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1 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi Amenorréia e sop OBJETIVOS: 1. Revisar a fisiologia do ciclo menstrual. 2. Compreender a amenorreia primaria e secundária 3. Entender o diagnostico e tratamento da SOP. Ciclo menstrual Padrão normal • Duração do ciclo: 21 a 35 dias • Duração do fluxo: 2 a 6 dias Fisiologia Eventos principais: recrutamento e maturação folicular O hipotálamo estimula a hipófise, que age sobre os ovários e útero. • O GnRH hipotalâmico estimula a hipófise a produzir e secretar as gonadotrofinas (FSH e LH), que agem sobre os ovários, liberando E e P, que fazem proliferação, secreção e menstruação; • O hipotálamo só estimula a adenohipófise se a secreção de GnRH for PULSÁTIL. Essa pulsatilidade varia em frequência e amplitude no ciclo; • O estrogênio e a progesterona produzidos pelo ovário agem no endométrio provocando modificações do tipo proliferativo e secretor. o A fase folicular (antes da ovulação) é caracterizada por pulsos de alta frequência, mas de baixa amplitude; o A fase lútea (depois da ovulação) tem pulsos de baixa frequência e alta amplitude. ADENOHIPÓFISE produz FSH, LH, GH, ACTH e prolactina NEUROHIPÓFISE Armazena ocitocina e ADH • O hipotálamo estimula a hipófise, exceto a dopamina que inibe a prolactina! • Se cortar a circulação porta-hipofisária, ocorre um hipopituitarismo com hiperprolactinemia! A menstruação consiste na eliminação cíclica do endométrio e corresponde ao desfecho de uma longa cadeia de eventos que se inicia no sistema nervoso central. O objetivo final é a preparação do leito de implantação do ovo se tiver ocorrido a concepção. Na ausência de fecundação e gravidez, a secreção de estrogênio e progesterona pelo corpo lúteo obrigatoriamente ↓. Assim, há desintegração do endométrio e de seu estroma de sustentação, o que leva ao sangramento menstrual. A perda sanguínea desencadeada pela diminuição dos níveis hormonais, que conhecemos como menstruação, é, na verdade, uma hemorragia de privação. Assim, para que a menstruação ocorra, é necessário estarem presentes as seguintes características: • Eixo hipotálamo-hipófise-ovário em funcionamento; • Endométrio responsivo aos estímulos hormonais; • Trato de saída pérvio (útero e vagina) para a exteriorização do sangramento. O controle dessa sequência de eventos ocorre por mecanismos de retroalimentação positivos e negativos. Estímulos exógenos, endógenos e alterações psíquicas podem alterar o sincronismo do eixo. Consequentemente, podem intervir na regularidade do ciclo menstrual e causar oligomenorreia ou amenorreia. Adrenais, fígado, tireoide e metabolismo periférico também intervêm no sincronismo do eixo. Este sistema começa a atuar de forma integrada na puberdade, quando aparecem os caracteres sexuais secundários, pela ação de hormônios ovarianos e adrenais. O ciclo menstrual divide-se em ciclo ovariano e uterino. É o mesmo ciclo, sob perspectivas diferentes. Ciclo ovariano Possui as fases folicular, ovulatória e lútea 1) Fase folicular: recrutamento à ovulação • Aumento do estrogênio e inibina B • ↑FSH com a regressão do corpo lúteo (ciclo anterior) • Seleção do folículo dominante (tem + receptores de FSH) • ↑ estrogênio e ↑inibina B → inibem o FSH 2) Fase ovulatória: pico de estradiol → pico de LH (hormônio liberador do ovulo) • Ovulação ocorre 32-36h após início do aumento de LH e 10-12h após seu pico máximo* 3) Fase lútea: folículo roto → corpo lúteo • Ocorre ↑progesterona (↓LH) e ↑inibina A, com duração ± fixa de 14 dias 2 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi • Se regressão do corpo lúteo → ↓E, P e Inibina A → ↑ GnRH e ↑ FSH → novo recrutamento folicular • Na verdade, o ↑FSH já ocorre no final do ciclo anterior quando o corpo lúteo começa a regredir, e não no início do ciclo vigente. • Se engravidar, o HCG sustenta corpo lúteo e mantém progesterona! Ciclo uterino Possui as fases proliferativa, secretora e menstrual Fase proliferativa inicial: glândulas curtas e pequenas • Quem prolifera: estrogênio Fase secretora: glândulas mais longas, tortuosas e dilatadas (bem mais preparadas para receber um feto) • Quem torna o endométrio secretor: progesterona MUCO CERVICAL Fase folicular Ação estrogênica Muco fino → filância Cristalização → aspecto arboriforme na lâmina (“lâmina de samambaia”) Fase lútea Ação da progesterona Muco espesso (sem filância) Sem cristalização Amenorreia Amenorreia representa um sintoma e não uma doença. É uma condição com diferentes causas, como disfunções endocrinológicas, alterações genéticas, malformações genitais, anomalias gonadais, tumores hipofisários e hipotalâmicos, uso de medicamentos, entre outras. Sua definição assenta fundamentalmente na ausência ou cessação anômala do período menstrual. Definição: ausência da menarca ou ausência da menstruação por no mínimo três ciclos menstruais consecutivos ou seis meses. Amenorreia primária – ausência de menstruação aos 14 anos associada à falha no desenvolvimento sexual (ausência de características sexuais secundárias) ou ausência de menstruação aos 16 anos, mesmo com desenvolvimento sexual normal. Amenorreia secundária – ausência de menstruação por seis meses ou pelo período equivalente a três ciclos consecutivos. Quando a ausência de menstruação ainda não atingiu este limite temporal, define-se o atraso menstrual. Principais causas Compartimento I (uterovaginal): ● Malformações müllerianas, síndrome de Asherman, atrofia endometrial, tuberculose genital, hiperplasia suprarrenal congênita, hermafroditismo verdadeiro. Compartimento II (gonadal): ● Disgenesia gonádica, insuficiência ovariana prematura, síndrome de Savage (ovários resistentes), tumores ovarianos funcionantes, anovulação crônica e SOP, deficiência de 5-alfa-redutase, deficiência de 17-alfa- hidroxilase, galactosemia, insensibilidade completa aos androgênios (sd. Morris), insensibilidade incompleta aos androgênios. Compartimento III (hipofisário): ● Adenoma hipofisário, craniofaringioma, meningioma, glioma, metástases, doenças degenerativas ou inflamatórias, síndrome de Sheehan, síndrome de Simmonds, síndrome da sela vazia. Compartimento IV (hipotalâmico): ● Estados de grande tensão, pseudociese, distúrbios alimentares, exercício físico, sd. Kallmann, anticoncepcionais hormonais, Hormônios em altas doses, medicamentos (metoclopramida, metildopa, sulpiride, reserpina, clorpromazina), tumores, atraso constitucional da puberdade. Fluxograma de investigação 1º. Descartar gravidez – dosagem de beta-hCG. 2º. Descartar hiperprolactinemia e hipotireoidismo – dosagem de prolactina e TSH. 3 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi Principais causas de hiperprolactinemia: medicamentos e prolactinomas. ● Medicamentos associados: Antagonistas da dopamina (fenotiazinas, tioxantenos, butirofenonas, difenilbutilpiperidina, dibenzoxazepina, di- hidroindolona, procainamida, metoclopramida); Neurolépticos (flufenazina, haloperidol, penfluridol, pimozida, pipotiazina); Antidepressivos tricíclicos (imipramina, amitriptilina, clomipramina, nortriptilina) e inibidores de recaptação de serotonina (fluoxetina); Outros: benzodiazepínicos (amoxapina), cimetidina, ranitidina, estrogenioterapia, metildopa, opiáceos, reserpina, sulpirida, verapamil, anticoncepcionais orais. Hiperprolactinemia Prolactino ma Medicament osa Outras Diagnósti co RM Metoclopram ida Neuroléptico s Tricíclicos Ranitidina ACO... Gestação Hipotireoidis mo Estimulação Insuf. renal Estresse Tratamen to Inicial: clínico Carbegolin a ou Bromocripti na 3º. Teste da progesterona: ● Teste positivo – anovulação, estrógenos normais e trato de saída pérvio; ● Teste negativo – indicar teste do estrogênio + progesterona. 4º. Teste do estrogênio + progesterona:● Teste positivo – causa ovariana, hipofisária ou hipotalâmica. Solicitar dosagem plasmática de FSH; ● Teste negativo – causa uterina ou endometrial. 5º. Dosagem de FSH: ● FSH elevado (>20) – origem ovariana; • FSH normal ou ↓ (< 5): hipófise (compartimento III) ou hipotálamo (compartimento IV) 6º. Teste do GnRH: ● ↑ LH e/ou FSH: hipotalâmica ● Não ↑LH e/ou FSH: hipofisária; Atraso menstrual – ausência da menstruação por período inferior a três ciclos. Amenorreia – ausência da menarca ou da menstruação por período mínimo de três ciclos consecutivos ou seis meses. Hipomenorreia – diminuição no fluxo menstrual ou na duração da menstruação. Oligomenorreia – redução na frequência das menstruações (intervalos maiores que 35 dias). Criptomenorreia – a menstruação não se exterioriza devido a alterações do trajeto de saída (agenesia de colo, hímen imperfurado ou septo transverso). A idade e caracteres sexuais secundários devem ser levados em consideração para definir amenorreia primária, porque o atraso na menarca pode fazer parte da fisiologia normal feminina. Como a puberdade nas meninas respeita, em geral, uma determinada ordem de desenvolvimento das características clínicas, iniciando pela telarca (surgimento das mamas), pubarca ou adrenarca (surgimento de pelos pubianos, axilares, etc.), estirão de crescimento, mudança do padrão corporal e, por fim, a menarca (primeira menstruação), a ausência de caracteres sexuais aos 14 anos associada à amenorreia e a amenorreia aos 16 anos, mesmo na presença de caracteres normais, podem ser consideradas patológicas e merecem investigação. Estes pontos de corte representam aproximadamente dois desvios-padrão da idade média na qual deve ocorrer o desenvolvimento de características secundárias e menstruação. É importante salientar que nem sempre a amenorreia é patológica. Ela é considerada fisiológica na infância, na pós- menopausa e na gestação ou no puerpério. Após episódio de abortamento, só podemos qualificar amenorreia na presença de um período sem menstruação superior a três meses. Nestes casos, normalmente a menstruação ocorre no máximo um a dois meses após a expulsão. Vale reforçar que a amenorreia não é sinônimo de atraso menstrual. Ela corresponde à ausência de menstruação por período mais curto do que o mencionado. 4 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi Abordagem diagnostica Investigação da amenorreia primária 1º. Avaliação do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários femininos, com o intuito de sistematizar a propedêutica. Se há desenvolvimento mamário, há sinal de ação estrogênica e, portanto, de funcionamento ovariano. 2º. Verificação da normalidade do restante da anatomia; verifica-se se a paciente tem útero. Faz-se o exame físico, a ultrassonografia pélvica e/ou a ressonância magnética. O exame físico minucioso pode demonstrar anormalidades no desenvolvimento da genitália externa, virilização, hematocolpo e estigmas de Turner. Se foi identificada vagina curta, os diagnósticos mais prováveis são agenesia mülleriana (síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser — MRKH) e a Síndrome da Insensibilidade Androgênica Completa (SIAC) — também conhecida como síndrome de Morris. 3º. É aconselhável a realização do cariótipo. Em caso de cariótipo 46,XX, estamos diante da síndrome de MRKH. Na ausência de útero/vagina, mas com cariótipo XY, trata-se da Síndrome da Insensibilidade Androgênica Completa (SIAC). Por outro lado, se há desenvolvimento mamário e o útero e a vagina são presentes, as etiologias devem ser as mesmas das amenorreias secundárias, apenas ocorrendo antes de que a adolescente tenha sua primeira menstruação. Neste caso, deve-se: 1º. Descartar gravidez pela história ou exame laboratorial; 2º. Afastar criptomenorreia (o sangramento não se exterioriza por alterações no trajeto de saída – agenesia do colo, hímen imperfurado ou septo transverso). É frequente 5 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi a dor pélvica cíclica, podendo ocorrer hematocolpo, hematometra e até derrame intraperitoneal; 3º. Verificar a normalidade do restante da anatomia, isto é, se a paciente tem útero; 4º. Os casos com anatomia normal representam uma disfunção do eixo H-H-O e o restante da investigação seguirá o mesmo protocolo da investigação das amenorreias secundárias. Diante da presença de sinais de determinadas afecções, não será difícil buscar o diagnóstico etiológico, sendo dispensável a realização dos testes diagnósticos mencionados. Contrariamente, na ausência desse tipo de constatação, prossegue-se a investigação passo a passo. Em casos de virilização, é recomendável a avaliação das adrenais e ovários através de dosagens hormonais, exames de imagem e cariótipo. Vale lembrar que a principal causa de amenorreia primária sem desenvolvimento sexual secundário (hipogonadismo) com elevação das gonadotrofinas é a disgenesia gonadal. E dos casos de disgenesia gonadal, a síndrome de Turner é a causa mais comum. Investigação da amenorreia secundária Todo caso de amenorreia secundária deve-se começar a ser investigado pela exclusão de gravidez. No entanto, esta é a principal, mas não a única condição a ser investigada. É importante pesquisar também hipotireoidismo, história patológica pregressa de galactorreia, uso de medicamentos, alterações neuropsíquicas e curetagens repetidas. Por isso, a etapa subsequente corresponde à dosagem de prolactina e TSH, explicada pelo baixo custo e simplicidade. Os valores séricos elevados desses hormônios direcionam a investigação para as causas de hipotireoidismo primário e/ou hiperprolactinemia. O emprego de dosagens hormonais, testes com progesterona e testes com estrogênio e progesterona representa outro aspecto do diagnóstico, restringindo ainda mais as possibilidades diagnósticas e orientando a pesquisa da amenorreia. Síndrome dos ovários policístico Anovulação crônica hiperandrigênica Tríade clássica: menstruação atrasada + infertilidade + hiperandrogenismo Lembrar que: síndrome dos ovários policísticos ≠ ovários policísticos • 5 - 10% das mulheres • Maior causa de hiperandrogenismo FISIOPATOLOGIA: SHBG (proteína transportadora do hormônio sexual) – a fração do hormônio ligada a proteína é simplesmente transportada, ou seja, não têm função; na SOP temos ↓ da proteína transportadora; com isso, teremos hormônios livres biologicamente ativos, com manifestações de anovulação e de hiperandrogenismo. É a resistência insulínica que diminui a produção hepática da SHBG levando ao aumento das frações livres dos hormônios e, consequentemente às suas manifestações (hiperandrogenismo e anovulação). Resistência insulínica → SHBG → estrogênio e androgênio (frações livres) → hiperandrogenismo e anovulação Resistência insulínica Acantose nigricans Hiperandrogenismo Acne, alopecia, hirsutismo* (pelos grossos com distribuição tipicamente masculina em uma mulher) (*) Hirsutismo – escala de Ferriman ≥ 8 Anovulação Irregularidade menstrual, infertilidade LABORATÓRIO (excluir outras doenças): • TSH, prolactina: outras irregularidades menstruais • 17-OH-progesterona: diagnóstico diferencial com hiperplasia adrenal congênita (<200 praticamente exclui hiperplasia) • Cortisol: diagnóstico diferencial com Cushing SOP: SHBG e FSH ou normal (estrogênio alto → inibe FSH e estimula LH – no SOP, temos FSH diminuído e LH alto → o LH atual na teca e transforma o colesterol em androgênio → o androgênio no tecido periférico é convertido em estrogênio → ciclo Obs.: Temos um androgênio que é produzido exclusivamente na suprarrenal – S-DHEA (>700 pedir TC ou RM – neoplasia de adrenal?) DIAGNÓSTICO (2 dos 3): • Ovários policísticos à ultrassonografia: o ≥ 12 folículos de 2-9 mm ou ≥ 10cm³ ovário o Não é um achado necessário e não ésuficiente. Até 20% de falso-positivos • Oligo ou anovulação • Hiperandrogenismo Obs.: falha desse critério (Critérios de Rotterdan) – não avalia o ponto central da doença – a resistência a insulínica. 6 Gabi Vieira 02/23 MEDFipGbi REPERCUSSÕES: • Resistência insulínica: DM, HAS, doença cardiovascular,. • Hiperandrogenismo: anovulação, estética • Anovulação: infertilidade, fator de risco para ca de endométrio TRATAMENTO: Atividade física + dieta fracionada + perder peso (se acima do peso) – devido ao problema central da doença de resistência insulínica + Controle insulina Tratar hirsutismo Controle do ciclo Gestação Metformina Estético - Ciproterona ACO ou progesterona Clomifeno
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