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Fisiologia Animal Comparada e Humana Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Carlos Eduardo de Oliveira Garcia Prof. Me. Norton Claret Levy Junior Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação • Introdução à Fisiologia; • Adaptação, Aclimatização e Aclimatação; • Controle e Integração; • Retroalimentação (feedback); • Alimentos e Energia; • Obtenção e Métodos de Ingestão e Digestão dos Alimentos; • Sistema Digestório Humano • Reconhecer os princípios e os mecanismos básicos da fi siologia animal e as adaptações dos animais que os tornam capazes de existir em tantos ambientes diferentes; • Compreender os mecanismos fi siológicos da ingestão, digestão, absorção e metabolismo dos nutrientes; • Reconhecer o processo de digestão, seus mecanismos de controle e a importância desse processo para a sobrevivência dos organismos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Introdução à Fisiologia A Fisiologia nasceu na Grécia, há mais de 2500 anos, (do grego physis = natu- reza e logos = estudo) é o estudo dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos. Na Fisiologia se estuda o fun- cionamento dos sistemas celulares e orgânicos (nervoso, muscular, endócrino, car- diovascular, respiratório, digestório e urinário), bem como suas interações entre si e com o meio ambiente. O conhecimento da fisiologia animal é fundamentado em informações e dados obtidos em experimentos e informações obtidas em campo na natureza com objetivo de entender como um processo ocorre em um organismo. Alguns temas centrais da fisiologia animal nos auxiliarão na comparação de diferentes adaptações e ou respostas de diferentes organismos diante dos desafios ambientais semelhantes, o que facilitará o entendimento de estudos na área das adaptações fisiológicas. Esse tipo de abordagem pode garantir respostas para as curiosidades e pergun- tas científicas; por exemplo, como explicar que um beija-flor pode bater o coração em um ritmo de 20 vezes por segundo ou 1200bpm (batimentos por minuto) du- rante os voos? Para pensarmos e compararmos, a Frequência Cardíaca Máxima (FCM) sem riscos para seres humanos é fornecida pela fórmula simples de subtrair a idade do indivíduo de 220. Por exemplo: uma pessoa de 20 anos deve fazer o cálculo 220 – 20 = 200. Assim, a FCM de uma pessoa de 20 anos é de 200 bpm (batimentos por minuto). Como podemos comparar a capacidade de batimento cardíaco humano com a capacidade de batimentos do beija-flor? Quais os fatores químicos, físicos e ou mesmo anatômicos vão permitir uma comparação entre os dois sistemas? Os sistemas fisiológicos podem desempenhar múltiplas funções, no entanto, há uma clara evidência que a função desempenhada está relacionada com a estrutura do sistema. O princípio de que a função depende e está correlacionada com a es- trutura é confirmada ao longo de toda variação nos processos fisiológicos, podendo ser demonstrada em todos os níveis de organização, dos componentes químicos da célula à forma de um órgão específico. Para facilitar o seu entendimento, podemos pensar no tamanho das patas tra- seiras de uma rã saltadora em relação ao seu corpo. Observe a organização ana- tômica das patas que são muito maiores que o próprio tronco, e se olharmos as fibras musculares, vamos encontrar uma vasta musculatura esquelética para poder explicar o salto de uma rã. No estudo da fisiologia animal, também são empregadas as análises qualitativas e quantitativas, análises bioquímicas de fluidos de interesse biológico como o plas- ma sanguíneo, urina, entre outros. A análise qualitativa determina a estrutura ou composição de algum fluido. Dessa forma, visa elucidar as substâncias bioquímicas que compõem um determinado fluido. 8 9 O objetivo da análise quantitativa é medir a concentração de determinadas subs- tâncias específicas no fluido. Com os avanços na área de aparelhos bioeletrônicos e nas técnicas analíticas, alguns aparelhos são capazes de fornecer tanto os dados da composição como sua concentração. Um exemplo pode ser o aparelho conhecido como espectrofotômetro (Figura 1) que é amplamente utilizado em laboratórios. A função de um espectrofotômetro é medir e comparar a quantidade de luz absorvi- da por uma determinada solução. Dessa forma, ele pode ser usado para identificar e determinar a concentração de determinadas substâncias no plasma sanguíneo ou em outro fluido dos organismos. Figura 1 – Espectrofotômetro Fonte: Wikimedia Commons A vida científica e o pioneirismo do francês Claude Bernard (1813 – 1878) entram para a fisiologia moderna no séc. XIX; Bernard foi o grande divulgador do conceito de homeostase ou “milieu intérieur” que pode ser entendido como a capacidade de certos animais principalmente os mamíferos de regular e manter a estabilidade das condições interiores do corpo dentro de limites estreitos, independentemente das condições externas no ambiente. Como diria o próprio Bernard, a capacidade de manter o meio interno com certa estabilidade é sinônimo de vida livre. Os seres hu- manos, por exemplo, conseguem manter a temperatura corpórea entre 36,5 a 37oC, independente da temperatura externa, a concentração de glicose no sangue, os níveis de pH, enfim, uma série de características que possuem mecanismos de ajustes para a manutenção da homeostase é garantia de vida nos diversos ambientes. Um dos desafios da Fisiologia moderna é desvendar como os diferentes grupos de animais se adaptaram e se adaptam aos ambientes que estão vulneráveis às con- dições climáticas e ambientais, quais são os mecanismos envolvidos para que esses animais consigam manter a sua homeostase. Esses processos podem ser estudados em todos os níveis de organização desde um protozoário unicelular que consegue manter o meio interno da célula em condições bem distintas do meio externo. Esses ajustes nos permitem especular que quantomaior a capacidade do animal em con- trolar a composição do seu meio interno maior será sua independência em relação ao meio externo ou, se preferirem, aos ambientes onde vivem. 9 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Adaptação, Aclimatização e Aclimatação Consideramos uma adaptação qualquer característica ou comportamento que te- nha evoluído e passado pelo processo de seleção natural habilitando e capacitando o organismo a sobreviver em seu respectivo habitat. A adaptação a um determina- do ambiente está relacionada com as mudanças estruturais, funcionais ou compor- tamentais com o objetivo de promover a sobrevivência e reprodução em condições adversas. São resultados do processo gradual de seleção natural ao longo de várias gerações e geralmente não são características reversíveis. A aclimatização e aclimatação são termos gerais usados para descrever o pro- cesso de como um organismo se ajusta a mudanças em seu habitat. Geralmente essas alterações são reversíveis. O termo aclimatação refere-se principalmente à aclimatização induzida, quando o ambiente é manipulado por um pesquisador em testes realizados em laboratório. Para entendermos melhor esses termos, vamos pensar no caso abaixo. Os atletas, principalmente os competidores de maratonas, podem lançar mão de treinamentos acompanhados por médicos-fisiologistas no conhecido treina- mento em altitude com o objetivo de um tipo de aclimatização que aumenta a massa de células vermelhas do sangue. O aumento da quantidade de glóbulos vermelhos (hemácias), que são as estruturas responsáveis por carregar o oxigê- nio no sangue dos pulmões para os músculos e outros órgãos, pode aumentar o rendimento do atleta. O organismo humano está adaptado às condições de temperatura e pressão encontradas ao nível do mar. Na altitude, o ar rarefeito dificulta nossa captação de oxigênio e propicia uma possibilidade de aclimatização interessante: com a menor disponibilidade e volume de oxigênio, o organismo aumenta sua massa e o número de células vermelhas do sangue para otimizar o processo de absorção e transporte desse gás minimizando os efeitos deletérios do ar rarefeito. Quando o atleta volta a viver ao nível do mar, há uma diminuição da massa de células vermelhas, caracterizando a aclimatação com caráter reversível. Leia o artigo “Adaptação e Aclimatação Animal” de Ana Maria Bridi, disponível em: https://bit.ly/2EJroO0Ex pl or 10 11 Controle e Integração O que significa controle ou regulação para os fisiologistas? Regulação de uma determinada função ou de um sistema significa o ajuste de uma quantidade, concentração ou taxa de alguma variável, geralmente a fim de que um nível desejado seja atingido ou mantido. Integração significa a união de partes. Em fisiologia, a palavra abrange o controle ou modulação de todos os componentes funcionais, incorporados em um organismo que opera de forma integrada, onde nenhum processo isolado pode ocorrer num ritmo independente. As funções fisio- lógicas podem ser controladas ou moduladas por hormônios (funções endócrinas) ou pelo sistema nervoso. O sistema nervoso regula e modula muitas funções endó- crinas e é também um importante produtor de hormônios. Retroalimentação (feedback) A homeostasia é mantida nas células e nos organismos multicelulares devido aos mecanismos fisiológicos que denominamos de “feedback” ou retroalimentação. Quando ocorre a mudança de uma variável interna ou mesmo ambiental, o orga- nismo pode reagir segundo dois tipos de feedback ou retroalimentação: Retroalimentação negativa A retroalimentação negativa é utilizada para a manutenção de um estado de equilíbrio ou homeostase, ocorre para reduzir a diferença entre um produto do metabolismo e o valor considerado normal para o equilíbrio. O sistema responde de modo a reverter a direção da mudança ou mesmo anular a ação da mudança, revertendo o parâmetro alterado para dentro dos limites e contribuindo, assim, com a manutenção do equilíbrio interno. Um exemplo simplificado desse mecanismo é o termostato simples, um dispositivo que mantém a água quente no ponto determi- nado: toda vez em que a água diminuir a temperatura, o termostato é acionado e aquece a água na temperatura pré-determinada. A resposta é sempre contrária ao estímulo que produz o desequilíbrio; por isso é negativo. A retroalimentação negativa serve para reduzir a diferença entre o produto de processamento e o valor desejado. A retroalimentação negativa é utilizada para a manutenção de um estado de equilíbrio. 11 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Um sistema fisiológico representativo de um controle proporcional é o controle da respiração dos mamíferos (ventilação pulmonar), por meio do nível sanguíneo de dióxido de carbono. Quando um mamífero em repouso apresenta uma PCO2 arterial de 40 mmHg, consideramos esse valor como o ponto de ajuste para a PCO2 arterial. Se o teor de dióxido de carbono for aumentado no ar inspirado, há uma elevação na PCO2 arterial, que resulta em um aumento da ventilação e esse aumento está associado ao aumento na PCO2. PCO2 arterial: pressão de dióxido de carbono no sangue arterial.Exp lo r Concentração de CO2 FEEDBACK NEGATIVO Ventilação Pulmonar Concentração de CO2 Figura 2 – Exemplo de Retroalimentação negativa Retroalimentação positiva A resposta amplifica a mudança da variável, o conjunto de respostas produzido pelo organismo soma-se ao desequilíbrio inicial, ou seja, fortalece o desequilíbrio. O fato de ser positivo dá a ideia de somar-se, aumentar as respostas do organismo. Como exem- plo, podemos citar as contrações uterinas que no início são sutis, mas com o auxílio e a interação de hormônios aumentam até a expulsão do feto. As respostas somadas dos estímulos de contração da musculatura uterina permitem o parto normal. Contrações uterinas FEEDBACK POSITIVO Distensão do colo uterino; Contrações uterinas Distensão do colo uterino; Contrações uterinas NASCIM ENTO Figura 3 – Exemplo de Retroalimentação positiva 12 13 Não podemos esquecer que, além dos mecanismos fisiológicos e bioquímicos os ani- mais podem se utilizar de mecanismos comportamentais para regular seu meio interno diante as alterações do meio externo. Além disso, observamos que em algumas espécies a zona de conforto ou de estabilidade na qual a homeostasia é mantida pode ser mais ampla, há determinadas espécies que são mais tolerantes às mudanças ambientais. Podemos dizer que, basicamente, há duas classificações quando os animais pas- sam por alterações ambientais: • Os conformistas que são incapazes de manter a homeostasia ou equilíbrio interno em situações de alterações climáticas. A sobrevivência desses orga- nismos diante das alterações climáticas depende da tolerância dos tecidos em relação às mudanças. Na biologia, nem sempre podemos fazer generalizações, mas a grande maioria dos invertebrados possui um caráter conformista, no entanto, há muitas exceções; • Os reguladores usam os mecanismos bioquímicos, fisiológicos ou mesmo comportamentais para manter a homeostasia. As funções fisiológicas podem ser controladas pelos mensageiros do sistema endó- crino, os hormônios, e pelo sistema nervoso. Na realidade, os dois sistemas atuam de forma conjunta para coordenar as respostas do organismo em relação às adversidades impostas pelo ambiente e ao desafio de manter o equilíbrio interno ou homeostase. Os processos fisiológicos e ou até mesmo bioquímicos que envolvem os meca- nismos para a manutenção da homeostase dependem basicamente das proprieda- des físicas e químicas dos componentes químicos que formam os seres vivos. Alimentos e Energia Vamos pensar nesta questão: para que precisamos comer? Uma resposta mais simples é que precisamos repor água, substratos energéti- cos, vitaminas e sais minerais perdidos nas nossas atividades diárias. Também não podemos ignorar que a vida moderna nos colocacom uma alimen- tação quase constante e sedentária, não precisamos caçar como em outras épocas e como fazem as outras espécies de animais, caçando ou correndo atrás de seu alimento que é ingerido de tempos em tempos. Dessa forma, os organismos desen- volveram mecanismos de controle e reserva de substratos energéticos. Citaremos algumas reservas energéticas como os triglicerídeos (lipídios), glicogênio hepático e muscular (carboidratos) e as proteínas; assim ficará mais fácil responder a outra pergunta. Do que nos alimentamos? A resposta é fácil: da reserva de substratos energéticos de outros animais e vegetais. Em resumo, o processo de alimentação tem como função principal prover o organismo de água e nutrientes que suprem as necessidades energéticas do animal. A ingestão e a digestão dos alimentos são fundamentais, pois os animais precisam 13 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação de energia principalmente para dois processos: manutenção da homeostase e das atividades externas e a manutenção e crescimento orgânico. Toda a matéria orgâ- nica ingerida como alimento é composta de três nutrientes básicos: carboidratos, proteínas e lipídeos. Porém, a forma na qual o alimento chega ao trato gastrointes- tinal impede a absorção imediata, porque os pedaços de alimento são muito gran- des. Então, o processo de digestão decompõe as moléculas grandes em partículas absorvíveis e que possam ser utilizadas pelos organismos (Figura 4). Ingestão de Alimento Grandes Moléculas Processo Digestivo Moléculas Menores Processo Absorvivo Utilização Figura 4 – Etapas resumidas do processo de alimentação Em uma cadeia alimentar, podemos dizer que cada grupo de organismos re- presenta um nível trófico. Não podemos ignorar o fato de que a transferência de energia e mesmo de massa alimentar de um nível trófico ao outro há a perda de substâncias que não serão absorvidas e há dissipação de energia na forma de calor. Em outras palavras, em cadeias alimentares longas, a cada nível trófico ao longo da cadeia, encontramos uma perda de energia decorrente do custo energético de manutenção dos tecidos, da digestão dos alimentos e da síntese de novas moléculas a serem incorporadas nos tecidos dos animais (Figura 5). Energia química ingerida Energia química absorvida Perda fecal Calor Energia metabolizável Perda por urina, secreções, escamas, cabelo, troca de pele Produção (crescimento de tecidos novos, armazenagem de gordura, reprodução) Metabolismo basal ou padrão Digestão e custos da síntese Custos da atividade (locomoção, etc.) Figura 5 – Utilização da energia química dos alimentos nos animais Fonte: Adaptado de RANDALL, 2014 14 15 Obtenção e Métodos de Ingestão e Digestão dos Alimentos Um grande número de espécies animais dedica a maior parte de seu tempo à procura de alimentos. Como já mencionado, cada espécie animal possui suas adap- tações tanto na morfologia como na fisiologia que proporcionarão uma aquisição de alimentos e energia para a manutenção de seu metabolismo. Os diferentes modos de obtenção do alimento dependem principalmente da qua- lidade e quantidade de alimento disponível. Geralmente quando as partículas ali- mentares são pequenas, na ordem de até 20µm com as bactérias, aminoácidos em soluções diluídas, a ingestão pode ocorrer por endocitose, processo pelo qual as células vivas absorvem material nutritivo através da própria membrana celular; em outras palavras, é a entrada de substâncias em uma célula por englobamento das partículas pela membrana celular. Endocitose: processo ativo pelo qual material extracelular é transportado para o protoplas- ma graças às evaginações especiais da membrana plasmática. Ex pl or O processo pelo qual partículas relativamente grandes e sólidas são engloba- das é denominado de fagocitose, processo que ocorre com o auxílio de pseudó- podes, que se caracteriza por extensões fluídas e deslocamentos do citoplasma, formando evaginações da membrana plasmática que englobam as partículas. No caso de certas espécies de protozoários também são observados em sua mo- vimentação e esse mesmo processo é observado nos leucócitos, células brancas do sangue que também fazem a fagocitose para englobar os agentes agressores e destruí-los. A pinocitose é o processo pelo qual a célula engloba gotículas menores e líqui- das ou através dos canalículos que se aprofundam na célula. Em ambos os proces- sos, a partícula englobada pela célula, através da membrana celular, é envolvida num vacúolo digestivo, a partir do qual a matéria digerida passa para o citoplasma. A endocitose é um processo que requer energia, na forma de ATP. Outro mecanismo bem comum presente em animais é a filtração, onde são empregados filtros capazes de capturar alimento; no caso de animais aquáticos, os filtros podem reter grande quantidade de fitoplâncton e zooplâncton. Dentre os invertebrados, os animais moluscos conhecidos como mexilhões, Mytilus sp, as ostras, Crassostrea sp e as vieiras como a Nodipecten nodosus são organismos filtradores e pela facilidade de obter alimentos são considerados de boa potenciali- dade de cultivo apresentando valor comercial. 15 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Um exemplo típico de animal filtrador que se alimenta de plâncton é o tuba- rão baleia, Rhincodon typus. Essa espécie alimenta-se, por sucção, da água que carrega fitoplâncton, macroalgas, plâncton, krill e até mesmo pequenos peixes e invertebrados que são engolidos inteiros. Muitos peixes pelágicos têm estruturas branquiais que funcionam como uma peneira, capturando principalmente pequenos crustáceos e outros peixes menores. Os peixes são capazes de capturar e ingerir uma grande variedade de alimentos, plantas e algas aquáticas, insetos e até mesmo outras espécies de peixes menores. Dependendo do tipo de ingestão e do alimento, encontramos adaptações das mais variadas na arquitetura da boca e da dentição que pode perfurar ou rasgar partes da presa. Em peixes planctófagos, rastros branquiais longos e finos (Figura 6) favo- recem a filtração e o fluxo de água empurra o material filtrado em direção ao trato digestivo. Muitas espécies apresentam muco associado aos rastros branquiais, o que favorece a apreensão de partículas alimentares. Em peixes ictiófagos ou piscí- voros que se alimentam de outros peixes, os rastros braquiais têm características de espinhos, evitando danos mecânicos aos filamentos branquiais. Pelágico: a região oceânica onde vivem normalmente seres vivos que não dependem dos fundos marinhos, os seres bentônicos.Ex pl or Arco branquial destacando os filamentos branquiais, importantes nas trocas gasosas do san- gue e os rastros branquiais que podem ser considerados agentes facilitadores na ingestão de alimentos, disponível em: https://bit.ly/2MfjZMp Ex pl or Também encontramos espécies filtradoras nos pássaros marinhos, entre eles, o flamingo, que se alimenta de plâncton – a parte superior do bico é formada por uma série de lamelas que se estendem por toda a superfície, favorecendo o traba- lho de filtração. Entre os mamíferos, podemos citar a baleia azul, Balaenoptera musculus que possui um sistema de filtração eficiente e especializado. Por que as diversas espécies de aves apresentam uma grande variedade de bicos? Ex pl or Algumas aves alimentam seus filhotes com uma espécie de leite que é regurgita- do na boca do filhote quando ele ainda está no ninho. Um exemplo conhecido é o denominado “leite de pomba”, que é produzido no papo. Outro exemplo de ave que produz leite ou uma sustância líquida nutritiva é o pinguim imperador, Aptenodytes forsteri, que produz a substância nutritiva denominada de leite no esôfago. 16 17 Os mamíferos também se alimentam de leite materno na fase inicial da vida, e, portanto, os filhotes de mamíferos são considerados sugadores. Muitos invertebrados aquáticos podem absorver substânciasmais simples como a glicose e aminoácidos que estão dissolvidos em seu próprio ambiente – os parasitas que habitam o trato digestivo, como as tênias, obtêm seus nutrientes pela superfície do corpo. Outro modo de aquisição de alimento ocorre por meio da associação simbiônti- ca – muitos invertebrados estabelecem uma associação com algas simbiônticas que utilizam a amônia liberada pelo hospedeiro para síntese de proteínas. Nesses casos, o microrganismo simbionte produz sua nutrição a partir de compostos que seriam excretados pelo animal que o hospeda, e ainda elimina compostos orgânicos que são utilizados pelo animal. Entre os compostos produzidos, encontramos também os carboidratos. Um exemplo curioso de obtenção de alimentos é encontrado nos estudos dos hábitos alimentares das formigas cortadeiras que utilizam a biomassa vegetal para cultivar fungos como os da espécie Leucoagaricus gongylophorus em seus formi- gueiros mantendo uma delicada relação de mutualismo. Cabe às formigas a tarefa de trazer para o formigueiro a massa vegetal das folhas cortadas das plantas que servirão de substrato para o crescimento do fungo. As formigas se alimentam de parte do corpo dos fungos, as hifas que constituem o único alimento disponível para a rainha e as larvas, no interior do formigueiro. Associações com microrganismos para a digestão da celulose também acon- tecem com os animais herbívoros. Os mamíferos herbívoros não apresentam a enzima digestiva celulase para a digestão da celulose; caso não ocorresse essa associação, a nutrição desses animais seria muito prejudicada sem a digestão desse carboidrato. Enzima: cada uma das proteínas produzidas por seres vivos e capazes de catalisar reações químicas relacionadas com a vida, sem, no entanto, sofrerem alterações em sua compo- sição química. Ex pl or Para engolir grandes bolos alimentares ou mesmo cortar os alimentos em pe- daços, algumas espécies de animais utilizam a raspagem e a mastigação antes de engolir. Dessa forma, vários invertebrados e vertebrados herbívoros, onívoros e também alguns carnívoros rasgam, dilaceram e mastigam o alimento antes de engolir. Os dentes, que auxiliam na mastigação, podem estar presentes em dife- rentes formatos e quantidades. A mastigação favorece a ação enzimática no trato gastrointestinal (TGI). 17 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Nas aves (Figura 7), podemos encontrar uma região armazenadora de alimen- to denominada de papo, onde ocorre o umedecimento do alimento deixando o mesmo mais mole para ser triturado na moela; um órgão muscular muito potente que tritura o alimento com o auxílio de pequenas pedras que ficam retidas no seu interior e auxiliam na quebra mecânica do alimento. O estômago também serve como armazenador, porém, tem alguma função na digestão de proteínas devido à presença da enzima pepsina. Depois do estômago, o intestino faz o papel final de digestão e absorção de nutrientes. . Figura 6 – Segmentos do trato gastrointestinal de aves, galinha; Gallus gallus domesticus Fonte: poultryhub.org Algumas espécies de animais carnívoros podem engolir a presa inteira, como peixes, cobras, aves e alguns mamíferos. Como não mastigam, a quebra mecânica do alimento ocorre em locais especiais do TGI. O comprimento do intestino pode variar de acordo com a dieta do animal, em geral, animais herbívoros têm intestinos muito mais longos do que animais carní- voros (Figura 8). 18 19 Boca Esôfago Estômago Estômago Pâncreas Pâncreas Visícula Biliar Visícula Biliar Reto Intestino Delgado Intestino Delgado Intestino Grosso Baço Esôfago Fígado Fígado Colon Ânus Ânus Figura 7 – Observe o trato gastrointestinal (TGI) e o comprimento do intestino do cão, que pode ser considerado um animal carnívoro, e do homem onívoro Fonte: Adaptado de Getty Images Trato gastrointestinal (TGI) e o comprimento do intestino da vaca, herbívoro com especiali- zações no TGI, disponível em: https://bit.ly/2W2Zum3Ex pl or 19 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação O trato gastrintestinal (TGI) da maioria dos vertebrados desempenha várias fun- ções, a digestão e absorção dos nutrientes, excreção dos seus resíduos, forneci- mento de nutrientes, água e eletrólitos ao organismo. É formado por um tubo oco rodeado por basicamente quatro camadas de tecidos onde encontramos vários tipos celulares, células absortivas que captam os nutrientes, glândulas que secretam conjuntos de substâncias químicas (muco, ácido, íons e enzimas), músculos que controlam a forma e a motilidade do TGI e nervos que regulam a função do TGI. Após os nutrientes serem quebrados no lúmen do TGI, eles são absorvidos pelas células. Alimentos não digeridos são expelidos do corpo pelo processo da excreção. Como já mencionamos, a ingestão e digestão de alimento são necessárias, pois os animais precisam de energia principalmente para a manutenção da homeostase e atividades externas e a manutenção e crescimento do organismo. A digestão pode ser intracelular no interior das células ou extracelular e ainda pode ser classificada em mecânica e enzimática ao longo do TGI. A digestão mecânica ocor- re pela mastigação e pelos movimentos musculares ao longo do TGI que geralmente são denominados de movimentos peristálticos na porção dos intestinos. A digestão mecânica pode triturar o alimento, mas não separar ligações entre moléculas. Na digestão enzimática, o organismo promove a quebra das ligações entre molé- culas em reações químicas denominadas por hidrólises e catalisadas pelas enzimas. Todas as enzimas são proteínas produzidas por glândulas anexas ao TGI e por células secretoras presentes no próprio tubo. Hidrólise: reação de decomposição ou alteração de uma substância pela água. Ex pl or A maioria dos animais utiliza o mesmo conjunto de enzimas digestórias. Seguem alguns exemplos: • Lipases: liberam ácidos graxos de triglicerídeos (lipases de triglicerídeos) e de fosfolipídios (fosfolipases). Os lipídios seguem inalterados pelas partes iniciais do trato gastrointestinal, da boca até o estômago. Seu processamento tem início no intestino delgado e, devido à sua insolubilidade, a digestão de lipídios precisa do auxílio do conteúdo biliar. Os ácidos biliares agem como detergente sobre os lipídios; as moléculas são quebradas, mas não há alteração química; • Proteases (pepsina, tripsina e quimiotripsina): transformam proteínas em pequenos polipeptídios. Uma dipeptidase quebra as ligações peptídicas de um dipeptídeo, produzindo dois aminoácidos; • Amilases: transformam polissacarídeos em oligossacarídeos. As dissacarida- ses, como maltase, sacarase e lactase, quebram dissacarídeos específicos; • Nucleases: transformam DNA em nucleotídeos, que são, então, convertidos em nucleotídeos e bases nitrogenadas para serem absorvidos. Sistema digestório animal comparado, disponível em: https://youtu.be/0Fg4eQfR7xw Ex pl or 20 21 Sistema Digestório Humano Podemos exemplificar com o tubo digestório humano que compreende: boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. Anexas ao tubo digestório, há glândulas como os três pares de glândulas salivares (paróti- das, sublinguais e submaxilares), o fígado e o pâncreas. Na boca, com um pH neutro (pH = 7,0), o alimento é mastigado e misturado à saliva, que contém a enzima ptialina, uma amilase que atua sobre as moléculas de amido. O alimento é deglutido e é impulsionado pela movimentação peristáltica do TGI, do esôfago empurra-o para o esfíncter (cárdia) da entrada do estômago. No estômago, as contrações misturam o alimento ao suco gástrico, uma solução clara e ácida (pH = 1,5 a 2) que contém ácido clorídrico; a diminuição do pH ca- talisa a conversão do pepsinogênio (inativo), produzido pelas glândulas da mucosa gástrica, em pepsina (enzima ativa); as proteases iniciam a digestão das proteínas. O quimo passa lentamentepara o duodeno através do esfíncter piloro; na por- ção inicial do intestino delgado, desembocam os canais do pâncreas (pancreático) e do fígado (colédoco). O suco pancreático é rico em bicarbonato de sódio, que neutraliza a acidez do quimo, elevando o pH para 7-8, o que possibilita a ação das enzimas pancreáticas amilase, lipase e tripsinogênio. A enteroquinase, produzida na própria mucosa duodenal, converte o tripsinogênio em tripsina, enzima ativa que também atua sobre proteínas. Ainda no duodeno, ocorre a descarga da bile, que é produzida pelas células do fígado (hepatócitos) e armazenada na vesícula biliar. A bile é uma solução emulsificante sem enzimas digestivas, diminuindo o tamanho das partículas de gordura para facilitar a ação das lipases do suco pancre- ático e do suco entérico (intestinal). A bile também atua na facilitação da absorção de vitaminas lipossolúveis. Dessa forma, ao longo do intestino delgado, ocorrem as etapas finais da digestão de substâncias pela ação das enzimas presentes no suco entérico, que, além das amilases, lipases, possuem as peptidases, que disponibilizam os aminoácidos dos peptídeos. Como já descrevemos anteriormente, a grande capacidade de absorção dessas substâncias simples (glicose, frutose, aminoácidos, ácidos graxos) pela mucosa do intestino deve-se às suas inúmeras vilosidades e às microvilosidades da superfície, possibilitando a entrada desses nutrientes nos vasos sanguíneos e linfáticos. Nas partes finais do TGI, no intestino grosso, ocorre a reabsorção de água e o material não digerido que chega ao reto na porção final, e já constitui as fezes que serão eliminadas pelo ânus. O processo da digestão é controlado pelo sistema nervoso autônomo e ação de hormônios e, como na maioria dos processos fisiológicos, há uma interação do sis- tema nervoso e endócrino. Os órgãos sensoriais são estimulados e a simples visão, o cheiro ou mesmo o sabor do alimento estimulam o sistema nervoso central, que 21 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação se encarrega de estimular as glândulas salivares antes mesmo de o alimento ser in- gerido, fenômeno conhecido como salivação, que estimula as glândulas estomacais a secretarem as enzimas digestivas e o ácido clorídrico. O controle das secreções, além da estimulação nervosa, também recebe estimu- lações hormonais, uma sequência de sinais químicos, dos quais participam vários hormônios que atuam no estômago e intestino. Resumidamente, após a passagem do alimento pela boca onde ocorre o início da digestão de carboidratos e pelo estômago onde há digestão intensa de proteínas, o quimo (alimento de caráter ácido proveniente do estômago) entra no duodeno, que libera a secretina no sangue. Ela inibe a secreção gástrica do estômago e reduz a mobilidade intestinal, estimula a liberação de secreção pancreática rica em bicar- bonatos, a produção de bile pelo fígado e a secreção do suco entérico pela parede intestinal. O quimo ainda estimula as células do duodeno a liberar colecistoquinina que, pela circulação sanguínea, estimula a contração da musculatura, promovendo a expulsão da bile da vesícula biliar para o duodeno. Também estimula o pâncreas a liberar suco pancreático. O quimo também desencadeia a liberação no sangue de um hormônio inibidor de ati- vidade gástrica, cuja principal função é diminuir os movimentos peristálticos estomacais. Tabela 1 – Exemplos de alguns hormônios que atuam no controle hormonal da digestão HORMÔNIO LOCAL DE PRODUÇÃO E AGENTE ESTIMULADOR ÓRGÃO ALVO EFEITOS Gastrina Estômago; estimulado pela pre-sença de alimentos no estômago. Estômago Estimula a secreção de suco gástrico, relaxa o esfíncter pilórico e contral a cárdia. Secretina Intestino delgado; estimulado pela acidez do quimo que che- ga ao intestino. 1. Estômago 2. Intestino 1. Inibe a secreção de suco pacreático 2. Reduz a mobilidade intestinal e induz a secreção de suco entérico Colecistoquinina Intestino delgado; estimulado pela presença de peptonas e lipídios no duodeno. 1. Pâncreas 2. Vesícula Biliar 1. Estimula a secreção de suco pancreático 2. Estimula a secreção de bile Peptídeo Inibidor Gástrico (PIG) Intestino delgado; estimulado pela presença de lipídios e gli- cídios no duodeno. Estômago Diminui as contrações do estômago Fonte: Adaptado de Moyes, Princípios de Fisiologia Animal, 2ª edição 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Princípios de Fisiologia Animal MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre (RS): Artmed, 2010. 756p. e-book . Vídeos Homeostase – Controle da Digestão https://youtu.be/IQ_vYrCP2kY Sistema Digestório: As enzimas digestivas e os processos químicos da digestão https://youtu.be/JneUZo-m7Ds Sistema digestório dos Mamíferos – Ruminantes https://youtu.be/a2wX3M7TxJ0 Sistema digestório das aves https://youtu.be/kdOcSAM2X3c Leitura Controle hormonal do metabolismo https://bit.ly/2wvzuFn Sinalização cerebral do apetite https://bit.ly/310ylDE 23 UNIDADE Fundamentos de Fisiologia Comparada – Animais, Seus Ambientes e Alimentação Referências GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de Janeiro-RJ: Elsevier, 2011. 1128p. HILL, R. W.; WYSE, G. A.; ANDERSON, M. Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2012. 894p. MOYES, C. D.; SCHULTE, P. M. Princípios de Fisiologia Animal. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed Editora, 2010. 756p. RANDALL, D.; BURGGREN, W.; FRENCH, K. Eckert Fisiologia Animal: Meca- nismos e Adaptação. 4. ed. Rio de Janeiro-RJ: Guanabara Koogan, 2014. 729p. SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia Animal e Comparada. 5. ed. São Paulo-SP: Livraria Santos, 2002. 600p. TORTORA, G. J. Corpo Humano – Fundamentos de Anatomia e Fisiologia. 4. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2010. 537p. 24
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