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IANI SOARES LUZ XIII - MED APG 12 – Cefaleias primárias - Classificação Internacional das Cefaleias pelaSociedade Internacional de Cefaleia (ISH): • Síndromes primárias: Cefaleia e características associadas constituem o próprio distúrbio; • Distúrbios secundários: Cefaleia resulta de causas exógenas. Cefaleias secundárias - Meningite: Cefaleia intensa e aguda com febre e rigidez da nuca sugere meningite. Com frequência, ocorre agravamento significativo da dor com o movimento ocular. - Hemorragia subaracnoidea: Cefaleia intensa e aguda com rigidez da nuca, porém sem febre. Além disso, pode-se observar a presença de ruptura de aneurisma, malformação arteriovenosa ou hemorragia intraparenquimatosa com cefaleia isoladamente. - Tumor cerebral: Causa rara de cefaleia. A dor da cefaleia, geralmente, é indefinida – uma dor surda, intermitente e profunda de intensidade moderada, que pode se agravar com o esforço ou a mudança de posição e que pode estar associada a náuseas e vômitos. - Arterite temporal: Distúrbio inflamatório das artérias, que frequentemente acomete a circulação extracraniana da carótida. A cefaleia, que constitui o sintoma dominante, aparece frequentemente em associação com mal-estar e mialgias. - Glaucoma: Cefaleia extenuante, associada a náuseas e vômitos. Com frequência, a cefaleia começa com dor ocular intensa. No exame físico, o olho frequentemente está avermelhado com pupila fixa e moderadamente dilatada. Cefaleia migrânea Epidemiologia - 2ª causa mais comum de cefaleia e está entre as 20 principais causas de incapacidade no mundo inteiro de acordo com a OMS. - Aflige cerca de 12% da população anualmente(15% das mulheres e 6% dos homens ao longo de um período de 1 ano). - O início é em idade precoce – cerca de 25% dos casos começam durante a 1ª década de vida, 55% aos 20 anos e mais de 90% antes dos 40 anos. Etiologia - A cefaleia pode ser iniciada ou amplificada porvários deflagradores, incluindo luzes brilhantes, sons, odores ou outra estimulação aferente; fome, estresse ou o desligamento do estresse; esforço físico; condições meteorológicas de tempestade, altitude ou mudanças de pressão barométrica; flutuações hormonais durante a menstruação; falta ou excesso de sono; e álcool ou outras substâncias químicas, como nitratos. - O cérebro na migrânea é particularmente sensível a estímulos ambientais e sensoriais; os pacientes com propensão à migrânea não se habituam facilmente a estímulos sensoriais. IANI SOARES LUZ XIII - MED - Genética: A suscetibilidade à enxaqueca é fortemente influenciada pela genética. Uma história familiar de enxaqueca em, pelo menos, um parente de 1º grau está presente na maioria dos casos, e estudos feitos em gêmeos demonstram o envolvimento de fatores genéticos e ambientais. Fisiopatologia - A sensibilidade sensorial que é característica da migrânea provavelmente resulta de uma disfunção dos sistemas de controle sensoriais monoaminérgicos localizados no tronco encefálico e no diencéfalo. - Depressão alastrante cortical: Onda autopropagante de despolarização neuronal e glial que se espalha pelo córtex cerebral. É hipotetizada para: causa a aura da enxaqueca, ativar aferentes do nervo trigêmeo e altera a permeabilidade da barreira hematoencefálica pela ativação e regulação positiva da metaloproteinase da matriz. • A ativação dos aferentes do trigêmeo pela depressão alastrante cortical, por sua vez, causa alterações inflamatórias nas meninges sensíveis à dor que geram a cefaleia da enxaqueca através de mecanismos reflexos centrais e periféricos. • A provável cascata molecular de eventos pela qual os neurônios aferentes do trigêmeo sensíveis à dor são ativados pela depressão alastrante cortical envolve a abertura dos megacanais neuronais da pannexina-1 e subsequente ativação da caspase-1, seguida pela liberação dos mediadores pró- inflamatórios, ativação do fator nuclear kappa-B em astrócitos e transdução do sinal inflamatório para as fibras do nervo trigêmeo ao redor dos vasos piais. ◦ Fenômeno que se acredita estar subjacente à aura da enxaqueca, à ativação prolongada da nocicepção trigeminal, que gera a dor da enxaqueca. • Tem sido sugerido que a enxaqueca sem aura pode ser causada pela ocorrência de depressão alastrante cortical em áreas do cérebro (por exemplo, cerebelo) onde a despolarização não é percebida conscientemente. - Ativação do sistema trigeminovascular: Consiste em neurônios sensoriais pseudounipolares de pequeno calibre que se originam do gânglio trigeminal e das raízes dorsais cervicais superiores. Esses neurônios sensoriais projetam-se para inervar grandes vasos cerebrais, vasos piais, dura-máter e grandes seios venosos. A maior parte da inervação das estruturas anteriores se dá pela divisão oftálmica do nervo trigêmeo com maior contribuição das raízes cervicais superiores para as estruturas posteriores. - Sensibilização: Processo no qual os neurônios se tornam cada vez mais responsivos à estimulação nociceptiva e não nociceptiva: os limiares de resposta diminuem, a magnitude da resposta aumenta, os campos receptivos se expandem e a atividade neuronal espontânea se desenvolve. - - Serotonina: Atuação do neurotransmissor, a 5hidroxitriptamina (5-HT ou serotonina), na migrânea. Alguns autores sugeriram que a serotonina (liberada dos núcleos serotoninérgicos do tronco encefálico) desempenha um papel na patogênese da enxaqueca, talvez mediada por sua ação direta sobre a vasculatura craniana, por seu papel nas vias centrais de controle da dor ou por projeções corticais cerebrais de serotonina do tronco encefálico. IANI SOARES LUZ XIII - MED - Dopamina: Os sintomas da migrânea podem ser induzidos, em sua maioria, por estimulação dopaminérgica. Além disso, existe uma hipersensibilidade do receptor dopaminérgico nos indivíduos que sofrem de migrânea, conforme demonstrado pela indução de bocejos, náuseas, vômitos, hipotensão e outros sintomas de crise de migrânea por agonistas dopaminérgicos. - Peptídeos vasoativos: A ativação das células no núcleo trigeminal resulta na liberação de neuropeptídios vasoativos, particularmente o peptídio relacionado com o gene da calcitonina (CGRP), nas terminações vasculares do nervo trigêmeo e no interior do núcleo trigeminal. - Shunt cardíaco direito-esquerdo: A enxaqueca com aura tem sido associada a shunts cardíacos direito-esquerdo, geralmente no contexto de um forame oval patente (FOP) ou, muito menos frequentemente, um defeito do septo atrial (CIA) ou malformações arteriovenosas pulmonares na telangiectasia hemorrágica hereditária (síndrome de Osler-Weber-Rendu). - Fatores genéticos: • Mutações envolvendo o gene CACNA1A do canal de cálcio regulado por voltagem do tipo Cav2.1 (P/Q) causam migrânea hemiplégica familiar (MHF)-1; essa mutação é responsável por cerca de 50% dos casos de MHF. • As mutações no gene ATP1A2 da Na+-K+ ATPase, designadas como MHF-2, são responsáveis por cerca de 20% dos casos de MHF. As mutações no gene SCN1A do canal de sódio regulado por voltagem neuronal causam MHF-3. Manifestações clínicas e diagnóstico - Fase premonitória/pródromos: Sintomas cognitivos, afetivos ou gastrintestinais que aparecem 24 a 48 horas antes do início da cefaleia. • Incluem aumento do bocejo, euforia, depressão, irritabilidade, desejo por comida, constipação e rigidez do pescoço. • Ainda não está bem compreendida, mas ela pode refletir alterações de funções hipotalâmicas ou de tronco cerebral. - Aura da enxaqueca: Geralmente, precedea dor de cabeça. São caracterizadas por desenvolvimento gradual, duração não superior a 1 hora. • Aura visual: Classicamente, começa como uma pequena área de perda visual, muitas vezes, lateral ao ponto de fixação visual. Pode aparecer como um ponto brilhante ou como uma área de perda visual. Nos 5 minutos a 1 h seguintes, o distúrbio visual se expande para envolver um quadrante ou hemicampo de visão. Ao longo da margem de expansão, muitas vezes aparecem formas geométricas ou linhas em ziguezague. À medida que a aura se move para o campo visual periférico, muitas vezes, assume uma qualidade tremeluzente ou cintilante. • Aura sensorial: Geralmente, começa como um formigamento em um membro ou em um lado da face. À medida que a sensação de formigamento migra por um lado do rosto ou pelo membro, a dormência é deixada em seu rastro que pode durar até 1 hora. Também pode se mover dentro da boca, afetando a mucosa bucal e metade da língua. IANI SOARES LUZ XIII - MED • Aura da linguagem (rara): Causam problemas transitórios que podem variar de dificuldades de redação leves a disfasia franca com erros parafásicos. • Aura motora (rara): Membros e face de um lado do corpo ficam fracos. • Aura sem dor de cabeça: Podem ser confundidas com ataques isquêmicos transitórios, especialmente, quando aparecem pela 1ª vez em pacientes mais velhos como acompanhamentos de enxaqueca tardia. ◦ Apresentam sintomas neurológicos recorrentes, frequentemente, com náuseas ou vômitos e vertigem, porém com pouca ou nenhuma cefaleia. - Cefaleia da enxaqueca: Normalmente, é unilateral e tende a ter uma qualidade latejante ou pulsátil, especialmente, à medida que a intensidade aumenta. • À medida que a gravidade do ataque aumenta ao longo de 1 a várias horas, os pacientes, frequentemente, apresentam náuseas e, às vezes, vômitos. • Muitos indivíduos relatam fotofobia ou fonofobia durante os ataques, levando esses pacientes com enxaqueca a buscar alívio deitando-se em um quarto escuro e silencioso. • O smofobia e alodinia cutânea podem ocorrer durante os ataques. - Pósdromo da enxaqueca: Uma vez que a pulsação espontânea da cefaleia se resolva, o movimento súbito da cabeça causa transitoriamente dor no local da cefaleia antecedente. • Os pacientes muitas vezes se sentem esgotados ou exaustos, embora alguns relatem uma sensação de leve euforia ou euforia. - Classificação: • Migrânea sem aura (enxaqueca comum); Migrânea com aura (enxaqueca clássica) (20-25% dos casos). ◦ Migrânea com aura típica: ▪ Com cefaleia; ▪ Sem cefaleia. ◦ Migrânea com aura no tronco encefálico: Com diplopia, ataxia, alteração da consciência, disartria, zumbido e vertigem. ◦ Migrânea hemiplégica: ▪ Familiar (MHF) tipo 1, 2 ou 3; ▪ Esporádica. ◦ Migrânea retiniana. • Migrânea crônica: Episódios de migrânea que ocorrem em 15 dias ou mais por mês. - Critérios diagnósticos para enxaqueca sem aura (3ª edição da Classificação Internacional de Cefaleias [ICHD-3]): • A: Pelo menos 5 ataques preenchendo os critérios B a D; • B: Crises de cefaleia com duração de 4 a 72 h (não tratadas ou tratadas sem sucesso); • C: Cefaleia tem pelo menos 2 das seguintes características: Localização unilateral; qualidade pulsante; e intensidade moderada IANI SOARES LUZ XIII - MED ou intensa da dor; agravamento por ou evitando atividade física de rotina (por exemplo, caminhar ou subir escadas); • D: Durante a cefaleia, pelo menos 1 dos seguintes sinais/sintomas: náuseas, vômitos ou ambos; fotofobia e fonofobia (= medo exagerado ou irracional de barulhos); • E: Não melhor explicado por outro diagnóstico ICHD-3. - Critérios diagnósticos para enxaqueca com aura (ICHD-3): • A: Pelo menos 2 ataques preenchendo os critérios B e C; • B: 1 ou mais dos seguintes sintomas de aura totalmente reversíveis: visual; sensorial; fala e/ou linguagem; motor; tronco cerebral; retina; • C: Pelo menos 3 dessas 6 características: ◦ Pelo menos 1 sintoma de aura se espalha gradualmente por ≥ 5 minutos; ◦ 2 ou mais sintomas ocorrem em sucessão; ◦ Cada sintoma de aura individual dura de 5 a 60 minutos; ◦ Pelo menos 1 sintoma de aura é unilateral; ◦ Pelo menos 1 sintoma de aura é positivo; ◦ Aura é acompanhada, ou seguida dentro de 60 minutos, por dor de cabeça. D: Não melhor explicado por outro diagnóstico ICHD-3. Tratamento - A orientação do paciente constitui um importante aspecto do manejo da migrânea. • É importante que o paciente entenda que a migrânea é uma vulnerabilidade herdada à dor da cefaleia e associada a sintomas neurológicos e que, embora o distúrbio não possa ser “curado”, a migrânea pode ser modificada e controlada por meio de mudanças no estilo de vida e uso de medicamentos. • É preciso tranquilizar os pacientes quanto ao fato de que, em geral, a migrânea não está associada a doenças graves ou que comportam risco à vida. – Tratamento não farmacológico: Muitos beneficiam-se com a identificação de deflagradores específicos da cefaleia, evitando- os. • É importante um estilo de vida regular, incluindo uma dieta saudável (com horários regulares para se alimentar), exercícios, padrões rotineiros de sono, evitar o consumo excessivo de cafeína e de álcool e reduzir ao máximo alterações agudas nos níveis de estresse. • Se essas medidas não conseguirem evitar uma crise, há necessidade, então, de medidas farmacológicas abortivas. IANI SOARES LUZ XIII - MED - Tratamento farmacológico e terapias abortivas (crise aguda): • A escolha do esquema ideal para cada paciente depende de vários fatores, dos quais o mais importante é a gravidade da crise. ◦ Crises leves habitualmente podem ser controladas com agentes orais. ◦ Crises intensas podem exigir tratamento intranasal ou parenteral para obter um início mais rápido. • Se houver necessidade de medicação adicional dentro de 1 h, devido à persistência dos sintomas ou sua recorrência, deve-se aumentar a dose inicial, ou deve-se escolher uma classe diferente para terapia de resgate. • O tratamento da migrânea deve ser individualizado; não é possível seguir uma abordagem padronizada para todos os pacientes. Fármacos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) - Representantes: Naproxeno; Ibuprofeno; Ácido acetilsalicílico; Ácido tolfenâmico; Diclofenaco potássico; Paracetamol. - Podem reduzir significativamente a gravidade e aduração de uma crise de migrânea e são mais efetivos quando tomados no início da crise. Entretanto, esses fármacos isoladamente podem não abortar por completo uma crise de migrânea moderada ou grave. • Foi constatado que a associação de ácido acetilsalicílico com metoclopramida é comparável a uma dose única de sumatriptana oral. - Efeitos colaterais: Dispepsia e irritação gastrintestinal, efeitos cardiovasculares e renais potenciais (particularmente, com uso frequente ou a longo prazo). Agonistas dos receptores de 5- hidroxitriptamina1B/1D (triptanas) - Representantes: • Oral: Naratriptana; Rizatriptana; Sumatriptana; Frovatriptana; Almotriptana; Eletriptana; Zolmitriptana. • Nasal: Di-hidroergotamina; Sumatriptana; Zolmitriptana. • Parenteral: Di-hidroergotamina; Sumatriptana. - A rizatriptana e a eletriptana são as maisprovavelmente eficazes. - Infelizmente, a monoterapia com triptanas oraisnão produz alívio rápido, consistente e completo da migrânea em todos os pacientes. - As triptanas podem não ser efetivas na migrâneacom aura, a não serque administradas até o término da aura e o início da cefaleia; a recidiva da cefaleia constitui outra limitação para o uso das triptanas. - Efeitos colaterais: Náuseas, sensação de constrição no tórax, tontura, astenia e rubor. - Contraindicações: Indivíduos com história de doença cardiovascular ou vascular encefálica. IANI SOARES LUZ XIII - MED Antagonistas dos receptores dopaminérgicos - Representantes: • Oral: Metoclopramida; Proclorperazina; Prometazina; Clorpromazina. • Parenteral: Metoclopramida; Proclorperazina; Clorpromazina; Prometazina. Tratamento auxiliar da migrânea aguda. - A absorção desses fármacos é afetada durante amigrânea, devido à redução da motilidade gastrintestinal (mesmo na ausência de náuseas) e está relacionada com a gravidade da crise, mais do que com a sua duração. • Por conseguinte, quando os AINE e/ou as triptanas por via oral fracassam, deve-se considerar a adição de um antagonista dos receptores dopaminérgicos para aumentar a absorção gástrica, bem como para diminuir as náuseas/vômitos. Outros medicamentos para a migrânea aguda - Opioides: Costumam ser administrados no serviço de emergência. Esses fármacos podem “ajudar”, no sentido de que a dor da migrânea é eliminada ou reduzida. • Uso frequente de opioides pode resultar em cefaleia por uso excessivo de medicação, levando à dependência física ou adicção; a fissura e/ou abstinência de opioides podem, por sua vez, agravar a migrânea. • Recomenda-se que o uso de opioides na migrânea seja restrito a pacientes com cefaleias intensas, porém infrequentes, que não respondem a outras abordagens farmacológicas ou que apresentam contraindicações para outros tratamentos. - Compostos que contêm butalbital: Embora esses medicamentos possam proporcionar alívio analgésico, existe um alto potencial de dependência e desenvolvimento de cefaleia por uso excessivo de medicação (cefaleia de rebote), que é um estado de cefaleia refratária diária ou quase diária. Cefaleia do tipo tensional Epidemiologia - A cefaleia do tipo tensional (CTT) constitui acefaleia primária mais comum, embora os pacientes raramente procurem a clínica devido ao baixo nível de incapacidade associada. IANI SOARES LUZ XIII - MED Etiologia e fisiopatologia - Estresse e tensão mental são relatados como osprecipitantes mais comuns para CTT. - A fisiopatologia da CTT não está totalmente elucidada. - É provável que a CTT seja causada por um distúrbio primário de modulação da dor do SNC isoladamente, ao contrário da migrânea, que envolve um distúrbio mais generalizado da modulação sensorial. - O nome cefaleia do tipo tensional implica que a dor é um produto da tensão nervosa; entretanto, não há evidências claras de tensão como etiologia. - A contração muscular tem sido considerada como uma característica que diferencia a CTT da migrânea, porém não parece haver nenhuma diferença na contração entre os dois tipos de cefaleia. - O modelo fisiopatológico atual da CTT postulaque a ativação periférica ou a sensibilização dos nociceptores miofasciais são provavelmente de grande importância na CTT episódica, enquanto a sensibilização das vias da dor no SNC devido a estímulos nociceptivos prolongados dos tecidos miofasciais pericranianos parece ser responsável pela conversão de CTT episódica para crônica. • A entrada nociceptiva contínua das estruturas miofasciais periféricas pode induzir a sensibilização central. - Sensibilidade aumentada: Acredita-se que a sensibilidade aumentada das vias da dor no SNC e talvez no sistema nervoso periférico desempenhe um papel crítico na patogênese da CTT. • Fatores centrais: A sensibilidade geral à dor no SNC está aumentada na CTT crônica, enquanto o processamento central da dor parece ser normal na CTT episódica. • Fatores periféricos: Ainda faltam evidências firmes de anormalidades periféricas na CTT, mas os fatores musculares podem ser importantes, especialmente na CTT episódica. Em comparação com indivíduos de controle pareados sem dor de cabeça, indivíduos com CTT episódica demonstram aumento do número de pontos-gatilho ativos e latentes, menor limiar de dor nos troncos nervosos, postura da cabeça para frente e menor mobilidade do pescoço. Manifestações clínicas e diagnóstico - Classificação: CTT episódica: Pelo menos 10 episódios de cefaleia, cada um com duração de 30 minutos a 7 dias. ◦ Infrequente: ◦ Frequente: CTT crônica: Presente em 15 dias ou mais por mês. - Cefaleia: Caracteriza-se por um desconforto da cabeça bilateral, em aperto e semelhante a uma faixa, de intensidade leve a moderada. - Em geral, a dor progride lentamente, flutua na sua intensidade e pode persistir de modo mais ou menos contínuo durante muitos dias. As descrições da dor da CTT são caracteristicamente indescritíveis: “chata”, IANI SOARES LUZ XIII - MED “pressão”, “cabeça cheia”, “cabeça parece grande” ou, mais descritivamente, “como uma tampa apertada”, “como uma faixa” ou “peso na minha cabeça ou ombros”. - Diferentemente da migrânea, a CTT é, nos demais aspectos, indefinida e carece de manifestações associadas, como náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia, osmofobia, caráter latejante e agravamento com o movimento. - O aumento da sensibilidade muscularpericraniana é o achado anormal mais importante em pacientes com CTT. - Critérios diagnósticos da CTT (ICHD-3): • Pelo menos 2 dos seguintes sinais/sintomas: Localização bilateral; qualidade de prensagem ou aperto (não pulsante); intensidade leve ou moderada; não agravado pela atividade física de rotina, como caminhar ou subir escadas. • Ambos os seguintes sinais/sintomas: sem náuseas ou vômitos; não mais do que fotofobia ou fonofobia. Tratamento - A dor na CTT responde habitualmente aanalgésico simples, como paracetamol, ácido acetilsalicílico ou outros AINEs. - As abordagens comportamentais, incluindo relaxamento, também podem ser efetivas. - Para a CTT crônica, a amitriptilina (10 a 100 mg/dia) constitui o único tratamento comprovado. Outros agentes tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e benzodiazepínicos não demonstraram ser efetivos. - Os estudos clínicos realizados demonstraram queas triptanas na CTT pura não são úteis, embora sejam efetivas na CTT quando o paciente também apresenta migrânea. Cefalalgias autonômicas do trigêmeo (cefaleias trigêminoautonômicas) Subclassificação - Classificação das cefalalgias autonômicas dotrigêmeo (CAT): • Cefaleia em salvas; • Hemicrania paroxística; • Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração ◦ Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento (SUNCT); ◦ Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autonômicos cranianos (SUNA) • Hemicrania contínua. IANI SOARES LUZ XIII - MED Cefaleias em salvas Epidemiologia - A cefaleia em salvas é uma síndrome de cefaleia primária rara, com frequência de aproximadamente 0,1% na população, que afeta mais os homens do que as mulheres, em uma proporção de 3:1. Fisiopatologia - Distúrbio que envolve neurônios marca-passos centrais na região hipotalâmica posterior, explicando, assim, a sua periodicidade. - O déficit simpático é periférico e provavelmente devido à ativação parassimpática, com lesão das fibras simpáticas ascendentes que envolvem uma artéria carótida dilatada quando entrana cavidade craniana. Manifestações clínicas - A dor é profunda, habitualmente retro-orbital, frequentemente de intensidade excruciante, não flutuante e de qualidade explosiva. - - Uma característica central da cefaleia em salvas é a sua periodicidade. • Ocorre pelo menos uma das crises diárias de dor aproximadamente na mesma hora todos os dias para a duração de um surto de cefaleia em salvas. O início é noturno em cerca de 50% dos pacientes. - O paciente típico com cefaleia em salvasapresenta episódios diários de 1 ou 2 crises de dor unilateral de duração relativamente curta por 8 a 10 semanas por ano; essas crises são habitualmente seguidas de um intervalo sem dor por um período médio de menos de 1 ano. - Os pacientes com cefaleia em salvas tendem a serinquietos durante as crises e podem andar de um lado para outro, balançar ou esfregar a cabeça para obter alívio; alguns podem até mesmo se tornar agressivos durante as crises. - Classificação: • Cefaleia em salvas episódica; • Cefaleia em salvas crônica: Quando existe um período de menos de 1 mês de remissão sustentada sem tratamento. - Outras manifestações características da cefaleia em salvas incluem sintomas ipsilaterais de ativação craniana parassimpática autonômica: como hiperemia conjuntival ou lacrimejamento, rinorreia ou congestão nasal ou disfunção craniana simpática, como ptose. - Quando presentes, a fotofobia e a fonofobia têm muito mais tendência a ser unilaterais e do mesmo lado da dor. • Esse fenômeno de fotofobia/fonofobia unilaterais é característico das CAT. Tratamento - Tratamento absortivo: Crises de cefaleia em salvas rapidamente alcançam um pico, de modo que é necessário um tratamento de início rápido. • Inalação de oxigênio: Pode ser administrado como oxigênio a 100%, 10 a 12 L/min, por 15 a 20 min no início da crise. • Sumatriptana (dose de 6 mg SC): Tem início rápido e habitualmente diminui a duração de uma crise para 10 a 15 min. • Sumatriptana (20 mg) e zolmitriptana (5 mg) em spray nasal: Efetivas na cefaleia em salvas aguda. IANI SOARES LUZ XIII - MED - Tratamento preventivo: • Prevenção a curto prazo: Cefaleia em salvas e episódica. ◦ Prednisona , 1 mg/kg até 6 mg/dia, durante 7 dias, com redução gradual no decorrer de 21 dias; ◦ Verapamil , 160 a 960 mg/dia; ▪ Efeitos colaterais: Constipação intestinal, edema, indução de bloqueio cardíaco por meio de alentecimento da condução no nó atrioventricular, etc. ◦ Injeção no nervo occipital maior. • Prevenção a longo prazo: Cefaleia em salvas episódica e cefaleia episódica crônica prolongada. ◦ Verapamil , 160 a 960 mg/dia (formulação de liberação imediata, dose fracionada 2 ou 3 vezes/dia); ◦ Lítio , 400 a 800 mg/dia; ◦ Topiramato, 100 a 400 mg/dia; Gabapentina, 1.200 a 3.600 mg/dia; e Melatonina, 9 a 12 mg/dia. ▪ Não comprovado, porém de benefício potencial. - Terapia de neuroestimulação: A estimulação cerebral profunda da região da substância cinzenta hipotalâmica posterior demonstrou ter sucesso em uma proporção substancial de pacientes; todavia, em virtude de sua morbidade e possível mortalidade, não é recomendada antes do uso de abordagens menos invasivas. Foram também relatados resultados favoráveis com a abordagem menos invasiva de estimulação do nervo occipital e estimulação do gânglio pterigopalatino, bem como com um estimulador do nervo vagal não invasivo. Hemicrania paroxística (HP) Epidemiologia - Acomete predominantemente os homens, a relação entre homens e mulheres na HP aproximase de 1:1. Fisiopatologia - Manifestações clínicas - Crises unilaterais, intensas e de curta duração (2 a 45 min) de cefaleia, que são frequentes (mais de 5 vezes/dia). - À semelhança da cefaleia em salvas, a dor tende a ser retro-orbital, mas também pode afetar outras regiões da cabeça e está associada a fenômenos cranianos autonômicos ipsilaterais, como lacrimejamento e congestão nasal. - Em casos típicos, o curso da HP é rápido (< 72 h). - Classificação: HP episódica: Possui períodos de remissão; HP crônica: Forma não remitente. - Em alguns pacientes, a HP pode coexistir com a neuralgia do trigêmeo (síndrome de HP-tique); à semelhança da síndrome de cefaleia em salvastique. IANI SOARES LUZ XIII - MED Diagnóstico - Quando se considera o diagnóstico de HP, à semelhança de outras CAT, indica-se a ressonância magnética (RM) para descartar a possibilidade de lesão hipofisária. Tratamento - Possui excelente resposta à indometacina (25 a 75 mg, 3 vezes/dia), que pode suprimir por completo as crises. • Essa terapia é complicada por efeitos colaterais gastrintestinais induzidos pela indometacina, porém, não se dispõe, no momento atual, de nenhuma alternativa consistentemente efetiva. • Reduz a pressão do LCS. - Foi relatada a utilidade do topiramato (50 a 300 mg/dia) em alguns casos, assim como o piroxicam (20 a 40 mg/dia), embora não na mesma extensão da indometacina. SUNCT/SUNA Epidemiologia - A SUNCT é uma síndrome rara de cefaleia primária. Manifestações clínicas e diagnóstico - SUNCT: Caracterizada por dor orbital ou temporal unilateral e intensa, de caráter em facada ou pulsátil. • O estabelecimento do diagnóstico exige pelo menos 20 crises, com duração de 5 a 240 s; deve-se observar a presença de hiperemia conjuntival e lacrimejamento ipsilateral. ◦ Em alguns pacientes, a hiperemia conjuntival ou o lacrimejamento estão ausentes, e pode-se estabelecer o diagnóstico de SUNA. - SUNA: Dor unilateral e pode estar localizada em qualquer parte da cabeça. • Podem-se observar 3 padrões básicos: facadas isoladas, que são habitualmente de curta duração; grupos de facadas; ou crise mais prolongada, que consiste em muitas facadas, entre as quais a dor não desaparece por completo, produzindo, assim, um padrão em “dente de serra”, com crises de muitos minutos de duração. ◦ Cada padrão pode ser observado no contexto de uma cefaleia contínua subjacente. - O diagnóstico de SUNCT é frequentementeconfundido com neuralgia do trigêmeo (NT), particularmente na NT afetando a primeira divisão do nervo trigêmeo. IANI SOARES LUZ XIII - MED • A presença de sintomas autonômicos cranianos mínimos ou a sua ausência e a observação de um período refratário claro aos deflagradores indicam um diagnóstico de NT. - Todos os pacientes com SUNCT/SUNA devemser avaliados com provas de função hipofisária e RM do cérebro com vistas da hipófise. Tratamento - Terapia abortiva: Não é prática na SUNCT/SUNA, visto que as crises são de duração muito curta. A principal meta do tratamento consiste em prevenção a longo prazo, de modo a reduzir ao máximo a incapacidade. • O medicamento profilático mais efetivo é a lamotrigina, em doses de 200 a 400 mg/dia. • O topiramato (50 a 300 mg/dia) e a gabapentina (800 a 2.700 mg/dia) também podem ser efetivos. • Alguns relataram que a carbamazepina (400 a 600 mg/dia) é moderadamente efetiva. • Abordagens cirúrgicas (descompressão microvascular e procedimentos destrutivos do nervo trigêmeo) raramente são úteis e, com frequência, causam complicações a longo prazo, como dormência permanente e anestesia dolorosa. • A estimulação do nervo occipital provavelmente é útil em um subgrupo de pacientes com SUNCT/SUNA. • Para os casos intratáveis, a prevenção a curto prazo com lidocaína IV, que pode interromper rapidamente os sintomas, pode ser útil. Hemicrania contínua Epidemiologia e etilogia - A idade de iníciovaria de 11 a 58 anos. - As mulheres são acometidas 2x mais frequentemente do que os homens. - A causa não é conhecida; todavia, à semelhança de outras síndromes de CAT, a HC tem sido associada a uma patologia da hipófise. Manifestações clínicas - Dor unilateral moderada e contínua, com exacerbações sobrepostas de dor intensa, que pode estar associada a manifestações autonômicas cranianas e fotofobia/fonofobia do lado afetado. Tratamento - À semelhança da HP, o tratamento definitivoconsiste em indometacina (25 a 75 mg, 3 vezes/dia). • A indometacina deve ser iniciada em uma dose de 25 mg VO, 3 vezes/dia; em seguida, a dose é aumentada para 50 mg 3 vezes/dia se não for observado nenhum efeito, com aumento adicional para 75 mg, 3 vezes/dia, se houver necessidade. • Podem ser necessárias até 2 semanas com dose máxima para verificar se uma dose possui algum efeito útil. - O topiramato pode ser útil em alguns pacientes, assim como bloqueios do nervo occipital maior. - A estimulação do nervo occipital provavelmente desempenha um papel em pacientes com hemicrania contínua que são incapazes de tolerar a indometacina. IANI SOARES LUZ XIII - MED OBS: Diferenciação das CATs: OBS: Outras cefaleias primárias: • Cefaleia primária da tosse: Cefaleia generalizada de início súbito, duração de vários minutos, algumas vezes de até algumas horas, que é precipitada pela tosse; ◦ É passível de prevenção evitando a tosse ou outros eventos desencadeantes (espirros, esforço ao urinar ou defecar, riso ou curvar o corpo). • Cefaleia primária do esforço físico: A dor, cuja duração pode ser de 5 min a 24 h, é bilateral e pulsátil no início; pode-se observar o desenvolvimento de características migranosas em pacientes suscetíveis à migrânea; ◦ É possível prevenir evitando esforços excessivos, particularmente, em climas quentes ou em grandes altitudes. • Cefaleia primária associada à atividade sexual: Cefaleia bilateral surda, que subitamente fica intensa no orgasmo. É possível prevenir ou aliviar a cefaleia com a interrupção da atividade sexual antes do orgasmo. ◦ São relatados 3 tipos de cefaleia associada à atividade sexual: ▪ Dor surda na cabeça e no pescoço, que se intensifica à medida que aumenta a excitação sexual; ▪ Cefaleia súbita, intensa e explosiva que ocorre no orgasmo; ▪ Cefaleia postural que se desenvolve após o coito e que se assemelha à cefaleia da hipotensão do LCS. • Cefaleia primária em facada: Dor na cabeça semelhante a facadas ou, raramente, na face, com duração de um a muitos segundos ou minutos e ocorrência na forma de uma única facada ou série de facadas, ausência de características cranianas autonômicas associadas, ausência de deflagradores cutâneos das crises e padrão de recidiva a intervalos irregulares (horas a dias). ◦ A dor tem sido variadamente descrita como dor em picador de gelo ou golpes e abalos e é mais comum em pacientes com outras cefaleias primárias, como migrânea e CAT. • Cefaleia numular: Localizada em uma área redonda ou elíptica fixa, cujo tamanho varia de 1 a 6 cm, e que pode ser contínua ou intermitente. • ◦ Pode haver distúrbios sensitivos focais, como alodinia e hipoestesia. • Cefaleia hípnica: Ocorrência dentro de algumas horas após o início do sono. A cefaleia, cuja duração é de 15 a 30 min, IANI SOARES LUZ XIII - MED é tipicamente generalizada e de intensidade moderada, embora também possa ser unilateral e pulsátil. ◦ As crises podem ocorrer até 3x durante a noite, e os cochilos durante o dia também podem desencadear cefaleia. ◦ A maioria dos pacientes é constituída por mulheres, e o início é habitualmente observado depois dos 60 anos. • Cefaleia persistente e diária nova: Síndrome clinicamente distinta, caracterizada por cefaleia diária desde o início, durante pelo menos 3 meses. ◦ O paciente claramente pode lembrar a data e o momento exatos de início. ◦ Com frequência, não se observa nenhum evento deflagrador notável. • Cefaleia pós-traumática: Evento traumático pode desencadear um processo de cefaleia de muitos meses ou anos de duração após o evento. ◦ Traumas: Lesão da cabeça (incluindo procedimentos neurocirúrgicos, odontológicos ou procedimentos em otorrinolaringologia); episódio infeccioso, como meningite viral ou doença de tipo gripal, etc.
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