Buscar

Epistemologia das Ciencias Sociais (Chinazzo 2013)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 186 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 186 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 186 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SÉ
R
IE
 
P
O
E D I T O R A
intersaberes
Epistemologia das
Ciências Sociais
Susana Salete Raymundo Chinazzo
C/D
03
2 o
b o M
O </> 
O , r H
^ u
C
O) <QJ
</> U
<Z)
0 3D h
w
SÉ
R
IE
 
PO
R 
D
E
N
T
R
O
 
D
A
S 
C
IÊ
N
C
IA
S 
S
O
C
IA
IS
Susana Salete Raymundo Chinazzo
Ipistemologia 
das ciências sociais
E D I T O R A
intersaberes <7$
C> • <o
A v . V icen te M ach ad o , 3 1 7 .1 4 ' and ar 
C e n tr o . C E P 8(1420-010 . C u ritib a . P R . Brasil 
E D I T O R A F o n e : (4 1 ) 2103-7306
, w w w .editoraintcrsabcrcs.com .br
i n t e r s a b e r e s I'd i tora - Cd i tora i n tcrsabcrcs.com .br
C O N S E 1.H O E D IT O R IA L 
D r. I v o J o s e B o th 
(p re s id e n te ) 
D r ’. E le n a G o d o y 
D r. N e ls o n L u is D ia s 
D r. U lf G r e g o r B a ra n o w
1* e d i ç ã o , 2 013 .
F o i f e i t o o 
d e p ó s i t o le g a l .
I n f o r m a m o s 
q u e é d e i n t e i r a 
r e s p o n s a b i l i d a d e d a 
a u t o r a a e m i s s à o d e 
c o n c e i t o s .
N e n h u m a p a r t e 
d e s t a p u b l i c a ç ã o 
p o d e r á s e r 
r e p r o d u / i d a p o r 
q u a l q u e r m e i o o u 
f o r m a s e m a p r é v ia 
a u t o r i / a ç à o d a 
E d i t o r a I n t e r S a b e r e s . 
A v i o l a ç ã o d o s 
d i r e i t o s a u t o r a i s é 
c r i m e e s t a b e l e c i d o 
n a L e i n 9 .6 1 0 / 1 9 9 8 e 
p u n i d o p e l o a r t . 184 
d o C ó d i g o P e n a l .
E d i t o r - c h e f f 
L in d s a y A z a m b u ja
E d i t o r - a s s i s t e n t b 
A r ia d n e N u n e s W e n g e r
E d i t o r d e a r t e / P k o i e j o g r a e i c o 
R a p h a e l B e r n a d e lli
C a p a
A d o ro D e s ig n
F o t o c r a f i a d a c a t a 
P a n th c r M c d ia
Dados Internacionais d e Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira d o Livro, SP, Brasil)
C hin azzo , Su zan a Sa le te R aym u nd o 
Ep istem ologia d a s c iên cia s sodais/Suzana Salete 
Raym undo C hin azzo . - 1. ed . - C uritiba : InterSaberes, 
2013 . - (Série Por D entro d as C iên cias Sociais).
Bibliografia.
ISB N 978-85-8212-611-0
1. C iên cia s h u m an as 2. C iên cias so cia is - Filosofia 
3. Ep istem ologia I. T itu lo . II. Série.
12-09879 C D D -300.1
I n d i a ’s p a r a c a t á l o g o s i s t e m á t i c o :
I . C iê n c ia s s o c i a i s : E p is t e m o l o g ia : F i lo s o f i a 3 0 0 .1
http://www.editoraintcrsabcrcs.com.br
Sumário
A presentação, IX
( 1 ) 0 c a m i n h o d o m i t o a o logos, n 
í . i O mito, 14
1 . 2 O logos, 16
1 .3 O s p r im ó r d io s d a filosofia, 19
( 2 ) 0 c o n c e ito d e e p is te m o lo g ia , 29
2 .1 H is tó r ia d a e p is t e m o lo g ia , 3 2
2 . 2 N o v a s t e n d ê n c ia s d a e p is te m o lo g ia , 3 5
Ep
is
te
in
ol
og
ia
 
ti
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
( 3 ) 0 in a tism o , 43
( 4 ) A s p o ss ib il id a d e s d o c o n h e c im e n to , 55
4 . 1 D o g m a t i s m o , 58
4 .2 C e t ic is m o , 60
4 .3 P r a g m a t is m o , 6 3
4 . 4 C r it ic is m o , 65
( 5 ) 0 q u e é ra c io n a lism o ? , 69
5 . 1 O r a c io n a lis m o t r a n s c e n d e n t a l d e P latã o , 7 2
5 . 2 O r a c io n a lis m o te o ló g ic o d e S a n t o A g o s t i n h o , 74
5 .3 A c o n t r ib u iç ã o d a R e n a s c e n ç a , 7 6
5 . 4 O r a c io n a lis m o d e R e n é D e s c a r t e s , 7 8
( 6 ) 0 q u e é e m p ir ism o ? , 83
6 .1 A s id e ia s d e J o h n L o c k e e d e D a v i d H u m e , 8 7
6 .2 A s p r i n c i p a i s id e ia s e m p ir is t a s , 9 1
( 7 ) 0 q u e é p o sitiv ism o ?, 95
7.1 O p o s i t i v is m o d e A u g u s t e C o m t e , 9 8
7 .2 A lei d o s trê s e s t a d o s , 10 0
7.3 A c la s s i f ic a ç ã o d a s c iê n cia s , 1 0 3
7 .4 O s u r g i m e n t o d a s o c io lo g ia , 10 4
7.5 O r d e m e p r o g r e s s o , 10 6
7.6 O p a p e l d a m o ra l n a filo so fia c o m t ia n a , 10 6
7.7 O p o s i t i v is m o n o B ra sil, 108
( 8 ) 0 q u e é d ia lé tica? , 111
8 . 1 A d ia lé t ic a n a h is tó ria , 1 1 4
8 . 2 O m é t o d o d i a lé t i c o d e S ó c r a t e s , 1 1 5
8.3 O s s i g n i f i c a d o s d a d ia lé t ic a , 1 1 9
8 .4 A d ia lé t ic a d e H e g e l, 12 0
8 .5 O e m b a t e h e g e l i a n o c o m K a n t e c o m 
o r o m a n t i s m o filo sófico , 1 2 4
8 .6 N o v o s c a m i n h o s d a d ia lé t ic a , 126
( 9 ) 0 q u e é fen o m en o lo g ia ? , 127
9 .1 P r in c ip a is p r e s s u p o s t o s d a fe n o m e n o lo g ia , 1 3 0
9 . 2 O b j e t i v o s d a fe n o m e n o lo g ia , 13 1
9 .3 O p a p e l d a c o n s c iê n c ia n a fe n o m e n o lo g ia , 1 3 2
9 .4 A q u e s t ã o d a Lebensw elt e a c r i s e d a c iv i l iz a ç ã o , 133
9 .5 A r e la ç ã o e n t r e c o n s c iê n c ia e objeto, 1 3 5
9 .6 A trajetó ria fe n o m e n o ló g ic a , 1 3 6
9 .7 A in t e r s u b je t iv id a d e n a fe n o m e n o lo g ia , 1 3 7
( 1 0 ) H e rm e n ê u tic a , 139
1 0 .1 O m o d e lo d e c iê n c i a d a h e r m e n ê u t ic a , 1 4 2
1 0 .2 A h e r m e n ê u t ic a filo só fica d e G a d a m e r , 1 4 4
10 .3 C o n c e p ç õ e s s o b r e a c o m p r e e n s ã o , 145
( 1 1 ) 0 q u e é c iência? , 149
1 1 . 1 C a r a c t e r í s t ic a s o u p r o p r ie d a d e s 
d o c o n h e c i m e n t o c ie n tífic o , 1 5 4
1 1 . 2 O s lim ite s d a c iê n c ia e x p e r i m e n t a l , 156
1 1 . 3 E v o lu ç ã o e p r o g r e s s o c ie n tífic o , 158
1 1 . 4 A in flu ê n c ia d a c iê n c ia n a c u lt u r a e n a h istó ria , 16 0
( 12 ) A s c iê n c ia s h u m a n a s e s o c ia is , 163
1 2 . 1 O d i l e m a d a s c iê n c i a s h u m a n a s e s o c ia is , 1 6 6
1 2 . 2 N o v o s p a r a d i g m a s d a c iê n c ia , 1 6 7
1 2 . 3 O c o n h e c i m e n t o n a p ó s - m o d e r n i d a d e , 1 6 9
1 2 . 4 A s c iê n c i a s h u m a n a s e s o c i a i s n a e r a d a g lo b a liz a ç ã o , 1 7 1
R eferências, 1 7 5 
Gabarito, 1 7 9
Apresentação
E ste texto foi e laborad o co m o ob je tiv o d e a p r e s e n ta r a s id e ias 
e o s co n ce ito s d e a lg u n s p e n s a d o r e s re n o m a d o s e c o n s a ­
g ra d o s n e s s a á r e a d o c o n h e c im e n to h u m a n o . L ogo, n ã o 
se tra ta d e n e n h u m a p ro d u çã o c ien tíf ica p ro p r ia m e n te 
dita , q u e s ig a a s e x ig ê n c ia s d o s p a d rõ e s e m é to d o s c ie n ­
tíficos. C o m p ila m o s re fe re n c ia is q u e a c r e d ita m o s p o s s ib i­
l i ta r u m a m e lh o r c o m p re e n s ã o d o fe n ô m e n o d a s c iê n c ia s 
s o c ia is e h u m a n a s .
E
pi
st
en
w
lo
gi
a 
ti
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
C o m essa finalid ad e, d iv id im o s o co n te ú d o em cap ítu lo s 
q u e re tra ta m u m a lin h a d o te m p o d a co n s tru çã o d o p e n sa ­
m en to ep istem o lóg ico . In ic ia m o s o tex to a b o rd a n d o a q u e s ­
tão d o co n h ec im en to , d e sd e o te m p o e m q u e era a n a lisa d a 
so b u m a p ersp ectiv a m íst ica a té o m o m e n to e m q u e su rg iu 
a filosofia, q u a n d o o h o m e m passou a ex erc ita r a razão.
D ep ois , tra b a lh a m o s a ep is tem o lo g ia c o m o u m a ciên cia 
in d e p e n d e n te d a filosofia e f iz em o s u m a a n á l i s e d o c o n h e ­
c im e n to d e sd e a A n tig u id a d e a té o p e r ío d o a tu a l. N o c a p í­
tu lo s o b re o in a tism o , r e to m a m o s a q u e s tã o s o b r e a o rig em 
d o c o n h e c ime n to .
A b o rd a m o s a in d a a s p o s s ib il id a d e s d o co n h e c im e n to , 
s a lie n ta n d o s u a s p r in c ip a is co rren tes . D em o s u m a ên fase 
m aior ao racionalism o, ao em p irism o, ao positiv ism o, à d ia ­
lética e à fen om enologia , p o r acred itarm o s q u e sã o im p o r­
tan tes para a fu n d am en tação d o co n h ecim en to e para u m a 
co m p reen sã o d o desen volv im en to ep istem ológ ico d o h om em 
e d a h u m an id ad e. A p resen tam o s ta m b é m a ciência h erm e­
nêutica, q u e estu d a o u n iv e rso d a cu ltu ra , esc larecen d o seus 
princípios, leis e m étod os d e investigação.
C h eg am os, assim , à co m p lex id ad e co n tem p o rân ea para 
d efin ir o q u e é ciência, p rin c ip a lm en te c iên cias socia is e 
h u m an as , co m en ta n d o so b re o s m étod os e as fo rm a s d e fazer 
ciência. F risam o s a in d a o q u an to é d ifíc il fazer ciência n a era 
d a g lobalização , qu e frag m en ta n ã o só a razão, c o m o tam bém 
o in d iv íd u o e a cu ltu ra , o s q u a is perdem su a su b je tiv id ad e e 
sua in d iv id u alid ad e na g ran d e ald eia global.
o caminho do mito ao logos
S u sa n a Salete R a ym u n d o C h in a zzo é graduada 
em Filosofia ( 1 9 8 6 ) pela Faculdade d e Filosofia 
N ossa Senhora da Im aculada Conceição 
(Fa fim c), d e V ia mão, R S , e em Psicologia 
(2 0 0 4 ) pela U n iversid a d e Luterana d o Brasil 
(U lb ra ) d e C anoas, R S , sendo m estre em 
A n tro polog ia Filosófica ( 1 9 9 6 ) pela Pontifícia 
U n ive rsid a d e Católica d o R io G ra n d e do 
S u l ( P U C R S ) , com a dissertação " O eterno 
m om ento presente". Tem experiência com o 
docente nas áreas d e filosofia e d e ciência polí­
tica e social, com ênfase em antropologia, atu­
ando principalm ente nos seguin tes tem as: ética, 
epistem ologia, estética, ontologia, filosofia da 
educação e história da filosofia.
Susana Salete R aym undo C hinazzo
As reflexões desenvolvidas n e s te c a p í­
tu lo têm o o b je t iv o d e e s c la re c e r e d e sm ist if ica r o c o n c e ito 
d e m ito , a lé m d e d e scre v e r c o m o se d eu a p a ssa g e m d o 
m ito à ra z ã o ( logos) e c o m o n a sce u o c o n h e c im e n to racion al.
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
it
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
(1 .1 )
Q mito
A cu ltu ra e a c iv ilização ocid en ta is es tã o a licerçad as n o s p r in ­
cípios d a filosofia g re g a e por e les sã o d e te rm in a d a s até o s 
d ias atuais. N o início, p o rém , a n tes d o su rg im e n to d o co n h e ­
c im en to filosófico, p red o m in av a o m ito. M as, afin al, o q u e é 
o m ito ? S e g u n d o M arilen a C h a u i (1994, p. 28), em sua obra 
Convite n filosofia, " u m m ito é u m a n arrativa so b re a origem de 
a lg u m a co isa (origem d o s astros, d a terra, d os hom ens, das 
plantas, d os a n im a is , d o fogo, d a ág u a , d o s ventos, d o b em e 
d o m al, da saú d e e da doença, da m orte, d os in s tru m en to s de 
trabalho, d a s raças, d a s gu erras, d o poder, etc.)".
A p a la v ra mito v em d o g re g o m ythos e d er iv a d e d o is v er­
bos: m ytheyo ("cantar, narrar, fa lar a lg u m a co isa para o u tro s") 
e m ytheo ("contar, a n u n cia r , n o m ear, d e s ig n a r" ) (C hau i, 1994, 
p. 28). O D icionário d e filosofia , d e N icola A b b a g n a n o (1982, 
p. 644), co n ceb e o co n ce ito d e m ito co m o "n arra tiv a", c itan d o 
co m o ex em p lo a Poética, d e A ristó te les , e e n fa t iz a três v isõ e s 
d ife re n tes so b re o m ito n a A n tig u id a d e C lássica : "1 ) [...] era 
co n sid erad o c o m o u m p ro d u to in ferio r ou d e fo rm a d o d a 
a tiv id ad e in te lectu a l. 2) [...] c o m o u m a fo rm a a u tô n o m a de 
p e n s a m e n to ou d e v id a . 3) [...] c o m o u m in s tru m e n to d e c o n ­
tro le social".
P ara o s le ig o s n o tem a , e s sa p a lav ra p a ssa , n u m p r i­
m e iro m o m e n to , a id e ia d e n a r r a ç õ e s fa n ta s io s a s s o b r e p e r ­
s o n a g e n s e a to s h e ro ico s d o p a ssa d o . O u se ja , im a g in a -s e 
q u e o m ito se re s tr in g e à s le n d a s e te m p o u co a v er c o m a 
v id a n o s d ia s a tu a is .
Para o filósofo fran cês G eo rg es G usdorf, citado p o r So u za 
(1995, p. 3 9 ) , a co n sciên cia m ítica , b em co m o a co n sciên cia filo­
sófica, é a m an eira qu e o h o m em en co n trou para o rg an iz ar o
co n h ecim en to so b re a realidade. R epresenta u m a form a de 
exp licar o s fen ô m en o s da n atu reza , a origem d a v id a e do 
cosm o, d e en ten d er a m orte. Portanto, o m ito tem a fu n çã o de 
aq u ie tar a a n g ú stia p eran te o d esco n h ecid o , d ian te daquilo 
q u e o co n h ecim en to racional d o h o m e m n ão alcança.
C o n fo r m e a s a u to ra s A r a n h a e M a r t in s (1997, p. 22), "o 
m ito é u m a in tu iç ã o c o m p re e n s iv a d a rea lid ad e , é u m a 
fo rm a e s p o n tâ n e a d e o h o m e m s itu a r -s e n o m u n d o . A s ra í­
z e s d o m ito n ã o s e a c h a m n a s e x p lic a ç õ e s ex c lu s iv a m e n te 
ra c io n a is , m a s n a re a lid a d e v iv id a , p o r ta n to p ré-reflex iva , 
d a s e m o ç õ e s e d a a fe tiv id ad e".
O a n tro p ó lo g o B ro n is law K a sp er M alinovvski, c itad o 
p o r A b b a g n a n o (1982, p. 664 ) v ê e s sa q u e stã o p o r u m e n fo ­
q u e m a is cu ltu ra l e so c ia l. E le d iz qu e
o m ito cum pre uma fu n ç ã o s u i g e n e r is intim am ente ligada 
à natureza da tradição e à continuidade e com a atitude 
hum ana em relação ao passado. A fu n ção do m ito é , em 
resumo, a d e reforçar a tradição e dar-lh e m aior valor e pres­
tígio unindo-a a m ais alta , m elhor e m ais sobrenatural reali­
dade dos acontecim entos iniciais.
N essa p e rsp e c t iv a fu n c io n a l , o m ito é c o n h e c im e n to 
q u e fu n d a m e n ta e co n s o lid a a co n v iv ê n c ia h u m a n a . N ele e 
p o r e le a co n te ce a v id a a s so c ia d a , c o n v e n c e n d o o s h o m en s 
a c o m p a r t i lh a r a o r ig e m e o d e s t in o d e s u a s v id a s . E é 
p o r isso q u e a n a rra çã o m ític a tem c o m o c e n á r io a vida 
c o m u n itá r ia . A o n a rra re m o m ito , a s p e s s o a s d a c o m u ­
n id a d e n a r r a m a c o n te c im e n to s d o s e u co tid ia n o , co m o 
o n a s c im e n to , a m o rte , a fa m ília , a s c re n ça s , a s p ráticas 
re lig io sa s , a s festas , a s d a n ça s , as a t iv id a d e s d e su ste n to 
etc . L e r o m ito d á a c e s s o à v id a d a s c o m u n id a d e s m íticas . 
H á u m a id e n tid a d e e n tr e o m ito e a co m u n id a d e . N essa 
m e s m a l in h a d e ra c io c ín io , o f i ló so fo a le m ã o C a s s ir e r v ê o
m ito c o m o u m s u p o s to c u ltu ra l , q u e a lim e n ta u m a co e sà o
(S o u z a , 1995, p. 39).
V ário s o u tro s fi ló so fo s re fle t ira m s o b re e s sa q u estão . 
Para o s p e n s a d o r e s d o e m p ir is m o c ien tíf ico , o m ito era 
u m c o n h e c im e n to irrac io n a l e in fu n d a d o , p ro d u to d e u m a 
a tiv id a d e in te le c tu a l p ré-ló g ica . P ara P latão , era c o n h e c i­
m e n to d a rea lid ad e . Su a filosofia se co n stitu iu à b a s e d e 
m ito s e s e u m éto d o era o c u lta r a s g ra n d e s d o u tr ina s d e n ­
tro d eles. Já A r is tó te le s (1969) a f irm a v a q u e " o filó so fo é, em 
certo sen tid o , a m ig o d o s m ito s p o rq u e o m ito d iz co isa s q u e 
m a ra v ilh a m " . F reu d d escrev eu a p s iq u e d o s e r h u m a n o 
re co rre n d o a o s m ito s , c o m o o s d e Eros, T a n a to s , A n a n k e c 
É d ipo , p e rs o n a g e n s d a d ra m a tu rg ia p sican a lítica .
E n q u a n to o m ito t iv e r fo rça d e id en tif ica r o s in d iv í­
d u o s e a co m u n id a d e , e le se m a n te rá v ivo . A su a fu n ç ã o 
p a re c e ser a in d a h o je re a l im e n ta r a c u ltu ra , fo rm a n d o u m a 
tra d iç ã o c a p a z d e c o n tro la r a co n d u ta d o s h o m e n s .
A p a ssa g e m d o m ito a o logos ( " r a z ã o " ) te v e in íc io c o m 
o s f i ló so fo s p ré -so crá tic o s , o u se ja , a n te r io re s ao filóso fo 
S ó c ra te s (séc. V a.C.). A fu n ç ã o d o logos c o n s is t ia e m re v e ­
lar a v e rd a d e o c u lta n o s m ito s d o s d e u s e s e a filosofia s u r ­
g iu c o m u m a a titu d e d e in q u ie ta ç ã o e a d m ira ç ã o p e r a n te o 
m u n d o . B u z z i (1983, p. 159) fa z u m a a n a lo g ia e n tr e o filo ­
s o fa r e o v o o d a c o ru ja d a G réc ia .
so c ia l p o r m e io d e re la to s e fá b u la s d e g e ra ç ã o a g era ção
° logos
A o cair da tarde ela se inquieta e inicia o voo d e exploração do 
dia grego, do fa z er já fe ito dos aqueus. Com ele com eça a f i lo ­
sofia. C om eça quando o vigor e o entusiasm o d o dia chegam 
ao acaso. O que leva o voo da coruja? A vontade d e conhecer 
a aurora d o dia qu e se agasalhou ju n to d e si na penum bra da 
noite. A o descobrir a s coisas e os efeitos do dia no silêncio da 
noite, ele adm ira e se angustia. E isso o torna filósofo. A curio­
sidade, a adm iração e a angústia im pulsionam o voo da coruja. 
São as coisas qu e inquietam o hom em e o levam a filosofar.
Só cra tes in qu ietava o s a ten ien ses d e d ia e d e noite. E essa 
in q u ie tação to rn o u -se o s ím b o lo d a filosofia. A ss im tam bém 
p en sa v a N ietzsche (1989): 'T o r n a -s e in q u ie ta n te tu d o aqu ilo 
q u e m u ito se pensa". S e g u n d o A ristó te les (1969), a a d m ira ­
ção é a p a ix ã o fu n d a m e n ta l d o filósofo, p o rq u e p erm ite qu e 
o s e r o in te rp e le e o p rep are para co m p reen d ê-lo . E sse ato 
p róprio d o h o m em , a ad m iração , o s g reg o s c h a m a r a m de 
thauma, q u e significa "espanto , ad m iração , perplexidade". 
C o m o d iz ia o estag irita , "é a a d m ira ç ã o q u e leva o s h o m en s 
a filosofar c o m o q u e esb a rra m ; d ep ois a v an çam p o u co a 
p o u co e co m e ç a m p o r q u estio n a r as fases d a lua, o m o m en to 
d o sol e d os a s tro s e p o r fim a o rig em d o u n iv e rso in teiro" 
(A ristóteles, 1969).
P la tã o (1997), na o b ra Teeteto, a f irm a c a te g o r ic a m e n te 
q u e a a d m ir a ç ã o é o p r in c íp io d a filosofia : " E s ta e m o ç ã o , a 
a d m ira çã o , é p ró p r io d a filosofia , n ã o tem a filosofia o u tro 
p r in c íp io a lé m d este" . A ris tó te les , e m M etafísica, co n c e b e 
a filo so fia c o m o a " s a b e d o r a " (sophia), c o m o o b je to d e Eros, 
d o a m o r, e a d efin e c o m o a "c iê n c ia d o s e r e n q u a n to s e r" , a 
"c iê n c ia d o s p r im e ir o s p r in c íp io s e d a s p r im e ir a s c a u s a s " e 
a "c iê n c ia d a ca u sa a b s o lu ta m e n te p rim eira" , d o "p r im e ir o 
m o to r" . A ss im d iz o estag ir ita :
É pois evidente qu e a sabedoria (sophia) é unia ciência sobre 
certos princípios e causas. E, já qu e procuram os essa ciência, 
o qu e deveríam os indagar é d e qu e causas e princípios é ciên­
cia a sabedoria. Se levarm os em conta as opiniões que tem os a 
respeito do sábio, talvez isso se torne mais claro. Pensamos, em 
prim eiro lugar, qu e o sábio sabe tudo, na m edida d o possível, 
sem ter a ciência d e cada coisa particular. Em seguida, con­
sideram os sábio aquele qu e pode conhecer as coisas difíceis, e 
não d e fá c il acesso para a inteligência hum ana (pois o sentir é 
com um a todos e p or isso éfácil, e nada tem de sábio). Ademais, 
àquele que conhece com mais exatidão e é mais capaz d e ensi­
nar as causas, consideram o-lo mais sábio em qualquer ciência. 
E, entre as ciências, pensam os que é m ais sabedoria a qu e é 
desejável p or si m esm o e p or am or ao saber, d o que aquela que 
se procura p or causa dos resultados, e Ipensam os] qu e aquela 
qu e destina a m andar é mais sabedoria que a subordinada. 
Pois não deve o sábio receber ordens, porém dá-las, e não é ele 
qu e h á d e obedecer o outro, porém deve obedecer a ele o menos 
sábio. Tais são, p or sua qualidade e seu número, as ideias que 
temos acerca da sabedoria e dos sábios. (A ris tó te les , 1969)
O fi ló so fo S õ re n A a b y e K ie rk e g a a rd , c i ta d o p o r B u zzi 
(1983, p. 161), d e f in e a a d m ira ç ã o c o m o "s e n t im e n to a p a ix o ­
n a d o d o d e v ir " . D ev ir é o s e r q u e a co n te ce u , é a re a lid a d e 
e m p re se n ça , é a h is tó r ia . " S e o f i ló so fo n ã o a d m ira nada, 
e le é p o r isso e s tr a n h o à h is tó r ia [...]. A in c e r te z a d o d ev ir 
n ã o p o d e e x p r im ir -s e s e n ã o m e d ia n te e s s a e m o ç ã o n e c e s ­
sá r ia a o filó so fo e p ró p ria d e le " (K ie rk e g a a rd , c i ta d o por 
B u z z i, 1983, p. 161). E ssa d e fin iç ã o lev a a p e n s a r q u e v iv er 
o m u n d o s e m a d m ira ç ã o e q u iv a le a v iv e r sem filosofia , d e 
m a n e ir a n ã o cr ít ica . O fi ló so fo é c r ít ic o e a filosofia é s e m ­
p re c r ít ica . O filó so fo v iv e a re a lid a d e n o a d m irá v e l d e sua 
m a n ife s ta ç ã o e n a ig n o râ n c ia ab so lu ta d e s e u saber.
E m o u tra s p a lav ras , c in co n ceb ív e l a id eia d e o h o m em 
v iv e r e m c o n ta to c o m a re a lid a d e e n ã o s e q u e s t io n a r , n ã o 
p e r g u n ta r e n ã o f ica r p erp lex o c o m o s fe n ô m e n o s qu e
o c o rre m na n a tu re z a . E c o m o s e v iv e s se u m a v id a sem 
ter c o n s c iê n c ia d e n a d a , a té m e s m o d a su a e x is tê n c ia . Isso
A p a ssa g e m d o c o n h e c im e n to m ít ic o p a ra o c o n h e c im e n to 
racio n al n ã o o c o rre u n u m p a sse d e m á g ic a , ro m p e n d o 
ra d ic a lm e n te c o m to d o s o s c o n h e c im e n to s d o p a ssa d o . O 
s u rg im e n to d a filo so fia foi p ro d u to d e u m p ro c e s s o m u ito 
le n to e p re p a ra d o p e lo m ito , c u ja s c a r a c te r ís t ic a s n ã o 
d e s a p a re c e ra m c o m o p o r e n c a n to n a n o v a a b o rd a g e m do 
m u n d o .
A ris tó te le s a f irm a v a q u e o p r im e iro filó so fo h a v ia sido 
T a le s d e M ile to (séc. V II-V I a.C.). O pai d a filosofia , r e c o ­
n h e c id o m a te m á tico e a s trô n o m o , foi c itad o e n tre o s se te 
sá b io s d a G ré c ia p o r su a a tu a çã o p o lítica para u n ir a s cida- 
d es-E sta d o s d a Á sia M e n o r n u m a co n fed eração .
É im p o rta n te re ssa lta r q u e , n o p e r ío d o d e T ales d e 
M ile to , s u rg ir a m v á r io s p e n s a d o re s e m d ife re n te s cid ad es 
d a G réc ia , e n tre eles, A n a x im a n d r o d eM ile to , A n a x ím e n e s 
d e M ile to , X e n ó fa n e s d e C ólo fo n , P itág o ras d e Sam os, 
D e m ó c r ito d e A b d era , H eráclito d e É feso e P a rm ê n id e s de
re m e te a o fi ló so fo S ó cra te s , q u e d iz ia : " U m a v id a sem 
reflexão n ã o m e re ce s e r v iv id a " (P la tão , 1997).
Os primórdios da filosofia'
a . A S e ç ã o 1 .3 é b a s e a d a e m C h a u i (2 0 0 3 ).
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
li
a
s 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
Eleia. C h a m a d o s d e pré-socráticos, fo ram co n sid era d o s o s 
p r im e ir o s filósofos, p o r seu g ra n d e s a b e r teó r ico e prático.
E sses p en sad ores t in h a m co n h e c im e n to para prever 
eclip ses, d e te rm in a r a p osição d e n av io s n o m a r (Tales de 
M ileto), traçar m a p a s d a Terra, co n s tru ir re ló g io s d e sol 
(A n a x im a n d ro d e M ileto). O cu p a v a m -se d e q u estõ es co m o 
e s s a s - h o je n ã o m a is a sso c ia d a s à filosofia, m a s a c iê n ­
cias em p ír icas , c o m o a física - p o rq u e t in h a m o propósito 
d e ex p licar a origem e a ex istên cia d o m u n d o co m b a s e em 
e lem en to s con cretos, d e e s tru tu ra r u m a fís ica c o m m éto d o s 
filosóficos. S eu o b je tiv o era co n s titu ir u m a co sm o lo g ia (expli­
cação racional e s istem ática d a s características d o universo) 
q u e su b stitu ísse o an tig o co n h e c im e n to b a sead o e m mitos.
O s f i ló so fo s d a fís ica b u s c a v a m o p r in c íp io su b sta n c ia l 
e x is te n te e m to d o s o s s e re s m a te r ia is (a arché, q u e e m g re g o 
s ig n if ica ta n to " c o m e ç o " q u a n to " fu n d a m e n to d e to d a s as 
c o isa s " ) . Q u e r ia m e n c o n tr a r a m a té r ia -p r im a ou a s u b s tâ n - 
c ia -m ã e q u e p o ss ib il ito u a c o n s t i tu iç ã o d e to d a s a s co isas, 
q u e e x p l ic a s s e a o r ig e m d o m u n d o .
Tales d e M ileto
T a le s d e M ile to foi o p r im e iro p e n s a d o r q u e se d ed ico u a 
re sp o n d e r à p e rg u n ta : " Q u a l é a ca u sa ú lt im a , o p r in c íp io 
s u p re m o d e to d a s as c o is a s ? " E le q u e r ia s a b e r s e era p o s ­
sível d e r iv a r a re a lid a d e d e u m ú n ic o p r in c íp io , d e u m a 
ú n ic a s u b s tâ n c ia -m ã e . E n co n tro u c o m o resp o sta o e le ­
m e n to á g u a , d iz e n d o q u e e s te t in h a p r io r id a d e s o b re to d a s 
a s o u tr a s s u b s tâ n c ia s . E n tã o , para ele , a água e ra o p r in c í­
p io d e tu d o . T u d o o q u e e x is t ia n o m u n d o t in h a su a o rig em 
n ela . S u a s o b s e rv a ç õ e s b a s e a v a m -s e n o co tid ia n o , e m q u e 
tu d o o q u e é q u e n te n e c e s s ita d e u m id a d e para v iv e r e o 
q u e está m o rto seca , e m q u e to d o s o s g e rm e s sã o ú m id o s
e to d o a l im e n to é c h e io d e su co . O ra , p a re c ia n a tu ra l qu e 
c a d a co isa s e n u tr ia d a q u ilo d e q u e p ro v in h a .
Pitágorns
Pitágorasb (cerca d e 570 a .C .-cerca d e 490 a.C.), o u tro filósofo 
p ré-socrático , foi co n sid erad o u m p e rso n a g e m d e c is iv o no 
d e se n v o lv im e n to d o p e n s a m e n to racio n al e c ien tífico , por 
s e u s e s tu d o s m atem ático s . C o m Pitágoras, a m atem ática 
lib erto u -se d a co n d içã o d e m era técn ica p ara co n stitu ir -se 
e m ciên cia pura. Para ele, a arché d a s co isa s era o n ú m ero , d o 
q u al d eriv a m p ro b lem a s c o m o fin ito e infinito , p ar e ím par, 
u n id a d e e m u ltip licid ad e, reta e cu rv a , c ír c u lo e q u ad rad o 
etc. D iz ia q u e a d ife re n ça en tre o s s e re s era e sse n c ia lm e n te 
u m a q u e stã o d e n ú m e ro s ( l im ite e o rd e m d a s ideias) e, sem 
d ú vid a, seu s p e n s a m e n to s in f lu e n c ia ra m Platão.
C o n h e c id a a té h o je p o r s u a s c o n tr ib u iç õ e s a o s c a m ­
p o s d a m a te m á tic a (T eo re m a d e P itágoras), d a m ú s ic a e d a 
a s tro n o m ia , a e sco la p ita g ó rica , p a ra d o x a lm e n te , e r a ta m ­
b ém u m a c re n ç a m ís t ic a c u jo s s e g u id o re s ap reg o av am , 
e n tre o u tra s ideias, a im o rta l id a d e d a a lm a , a re e n ca rn a - 
çào d o s p e c a d o re s e o re sp e ito a r íg id a s c o n d u ta s m o rais .
Heráclito dc Éfeso
H e r á d ito d e É feso c (cerca d e 5 4 0 a .C .-ce rca d e 4 7 0 a.C.) 
v iv e u u m a g e ra ç ã o a n te s d e P a rm ên id es , seu p rin c ip a l 
op ositor. C o n s id e ra v a a n a tu r e z a (o m u n d o , a rea lid ad e) 
u m " f lu x o p e r p é t u o " o e s c o a m e n to c o n t ín u o d o s s e re s e m
b . P itá g o rn s n .isco u n .i c id a d e d e S a m o s , (o i f i ló s o fo o 
m a te m á tic o e fu n d o u n a c o lô n ia g r e g a d e C r ó fo n a a 
e s c o la p ita g ó r ic a .
c . P o u c o s e s a b e a r e s p e ito d a v id a d e H e r á c lito . A c r e ­
d ita -s e q u e s u a fa m il ia p e r te n c ia à a r is to c r a c ia d e 
Ú feso e q u e fo i a fu n d a d o r a d a c id a d e .
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
li
a
s 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
m u d a n ç a s p e r p é tu a s . A rea lid ad e , p ara ele , e ra a h a r m o ­
n ia d o s co n trá r io s , q u e n ã o c e s s a v a m d e se t ra n s fo rm a r 
u n s n o s o u tro s . "T u d o f lu i" (pauta rei), " tu d o e s tá e m devir", 
tu d o e s tá e m m o v im e n to e n a d a d u ra p a ra s e m p r e e, por 
e s sa razão, " n ã o p o d e m o s e n tr a r d u a s v e z e s n o m e s m o 
rio", p o is , q u a n d o se e n tra pela s e g u n d a v ez n o rio, tan to a 
p e sso a q u a n to o r io já n ã o sã o m a is o s m esm o s.
S e g u n d o H eráclito, n ã o há u m ser estático n a s coisas. O 
qu e ex iste é u m ser d in âm ico , no q u a l é possível fazer um 
corte, u m a ruptura, qu e n ão será arbitrária . Portanto, a s co i­
sa s n ão sã o e n e n h u m a co isa p o d e ter a p reten são d e ser o ser 
em si. N ada existe , p o rq u e tu d o o q u e ex is te é n aqu ele in s ­
tante e, n o in stan te segu in te , já n ão é m a is o m esm o. O ex istir 
é u m p erp é tu o m udar, u m es ta r co n stan tem en te sen d o e n ão 
sendo, u m d ev ir perfeito, u m co n stan te fluir. E m síntese, d ir- 
-se-ia q u e o absolu to é a u n id ad e d o ser e d o n ã o ser.
P erg u n ta -se : S e tu d o e s tá e m tra n s fo rm a ç ã o p e rm a ­
n en te , c o m o e x p lic a r a s c o is a s es táv e is , d u ra d o u ra s e p er­
m a n e n te s q u e a n o ssa p e rce p çã o n o s m o stra? H eráclito 
d iv id iu o c o n h e c im e n to e m d o is tip o s : o p r im e iro é o q u e 
o s s e n tid o s o fe r e c e m e o s e g u n d o é o q u e se a lca n ça p elo 
p e n sa m e n to . O p r im e iro o fe re c e u m a im a g e m d e e s ta b i l i ­
d ad e e o ú lt im o revela u m a v erd a d e e m co n tín u a m u d a n ça .
Parm ênides d e Eleia
P a rm ê n id e s d e E leia '1 (cerca d e 5 0 0 a .C .-cerca d e 4 7 5 a.C.) 
é v is to c o m o u m p en sad o r p ré-on to lóg ico . É d ele o p e n sa ­
m en to q u e cr io u o c a m p o d e força n e ce s s á r io a o a p a re c i­
m en to d a s q u e s tõ e s on to lóg icas. S e m d ú v id a , s u a s ideias
d . N a tu r a l d e E le ia , n o S ul d a I tá l ia , P a r m ê n id e s 
p a r e c e te r p e r te n c id o a u m a f a m íl ia r ic a c d e a lta 
p o s iç ã o s o c ia l.
fo ram rev o lu c io n á rias e co n tin u a m a in d a h o je p resen tes na 
h istó ria d o p e n s a m e n to filosófico.
S e g u n d o e s s e filósofo , só p o d e m o s p e n s a r s o b re a q u ilo 
q u e p e r m a n e c e s e m p r e id ên tico a s i m e sm o , is to é, n ã o 
p o d e m o s p e n s a r s o b re c o is a s q u e s ã o e n ã o sã o ; o ra sã o 
d e u m m o d o , o ra s ã o d e o u tro , c o n trá r ia s a s i m esm as , 
co n tra d itó r ia s . C o n h e c e r é a lc a n ç a r o id ên tico , o im u tá ­
vel. O s s e n tid o s n o s o fe re ce m a im a g e m d e u m m u n d o e m 
c o n s ta n te m u d a n ça . P e n sa r é d iz e r o q u e u m s e r é e m sua 
id e n tid a d e p r o fu n d a e p e rm a n en te .
P a rm ê n id e s a c re d ita v a q u e s o m e n te o q u e é p o d e ser 
p e n s a d o o u n u m e ra d o v e rd a d e ira m e n te e s o m e n te o q u e 
p o d e s e r p e n s a d o p o d e ser. Logo, o rea l d e v e s e r o m e s m o 
q u e o co n ce b ív e l e d e v e s e r ta m b é m lo g ic a m e n te c o e re n te 
c o m o q u e é p en sá v e l p e la ra z ã o ( logos), o p o n d o -se , a ss im , 
a o s sen tid o s . O real é a ú n ic a c o is a q u e s e p o d e " n u m e ­
r a r " o u " fo r m u la r " . O p e n s a m e n to (noein) s e d ife re n c ia das 
c r e n ç a s e d o s sen tid o s.
A d o u tr in a d e sse filó so fo a f irm a v a q u e o s e r é ú n ico , 
u n o e e te rn o . S e a s s im n ã o fosse , teria u m c o m e ç o e u m fim. 
E, se t iv e s se u m c o m e ç o o u u m p rin c íp io , a n te s d e o ser 
co m e ç a r , h a v e r ia o n ã o ser. D izer , p o rém , q u e h á o n ã o s e r é 
d iz e r q u e o n ã o s e r é. S e g u n d o o p e n s a m e n to d o au to r , isso 
é co n trad itó rio , a b su rd o . A d m it ir q u e h o u v e sse o n ã o s e r é 
d iz e r q u e o n ã o s e r é . A firm a r-se - ia , en tão , o ser d o n ã o ser, 
o q u e é in a d m is s ív e l . Por c o n s e g u in te , o ser, a lé m d e ú n ic o 
e e te rn o , é im p e re c ív e l, c o m o o p ró p r io a u to r fa la : " R e s ta ­
m o s , a s s im , u m ú n ic o c a m in h o : o s e r é . N esse c a m in h o , há 
g r a n d e n ú m e r o d e in d íc io s : n ã o s e n d o g era d o , é ta m b é m 
im p e re c ív e l; p o ssu i , c o m efeito , u m a e s tru tu ra in te ira , in a ­
b a láv e l e s e m té rm in o ; ja m a is foi, n e m será , p o is é, n o in s­
ta n te p resen te , tod o in te iro , u n o , c o n t ín u o " (P a rm ên id es , 
c i ta d o p o r B o r n h e im , 1993, p. 55).
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
li
a
s 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
T a n to P a rm ê n id e s d e E leia c o m o H e rá c lito d e Éfeso, 
c h a m a d o s d e pensadores eleáticos, q u e s t io n a v a m -s e s o b re 
a d iv e rg ê n c ia e a s o p in iõ e s c o n trá r ia s . Foi a p a r t ir d essa 
d is c u s s ã o s o b re o s c o n trá r io s , o ser e o mão ser, q u e s e in i ­
c ia ra m o e s tu d o s o b re o c o n h e c e r e o e s tu d o s o b re o ser 
(onto logia) e s u a s re la çõ e s rec íp ro ca s .
D em ócrito d e A bdera
D em ócrito d e A bdera1’ (460 a .C -3 7 0 a.C.) desenvolveu u m a 
teoria so b re o s e r o u so b re a n a tu re z a qu e recebeu o n o m e de 
atomismo, p o r p reg ar qu e a realidade é co n stitu íd a p o r átom os. 
A palavra átomo tem origem g reg a e significa "o q u e n ã o pod e 
ser co rtad o o u dividido", o u seja, seria a m en o r p artícu la in d i­
visível de todas as coisas. O s sere s su rg em p o r com p osição 
d os átom os, tran sfo rm a m -se por n ov os arran jo s deles e m or­
rem p o r su a separação. Para o autor, o á to m o seria o e q u iv a ­
lente a o conceito d e ser para P arm ên id es. A lém d o s átom os, 
ex istir ia o vácuo, q u e rep resen taria a au sên cia d e ser (o n ão 
ser). N o vácuo, n ão é possível o m o v im en to d o ser.
D e m ó c r ito co n co rd a v a c o m H erác lito e P a rm ê n id e s 
d e q u e h a v ia u m a d ife re n ç a e n tre o q u e se c o n h e c e por 
m e io d a p e r c e p ç ã o e o q u e s e c o n h e c e a p e n a s p e lo p e n ­
sa m e n to . N ã o co n s id e ra v a a p e r c e p ç ã o a lg o ilu só rio , m a s 
24 a p e n a s u m efe ito d a re a lid a d e s o b re a s p e sso a s . A g ra n d e
c o n tr ib u iç ã o d e ix a d a p e lo a to m is m o d e D e m ó c r ito à h is tó ­
r ia d o p e n s a m e n to é a co n c e p ç ã o m e c a n ic is ta , s e g u n d o a 
q u al " tu d o o q u e e x is te n o u n iv e rs o n a s c e d o a c a s o o u d a s 
n e ce ss id a d e s" . Is to é, "n a d a n a s c e d o n a d a , n ad a re to rn a ao 
n a d a " . T udo te m u m a c a u s a ú lt im a n o m u n d o .
e. D e m ó c r i to d e A b d e ra fo i o m a is v ia ja d o d o s f i ló s o ­
fo s p ré -s o e r á t ie o s , le n d o v is i ta d o a B a b ilô n ia , o E g ito 
c , s e g u n d o a lg u n s a u to r e s , a In d ia e a F .tió p ia . D e p o is , 
e s t e v e ta m b é m e m A te n a s .
Os sofistas
O p e r ío d o p ré -so crá tico s e ca ra c te r iz o u p e la b u sca d e e x p li­
caçõ e s rac io n a is p ara o u n iv e rs o e pela p ro cu ra d e u m p r in ­
c íp io p r im o rd ia l (arché) p ara to d a s a s c o is a s ex is ten tes . 
S e g u iu -s e a e s s e p e r ío d o u m a n o v a fa se n a filosofia , m a r ­
ca d a p elo p e n s a m e n to d o s so fis tas .
E tim o lo g icam en te , a p a lav ra sofista s ig n if ica "sábio". 
E ra m p ro fe sso re s v ia ja n te s q u e v e n d ia m s e u s e n s in a m e n ­
to s p rá tico s d e filosofia . L e v a n d o e m c o n ta o s in te re sse s 
d o s a lu n o s , d a v a m a u la s d e e lo q u ê n c ia e d e sa g a c id a d e 
m e n ta l. E n s in a v a m c o n h e c im e n to s ú teis p ara o su c e s so 
n o s n e g ó c io s p ú b lico s e p riv ad o s. P la tã o fez c r ít ic a s s e v e ­
ras à fo r m a c o m o d a v a m a u la e c o m e r c ia l iz a v a m o sa b e r 
sem le v a r à arcte ("v e rd a d e ") .
P era n te a p lu ra lid ad e e o a n ta g o n ism o d a s filosofias 
an teriores, o s so fis ta s co n c lu íra m q u e n ão se p o d e co n h ecer 
o ser, m as só ter o p in iõ e s su b je t iv a s s o b re a realidade. A ver­
d ad e é u m a q u e stã o d e o p in iã o e d e p ersu asão , e a l in g u a ­
g e m é m a is im p o rta n te d o q u e a p e rce p çã o e o p en sam en to .
P ro tág o ras (480 a .C .-410 a.C.), o p r im e iro so fis ta , d iz ia 
q u e "o h o m e m é a m e d id a d e to d a s a s co isa s" . S e essa 
m á x im a fo s s e co n s id era d a v erd a d e ira , o c o n h e c im e n to 
h u m a n o e s ta r ia l im ita d o p e lo s s e n tid o s , s e m p r e v ariáv e is . 
S e h o u v e s s e a lg u m aco rd o , e s te s e r ia fru to d a c o m u n ic a ç ã o 
e n ã o d o c o n h e c im e n to d e u m a s u p o s ta v e rd a d e absolu ta . 
D a m e s m a m a n e ira , a s fo rm a s d e o rg a n iz a ç ã o s o c ia l e p o lí­
tica s e r ia m reflexo s d a s c i r c u n s tâ n c ia s e d a s co n v iv ê n c ia s .
E m o u tras palavras, o s so fis tas a firm a v a m q u e o c o n h e ­
c im e n to c ien tíficon ã o existe , q u e ca d a h o m em é a m ed id a de 
su a verd ad e, q u e ap ren d er é im p o ssív e l, q u e a fa ls id ad e n ã o 
ex is te n e m a co n trad ição . M as, so b re tu d o , d e fe n d ia m a tese 
d e q u e há u m a c is ã o irrem ed iáv el en tre o physis ( "n a tu re z a ")
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
it
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
e o nomos ( "h o m e m ") e q u e o h o m em n ã o tem o u tro fu n d a ­
m en to a lé m d o a rb ítr io e d a co n v en ção h u m a n a . E sse p e n ­
sa m e n to a b re p ersp ectiv a s p e r ig o sa s no c a m p o d a ética , da 
lib erd ad e e d a política e fech a a p o ssib ilid a d e d a ciência.
A ris tó te le s (1969) re fu tav a a d o u tr in a d a re la t iv id a d e e 
v erd ad e d o s co n trá r io s e d a n e g a çã o d o p rin c íp io d a c o n ­
tradição:
O prim eiro /.../ expresso p or Protágoras, q u e afirm ava ser 
o hom em a m edida d e todas as coisas /.../, outra coisa n ão é 
sen ão aquilo qu e parece a cada um tam bém o é certam ente. 
M as, se isto é verdade, conclu i-se qu e a m esm a coisa é e não é 
ao m esm o tem po, e qu e é boa e m á ao m esm o tem po e, assim , 
desta m aneira, reúne em s i todos os opostos, porque am iúde, 
uma coisa parece bela a uns e fe ia a outros, e deve valer com o 
m edida o qu e parece a cada um.
Indicações culturais
• B U Z Z I, A . R. Introdução ao pensar: o ser , o c o n h e c i­
m en to , a l in g u a g e m . 12. e d . P e tró p o lis : V ozes, 1983.
■ C H A U 1, M . C onvite à filosofia . S ã o P au lo : Á tica , 1994.
- _______ . _________, 13. e d . S ã o Paulo: Á tica , 2003 .
■ G A A R D E R , J. O m undo d e Sofia : r o m a n c e d a h is tó r ia d a 
filosofia . S ã o Pau lo : C o m p a n h ia d a s L etras , 1998.
■ G R IM A L , P. A mitologia grega. S ã o Pau lo : B ra s ilie n se , 
1987.
Atividades
1. Faça u m a en q u e te para sa b e r o q u e a s p e s s o a s p e n s a m so b re 
mito.
2. P r o c u re id e n tif ica r m ito s m o d e rn o s e e x p liq u e su a fu n ção .
3. E lab o re u m q u a d ro co m p a ra tiv o en tre o c o n h e c im e n to filo­
só fico e o mito.
conceito de epistemologia
Susana Salete R aym undo C hinazzo
Meste capítulo, a b o rd a m o s o c o n c e ito d e ep is te -
m o lo g ia , d e s d e o in íc io d a h is tó r ia d a filosofia a té a a tu a l i ­
d a d e . A n a lisa m o s ta m b é m d u a s c o rre n te s d o p e n s a m e n to 
e p is te m o ló g ic o c o n te m p o râ n e o : a te n d ê n c ia h is tó r ica e a 
te n d ê n c ia an alítica .
A epistemologia*' o u teoria d o co n h ecim en to é u m ram o 
d a filosofia "q u e indaga pela possibilidade, origem , essência,
a . O te r m o ep istem o log ia é u s a d o p e lo s a n g lo -s a x õ e s . 
E n tr e o s p o v o s d e l ín g u a n e o la t in a , a te o r ia d o c o n h e ­
c im e n to é ta m b é m c h a m a d a d e g n osio log ia .
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
it
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
lim ites, pelos e lem en to s e p elas co n d içõ es d o co n h ec im en to " 
(Zilles, 1994, p. 11). C om p o sta d e d o is term os g r e g o s -ep is tem e 
("c iên cia") e logia ("co n h ec im en to ") - , a palavra epistemologia 
significa "co n h ec im en to filosófico so b re a ciência".
C o m o seu p ró p r io n o m e in d ica , a teo ria d o c o n h e c i ­
m e n to tem c o m o o b je t iv o e x p lic a r ou in te r p r e ta r f ilo so fi­
c a m e n te o c o n h e c im e n to h u m a n o . B u s ca u m c r ité r io d e 
ce r te z a s o b r e ele , o u se ja , a a d e q u a ç ã o e n tre o o b je to d o 
c o n h e c im e n to e s e u co n te ú d o , a c o e r ê n c ia e n tre o p e n s a ­
m e n to e a re a lid a d e p o r e le in ten c io n a d a .
(2.1 )
História da epistemologia
O q u e é e s se n c ia l a to d o c o n h e c im e n to e e m q u e co n s is te 
a s u a e s tru tu ra ? A in d a g a ç ã o s o b re a e ssê n c ia d o c o n h e ­
c im e n to se in ic io u c o m o s q u e s t io n a m e n to s filosóficos d o 
h o m em . O s g r e g o s a b o rd a v a m o s p ro b le m a s d o c o n h e ­
c im e n to c o m o q u e s tõ e s m e ta f ís ic a s o u o n to ló g ica s . H á 
m u ita s re fle x õ es ep is te m o ló g ica s , s o b re tu d o e m Só crates , 
P la tã o e A ris tó te les . N a Id ad e M éd ia , c o n ce b ia -se essa 
q u e stã o c o m o v in c u la d a a o s d a d o s d a realidade.
N a Id ad e M o d e rn a , a e p is te m o lo g ia s u rg iu c o m o u m a 
d isc ip lin a a u tô n o m a , o q u e s e d ev eu p r in c ip a lm e n te a 
Jo h n L o ck e , q u e tra tou a s q u e s tõ e s d a o r ig e m , d a e s s ê n ­
c ia e d a c e r te z a d o c o n h e c im e n to d e m a n e ir a s is te m á tic a 
e m su a o b ra Ensaio sobre 0 entendim ento hu m an o (1690). O 
autor, n a in tro d u ç ã o d a o b ra , d iz : "T e n d o , p o r ta n to , m eu 
p ro p ó s ito d e in v e s t ig a r a o r ig e m , c e r te z a e e x te n s ã o d o 
c o n h e c im e n to h u m a n o , ju s ta m e n te c o m as b a s e s e g ra u s 
d e c re n ç a , o p in iã o e a s se n t im e n to , n ã o m e o c u p a r e i agora 
c o m o e x a m e f ís ico d a m e n te " (L o ck e , 1997, p. 145).
É im p o rta n te re ss a lta r q u e a lg u n s a u to res a f irm a m 
q u e o v e rd a d e iro fu n d a d o r d a teo ria d o c o n h e c im e n to é 
Im m a n u e l K an t. N a su a o b ra C rítica da razão pura (1781), o 
filó so fo a p re s e n ta u m a fu n d a m e n ta ç ã o cr ít ica d o c o n h e ­
c im e n to c ie n tíf ic o d o s fe n ô m e n o s p o r m e io d o m éto d o 
tra n s c e n d e n ta l e in v e s t ig a a re a lid a d e d o c o n h e c im e n to . A 
p a r t ir d e K an t, o p ro b le m a d o c o n h e c im e n to n ã o s ó c o m e ­
çou a ser o b je to d a teo ria d o c o n h e c im e n to c o m o s e tornou 
u m te m a ce n tra l p ara m u ito s p en sad o res .
A s q u e s tõ e s c lá ss ic a s d a teo ria d o c o n h e c im e n to foram 
a p r e s e n ta d a s d e fo r m a s u c in ta p o r Jo h a n e s H e s s e n , e m sua 
o b ra Teoria d o conhecim ento :
1 . Pode o sujeito apreen der ou con hecer realm ente o objeto? 
Q uestão da possibilidade.
2 . De on de se originam os conteúdos da consciência cognis- 
cente: da razão ou da experiência? Q uestão da origem do 
conhecim ento humano.
3 . Em qu e consiste 0 conhecim ento? Q uestão da essência do 
conhecim ento.
4 . Há outro conhecim ento a lém d o racional? Q uestão das fo r ­
m as d e conhecim ento hum ano.
5 . Q u e critério nos diz se um conhecim ento é ou não verda­
deiro? (H e sse n , 1987)
A teo ria d o c o n h e c im e n to p e rm ite q u e a m eto d o lo g ia 
p o ssa a n a lis a r as c o n d iç õ e s e o s l im ite s d e re a lid a d e d os 
m e io s d e in v e s t ig a ç ã o e d o s in s tr u m e n to s l in g u ís t ic o s d o 
sa b e r cien tífico .
A tu a lm e n te , a e p is te m o lo g ia v e m p e rd e n d o m u ito d e 
seu s ig n if ic a d o tra d ic io n a l. Para m u ito s a n a l is ta s c o n te m ­
p o râ n e o s , o tem a ce n tra l n ã o é m a is o c o n h e c im e n to , m as 
a l in g u a g e m e s e u s p ro cesso s .
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
it
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
A contribuição do Círculo d e Viena
A teo ria d o c o n h e c im e n to p assou , s e m d ú v id a , p o r u m a 
m u d a n ç a rad ica l c o m a fu n d a ç ã od o W ien er K re is (C írcu lo 
d e Viena), e m 1927. Pela p r im e ira v ez n a h is tó r ia , re u n ia -se 
u m g r u p o d e ep is te m ó lo g o s c o m o o b je t iv o d e t r o c a r id eias 
e e la b o ra r co le t iv a m e n te u m a nova e p is tem o lo g ia - o e m p i­
r ism o lógico - , a b a n d o n a n d o , a s s im , a re fle x ã o filosófica 
in d iv id u a l e iso lad a. A c o n s tr u ç ã o d o c o n h e c im e n to p a s­
sou a s e r co m p le m e n ta d a co m tra b a lh o em e q u ip e , à im a ­
g e m e s e m e lh a n ç a d o q u e já se fizera n a s c iên cias .
P e r te n c e ra m a o C ír c u lo d e V ie n a m a te m á tic o s , 
f i ló so fo s , h is to r ia d o r e s , c ie n t is ta s n a tu r a is e so c ia is . 
P a r t ic ip a ra m d e s s e g r u p o o u c o m e le e s t iv e r a m r e la c io n a ­
d o s d e u m m o d o o u d e o u tr o o s p r im e ir o s e p is te m ó lo g o s 
p ro f is s io n a is , e n tr e e le s M o ritz S c h l ic k , R u d o lf C a rn a p , 
H a n s R e ic h e n b a c h , V ik to r K ra ft , H e r b e r t F e ig l e , ta n g e n ­
c ia lm e n te , K a r l P o p p e r e F e r d in a n d G o n s e th . O C ír c u lo 
d e V ie n a d u ro u m e n o s d e u m a d é c a d a , m a s s e u t r a b a ­
lh o foi in te n s o e m u ito in f lu e n te n a c iê n c ia . S e u s m e m ­
b r o s r e u n ia m -s e s e m a n a lm e n te e in s p ir a v a m g r u p o s 
a f in s n a A le m a n h a , n a F ra n ç a , n a a n tig a T c h e c o s lo v á q u ia 
e n a S u íç a . O r g a n iz a r a m e m P a r is o p r im e ir o C o n g r e s s o 
In te rn a c io n a l d e E p is te m o lo g ia , e m 1935, e fu n d a r a m a 
re v is ta Erkenntnis.
S e m d ú v id a , o C ír c u lo d e V ie n a a lte ro u a té c n ic a da 
filosofia a o p ô r e m prática e d e se n v o lv e r o p ro g ra m a d e 
B e r tra n d R u sse ll e d e fa z e r filosofia d e m a n e ira g e o m é tr ic a 
(m ore geom étrico), p a r t ic u la r m e n te c o m a a ju d a d a lógica 
m a te m á tica . A e p is te m o lo g ia tra n s fo rm o u -s e , e m su m a , 
n u m a á r e a d o s a b e r im p o rta n te d a filosofia ta n to c o n c e i­
tu a i c o m o p ro f is s io n a lm e n te e, p o r c o n s e g u in te , revelou a 
im p o r tâ n c ia e a u tilid a d e d o s e u papel n a c iên cia .
A s p r in c ip a is p re o cu p a ç õ e s d o s m e m b ro s d o C írc u lo de 
V ie n a in c lu ía m , d e n tr e u m a m p lo p ro g ra m a d e investigação , 
a ap licação d e co n ce ito s ló g ico s p ara a co n s tru çã o racional 
d o s co n ce ito s c ien tíf ico s , a ex ig ên c ia d e v er if ica b ilid a d e d os 
en u n c ia d o s , a p ro cu ra d e cr ité r io s d e s ig n if ica d o s e m p ír i­
c o s e a recu sa d a m eta fís ica , a s e p a ra çã o d a d is t in çã o en tre 
c iê n c ia s n a tu r a is e c iê n c ia s so c ia is h u m a n a s , re co rre n d o à 
tra d içã o g era l para a l in g u a g e m d a c iên c ia u n ificad a .
(2.2)
Novas tendências 
da epistemologia
O e p is te m ó lo g o s a b e q u e n ã o p o d e ficar a fa s ta d o d a p r o ­
b le m á tic a d o s e u te m p o o u ficar m e r a m e n te e s tu d a n d o 
id e ias c ie n t í f ic a s d o p a ssa d o . E le e s tá a ten to à c iên c ia d o 
s e u tem p o, p r o c u ra n d o ser útil, u m a v e z q u e p o d e p a r t ic i­
p ar d o d e s e n v o lv im e n to c ie n tíf ico , c o n tr ib u ir p a ra m u d a r 
p o s it iv a m e n te o s a l ic e rc e s f i lo só fico s d a p e s q u is a e da 
p o lít ica c ien tíf ica . E m p a r ticu la r , e s tá l ig ad o á c iê n c ia e às 
fe r ra m e n ta s fo r m a is d a filosofia c o n te m p o râ n e a , p o d en d o 
d a r g r a n d e s c o n tr ib u iç õ e s p a ra o c o n h e c im e n to c ien tíf ico .
B u n g e, c ita d o p o r B o m b a s s a r o (1993, p. 42), e n u m e ra 
u m a s é r ie d e u tilid a d e s d a n o v a ep is te m o lo g ia :
- tra z e r à to n a o s p re s su p o s to s filo só ficos , e m p a r t ic u la r 
s e m â n tic o s , g n o s io ló g ic o s e o n to ló g ico s , d e p lanos, 
m é to d o s o u re su lta d o s d e in v e s t ig a çõ e s c ie n tíf ic a s d a 
a tu a lid ad e ;
■ e lu c id a r e s is te m a t iz a r co n ce ito s filo só fico s e m p re g a ­
d o s e m d iv e rs a s c iên c ia s , ta is c o m o o s d e o b je to físico ,
Ep
is
te
m
ol
og
ia
 
it
as
 
ci
ên
ci
as
 
so
ci
a
is
s is te m a q u ím ico , s is te m a s o c ia l , tem p o , ca u sa lid a d e , 
a ca so , p ro v a , c o n f ir m a ç ã o e ex p licaçã o ;
- a ju d a r a reso lv er p ro b le m a s c ien tíf ico -filo só fico s , ta is 
c o m o o d e s a b e r se a v id a se d is t in g u e p e la te le o n o m ia 
e a p s iq u e p e la in e sp a c ia lid a d e ;
- r e c o n s tru ir te o r ia s c ie n tíf ic a s d e m a n e ira a x io m á tica , 
a p ro v e ita n d o a o ca s iã o para p ô r a d e s c o b e r to seu s 
p re s s u p o s to s filosóficos;
- p a r t ic ip a r d a s d is c u s s õ e s s o b re a n a tu re z a e o v a lo r d a 
c iê n c ia p u ra e ap licad a , a ju d a n d o a e s c la re c e r as id e ias 
a resp e ito , in c lu s iv e c o m a e la b o ra çã o d e p o lít ica s 
cu ltu ra is ;
- s e r v ir d e m o d e lo a o u tro s r a m o s d a filosofia , e m p ar­
t ic u la r a o n to lo g ia e a é tica , q u e p o d e m b en efic ia r-se 
d e u m c o n ta to m a is e s tre ito c o m a s té c n ic a s fo r m a is e 
c o m a s c iên c ia s .
C o n fo rm e a firm a d o a n te r io rm e n te , a ep is tem o lo g ia 
b u sc a u m c o n h e c im e n to q u e te n h a o b je t iv id a d e e v a lid ad e 
u n iv e rsa l, o q u e p e rm ite in c lu ir ta n to o c o n h e c im e n to c ie n ­
tífico q u a n to o filosófico. Na A n tig u id a d e , o c o n h e c im e n to 
era v is to n a s u a to ta lid ad e, o u se ja , n ã o h a v ia á r e a s e sp e c íf i -
36
cas. M as, n a Idade M o d e rn a , p o r in flu ên cia d o filó so fo R en é 
D e sca rte s , in ic io u -se a ru p tu ra d a filosofia com a c iência .
N o co n te x to a tu a l, a o s e e s tu d a r o co n ce ito d e e p is te ­
m o lo g ia , fa z -se n e c e s s á r io d e s c r e v e r c o m o s e p ro ce sso u a 
re la çã o e n tre ra c io n a lid a d e e h is to r ic id a d e n o â m b ito e p is - 
tem o ló g ico . B o m b a s s a r o (1993) a p re s e n ta d u a s te n d ê n c ia s 
ep is te m o ló g ica s : a a n a lí t ic a , ta m b é m d e n o m in a d a teoria 
analítica da ciência, e a h istó rica .
A te n d ê n c ia a n a lí t ic a foi p r e d o m in a n te n a p rim eira 
m e ta d e d o s é c u lo X X e s u s te n to u -s e s o b r e a o r ie n ta ç ã o te ó ­
r ica ad o ta d a p e lo e m p ir is m o lógico, cu ja in f lu ê n c ia m a is
s ig n if ica t iv a foi o C ír c u lo d e V ien a e , p o s te r io rm en te , o 
p e n s a d o r K a r l Popper. A te n d ê n c ia h is tó r ica , ta m b é m c h a ­
m a d a d e nova filoso fia da ciência, n a sce u n o c e n á r io ep is- 
te m o ló g ic o co n te m p o râ n e o , m a is e s p e c if ic a m e n te nos 
ú l t im o s a n o s d a d é c a d a d e 1950, te n d o c o m o o b je t iv o a c r í ­
tica à s c o n c e p ç õ e s d e fe n d id a s p e la ten d ê n c ia an a lít ica .
E s s a s te n d ê n c ia s s e rã o v is ta s c o m m a is d e ta lh e s a 
s e g uir , m a s é im p o rta n te s a l ie n ta r q u e n ã o te m o s a q u i o 
p ro p ó s ito d e a p r o fu n d a r as p e c u lia r id a d e s d e ca d a teoria 
q u e c o m p õ e ta n to a te n d ê n c ia h is tó r ic a q u a n to a an a lít ica , 
n e m o p e n s a m e n to d e s e u s r e s p e c t iv o s a u to re s , m a s sim 
d e c a r a c te r iz a r ca d a u m a delas.
A tendência analítica
S e g u n d o G e o rg H e n r ik vo n W rig h t, o p o s it iv is m o ló g ico 
e o e m p ir is m o ló g ico o u n e o p o s it iv is m o d o s a n o s 1920 e 
1930 fo ra m a s p r in c ip a is in f lu ê n c ia s d o p e n s a m e n to filo­
sófico , h o je c o n h e c id o c o m o filoso fia analítica, q u e se s u b d i­
v id e e m d u a s c o rre n te s d is t in ta s - a filosofia d a lin g u a g e m 
o rd in á r ia e a filosofia a n a lít ica d a c iên c ia - e s e b a se ia n o 
a to m is m o ló g ico d e R u sse ll , n a s te o r ia s d e W ittg e n s te in e 
n o n e o p o s it iv ism o d o C ír c u lo d e V ien a . E m su m a , a te n ­
d ên cia a n a lí t ic a tem c o m o c a ra c te r ís t ic a e p is te m o ló g ica a 
ra c io n a lid a d e e a h is to r ic id a d e v in c u la d a ao p o sitiv ism o .
E n tre s u a s m ú ltip las co n tr ib u içõ es , d e s ta ca m -se a c o n ­
c e p ç ã o d e s ig n ificad o e v erd ad e d e fe n d id a p o r D avid H um e, 
o m o n is m o m eto d o ló g ico d o p o s it iv ism o d e A u g u s te C o m te 
e Jo h n S tu art, o fe n o m e n a lism o d e E rn e st M a ch e R ichard 
A venarius, as co n c lu sõ e s d e G o ttlo b F reg e n o s c a m p o s da 
lógica e d a sem â n tica , o d esen v o lv im en to d a lógica e da 
filosofia d a m a tem á tica o p erad a p o r A lfre d VVhitehead 
e B ertran d R ussell, o fo rm a lis m o d e D avid H ilb e r t e,
fu n d a m e n ta lm e n te , a teoria d o s ig n if icad o , d esen v o lv id a na 
obra Tratado lógico-filosófico, d e L u d w ig W ittg en ste in . A lém 
disso , é im p o rta n te m e n c io n a r o s e s tu d o s em filosofia da 
c iê n c ia re a liz a d o s p o r P ierre D u h e m e H en ri P o in caré , q u e 
a lm e ja v a m n ov o s fu n d a m e n to s para o co n h ec im en to .
C a b e a in d a d e s ta ca r a teo ria d a re la tiv id ad e , d e A lb ert 
E in s te in , resp o n sá v e l p o r u m a d a s m a io re s re v o lu çõ e s d o 
p e n s a m e n to c ien tíf ico , e a o b ra A construção lógica d o mundo, 
d e R u d o lp h C a rn a p , p u b lica d a e m 1928. C a r n a p d e fe n d e 
n e ssa o b ra a tese d a p o ss ib il id a d e d a c o n s tr u ç ã o ló g ica d o 
m u n d o a p a r t i r d e “e x p e r iê n c ia s e le m e n ta r e s " e a “teoria 
co n s t i tu c io n a l d o s o b je to s" , a f irm a n d o q u e c o n s t i tu ir u m 
o b je to s ig n if ica red u z i-lo a o u tro s . P o rtan to , C a r n a p q u eria 
fo rm u la r u m a teo ria g era l q u e p e r m it is s e in d ic a r a p o ss ib i­
lid a d e d e s u b s t i tu ir u m e n u n c ia d o q u e c o n té m o p r im e iro 
o b je to p o r o u tr o o b je to e n u n c ia d o q u e n ã o o co n té m . C o m 
o d o m ín io d a s “e x p e r iê n c ia s e le m e n ta re s " , b u sc a v a c o n s t i­
tu ir u n id a d e s fe c h a d a s e in d iv is ív e is (C a rn ap , 1961).
A s p r o p o s ta s d e H a n s R e ic h e n b a c h ta m b é m a ju d a m a 
c o m p re e n d e r a ten d ê n c ia a n a lít ica . E sse a u to r m e n c io n a 
o co n te x to d e d e s c o b e r ta e o c o n te x to d e ju s tif ica çã o , a f ir ­
m a n d o q u e a e p is te m o lo g ia d e v e r ia o c u p a r -s e e x c lu s iv a ­
m e n te d o c o n te x to d e ju s tif ica çã o . E s ta b e le ce u , a ss im , os 
l im ite s e s p e c íf ic o s d o s e le m e n to s m e to d o ló g ic o s d a in v e s ­
t ig a ç ã o c ien tíf ica , s e p a r a n d o -o s d o s e le m e n to s p s ico ló g i­
cos, s o c io ló g ic o s e h is tó r ico s .
N ã o p o d e m o s d e ix a r d e d e s ta c a r a in d a a s id e ia s d e 
K a r l P o p p er, c o n h e c id a s e p is te m o lo g ic a m e n te c o m o racio- 
nalism o crítico. P o p p e r é c o n s id e ra d o o p r in c ip a l r e s p o n s á ­
vel p e lo m o v im e n to d e re n o v a çã o d a filo so fia d a c iên c ia e 
u m d o s n o m e s m a is in f lu e n te s d a te n d ê n c ia an a lít ica .
P ara ele , u m a teo ria , p a ra s e r co n s id e ra d a c ien tíf ica , 
tem d e s e r co n s id e ra d a fa lsa p e la e x p e r iê n c ia , ou seja,
"o c r itc r io q u e d efin e o status c ie n tíf ic o d e u m a teo ria é a 
su a ca p a c id a d e d e ser re fu ta d a o u te s ta d a " (P o p p er, c itad o 
p o r B o m b a ssa ro , 1993, p. 42). D efen d ia , a s s im , a fa lsab ili- 
d a d e c o m o o ú n ic o c r ité r io p o s s ív e l d e d e m a r c a ç ã o e n tre 
c iên c ia e n ã o c iê n c ia . N a sua co n ce p çã o , a ló g ica d e d u ­
tiva p o ss ib il ita u m a a v a lia çã o s e g u ra q u a n to à v a lid a d e 
d a s p r o p o s iç õ e s c ie n tíf ica s . A ss im , P o p p e r c r io u cr ité r io s 
d e l im ite s com o s q u a is a e p is te m o lo g ia d e v e r ia o c u p a r -s e 
p a ra , d essa fo rm a , p o d e r d is t in g u ir a s te o r ia s c ie n tíf ic a s 
d a s p se u d o c ie n tíf ica s .
A tendência histórica
B o m b a s s a r o (1993) a f irm a q u e a ten d ê n c ia h is tó r ic a , ta m ­
b ém co n h e c id a c o m o n ova filoso fia da ciência, c u ja s m a n i­
fe s ta ç õ e s te ó r ica s o c o r re r a m n o fin al d a d é c a d a d e 1950, é 
m a is d if íc i l d e d efin ir , p o r s e r a b ra n g e n te e ter u m a p ro d u ­
ção b ib lio g rá fica v a s ta e c o m te m á tic a co m p lex a .
Tem tr ê s g ra n d e s v e r te n te s teó ricas . A p r im e ira está 
v in c u la d a a o s tra b a lh o s d e N o rw o o d R u sse ll H a n so n , 
S te p h e n T o u lm in , T h o m a s K u h n , Im r e L a k a to s e Paul 
F e y era b en d . A s e g u n d a tem in f lu ê n c ia d a s te o r ia s d e 
G a s to n B a c h e la rd , G e o rg e s C a n g u i lh e m e M ic h e l F oucault. 
E m b o ra e s s e s a u to res p a r ta m d e e n fo q u e s e te n h a m re p e r ­
c u s s õ e s d ife re n tes , h á a lg o e m c o m u m n eles : a n e g a çã o 
d o m é to d o d a ten d ê n c ia a n a lít ica . A te rce ira v e r te n te sã o 
as re fle x õ es d a E sco la d e F ra n k fu r t , e s p e c ia lm e n te a s d is ­
c u s s õ e s p o lê m ic a s d e T h e o d o r A d o rn o , le v a d a s a d ia n te 
p o r Jü rg e n H a b e rm a s .
A c r ít ic a b á s ica d a ten d ê n c ia h is tó r ica e m re la çã o à 
ten d ê n c ia a n a lí t ic a é a q u e s tã o d a m e to d o lo g ia cien tífica . 
O s in te g ra n te s d a n o v a filosofia d a c iê n c ia c o n s id e ra ­
v a m a m e to d o lo g ia d a ten d ê n c ia a n a lí t ic a e x ce s s iv a m e n te
s im p lis ta , p e lo fa to d e q u e p re s s u p u n h a u m a a n á lis e d o 
c o n h e c im e n to c ie n tíf ic o p e lo â n g u lo d o s e n u n c ia d o s ló g i­
cos, d e ix a n d o d e c o n s id e ra r a a çã o e fe t iv a d o s p e s q u is a ­
d o res q u e fa z e m ciên cia , o m o d o p e lo q u a l e s sa a ç ã o é 
re a liz a d a . Portanto , co n s id e ra v a m a e p is te m o lo g ia d a te n ­
d ência a n a lít ica u m a c iên c ia im a g in á r ia , u m a ficção c ie n t í­
fica, e n ã o u m a c iên c ia real.
A n o v a filosofia d a c iên c ia q u e s t io n o u o s p r in c íp io s fi lo ­
só fic o s d o p o s it iv ism o e d o e m p ir is m o , ta n to q u e H a b e r m a s 
re fe r ia -se c o n s ta n te m e n te à ten d ê n c ia h is tó r ic a c o m o p r o ­
d u to ra d e u m a e p is te m o lo g ia p ó s -e m p ir is ta . A lé m disso , 
q u e st io n o u a a f irm a ç ã o d e q u e o s " n o s s o s c o n h e c im e n to s 
p ré v io s e n o s s a s c r e n ç a s s ã o c o n s t i tu in te s d a o b se rv a ç ã o 
e d o s ig n if ic a d o q u e a tr ib u ím o s à q u ilo q u e o b s e r v a m o s " 
(B o m b a s s a ro , 1993, p. 33). D e ssa fo rm a , rev iu o s l im ite s da 
te n d ê n c ia a n a lí t ic a , p ro v o c a n d o u m a re v isã o g era l d a te o ­
ria d o s s e n tid o s e u m a a v a l ia ç ã o d o c o n te x to d esco b erto , 
q u e a n te s era d e s p re z a d o e p is te m o lo g ica m e n te .
A n o v a filosofia d a c iên cia ta m b é m criticou o m o n ism o 
m eto d o ló g ico e o ideal d e c iên cia u n ificad a . E m contraponto , 
adotou o p rin c íp io d a proliferação , s e g u n d o o q u a l s e deve 
in v en ta r e e la b o ra r teo rias a ltern ativ as a o s p o n to s d e v ista 
c o m u m e n te aceitos. O au tor d esse p rin c íp io foi Feyerabend , 
q u e n a sua o b ra Against m ethod p ro p ô s q u e o m é to d o c ie n ­
tífico d a c iên cia p a s s a ss e a s e r plural, e m vez d e s e red u zir 
a u m a ú n ica m etod olo g ia . A p ro p o sta d e u m a c iên c ia com 
u m m éto d o p lu ra lís tico ab riu n o v a s p o ss ib il id a d e s para 
e s tu d o s d e b io logia , a n tro p o lo g ia , e tn o lo g ia , so c io lo g ia etc.
O u tr o n o m e d e d e s ta q u e n a te n d ê n c ia h is tó r ica foi 
L ak ato s , c ita d o p o r B o m b a s s a r o (1993), q u e d esen v o lv eu 
u m a teo ria s o b re a m e to d o lo g ia d o s p r o g r a m a s d e in v e s ­
tig a çã o c ien tíf ica e c o n fr o n to u o p r in c íp io d o fa lse a c io - 
n is m o d e P o p p er. A tese fu n d a m e n ta l d e L a k a to s para
d e s m o ro n a r e s s e p r in c íp io é q u e a p ró p ria h is tó r ia da 
c iên c ia fa lse ia o fa ls e a c io n is m o . S e g u n d o ele , a s d e c isõ e s 
m e to d o ló g ica s a d o ta d a s p e lo s c ie n t is ta s p a ra d esen v o l­
v er s e u s p r o g r a m a s d e in v e s t ig a ç ã o e s tã o fre q u e n te m e n te 
lig ad as a u m n ú c le o m e ta f ís ic o d e fu n d o (L ak ato s , c itad o 
p o r B o m b a s sa ro , 1993). P o rtan to , é c o m p re e n s iv o q u a n d o 
L a k a to s a firm a , p o r ex em p lo , q u e a m e ta f ís ic a c a r te s ia n a 
tev e u m p ap el p re p o n d e ra n te n a c iê n c ia m e c a n ic is ta , s e r ­
v in d o c o m o " u m p o d e ro so p r in c íp io h eu rís tico " .
Pontos d e contato en tre as 
tendências h istórica e analítica
P ara K u h n , c i ta d o p o r B o m b a s s a r o (1993), " u m c o n ju n to d e 
c o m p r o m is s o d e n ív e l e le v a d o [, q u e tem ] [...] ta n to d im e n ­
s õ e s m e ta f ís ic a s c o m o m eto d o ló g ica s" , p o ss ib il ita a o s c ie n ­
t is ta s u m a v is ã o d e m u n d o e u m c o n ju n to d e re g ra s q u e 
fac ilita a in v estig ação .
O q u e é e c o m o s e p r o d u z o c o n h e c im e n to sã o q u estõ es 
e s s e n c ia is e c o n s ta n te s na h is tó r ia d o p e n s a m e n to f i lo só ­
fico. T a n to a ten d ê n c ia h is tó r ica c o m o a te n d ê n c ia a n a lít ica 
d e ix a r a m e n tre v e r o p r in c íp io b á s ico d o p ro ce sso ep is te - 
m o ló g ico : a ten ta tiv a d e s u p e ra r a m e ta f ís ic a p e la a n á lis e 
d a ló g ica d a l in g u a g em .
Indicações culturais
- A LVES, R. Filosofia da ciência. São Paulo: Brasiliense, 1982.
- C H A U I, M . C onvite à filosofia . Scão Pau lo : Á tica , 2003 .
• C O T R IM , G . Fundamentos da filosofia : ser, sa b e r e fazer. 
8. ed . S ã o Pau lo : S a ra iv a , 1993.
■ G A R C IA , A . M . A e x p e r iê n c ia d o c o n h e c im e n to . In: 
H Ü H N E , L . M . (Org.). M etodologia científica. 5. ed . Rio 
d e Ja n e iro : A g ir , 1992. p. 34 -41 .
Atividades
1. C o m b a s e n o tex to , c o m o se p o d e d e f in ir epistem ologia?
2. D e a co rd o co m o tex to , c o m o o p ro b le m a d o c o n h e c im e n to 
foi a b o rd a d o n o s d ife re n te s p e r ío d o s h is tó r ico s?
3. Por q u e a lg u n s a u to res c o n s id e r a m o fi ló so fo Im m a n u e l 
K a n t c o m o o fu n d a d o r d a teo ria d o co n h e c im e n to ?
9 inatismo
Susana Salete R aym undo C hinazzo
^ G S Í G CSpltulo, a n a lis a -s e a c o n c e p ç ã o d o in a tism o , 
q u e te v e c o m o p r im e ir o d e fe n s o r o f i ló so fo P la tã o e p e rd u ­
rou , d e m o d o d isc re to , a té o s te m p o s m o d e rn o s , q u a n d o 
foi re to m a d a p o r R e n é D esca rtes .
P ara P la tão , a le m b ra n ç a (anmnnesis) é a ra iz d o c o n h e ­
c im e n to , é u m a fo rm a d e re c o rd a r o q u e e s tá n o in terior 
d a a lm a . V ale re ss a lta r q u e a re m in is c ê n c ia o u le m b ran ça 
s e r ia o d e s p e r ta r d o c o n h e c im e n to in te le c tiv o d a s ideias, 
s e n d o d ife re n te d a m e m ó ria , c u jo p ap el s e r ia c o n s e r v a r as 
s e n sa ç õ e s , re g is tr a r as im p re ss õ e s d e ix a d a s p o r e las, qu e 
o ra sã o m a is , o ra sã o m e n o s c o n fu s a s .
A d o u tr in a d a rem in iscê n c ia p re ssu p õ e u m ap rio r ism o 
e u m a e s p é c ie d e in a tism o d a verdade. S e g u n d o P latão , a 
a lm a p re e x is tia n o m u n d o d a s ideias, no q u a l as c o n te m ­
plava. Por castigo , foi u n id a a o c o rp o d o m u n d o sublunar. 
U m a d a s co n s e q u ê n c ia s d essa u n iã o foi o e s q u e c im e n to d a s 
id e ias q u e a a lm a h a v ia co n tem p lad o n o o u tro m u nd o. N o 
entanto , ao e n tra r e m co n tato co m a s co isas d este m undo, 
q u e sã o so m b ra s d a s ideias, e la re lem b ra o q u e hav ia c o n ­
tem p lad o. Portanto , ap ren d er é re co rd a r o u recon h ecer.
N o s is te m a d e P latão , a r e m in is c ê n c ia e x e rc e tr ê s fu n ­
ç õ e s (Z ille s , 1994, p. 59):
1. p ro v a r a p reex is tên c ia , a e s p ir i tu a lid a d e e a im o rta li­
d a d e d a a lm a ;
2. e s ta b e le c e r u m a c o n e x ã o e n tr e a v id a a n te c e d e n te e a 
v id a p resen te ;
3. rev e la r a im p o rtâ n c ia d o c o n h e c im e n to se n s it iv o co m o 
in s tr u m e n to p a ra d e s p e r ta r a re co rd a çã o d a s ideias.
N o d iá log o M énon, Platão, c itad o p o r Z illes (1994, p. 59), 
diz: " Ja qu e toda a n a tu reza é se m e lh a n te e a a lm a ap ren ­
deu tudo, nada im p ed e q u e recorde u m a só co isa (que é além 
disso, o q u e se ch a m a aprender), en co n tre e m si todo o d em ais
se tem valor e n ã o se c a n s e n a bu sca , já q u e b u sc a r e aprender
*
n ã o são m a is q u e rem in iscência". E im p o rtan te sa lien tar que, 
para e sse filósofo, o e lem en to q u e faz a a lm a aco rd ar para o 
m u n d o intelig ível é o se n tim e n to ch a m a d o amor, q u e in icia l­m en te é carn al e d ese ja u m co rp o belo, e, aos poucos, passa a 
dese jar a p ró p ria beleza e o co n h e c im e n to de su a ideia.
E m todas as o b ras d e Platão, h á a d efesa d o in a tism o da 
razão ou d a s id eias verdadeiras. O d iá lo g o citad o ad ian te d e s ­
crev e Sócrates d ia lo g an d o c o m u m jo v em escravo an a lfa b eto e 
co n seg u in d o , p o r m eio d e p erg u n tas , fazer com qu e d e m o n s­
trasse so z in h o u m difícil teorem a d e g eom etria , o T eorem a
de Pitágoras. P la tão a firm a q u e a s verd ad es m atem ática s su r­
g ira m n o esp ír ito d o jovem ju s ta m e n te p o rq u e sà o inatas.
E m A república, e le faz u m e s b o ç o d a teoria d a r e m i­
n iscê n c ia . P a ra isso, d e s c re v e S ó c ra te s d ia lo g a n d o com 
G la u c o s o b re o m ito d a cav ern a .
S u p o n h a m o s u n s h o m e n s n u m a h a b ita çã o su b te rrâ n e a 
e m fo rm a d e ca v e rn a , c o m u m a e n tra d a a b e r ta para a luz, 
q u e s e e s te n d e a to d o o c o m p r im e n to d essa g ru ta . Estão 
lá d e n tro d e sd e a in fâ n c ia , a lg e m a d o s d e p e r n a s e d e p e s ­
co ço s , d e ta l m a n e ira q u e só lh e s é d a d o p e r m a n e c e r no 
m e s m o lu g a r e o lh a r e m fren te ; s ã o in c a p a z e s d e voltar 
a ca b eça , p o r ca u sa d o s g r i lh õ e s ; s e rv e - lh e s d e i lu m in a ­
ç ã o u m fo g o q u e se q u e im a ao lon g e , n u m a e m in ê n c ia , 
p o r d e tr á s d eles; e n tr e a fo g u e ira e o s p r is io n e iro s h á u m 
c a m in h o a sce n d e n te , a o lo n g o d o q u a l se c o n s tr u iu u m 
p e q u e n o m u ro , n o g ê n e r o d o s ta p u m e s q u e o s h o m en s 
d o s " r o b e r to s " c o lo c a m d ia n te d o p ú b lico , p ara m o s tra ­
re m a s s u a s h a b il id a d e s p o r c im a deles.
— Eu o s v e jo — d isse ele.
— V eja ta m b é m , ao lo n g o d este m u ro , h o m e n s q u e 
tra n s p o rta m tod a a e s p é c ie d e o b je to s , q u e o u ltrap assam : 
e s ta tu e ta s d e h o m e n s e d e a n im a is , d e pedra e d e m adeira, 
d e tod a a e sp é c ie d e lavor; c o m o é n a tu ra l, d os q u e o s tran s­
p o rtam , u n s fa lam , o u tro s s e g u e m calados.
— E stra n h o q u a d ro e e s tra n h o s p r is io n e iro s sã o esses 
d e q u e tu fa las — o b se rv o u ele.
— S e m e lh a n te s a n ó s — co n tin u e i —. E m p r i­
m e iro lugar, p e n s a s que, n e s ta s co n d içõ es , e le s ten h am 
visto, d e si m e s m o e d o s o u tro s , a lg o m a is q u e a s s o m ­
b ra s p ro je tad as p e lo fogo na p a red e o p o sta d a cav ern a?
— C o m o n ão — re sp o n d eu e le —, se sã o fo rçad os a 
m a n te r a ca b e ç a im ó v el tod a a vida?
— E o s o b je to s tra n s p o rta d o s? N ã o se p assa o m e sm o 
c o m eles?
— S e m dúvida.
— E n tão , se e le s fo sse m c a p a z e s d e co n v e rsa r u n s co m 
o s o u tros , n ão te p a rece q u e e le s ju lg a r ia m e s ta r a n o m ear
o b je to s reais, q u a n d o d es ig n av a m o q u e v iam ?
✓
— E forçoso.
— E s e a p risão tivesse ta m b é m u m e co n a p a red e d o 
fu n d o ? Q u a n d o a lg u m d o s tra n se u n te s fa lasse , n ã o te 
p a rece q u e e le s n ã o ju lg a r ia m ou tra co isa , se n ã o q u e era a 
v o z d a so m b ra q u e passava?
— Por Z e u s q u e sim !
— D e q u a lq u e r m o d o — a f irm e i — p e s s o a s n e s sa s c o n ­
d iç õ e s n ã o p e n s a v a m q u e a re a lid a d e fo s s e s e n ã o a s o m ­
bra d o s o b je to s.
— E x a ta m e n te — d isse ele.
— C o n sid era , p o is — co n tin u e i —, o q u e a co n teceria se 
e le s fo ssem so lto s d a s ca d e ia s e c u ra d o s d a sua ignorância , 
para v e r se , reg ressad o s à su a n a tu reza , a s co isa s se p a s ­
sa v a m d este m odo. L o g o q u e a lg u é m so ltasse u m deles, e 
o fo rçasse a e n d ire ita r -s e d e rep en te , a v o ltar o p esco ço , a 
a n d a r e a o lh a r para a luz, ao faz er tu d o isso, se n tir ia dor, 
e o d e s lu m b ra m e n to o im p e d ir ia d e fixar o s o b je to s cu jas 
so m b ra s v ia o u trora . Q u e ju lg a s tu q u e e le d iria , s e a lg u ém 
lh e a firm a sse q u e a té en tã o e le s ó v ira co isa s vãs, a o p asso 
q u e ag ora estava m a is p erto d a rea lid ad e e via d e verdade, 
vo ltado para o b je to s m a is rea is? E s e a in d a , m o stra n d o -lh e 
ca d a u m d e s s e s o b je to s q u e p a s s a v a m , o fo r ç a s s e m co m 
p e r g u n ta s a d iz e r o q u e era ? N ã o te p a re c e q u e e le s e v eria 
e m d if ic u ld a d e s e s u p o r ia q u e o s o b je to s v is to s o u tro ra 
e ra m m a is re a is d o q u e o s q u e a g o ra lh e m o stra v a m ?
— S e m d ú v id a — afirm ou .
— Portanto , s e a lg u ém o fo rçasse a o lh a r para a própria 
luz, d o er-lh e -ia m o s o lh o s e voltar-se-ia , para b u s c a r re fu ­
g io ju n to d o s o b je to s p ara o s q u a is p od ia o lh ar , e ju lg aria 
a in d a q u e es tes e ra m n a v erd ad e m a is n ít id o s d o q u e os 
q u e lhe m o strav am ?
— S er ia a s s im — d is s e ele.
— E se o a rra n ca sse m dali à força e o f iz e sse m su bir 
o c a m in h o ru d e e ín g rem e, e n ã o o d e ix a sse m fu g ir an tes 
d e o a rra s ta re m a té à lu z d o So l, n à o seria n atu ra l q u e ele 
se d o e s se e ag astasse , p o r s e r a s s im arrastad o , e , d ep ois 
d e c h e g a r à luz, c o m o s o lh o s d eslu m b rad o s, n e m seq u er 
p u d e sse v er n ad a d a q u ilo q u e ag ora d iz e m o s se re m o s v er­
d a d e iro s ob jetos?
— N à o poderia , d e fato, p elo m e n o s d e repente.
— P recisav a s e h abitu ar, ju lg o e u , s e q u ise sse v er o 
m u n d o su p erior. E m p r im e iro lugar, o lh a r ia m a is fac il­
m en te para a s so m b ras , d ep o is d isso , para as im agens 
d o s h o m e n s e d o s o u tro s ob jetos, re fle tid as n a ág u a , e, por 
ú ltim o, p ara o s p róp rio s ob je to s . A p a rtir d e então , seria 
ca p a z d e co n te m p la r o q u e h á n o céu , e o p ró p rio céu, 
d u ra n te a noite, o lh a n d o para a lu z d a s e s tre la s e d a Lua, 
m a is fa c ilm e n te d o q u e se fo sse o S o l e o seu b r i lh o d e dia.
— Pois não!
— F in a lm en te , ju lg o eu , seria ca p a z d e o lh a r para o S o l e 
d e o contem plar, n ã o já a su a im ag em na á g u a o u em q u a l­
q u e r sítio, m a s a e le m esm o, n o seu lugar.
— N ecessariam en te .
— D e p o is já co m p reen d eria , acerca d o Sol, q u e é ele 
q u e ca u sa a s e s ta çõ e s e o s a n o s e q u e tu d o d irig e no 
m u n d o v is ív e l, e q u e é o re sp o n sá v e l p o r tu d o a q u ilo de 
q u e e le s v ia m u m a rrem ed o .
— É ev id en te q u e d ep o is ch e g a r ia a e s s a s co n clu sõ es .
— E en tão ? Q u a n d o e le s e le m b ra sse d a su a prim itiva 
h ab itação , e d o sa b e r q u e lá p o ssu ía , d o s s e u s co m p a n h e i­
ro s d e p r isã o d e sse tem p o , n ã o c r ê s q u e e le se regozijaria 
co m a m u d a n ça e d ep lo rar ia o s outros?
— C o m certeza.
— E a s h o n ras e elogios, se a lg u n s t in h

Continue navegando