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IANI SOARES LUZ XIII – MED APG 34 Displasia do desenvolvimento do quadril Pelve - Anatomicamente, a pelve é a parte do corpo circundada pelo cíngulo do membro inferior (pelve óssea), parte do esqueleto apendicular do membro inferior. • Pelve maior (falsa): ◦ Acima da abertura superior da pelve; ◦ Limitada pelas asas do ílio posterolateralmente e a face anterossuperior da vértebra S I posteriormente; ◦ Ocupada por vísceras abdominais (p. ex., o íleo e o colo sigmoide). • Pelve menor (verdadeira): ◦ Situada entre as aberturas superior e inferior da pelve; ◦ Limitada pelas faces pélvicas dos ossos do quadril, sacro e cóccix; ◦ Que inclui a cavidade pélvica verdadeira e as partes profundas do períneo (compartimento perineal), especificamente as fossas isquioanais; ◦ Que tem maior importância obstétrica e ginecológica. Ossos A pelve é composta pela cintura pélvica e pelo cóccix. - Cintura pélvica ou cíngulo do membro inferior: Forma de bacia que une a coluna vertebral aos membros inferiores. Composto pelos ossos do quadril e o sacro. Funções ◦ Sustentação do peso das partes superiores do corpo nas posições sentada e ortostática; ◦ Ponto de fixação para os músculos da locomoção, postura e da parede abdominal. Serve de fixação também para os corpos eréteis dos órgãos genitais; ◦ Fornece proteção para as vísceras pélvicas e abdominais inferiores, e permite IANI SOARES LUZ XIII – MED a passagem dessas até suas partes terminais. ▪ Fornece passagem para o feto a termo; ▪ Transfere o peso do esqueleto axial para o esqueleto apendicular (membros) inferior para ficar de pé e caminhar. - Ossos do quadril: Dividem-se em 3 partes a partir de um “Y” na região do acetábulo (local onde o fêmur se encaixa): • Ílio: Parte superior do osso do quadril. Possui forma de leque. Suas regiões são: ◦ Asa do ílio: Abertura do leque; ▪ Fossa ilíaca: Face côncava da asa. Onde se insere o músculo ilíaco; ▪ Face glútea: Face posterior da asa ilíaca. Onde se origina a musculatura glútea. ▪ Face articular: Onde o ílio se articula com o sacro. ◦ Corpo do ílio: Cabo do leque; ◦ Crista ilíaca: Toda a borda curvada do leque; ◦ Espinhas ilíacas: São 4: anterossuperior (início da crista, voltada para frente), anteroinferior, posterossuperior (final da crista, voltada para trás) e posteroinferior. ▪ As espinhas ilíacas anterossuperiores podem ser sentidas (em alguns até vistos) em indivíduos mais magros. • Ísquio: Parte posterior e inferior do osso do quadril. ◦ Corpo do ísquio: Ajuda a formar o acetábulo.; ◦ Espinha isquiática: Separa as 2 incisuras isquiáticas; ▪ Incisura isquiática maior: Localizada entre a espinha ilíaca posteroinferior e a espinha isquiática; ▪ Incisura isquiática menor: Localizada abaixo da espinha isquiática. Entre ela e a tuberosidade isquiática. ◦ Tuberosidade isquiática: Protuberância na parte posteroinferior; ▪ Local de origem dos músculos isquiotibiais. Esses músculos são importantes para sustentar o corpo na posição sentada. ◦ Forame obturado: Parcialmente formado pelo ísquio. ▪ Ramo do ísquio: Parte do ísquio que faz parte do forame. ▪ Membrana obturatória: Mantém o forame fechado. • Púbis: Parte anterior e inferior do osso do quadril. IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Ramo superior: Contribui para formar parte do acetábulo; ◦ Ramo inferior: Contribui para formar outra parte do forame obturado; ◦ Corpo do púbis: Se articula com o púbis do outro lado; ▪ Crista púbica: Região arredondada na parte superior do púbis. Termina na tuberosidade; ▪ Tuberosidade púbica: Parte mais interna. Ponto de união dos 2 púbis. ◦ Linha terminal: Composta pelas 2 linhas que, juntas, definem a abertura superior da pelve menor (verdadeira); ▪ Linha pectínea do púbis: Margem afiada do ramo superior do púbis; ▪ Linha arqueada: Continuação da linha pectínea. ◦ Sínfise púbica: Fibrocartilagem que conecta os 2 púbis. - Sacro: Osso formado pela união das 5 vértebras sacrais. • Asas sacrais: Superfícies superiores das partes laterais; • Superfícies auriculares: Superfícies laterais em forma de orelha, onde o sacro se articula com o osso do quadril; • Crista sacral mediana: Formada pela união das 4 primeiras vértebras sacrais ao longo da superfície dorsal do sacro; • Hiato sacral: A 5ª vértebra não forma processo espinho e deixa a região aberta; ◦ Canal sacral: Continuação do canal vertebral. Termina no hiato sacral. • Forames sacrais: Existem 4 pares na superfície anterior e outros 4 na superfície posterior; • Promontório: Margem anterior do corpo vertebral que se projeta para frente. ◦ Nessa região a cavidade abdominal se separa da cavidade pélvica. - Cóccix: Porção mais inferior da coluna vertebral e normalmente consiste em 3 a 5 vértebras semifundidas, que formam um triângulo, com o ápice direcionado inferiormente. • Vértebras muito menores do que as outras; • Vértebras que não têm forame vertebral nem processos bem desenvolvidos • Facilmente quebrado quando uma pessoa cai sentada em uma superfície sólida. IANI SOARES LUZ XIII – MED Articulações - As principais articulações do cíngulo do membro inferior são as articulações sacroilíacas e a sínfise púbica - Articulações lombossacrais: Correspondem as articulações entre o sacro e a região lombar da coluna vertebral. • 2 articulações dos processos articulares: Entre os processos articulares inferior e superior adjacentes; • Disco intervertebral: Localizado entre o promontório e a última vértebra lombar. • Ligamentos envolvidos: ◦ Ligamentos ileolombares: Vão desde o processo transverso da última vértebra lombar até o ílio; ◦ Ligamentos lombossacrais: Vão desde o processo transverso da última vertebra lombar até o sacro. ◦ Juntos, esses dois ligamentos reforçam as articulações lombossacrais. - Articulações sacroilíacas: Entre o sacro e o ílio. Elas transmitem força dos membros inferiores para a coluna vertebral. - Elas ajudam a diminuir a carga sobre a coluna lombar. • Classificação: Formadas por uma articulação sinovial anterior (entre as faces auriculares do sacro e do ílio, cobertas por cartilagem articular) e uma sindesmose posterior (entre as tuberosidades desses ossos); ◦ Diferem da maioria das articulações sinoviais porque a mobilidade é limitada, uma consequência de seu papel na transmissão de peso da maior parte do corpo para os ossos do quadril. • Movimentos: São movimentos de deslizamentos; • Ligamentos envolvidos: ◦ Ligamentos sacroilíacos anteriores: Parte anterior da cápsula fibrosa da parte sinovial da articulação; ◦ Ligamentos sacroilíacos interósseos: Situados profundamente entre as tuberosidades do sacro e ílio; ◦ Ligamento sacroilíaco posterior. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Articulação da sínfise púbica: É uma fibrocartilagem. Tecido fibroso, resistente e cartilaginoso parecido com o dos discos intervertebrais. Une os 2 púbis nos tubérculos púbicos e fornece força e sustentação durante a marcha. • Ligamentos envolvidos: ◦ Ligamentos superior e inferior do púbis. - Articulação sacrococcígea: • Classificação: Cartilagínea secundária com um disco intervertebral; • Ligamentos envolvidos: ◦ Ligamentos sacrococcígeos anterior e posterior; ◦ A fibrocartilagem e os ligamentos unem o ápice do sacro à base do cóccix. - Articulação coxofemoral: Principal articulação do quadril. Está entre oacetábulo e o fêmur. • Classificação: Articulação sinovial esferoide; - • Movimentos: São 6: flexão, extensão, abdução, adução e rotação interna e externa; ◦ Articulação triraxial: Gira em torno de 3 eixos. • Ligamentos envolvidos: Ligamentos iliofemoral, pubofemoral, isquiofemoral, transverso do acetábulo e da cabeça do fêmur (redondo). - ◦ Ligamento pubofemoral: Reforça a articulação anteriormente e inferiormente; ◦ Ligamento iliofemoral: Anteriormente e superiormente; ◦ Ligamento isquiofemoral: Posteriormente. IANI SOARES LUZ XIII – MED Músculos - A articulação do quadril realiza 6 movimentos. Cada um dele é realizado por um conjunto de músculos do quadril. - Flexão do quadril: Músculo iliopsoas (psoas maior; psoas menor; ilíaco); músculo tensor da fáscia lata; músculo sartório; pectíneo; adutor longo; adutor magno; adutor breve; reto femoral; glúteo médio (porção anterior); e glúteo mínimo; - Extensão do quadril: Glúteo máximo; glúteo médio; semitendinoso; semimembranoso; bíceps femoral (cabeças longa e curta); adutor magno; e tensor da fáscia lata; - Abdução do quadril: Glúteo máximo; glúteo médio; glúteo mínimo; tensor da fáscia lata; sartório; e piriforme; - Adução do quadril: Pectíneo adutor longo; adutor magno; adutor breve; e grácil; - Rotação interna (medial): Tensor da fáscia lata; glúteo mínimo; pectíneo; adutor longo; adutor breve; adutor magno; grácil; semimembranoso; e semitendinoso; - Rotação externa (lateral): Íliopsoas; glúteo máximo; glúteo médio; piriforme; gêmeo superior; obturador interno; gêmeo inferior; quadrado femoral; obturador externo; sartório; e cabeça longa do bíceps femoral; Vascularização - 6 artérias principais entram na pelve menor das mulheres: 2 artérias ilíacas internas, 2 artérias ováricas, 1 artéria sacral mediana e 1 artéria retal superior. • Como as artérias testiculares não entram na pelve menor, apenas 4 artérias principais entram na pelve menor dos homens. - Os plexos venosos pélvicos são formados pelas veias que se anastomosam circundando as vísceras pélvicas. • Os vários plexos na pelve menor (retal, vesical, prostático, uterino e vaginal) se unem e são drenados principalmente por tributárias das veias ilíacas internas, mas alguns deles drenam através da veia retal superior para a veia mesentérica inferior do sistema porta do fígado ou através das veias sacrais laterais para o plexo venoso vertebral interno. • Outras vias relativamente pequenas de drenagem venosa da pelve menor são a veia sacral mediana parietal e, nas mulheres, as veias ováricas. IANI SOARES LUZ XIII – MED Inervação - O suprimento nervoso do quadril é provenientedo nervo femoral ou de seus ramos musculares, os nervos obturatório e obturatório acessório, o nervo para o músculo quadrado femoral e o nervo glúteo superior. Diferenças sexuais do cíngulo do membro inferior - Essas diferenças sexuais estão relacionadas, principalmente, com a constituição mais pesada e os músculos maiores da maioria dos homens e a adaptação da pelve (sobretudo, a pelve menor) nas mulheres para o parto. • Maiores dimensões do cíngulo do membro inferior no homem, porém maior volume da cavidade pélvica na mulher, aparecem durante o primeiro ano de vida, com as maiores distinções se desenvolvendo após a puberdade. IANI SOARES LUZ XIII – MED IANI SOARES LUZ XIII – MED Displasia do desenvolvimento do quadril (DDQ) - “Displasia do desenvolvimento do quadril” (DDQ) é uma expressão genérica que descreve um espectro de anormalidades anatômicas do quadril, as quais podem ser congênitas ou de desenvolvimento após o nascimento. - Abrange o desenvolvimento anormal do acetábulo e fêmur proximal e instabilidade mecânica da articulação do quadril. Epidemiologia - A incidência de DDQ é aumentada nas populações de lapões e nativos americanos e diminuída nas populações africanas e asiáticas. - Ambos os quadris estão envolvidos em até 37% dos pacientes. Entre os casos unilaterais, o quadril esquerdo é mais acometido do que o direito. ◦ Tal fato pode estar relacionada ao típico posicionamento fetal anterior occipital esquerdo, no qual o quadril esquerdo é forçado em adução contra o sacro da mãe. Etiologia - As causas da DDQ são multifatoriais, mas as maisimportantes são hiperlassidão ligamentar, excessiva anteversão femoral, anteversão e/ou deficiência acetabular e má posição intrauterina. - Em recém-nascidos, a suspeita de DDQ costuma ser alta nas seguintes situações: a) existir história familiar; b) ocorrer oligoidrâmnios; c) for o 1º filho e do sexo feminino (meninas têm incidência maior do que meninos, em proporção de 8:1); IANI SOARES LUZ XIII – MED d) apresentar torcicolo, plagiocefalia, pé metatarso varo ou calcâneo-valgo, contratura em extensão dos joelhos ou outras deformidades; e) tiver apresentação pélvica (aumenta a probabilidade de luxação em mais de 14x no lactente a termo). Fatores de risco: Sexo feminino: O aumento da incidência em mulheres tem sido atribuído a um aumento transitório na frouxidão ligamentar relacionada ao aumento da suscetibilidade de bebês do sexo feminino ao hormônio materno relaxina. - No entanto, alguns estudos refutam essa hipótese; ◦ O aumento da incidência de DDQ em mulheres é difícil de separar do aumento do risco de DDQ em partos pélvicos, que também é mais comum em mulheres. • Posição pélvica: Maior fator de risco para DDQ; ◦ Na posição pélvica, o fêmur do feto em flexão e rotação externa pode ser forçado para fora do acetábulo, predispondo a criança a nascer com o quadril instável, subluxado ou luxado; ◦ Diminuir o tempo gasto na posição pélvica por cesariana pré-parto pode diminuir o risco de DDQ clinicamente significativa. • Histórico familiar: Fatores genéticos parecem desempenhar um papel no desenvolvimento da DDQ; • Enfaixamento: Incidência de DDQ é aumentada em populações que usam cueiros e pranchas de berço; ◦ Essas práticas limitam a mobilidade do quadril e posicionam o quadril em adução e extensão, o que pode desempenhar um papel no desenvolvimento da DDQ. • Outras condições: Torcicolo, plagiocefalia, metatarso aduto, pé torto, primogênito, oligoidrâmnio, peso ao nascer > 4 kg e gravidezes de gestação múltipla. IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Estão relacionadas à diminuição do movimento fetal ou posição fetal anormal foram associadas à DDQ, mas não foi comprovado que aumentam o risco. Terminologia - Instabilidade: Quadril está contido e reduzido, mas lasso, instável e, por conseguinte, passível de luxação, em decorrência da frouxidão capsuloligamentar. Pode haver displasia concomitante. • Na displasia, ocorre desenvolvimento inadequado da articulação do quadril, incluindo o acetábulo, a cabeça femoral ou ambos. • No recém-nascido, a displasia, sem instabilidade ou luxação, é assintomática, e o exame físico é normal. • O diagnóstico é fortuito e possível apenas por ultrassonografia. Quando tal condição vem acompanhada de instabilidade ou luxação, as manobras de Barlow confirmam o diagnóstico na avaliação por imagem. ◦ Por essa razão, o diagnóstico isolado costuma ser estabelecido muito tarde, quando a evolução alcança subluxaçãoe luxação, com sinais clínicos mais evidentes na criança maior, como a limitação da abdução, o sinal de Galeazzi e o sinal de Trendelenburg na idade da marcha. - Displasia: Anormalidade da forma da articulação do quadril (geralmente superficialidade do acetábulo, envolvendo as margens superior e anterior). - Subluxável/subluxável: A cabeça femoral é reduzida (ou seja, dentro do acetábulo) em repouso, mas pode ser parcialmente deslocada ou subluxada com manobras de exame. Este é um quadril com leve instabilidade ou frouxidão. - Deslocável: A cabeça femoral é reduzida em repouso, mas pode deslocar em outras posições ou com manobras de exame. Este é um quadril com instabilidade. - Subluxação: Perda parcial do contato articular. • É o termo usado para descrever achados radiográficos que indicam hipoplasia do acetábulo e deslocamento parcial da cabeça do fêmur em relação ao seu encaixe no acetábulo. • A cabeça femoral está parcialmente fora do acetábulo, mas permanece em contato com ele. - Redutível: O quadril é deslocado em repouso, mas a cabeça femoral pode ser posicionada no acetábulo com manipulação (geralmente, flexão e abdução). - Luxação: Perda total do contato articular entre a cabeça femoral e o acetábulo. IANI SOARES LUZ XIII – MED A: Quadril normal ou instável B: Displásico; C: Displásico com subluxação ou luxação; D: Luxado. OBS: Terminologia: • “Displasia” é preferível a “luxação” porque inclui um espectro mais amplo de alterações na forma e posição da cabeça femoral e do acetábulo; • “Do desenvolvimento” é preferível a “congênita”, uma vez que a condição nem sempre está presente ou identificável no nascimento e se desenvolve durante a primeira infância. Fisiopatologia - O desenvolvimento normal da articulação do quadril depende do contato normal entre o acetábulo e a cabeça femoral, promovendo a indução mútua. - O desenvolvimento anormal é resultado de contato anormal, que pode resultar de múltiplos fatores genéticos e ambientais (intrauterinos e pós-natais). - Na 11ª semana de gestação, a articulação do quadril está totalmente formada. - A cabeça femoral é esférica e inserida profundamente no acetábulo. - No entanto, a cabeça femoral cresce a uma taxa mais rápida do que o acetábulo, de modo que, no final da gestação, a cabeça femoral está menos de 50% coberta pelo teto acetabular. - Durante as últimas 4 semanas de gestação, o quadril é vulnerável a forças mecânicas, como a adução, que direcionam a cabeça femoral para longe da porção central do acetábulo. • As condições que limitam a mobilidade fetal, incluindo o posicionamento pélvico, acentuam essas forças mecânicas. Isso resulta em contato excêntrico entre a cabeça femoral e o acetábulo. - No período neonatal, a frouxidão ligamentar torna o quadril em desenvolvimento suscetível a outras forças mecânicas externas. • O posicionamento com os quadris estendidos (por exemplo, enfaixar) pode resultar em contato excêntrico da IANI SOARES LUZ XIII – MED articulação do quadril à medida que a cabeça femoral desliza para dentro ou se move para fora do acetábulo. • Se esses fatores persistirem, o contato anormal da articulação do quadril leva a alterações anatômicas estruturais. - Se a cabeça femoral não estiver profundamente assentada no acetábulo, o labrum pode tornar-se evertido e achatado e o ligamento redondo alongado. Ocorre uma ossificação anormal do acetábulo e desenvolve-se um acetábulo raso. - Com o tempo, as estruturas intra- articulares hipertrofiam, incluindo o lábio com crista espessada (neolimbo), ligamento redondo e tecido fibrogorduroso (pulvinar). - Desenvolvem-se contraturas no iliopsoas e nosadutores do quadril, e a cápsula inferior é puxada para dentro do acetábulo vazio, diminuindo ainda mais o potencial de redução da cabeça femoral no acetábulo. - Um acetábulo falso pode se formar onde a cabeça femoral entra em contato com a parede lateral da pelve acima do acetábulo verdadeiro. - A falta de contato entre a cabeça femoral e o acetábulo inibe o desenvolvimento normal da articulação do quadril. - Com ou sem luxação total, o quadril pode desenvolver alterações displásicas. • Mais comumente, o resultado é um acetábulo raso com diminuição da cobertura anterior e lateral da cabeça femoral. • Também pode haver asfericidade da cabeça femoral, um ângulo valgo da diáfise do colo e persistência do excesso de anteversão femoral. As alterações começam com frouxidão da cápsula articular do quadril (A), o que permite que a cabeça femoral se mova para fora do acetábulo. Esse movimento resulta em eversão do labrum e alongamento do ligamento redondo (B), eventualmente impedindo o deslocamento da cabeça femoral para o acetábulo (C). Manifestações clínicas IANI SOARES LUZ XIII – MED Diagnóstico Diagnóstico clínico - Do nascimento aos 6 meses: • Assimetria de pregas nas coxas e poplíteas: Costuma acontecer no recémnascido pela obliquidade pélvica, com contratura no quadril em abdução de um lado e em adução do outro, o que poderá estar comprometido; • Encurtamento aparente do fêmur (sinal de Galeazzi positivo): O exame deve ser feito com os quadris em posição simétrica. Quando o quadril estiver em abdução, o outro em adução parecerá mais curto; ◦ Não é encontrado de modo habitual no RN, a não ser nos casos de deslocamento pré-natal (teratológica) ou no diagnóstico tardio, quando de uma luxação franca. A criança é posicionada como mostrado. O joelho é mais baixo do lado afetado em razão do deslocamento posterior no quadril displásico (seta). • Assimetria das pregas inguinais: Em geral, as pregas são simétricas, mas, quando a cabeça femoral está deslocada em posição posterior e cranial, podem estar assimétricas. • No lado afetado, a prega inguinal estende-se posterior e lateralmente em relação à abertura anal. • Quando ambos os quadris estão deslocados, as pregas estão simétricas, mas estendem-se posterior e lateralmente à abertura anal; • Teste de Ortolani: Coloca-se a criança em posição supina em mesa de exame firme. • A criança precisa estar relaxada, não chorar nem resistir ao exame. • Examina-se um lado do quadril de cada vez. • Com uma mão, estabiliza-se a bacia; com a outra, colocam-se os dedos médio e o indicador no trocânter maior e abraça-se a coxa com a mão e o polegar sobre o joelho. • Não se coloca o polegar no triângulo femoral, pois isso pode causar dor e reação da criança. • A manobra é realizada com delicadeza. • Não se pode comprimir demais os dedos sobre a coxa do bebê. • Com o quadril fletido em 90°, abduz-se a coxa e, com o dedo indicador ou o médio, empurra-se, de baixo para cima e de fora para dentro, pelo trocânter maior, a cabeça femoral para dentro do acetábulo. • O examinador sente o ressalto de redução do quadril. IANI SOARES LUZ XIII – MED • A seguir, aduz-se o quadril. • A cabeça femoral irá se deslocar para fora do acetábulo com ressalto de saída. • Não se pode esquecer que esse é um teste de sensibilidade e não de força. • O ressalto é sentido nos dedos, não pelos ouvidos por meio de ruídos do tipo clunck, como descrito em muitas publicações; • Teste de Barlow: Esse teste é feito para o diagnóstico de instabilidade do quadril . • A criança é colocada da mesma forma que para o teste de Ortolani.• A extensão do quadril aumenta a sua instabilidade, enquanto a hiperflexão deixa-o mais estável. • O quadril deve ser testado em 45° de flexão e 5 a 10° de adução, ou seja, em posição de instabilidade. • Com os dedos indicador e médio por cima do trocânter maior e o polegar no terço médio da coxa (não em cima do trocânter menor), empurra-se a cabeça femoral, lateral e posteriormente, na tentativa de deslocar o quadril. • Quando o quadril é instável, a cabeça femoral se desloca para fora do acetábulo, por meio do ressalto de saída. • A seguir, desfaz-se a compressão lateroposterior e, de maneira delicada, abduz-se e flexiona-se o quadril. • A cabeça femoral será reduzida para dentro do acetábulo, com o ressalto de entrada. ◦ Em caso de dúvida, testa-se o quadril em posição de maior instabilidade, ou seja, com maior extensão e adução. ◦ No quadril subluxado, a cabeça femoral não consegue ser empurrada para fora do acetábulo, não ocorre o ressalto de saída, somente um deslizamento, e uma leve telescopagem pode ser sentida, já que o quadril está parcialmente luxado. IANI SOARES LUZ XIII – MED Sinais físicos de DDQ A e B: Assimetria das pregas nas coxas e na região poplítea; C: Encurtamento aparente do fêmur, sinal de Galeazzi positivo; D: Pregas inguinais normais; E: Assimétricas, positivo à esquerda, estendendo-se posterior e lateralmente à abertura anal. O lado direito é normal; F: Positivo à direita. G: Bilateral, sugerindo luxação posterior bilateral dos quadris. Teste de Ortolani (A e B) e Teste de Barlow (C e D) - Dos 6 aos 12 meses: Com o progressivo deslocamento posterolateral e cranial da cabeça femoral, aumentam as alterações anatômicas na articulação. • Contratura em adução do quadril: A abdução do quadril luxado é progressivamente limitada; • Encurtamento aparente da coxa: Sinal de Galeazzi positivo; • Postura em rotação externa do membro inferior: Com o quadril e o joelho em extensão, o membro inferior fica posicionado em rotação externa; • Assimetria das pregas glúteas: Pregas ficam assimétricas e são mais acentuadas na luxação unilateral. - Após a marcha: • Somando-se aos achados descritos, a criança anda com claudicação por conta da fraqueza do glúteo médio e do encurtamento aparente do membro afetado. • Em ortostatismo, apresenta lordose lombar excessiva, rotação externa do membro inferior, trocânter maior proeminente e sinal de Trendelenburg positivo; • Com o aumento da contratura em adução do quadril, ocorre geno valgo compensatório. • IANI SOARES LUZ XIII – MED Sinal de Trendelenburg positivo - Achados associados: Diagnóstico por imagem - Ultrassonografia (USG): O quadril do RN é cartilaginoso, e a cabeça femoral não é visível à radiografia. Por isso, até os 6 meses de vida, é mais bem avaliado pela USG, que identifica as estruturas cartilagíneas do acetábulo, da cabeça e do colo do fêmur. A USG pode servir tanto como método diagnóstico como método de avaliação do tratamento nos primeiros seis meses de vida. • O método de Graf mede a displasia cartilagínea, e o de Harcke, a estabilidade do quadril; • Método estático de Graf: Analisa o fêmur proximal e o contorno da pelve; ◦ Uma imagem coronal de cada lado do quadril é feita com a criança deitada em decúbito lateral, com o quadril fletido em 35 a 45°, e rotação interna de 10 a 15°. Com isso, pode-se ter acesso à posição da cabeça femoral, ao aspecto do osso acetabular, à configuração do acetábulo, à posição do lábio cartilagíneo e ao volume do teto cartilagíneo. • Método dinâmico de Harcke: Emprega a USG em tempo real. Com a criança em posição supina, cada lado do quadril é analisado no plano transverso, com o examinador aplicando as manobras de Barlow e de Ortolani e testando a relação articular da cabeça do fêmur com o acetábulo. ◦ Método proposto para investigar a estabilidade do quadril e a morfologia do acetábulo, produzindo 4 diferentes imagens do quadril: vista coronal em posição neutra, vista coronal em flexão, vista transversa em flexão e vista transversa em posição neutra. IANI SOARES LUZ XIII – MED ◦ Harcke e Kumar descrevem 3 tipos de anormalidades do quadril: ▪ Subluxação; ▪ Luxação lateral e posterossuperior: Na luxação, a cabeça femoral está deslocada posterior e/ou lateralmente, e os tecidos moles aparecem entre o púbis, o ísquio e a cabeça femoral, a qual tem contato parcial com o acetábulo. Na luxação lateral, a cabeça femoral aparece mais deslocada do que na subluxação e não tem contato acetabular. Na luxação posterossuperior, o examinador vê a cabeça femoral, mas tem dificuldade para observar os limites do acetábulo ósseo. OBS: Método de Graf: São traçadas 3 linhas – 1 vertical e paralela à parede lateral ossificada do íliaco (linha de referência) e as outras 2 formando ângulos denominados alfa e beta, que passam pelo teto ósseo e cartilagíneo, tangenciando o quadril. • Ângulo alfa: Formado entre a linha 1 (de referência) e a 3, a do teto ósseo; ◦ No quadril normal, esse ângulo costuma ser maior do que 60°; ◦ Quanto menor for o ângulo, maior é a displasia do quadril. • Ângulo beta: Formado entre a linha 1 (de referência) e a 2, que passa pelo teto cartilagíneo; ◦ Quando o ângulo beta é maior do que 77°, o quadril está subluxado e o lábio, evertido. • Com base nesses achados, o método de Graf sugere o tipo de tratamento conforme sua classificação. IANI SOARES LUZ XIII – MED - Radiografia: No recém-nascido é de difícil execução e interpretação. Nessa idade, a cabeça femoral não está calcificada, e grande parte do acetábulo é cartilagíneo. • Contudo, por volta dos 2 ou 3 meses de vida em diante, as radiografias passam a ser importantes para o diagnóstico correto. • Uma radiografia em anteroposterior da bacia com as articulações coxofemorais em posição neutra permite o traçado de linhas como de Shenton, de Perkins e iliofemoral, além da avaliação do sinal da lágrima e da inclinação acetabular. - Artrografia com duplo contraste: Técnica de diagnóstico, que prevê a injeção de um meio de contraste positivo no espaço articular, seguido de um meio de contraste negativo, a fim de evidenciar lesões nas superfícies articulares e demais estruturas que as compõem. • Vem sendo abandonada por alguns autores e substituída pela nova tecnologia de imagem, como a TC com reconstrução em 3D e a RM. • A artrografia não deve ser realizada fora do ambiente cirúrgico, mas acompanhada de todos os cuidados assépticos, pelo risco de infecção. ◦ Existe o risco de lesão da cabeça femoral e seu suprimento vascular, quando realizado por profissional inexperiente. - Tomografia computadorizada: Não é empregada com frequência. Usada quando se faz necessária a confirmação da manutenção de redução concêntrica durante o uso do aparelho gessado, que, por vezes, não dá uma imagem muito clara pela interposição do material gessado. • Pode mostrar o grau de anteversão e a incontinência do acetábulo, determinar a torção femoral nos casos tardios e auxiliar com a reconstrução tridimensional no estudo prévio à osteotomia de correção acetabular. - Ressonância nuclear magnética: É rara sua indicação, sendo feita apenas para o estudo da cartilagem e dos tecidos moles, da qualidade da redução ou de algum processo isquêmico da cabeça ou do colo do fêmur, nos diagnósticos e tratamentos tardios. • Além de ser um exame dispendioso, existe a necessidade de sedaçãoem crianças, o que não justifica a utilização do método como diagnóstico. • Alguns autores têm usado a RM em casos tardios e inveterados, no lugar da artrografia. - Artroscopia: Vem sendo usada para tratamento de alguns problemas ao nível do quadril da criança e do adolescente. - Facilita a desobstrução do acetábulo, a retirada de fragmentos intraarticulares, a reparação e a reorientação do lábio, além da correção da síndrome do impacto osteocartilaginoso articular. • Procedimento cirúrgico minimamente invasivo que permite investigar o interior de uma articulação usando um aparelho chamado artroscópio. - IANI SOARES LUZ XIII – MED Tratamento - O objetivo do tratamento da DDQ é obter e manter a redução concêntrica (isto é, alinhamento dos centros geométricos da cabeça femoral e do acetábulo) do quadril. - Idade de 0 a 4 semanas: A luxação do quadril é rara em lactentes com menos de 4 semanas, mas frouxidão (instabilidade leve) e/ou acetábulo raso (displasia) são comuns. • Flacidez: Instabilidade/frouxidão leve em bebês com menos de 4 semanas geralmente melhora espontaneamente, é importante evitar o diagnóstico excessivo e o tratamento excessivo de DDQ nessa faixa etária; ◦ Se for encontrada instabilidade/frouxidão leve no berçário do recém-nascido, sugere-se a repetição do exame após 4 semanas de idade; • Luxação ou instabilidade: Embora não seja uma emergência, o encaminhamento imediato (dentro de algumas semanas) a um cirurgião ortopédico para o diagnóstico e tratamento da DDQ é indicado se o quadril estiver deslocado (em qualquer idade) ou se a frouxidão persistir além das 4 semanas de idade; • Ultrassonografia anormal: Se os quadris do bebê estiverem estáveis no exame, mas à ultrassonografia foram identificadas anormalidades, geralmente, sugerimos observação com ultrassonografia repetida às 6 semanas de idade. - Idade de 4 semanas à 6 meses: • Luxação ou instabilidade persistente: Recomenda-se o tratamento com uma tala de abdução (arnês de Pavlik, tala de von Rosen). ◦ O arnês de Pavlik é a tala de abdução mais estudada e mais comumente usada em todo o mundo, embora a tala de von Rosen também pareça ser segura e eficaz. OBS: Arnês/Suspensórios de Pavlik: Tala dinâmica que impede a extensão do quadril e limita a adução (que pode levar à luxação), mas permite flexão e abdução. • Indicações: Bebês < 6 meses com luxação do quadril ou quadris persistentemente deslocados ou subluxáveis; • Contraindicações: Desequilíbrio muscular (espinha bífida), rigidez severa (artrogripose), frouxidão excessiva (síndrome de Ehlers-Danlos), idade superior a 10 meses e uma situação familiar na qual o uso consistente e cuidadoso não pode ser garantido; • Aplicação e instruções: Ajustado com flexão do quadril de 100° e adução limitada a 3 dedos da linha média (ou seja, os joelhos devem ser separados por 6 dedos quando trazidos para a linha média). • A abdução não é forçada, mas encorajada pela gravidade. ◦ Devido ao rápido crescimento infantil, ajustes semanais ou quinzenais são necessários para manter a posição ideal. ◦ Sugere-se que seja usado por 23 h por dia (ou seja, exceto durante o banho) nas primeiras 6 semanas ou até que o quadril esteja estabilizado. Uma vez estabilizado o quadril, o IANI SOARES LUZ XIII – MED arnês é usado durante o sono nas próximas 6 semanas. • Duração: 2 a 3 meses de tratamento, geralmente, são necessários para pacientes que demonstram melhora com o arnês de Pavlik. ◦ Combinação de exame clínico demonstrando um quadril estável e USG demonstrando desenvolvimento acetabular melhorado é usada para determinar quando o tratamento pode ser descontinuado. • Complicações: Osteonecrose da cabeça femoral, displasia residual, paralisia do nervo femoral e ruptura da pele. Arnês/Suspensórios de Pavlik Idade de 6 a 18 meses ou falha da tala de abdução • Luxação: Redução fechada ou aberta realizada na sala de cirurgia sob anestesia para crianças com DDQ com mais de 6 meses no momento do diagnóstico ou início da terapia e bebês que falham no tratamento com imobilização de abdução. ◦ A redução incruenta da displasia ou da luxação, sob anestesia geral, e manter a criança em um aparelho gessado, chamado de GPP (gesso pélvico podálico) ou gesso em spica. • Displasia sem luxação: Geralmente, usa-se uma órtese de abdução em tempo parcial ou integral, como uma cinta de abdução de rinoceronte ou um gesso spica. • Isso permite um melhor posicionamento da cabeça femoral dentro do acetábulo para promover o desenvolvimento acetabular durante um período em que há um bom potencial de remodelação acetabular. Idade ≥ 18 meses: • Luxação: Os riscos e benefícios da redução são pesados em relação à história natural da luxação do quadril não tratada. ◦ Os principais riscos da cirurgia em crianças ≥ 18 meses de idade incluem osteonecrose e distúrbio do crescimento femoral proximal, displasia residual e necessidade de cirurgias adicionais. ◦ Os benefícios da cirurgia bem- sucedida incluem a correção da discrepância no comprimento das pernas e a prevenção ou adiamento do desenvolvimento de osteoartrite do quadril. • Displasia acetabular residual ou tardia: Entre crianças com mais de 5 anos com displasia acetabular residual ou tardia, a cirurgia (osteotomia acetabular com ou sem osteotomia femoral), geralmente, é necessária para obter redução concêntrica para reduzir o risco de osteoartrite.
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