de fosfolipídios (Figura 1.8) revestidas por proteínas e
apresenta uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas,
responsáveis pelo contato do meio externo e o interior da célula.
As proteínas dessa membrana funcionam como enzimas, que apresentam diferentes
funcionalidades, na medida em que os lipídeos dão à membrana sua verdadeira propriedade
estrutural. Nos animais, os esteróis da membrana estão na forma de colesteróis,
enquanto, nas células fúngicas, são ergosteróis. Essa diferença é extremamente
importante por ser um sítio de ligação específico para os antifúngicos, aumentando a toxicidade
seletiva desses fármacos.
CITOPLASMA
No citoplasma das células fúngicas (Figura 1.9), ocorrem o metabolismo energético e outras
vias metabólicas essenciais para a sobrevivência desse organismo. Nesse compartimento, são
encontrados o glicogênio, os vacúolos, as mitocôndrias, os ribossomos, o retículo
endoplasmático e tantas outras organelas e estruturas celulares, como:
Fonte: Designua/Shutterstock
 Esquema geral da estrutura celular fúngica com as organelas (Figura 1.9).
COMPLEXO DE GOLGI
Responsável pelos processos de síntese e secreção, diretamente ligados aos polissacarídeos.
VACÚOLO
Com diferentes tamanhos, podendo assumir inúmeras funções de armazenamento de
glicogênio ou digestivas. É o principal local de reserva energética da célula fúngica.
RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO
É responsável pela síntese de proteínas e está ligado à membrana do núcleo.
MITOCÔNDRIAS
Elas têm ribossomos e DNA próprios, e é nessa organela que ocorre a fosforilação oxidativa.
São responsáveis pelo mecanismo energético celular.
NÚCLEO
Como já vimos, os fungos são organismos eucariotos e, como tal, o seu núcleo está contido
por uma membrana nuclear que o delimita dentro do citoplasma. Seu núcleo é a estrutura
central da célula recoberta por uma membrana nuclear (carioteca). Assim como acontece nas
células animais, toda a informação genética desse organismo está armazenada no núcleo.
Os cromossomos fúngicos são lineares, compostos de fita dupla de DNA em arranjo de hélice,
e a sua principal função é transmitir as informações genéticas. As células fúngicas necessitam
de dois mecanismos distintos para segregar cromossomos antes da divisão celular; são eles: a
mitose e a meiose.
Fonte: Wikipedia
 Arranjo estrutural de uma fita dupla de DNA.
NUTRIÇÃO FÚNGICA
Os fungos são seres heterotróficos, por isso dependem de uma fonte orgânica de carbono
pré-formada para obter seus nutrientes a fim de manter as funções energéticas e de
constituição celular. Como vimos antes, a parede celular dos fungos é rígida, então sua
alimentação ocorre pelo mecanismo de absorção de nutrientes solúveis simples.
Esses organismos também realizam a respiração celular ou fermentação para a obtenção de
energia. Mais à frente, entenderemos como essa fermentação é importante economicamente.
HETEROTRÓFICOS
Os seres heterotróficos são aqueles seres vivos que não têm a capacidade de produzir
seu próprio alimento. Exemplos: mamíferos, répteis, insetos e protozoários.
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 VOCÊ SABIA
Os fungos têm sua reserva energética majoritariamente sob a forma de glicogênio, enquanto,
nas plantas, a maior parte da energia é reservada em forma de celulose.
Como os fungos não são clorofilados, não necessitam de luz para sua sobrevivência, porém
alguns precisam de estímulo luminoso para produzir suas estruturas de reprodução; nesse
caso, passam a ser considerados “fototróficos”. Como não têm sua própria fonte nutricional,
os fungos precisam estar associados a substratos que sejam ricos em diversos elementos
químicos, como: C, O, H, N, P, K, Mg, S, B, Mn, Cu, Mo, Fe e Zn.
FOTOTRÓFICOS
Os seres fototróficos usam a energia da luz para realizar vários processos metabólicos
celulares. É um equívoco comum a ideia de que os fototróficos sejam obrigatoriamente
fotossintéticos.
Fonte: Mari-Leaf/Shutterstock
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 Nutrição fúngica a partir da secreção de enzimas para quebrar
macromoléculas em micromoléculas (Figura 1.10).
Já que os fungos não produzem seu próprio alimento e tampouco têm estruturas para a
ingestão de alimentos e sistema digestórios, eles precisam lançar mão de mecanismos
externos à suas células para obter energia. Por isso, alimentam-se por meio da secreção de
enzimas extracelulares que digerem o substrato e quebram macromoléculas em
micromoléculas que eles serão capazes de absorver, como polissacarídeos ou proteínas
quebrados em monômeros, que são fonte de energia e carbono (Figura 1.10).
Você já observou como uma fruta mofada fica mole e “aguada”? Isso acontece porque as
enzimas fúngicas estão quebrando as macromoléculas que compõem a estrutura da fruta, a fim
de que os fungos possam obter seus nutrientes.
Fonte: Ariene Studio/Shutterstock
 Tomate íntegro e outro mofado, mostrando a perda de estrutura quando ocorre a ação as
enzimas fúngicas.
Por causa dessas características nutricionais, os fungos são obrigados a viver sempre em
algum substrato que forneça a quantidade necessária de nutrientes indispensáveis a sua
sobrevivência. Essa característica também obriga esses organismos a viver em situações
distintas de acordo com a interação que têm com seus substratos:
SAPRÓFITAS OBRIGATÓRIOS
São os fungos que vivem exclusivamente em matéria orgânica morta e não apresentam risco
de parasitar outros seres vivos.
SAPRÓFITAS FACULTATIVOS OU PARASITOS
FACULTATIVOS
Dependendo da situação, o fungo é capaz de viver em matéria orgânica em decomposição ou
em organismos vivos, causando doenças (animais, plantas, humanos).
PARASITOS OBRIGATÓRIOS
Aqueles fungos que vivem exclusivamente em organismos vivos, causando doenças em
plantas e animais.
 SAIBA MAIS
Independentemente do substrato ao qual está ancorado,vivo ou morto, o fungo utiliza os
mesmos mecanismos de obtenção de nutrientes pela excreção de enzimas que causam danos
aos tecidos vivos de plantas ou animais, gerando uma resposta imunológica e a instalação de
uma infecção.
REPRODUÇÃO DOS FUNGOS
No ciclo de vida dos fungos, duas fases são extremamente importantes: a fase somática e a
reprodutiva. A fase somática corresponde às atividades nutricionais e à manutenção da vida
fúngica, e o micélio vegetativo que está ancorado ao substrato desempenha esse papel. Já a
fase reprodutiva é responsável pela perpetuação da espécie e pela dispersão e pode ser
assexuada e sexuada, com estruturas próprias para esse propósito (Figura 1.11).
Fonte: Kichigin/Shutterstock
 Cogumelo liberando os esporos para a sua dispersão na natureza.
Fonte: Kazakova Maryia/Shutterstock
 Esquema estrutural da micromorfologia do micélio aéreo/reprodutivo
e do micélio vegetativo (Figura 1.11).
Em ambos os tipos reprodutivos, assexuado e sexuado, as estruturas podem ser únicas ou um
conjunto de células especializadas formando corpos de frutificação. Conforme o tipo de
reprodução que os fungos fazem, podem ser agrupados em três grupos:
HOLOMORFO
Aquele que realiza tanto a reprodução assexuada como a sexuada.
ANAMORFO
Aquele que somente realiza a reprodução assexuada, também conhecido como “fungo
imperfeito”.
TELEOMORFO
Aquele que somente realiza a reprodução sexuada.
Conhecer as formas e estruturas de reprodução dos fungos é extremamente importante, pois,
por meio delas, conseguimos realizar a maioria das identificações relativas a gênero e, em
alguns casos, espécies, com base nas características morfológicas dessa reprodução.
Dentre os fungos já descritos, a maioria tem sua origem nos esporos (ou conídios), que
apresentam função parecida com as sementes das plantas, mas, mesmo tendo funções
semelhantes, têm morfologia completamente distinta.
Diferentemente dos cogumelos e bolores, as leveduras não têm estruturas especiais que se
diferenciam para a reprodução. Elas são arredondadas, ovais ou alongadas; então, sua
reprodução assexuada ocorre por simples divisão celular, seja por brotamentos (Figura 1.12),
seja por cissiparidade.
Fonte: Designua/Shutterstock
 Reprodução das leveduras por brotamento, gerando células-filhas que ficam aderidas
à célula-mãe, desprendendo-se apenas quando maduras (Figura 1.12).
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javascript:void(0)
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CISSIPARIDADE
Cissiparidade ou fissão binária é a divisão de uma única célula em duas ou mais partes
que se regeneram depois para reconstituir duas células parecidas com a original.
 ATENÇÃO
Nos bolores (fungos filamentosos), o micélio aéreo, que se projeta para fora da superfície do
substrato em determinado momento, diferencia-se para micélio reprodutivo (Figura 1.11), onde
serão formados os esporos (conídios), que podem apresentar inúmeros tamanhos e formas,
dependendo da espécie, podendo ser fusiformes, cilíndricos, elípticos, ovoides, piriformes e
baciliformes.
Fonte: Wikimedia Commons
 Micromorfologia dos diferentes tipos de conídio.
Acima: demáceos e, abaixo, hialinos (Figura 1.13).
Eles também podem apresentar pigmentação e ser classificados como “demáceos”, ou então
não ser pigmentados e chamados de “hialinos”, ser septados ou não, lisos, verrucosos,
ciliados, entre outras características (Figura 1.13).
Na reprodução sexuada, mediada pela meiose, os esporos podem ser chamados de
basidiósporos, zigósporo e ascósporo de acordo com o cogumelo que os produz. Os
basidiósporos são formados em uma estrutura chamada basídio; os zigósporos têm paredes
espessas e são individuais, e os ascósporos são formados dentro de uma estrutura chamada
asco.
Fonte: raymond tercafs/Shutterstock
Exemplo de cogumelo que produz basidiósporos. Mycena rosella
Fonte: Wikimedia Commonss
Exemplo de fungos que produzem zigósporos. Rhizopus spp.
Fonte: gubernat/Shutterstock
Cogumelo que produz seus ascósporos na estrutura chamada asco. Sarcoscypha sp.
Para aprender ainda mais sobre a reprodução dos fungos, assista ao vídeo a seguir.
CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DOS
FUNGOS
A classificação taxonômica do reino Fungi é tradicionalmente baseada nas características
morfológicas, reprodutivas e fisiológicas e, com base nisso, acredita-se que os fungos tiveram
um ancestral comum. Entretanto, novas classificações foram sugeridas a partir da análise
molecular, como prova de PCR, sequenciamento do DNA, cromatografia, espectrometria de
massa, entre outras técnicas mais modernas que as tradicionais avaliações de características
morfológicas.
O reino Fungi, atualmente, é dividido em sete filos (Chytridiomycota, Glomeromycota,
Neocallimastigomycota, Microsporídia, Blastocladiomycota, Ascomycota e Basidiomycota) e um
grupo dos fungos anamórficos. Esse grupo não tem valor taxonômico, e seus membros são
relacionados aos filos Ascomycota e Basidiomycota.
FILO CHYTRIDIOMYCOTA
Os quitridiomicetos, ou quitrídios, podem ser encontrados em ambientes aquáticos,
principalmente em água doce e solos úmidos ao redor de todo o mundo. A principal
característica que diferencia esses organismos dos outros é que produzem esporos sexuados
(zoósporos) flagelados que auxiliam na motilidade dentro da água.
Os quitridiomicetos já foram responsáveis por mortandade de anfíbios ao redor do mundo. Um
exemplo desse filo é o Batrachochytrium dendrobatidis, comumente encontrado parasitando
sapos, causando a quitridiomicose (Figura 1.14).
Fonte: Brian Gratwicke/flickr
 O ciclo de infecção dos anfíbios por fungos do filo Chytridiomycota (Figura 1.14).
FILO ASCOMYCOTA
Este é o filo com maior número de espécies do reino Fungi, concentrando cerca de 75% de
todos os fungos já descritos. Por serem cosmopolitas, comumente são encontrados
parasitando plantas, como saprófitos de solo, ou em associação com outras plantas
(mutualismo).
A principal característica está relacionada às estruturas de reprodução sexuada, usualmente
chamadas de cogumelos, compostas pelo asco, onde estão os ascósporos. Porém, também é
possível verificar a reprodução assexuada. O ascocarpo é o corpo de frutificação que dá
origem ao asco e pode ter três formas principais (Figura 1.15): em forma de taça (apotécio),
totalmente fechado (cleistotécio) e em forma de balão (peritécio).
Fonte: Wikimedia Commons
 Cogumelo Ascotremella faginea, exemplo de um
fungo do filo Ascomycota.
Fonte: Wikimedia Commons
 Os principais tipos de ascos responsáveis pela reprodução sexuada dos ascomicetos
(Figura 1.15).
Como este filo é o mais importante no reino Fungi, dentro dele é possível encontrar fungos
microscópicos, como as leveduras (Candida sp. e Saccharomyces sp.), ou, então, fungos
filamentosos (Cladosporium sp. e Penicillium sp.).
Fonte: Zaharia Bogdan Rares/Shutterstock
Colônias de levedura do gênero Candida em placa de Petri.
Fonte: Wikimedia Commons
Colônias da levedura Saccharomyces sp. crescendo em placa de Petri com meio de cultura.
Fonte: OneMashi/Shutterstock
Colônias filamentosas do gênero Cladosporium.
Fonte: Kallayanee Naloka/Shutterstock
Colônias com aparência típica do gênero Penicillium.
FILO BASIDIOMYCOTA
Os cogumelos compõem este filo e são cosmopolitas e saprófitas. Sua principal característica é
a reprodução sexuada por meio dos basidiósporos, porém também se encontra a forma
assexuada de reprodução em alguns indivíduos. Este filo, juntamente ao filo Ascomycota,
representa os fungos mais importantes para a ecologia, economia e saúde.
O representante mais famoso deste filo é a Amanita muscaria, que ganhou fama após aparecer
em jogos de video game e em filmes. Outros exemplares não tão famosos assim são os
Pycnoporus sanguineus (comumente conhecido como orelha-de-pau) e o Ustilago maydis
(parasita de angiospermas, conhecido como “carvão”).
Fonte: Rebecca Fondren Photo/Shutterstock
COGUMELOS
Os basidiomicetos são conhecidos como cogumelos e podem ter as mais variadasformas e
colorações.
Fonte: Arie v.d. Wolde/Shutterstock
AMANITA MUSCARIA
Cogumelo Amanita muscaria, que serviu de inspiração para diversas produções
cinematográficas e no mundo dos games.
Fonte: NANCY AYUMI KUNIHIRO/Shutterstock
PYCNOPORUS SANGUINEUS
Cogumelo “Orelha-de-pau”, comumente encontrado crescendo em troncos de árvores.
Fonte: Olhandra/Shutterstock
USTILAGO MAYDIS
Milho infectado com o fungo basidiomiceto Ustilago maydis.
FUNGOS ANAMÓRFICOS
Este grupo também pode ser conhecido como fungos imperfeitos, conidiais, mitospóricos ou
assexuados. A reprodução sexuada nestes indivíduos não existe; ainda não foi descrita ou se
perdeu ao longo do tempo. Então, sua reprodução e propagação ocorre somente por meio da
mitose, com a produção dos conídios; são formados nos conidióforos, que são células
reprodutivas especializadas.
 SAIBA MAIS
Com o advento da biologia molecular, muitos dos fungos que pertenciam a esse grupo estão
sendo alocados no filo Ascomycota ou Basidiomycota, por comparação de sequências gênicas.
Esses fungos têm distribuição mundial e podem ser saprófitas ou parasitos de plantas e
animais.
FILO NEOCALLIMASTIGOMYCOTA
Os indivíduos pertencentes a este filo são encontrados no sistema digestório de grandes
mamíferos herbívoros e, em alguns casos, em ambientes aquáticos ou anaeróbios terrestres, e
seus zoósporos não apresentam motilidade. O gênero Neocallimastix é um exemplo deste filo.
FILO BLASTOCLADIOMYCOTA
Os fungos deste filo produzem zoósporo móveis com apenas um flagelo e estão restritos ao
solo e à água, parasitando apenas os insetos. São exemplos de gênero o Coelomomyces sp. e
Allomyces sp.
FILO MICROSPORÍDIA
As células desses organismos apresentam características curiosas para seres eucariontes, já
que não têm mitocôndria. Geralmente, parasitam peixes e insetos, sendo parasitos
obrigatórios.
FILO GLOMEROMYCOTA
Os fungos que, anteriormente, eram descritos como do filo Zygomycota foram realocados neste
novo filo. As principais características desses fungos são as hifas cenocíticas (asseptadas) e a
formação de esporângio (reprodução assexuada) e de zigosporângio (reprodução sexuada).
Outra característica importante deste filo é que os fungos formam estruturas mutualísticas com
as raízes de algumas plantas, conhecidas como micorrizas arbusculares, e são encontrados
em todo o mundo. Os gêneros mais conhecidos deste filo são o Mucor sp. e o Rhizopus sp.
Fonte: Anastasia Ness/Shutterstock
Hifas filamentosas e esporângios do gênero Mucor.
javascript:void(0)
Fonte: Rattiya Thongdumhyu/Shutterstock
Micromorfologia do gênero Rhizopus composta por hifas asseptadas e esporângios repletos de
esporos.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. OS FUNGOS SÃO SERES COM CARACTERÍSTICAS ÚNICAS QUE
LEVARAM OS ESTUDIOSOS A CRIAR UM REINO PRÓPRIO PARA ELES, O
REINO FUNGI. COM BASE NO QUE APRENDEMOS SOBRE OS FUNGOS,
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS MORFOFISIOLÓGICAS QUE OS
DIFERENCIAM DOS OUTROS SERES?
A) São heterotróficos, e sua parede possui quitina.
B) São aclorofilados e têm colesterol em sua membrana.
C) São heterotróficos, e seu núcleo não apresenta uma membrana.
D) São clorofilados, e sua membrana é composta por ergosterol.
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2. A REPRODUÇÃO FÚNGICA PODE ACONTECER DE DUAS FORMAS
DISTINTAS: REPRODUÇÃO SEXUADA E REPRODUÇÃO ASSEXUADA.
QUAIS SÃO OS MECANISMOS ENVOLVIDOS NESSAS DUAS FORMAS DE
REPRODUÇÃO, RESPECTIVAMENTE?
A) Mitose e meiose.
B) Meiose e brotamento.
C) Meiose e mitose.
D) Basidiósporo e apotécio.
GABARITO
1. Os fungos são seres com características únicas que levaram os estudiosos a criar um
reino próprio para eles, o reino Fungi. Com base no que aprendemos sobre os fungos,
quais são as características morfofisiológicas que os diferenciam dos outros seres?
A alternativa "A " está correta.
Os fungos não são capazes de produzir seu próprio alimento, então são heterotróficos, e sua
parede é composta principalmente por uma trama de quitina.
2. A reprodução fúngica pode acontecer de duas formas distintas: reprodução sexuada e
reprodução assexuada. Quais são os mecanismos envolvidos nessas duas formas de
reprodução, respectivamente?
A alternativa "C " está correta.
Os mecanismos envolvidos na reprodução sexuada são a meiose com os esporos (+) e (-), e,
na reprodução assexuada, a mitose, onde uma única célula pode gerar uma célula-filha.
MÓDULO 2
 Reconhecer a importância dos fungos na ecologia e na economia
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da humanidade, os fungos são consumidos e utilizados de diferentes
formas. O modo mais antigo do uso desses organismos está relacionado à alimentação, seja
no consumo direto dos cogumelos , seja na fermentação e maturação de bebidas alcoólicas,
queijos, pães e tantos outros produtos que fazem parte do nosso cotidiano.
Fonte: Pixel-Shot/Shutterstock
COGUMELOS
Os cogumelos fazem parte da dieta do ser humano há séculos.
Fonte: liangchaochao/Shutterstock
BEBIDAS ALCOÓLICAS
O vinho é uma das bebidas alcoólicas preparadas por meio da fermentação das uvas.
Fonte: MaraZe/Shutterstock
QUEIJOS
Vários tipos de queijo podem ser feitos ou maturados utilizando-se os fungos.
 SAIBA MAIS
Posteriormente, foram descobertos outros utilidades para esse organismo tão versátil, como o
uso dos seus metabólitos com função antibiótica (exemplo: penicilina) ou então o uso comercial
de metabólitos, que incluem vitaminas, ácidos orgânicos, pesticidas biológicos e tantos outros.
Graças à evolução biotecnológica, muitos desses metabólitos podem ser produzidos em larga
escala, reduzindo os custos e aumentando a importância econômica desses organismos.
ECOLOGIA FÚNGICA
O nicho ecológico dos fungos é muito variado: solos secos, árvores apodrecidas, frutas caídas
do pé, pântanos, poeira, água, leite e muitos outros que você possa imaginar. De acordo com o
local preferencial de crescimento, esses fungos podem ser classificados em três tipos:
ANTROPOFÍLICOS
São aqueles fungos que, até o momento, só foram isolados em humanos. Exemplos:
Epidermophyton floccosum e Trichophyton rubrum, que são agentes de micoses de pele.
Fonte: Alona Siniehina/Shutterstock
 Muitos fungos têm predileção por crescer nos humanos.
GEOFÍLICOS
Estes fungos têm preferência pelo solo, apesar de, em alguns casos, causarem doenças.
Exemplos: Microsporum gypseum e Microsporum fulvum.
Fonte: Damian Herde/Shutterstock
 Os fungos geofílicos têm preferência por crescer no solo.
ZOOFÍLICOS
Como o nome já sugere, esses fungos têm predileção pelos animais. Exemplos: Microsporum
canis e Trichophyton mentagrophytes.
Fonte: Andrii Medvednikov/Shutterstock
 Muitos animais podem ser hospedeiros desses fungos, incluindo cães e gatos.
Apesar dessa ampla gama de nichos ecológicos, a maioria dos fungos é encontrada com
outros microrganismos no solo, como bactérias e amebas, participando da ciclagem dos
materiais orgânicos da natureza. Além de ser nicho ecológico para a maior parte dos fungos, o
solo também pode abrigar fungos patogênicos para os animais e os homens, e muitos deles se
infectam ao entrar em contato com esse solo contaminado.
Outros fungos têm as plantas como hospedeiras exclusivas e só se reproduzem se estiverem
em contato com elas. A ferrugem do café (Hemileia vastathrix) é um exemplo típico dessa
relação parasitária obrigatória entre fungos e plantas. Em outras situações, não há perda para
nenhum dos lados, e chamamos essa relação entre os fungos e as plantas de mutualística.
Essa associação benéfica de fungos com as raízes das plantas é chamada de micorriza.
Fonte: Wikipedia
 Folha do cafeeiro com pontos amarelados sendo parasitados
pelo fungo Hemileia vastathrix.
A água também pode ser habitat para tipos específicos de fungos que causam doenças em
peixes, anfíbios e, eventualmente, em humanos e outros animais terrestres. Os fungos
aquáticos, de modo geral, não são facilmente cultivados em laboratórios, como os fungos de
interesse médico. Eles precisam de técnicase estratégias mais elaboradas com uso de iscas
feitas de escamas de peixes, ecdise de cobra (Troca de pele da cobra ) , sementes de sorgo,
entre outras.
Fonte: StockphotoVideo/Shutterstock
ESCAMAS DE PEIXES
As escamas de peixe podem ser usadas para o crescimento de fungos que vivem na água.
Fonte: Sahelan/Shutterstock
ECDISE DE COBRA
Assim como as escamas de peixe, a ecdise de cobra pode ser utilizada para isolar fungos
aquáticos.
Fonte: Sergio Schnitzler/Shutterstock
SEMENTE DE SORGO
A semente de sorgo pode ser usada como substrato para o crescimento de fungos aquáticos.
Ainda existem fungos que fazem parte da microbiota transitória ou endógena de animais e
homens, sem necessariamente causar lesões para os hospedeiros; porém, quando ocorre
algum desequilíbrio, essa relação pode mudar e causar doenças. Por exemplo, a levedura
Malassezia spp. faz parte da microbiota da pele de humanos e dos ouvidos dos cães. A famosa
Candida é comumente encontrada na cavidade vaginal e no trato intestinal, sem
necessariamente estar causando doença.
Agora que já entendemos onde podemos encontrar os fungos no ambiente e em outros nichos,
estudaremos mais a fundo o seu papel na natureza. Iniciaremos pelos fungos decompositores.
Fonte: kram-9/Shutterstock
 A matéria orgânica pode fornecer inúmeros nutrientes
e elementos químicos essenciais para as plantas.
FUNGOS DECOMPOSITORES
A matéria orgânica vegetal ou animal desempenha papel fundamental no ecossistema, seja na
funcionalidade, seja na estruturação, pois promove fonte de energia renovável para os
organismos heterotróficos, como os fungos, e como um reservatório nutricional para a ciclagem
dos elementos da natureza.
Os decompositores primários, como bactérias e fungos, são os principais atores na degradação
da matéria orgânica. Em uma floresta, por exemplo, as folhas que caem das árvores
constituem a principal fonte de matéria e nutrientes para a própria vegetação e os
microrganismos que ali habitam, e cerca de 80% das folhas são degradadas por eles.
Fonte: sun ok/Shutterstock
 As folhas que caem das árvores são a principal fonte da matéria orgânica.
Muitos fatores estão relacionados à decomposição da matéria orgânica, e a biomassa
microbiana é o mais importante deles, sendo diretamente influenciada pelas mudanças
químicas, físicas e biológicas do solo. Qualquer alteração no pH do solo, a temperatura, a
disponibilidade de nutrientes e a aeração podem interferir no processo de decomposição dos
microrganismos.
Quando os fungos são encontrados em sua forma saprofítica, a obtenção de nutrientes ocorre
a partir da decomposição de resíduos complexos de animais ou plantas mortas. Eles
transformam as estruturas complexas em formas químicas simples, e parte delas retorna para
o ambiente. Além desse benefício nutricional, os fungos decompositores podem participar da
indução de resistência aos patógenos das plantas e dos insetos.
Fonte: Marek Velechovsky/Shutterstock
 Barata morta sendo decomposta por fungos decompositores.
A camada mais superficial do solo das florestas, onde se encontram folhas, troncos, ramos,
entre outras matérias orgânicas em decomposição misturadas à terra, é chamada de
serapilheira. Nela, encontramos quantidade expressiva de nutrientes essenciais, que, após o
processo de decomposição, voltam ao solo para nutrir as árvores e outros vegetais.
A velocidade da decomposição influencia diretamente a liberação dos nutrientes. Além dos
fatores citados anteriormente, a composição da serapilheira é importantíssimo fator para a
ciclagem adequada dos nutrientes.
Fonte: Piyawit chiang-ngern/Shutterstock
 Cogumelos crescendo em tronco apodrecido.
O principal papel desempenhado pelos fungos no solo é a degradação da lignina e da celulose,
proporcionando alimento para outros organismos ou produzindo biomassa proteica. Os fungos
decompositores podem ser divididos em quatro grupos, de acordo com o material orgânico que
têm predileção para decompor: celulolíticos (celulose), hemicelulolíticos (hemicelulose),
pectinolíticos (substâncias pécticas) e ligninolíticos (lignina).
Como já sabemos, existe uma enorme diversidade de fungos no solo, e a prevalência deles
pode variar de acordo com a localização geográfica e as condições climáticas. Podemos citar
como exemplo de fungos comuns no solo: Verticillium, Penicillium, Trichoderma, Zygorhynchus,
Mucor, Aspergillus, Rhizopus, Fusarium, Cephalosporium.
Os sistemas enzimáticos dos fungos, que são responsáveis pela sua nutrição, estão
intimamente ligados ao tipo de substrato presente na serapilheira que eles podem degradar. Os
fungos saprófitas decompositores, além de serem cosmopolitas, também apresentam alta
tolerância ao estresse climático, adaptando-se às variações das estações e aos eventos
naturais, como tempestades e períodos de seca.
A presença de determinados grupos de fungos decompositores pode ser alterada em resposta
às próprias mudanças durante a decomposição do substrato, o que significa que uma sucessão
de microrganismos pode aparecer após a degradação de uma população primária de
microrganismos decompositores dominantes.
À medida que a matéria orgânica vegetal é degradada, ocorrem mudanças sequenciais no
potencial de degradação e composição das comunidades fúngicas mediante a disponibilidade
de nutrientes, alteração da umidade, pH e tensão de oxigênio. Essa sucessão é, de modo
geral, definida por uma mudança progressiva a partir de uma comunidade pioneira que
colonizou o substrato e o modificou a ponto de torná-lo favorável para outros microrganismos.
MICORRIZAS
Além dos fungos decompositores, os fungos micorrízicos também desempenham papel
fundamental na ecologia e na economia. Esses fungos se associam às raízes das plantas com
uma relação simbiótica, na qual as plantas se beneficiam obtendo fosfato e outros minerais,
enquanto os fungos recebem nutrientes e açúcares das plantas (Figura 2.1. e 2.2). Esse
contato íntimo das plantas com os fungos pode ser de diversos tipos (arbuscular, arbutoide,
orquidoide, ericoide, monotropoide e ecto), e alguns só são observados em um grupo
específico de plantas.
Fonte: KYTan/Shutterstock
 Fungo micorrízico associado às raízes das plantas.
Fonte: Wikimedia Commons
Os fungos se associam às plantas e mantêm contato pelas raízes para conseguir benefício
mútuo (Figura 2.1).
Fonte: jps/Shutterstock
Troca de carboidratos, como glicose, e minerais, como ferro, potássio e magnésio, entre as
plantas e os fungos micorrízicos (Figura 2.2).
As micorrizas arbusculares têm grande importância econômica e biotecnológica, pois estão
dispersas no mundo todo, sendo encontradas em quase todos os ecossistemas terrestres e
presentes em cerca de 80% das famílias de plantas, além de gerarem um impacto direto na
agricultura das regiões tropicais. Esse tipo de associação é o mais antigo registrado; fósseis de
plantas já apresentavam suas raízes colonizadas com micélio e esporos semelhantes aos
encontrados atualmente nos fungos arbusculares.
A sustentabilidade da agricultura está associada diretamente aos benefícios dos fungos
micorrízicos, principalmente no que se refere à obtenção de fósforo pelas plantas, já que esse
não é um mineral renovável, como outros elementos químicos. Pensando no impacto na
agricultura quando há associação entre fungos e plantas, já foi vista uma melhora significativa
na produção de frutas, café, milho, soja, batata-doce, cana-de-açúcar e mandioca quando
foram adicionados os fungos micorrízicos no plantio.
Fósseis de plantas já mostravam que elas estavam associadas a fungos.
 Fonte: Michal Ninger/Shutterstock
A qualidade do plantio de frutas melhorou com a introdução de fungos micorrízicos.
 Fonte: Sodel Vladyslav/Shutterstock
A plantação de cana-de-açúcar foi beneficiada com a introdução das micorrizas.
 Fonte: mailsonpignata/Shutterstock
As vantagens relacionadas às micorrizas vão muito além do benefício individual da planta, pois
essesfungos conseguem conectar, por meio de uma rede, o sistema radicular das plantas
vizinhas, independentemente de serem da mesma espécie ou não. Essa conexão tem impacto
direto no sucesso da planta em sobreviver às competições interespecíficas dentro das
comunidades vegetais.
Além da associação vista com as plantas, alguns fungos podem se associar a algas verdes ou
cianobactérias, formando o que chamamos de “líquens”. Essa associação mutualística é
comumente vista em rochas ou troncos de árvore com diversas colorações e formatos.
Fonte: Alex Tsarik/Shutterstock
 Os líquens são comumente vistos em troncos de árvores e rochas e são a associação de
algas com fungos.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS FUNGOS
Já vimos a importância ecológica e parte do papel dos fungos na economia, principalmente no
que se refere à agricultura e à decomposição de matéria orgânica. Agora, veremos que a
versatilidade dos fungos extrapola seus nichos ambientais e comportamentos clássicos.
 VOCÊ SABIA
Os fungos, como qualquer ser vivo, produzem uma gama de metabólitos que podem ser
isolados e aproveitados de inúmeras formas. Esses produtos do metabolismo fúngico podem
ser uma vitamina, uma toxina, um antibiótico ou qualquer produto industrial (arginina, histidina,
leucina, metionina, ácido esteárico, ácido oleico, prolina etc.).
Fonte: grebcha/Shutterstock
 Placa de Petri mostrando diversos fungos filamentosos crescendo.
Os fungos filamentosos se destacam devido à grande facilidade de crescimento e cultivo. Outra
vantagem é que esses microrganismos secretam suas enzimas diretamente no meio de
cultura, não necessitando de técnicas adicionais para romper as células para sua liberação.
Além disso, apresentam elevados níveis de produção enzimática, com alto potencial para
inúmeras aplicações industriais.
Um exemplo é a utilização de fungos para tratar rejeitos industriais, como é o caso das
leveduras Candida e Torulopsis, que são capazes de crescer no líquor sulfítico, rejeito da
fabricação de papel, e no melaço, subproduto da produção de açúcar.
Fonte:melnikof/Shutterstock
Fabricação de Papel
O líquor sulfítico é um rejeito da fabricação do papel que pode gerar grande impacto ambiental
se for descartado inadequadamente.
Fonte: mailsonpignata/Shutterstock
Produção de açúcar
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O beneficiamento do açúcar também gera resíduos indesejáveis que podem ser tratados
utilizando os fungos.
Além disso, a biomassa formada pelos fungos pode ser utilizada na alimentação animal, por
ser rica em proteínas. A própria produção do etanol ocorre por meio da fermentação dos
açúcares por leveduras do gênero Saccharomyces, Candida e Kluyveromyces. No Brasil, a
Saccharomyces cerevisiae é a protagonista na produção de etanol por meio da fermentação do
caldo de cana-de-açúcar, tornando nosso país um dos principais produtores de etanol
combustível no cenário mundial.
A utilização de fungos para controle biológico na agricultura também tem crescido ao longo dos
anos. Os gêneros Metarhizium e Trichoderma se destacam nessa função, pois podem ser
usados como micoerbicidas, micoparasitas ou micoinseticidas. A utilização dos “inseticidas
microbianos” reduz o uso de agroquímicos – que, muitas vezes, são tóxicos para quem os
aplica e quem consome esses alimentos –, auxiliando na preservação ambiental.
Fonte: Protasov AN/Shutterstock
Os fungos entomopatogênicos estão cada vez mais presentes como controle de pragas.

Fonte: Protasov AN/Shutterstock
Os fungos parasitam os insetos até levá-los a morte.
USO MEDICINAL DOS FUNGOS
Na década de 1940, a biotecnologia foi consolidada com a produção de antibióticos a partir de
metabólitos fúngicos. Alexander Fleming revolucionou o curso das doenças infecciosas
quando, em 1929, relatou, pela primeira vez, que o fungo Penicillium notatum produzia um
metabólito com potencial atividade antibiótica: a penicilina.
Fonte: Official photographer/Wikipedia
 Alexander Fleming foi o cientista que descreveu pela primeira
vez o antibiótico penicilina.
]
Fonte: Wikipedia
 Colônia filamentosa do fungo Cephalosporium.
Anos depois, em 1948, Broztu isolou outro antibiótico, a cefalosporina, de culturas do fungo
Cephalosporium acremonium, abrindo um novo caminho para a utilização de microrganismos
na produção de medicamentos. A partir dessas descobertas, outras pesquisas foram realizadas
e, atualmente, encontramos inúmeros antibióticos e antifúngicos feitos a partir dos fungos,
como a griseofulvina, que é produzida pelo fungo Penicillium griseofulvi.
As substâncias bioativas não apresentam apenas ação antimicrobiana; algumas possuem
propriedades farmacológicas, como lectina, arginina, ergosterol, proteoglucanas e glucanas.
Outras podem apresentar funções hormonais para crescimento de plantas, como os
metabólitos do Penicillium chrysogenum.
Importante medicamento imunossupressor amplamente utilizado para pacientes
transplantados, a ciclosporina é proveniente do Tolypocladium inflatum, que é um saprófita de
solo. Várias substâncias com inúmeras atividades farmacológicas podem ser produzidas a
partir dos metabólitos fúngicos, como: mevinolina (usada para redução do colesterol sérico) e
ergometrina (usada para causar contrações no útero ou para controlar hemorragias vaginais
pós-parto).
Fonte: Beloborod/Shutterstock
 Pacientes transplantados precisam utilizar medicamento imunossupressor,
a ciclosporina, que é derivada de um fungo.
Não somente os fungos microscópicos têm importância medicinal; os cogumelos já eram
usados com fins medicinais desde os tempos mais remotos para tratar cólicas, hemorragias,
asma, feridas e outras doenças. O cogumelo popularmente conhecido como orelha-de-pau
(Pycnoporus sanguineu), de coloração vermelha, era usado por tribos indígenas brasileiras
para cicatrização de feridas.
Fonte: Wikimedia Commons
 Cogumelo conhecido como “orelha-de-pau” era usado por
indígenas para cicatrizar feridas.
Fonte: Henri Koskinen/Shutterstock
 Os cogumelos Agaricus sylvaticus podem apresentar
moléculas com atividades farmacológicas.
Outro exemplo são os cogumelos Agaricus sylvaticus, Agaricus blazei e Lentinula edodes, que
apresentam polissacarídeos com atividade antioxidante, imunomoduladora, anti-inflamatória e
anticancerígena. Recentemente, várias pesquisas têm mostrado moléculas provenientes dos
cogumelos com efeitos antibacterianos, antivirais, antiparasitários, antitumorais,
antiateroscleróticos, anti-hipertensivos, hepatoprotetores, anti-inflamatórios, antidiabéticos e
moduladores do sistema imune.
USO ALIMENTÍCIO DOS FUNGOS
Desde os primórdios da humanidade, os fungos, mais especificamente os cogumelos, são
utilizados como alimentos devido a seu alto valor nutricional proteico, suas fibras alimentares,
vitaminas, minerais e o baixo teor de lipídeos, mas também por serem considerados uma
iguaria nobre na culinária.
Dentre as mais de 140 mil espécies de cogumelos descritas ao redor do mundo, apenas
2.000 são comprovadamente comestíveis, praticamente todas são basidiomicetos, e
algumas, ascomicetos. Apesar disso, somente 25 espécies são cultivadas comercialmente,
como shiitake (Lentinula edodes), shimeji (Lyophyllum shimeji) e maitake (Grifola frondosa).
O cogumelo shitake é uma das poucas espécies cultivadas com fins comerciais.
 Fonte: Amarita/Shutterstock
O shimeji é comumente consumido na culinária asiática.
 Fonte: Ulie Sebayang/Shutterstock
O cogumelo maitake é pouco conhecido no Brasil, apesar de ser considerado uma iguaria na
Ásia.
 Fonte: jreika/Shutterstock
Com o aumento crescente do consumo desses cogumelos para além da Ásia e da Europa,
onde já estão estabelecidos na rotina alimentar da população de países como Japão e França,
produtores do sudeste do Brasil têm aumentado gradativamente a sua produção, e tem havido
a consequente popularização nos últimos anos, influenciada, principalmente, pela
popularização da culinária japonesa.
Fonte: AnnaShepulova/Shutterstock
JAPÃO
Pratos típicos da culinária japonesa têm os cogumelos como ingredientes.
Fonte: hlphoto/Shutterstock
FRANÇA
Na culinária francesa, os cogumelos são frequentemente utilizados.
Fonte: VicPhotoria/Shutterstock
BRASIL
O aumento progressivo dos cogumelos tem impulsionado o cultivo, principalmente na região
sudeste.
O champignon (Agaricus spp.) é nativo da Europa e pode ser usado fresco ou em conserva nos
mais diversos pratos, sendo o mais frequentemente comercializado. Apesar de os cogumelos
mais famosos serem nativos de outros países, é possível encontrar algumas espécies
brasileiras que são comestíveis e podem ser cultivadas. O gênero Pleurotus, por exemplo, é
encontrado em todo o território nacional e cresce em troncos de árvores mortas nas florestas
úmidas.
O champignon fresco não é tão fácil de encontrar no Brasil como o champignon em conserva.
 Fonte: Maryia_K/Shutterstock
O champignon em conserva é mais fácil e mais aceito no mercado brasileiro.
 Fonte: Ulie Gayvoronskaya_Yana/Shutterstock
O cogumelo do gênero Pleurotus é comestível e encontrado no Brasil.
 Fonte: osonmez2/Shutterstock
Além do consumo direto dos cogumelos, os fungos microscópicos estão associados à
tecnologia dos alimentos há muitos séculos: na preparação de bebidas dos indígenas no
continente americano, nos alimentos de povos orientais ou participando do processamento da
produção de alimentos à base de leite na Europa.
Assim como a indústria farmacêutica, a alimentícia também se aproveita dos metabólitos
fúngicos para diversas aplicações. A elevada produção das enzimas fúngicas em larga escala
vem sendo amplamente aproveitada nos mais variados produtos. Listamos, a seguir, algumas
enzimas importantes:
AMILOGLICOSIDASES
Produzidas por linhagens de Aspergillus e Rhizopus.
AMILASES
Podem ser isoladas da fermentação do Aspergillus niger, transformando amido em
oligossacarídeos e dextrinas.
LIPASES
Catalisam reversivelmente a hidrólise de triacilgliceróis, podendo catalisar a síntese
estereoespecífica e a transesterificação dos ésteres em um diversificado número de substratos.
O uso mais comum dos fungos no nosso cotidiano está associado à sua habilidade de
fermentação (Figura 2.3), que é um processo por meio do qual o fungo obtém energia a partir
de uma fonte de carboidrato e da ausência de oxigênio. Como resultado da fermentação,
obtemos dióxido de carbono e álcool.
Fonte: Designua/Shutterstock
 Esquema simplificado de como ocorre o processo de fermentação (Figura 2.3).
Inúmeros produtos podem aproveitar esses subprodutos da fermentação e estão presentes
diariamente em nossa rotina, seja no pão que comemos no café da manhã, seja no vinho para
ocasiões especiais.
Fonte: Zagorulko Inka/Shutterstock
Os pães crescem a partir da fermentação das leveduras que geram gases.

Fonte: Radoslaw/Shutterstock
Suco de uva passando pelo processo de fermentação, em que há a produção de dióxido de
carbono e álcool.
Na indústria de laticínios, o gênero Penicillium desempenha papel importante na maturação de
queijos, como gorgonzola, roquefort e camembert, agregando sabores e texturas. Outra
atividade dos fungos está relacionada à indústria de bebidas alcoólicas, seja na produção das
bebidas alcoólicas destiladas (cachaça, rum, conhaque, uísque), seja nas que não são
destiladas (cerveja e vinho).
Agora, para compreender melhor a relação entre os fungos e a produção de cerveja, assista ao
vídeo a seguir.
Outros produtos surpreendentes em que o fungo está presente no nosso dia a dia são os
refrigerantes e as bebidas industrializadas, por meio do ácido cítrico. Ao contrário do senso
comum, que acredita que o ácido cítrico vem das frutas cítricas, obter esse ácido das frutas é
muito mais caro do que obtê-lo dos fungos. Então, praticamente todo refrigerante produzido em
larga escala é feito com ácido cítrico proveniente da fermentação de cultivos de Aspergillus
niger.
Fonte: Vintage Tone/Shutterstock
O ácido presente nos refrigerantes é proveniente dos fungos, e não das frutas cítricas.
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Fonte: OneMashi/Shutterstock
Cultura de Aspergillus niger em placa de Petri.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AS ASSOCIAÇÕES MICORRÍZICAS ENTRE FUNGOS E PLANTAS
TRAZEM BENEFÍCIOS PARA AMBOS. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS
MOLÉCULAS TROCADAS ENTRE ESSES DOIS ORGANISMOS E QUAIS
OS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS?
A) As plantas fornecem água e glicose para os fungos, e eles retribuem com oxigênio e
minerais, diminuindo o tempo de produção das frutas.
B) Os fungos fornecem minerais e água, e a agricultura se beneficia com a diminuição de
árvores sem fruto.
C) Os fungos se beneficiam recebendo a clorofila das plantas e devolvem gás carbônico. Na
agricultura, há aumento de produção.
D) Plantas e fungos trocam sais minerais, água e carboidratos, e pode haver aumento na
produção agrícola quando associados.
2. O IMPACTO ECONÔMICO DOS FUNGOS ESTÁ RELACIONADO,
PRINCIPALMENTE, À VERSATILIDADE DE MOLÉCULAS QUE ESSES
ORGANISMOS PRODUZEM. QUAL DAS AFIRMATIVAS A SEGUIR ESTÁ
CORRETA A RESPEITO DA OBTENÇÃO DAS MOLÉCULAS BIOATIVAS
DOS FUNGOS?
A) Os compostos bioativos são obtidos com técnicas de aquecimento e resfriamento.
B) Como os fungos secretam as enzimas, elas podem ser coletadas no próprio meio de cultura.
C) Os metabólitos fúngicos de interesse industrial são recuperados dos micélios por meio da
agitação e do posterior congelamento.
D) Após o crescimento fúngico, são aplicadas técnicas de extração de enzimas por meio do
rompimento celular.
GABARITO
1. As associações micorrízicas entre fungos e plantas trazem benefícios para ambos.
Quais são as principais moléculas trocadas entre esses dois organismos e quais os
benefícios econômicos?
A alternativa "D " está correta.
Os fungos fornecem minerais e água para as plantas, enquanto as plantas retribuem com
carboidratos e oxigênio, favorecendo o aumento da produção agrícola.
2. O impacto econômico dos fungos está relacionado, principalmente, à versatilidade de
moléculas que esses organismos produzem. Qual das afirmativas a seguir está correta a
respeito da obtenção das moléculas bioativas dos fungos?
A alternativa "B " está correta.
Devido à forma de nutrição dos fungos, eles secretam suas enzimas facilitando a obtenção
delas sem a necessidade de técnicas adicionais de extração.
MÓDULO 3
 Descrever as principais características dos fungos venenosos
INTRODUÇÃO
Como vimos anteriormente, os fungos podem apresentar diversas vantagens ecológicas e
econômicas. Entretanto, como sempre existem dois lados, não seria diferente com os fungos.
Por isso, apesar de alguns serem comestíveis e trazerem benefícios a quem os consome,
outros fungos macroscópicos são altamente tóxicos e nocivos para humanos e animais.
Assim como ocorre com as plantas, há milhares de espécies de cogumelos descritas como
comestíveis, porém uma dezenas delas produzem substâncias alucinógenas ou, ainda, toxinas
letais. Aprender a identificá-las é extremamente importante, pois muitas se confundem com os
fungos comestíveis.
Afinal, como diferenciamos os cogumelos comestíveis dos cogumelos tóxicos?
Fonte: Robert Kneschke/Shutterstock
 Diferenciar os cogumelos comestíveis dos venenosos
não é uma tarefa simples.
A resposta a essa pergunta não é tão simples assim, pois não existe uma característica
única que diferencie facilmente os cogumelos não tóxicos dos tóxicos. Tampouco existem
testes caseiros ou de fácil execução para diferenciá-los. Por isso, é extremamente importante
evitar o consumo de cogumelos encontrados na natureza.
 ATENÇÃO
O consumo de cogumelos encontrados na natureza tem grandes riscos, e uma falha na
identificação pode ser fatal. Então, mesmo que você se sinta encorajado após esta aula, dê
preferência aos cogumelos vendidos comercialmente.
O consumo de cogumelos silvestres pode trazer sérios riscos à saúde por causa da ação dos
compostos tóxicos ou alucinógenos. No Rio Grande do Sul, o Centro de InformaçãoToxicológica registrou, no período de 2005 a 2019, mais de 100 casos de intoxicação
ocasionada por cogumelos venenosos. As vítimas foram pessoas que os confundiram com
cogumelos comestíveis ou que ingeriram cogumelos alucinógenos de maneira proposital para
fins recreativos.
O vídeo a seguir apresentará mais detalhadamente a anatomia dos cogumelos.
Fonte: jpreat/Shutterstck
Fonte: aficons/Shutterstock
 Não coma cogumelos silvestres em hipótese alguma.
AS TOXINAS PRESENTES NOS
COGUMELOS VENENOSOS
Antes de saber quais são os cogumelos venenosos e suas características, precisamos
entender o que os torna tão nocivos e os mecanismos de ação das principais toxinas já
descritas, lembrando que ainda há muitas lacunas a respeito desse assunto.
A toxicidade presente no grupo dos cogumelos venenosos pode variar de acordo com o gênero
ou a espécie, assim como o tipo de toxina encontrada. Os quadros clínicos que ocorrem após a
intoxicação por esses cogumelos são associados diretamente ao tipo de toxina presente neles
e ao seu mecanismo de ação.
Os principais grupos de toxinas que podem ser encontrados em cogumelos venenosos são:
ciclopeptídeos (amatoxinas, falotoxinas e virotoxinas); giromitrina; orelanina; muscarina;
psilocibina; muscimol e ácido ibotênico; coprine; nefrotoxinas (norleucina); miotoxinas;
toxinas imunoativas; toxinas hemolíticas e irritantes gastrointestinais. Abordaremos mais
detalhadamente as toxinas de relevante importância na literatura.
AMATOXINAS
Estas toxinas são termoestáveis, o que significa que elas mantêm sua estrutura tridimensional
mesmo em altas temperaturas. Essa propriedade, associada à sua solubilidade em água, torna
essas toxinas excepcionalmente tóxicas. Outro fator que faz essa toxina ser tão potente é a
resistência à hidrolização enzimática; portanto, quando ingerida, suas funções permanecem
intactas, mesmo entrando em contato com as enzimas e os ácidos digestivos.
Fonte: Wikipedia
 Estrutura molecular genérica das amatoxinas.
Um caso fatal foi relatado após o consumo de um cogumelo produtor de amatoxina congelado
durante cerca de oito meses, demonstrando que esses compostos também resistem aos
processos de congelamento/descongelamento. Além disso, as amatoxinas se decompõem
muito lentamente quando armazenadas em soluções aquosas abertas ou após exposição
prolongada ao sol ou à luz neon, mostrando mais uma vez como esses compostos são
resistentes à degradação e a uma possível perda de função.
Existem variações significativas intra e interespecíficas que determinam a concentração de
amatoxinas nos cogumelos, por isso não é possível prever os efeitos tóxicos com base na
quantidade de cogumelos consumidos. Essas toxinas são octapeptídeos bicíclicos, formando
pelo menos nove compostos diferentes: α-amanitina, β-amanitina, γ-amanitina, ε-amanitina,
amanina, amaninamida, amanulina, ácido amanulínico e proamanulina.
Os principais estudos toxicológicos concentraram-se nos α- e β-amanitina. O mecanismo de
ação dessa toxina está relacionado a sua capacidade de inibir a enzima RNA polimerase, que
participa de processos fundamentais na síntese de proteínas e, consequentemente, no
metabolismo celular, causando a morte celular e o dano tecidual.
Fonte: Emily frost/Shutterstock
 O fígado é um dos primeiros órgãos a
sentir os efeitos das amatoxinas.
Após a ingestão, as amatoxinas são rapidamente eliminadas do sangue e distribuídas para o
fígado e os rins e não se ligam à albumina. O fígado é o principal órgão alvo da toxicidade
dessas moléculas, e os efeitos hepatocelulares representam a manifestação mais letal e
menos tratável dessa intoxicação. Isso é atribuído à absorção gastrointestinal das amatoxinas,
por isso o fígado é o primeiro órgão a entrar em contato com grande quantidade dessas
toxinas.
As amatoxinas não são metabolizadas e são excretadas em grandes quantidades na urina nos
primeiros dias após a ingestão, ocorrendo a excreção máxima nas primeiras 72 horas. Uma
pequena quantidade pode ser eliminada na bile e pode ser reabsorvida pela circulação entero-
hepática, o que prolonga a carga das toxinas no corpo e os sintomas associados.
FALOTOXINAS
As falotoxinas são heptapeptídeos bicíclicos muito semelhantes às amatoxinas. Esse grupo de
toxinas é composto por sete tipos distintos: faloidina, profaloína, faloína, falisina, falacidina,
falacina e falisacina.
Fonte: Wikipedia
 Estrutura molecular da falotoxina.
A faloidina foi o primeiro peptídeo isolado desse grupo. A toxicidade desta molécula está
associada à via de administração, já que foi comprovado que ela não é absorvida pelo trato
gastrointestinal, logo não é tóxica para mamíferos quando é ingerida. Em estudos laboratoriais,
foi possível induzir a toxicidade pela administração intraperitoneal, mostrando efeitos tóxicos
para o fígado.
O mecanismo de ação das falotoxinas está relacionado à sua capacidade de interagir com a
actina e, assim, desestabilizar a ligação entre os monômeros de actina, evitando a
despolimerização dos microfilamentos, perturbando o funcionamento do citoesqueleto e
ocasionando o colapso celular. Apesar de se conhecer o mecanismo de ação, acredita-se que
essas toxinas não têm tanto valor toxicológico para os humanos devido à inabilidade de serem
nocivas pela ingestão.
VIROTOXINAS
As virotoxinas são peptídeos tóxicos monocíclicos formados por pelo menos cinco compostos
diferentes: alaviroidina, viroisina, desoxoviroisina, viridina e desoxoviroidina. A estrutura e a
atividade biológica das virotoxinas são semelhantes às das falotoxinas, sugerindo que as
virotoxinas são derivadas biossinteticamente das falotoxinas ou compartilham vias precursoras
comuns. O mecanismo de ação também é semelhante ao das falotoxinas, interagindo com a
actina, desestabilizando a estrutura celular e, consequentemente, causando danos teciduais.
 VOCÊ SABIA
Esse grupo de toxinas tem uma estrutura mais flexível quando comparado às falotoxinas, e a
presença de dois grupos hidroxila a mais pode fornecer uma reatividade diferente, apesar de
os efeitos serem semelhantes. O papel das virotoxinas na toxicidade humana permanece
obscuro; devido à sua má absorção oral, pouca importância clínica é dada a essa classe de
toxinas.
Fonte: Wikipedia
 Estrutura molecular da orelanina.
ORELANINA
Essa toxina é um N-dióxido de bipiridina altamente nefrotóxico. O mecanismo de toxicidade
ainda não foi totalmente compreendido. O que se sabe é que a orelanina inibe a síntese de
macromoléculas, como proteínas, RNA e DNA; promove inibição não competitiva da atividade
da fosfatase alcalina, g-glutamil transpeptidase e leucina aminopeptidase; interrompe a
produção de adenosina trifosfatase, comprometendo a utilização e reabsorção de peptídeos,
polissacarídeos e outras moléculas.
MUSCARINA
O alcaloide muscarina é um composto quaternário de amônio encontrado em quantidades
clinicamente significativas nos basidiomicetos. Foi isolado pela primeira vez em 1869. O
mecanismo de ação dessa toxina está relacionado à capacidade de estimular receptores
colinérgicos de acetilcolina no sistema nervoso parassimpático, tendo como principais sintomas
náuseas, diarreia, dor abdominal, salivação, lacrimejamento, contração das pupilas, bradicardia
e hipotensão.
Fonte: Wikipedia
 Legenda: Estrutura molecular da muscarina.
Fonte: medicalstocks/Shutterstock
 Funções pelas quais o sistema nervoso parassimpático é responsável.
Esses sintomas geralmente se manifestam rapidamente dentro de duas horas após o
consumo. A ingestão da muscarina juntamente a antidepressivos tricíclicos, por exemplo, pode
causar outros efeitos colaterais, como constipação, boca seca, confusão mental, retenção
urinária e até visão turva. Cerca de 5% das mortes pode ocorrer no período de oito a nove
horas após a ingestão dessa toxina.
Fonte: Wikipedia
 Estrutura molecular da psilocibina.
PSILOCIBINA E PSILOCINA
A psilocibina e seu metabólito desfosforilado ativo, a psilocina,pertencem ao grupo dos
alucinógenos triptamina/indolamina e estão estruturalmente relacionados à serotonina. Ambas
são os principais ingredientes psicodélicos dos cogumelos alucinógenos e, historicamente,
eram utilizadas em rituais religiosos há mais de 3 mil anos no México. Em alguns grupos
étnicos, essa prática persiste até os dias atuais.
A psilocibina é rapidamente desfosforilada em psilocina na mucosa intestinal pela fosfatase
alcalina e esterase não específica. É a psilocina que atua nos neurônios serotonérgicos do
sistema nervoso central e causa efeitos parecidos aos do ácido lisérgico, que é a substância
alucinógena popularmente conhecida como LSD.
Apesar dos seus efeitos alucinógenos, tem baixa toxicidade associada e não causa vícios
físicos, sendo relativamente segura para a saúde. Embora cientificamente segura, as
características individuais podem influenciar os resultados após seu consumo.
FUNGOS VENENOSOS
Alguns fungos venenosos podem ser letais em pequenas porções, outros somente são tóxicos
se ingeridos com bebidas alcoólicas. Além disso, existem cogumelos com efeitos alucinógenos.
Ao contrário do senso comum, o cozimento, o congelamento ou outro tipo de processamento
não elimina os efeitos nocivos, pois, como vimos, algumas das toxinas dos cogumelos são bem
resistentes às modificações físicas ou químicas.
 ATENÇÃO
As toxinas podem ter ação neurotóxica, nefrotóxica ou hepatotóxica, além de poderem causar
alergias ou problemas gastrointestinais, dependendo da quantidade ingerida e da espécie
fúngica.
Abordaremos, a seguir, as principais características de alguns cogumelos venenosos
encontrados no mundo e no Brasil.
GÊNERO AMANITA
Os basidiomicetos do gênero Amanita, pertencente à família Amanitaceae, apresentam cerca
de 500 espécies, e 90% dos casos de envenenamento ocorrem por causa da ingestão de
cogumelos desse grupo. Esse é o gênero mais popularmente conhecido entre os cogumelos,
pois inspirou alguns jogos de video game e filmes.
Fonte: iwciagr/Shutterstock
Cogumelo Amanita excelsa, exemplo da família Amanitaceae.
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Fonte: marysuperstudio/Shutterstock
Personagens e elementos de jogos de video game inspirados na família Amanitaceae.
Porém, sua fama não se deve somente à inspiração na “cultura POP” ou ao fato de algumas
espécies serem comestíveis. Na verdade, ele é famoso porque algumas espécies desse
gênero figurarem entre os cogumelos mais venenosos do mundo.
O gênero Amanita é comumente encontrado na Ásia, América do Norte e Europa, porém
algumas espécies desse gênero já foram documentadas aqui no Brasil, principalmente na
região sul. Em São Paulo, esse cogumelo já foi encontrado associado como micorriza a uma
espécie de pinheiro. Na Amazônia, foram descritas as seguintes espécies: A. campinaranae, A.
coacta, A. craseoderma, A. crebresulcata, A. lanivolva, A. lanivolva e A. sulcatissima.
Também há descrição desse gênero em outros estados, como Paraná, Santa Catarina e
Rondônia. Em Pernambuco, já foram encontrados A. crebresulcata, no bioma Mata Atlântica, A.
lippiae, no semiárido, em áreas de campo rupestre, e A. lilloi crescendo em jardins e gramados,
possivelmente exótico.
A espécie A. muscaria, conhecida por seus efeitos alucinógenos, tem sua origem no Hemisfério
Norte. Pode crescer em condições muito distintas, tanto regiões de altas como de baixas
altitudes, com temperaturas mais baixas, sendo frequentemente achadas em bosques
associadas a coníferas.
Apesar da sua origem, atualmente esse cogumelo pode ser encontrado em outros lugares do
mundo, inclusive no Brasil. Pelo fato de não ser nativo brasileiro, acredita-se que os esporos
dele tenham vindo com a importação de sementes de pinheiros, já que eles são
frequentemente encontrados juntos na natureza.
Fonte: FotoLot/Shutterstock
 Cogumelo Amanita muscaria apresenta coloração vermelha
característica e pontos brancos em seu píleo (Figura 3.1).
As espécies mais letais desse gênero são as A. verna, A. virosa e A. phalloides, porém a última
espécie é considerada a mais fatal do mundo. A. phalloides pode ser encontrada em florestas
próximas a coníferas, nogueiras e carvalhos, e, apesar de ser originária da Europa, já existem
relatos de sua presença na Ásia, Austrália e América.
Fonte: yauhenka/Shutterstock
Amanita verna é um dos cogumelos mais letais, sendo conhecido como “anjo da morte” ou
“anjo branco”.
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Fonte: Wikimedia Commons
O Amanita virosa é conhecido na Europa como “anjo destruidor”, pelo seu potencial tóxico.
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Fonte: el_cigarrito/Shutterstock
Amanita phalloides, também conhecido como cicuta verde, figura entre os mais letais.
Fonte: Wikimedia Commons
 O cogumelo Volvariella volvacea pode ser confundido
com o Amanita phalloides.
A toxicidade dessa espécie está associada à produção de três toxinas: amatoxina, falotoxina e
virotoxina. Os danos causados podem ser tão extensos que o único tratamento possível é o
transplante de fígado. A maioria das mortes ocorre por uma falha na identificação do cogumelo;
o A. phalloides pode ser facilmente confundido com o Volvariella volvacea, que é comestível e
apreciado na culinária.
GÊNERO ENTOLOMA
Os macrofungos do gênero Entoloma (Figura 3.2) têm basidiósporo poliédricos, cuboides e
angulosos que, geralmente, formam facetas. Sua coloração pode variar de tons de rosa a
branco e até tons de marrom. No Brasil, são mais conhecidos nas regiões sul e sudeste. Cerca
de 100 espécies já foram descritas no Paraná; os relatos são concentrados nas áreas de
floresta ombrófila mista e densa. Apesar de algumas espécies desse gênero serem
comestíveis, o E. rhodopolium produz quantidade significativa de muscarina.
Fonte: Wikimedia Commons
 Cogumelo venenoso Entomola rhodopolium; cogumelo pequeno, apresentando
coloração marrom-clara (Figura 3.2).
GÊNERO PANAEOLUS
Os cogumelos Panaeolus spp. são encontrados em todo o mundo e crescem solitariamente em
pilhas de compostagem, gramados, jardins bem fertilizados e, algumas vezes, são vistos
frutificando diretamente do esterco. Seu crescimento ocorre principalmente em lugares com
maior frequência de chuvas. Assim como para os outros cogumelos, o Panaeolus pode ser
encontrando, principalmente, no Sudeste e no Sul do Brasil, porém já houve relatos de serem
encontrados no sul da região centro-oeste.
Nenhum cogumelo desse gênero é comestível, mas, devido a seus efeitos alucinógenos, eles
são frequentemente usados como drogas recreativas e psicodélicas. Esse efeito é justificado
para algumas espécies, pois esses cogumelos possuem psilocibina e outros compostos
psicoativos ainda não identificados.
Fonte: Henri Koskinen/Shutterstock
 Cogumelo alucinógeno do gênero Panaeolus. Pode ser
encontrado em esterco, em lugares com chuvas frequentes (Figura 3.3).
Fonte: Gorbash Varvara/Shutterstock
 Os cogumelos mágicos causam efeitos alucinógenos.
GÊNERO PSILOCYBE
São conhecidos mundialmente como “cogumelos mágicos”, “Carne de Deus”, teonanácatl e, no
Brasil, como cogumelo-do-estrume ou cogumelo-de-chá.
Os macrofungos pertencentes a esse gênero têm uma longa história de uso religioso pelas
culturas indígenas da Mesoamérica e da América do Sul e, atualmente, são usados para fins
recreativos e espirituais. A maioria dos cogumelos dessa espécie habita regiões da América do
Sul e o México, mas podem ser encontrados em outros países, como os Estados Unidos, a
Austrália e o Camboja.
Fonte: Wikimedia Commons
Esculturas evidenciando a presença dos cogumelos nos rituais religiosos dos povos
mesoamericanos.
Fonte: Wikimedia Commons
Região mesoamericana que já utilizava cogumelos alucinógenos para rituais.
Existem cerca de 300 espécies desse gênero e elas crescem em pastos, principalmente no
esterco bovino, nas épocas chuvosas e quentes. Uma característica interessante desse gênero
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é a mudança na coloração quando sofre uma injúria. Após um corte, esse cogumelo se torna
azulado no local da lesão devidoà liberação do ácido pulvínico e de outros compostos.
As principais espécies incluem P. cyanescens, P. mexicana, P. cubensis e P. tampanensis.
No Brasil, a espécie mais prevalente é a P. cubensis, facilmente encontrada após períodos
chuvosos em esterco bovino, e, às vezes, no de outros animais ruminantes.
 ATENÇÃO
Os efeitos alucinógenos dependem do indivíduo, podendo ser: alteração da percepção do tato
e da visão, aumento da sociabilidade e dos pensamentos profundos e abstratos. Porém, em
alguns casos, podem aparecer efeitos indesejados, chamados de “bad trip”, como medo,
ansiedade, confusão mental, desmaios, diminuição dos reflexos e tonturas.
Existem outros cogumelos que apresentam corpos de frutificação muito parecidos ao do
Psilocybe spp. e que podem ser venenosos, como a Galerina autumnalis. A identificação
desses fungos deve ser realizada por especialistas experientes da área para evitar acidentes
por ingestão de cogumelos venenosos.
Algumas vezes, os cogumelos do gênero Psilocybe podem ser confundidos com os cogumelos
venenosos Galerina autumnalis.
 Fonte: Wikimedia Commons
Cogumelos alucinógenos do gênero Psilocybe podem ser encontrados em esterco, em lugares
de clima quente com chuvas frequentes (Figura 3.4).
 Fonte: bonga1965/Shutterstock
Cogumelos do gênero Psilocybe apresentam coloração azulada no ponto onde foram cortados
(Figura 3.5).
 Fonte: Moha El-Jaw/Shutterstock
GÊNERO CONOCYBE
Este gênero engloba mais de 240 espécies; a mais famosa é a Conocybe tenera (Figura 3.6).
Esses cogumelos, de modo geral, apresentam uma estrutura delicada com pedúnculo delgado
e frágil. Podem ser encontrados nas pradarias, sobre ervas mortas e musgo, em dunas de
areia, excrementos de animais e madeira em decomposição.
As espécies desse gênero podem ser confundidas com outras do gênero Galerina e Bolbitius.
As espécies C. cyanopus, C. kuehneriana, C. smithii e C. siligineoides já foram descritas como
produtoras da psilocina e a psilocibina. Os cogumelos C. siligineoides eram usados pelos
mazatecas de Oaxaca/México para fins ritualísticos. Já o C. filaris produz toxinas letais, como o
Amanita phalloides, e pode ser encontrado em relvados.
Fonte: NK-55/Shutterstock
 Cogumelos Conocybe tenera são os mais conhecidos
desse gênero (Figura 3.6).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. OS COGUMELOS VENENOSOS PODEM APRESENTAR GRANDES
RISCOS À SAÚDE DEVIDO À PRODUÇÃO DE COMPOSTOS COM OS MAIS
VARIADOS EFEITOS TÓXICOS OU ALUCINÓGENOS. SOBRE AS
TOXINAS, É INCORRETO AFIRMAR QUE:
A) Não é possível eliminar os efeitos tóxicos dos cogumelos venenosos, mesmo cozinhando-os
ou congelando-os.
B) Algumas toxinas, apesar de apresentarem toxicidade, não têm relevância clínica, pois não
são absorvidas pelo trato gastrointestinal.
C) Todas as toxinas e suas ações estão descritas e categorizadas, sendo possível prever os
efeitos com base na quantidade e na espécie do cogumelo ingerido.
D) A amatoxina, principalmente a α- e β-amanitina, é a toxina mais conhecida e estudada e
está presente em muitos cogumelos letais.
2. INÚMERAS ESPÉCIES DE COGUMELO JÁ FORAM DESCRITAS COMO
VENENOSAS E POTENCIALMENTE LETAIS, ENQUANTO OUTRAS SÃO
CONHECIDAS POR SUAS CARACTERÍSTICAS ALUCINÓGENAS. QUAIS
DESSES FUNGOS E TOXINAS TÊM EFEITOS LETAIS E ALUCINÓGENOS,
RESPECTIVAMENTE?
A) Amanita phalloides/amatoxina e Psilocybe cubensis/psilocibina.
B) Panaleous spp./falotoxina e Amanita verna/virotoxina.
C) Psilocybe cubensis/psilocibina e Amanita muscaria/muscarina.
D) Entomola spp./orelanina e Amanita phalloides/falotoxina.
GABARITO
1. Os cogumelos venenosos podem apresentar grandes riscos à saúde devido à
produção de compostos com os mais variados efeitos tóxicos ou alucinógenos. Sobre
as toxinas, é incorreto afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
A descrição e a caracterização das toxinas dos cogumelos venenosos continuam com lacunas
importantes e, por isso, ainda não conhecemos todos os efeitos relacionados a elas. Além
disso, o tipo de toxina e a quantidade que cada macrofungo pode ter são individuais, então não
é possível prever os possíveis efeitos ou a letalidade dele com base no quanto foi ingerido.
2. Inúmeras espécies de cogumelo já foram descritas como venenosas e potencialmente
letais, enquanto outras são conhecidas por suas características alucinógenas. Quais
desses fungos e toxinas têm efeitos letais e alucinógenos, respectivamente?
A alternativa "A " está correta.
A Amanita phalloides apresenta grande concentração de amatoxina, tornando esse cogumelo
um dos mais letais do mundo. Já o cogumelo Psilocybe cubensis produz a psilocibina, que tem
efeitos alucinógenos.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje, conhecemos os organismos que pertencem ao reino Fungi e suas características
morfofisiológicas, que os tornam seres únicos. Sejam as leveduras, sejam os bolores
(filamentosos), sejam os cogumelos, todos apresentam grande importância ecológica como
decompositores de matéria orgânica ou então nas associações mutualísticas com as plantas.
O seu uso culinário ou na fabricação de alimentos está consolidado há séculos, e os avanços
biotecnológicos somente expandem as possibilidades da utilização dos fungos. Mais
recentemente, o potencial terapêutico desses organismos começou a ser investigado e, hoje
em dia, já vemos inúmeros medicamentos que são feitos a partir de suas moléculas.
Como nem tudo na vida são flores, os cogumelos venenosos nos mostram que devemos ter
muito cuidado mesmo com estruturas tão pequenas e aparentemente inofensivas. Por isso,
nunca menospreze o poder letal de um pequeno cogumelo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
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