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em Rádio e TV Prof. Arnaldo Zimmermann Prof.a Sônia Aparecida Zardenunes TeoRia e Técnica Indaial – 2021 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof. Arnaldo Zimmermann Prof.a Sônia Aparecida Zardenunes Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Z73t Zimmermann, Arnaldo Teoria e técnica em rádio e TV. / Arnaldo Zimmermann; Sônia Aparecida Zardenunes. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 191 p.; il. ISBN 978-65-5663-516-3 ISBN Digital 978-65-5663-517-0 1. Linguagem cinematográfica. - Brasil. I. Zardenunes, Sônia Aparecida. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 600 Caro acadêmico, é importante que possamos compreender e aprofundar o conhecimento acerca das teorias e das técnicas voltadas ao rádio, à TV, ao áudio e ao vídeo na cultura midiática contemporânea. Para isso, é necessário que o estudante conheça os conceitos a respeito do meio do rádio, das principais técnicas e da evolução da mídia sonora. Conhecer a linguagem cinematográfica e a cultura audiovisual na contempora- neidade é fundamental para avançar nos conhecimentos da produção publicitária para a TV. Neste livro-texto, você terá a oportunidade de desbravar as tecnologias e as linguagens para áudio e vídeo. Estamos em uma era na qual sons e imagens são compartilhados e consumidos com frequência na palma da mão, onde as pessoas desejarem. A cultura do com e das imagens em movimento, soberana no século 20, retorna nos tempos atuais, através do avanço das tecnologias, mas sem perder, na totalidade, a essência original. Para isso, oportunizaremos, neste livro, seu domínio acerca desse universo, que avança cada vez mais desafiador para os profissionais de comunicação nesta etapa do século 21. Desejamos, a você, bons estudos! Prof. Arnaldo Zimmermann Prof.a Sônia Aparecida Zardenunes APRESENTAÇÃO GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — RÁDIO: CONCEITOS, TÉCNICAS E EVOLUÇÃO SONORA .................1 TÓPICO 1 — TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS E NARRATIVAS RADIOFÔNICAS ................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 BREVE HISTÓRICO DO RÁDIO NO BRASIL ......................................................... 3 3 EVOLUÇÃO TÉCNICA E ADAPTAÇÕES NA LINGUAGEM RADIOFÔNICA ........... 6 4 PRESENTE E FUTURO: DA MIGRAÇÃO DO FM AO DIGITAL ...............................8 5 O RÁDIO NA INTERNET .......................................................................................11 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE ................................................................................................... 16 TÓPICO 2 — ESTRUTURAS NARRATIVAS NO RÁDIO .......................................... 19 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19 2 CARACTERÍSTICAS DO MEIO ............................................................................ 19 3 ELEMENTOS DA LINGUAGEM RADIOFÔNICA ................................................... 21 4 PRODUÇÃO E EDIÇÃO EM ÁUDIO ......................................................................26 5 PODCAST: ESTRUTURA NARRATIVA CONTEMPORÂNEA ...............................29 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................34 TÓPICO 3 — GÊNEROS RADIOFÔNICOS E FORMATOS PUBLICITÁRIOS ............ 37 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 37 2 GÊNEROS RADIOFÔNICOS ................................................................................ 37 3 GÊNEROS E FORMATOS PUBLICITÁRIOS NO RÁDIO .......................................39 4 AO VIVO X GRAVADO: CONCEITOS DO RÁDIO CONTEMPORÂNEO ................ 44 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................50 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................53 TÓPICO 4 — GESTÃO DA PUBLICIDADE RADIOFÔNICA .....................................55 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................55 2 OBJETIVOS PUBLICITÁRIOS DO ANÚNCIO RADIOFÔNICO.............................55 3 O FORMATO DE ANÚNCIO PARA CADATIPO DE CAMPANHA ......................... 57 4 PROGRAMAÇÃO RADIOFÔNICA ........................................................................58 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 61 RESUMO DO TÓPICO 4 ..........................................................................................63 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................65 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 67 UNIDADE 2 — CINEMA E AUDIOVISUAL ................................................................71 TÓPICO 1 — LINGUAGEM AUDIOVISUAL .............................................................. 73 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 73 2 DO CINEMA AO VÍDEO ........................................................................................ 74 3 A LINGUAGEM AUDIOVISUAL E O ROTEIRO ................................................... 84 4 A EQUIPE DE PRODUÇÃO E A DIREÇÃO ............................................................88 5 FASES DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ..............................................................89 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................92 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................93 TÓPICO 2 — GÊNEROS AUDIOVISUAIS ................................................................95 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................95 2 EXPLANAÇÃO ....................................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................100 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 101 TÓPICO 3 — A IMAGEM AUDIOVISUAL ...............................................................103 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................103 2 EXPLANAÇÃO ..................................................................................................103 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................108 AUTOATIVIDADE .................................................................................................109 TÓPICO 4 — A CULTURA AUDIOVISUAL CONTEMPORÂNEA ............................. 111 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 111 2 EXPLANAÇÃO ................................................................................................... 111 3 A CÂMERA CONSTRUINDO O OLHAR .............................................................. 114 4 PÓS-PRODUÇÃO E RECEPÇÃO EM DIFERENTES MEIOS ..............................124 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................128 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................ 129 AUTOATIVIDADE .................................................................................................130 REFERÊNCIAS .....................................................................................................133 UNIDADE 3 — TÉCNICAS DE PRODUÇÃO PUBLICITÁRIA PARA A TV .............. 135 TÓPICO 1 — EQUIPAMENTOS E TÉCNICAS DE PRODUÇÃO .............................. 137 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 137 2 PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO DE VÍDEO ..................................................138 3 EQUIPAMENTOS DE CAPTAÇÃO DE VÍDEO ....................................................144 4 ILUMINAÇÃO ....................................................................................................148 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 156 TÓPICO 2 — EDIÇÃO EM VÍDEO .......................................................................... 157 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 157 2 A HISTÓRIA DA MONTAGEM ............................................................................ 157 3 PRINCÍPIOS DA MONTAGEM.............................................................................161 4 O SOM NO AUDIOVISUAL ................................................................................. 162 5 O SOFTWARE DE EDIÇÃO DE VÍDEO ............................................................... 165 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................168 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 169 TÓPICO 3 — NOVAS TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ..................171 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................171 2 EXPLANAÇÃO ...................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................ 178 AUTOATIVIDADE ................................................................................................. 179 TÓPICO 4 — PRODUÇÃO DE VÍDEO NA CULTURA DA CONVERGÊNCIA ........... 181 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 181 2 CONVERGÊNCIA EM TODOS OS ASPECTOS, INCLUSIVE, NO AUDIOVISUAL ..... 181 3 DA TV CONVENCIONAL À WEBTV ....................................................................185 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................188 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................189 AUTOATIVIDADE .................................................................................................190 REFERÊNCIAS ......................................................................................................191 1 UNIDADE 1 — RÁDIO: CONCEITOS, TÉCNICAS E EVOLUÇÃO SONORA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • seguir com a formação do profissional pautada nas teorias e nas técnicas da mídia eletrônica; • compreender as técnicas para a produção em rádio e para a produção sonora; • conhecer a estrutura da linguagem radiofônica e dos formatos de arquivos em áudio; • dominar gêneros radiofônicos, formatos de anúncios e objetivos publicitários do anunciante de rádio. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS E NARRATIVAS RADIOFÔNICAS TÓPICO 2 – ESTRUTURAS NARRATIVAS NO RÁDIO TÓPICO 3 – GÊNEROS RADIOFÔNICOS E FORMATOS PUBLICITÁRIOS TÓPICO 4 – GESTÃO DA PUBLICIDADE RADIOFÔNICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 TRANSFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS E NARRATIVAS RADIOFÔNICAS TÓPICO 1 — UNIDADE 1 2 BREVE HISTÓRICO DO RÁDIO NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos as transformações pelas quais o rádio passou desde a implantação no Brasil até as perspectivas atuais. Primeiramente,apresentaremos um breve histórico do rádio, das primeiras transmissões, fase por fase, até o tempo presente. Em seguida, abordaremos, de forma resumida, o impacto das tecnologias na linguagem radiofônica e a simultaneidade entre esses dois fatores. Já na sequência, passaremos pelo início do processo de digitalização, ainda na ótica da evolução tecnológica, e, logo após, trataremos da evolução do próprio meio com a chegada da internet. Boa leitura! De acordo com Ferraretto (2014), a primeira entidade no Brasil a reunir aficionados pelas possibilidades da transmissão de mensagens por ondas eletromagnéticas surgiu no Recife, Pernambuco, em 6 de abril de 1919, quando foi fundado o “Rádio Clube de Pernambuco”. Assim, a iniciativa deixou dúvidas, ao longo da história, acerca da emissora pioneira do país. Até recentemente, o marco inicial do rádio brasileiro vinha sendo considerado o dia 7 de setembro de 1922, com a transmissão experimental no morro do Corcovado, Rio de Janeiro, pelo então presidente Epitácio Pessoa, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A emissora, no entanto, só entraria em definitivo, no ar, a partir do ano seguinte, em 1923. A dúvida acerca do pioneirismo, segundo Ferraretto (2014), reside na questão de quem transmitiu, antes, o conteúdo sonoro, com conversação, conferências, debates, música etc., mas em uma perspectiva ponto-massa com determinada frequência. Apesar do debate a respeito do pioneirismo, a década de 1920 foi um período de precariedade nas transmissões do rádio brasileiro. Nesse período, chamado, também, de “Rádio Pioneiro”, só uma elite falava, com uma comunicação de uns para poucos. 4 O iniciante rádio brasileiro não conseguia promover emissões mais frequentes, que ocupassem boa parte das 24 horas do dia ou, pelo menos, que fossem diárias. Nos primórdios, as emissoras chegavam a fazer alternância dos dias em que entravam no ar, de segunda- feira a sábado, porque, no domingo, o rádio se calava mesmo, não apresentando qualquer programação (ZUCULOTO, 2012, p. 42). O rádio pioneiro era, também, chamado de “rádio educativo”, mas, na prática, não atingia objetivos pedagógicos, mas culturais, com música erudita. Com a programação elitista, o novo meio esbarrava no problema de não conseguir sobreviver apenas de mensalidades, que eram pagas pelos “associados”. Em 1932, então, surgiu o Decreto Nacional n° 21.111, que autorizava a veiculação da publicidade, fazendo com que o rádio pudesse manter a estrutura com recursos próprios (ORTRIWANO, 1985). Em 1932, surgia o “Programa Casé”, de Ademar Casé, na rádio Philips, que virou um marco na radiofonia. Casé introduziu a música em background (BG) durante a locução, evitando as longas pausas de silêncio na programação entre uma atração e outra, e gerando mais atenção do ouvinte (TAVARES, 1999). A partir dos serviços de redatores, de letristas e de agenciadores de propaganda, o rádio da década de 1930 passa a apresentar uma imagem sonora profissional. Com a chegada dos anúncios publicitários, o rádio se transformava: “a introdução de mensagens comerciais transfigura imediatamente o rádio: o que era erudito, educativo, cultural passa a se transformar em popular, voltado ao lazer e à diversão” (ORTRIWANO, 1985, p. 15). Os jingles, anúncios cantados, também surgiram no rádio brasileiro na década de 1930, e revolucionaram a propaganda radiofônica (TAVARES, 1999). O primeiro jingle do rádio brasileiro foi o anúncio cantado para a Padaria Bragança, criado por Antônio Nássara e produzido para o Programa do Casé, na Rádio Philips, em 1932, com a seguinte letra: “Oh, padeiro desta rua, tenha sempre na lembrança. não me traga outro pão que não seja o pão Bragança. Pão inimigo da fome. Fome inimiga do pão. Enquanto os dois não se matam, a gente fica na mão. De noite, quando me deito e faço a oração, peço, com todo o respeito, que nunca me falte o pão”. 5 O jingle da Padaria Bragança, na voz do cantor e compositor Antônio Nássara, pode ser acessado em https://www.youtube.com/watch?v=hpZ_O1hrv98. DICA Antes de se profissionalizarem, os jingles eram, na maioria, paródias de músicas de sucesso, justamente pela linguagem direta e pelas rimas simplificadas. A fase seguinte do rádio brasileiro foi chamada de “Rádio Espetáculo”, no período aproximado entre o final da década de 1930 e meados da década de 1950. Nesse período, a programação passa a se assemelhar à dos EUA. Surgem as radionovelas, os programas de auditório e os programas humorísticos, todos fazendo jus ao termo “espetáculo”, que, mais tarde, seriam transpostos para a televisão. A performance das vozes de atores e de atrizes nas produções (muitas emitidas ao vivo) inspirou a produção de muitos spots radiofônicos, baseados na técnica narrativa da dramatização. As cantoras do rádio também inspiraram novas criações em jingles. Em 1941, nasceu o radiojornalismo no Brasil, com o “Repórter Esso”, o noticiário mais famoso da história brasileira, que durou até 1968. Até então a notícia no rádio só existia de forma improvisada e amadora. Segundo Zuculoto (2012, p. 49), a notícia era “transposta diretamente dos jornais impressos para os jornais falados das ondas do rádio, sem técnicas de produção que usavam a especificidade do meio, principalmente, características, como o imediatismo e a mobilidade”. Na chamada “Era da TV”, ou “Pós-televisão”, a partir de meados da década de 1950, o rádio perde a força dos grandes espetáculos, transferidos para o novo meio. Na reinvenção técnica, os aparelhos radiofônicos passam a ser transistorizados, dando mais mobilidade ao ouvinte. Antes do transistor, os rádios eram grandes e pesados aparelhos que, normalmente, ficavam na sala de estar das residências, reunindo as famílias para a programação noturna. Com a mobilidade em aparelhos menores, a audiência passou a ser diurna, no automóvel, na cozinha, no trabalho e em vários lugares. A troca de auditórios, na programação, por locutores, em estúdios pequenos, transformou o rádio em musical, aproveitando-se da era do rock’n roll e da integração do consumo internacional, segundo Tavares (1999). Apesar de ser considerada a primeira emissora em Frequência Modulada (FM) do país, em 1955, a Rádio Imprensa do Rio de Janeiro acabou sendo um embrião do que viria a ser o rádio FM, a partir dos anos 1970 (TAVARES, 1999). O público jovem foi o primeiro a se identificar com força no FM, abrindo uma nova era do rádio, a existência simultânea do AM com o FM, e a segmentação de públicos e de mercados. 6 A partir da década de 1990, o rádio passaria para o modelo atual, com as primeiras emissoras operando em rede via satélite; emissoras web; digitalização de equipamentos, como Compact Disc (CDs); formatos digitais de áudio, como Wave e MP3; até a chegada da gradual migração do rádio AM para FM nos últimos anos. 3 EVOLUÇÃO TÉCNICA E ADAPTAÇÕES NA LINGUAGEM RADIOFÔNICA A linguagem radiofônica se transformou, ao longo da história, em compasso semelhante à evolução tecnológica do meio de comunicação. Quando havia dificuldade na captação de sinal, além da baixa qualidade do áudio nas antigas rádios de Ondas Médias (OM), as locuções eram mais pausadas, com vozes fortes e graves, facilitando a compreensão da mensagem. Com a evolução do aparato técnico de transmissão e de recepção, locutores tiveram a oportunidade de realizar emissões mais dinâmicas e sem a exigência anterior de vozes em tons mais graves. A primeira sentença de morte anunciada para o rádio veio na década de 1950, com a chegada da televisão. Com a migração dos principais atrativos radiofônicos para a TV, houve um “forte golpe, com o deslocamento dos maiores atrativos de um meio exclusivamente sonoro para um meio audiovisual” (ZUCULOTO;ZIMMERMANN, 2019, p. 6). Acreditava-se, então, que não existiam chances para o meio com uma forte concorrência de sons e de imagens. A TV “ocupou o primeiro plano entre os meios de comunicação, levando consigo as verbas publicitárias, os profissionais e a audiência” (ORTRIWANO, 1985, p. 82). O rádio, no entanto, conseguiu “driblar a morte”, com a implantação de uma série de novos instrumentos tecnológicos: Terminada a fase de ouro, o rádio encontra, na eletrônica, o maior aliado. Uma série de inovações tecnológicas é, especialmente, favorável ao renascimento do rádio e à transmissão jornalística, como o gravador magnético, o transistor, a frequência modulada e as unidades móveis de transmissão (ORTRIWANO, 2002-2003, p. 76). O transistor permitiu que o aparelho receptor de rádio fosse miniaturizado e portátil, fazendo que a linguagem do meio se transformasse. No jornalismo ao vivo, feito das ruas com equipamentos móveis, repórteres e apresentadores passaram a adotar um tom mais coloquial nas locuções, com ênfase no ao vivo e no improviso (ZUCULOTO; ZIMMERMANN, 2019). 7 As mudanças tecnológicas se refletiram na programação desenvolvida pelos produtores e na linguagem utilizada pelos locutores e pelos apresentadores, segundo Lopez et al. (2015). O consumo, até então, baseado na coletividade familiar, acaba sendo substituído pelo individualismo, pelo diálogo entre o locutor da rádio e o ouvinte, fazendo com que o rádio se tornasse, para os ouvintes, um pano de fundo para a realização de outras atividades (LOPEZ et al., 2015). Com a linguagem do rádio modificada e mais intimista, as narrativas dos anúncios passaram a considerar o ouvinte/consumidor como uma espécie de interlocutor da mensagem. Ao mesmo tempo em que o diálogo entre locutor e ouvinte, de forma individualizada, fortalecia-se, os riscos de fugacidade também aumentavam, devido a uma diminuição da anterior atenção concentrada nos atrativos da programação. “Uma das características fundamentais do meio rádio é [...] a fugacidade” (ORTIZ; MARCHAMALO, 2005, p. 24). No rádio convencional, não dá para voltar atrás, além de ouvir de novo, já que todas as mensagens de transmissão são unicamente sonoras e instantâneas. “O rádio impõe a recepção e a escuta das mensagens no instante preciso da emissão” (ORTIZ; MARCHAMALO, 2005, p. 24). Kaplún (2017) explica a natureza do meio rádio, apresentando as limitações e as possibilidades. • Limitações do rádio: ◦ Unisensorialidade: pode valer-se de um só sentido, a audição. Assim, o ouvinte assume uma voluntária cegueira. Com isso, há o risco de cansaço e de distração. ◦ Ausência do interlocutor: o interlocutor não está no estúdio, mas do outro lado do receptor, e não pode intervir diretamente. Com a unidirecionalidade da mensagem (uma só direção e uma única via), não há a chance de reciprocidade, criando uma situação de dependência do ouvinte diante do emissor. ◦ Fugacidade: a mensagem radiofônica é efêmera, então, não é possível que o ouvinte volte atrás, como ocorre na mensagem escrita. A mensagem radiofônica deve ter redundância. No rádio, só podemos expressar poucas ideias de cada vez, porque, em uma mensagem efêmera, o ouvinte não consegue reter muitas ideias ao mesmo tempo. Se a mensagem não for repetida adequadamente, há o risco de não ser captada e retida, devido à monotonia do ouvinte. ◦ Público condicionado: o público está mais acostumado a ouvir do que a escutar rádio, sendo baixos os níveis de atenção e de concentração às mensagens veiculadas. Se o emissor não conseguir atrair a atenção no início das mensagens e manter o ouvinte atento, certamente, a mensagem toda se perderá e a própria emissora perderá audiência. 8 • Possibilidades do rádio: ◦ Poder de sugestão: se existe a unisensorialidade como limitação, o meio tem, por outro lado, um grande poder de sugestão. A imaginação do ouvinte é facilmente estimulada pelas imagens auditivas. Como, no rádio, o ouvido é o único sentido que o público tem alcance, pode ser impressionado por imagens auditivas que substituem os demais sentidos. Para evitar o cansaço da audiência, a mensagem deve ter uma grande variedade de recursos sonoros, como música, efeitos sonoros, diferentes flexões de voz etc. ◦ Comunicação afetiva: o rádio é mais propício para a palavra-emoção. A perda do sentido auditivo provoca, no ouvinte, uma sensação de incomunicação, bloqueando as possibilidades de vinculação afetiva. O ouvido é o sentido da comunicação, por excelência, mais sensível da esfera afetiva do ser humano. Há riquezas na palavra falada que não são percebidas na palavra escrita, tudo por causa do ritmo, do som e da musicalidade. ◦ Empatia: a capacidade empática do comunicador surge quando o ouvinte está presente na sua mente durante a escrita do texto ou da fala ao microfone. O comunicador deve desenvolver, ao máximo, a capacidade de se colocar no lugar do ouvinte, além de perceber o mundo como ele percebe, sintonizar-se com a sua vida, a sua realidade, o seu universo cultural, e compreender as coisas como ele compreende, falar a sua linguagem. ◦ Relação de identificação: se, por um lado, o ouvinte acompanha a programação de forma distraída e superficial, por outro, o rádio é, também, uma companhia, que estabelece relações que respondem a necessidades culturais e a profundas motivações psicológicas. Quando a pessoa escuta rádio, entram em jogo mecanismos psíquicos fundamentais, como o da identificação com locutores, artistas, programas e outros personagens. Para isso, é preciso saber levar em conta as necessidades do público, para conseguir o interesse da audiência e para gerar identificação. Kaplún (2017) entende que o cruzamento das limitações com as possibilidades do rádio pode gerar mais eficácia na mensagem a ser elaborada e emitida. 4 PRESENTE E FUTURO: DA MIGRAÇÃO DO FM AO DIGITAL O processo de migração de emissoras de rádio em Amplitude Modulada (AM) para Frequência Modulada (FM) iniciou em 2013, com a oficialização pelo Governo Federal (MEDEIROS; PRATA, 2019). Com a melhora da qualidade de som, menos interferência de sinal e grande disponibilidade em aparelhos de som e celulares, o FM, tradicionalmente, atinge um público considerado mais qualificado do ponto de vista mercadológico. 9 Você pode conferir mais a respeito dos rádios AM e FM no Brasil e do processo legal de migração em https://www.abert.org.br/web/ migracao-am.html. DICA O AM reinou sozinho como rádio hertziano, praticamente, pela metade de todo o tempo da história radiofônica no Brasil. A implantação do meio veio via rádio AM, que, segundo Farias e Zuculoto (2017, p. 4), era uma verdadeira revolução tecnológica da época: “o percurso do rádio AM, até a implantação do FM, confunde-se com a própria história do meio no Brasil. Nas primeiras fases, a transmissão radiofônica foi predominante por modulação em Amplitude Modulada”. Com o início da popularização do FM na década de 1970, o estilo de programação desse novo espectro era baseado, primeiramente, na música-ambiente, e, mais tarde, nos sucessos da música pop, atingindo o público jovem. Ao invés de virar um concorrente, o FM, na verdade, ajudou o AM a buscar uma identificação entre a programação e o público. O estilo popular da prestação de serviço e a ampliação do jornalismo, inclusive, do esportivo, ganharam destaque nas emissoras de Amplitude Modulada, mantendo, até nos dias atuais, um estilo semelhante, com um rádio muito mais falado, conversado, ao vivo, explorando mais as características de imediatismo, instantaneidade, portabilidade etc., que tão bem se adequam à produção e à veiculação da informação jornalística (FARIAS; ZUCULOTO, 2017, p. 6). Enquanto isso, o FM sevocacionava, dirigido a públicos mais próximos às classes A e B, com algumas das emissoras optando por músicas suaves no formato musical adulto qualificado e, as outras, mais voltadas ao formato musical jovem qualificado. “Mais do que uma novidade tecnológica, a FM revolucionou o rádio brasileiro ao conquistar o público jovem pelo novo estilo de programação” (DEL BIANCO, 1999, p. 191). A partir da década de 1990, o rádio FM aderiu, com mais velocidade, em relação ao AM, à onda de transmissões via satélite. Com redução de custos para emissoras locais, otimizando a centralização de produção e a programação nas emissoras cabeça- A alteração no perfil do público faz com que sejam alteradas, também, as formas de produção, conforme Medeiros e Prata (2019), quando as novas FMs, muitas vezes, acabam abandonando a antiga programação, mais voltada a comunidades periféricas para um conteúdo mais urbano. 10 de-rede, o modelo virou a melhor opção para o FM, pelo fato de depender menos do conteúdo local e de poder lançar, mais rapidamente, no ar, músicas de sucesso contemporâneo, além de outros atrativos vindos dos grandes centros urbanos do país. A formação de rede representa, hoje, o resgate do rádio como grande vendedor nacional. Com a rede, os radiodifusores estão atendendo a uma das principais reclamações das agências e dos anunciantes: a confiabilidade na veiculação dos comerciais nos horários exatos, fornecidos pelo computador, além da agilidade, pois o material é gerado por satélite às filiadas (DEL BIANCO, 1999, p. 197). Na verdade, a formação de rede facilitou, também, o grande anunciante nacional e a agência de propaganda, pois, com uma única autorização de mídia, conseguia veicular o anúncio em escala nacional, semelhante à prática já utilizada nas TVs. O problema surgiu, segundo Del Bianco (1999), quando anunciantes pretendiam veicular em praças específicas, o que foi resolvido, mais tarde, pelos novos sistemas de geração digital via satélite, da programação e dos blocos comerciais. O anunciado do rádio com transmissão digital acabou não se tornando realidade no Brasil, devido a inúmeros impasses de ordem tecnológica e à indefinição do padrão digital a ser adotado, mas os estúdios já se tornaram digitais a partir da década de 1990. A troca do disco de vinil, primeiramente, pelo Compact Disc (CD), e, depois, pela reprodução no computador em arquivos Wave e mp3, foi uma das mudanças. Ainda, o fim das antigas cartucheiras com fita magnética para Mini-Disc (MD) e, depois, para gravações digitalizadas e reproduzidas no computador, foi uma das principais mudanças, além da grande variedade de softwares de produção e de edição de áudio, que tornaram obsoletos os equipamentos analógicos de estúdio. O que acabou ocorrendo é que, com a demora da definição do padrão digital no país (antes visto como a salvação do rádio e, em especial, do rádio AM), aumentou o desinteresse de empresários em continuarem investindo no rádio de Amplitude Modulada. Farias e Zuculoto (2017) lembram que o AM não está disponível na grande maioria dos novos dispositivos móveis, como celulares e tablets, e nem em muitos dos automóveis. Para abrigar as AMs que desejam migrar para o FM, o espectro tem que ser estendido entre 76 MHz a 107.9 MHz. Essa expansão tem que ocorrer para abrigar a quantidade de frequências das novas FMs que não tiverem espaços livres no espectro atual (FARIAS; ZUCULOTO, 2017). Nesse intervalo, muitas emissoras de AM já obtiveram autorização e migraram para FM, mas, com a solução provisória encontrada com essa fase migratória, a solução, através de um padrão digital, fica mais distante, pelo menos agora. 11 5 O RÁDIO NA INTERNET Com o advento da web na década de 1990, muitas emissoras passaram a criar os próprios sites na internet, disponibilizando, para o público, as informações da emissora, como programação e tabela de preços de anúncios. Com o avanço da tecnologia, algumas iniciaram a transmissão online, oferecendo, simultaneamente, a programação via ondas hertzianas e na rede mundial de computadores. A possibilidade de transmissão do áudio pela web abriu a oportunidade para que muitas iniciativas surgissem de emissoras 100% online, chamadas de “webemissoras” ou “webradios”. De acordo com Prata (2009), a webradio provocou uma mudança que veio a agregar outros elementos, além do som, como imagens, vídeos e interação direta com o ouvinte, ou ouvinte-internauta. A autora cunhou o termo “radiomorfose” para se referir às transformações periódicas que o meio rádio passa de tempos em tempos, como na década de 1950, com a chegada da TV, e, no século 21, com a introdução pela web. Desde a chegada da internet, há uma evolução da presença do rádio na web, inclusive, com mudanças no caráter da reversibilidade da mensagem radiofônica. Até então, era comum ouvir que, no rádio, não dá para voltar atrás, além de ouvir de novo. Com vários arquivos sonoros sendo colocados à disposição do público no site da emissora, como entrevistas, reportagens, quadros de entretenimento etc., o ouvinte-internauta passou a ganhar a opção de poder ouvir o conteúdo preferido no horário de escolha. Com a chegada das redes sociais, o rádio ganhou a oportunidade de estabelecer uma relação mais direta com o público, conversando com o ouvinte em tempo real, uma experiência própria e pioneira do meio desde décadas passadas, utilizando o telefone como mediação. Para Lopez (2010), o rádio nasceu e cresceu naturalmente interativo, desde o tempo dos programas de auditório, depois, com as cartas enviadas à emissora, o uso do telefone no ar de maneira síncrona e, finalmente, via internet, com o envio de e-mails e de mensagens instantâneas. A diferença é que, com a presença da internet na relação com o público, o ouvinte tem as condições de dividir o protagonismo da participação com a emissora. Com as redes sociais, como Facebook e Instagram, e aplicativos de mensagens instantâneas, como WhatsApp, o ouvinte-internauta ganha, também, nuances de “multiplicador de conteúdo”, levando fragmentos da programação até públicos além da área de influência da emissora. Para Kischinhevsky (2016, p. 16), “nesse novo ambiente midiático, o rádio tem se mostrado ágil na associação com mídias sociais, diretórios e portais, em vez de construir estruturas próprias, caras e sem garantia de adesão dos ouvintes”. O autor adverte que “se, por um lado, o rádio saiu na frente, ao se articular com sites de redes sociais, por outro, enfrenta concorrência acirrada e pulverização de audiências” (p. 16-17). 12 Uma das grandes novidades surgidas com a propagação do áudio via internet foi o podcast. Na primeira década desse século, o podcast chegou como um arquivo de áudio para o internauta ouvir pelo computador ou fazer download para ouvir nos tocadores de áudio, como mp3 players. Na década seguinte, os podcasts se popularizaram, variando com muitos gêneros, e atingindo nichos diferentes de público, especialmente, o perfil do jovem urbano. Um dos motivos para a alavancada recente dos podcasts foi o crescimento do uso de dispositivos móveis, como os atuais smartphones, impulsionando, cada vez mais, os hábitos de escuta individualizada. O termo podcast surgiu como um neologismo da união das palavras pod (de tocador de áudio da Apple, o Ipod) com casting, de transmissão (como em broadcasting), segundo Prata (2009). NOTA Os podcasts são arquivos de áudio originados exclusivamente na web, e possuem conteúdo e estrutura variáveis. Bufarah Junior (2017, p. 2) explica que o podcast é um conteúdo em áudio, “produzido e indexado sobre os mais diversos temas e disponibilizado na rede mundial de computadores”. O autor lembra que a proliferação da internet facilitoua criação desses canais, disseminando arquivos digitais de áudio através da web, com determinada periodicidade, já que utilizam tecnologias de indexação RSS (Rich Site Summary). RSS é uma ferramenta de agregação de conteúdos que surgiu da necessidade de os usuários acompanharem informações de diversas fontes sem ter a necessidade de navegar em cada um dos sites para fazer a busca. Assim, foram criados os agregadores de feeds. Quando o conteúdo é atualizado, o usuário recebe uma cópia no computador, utilizando navegadores ou programas específicos para a finalidade (BUFARAH JUNIOR, 2017). NOTA 13 A maioria dos podcasts famosos valoriza nichos e temáticas, sendo que os mais famosos têm durações até acima de uma hora. Já podcasts com públicos muito específicos, com caráter mais institucional, costumam ter emissões com menos de 10 minutos. Uma forma muito comum de realizar um podcast é com uma mesa redonda entre convidados e um mediador, modelo comum anteriormente no rádio, mas, pelo fato de ser veiculado na web, além de seguir o padrão comum de mídias sociais, geralmente, os comentários e as análises acabam sendo “menos pretenciosos” do que nos veículos convencionais. Abordaremos um pouco mais do assunto “podcast” no próximo tópico desta unidade. 14 Neste tópico, você aprendeu: • Rádio Clube de Pernambuco foi a primeira entidade no Brasil a transmitir mensagens por ondas eletromagnéticas, em Recife, Pernambuco, no dia 6 de abril de 1919 (FERRARETTO, 2014). • A primeira emissora de rádio oficial do Brasil foi a Rádio Sociedade, do Rio de Janeiro, transmitindo a inauguração em 7 de setembro de 1922, e iniciando as atividades em 1923. • O “rádio pioneiro”, da década de 1920, era, também, chamado de “rádio educativo”. • Em 1932, surge o Decreto Nacional nº 21.111, que autorizava a veiculação da publicidade, fazendo, a partir de então, com que o rádio pudesse manter a estrutura com recursos próprios (ORTRIWANO, 1985). • Em 1932, surge o “Programa Casé”, de Ademar Casé, na rádio Philips, que virou um marco na radiofonia, com músicas em BG, redatores e novos atrativos musicais (TAVARES, 1999). • O “Rádio Espetáculo” é o período aproximado entre o fim da década de 1930 e meados da década de 1950. Nesse período, a programação veicula as radionovelas, os programas de auditório e os programas humorísticos. • Em 1941, nasce o radiojornalismo no Brasil, com o “Repórter Esso”, o noticiário mais famoso da história brasileira, que durou até 1968. • A “Era da TV” ou “Pós-televisão” é o período a partir de meados da década de 1950 até meados da década de 1970. Nessa fase, há uma reinvenção técnica do rádio, com os aparelhos radiofônicos transistorizados, dando mais mobilidade ao ouvinte e o rádio assumindo um caráter mais musical (TAVARES, 1999). • O rádio FM chega, definitivamente, a partir dos anos 1970 no Brasil, buscando a identificação com o público jovem (TAVARES, 1999). • A partir da década de 1990, o rádio passa para o modelo atual, com emissoras em rede via satélite, emissoras web, digitalização de equipamentos, até a chegada da migração do rádio AM para FM. RESUMO DO TÓPICO 1 15 • Com a chegada da televisão na década de 1950, houve a migração dos principais atrativos radiofônicos para a TV (ZUCULOTO; ZIMMERMANN, 2019). Esse fator obrigou o rádio a mudar a linguagem, passando a adotar um tom coloquial ao invés do tom formal das fases anteriores. • Acerca da linguagem do rádio, Kaplún (2017) apresenta as limitações e as possibilidades do meio: ◦ Limitações do rádio: unisensorialidade, ausência do interlocutor, fugacidade, público condicionado. ◦ Possibilidades do rádio: poder de sugestão, comunicação afetiva, empatia, rela- ção de identificação. • Emissoras AMs passam a migrar para FM, como uma solução provisória diante da demora para a digitalização do meio. • A partir da década de 1990, emissoras de rádio criam os próprios sites na internet, e passam a transmitir a programação online. Surgem as “webradios”, emissoras 100% online. • No início do novo século, surge o podcast, e as emissoras passam a integrar as redes sociais ao cotidiano, como forma de interação direta com o ouvinte. 16 AUTOATIVIDADE 1 Kaplún (2017), ao tratar da natureza do rádio, explica que a mensagem radiofônica é efêmera e gera a necessidade de muita reiteração e de redundância. Se a mensagem não for clara e repetida adequadamente, corre o risco de não ser captada e retida, devido à monotonia do ouvinte. Nesse sentido, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas: I- A imaginação do ouvinte é estimulada por imagens auditivas no rádio. É importante que o ouvido seja impressionado por essas imagens auditivas que substituem os demais sentidos. PORQUE II- Ao utilizar somente a audição como sentido, o ouvinte assume uma voluntária cegueira e corre o risco de cansaço e de distração na audiência radiofônica. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 2 A fase do “rádio educativo” ou “rádio pioneiro”, no Brasil, compreende o período de inauguração do rádio no país, do início da década de 1920 até a metade da década de 1930. Esse período foi marcado por muita precariedade nas transmissões de sinal e de programação. Acerca dessa fase, é possível afirmar que: a) ( ) A performance da voz de atores e de atrizes nas produções inspirou a produção publicitária, como spots e jingles. b) ( ) A veiculação da publicidade era permitida desde o início, mas apenas dentro dos espaços do jornalismo na programação. c) ( ) O rádio educativo pretendia atingir objetivos exclusivamente pedagógicos, com a transmissão de aulas e de palestras de cultura ao longo da programação. d) ( ) A programação era considerada “elitista” e o rádio sobrevivia apenas das mensalidades de associados. e) ( ) A chegada da TV, nesse período, apresentou riscos à sobrevivência do meio rádio. 17 3 Os podcasts surgiram na primeira década desse século, impulsionados pela propagação do áudio pela internet. O sucesso e a popularização dos podcasts só aconteceriam na década seguinte, com muita variação de gêneros e de nichos diferenciados de público. Acerca dos podcasts, é possível afirmar que: I- Um dos motivos para a alavancagem desse formato foi a popularização dos smartphones, impulsionando os hábitos de escuta individualizada. II- Podcasts podem ser realizados de diversa maneiras, como em formato de mesa redonda, de entrevistas, de ficção, de comentários e análise etc. III- Os podcasts nasceram, exclusivamente, pelas mãos das emissoras de rádio no Brasil, e, mais tarde, foram adotados por outros meios de comunicação. IV- A maioria dos podcasts produzidos atualmente possui durações curtas, dificilmente, ultrapassando os três minutos, devido ao chamado “zapping” publicitário. V- A cultura de voz e de áudio com o podcast nasceu de ferramentas de telefones celulares, como os aplicativos de mensagens instantâneas. É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I e II, apenas. b) ( ) I e IV, apenas. c) ( ) III e V, apenas. d) ( ) II, III e IV, apenas. e) ( ) III, apenas. 18 19 ESTRUTURAS NARRATIVAS NO RÁDIO UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos aspectos relacionados às especificidades do rádio, além das noções de produção e de uma conceituação do podcast, formatode áudio na web que reúne algumas das características radiofônicas. Primeiramente, pontuaremos algumas especificidades do rádio, características que o transformaram em um dos meios mais populares do século 20 e com grande sobrevida na atualidade. Na sequência, você conhecerá quais são e como se processam os quatro elementos da linguagem radiofônica. Compreender a importância da composição sonora através da linguagem própria do rádio fornecerá um melhor domínio de todo o processo de criação e de produção sonora. Algumas noções básicas de produção e de edição de áudio serão apresentadas, também, neste tópico, com o intuito de fornecer, ao estudante, um ponto de partida antes de experimentar o manuseio da técnica. Por fim, falaremos, mais uma vez, do podcast, mas, aqui, da explicitação da sua estrutura narrativa e dos pontos em comum com a estrutura narrativa radiofônica. Vamos em frente? 2 CARACTERÍSTICAS DO MEIO O rádio possui a característica de simultaneidade entre o fato gerador da mensagem (acontecimento), a produção da mensagem (enunciação), a transmissão do conteúdo (emissão) e a escuta do ouvinte (recepção). Esse é um importante fator que garantiu singularidade e grande audiência por muito tempo. A simultaneidade acabou sendo uma característica evolutiva do rádio, que superou o período, característica própria do jornal impresso, que era o meio de comunicação mais popular até a chegada do rádio. Meditsch (2007, p. 209 ) explica que o rádio possibilitou “a superação do período [...] pela simultaneidade, a simultaneidade entre a enunciação e o acontecimento externo referenciado, mais a simultaneidade entre a enunciação e a recepção do enunciado”. O autor elucida melhor essa simultaneidade através do significado do “vivo” no rádio: 20 O vivo em primeiro grau se refere ao paralelismo do tempo do enunciado com o tempo da vida real (o tempo do relógio), paralelismo que atinge a expressão máxima no fluxo contínuo. [...] O discurso produzido pela apresentação de um texto ao microfone [...] pode ser considerado um vivo em segundo grau [...]. Um terceiro [grau], ainda intermediário, seria aquele em que não apenas a interpretação viva é agregada a um conteúdo diferido, mas a própria elaboração do conteúdo se realizada simultaneamente com a enunciação, com a utilização predominante do improviso sem planejamento prévio. [...] A simultaneidade, também, do acontecimento relatado, completando a isocronia entre quatro tempos: o do acontecimento, o da produção do relato, o da enunciação e o da recepção. A conjunção desses quatro tempos distingue a transmissão direta no sentido pleno da palavra e caracteriza, no fluxo do rádio informativo, o vivo em quarto grau, ou o mais alto grau possível (MEDITSCH, 2007, p. 210-213). Ferraretto (2001), por sua vez, lembra que, além dessa simultaneidade entre a produção do conteúdo e a recepção, há a possibilidade de um aparelho receptor ser escutado por uma ou por mais pessoas simultaneamente. A possibilidade de transmitir os fatos no exato instante em que eles ocorrem, e a necessidade de a mensagem ser recebida no momento em que é emitida, conferiram, ao rádio, o status de mais popular dos meios de comunicação (ORTRIWANO, 1985), antecipando-se a características semelhantes que surgiriam mais tarde, com a internet. Para Ortriwano (1985), há algumas características presentes no rádio que, historicamente, diferenciam-no da maioria dos outros meios de comunicação: • Linguagem oral: o rádio fala e, para receber a mensagem, é apenas necessário ouvir (preocupação com o público pouco ou nada alfabetizado). • Penetração: é o mais abrangente dos meios, em termos geográficos, devido à capacidade ilimitada da propagação do sinal sonoro. Ao mesmo tempo, é um dos mais regionais dos meios. • Mobilidade: ◦ Emissor: mais facilidade de transmissão em tempo real devido a uma menor complexidade dos equipamentos em relação à TV. ◦ Receptor: ouvinte livre de fios e de tomadas para receber a mensagem em qualquer lugar. • Baixo custo: o aparelho receptor é barato, além do equipamento transmissor, comparado à TV. A produção radiofônica é barata e a veiculação das mensagens também. • Imediatismo: as mensagens podem ser elaboradas enquanto são transmitidas. • Instantaneidade: perde a validade com muita rapidez. Não é possível “deixar para ouvir” mais tarde. 21 • Sensorialidade: o rádio envolve o ouvinte em um “diálogo mental”. Desperta a imaginação. • Autonomia: o homem possui as capacidades de captar e de reter as mensagens falada e sonora simultaneamente, com a execução de outra atividade. A maioria das pessoas recebe mensagens radiofônicas sozinhas. Acerca da sensorialidade, é importante ressaltar o efeito de aproximação que ocorre entre emissora e ouvinte, emissor e receptor. Prado (1989, 57) entende essa situação como resultado de uma interação natural na comunicação humana ao nível oral, que faz com que o ouvinte se sinta “incluído no clima coloquial, ainda que não possa participar”. O “vivo” contribui para provocar uma sensação de participação no ouvinte. Assim, as características tradicionais do rádio, como forte meio de comunicação, acabam sendo mescladas com aspectos, envolvendo a construção das mensagens através de múltiplas vozes, de locutores e de ouvintes, por telefone, em viva-voz, em mensagens instantâneas, ou através do diálogo mental (ZIMMERMANN, 2012). A ênfase no “ao vivo” e no tempo real virou diferencial do rádio e escola para a internet contemporânea. 3 ELEMENTOS DA LINGUAGEM RADIOFÔNICA Os elementos que formam a linguagem radiofônica são a palavra, a música, o efeito sonoro e o silêncio (BALSEBRE, 2005). Cada elemento tem a função isolada na mensagem radiofônica e, juntos, dão harmonia a um anúncio ou a qualquer outro tipo de informação produzido para o meio. Esses elementos ajudam a chamar a atenção, despertar a curiosidade, ativar a imaginação e buscar a ação ou o convencimento do público receptor da mensagem. [...] O conjunto de formas sonoras e não sonoras, representadas pelos sistemas expressivos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio, cuja significação é determinada pelo conjunto dos recursos técnico-expressivos da reprodução sonora e pelo conjunto de fatores que caracterizam os processos de percepção sonora e imaginativo- visual dos ouvintes (BALSEBRE, 2005, p. 329). O autor observa que a significação vem do conjunto de recursos técnicos/ expressivos da reprodução sonora e do conjunto de fatores que caracteriza os processos de percepção sonora e imaginativo-visual dos ouvintes. 22 FIGURA 1 – SISTEMA SEMIÓTICO RADIOFÔNICO DE BALSEBRE (2005) FONTE: Balsebre (2005, p. 329) É possível perceber que os quatro elementos da linguagem radiofônica, palavra, música, efeitos sonoros, silêncio, representam a fonte do que é produzido e mediado pela tecnologia e levado até o público ouvinte. Tomamos a palavra como o principal elemento da linguagem radiofônica. Todo o restante se articula em torno da palavra, mesmo que alguns autores evidenciem a importância dos demais elementos. Balsebre (2005) entende que a palavra é indispensável e que não se deve identificar a linguagem radiofônica como unicamente verbal. Albano da Silva (1999) fala do sentido da voz enquanto palavra falada. A autora defende que a intervenção da voz dá existência e uma realidade sígnica à mensagem radiofônica. Acerca da questão do uso da voz, é importante verificar a intensidade, o volume, o intervalo e o ritmo da fala para, então, definir uma mensagem. A dicção, o tom e o timbre da voz acentuam a composição do enunciado no rádio. A plasticidade da voz se dá ao extrair cada palavra de um texto escrito para a oralização (ALBANO DA SILVA, 1999). Grotowski(1969 apud KLIPPERT, 2005, p. 175-176) defende que, no uso da voz nas dramatizações, não basta apenas ouvir a voz do ator com nitidez, mas é preciso que o ouvinte seja “perpassado por ela, como se ela soasse estereofonicamente. A voz do ator deve envolver o espectador, como se viesse de todas as direções e não apenas do lugar em que o ator se encontra”. Quanto ao uso das locuções comerciais, a fonoaudióloga e pesquisadora Penteado (1999) reforça a tendência do uso da interpretação, quando o locutor necessita saber o tom exato da voz a ser utilizado e a respiração. Isso porque só é possível passar sistema semiótico radiofónico tecnologia linguagem radiofónica ouvinterecursos técnicos/ expressivos da reprodução sonora palavra música efeitos sonoros silêncio percepção radiofônica 23 emoção para um anúncio publicitário através de uma adequada interpretação do texto. Penteado (1999, p. 67) sugere que os locutores profissionais tenham “excelentes preparo vocal e saúde vocal, que ofereçam suporte para as demandas de flexibilidade, expressividade e representatividade vocais do locutor publicitário”. Importante observar o uso de vogais e de consoantes durante uma locução, já que ambas têm funções diferenciadas. Enquanto as vogais têm o poder de colorir a voz, as consoantes projetam as vogais e dão conteúdo (BALSEBRE, 2005). A empatia e a identificação são percebidas facilmente pelo ouvinte durante uma locução. O distanciamento psicológico depende, inclusive, do timbre e do tom, segundo o autor. As vozes mais graves dão a sensação de presença ou de proximidade, enquanto as mais agudas e mais claras provocam a sensação psicológica de distância. As vozes mais graves são mais indicadas para programas noturnos, por trazerem um contato psicológico mais estreito em um horário em que o ouvinte está mais tranquilo. Já uma voz aguda, que denota mais claridade e inteligibilidade, embora menos presença, é mais adequada para programas diurnos, mais alegres e excitantes, em um momento em que a audiência está mais dispersa e em movimento (BALSEBRE, 2005, p. 331). Ao criar e ao produzir uma mensagem radiofônica, o profissional precisa ter em mente que o ouvinte não estará vendo o locutor, e que isso demandará mais esforço ao ouvir e ao prestar atenção no conteúdo. Como já alertou Kaplún (2017), o ouvinte não é um interlocutor que está próximo de quem emite a mensagem, e não pode intervir sobre ela. Portanto, a ausência ou a inclusão dos demais elementos da linguagem com a palavra pode ser decisiva para o grau de compreensão final do enunciado. A música, por sua vez, é considerada o elemento mais universal entre os quatro componentes da linguagem radiofônica. Há dois tipos diferentes de mensagem publicitária, sendo que um é de conteúdo emocional e, o outro, de caráter convencional. Nessa divisão, também está presente a música, especialmente, nas peças radiofônicas, segundo Guijarro e Muela (2000). A música cria um clima passional ou pode apoiar o ritmo do anúncio, como um fundo genérico em background (BG). Para Balsebre (2005, p. 332), o uso da música com a palavra traz uma harmonia peculiar, por isso, “a percepção das formas sonoras musicais produz uma multiplicidade de sensações e contribui para a criação de imagens auditivas”. Guijarro e Muela (2000) explicam que, quando não há palavras para explicarem o que sentimos, a música pode expressar com muita precisão, já que ela não precisa de texto para descrever algo. Cabe, ao produtor musical, buscar arranjos que remetam a sensações e a sentimentos, como a vida, o amor etc. 24 A presença da música no rádio é classificada da seguinte forma (MONER, 1991 apud HAYE, 2005): • Música objetiva: é aquela que, independentemente dos nossos sentimentos e das ideias, estabelece-se por si mesma. Expõe um fato concreto e somente dá lugar a uma interpretação. • Música subjetiva ou expressiva: cria um ambiente emocional que é difícil de escrever em imagens ou em palavras. • Música descritiva: descreve um ambiente, uma região, uma época, uma natureza ou uma cena de ação. A música, no anúncio radiofônico, contribui para o equilíbrio entre o emocional da melodia e o racional das palavras. Pode ajudar a identificar um produto. Quando utilizada na produção de spots e de outros anúncios falados, a música, normalmente, fica em segundo plano, com a locução. Funcionando como “trilha musical”, pode proporcionar ritmo à narração (ALBANO DA SILVA, 1999). São três aspectos que são gerados no anúncio, através da química da música aplicada à peça (GUIJARRO; MUELA, 2000): • A melodia e as letras: tristeza, alegria etc. • Os arranjos (instrumentos): podem determinar o aspecto sociocultural (uma etnia, uma época, por exemplo). • A interpretação (voz): é a personalidade do solista. Cabe advertir que produtores não podem utilizar composições musicais sem a cessão dos direitos de uso. A autorização dos autores de cada música, geralmente, está limitada a um produto concreto, a um território determinado, a meios de comunicação bem especificados e a um tempo determinado de campanha e de uso. O contrato deve ser renovado quando o anunciante desejar utilizar novamente a mesma música. Para adquirir uma música para a produção de um anúncio, pode-se recorrer a três origens principais: • Comercial: pagamento de direitos de autor/gravadora. • Arquivo: library. • Produção própria: originais ou adaptadas (covers). Especificamente, há quatro tipos de música original e quatro tipos de música preexistente na publicidade (GUIJARRO; MUELA, 2000): • Música original: ◦ Jingle: nasce de um interesse comercial. ◦ Música genérica: o objetivo é identificar uma música com uma marca determi- nada. Funciona como uma “logo musical”. Geralmente, é curta, como uma vinhe- ta criada para um slogan, por exemplo. Funciona como um elemento corporativo, como uma cor. 25 ◦ Música de estilo: através dos arranjos, da interpretação, por exemplo, recorda uma música já conhecida, sem fazer plágio. Com melodia original. ◦ Banda sonora: instrumental, para acompanhar imagens. Sem imagens, não tem sentido. Identifica uma ação e acompanha o ritmo da imagem. • Música preexistente: ◦ Cover: gravação de um tema escolhido quase igual a uma versão determinada. Precisa de permissão do autor da música e da gravadora/produtora e se produz com outras vozes. Às vezes, serve para ajustar versos de 40” para 30”, por exemplo. ◦ Adaptação: com a permissão do autor e da gravadora/produtora, pode-se trocar a letra, o arranjo ou ambos. ◦ Fonos: gravação original, com permissão do autor e do produtor fonográfico (que é o proprietário do master). ◦ Música de arquivo (library): produções para uso geral em vários meios de comunicação. Normalmente, é vendida para produtoras a preço mais baixo, mas não há exclusividade (como arquivo de imagens). Os efeitos sonoros representam o lado concreto de um acontecimento ou de uma situação. Os ruídos sonoros, em uma mensagem, quebram a monotonia da escuta radiofônica. É possível afirmar que o efeito sonoro é o elemento que melhor retrata a paisagem sonora no rádio. Pode identificar um personagem ou representar uma passagem temporal de uma ação para outra. Normalmente, os efeitos ficam em segundo plano ou sobrepostos à música. É muito comum ouvirmos os efeitos sonoros, de maneira discreta, durante as dramatizações, mas, muitas vezes, apoiam algumas locuções. Os efeitos sonoros auxiliam quanto ao realismo das cenas. Além de chamarem a atenção, ajudam a memorizar e a fixar uma imagem. São quatro funções para um efeito sonoro (BALSEBRE, 2005): • Ambiental ou descritiva: localiza a ação em um ambiente (trânsito, animais etc.). • Narrativa: identifica um personagem ou uma ação. Também produz nexo entre duas cenas de narração (pássaros=dia; coruja=noite). • Expressiva: metáfora sonora (trovão=força;mar=tranquilidade). • Ornamental: puramente estética, dando harmonia ao conjunto. Balsebre (2005) explica que, durante um tempo, os efeitos eram considerados apenas como “som-ambiente”. Hoje, já conseguem ser tratados na diversidade significativa, a partir da divisão entre “ambiente” (ruídos de um local) e “atmosfera” (tom psicológico, como mistério, alegria, tristeza etc.). Quanto à origem, os efeitos sonoros podem ser (GUIJARRO; MUELA, 2000): • Arquivo: library (efeitos prontos gravados). • Sala: produzidos com recursos naturais. • Especiais: adaptações, utilizando instrumentos ou softwares. 26 Nem sempre é usado o efeito real para representar algo. Quando se deseja produzir um efeito (efeito de sala), é possível simular com objetos menores, dentro do estúdio. Por exemplo: para simular uma turbina de avião, pode ser usado um secador de cabelo, acrescentando alguns filtros, posteriormente, para dar mais corpo ao efeito. Nas antigas produções de radionovelas, a maioria dos efeitos sonoros era gerada ao vivo, como batidas de tamanco para simular uma cavalgada ou o agito de uma chapa de alumínio para simular uma trovoada. O silêncio é um elemento da linguagem radiofônica que, por muito tempo, foi negligenciado, mas passou a ser valorizado diante da paisagem sonora contemporânea dos grandes centros urbanos. O silêncio provoca, no ouvinte, sensações de expectativa ou inquietude. Para Guijarro e Muela (2000), o silêncio pode, também, significar ausência humana, ausência de vida. Pode atuar como um signo quando representa um mistério, uma dúvida, uma morte ou uma expectativa, por exemplo. Uma pausa de silêncio serve, também, para chamar a atenção do ouvinte a respeito do que deve ouvir a seguir, destacando outro elemento sonoro. Ainda, pode ajudar a dar ritmo da mensagem. Para Balsebre (2005, p. 334), “linguisticamente, a palavra não tem significado se não puder ser expressada em sequências de silêncio/som/silêncio”. Albano da Silva (1999, p. 73) destaca que o uso do silêncio pode “realçar a importância da continuidade sonora”. A inclusão de silêncio no rádio não pode aparentar falha de produção, nem um fim precipitado da mensagem. Para deixar isso bem claro em uma produção, é importante que a pausa proposital de silêncio seja citada no roteiro radiofônico. 4 PRODUÇÃO E EDIÇÃO EM ÁUDIO Após a criação ea roteirização de programas e de anúncios para o rádio, entra a fase de pré-produção. No caso de programas gravados ou ao vivo, é importante que haja um espelho para organizar as principais funções e as inserções de conteúdo que devem ser veiculadas. Nos programas, a pré-produção consiste em documentar e em selecionar os conteúdos que já estão prontos e que entrarão no ar, como vinhetas, fundos musicais etc. A produção em si ocorre com a gravação de materiais que ainda não estão prontos e selecionados. Como exemplos, a gravação e a edição de vinhetas novas, de quadros e de seções do programa. A seleção de entrevistados ou a gravação de entrevistas também faz parte da produção. Com a produção, segue a realização do programa, quando tudo o que foi previamente produzido vai, efetivamente, ao ar. Kaplún (2017) adverte que a preocupação em colocar os conteúdos no ar durante um programa é tão importante quanto o esmero na elaboração do roteiro. 27 Um estúdio de gravação ou de realização de programas, obrigatoriamente, necessita de um bom isolamento acústico. Estúdios profissionais são isolados de forma que não entre qualquer ruído externo. Além do isolamento, o revestimento e a mobília de um estúdio precisam garantir os tratamentos acústico e sonoro. Kaplún (2017) alerta que um estúdio deve ter um profundo silêncio e que, normalmente, os principiantes estranham, pelo fato de as vozes soarem diferentes do que as pessoas estão acostumadas. A sensação de voz surda e apagada não gera a mesma ressonância, como em um ambiente externo. Um estúdio com bom tratamento acústico elimina reverberações e atenua o brilho da voz. Há vários tipos de revestimentos utilizados nas paredes de estúdios e no piso, forrados com carpete, madeira ou concreto. Os equipamentos obrigatórios, em um estúdio de locução, são microfones (com pedestais) e fones de ouvido. Em alguns casos (normalmente, em emissoras de rádio), há a opção por caixas de som que são utilizadas como monitores de áudio, podendo substituir o uso dos fones de ouvido. No caso de estúdios para a gravação de anúncios, o ideal é usar fones. Os microfones podem ser unidirecionais (captam o que está na frente) ou omnidirecionais, com uma captação panorâmica. O segundo é mais utilizado em programas de entrevistas ao vivo, e, o primeiro, para gravações e realizações individuais, já que há menos risco de captar outros ruídos do estúdio. Há outros acessórios que também são utilizados com os microfones, como “pop filter”, que é uma pequena tela redonda instalada na frente do microfone, para evitar a captação do excesso de ar que sai com a voz, principalmente, evidenciando o “p” e o “b” das palavras faladas. Há, ainda, algumas espumas, que revestem os microfones, com finalidade semelhante ao “pop filter”. Nas técnicas de controle dos estúdios, os equipamentos obrigatórios são uma mesa de áudio e um computador com placa de som. A mesa é o local onde são conectados e distribuídos os microfones e os demais equipamentos principais ou periféricos em diferentes canais, possibilitando a captação simultânea ou alternada das fontes sonoras. O computador abriga os softwares de áudio, que acabam eliminando a antiga necessidade de instalação de equipamentos periféricos, como equalizadores, reverberizadores, condensadores etc. Para programas e anúncios gravados, os principais softwares de áudio captam as vozes, editam e dão tratamento sonoro ao material captado. Os softwares multipistas são utilizados para fazer a montagem e a edição dos materiais. Nos programas realizados ao vivo, a operação é feita via locução no microfone, conectado na mesa de som, e com a utilização de um software que funcione como um player, ou tocador de músicas, anúncios e outros áudios gravados. A produção de anúncios publicitários, normalmente, é realizada em produtoras de áudio, que, depois, distribuem os materiais para as emissoras, de acordo com o plano de mídia elaborado pela agência de propaganda. Nesse caso, as emissoras de rádio se tornam apenas “exibidoras”, não se responsabilizando pela produção dos materiais, com exceção daqueles que são emitidos ao vivo ou têm a gravação e a edição realizadas nos estúdios próprios. 28 A pré-produção de um spot radiofônico inicia com a seleção de todos os elementos indicados no roteiro. Escolha de vozes (casting), dos efeitos sonoros mais adequados, das músicas e da revisão do equipamento necessário para as gravações. O ensaio dos atores é importante nessa fase, geralmente, com dois ensaios: um de leitura e, o outro, de microfone (KAPLÚN, 2017). A produção do spot consiste na gravação/captação das vozes de atores e de locutores e na inclusão dos demais elementos sonoros na edição. Quanto à gravação com atores, há duas maneiras: fazer a gravação do diálogo simultaneamente ou de forma separada, e cada ator e atriz gravam todo o texto na sequência. A vantagem da gravação síncrona é quanto à naturalidade e à melhor interpretação do conteúdo. A desvantagem ocorre no processo de tratamento de voz e de edição, já que o produtor deve fazê- lo a partir da geração de um arquivo único com todas as vozes, com o risco de ter alguma fala sobreposta. Quando as gravações com atores forem feitas separadamente, é sugerido que se envie o áudio da primeira interpretação para o segundo ator, a fim de que identifique tons de voz e maneiras de interpretar.Já a gravação de locutores deve ser feita, preferencialmente, de forma separada. A utilização de softwares de edição, que permitem trabalhar com vários filtros para “limpar” ou para “encorpar” as vozes, como, os processadores track compressor ou track equalizer, reforça a qualidade da produção. Também deve haver o cuidado na edição e na montagem do anúncio. Os softwares multipistas, ou múltiplas faixas, permitem separar as faixas de locuções, de diálogos, de músicas e de efeitos. Os editores de múltiplas pistas permitem modificar o material editado constantemente, sem prejudicar os arquivos originais de áudio. FIGURA 2 – EDITOR DE MÚLTIPLAS FAIXAS DO SOFTWARE AUDITION, DA ADOBE FONTE: <https://helpx.adobe.com/br/audition/user-guide.html/br/audition/using/multitrack-editor- overview.ug.html>. Acesso em: 21 maio 2020. Painel Editor no Editor de múltiplas faixas A. Controles de faixa B. Navegador de zoom C. Barra de rolagem vertical D. Faixa. 29 Após a edição do material, é preciso que o material de áudio seja ouvido e aprovado. É importante que todos os envolvidos na produção possam escutar silenciosamente a gravação final para observar se há algum defeito grave que não foi percebido durante o processo, segundo Kaplún (2017). Após a aprovação, são feitos os ajustes no áudio da peça já editada e a masterização do material como parte do processo de pós-produção da peça radiofônica. 5 PODCAST: ESTRUTURA NARRATIVA CONTEMPORÂNEA Com o limiar do novo milênio e o avanço da web móvel, vivenciamos uma espécie de retomada da chamada “cultura do uso da voz”. Dispositivos móveis, como os atuais smartphones, passaram a impulsionar, mais uma vez, os hábitos de escuta individualizada, como é o exemplo do podcast. O termo podcast é diferente de podcasting. Podcasting é um “processo midiático baseado em emissões sonoras que utiliza a internet como suporte para o funcionamento e a propagação das mensagens” (VANASSI, 2007, p. 52 apud BUFARAH JUNIOR, 2017, p. 2). Assim, o podcasting seria o processo de criação e de transmissão do podcast. O podcasting, então, é maior do que o podcast. As interações que ocorrem nos blogs dos podcasts também fazem parte do podcasting, enquanto processo e fenômeno midiático, de acordo com Primo (2005 apud KISCHINHEVSKY, 2009). Como já vimos no tópico anterior, podcasts valorizam nichos e temáticas específicas. É muito comum que o diálogo esteja presente na estrutura narrativa de podcasts, já que o monólogo ainda tem presença em parte da produção radiofônica. Em veiculações de áudio na web, segue-se a tendência de interatividade ou, pelo menos, aquilo que gere uma sensação de participação. “Ao produzir e ao veicular um podcast, o ator social assume um certo protagonismo no processo de comunicação, borrando as fronteiras entre o que se entendia como emissor e receptor” (KISCHINHEVSKY, 2009, p. 232). Podcasts são realizados com ou sem a mediação tradicional dos veículos de comunicação. A horizontalidade na forma de comunicação é uma característica própria do formato. No rádio, sempre foi muito comum existirem programas de debates e discussões de temas da atualidade, mas o controle discursivo é uma das diferenças. Enquanto, no rádio, seria mais comum que esse controle fosse exercido pelo apresentador, mediador ou entrevistador, muitas vezes, em um podcast, esse controle é assumido de forma mais coletiva e participativa, deixando a discussão fluir com mais facilidade, menos refém a horários e a breaks comerciais. Mesmo assim, em muitos casos, há a necessidade de uma mediação para evitar que as discussões fujam do tema central, incentivando que todos os participantes se manifestem com mais frequência e equidade. 30 Em empresas jornalísticas, a presença do podcast é cada vez mais comum, transformando o colunismo escrito em uma espécie de “colunismo sonoro”. Pelo caráter mais informal da web, o podcast acaba sendo um local para reunir comentários e análises “menos pretenciosos” do que nos canais tradicionais. O storytelling é uma técnica que vem crescendo como forma de narrar um podcast. De acordo com Viana (2020, p. 296), “trata-se de uma técnica para narrar fatos como se fossem histórias, enfatizando a narração e a descrição”. O autor compara essas narrativas à linguagem sonora do rádio na forma de descrever fatos, lugares e pessoas, como estratégia para contextualizar o ouvinte e aproximá-lo da situação veiculada. O uso de storytelling também ajuda a humanizar os personagens, podendo se situar nas formas clássicas de dramatização das peças ficcionais e nas histórias de interesse humano, muito comuns no gênero diversional do jornalismo. Como muitos podcasts são apresentados em edições com frequência programada, aqueles que remetem à ficção ou às histórias de vida são apresentados em episódios, semelhantes ao que acontece com as séries cinematográficas. Além de poderem possuir uma estrutura narrativa dividida em atos, narrativas seriadas costumam incluir a técnica do cliffhangers. De acordo com Braga (2018 apud VIANA, 2020), um cliffhanger ocorre quando um personagem está em uma situação impossível de ser resolvida, mas o episódio acaba naquele exato momento, deixando grande curiosidade para o público, que deve discutir, nas redes sociais, as possíveis teorias. Tudo isso alimenta o desejo de ouvir o próximo capítulo ou episódio. As técnicas narrativas comuns, no rádio, como apresentação direta, dramatização, testemunhal, entrevistas e musical, estão, também, presentes na estrutura da maioria dos podcasts. Já a participação dos ouvintes é mais limitada dentro do espaço sonoro do podcast, e isso é uma grande diferença em relação ao rádio, isso porque a estrutura gravada do formato em arquivo de áudio fechado não oferece condições técnicas de interação imediata e interferência do ouvinte no conteúdo. Para Savi (2007), nos podcasts, é mais comum acontecer uma participação posterior da audiência, que se comunica com os autores por mensagens ou comentários. 31 Neste tópico, você aprendeu: • Na linguagem oral, o rádio fala e, para receber a mensagem, é apenas necessário ouvir (preocupação com o público pouco ou nada alfabetizado). • A penetração é o mais abrangente dos meios, em termos geográficos, devido à capacidade ilimitada da propagação do sinal sonoro. Ao mesmo tempo, é um dos mais regionais dos meios. • Com o emissor, há mais facilidade de transmissão em tempo real, devido à menor complexidade dos equipamentos em relação à TV. • Com o receptor, o ouvinte é livre de fios e de tomadas para receber a mensagem em qualquer lugar. • Com relação ao baixo custo, o aparelho receptor é barato, além do equipamento transmissor, comparado à TV. A produção radiofônica é barata e a veiculação das mensagens também. • Acerca do imediatismo, as mensagens podem ser elaboradas enquanto são transmitidas. • Tratando-se da instantaneidade, perde a validade com muita rapidez. Não é possível “deixar para ouvir” mais tarde. • Na sensorialidade, o rádio envolve o ouvinte em um “diálogo mental”. Desperta a imaginação. • Com autonomia, o homem possui as capacidades de captar e de reter as mensagens falada e sonora simultaneamente, com a execução de outra atividade. A maioria das pessoas recebe mensagens radiofônicas sozinhas. • A linguagem radiofônica é o conjunto de formas sonoras e não sonoras representadas pelos sistemas expressivos da palavra, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio (BALSEBRE, 2005). • A palavra é o principal elemento da linguagem radiofônica, em torno do qual se articula o restante. Depende da intensidade, do volume, do intervalo e do ritmo para definir uma mensagem. Proporciona
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