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TRANSPORTES E SEGUROS INTERNACIONAIS AULA 1 Profª Rafaela Aparecida de Almeida 2 CONVERSA INICIAL O padrão de comércio internacional vem se transformando nos últimos 25 anos, em decorrência do uso de tecnologias e do processo de globalização. As empresas hoje distribuem suas operações pelo mundo, desde o projeto dos produtos, passando pela manufatura ou montagem até sua comercialização. Nas chamadas cadeias globais, a mesma empresa pode ter filiais, fornecedores e clientes distribuídos em diferentes países. Embora o advento das tecnologias tenha aproximado distâncias e permitido reuniões virtuais sem a necessidade do movimento de pessoas, a troca de suprimentos e mercadorias segue no sentido inverso, tornando-se o motor propulsor de muitas economias ao redor do mundo. Nesse cenário altamente competitivo, a redução com custos pertinentes ao transporte de cargas pode representar economia de escala, daí a necessidade de se conhecer as particularidades de cada modal, para realizar a escolha que melhor se adapta a cada processo ou segmento, ou, até mesmo, para sermos capazes de realizar análises no que tange ao uso da multimodalidade, de forma a obter redução de lead times e custos ao longo da cadeia produtiva. Nesta aula, faremos um apanhado geral a respeito dos transportes internacionais e conheceremos as principais características dos modais terrestres: rodoviário e ferroviário, os tipos de veículos, documentação necessária, agências reguladoras e aprenderemos ainda a diferenciar os conceitos de unitização de consolidação de cargas. Neste contexto, nossa aula contará com as seguintes temáticas: • Introdução aos transportes internacionais • Transporte rodoviário internacional • Tipos de veículos • Unitização e consolidação de cargas • Transporte ferroviário internacional Desejamos a todos bons estudos e uma aula repleta de conhecimento! 3 CONTEXTUALIZANDO A figura, a seguir, retirada do anuário estatístico de transportes 2010- 2017, representa a infraestrutura existente no Brasil, no que diz respeito aos modais rodoviário, ferroviário, hidroviário e dutoviário. Figura 1 – Estrutura dos modais brasileiros Fonte: <https://infraestrutura.gov.br/images/BIT_TESTE/Publica%C3%A7oes/Apresentacao_AET_201 8.pdf>. Acesso em: 1º jun. 2020. Tais informações reforçam a predominância do modal rodoviário na matriz de transporte de cargas no Brasil, modal este recomendável para pequenas e médias distâncias. Nota-se, na última década, um movimento, principalmente da iniciativa privada, de migrar cargas do modal rodoviário para as ferrovias e cabotagem, utilizando a intermodalidade como uma forma de redução de custos de transporte. No entanto, muito ainda há a ser feito em termos de infraestrutura logística em nosso país. Cabendo, assim, a cada empresa a realização de estudos de modais alternativos ao modal rodoviário ou do uso da intermodalidade em seus negócios, daí a importância dessa disciplina, que nos permitirá ampliar nossos conhecimentos a respeito de cada modal, com suas vantagens, desvantagens e particularidades. TEMA 1 – INTRODUÇÃO AOS TRANSPORTES INTERNACIONAIS Quando se trata de um processo de importação ou exportação, na maioria das vezes utilizamos mais de um modal em uma única operação, por exemplo, a primeira parte, pertinente ao transporte realizado na origem (da fábrica ao porto/aeroporto), é realizada de rodoviário ou ferroviário, a segunda parte via 4 aéreo ou marítimo e a última parte (no destino) via rodoviário, ferroviário ou até mesmo dutoviário, dependendo do produto transportado. O custo com o transporte é um fator de alto impacto na escolha dos modais, mas existem outras características que precisam ser analisadas de acordo com o material a ser transportado. 1.1 Características para a escolha do modal A escolha do modal ou da combinação deles em um processo de importação ou exportação passa pela análise de diferentes variáveis, tais como: • Características das cargas a serem transportadas – peso, volume, dimensões da carga, perecibilidade, fragilidade, periculosidade e possibilidade de compatibilização. Existem modais que possuem restrições de peso, de dimensões. O transporte aéreo, por exemplo, é altamente restritivo para cargas perigosas. • Tipos de equipamentos disponíveis e suas características – capacidade de movimentação do equipamento; disponibilidade do equipamento; frequência com que o equipamento está disponível. O transporte marítimo, por exemplo, representa redução nos custos, mas demanda maior quantidade de produtos em estoque para suprir seu elevado transit time. Para escolhermos um modelo de modal que atenda às necessidades de nosso processo, antes precisamos analisar cinco características que são de grande importância: • Velocidade – refere-se ao tempo decorrido de movimentação em dada rota, sendo conhecido também como transit time. O modal aéreo é o mais indicado para cargas urgentes ou perecíveis. • Disponibilidade – é a capacidade que o modal possui de atender diretamente pontos de origem e destino, caracterizando um serviço porta- porta. O transporte rodoviário apresenta maior disponibilidade. • Confiabilidade – refere-se a variabilidade potencial das programações de entrega esperadas e divulgadas. Os dutos, devido a seu serviço contínuo e à possibilidade restrita de interferência por condições climáticas ou congestionamentos se destacam neste item. 5 • Capacidade – refere-se à possibilidade que um modal de transporte tem de movimentar ou transportar cargas de diferentes tipos e tamanhos. O transporte realizado pela via marítima/fluvial é o mais indicado. • Frequência – está relacionada com a quantidade de movimentações programadas que o modal possui. Por trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana, o duto pode ser acionado a qualquer momento, representando a maior frequência no comparativo entre os modais. Cada modal de transporte possui características próprias, com vantagens e desvantagens. Dias (2012) e Razzolini Filho (2012) nos auxiliam a conhecer cada um deles. 1.2 Modal rodoviário O transporte rodoviário representa um dos mais antigos dos modais e o único que permite operações porta a porta (door-to-door), sendo empregado isoladamente ou em complemento aos demais modais. Vantagens: • Competitivo em distâncias curtas e médias; • Elevado grau de adaptação; • Baixo investimento para o transporte; • Menor custo ou necessidade de adaptação de embalagens. Desvantagens: • Aumento do preço com a distância percorrida; • Espaço limitado em peso e cubagem; • Riscos de avarias e roubos; • Sujeito à circulação do trânsito e restrições de circulação e horário. CARACTERIZAÇÃO DO MODAL Via de transporte Rodovias, estradas com ou sem pavimentação, avenidas e ruas. Meio de transporte Carretas, caminhões e veículos médios de diversos tipos. Força propulsora Motores a explosão (a diesel e gasolina), energia elétrica e solar. Instalações/terminais Armazéns, centros de distribuição, terminais de cargas. 6 1.3 Modal ferroviário Embora apresente pouca representatividade no Brasil, apresenta-se como uma alternativa para o transporte de produtos de baixo valor agregado, para grandes volumes de cargas, sendo indicado em viagens de longas distâncias. Vantagens: • Ideal para grandes quantidades de cargas; • Baixo custo para grandes distâncias; • Recomendado para produtos de baixo valor e alta densidade; • Pouco afetado pelo tráfego. Desvantagens: • Serviços e horários pouco flexíveis; • Pouco competitivo para distâncias curtas e cargas pequenas; • Grande dependência de outros modais; • Pouco flexível, depende do uso de terminais; • Elevados custos de movimentação de carga e descarga. CARACTERIZAÇÃO DO MODAL Via de transporte Ferroviae trilhos. Meio de transporte Locomotivas e vagões de diversos tipos. Força propulsora Motores a vapor e a diesel, e motores elétricos. Instalações/terminais Estações ferroviárias, garagens de manutenção, terminais. 1.4 Modal aeroviário Um dos mais novos entre os modais e de alto custo é o segundo em representatividade nos transportes internacionais. Indicado para o transporte de bens de consumo, bens duráveis, perecíveis, urgentes e de alto valor agregado. Vantagens: • Indicado para situações de prazos para longas distâncias; • Transporte de mercadorias de elevado valor agregado em longas distâncias; • Possui flexibilidade e frequência entre cidades; 7 • Rapidez no atendimento e menor burocracia para liberações de cargas internacionais. Desvantagens: • Mais lento do que o rodoviário para pequenas distâncias; • Elevado custo para mercadorias de baixo valor agregado; • Restritivo para cargas perigosas. CARACTERIZAÇÃO DO MODAL Via de transporte Rotas aéreas (aerovias). Meio de transporte Aviões de passageiros e de cargas, helicópteros. Força propulsora Força eólica, motores a explosão. Instalações/terminais Aeroportos, heliportos, hangares e armazéns. 1.5 Modal aquaviário (marítimo, cabotagem, fluvial e lacustre) Modal com maior representatividade entre o transporte de cargas internacionais, por ser mais barato que o modal aeroviário. É indicado para grandes volumes de mercadorias de baixo valor agregado. Vantagens: • Competitividade para produtos de baixo custo; • Indicado para longas distâncias; • Para grandes volumes movimentados. Desvantagens: • Velocidade reduzida; • Pouca flexibilidade e menor frequência. CARACTERIZAÇÃO DO MODAL Via de transporte Oceanos, mares, rios, lagos e canais. Meio de transporte Embarcações de pequeno, médio e grande porte. Força propulsora Motores a vapor e a explosão. Instalações/terminais Portos, ancoradouros, atracadouros (plataformas). 8 1.6 Modal dutoviário Representa um dos modais mais recentes a ser utilizado, com operações e controles bastante complexos, no entanto, com baixo custo operacional e indicado para o transporte de combustíveis, gases e minérios. Vantagens: • Longa vida útil; • Baixo índice de manutenção; • Baixa mão de obra; • Rapidez; • Funciona ponto a ponto para líquidos e gases. Desvantagens: • Baixa flexibilidade quanto aos tipos de cargas; • Investimento inicial elevado. CARACTERIZAÇÃO DO MODAL Via de transporte Oleodutos, gasodutos, minerodutos e aquedutos. Meio de transporte O próprio material. Força propulsora Força da gravidade, bombeamento, ar comprimido. Instalações/terminais Terminais que realizam a captação, bombeamento e as bases de distribuição. TEMA 2 – TRANSPORTE RODOVIÁRIO INTERNACIONAL No que diz respeito ao transporte rodoviário internacional, o Brasil, em virtude de sua posição geográfica, mantém acordos com quase todos os países da América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Peru, Paraguai e Uruguai). Entre esses acordos, destaca-se o Tratado de Integração do Mercado Comum do Sul (Mercosul), que busca facilitar o incremento do comércio, turismo e cultura entre os países, no transporte de bens e pessoas, permitindo que veículos e condutores de um país circulem com segurança e possuam trâmites fronteiriços simplificados nos territórios dos demais (ANTT, 2020). Para que uma empresa de transporte rodoviário internacional de carga possa realizar a prestação de serviço, em caráter regular, entre os países membros do acordo, ela necessita obter a outorga da Licença Originária, junto 9 à ANTT (conforme normas estabelecidas na Resolução ANTT n. 5.840, de 22 de janeiro de 2019), e da Licença Complementar, que diz respeito à autorização obtida junto ao Organismo Nacional Competente do país de destino e de trânsito. Segundo dados da ANTT, divulgados em 2020, 774 empresas brasileiras são outorgadas contemplando uma frota de 73.302 veículos cadastrados e 1.260 empresas estrangeiras outorgadas, perfazendo uma frota de 52.602 veículos habilitados para a realização do transporte rodoviário internacional de cargas entre o Brasil e países membros do Mercosul. Saiba mais Quer saber mais sobre o processo de outorga da Licença Originária? Acesse o link a seguir da publicação no Diário Oficial da União da Resolução n. 5.840, de 22 de janeiro de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/- /asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/60344144>. Acesso em: 1º jun. 2020. 2.1 Agência reguladora Os transportes terrestres, rodoviário e ferroviário no Brasil são regulamentados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), criada pela Lei n. 10.233, que tem sede e foro no Distrito Federal e está presente em todo o território nacional por meio das Unidades Regionais e Postos de Fiscalização. A ANTT tem por finalidade regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de prestação de serviços e de exploração da infraestrutura de transportes, exercidas por terceiros, com vistas a garantir a movimentação de pessoas e bens, harmonizar os interesses dos usuários com os das empresas concessionárias, permissionárias, autorizadas e arrendatárias e de entidades delegadas, preservado o interesse público, além de arbitrar conflitos de interesses e impedir situações que configurem competição imperfeita ou infração contra a ordem econômica. Em âmbito internacional, a ANTT é o órgão de aplicação e coordenação do Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre (ATIT), que tem como signatários os países do Mercosul (exceto Venezuela), o Chile, o Peru e a Bolívia. A agência é ainda responsável por conhecer e adotar as melhores práticas internacionais de regulação e governança, por meio de organismos 10 internacionais ou por meio de cooperações entre a ANTT e órgãos correlatos de outros países, que permitem o intercâmbio de conhecimentos e de experiências. 2.2 Documentos do transporte rodoviário internacional O transporte rodoviário internacional é utilizado em larga escala para efetivar as operações de importações e exportações de produtos entre o Brasil e os demais países da América do Sul. O Acordo sobre Transporte Internacional Terrestre (ATIT), firmado entre Brasil, Peru, Uruguai, Chile, Bolívia, Argentina e Paraguai, regulamenta como documentos necessários ao transporte internacional de cargas: O Conhecimento Internacional de Transporte Rodoviário (CRT) que tem como finalidade espelhar os dados essenciais de operações de importação e exportação, tais como: • Dados e especificidades da mercadoria; • Nome do embarcador e do consignatário da carga; • Locais de origem e destino; • Ponto de fronteira de liberação do veículo; • Data de entrega da mercadoria ao transportador. O CRT é obrigatório para viabilizar a liberação dos veículos de cargas nas aduanas dos países de destino e possui como funções primordiais: a representação do contrato de transporte terrestre entre o transportador e o contratante, a comprovação (recibo) de entrega da carga e título de crédito. O CRT deve ser preenchido, indistintamente, em português ou espanhol e emitido em três vias originais, sendo uma do transportador, uma do exportador e uma acompanhará a carga. O documento tem 30 dias de validade, devendo dentro desse período cruzar a fronteira para o país de destino. O MIC/DTA (Manifesto Internacional de Carga Rodoviária/Declaração de Trânsito Aduaneiro), por sua vez, é o documento obrigatório para viagens rodoviárias internacionais, utilizado para o controle da entrada e de circulação de bens e mercadorias dentro do território nacional. A apresentação do MIC/DTA dispensa a necessidade de vistoria de carga em fronteira e permite que o desembaraço aduaneiro e o pagamento dos tributos devidos na importação ocorram somente em seu destino final. 11 O documento podeser preenchido em português ou em espanhol e deve ser impresso em cinco vias originais, sendo uma destinada para a alfândega de origem, uma para a alfândega de destino, uma para o exportador, uma para o importador e uma para o transportador. Saiba mais Um MIC-DTA poderá conter mais de um conhecimento, não sendo permitido conhecimentos de tipos diferentes num mesmo MIC-DTA. Um MIC-DTA será transportado por um único veículo e um veículo transportará um único MIC-DTA. Portanto, em caso de viagens em comboio em que a carga exija o transporte em mais de um veículo, cada veículo conterá uma parte do conhecimento, ou seja, um único conhecimento com tantos MICs/DTAs, quanto forem necessários. TEMA 3 – TIPOS DE VEÍCULOS Figura 2 – Tipos de veículos Crédito: MicroOne/Shutterstock. No transporte internacional, o modal rodoviário é utilizado tanto para o transporte door to door (unimodal) quanto em complementação aos demais modais, nas modalidades multimodal ou intermodal, como o transporte de um container até o porto de origem e do porto de destino até a fábrica/armazém do 12 importador, o transporte de grãos que seguirão até a zona portuária ou até mesmo volumes menores que seguirão via modal aeroviário. O tipo de veículo rodoviário a ser utilizado dependerá das dimensões da carga, do peso, de acordo ainda com os limites e capacidade do veículo permitido nas rodovias. Dessa forma, podemos dizer que há um tipo de veículo para cada necessidade de transporte. Dias (2012) e Razzolini Filho (2012) classificam os tipos de veículos em: • Caminhão – são veículos fixos, formados por um conjunto de cabine, motor e carroceria. Apresentam diferentes tamanhos, com dois ou três eixos e capacidade de 18 toneladas. Encontrados nas versões baú, plataforma, gaiola, tanque, dentre outras. • Cegonheiras – são caminhões com três ou mais eixos articulados, cuja carroceria se destina ao transporte de automóveis. • Carretas – trata-se de uma categoria em que há um conjunto de equipamentos, o cavalo mecânico que possui o motor, rodas de tração e a cabina do motorista e a outra parte que recebe a carga, denominada de carreta ou semirreboque. Pode ser encontrada nas versões: cavalo mecânico trucado, carreta dois eixos, carreta três eixos e carreta cavalo trucado. • Boogies/plataformas – são veículos destinados ao transporte de containers. • Rodotrem – é uma combinação de veículos de carga composta por dois semirreboques, interligados por um veículo intermediário denominado dolly. É composto por um total de nove eixos que permite o transporte de um peso bruto total combinado de 74 toneladas. • Bitrem – é o conjunto formado por um cavalo mecânico tracionando dois reboques, sendo o primeiro acoplado na quinta roda do cavalo mecânico em uma segunda quinta roda do cavalo mecânico e outro em uma segunda quinta roda, localizada na extensão do primeiro semirreboque. • Tritem – também conhecido como treminhão, é um derivado do bitrem formado por três semirreboques interligados por meio de quinta roda. Permite um peso bruto total combinado de 74 toneladas. • Romeu e Julieta – é um conjunto composto de um caminhão e dois reboques, em que o segundo reboque é engatado ao primeiro por um dolly. 13 De acordo com os dados divulgados pela ANTT em 2020, a idade média da frota brasileira é de 17,9 anos para veículos autônomos, 9,5 anos para empresas e de 10,6 anos para cooperativas. 3.1 Limites de pesos e dimensões máximas permitidas Um ponto importante a ser considerado em relação aos veículos é o limite de pesos permitidos para a circulação de veículos de transporte de carga no âmbito do Mercosul. De acordo com Brasil (2010), no Decreto n. 7.282, de 1º de setembro de 2010, o limite de peso a ser considerado, por tipo de eixo, encontra- se representado na Tabela 1. Tabela 1 – Limite de pesos permitidos para a circulação de veículos de transporte no Mercosul EIXOS QUANTIDADE DE RODAS LIMITE (t) SIMPLES 2 6 SIMPLES 4 10,5 DUPLO 4 10 DUPLO 6 14 DUPLO 8 18 TRIPLO 6 14 TRIPLO 10 21 TRIPLO 12 25,5 Fonte: Brasil, 2010. No que diz respeito às dimensões máximas permitidas para a circulação de veículos de transporte de carga no âmbito do Mercosul, encontram-se representados na Tabela 2. Tabela 2 – Dimensões máximas permitidas para a circulação de veículos de transporte de carga no Mercosul Comprimento máximo (m) Caminhão simples 14 Caminhão com reboque 20 Reboque 8,6 Caminhão-trator com semirreboque 18,6 Caminhão-trator com semirreboques e reboque 20,5 Largura máxima (m) 2,6 Altura máxima (m) Caminhão 4,3 Fonte: Brasil, 2010. 14 3.2 Documentos obrigatórios Outro ponto importante a ser considerado no transporte internacional de cargas são os documentos de porte obrigatório, descritos a seguir, de acordo com o guia do TRC. • Certificado de propriedade (certificado de registro e licenciamento anual); • Apólice de seguro obrigatório pelas responsabilidades decorrentes do contrato de transporte de cargas; • Apólice de seguro de responsabilidade civil por lesões ou danos a terceiros não transportados; • Carteira nacional de habilitação do condutor; • Cédula de identidade original ou passaporte do condutor; • Autorização da empresa, com firma reconhecida, ao condutor para transitar com veículo de sua propriedade; • Autorização para a realização de transporte internacional (licença original e complementar e habilitação do veículo); • Manifesto Internacional de Carga/Declaração de Trânsito Aduaneiro – MIC/DTA e Conhecimento Internacional de Transporte – CRT. TEMA 4 – UNITIZAÇÃO DE CARGAS No transporte rodoviário internacional, uma única unidade de carga pode transportar mercadorias de diferentes remetentes e destinatários, as chamadas cargas consolidadas ou fracionadas, em que cada qual pagará pelo peso ou volume (aquele que for maior), ocupado dentro dessa unidade. No entanto, o mais usual são as cargas fechadas, destinadas à um único importador. Independentemente se o transporte for de carga fracionada ou fechada, o processo de unitização é um importante recurso para a proteção das mercadorias, otimização dos veículos e por consequência, de redução de custos. Dias (2012, p. 50) define a unitização como “uma carga constituída de embalagens de transporte, arranjadas ou acondicionadas de modo que possibilite o seu manuseio, transporte e armazenagem por meios mecânicos, como uma unidade”. Para Razzolini Filho (2012, p. 99), unitizar significa “tornar único e tem como finalidades facilitar a movimentação de mercadorias, agilizar processos de 15 carga e descarga, proteger as mercadorias e reduzir os custos no sistema logístico”. 4.1 Vantagens da unitização Imagine um armazém em que a carga e a descarga de veículos é realizada de forma manual, caixa por caixa, ou então o armazenamento desses volumes de forma individual. Quanto tempo e quantas pessoas seriam necessárias para realizar todas essas movimentações? Agora imagine o mesmo armazém recebendo e expedindo cargas unitizadas. Com certeza, seriam necessárias menos horas e pessoas quando comparado à situação anterior. Figura 3 – Carga solta x unitização Crédito: ROKOPEVA IRINA/Shutterstock; Golden Sikorka/Shutterstock. Entre as principais vantagens da unitização, destacam-se: • Facilidade na movimentação de cargas por meio da racionalização da ocupação espacial; • Melhor aproveitamento da capacidade operacional (colaboradores e equipamentos); • Melhoria no nível de serviço devido à maior agilidade; • Vantagem competitiva propiciada pela redução de custos; • Economia de tempo, mão de obra e espaço de armazenagem • Otimização do espaço físico nas unidades de transporte (veículos); • Maior proteção às embalagens manipuladas. 16 Razzolini Filho (2012) destaca que a unitizaçãoagrega valor ao processo logístico como um todo, atuando em dois dos principais objetivos dos sistemas logísticos: aumento do nível de serviços e redução dos custos totais. 4.2 Paletes A paletização é a forma mais comum de unitização de cargas, principalmente para uso no transporte rodoviário. Razzolini Filho (2012, p. 104) define paletes como “plataformas para apoio e acondicionamento dos materiais, com dimensões padronizadas e com entradas para garfos de empilhadeiras ou outro equipamento de movimentação”. O material utilizado para a confecção é, principalmente, a madeira, mas podem ser confeccionados em alumínio, plástico ou outros materiais. Os paletes podem ser encontrados ainda, em diferentes medidas, porém, atualmente o mais utilizado é o de padrão PBR (Palete Padrão Brasileiro), confeccionado em madeira de lei medindo 1.200x1.000 mm e certificado pela ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados). Existem diferentes tipos de paletes e eles podem ser, conforme Dias (2012), divididos em algumas classes: Quanto ao número de entradas • Paletes de duas entradas; • Paletes de quatro entradas. Quanto ao número de faces • Paletes de uma face; • Paletes de duas faces. 17 Figura 4 – Tipos de paletes TEMA 5 – TRANSPORTE FERROVIÁRIO INTERNACIONAL De acordo com o Ministério da Infraestrutura, o Brasil, em 2017, contava com 47,7 mil km de vias ferroviárias, sendo 30,6 mil km já implantados e 17,1 mil km planejados. Neste ano, o volume total de cargas transportadas no modal ferroviário foi de 538,8 milhões de toneladas. O modo ferroviário tem como característica o transporte de cargas com maiores volumes e que se deslocam em grandes distâncias, a exemplo do minério de ferro. Essa commodity representa cerca de 80% do total da carga ferroviária, seguida dos granéis agrícolas (soja, milho, farelo de soja etc.). Poucos setores da economia conseguem aproveitar a malha ferroviária brasileira, que poderia servir como uma alternativa viável e econômica ao ser utilizada como elo para o transporte marítimo de cargas nas exportações brasileiras. Um exemplo é o caso da produção de soja e milho da Centro-Oeste que poderia seguir via modal ferroviário até os portos do Arco Norte, como Santarém e Barcarena. Devido à ausência de malha ferroviária que realize esta ligação, as cargas dessa região seguem via modal rodoviário para os Portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), aumentando consideravelmente os custos de transporte nas exportações de grãos brasileiras e diminuindo a competitividade desses commodities quando comparados com seu principal concorrente, os Estados Unidos, em que o modal ferroviário representa 43% da matriz de transporte. 18 Embora as ferrovias brasileiras datem de meados do século XIX, apenas a partir da década de 1990 é que passa a ocorrer a privatização do sistema e o investimento da iniciativa privada na construção e melhorias de nossas ferrovias. Além dos problemas históricos que limitam a ampliação das ferrovias no Brasil, existe a diversidade dos tipos de bitola. De acordo com Filomeno (2008), atualmente, temos no Brasil cinco bitolas: • 1,6 m: utilizada pela MRS e ALL, concentrada na Região Sudeste; • 1,0 m: utilizada pelas demais operadoras ferroviárias; • 1,435 m: utilizadas na E. F. Amapá; • 0,76 m: utilizada até 1982 pela Viação Férrea Centro-Oeste; • 0,60 m: utilizada em pequenas ferrovias alimentadoras dos troncos ou em ferrovias que tinham apenas um tipo de carga para serem transportadas. Tais problemas combinados com outras limitações reduzem consideravelmente a velocidade dos trens, a produtividade das operações e aumentam os custos deste modal. 5.1 Tipos de vagões Os vagões, juntamente com as locomotivas, realizam a composição do modal ferroviário. Atualmente, existem diferentes tipos de vagões de acordo com as especificidades de cada grupo de mercadorias. Segundo a Associação Brasileira de Transportadores Ferroviários – ANTF – os tipos de vagões mais utilizados no Brasil são: Figura 5 – Tipos de vagões Crédito: deyweb/Shutterstock. 19 • Vagões tipo fechado – para granéis sólidos, ensacados, caixarias, cargas unitizadas e transporte de produtos em geral que não podem ser expostos as intempéries. • Vagões tipo hopper – fechados para granéis corrosivos e granéis sólidos que não podem ser expostos ao tempo, e abertos para os granéis que podem ser expostos ao tempo. • Vagões tipo gôndola – para granéis sólidos e produtos diversos que podem ser expostos ao tempo. • Vagões tipo isotérmico – produtos congelados em geral. • Vagões tipo plataforma – containers, produtos siderúrgicos, grandes volumes, madeira, peças de grandes dimensões. • Vagões tipo tanque – cimento a granel, derivados de petróleo claros e líquidos não corrosivos em geral. • Vagões especiais – produtos com características de transporte distintas das anteriores. Temos presenciado significativas mudanças no modal ferroviário, no entanto, ainda há muito a ser feito em termos de infraestrutura logística para torná-lo competitivo e potencializar o uso da multimodalidade no cenário do transporte rodoviário brasileiro. TROCANDO IDEIAS O gráfico apresentado a seguir demonstra um comparativo de matrizes de transporte de carga entre países de mesmo porte territorial, dentre eles o Brasil. 20 Gráfico 1 – Comparação de matrizes de transporte de carga Fonte: <https://www.antf.org.br/informacoes-gerais/>. Acesso em: 1º jun. 2020. Discuta com seus colegas a respeito dos motivos pelos quais o Brasil possui alta dependência do modal Rodoviário e quais seriam as alternativas viáveis para reduzir tal dependência. NA PRÁTICA Orientações para realizar a atividade: 1. Leia o texto a seguir e a atividade proposta. 2. Realize a tarefa solicitada. 3. Bons estudos e bom trabalho. Custo logístico de transporte derruba competitividade brasileira no exterior O agronegócio brasileiro ganhou produtividade nos últimos 50 anos, mas o alto custo logístico provocado por falhas de infraestrutura faz o produto perder competitividade no mercado internacional. Três países (Brasil, Argentina e Estados Unidos) concentram 80% da produção de soja no mundo e 90% do mercado de exportação. No entanto o custo logístico médio de escoamento da produção agrícola no Brasil é quatro vezes superior em relação seus dois principais concorrentes. No último meio século, a produção do agronegócio se deslocou do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste, cuja localização aumenta a dificuldade de transporte. Desta forma, o desafio brasileiro é melhorar as vias de acesso para o Arco Norte para que os produtos da região sejam exportados através dos portos do eixo Norte, como o de Santarém, em vez dos portos do Sudeste. (CNA, 2017) 21 Após realizar a leitura responda: qual o principal modal de transporte utilizado no Brasil? Quais seriam os ganhos, para, nas exportações, se o Brasil investisse na infraestrutura do modal ferroviário? FINALIZANDO Nesta aula, vimos um apanhado geral das principais características dos cinco modais de cargas existentes: rodoviário, ferroviário, aeroviário, aquaviário e dutoviário. Na sequência, aprofundamos nossos estudos no modal rodoviário, conhecendo a agência reguladora desse modal suas particularidades no que tange a documentação necessária e ao cadastro de veículos para rodagem em âmbito internacional. Em seguida, foram apresentados os tipos de veículos rodoviários e abordada a questão da unitização de cargas, trazendo o palete como principal elemento nesse processo. Finalizamos trazendo um retrato do modal ferroviário no cenário nacional e apresentando os tipos de vagões disponíveis de acordo com cada segmento de carga. Em nossas próximas aulas, aprofundaremos nossos estudos no modal aquaviário, conhecendoos diferentes tipos de portos, navios e containers. Conheceremos, ainda, os principais participantes desse modal, passando pela agência reguladora e aprendendo a diferenciar armadores, agência marítima, Freight forwarder e NVOCC. 22 REFERÊNCIAS ANTF. Disponível em: <http://www.antf.org.br/cgi- bin/PageSvr.dll/Get?id_sec=29>. Acesso em: 1º jun. 2020. ANTT. Idade Média dos Veículos. Disponível em: <http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/20272/Idade_Media_dos_Veicu los.html>. Acesso em: 1º jun. 2020. ANTT. Transporte Rodoviário Internacional de Cargas. Disponível em: <http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/4966/TRIC___Transporte_Rod oviario_Internacional_de_Cargas.html>. Acesso em: 1º jun. 2020. BRASIL. Decreto n. 7.282, de 1º de setembro de 2010. Brasília, DF, 1º set. 2010. BRASIL. Ministério da Infraestrutura. Anuário estatístico de transportes 2010- 2017. Disponível em: <https://infraestrutura.gov.br/images/BIT_TESTE/Publica%C3%A7oes/Apresent acao_AET_2018.pdf>. Acesso em: 1º jun. 2020. BRASIL. Ministério da Infraestrutura. Síntese setor ferroviário. Disponível em: <http://www.infraestrutura.gov.br/component/content/article.html?id=5380>. Acesso em: 1º jun. 2020. CNA. Custo logístico de transporte derruba competitividade brasileira não exterior. 2017. Disponível em: <https://www.cnabrasil.org.br/noticias/custo- log%C3%ADstico-de-transporte-derruba-competitividade-brasileira-no- exterior>. Acesso em: 2 jun. 2020. DIAS, M. A. Logística, transporte e infraestrutura. São Paulo. Editora Atlas S.A, 2012. FILOMENO, P. R. Unificação de bitolas ferroviárias no Brasil: sonho ou mera possibilidade? 2008. Disponível em: <https://portogente.com.br/noticias/transporte- logistica/20465-unificacao-de-bitolas-ferroviarias-no-brasil-sonho-ou-mera-possibilidade>. Acesso em: 1º jun. 2020. GUIA DO TRC. Documentos obrigatórios. Disponível em: <http://www.guiadotrc.com.br/internacional/page3.asp>. Acesso em: 1º jun. 2020. 23 RAZZOLINI FILHO, E. Transporte e modais: com suporte de TI e SI. Curitiba. InterSaberes, 2012.
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