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LOGÍSTICA COLABORATIVA AULA 6 Prof. Roberto Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Até aqui, percebemos as muitas vantagens em se optar por trabalhar em regime de colaboração nos processos logísticos. No entanto, um dos benefícios geralmente muito cobrado por gestores da área refere-se à redução de custos. Para ser competitivo nos processos logísticos, além de prestar um serviço de qualidade e fazer as entregas na hora certa e no local correto etc., há a necessidade de se ter um custo competitivo. Contudo, os impasses são: como manter a qualidade de serviço prestado considerando os custos competitivos? O ato do compartilhamento realmente contribuirá para que se preste serviços com qualidade e preços competitivos? Por falar em preços, independentemente da forma como se decida trabalhar, seja por meio da logística tradicional ou da logística colaborativa, faz- se necessário conhecer os preceitos básicos de gastos para entender como eles influenciam o custo logístico. Para atender a essas variáveis e outras mais, esta aula terá como ponto comum, em praticamente todos os temas, o assunto relacionado ao custo. Os temas foram divididos em: 1. Terminologia básica de custos. 2. Redução de custos com o transporte colaborativo. 3. Compartilhamento de armazéns e a redução de custos. 4. Gestão de custos na logística colaborativa. 5. O futuro da logística colaborativa. CONTEXTUALIZANDO Segundo Novaes (2004), os participantes da cadeia de suprimentos estão sendo forçados a abandonar as suas atitudes individualistas e adotar posições colaborativas, formando parcerias. Para entendermos melhor a influência dos custos sobre o preço final de um produto, é necessário que se defina o que é valor para o cliente e quais são os atores envolvidos na cadeia de valor. O preço que um consumidor paga por um produto carrega em si uma série de elementos de natureza diversa os quais participaram da cadeia de valor: processo de fabricação, transporte e armazenagem de mercadorias e todos os serviços complementares que, de alguma forma, impactaram o custo final do 3 produto e, consequentemente, o preço ao consumidor. Vamos chamá-lo de preço X. A grande questão é: será que o consumidor estará disposto a pagar por esse produto? Conforme Porter (1989), valor é o montante que os consumidores estão dispostos a pagar por aquilo que uma empresa, ou indivíduo, fornece. O autor ainda ressalta que toda empresa é uma reunião de atividades executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar e sustentar seus produtos. A esse conjunto de atividades dá-se o nome de cadeia de valores. Para compreendermos melhor o lugar da logística nessa cadeia de valores, a figura a seguir representa as atividades desenvolvidas nesse processo. Figura 1 – Cadeia de valor de Porter Fonte: elaborado com base em Porter, 1989. Reparem que, dentro da cadeia de valor proposta por Porter (1989), a logística tem participação como logística de entrada (desenvolvimento de fornecedores, aquisição de matérias-primas e componentes, recebimento e armazenamento de materiais, alimentação de linhas de produção etc.); e como logística externa (estoque de produtos acabados, expedição, transporte, distribuição etc.). Portanto, do ponto de vista do compartilhamento de atividades para a redução de custos, a complexidade é muito alta. Para possibilitar um entendimento básico dessa complexidade com relação à obtenção do custo-benefício com a utilização da logística colaborativa, vamos estratificar as estratégias de estudo desta aula. 4 Para começar, vamos apresentar (ou até reapresentar, para alguns) os conceitos básicos da terminologia de gastos, pois não há como se discorrer sobre custos sem alguns requisitos básicos. Posterirormente, será tratado o tema acerca do transporte, que, segundo a Fundação Dom Cabral (2018), é responsável por algo em torno de 65% dos custos logísticos. Além disso, vamos buscar o entendimento de como é possível obter a redução de custos por meio do transporte colaborativo. Em seguida, com uma representatividade nos custos logísticos não tão alta como o transporte, mas não menos importante, vamos compreender como o compartilhamento de armazéns e centros de distribuição pode gerar redução de custos. Toda essa complexidade da cadeia de suprimentos se torna ainda mais complexa quando se adiciona o compartilhamento de atividades e recursos. Como gerir esse sistema complexo? É o que vermos também nesta aula. Por fim, fecharemos a aula com algumas reflexões sobre o futuro da logística colaborativa. Após essa compreensão, vamos entender, por meio de um estudo de caso, como é possível obter redução de custos em uma cadeia de suprimentos. Boa aula! TEMA 1 – TERMINOLOGIA BÁSICA DE CUSTOS O objetivo desse tema não é de se buscar o entendimento pleno sobre custos, pois um tema de uma aula é infinitamente pequeno para tratar do assunto. Contudo, faremos com que você, aluno, sinta-se mais confortável no que diz respeito aos termos utilizados na contabilidade de custos. Da mesma forma que é necessário conhecer as operações básicas de matemática para se chegar a cálculos mais complexos, conhecer os fundamentos inerentes aos processos de gestão de custos é primordial. Termos como gasto, desembolso, investimento, custo, despesa, perda e desperdício devem ser compreendidos para que se possa compor os custos de um produto ou serviço, por exemplo. Para isso, vamos utilizar a conceituação proposta por Martins (2003): gastos correspondem à aquisição de um bem ou serviço que gera um sacrifício financeiro, representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro). Portanto, toda operação que gera um sacrifício 5 financeiro é um gasto. Conforme Schier (2011), o conceito de gasto tem um sentido amplo e se aplica a todos os bens e serviços adquiridos. Então tudo o que se despende de dinheiro para se adquirir algo é considerado gasto? Respondendo à pergunta, podemos dizer que, de certa forma, sim. Aprendemos que os gastos acontecem a todo momento e em vários setores de uma empresa. Mas quais são esses gastos? É que essa compreensão dos tipos de gastos que se torna importante definir. Muitas vezes, dentro das empresas, ainda é possível ver profissionais que se envolvem, de alguma forma, na gestão de custo e que possuem dificuldades para distinguir as particularidades de cada um. Para esclarecer esse assunto, é preciso compreender a classificação dos gastos, que podem ser: • investimentos; • custo; • despesa; • desembolso; • perda. Conforme Schier (2011), os investimentos são todos os sacrifícios financeiros (gastos) feitos para a aquisição de bens e serviços que são “estocados” nos ativos das empresas para baixa ou amortização, quando ocorrer venda, consumo, desaparecimento ou desvalorização desses ativos. Como exemplo, podemos utilizar a aquisição de máquinas, prédios, empilhadeiras, caminhões etc. Os custos são gastos realizados em bens ou serviços utilizados na produção de outros bens ou serviços. Referem-se a todo gasto efetuado pela empresa, diretamente relacionado ao processo de industrialização, comercialização ou prestação de serviços. Como exemplo, podemos citar a matéria-prima consumida, insumos de produção e mão de obra direta. Com relação aos custos, para quem esteja trabalhando com orçamentos, é importante compreender dois aspectos importantes, citados por Schier (2011), que auxiliarão muito na composição do custo de peças: • energia elétrica: é um gasto no ato da aquisição, que passa imediatamente para custo (por sua utilização), sem transitar pela fase de investimento; 6 • aquisição de uma máquina: provoca um gasto em sua entrada, tornando investimento (ativo), o qual é transformado em custo, por meio de parcelasvia depreciação à medida que a máquina é utilizada. As despesas são bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receitas. Podem ser administrativas, operacionais, financeiras, comerciais etc. Alguns exemplos: materiais de expediente, pessoal administrativo etc. Para melhorar o entendimento, podemos citar o exemplo da comissão de um vendedor, a qual é um gasto que se transforma imediatamente em despesa. Já o desembolso trata-se do pagamento resultante da aquisição de um bem ou serviço. Conforme Schier (2011), os desembolsos são saídas em dinheiro ou cheque que ocorrem devido ao pagamento de uma aquisição efetuada à vista ou de uma obrigação assumida anteriormente. São exemplos de desembolso: compra de mercadorias para estoque à vista, compra de matéria-prima a prazo e pagamento de salários. A perda é um bem ou serviço consumidos de forma anormal e involuntária. Como exemplos, temos: perdas com enchentes, incêndios, obsolescência de estoque, deterioração etc. Por fim, o desperdício é um gasto que ocorre nos processos produtivos ou de serviços. Pode ser eliminado sem comprometer a qualidade e a produtividade. Como exemplos, podemos destacar o retrabalho em função de defeitos de fabricação, o estoque excessivo e as movimentações desnecessárias. Os sete desperdícios catalogados pela Toyota são um excelente exemplo. Além dos gastos citados, outros importantes termos merecem ser apresentados, conforme Schier (2011) e Martins (2003): • custo de produção: inclui o custo de aquisição de materiais, acrescido dos demais gastos incorridos na produção (mão de obra direta, insumos, energia elétrica etc.); • custo fixo: são os custos que permanecem constantes dentro de determinada capacidade instalada, não se alterando com as modificações da quantidade produzida, por exemplo, gasto com aluguel de um armazém logístico; 7 • custo variável: são os custos que acompanham o crescimento do volume de produção na mesma proporção, por exemplo, o gasto com mão de obra direta. • insumo: é o bem adquirido para consumo no processo de produção de novos bens ou prestação de serviços; na logística, um exemplo seria a utilização de combustível para alguns tipos de empilhadeiras] • cadeia de suprimentos: é o conjunto das atividades executadas para projeção, produção, comercialização e entrega dos produtos, independentemente da agregação de valor, desde o produtor primário até o consumidor final. Depois desse rol exaustivo de termos técnicos, já estamos aptos a discorrer sobre os custos referentes ao transporte colaborativo, que é o assunto do nosso próximo tema. TEMA 2 – REDUÇÃO DE CUSTOS COM O TRANSPORTE COLABORATIVO Quantas vezes um consumidor adepto a fazer compras pela internet acaba trocando de fornecedor devido ao custo com o frete? Atualmente, o frete se tornou um elemento de decisão, pois impacta diretamente o preço do produto para o consumidor final. Um sistema de distribuição compartilhada pode amenizar os custos com transportes. Por exemplo, suponha que você seja um médio empresário, dono de uma fábrica de bebidas, e deseja transportar seus produtos até o consumidor final por meio de uma transportadora exclusiva. Para que se tenha um custo competitivo, o veículo (caminhão) deve ser totalmente carregado com produtos da sua empresa, e, nesse processo, surgem alguns problemas. Para se chegar aos varejistas nos centros urbanos, é necessário que se utilize caminhões de menor porte, o que significa mais viagens e, consequentemente, aumento do custo variável. Agora, suponha que, em vez de utilizar o transporte de forma individualizada, você decida por uma distribuição compartilhada, ou “um para muitos”. Nesse caso, o veículo é carregado em um Centro de Distribuição (CD) com diversas mercadorias (inclusive a sua) e executa um roteiro predeterminado dentro de um chamado bolsão de entrega, efetuando entregas e eventualmente 8 coletas (embalagens retornáveis, por exemplo). A figura a seguir demonstra um esquema de distribuição compartilhada. Figura 2 – Esquema típico de distribuição "um para muitos" (compartilhada) Fonte: Novaes, 2004, p. 169. De acordo com Novaes (2004), a distribuição “um para muitos”, ou compartilhada, é influenciada por 15 fatores, sob o ponto de vista logístico: • divisão da região a ser atendida em zonas ou bolsões de entrega, sendo cada bolsão alocado normalmente a um veículo; • distância entre o CD e o bolsão de entrega; • velocidades operacionais médias; • velocidade 1, no percurso entre o depósito e o bolsão; e velocidade 2, no percurso dentro do bolsão; • tempo de parada em cada cliente; • tempo de ciclo (necessário para completar um roteiro e retornar ao depósito); • frequência das visitas às lojas ou aos clientes (diária; dia sim, dia não; semanal etc.); • densidade da carga (entregas por Km2); • dimensões e morfologia (estrutura) das unidades transportadas; • valor unitário; • acondicionamento (carga solta, paletizada, a granel etc.); 9 • grau de fragilidade; • grau de periculosidade; • compatibilidade entre produtos de natureza diversa; • custo global. Praticamente todos esses 15 fatores exercem influência sobre o custo do frete. Quando se adota o compartilhamento, a tendência é que esses custos sejam minimizados. Novaes (2004) traduz, de forma clara, os ganhos auferidos na cadeia de valor quando se utiliza a colaboração como estratégia de negócio. Por meio de um exemplo prático, é realizada a comparação entre a maneira tradicional, em que cada elemento da cadeia age independentemente; e a maneira colaborativa, entre três participantes do processo, o que envolve, por exemplo, a fabricação e distribuição de eletrodomésticos: o fabricante, o transportador e o varejista. No caso apresentado, é possível notar duas abordagens logísticas distintas: a abordagem tradicional e a abordagem colaborativa. Na Abordagem tradicional: • cada empresa tenta obter máxima vantagem para si; • não é dada importância aos efeitos sobre os coparticipantes; • não há interesse na visão da cadeia como um todo. Na abordagem colaborativa: • foca-se na competitividade global do sistema; • trabalha-se em conjunto para aumentar as margens de lucro e reduzir o preço para o consumidor; • há visão de toda a cadeia para a elaboração de estratégias entre as empresas. Voltando aos custos referentes aos processos logísticos dos eletrodomésticos, após várias propostas apresentadas, com o uso das duas abordagens (tradicional e colaborativa), chegou-se a ótimos resultados utilizando-se da logística colaborativa (Novaes, 2004), conforme expressam as tabelas comparativas a seguir. Vale ressaltar que os custos apresentados são fictícios. 10 Tabela 1 – Custos com abordagem logística tradicional Item Valor (R$/unidade) Fabricante Custo de materiais 112,80 Custo de mão de obra direta 55,20 Custos indiretos 62,50 Custo de armazenagem do produto acabado 1,78 Custo de estoque do produto acabado 0,30 Margem do fabricante 41,18 Preço de venda para o varejista 273,78 Varejista Custo de aquisição do produto 273,78 Custo do transporte (frete) 4,58 Custo de estoque em trânsito 0,45 Custo de estoque do produto no depósito do varejista 2,15 Custo de armazenagem do produto 0,30 Custo de entrega às lojas e aos clientes finais 8,90 Margem do varejista 97,99 Preço final para o consumidor 388,15 Fonte: elaborado com base em Novaes, 2004, p. 203. Tabela 2 – Custos com abordagem logística colaborativa Item Valor (R$/unidade) Fabricante Custo de materiais 101,80 Custo de mão de obra direta 55,20 Custos indiretos 43,82 Custo de armazenagem do produto acabado 0,24 Custo de estoque do produto acabado 0,85 Custo de estoque em trânsito 0,33 Transporte 3,97 Varejista Custo de estoque do produtono depósito do varejista 0,87 Custo de armazenagem do produto 0,24 Custo de entrega às lojas e aos clientes finais 8,90 Custo Total 216,22 Margem global 89,08 Preço final para o consumidor 305,30 Fonte: elaborado com base em Novaes, 2004, p. 205. O exemplo citado mostra que há uma diferença básica no que diz respeito à obtenção da margem dos elementos envolvidos nesse processo. Na 11 abordagem tradicional, as margens são definidas individualmente, já na abordagem colaborativa o foco é na margem global. Além disso, é possível notar que houve uma considerável redução no preço final ao consumidor, o que permite um possível incremento nas vendas. TEMA 3 – COMPARTILHAMENTO DE ARMAZÉNS E A REDUÇÃO DE CUSTO Embora o custo com armazenagem não seja o maior entre os custos logísticos, há de se considerar que, para o negócio ser competitivo na atualidade, é necessário ter um controle de custos robusto. Uma das alternativas para se reduzir custos com armazenagem e estoque de materiais é a utilização de armazéns ou centros de distribuição compartilhados. Um centro de distribuição compartilhado refere-se a um empreendimento por intermédio do qual diferentes empresas se agrupam para atender a diferentes demandas e compartilhar os mesmos recursos. Esse conceito, conhecido como Centro de Logística Compartilhada (CLC), se relaciona com a proposta da economia colaborativa ou compartilhada, pela qual pessoas ou empresas trocam serviços e produtos (Truckpad, 2017). O propósito principal é reunir empresas com necessidades de processos logísticos em comum (serviços e estrutura física) para que realizem as atividades de forma partilhada. Hoje muito se ouve falar em centro de distribuição, mas o que seria, de fato, um centro de distribuição? De acordo com a Associação Brasileira de Logística (Aslog), o centro de distribuição é um armazém que tem por objetivo realizar a gestão dos estoques de mercadorias na distribuição física. Nesse espaço, são realizados o manuseio, a armazenagem e a administração de materiais. Observe que, muito mais do que apenas armazenar, um centro de distribuição faz todo o controle de estoque (estoque máximo, estoque de segurança, ponto de pedido etc.). Até aqui, tudo bem, mas onde entra a redução de custos ao se optar por um centro de distribuição compartilhado? Vamos lá, para se manter um centro de distribuição em um local estratégico, por exemplo, próximo aos centros de consumo ou nas proximidades de portos e aeroportos, há de se empregar um alto recurso financeiro para se locar ou construir um empreendimento dessa natureza. Nesse processo, o compartilhamento de armazéns surge como uma alternativa interessante. Vamos exemplificar, a seguir, alguns ganhos utilizando-se o compartilhamento. 12 Para a redução dos custos fixos com o compartilhamento, têm-se: • aluguel do armazém; • salários dos funcionários em comum; • serviços de limpeza e restaurante (quando aplicado); • armazenagem (equipamentos, prateleiras, docas etc.). Para a redução dos custos variáveis com o compartilhamento, têm-se: • gastos com energia elétrica; • gastos com consumo de água; • gastos com frete. O armazenamento é um serviço temporário, ou seja, não há a intenção, por parte da empresa envolvida no processo logístico (em uma condição normal), de que o produto fique parado por um longo tempo. Independentemente da abordagem que se utilize, a tradicional ou a compartilhada, é importante que se entenda o comportamento dos custos quanto ao estoque e ao armazenamento. Do ponto de vista de custos, há uma ligeira diferença entre estoque e armazenagem. Segundo Novaes (2004): • custo de estoque: está diretamente relacionado com o custo financeiro do capital empatado, afetando, dessa forma, o dono do produto (embarcador); • custo de armazenagem: decorre do processo físico de manter o produto estocado, sendo arcado pelo operador do armazém ou do centro de distribuição. Vimos que, em termos de redução de custos, o compartilhamento de armazéns se mostra vantajoso, mas, em termos gerais, quais outros benefícios se obtêm com esse conceito? Conforme Truckpad (2017), em linhas gerais, pode-se obter os seguintes benefícios: • ser bom para o bolso da empresa: como foi mostrado anteriormente, a redução dos custos fixos e variáveis permite que a empresa a se mantenha competitiva no mercado; • ter o melhor lugar pagando um preço acessível: lugares mais privilegiados, conforme dito anteriormente, costumam ser mais caros, por isso a divisão das contas entre as empresas é tão interessante; 13 • tornar o serviço mais ágil: a logística compartilhada garante mais flexibilidade e agilidade para a empresa, pois, pelo fato de trabalhar em parceria, estreita as relações entre as empresas, o que pode ser muito útil em caso de situações inesperadas, como falta de veículo para entrega, por exemplo; • ter maior rentabilidade: com as reduções de custo, automaticamente a rentabilidade da empresa aumenta e as possibilidades de ganhos se multiplicam (aumento da carteira de clientes por meio da redução do preço ao consumidor final, possibilidade de novos investimentos etc.). Até aqui, foi possível compreender algumas técnicas e alguns fundamentos de custos para se trabalhar com o compartilhamento de transportes e armazéns, mas, com isso, surge o seguinte questionamento: como fazer a divisão de custos na logística compartilhada? Como já mencionado nos temas anteriores, duas divisões básicas de custos exercem influência nos custos logísticos: os fixos e os variáveis. Vamos aos custos fixos. A divisão dos custos entre os participantes da logística compartilhada pode ser realizada de duas formas: por meio de rateio proporcional da utilização dos recursos utilizados ou por meio do Custeio Baseado em Atividades (ABC, do inglês Activity Based Costing). Em relação ao rateio proporcional da utilização dos recursos utilizados, se você divide a utilização de um caminhão com uma outra pessoa (empresa), por exemplo, fracionado em 40% para sua empresa e 60% para seu parceiro, de uma forma simples, os custos fixos relativos a esse processo poderiam ser divididos em 40% e 60%. Porém, a realidade não é tão simples assim. Você pode fazer a divisão baseado não apenas no tempo de utilização, mas em Km rodado. Para ficar ainda mais preciso, utilizando a quantidade transportada (Kg, por exemplo) multiplicada por Km rodados. A mesma sistemática pode ser usada no compartilhamento de armazéns, levando-se em consideração a ocupação em m3 do armazém e as horas de trabalho alocadas para cada participante. Segundo Schier (2011), o custeio ABC é uma metodologia que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos. No caso dos armazéns, principalmente, essa metodologia apresenta ótimos resultados. Por meio da identificação minuciosa das atividades existentes nos processos de armazenagem, é possível mensurar o quanto de recurso é 14 utilizado. Em um processo de recebimento de materiais, por exemplo, poderíamos separar as atividades de recebimento da carga, conferência da nota fiscal, descarregamento do material, inspeção do material, entrada contábil do material etc. Com os processos mapeados e as atividades e tarefas definidas, fica mais fácil mensurar o custo e promover um rateio mais justo. Com relação aos custos variáveis, eles têm de ser cobertos por quem está utilizando o serviço, ou seja, os gastos com combustíveis são de responsabilidade de quem está utilizando o recurso. No armazém é a mesma coisa. Imagine que você utiliza papelão para acondicionar as cargas. Quanto mais carga, mais papelão e, consequentemente, mais custo, ou seja, o custo varia em função do volume processado. De qualquer modo, cada empresa deve buscar uma sistemática alinhada às estratégiaspromovidas por ela mesma e pelos participantes do compartilhamento. TEMA 4 – GESTÃO DE CUSTOS NA LOGÍSTICA COLABORATIVA Até agora, mencionamos vários aspectos relacionados aos custos na logística compartilhada. No entanto, ainda não ficou claro de qual parte é a responsabilidade de gerir esses custos, e a própria gestão dessa complexidade por si só não geraria custos. Conforme Pedro, Daes e Coelho (2002), o ato de compartilhar só terá impacto sobre a posição geral dos custos se as atividades de valor envolvidas forem ou venham a ser uma proporção significativa dos ativos ou dos custos operacionais. Segundo os mesmos autores, compartilhar atividades dentro da cadeia de valores sempre envolve custos, pois isso exige das empresas adaptações que alteram, de algum modo, a forma de operação. Esses custos estão divididos em três tipos: • Custo da coordenação: referente à coordenação de prioridades, resolução de problemas, compartilhamento de custos etc., por exemplo, a coordenação de compras compartilhadas na cadeia de suprimentos. • Custo do compromisso: relativo aos compromissos assumidos em uma negociação de compartilhamento. Seria algo como o perde e ganha em uma negociação (trade-off), ou seja, arcar com os 15 compromissos assumidos em detrimento de outros aspectos envolvidos. • Custo de inflexibilidade: ao compartilhar recursos, é necessário que haja um contrato entre as partes envolvidas e que se criem procedimentos básicos de atuação. Esse acordo, em alguns casos, pode se traduzir em dificuldades para as empresas participantes em responder a movimentos competitivos, pois há de se respeitar as cláusulas preestabelecidas. Mas como saber se é preciso ou não optar por um sistema de compartilhamento? Michael Porter (1992), um dos gurus da administração e autor de vários livros sobre teorias e estratégias de negócio, traçou um interessante painel que ilustra as atividades de valor compartilhadas e a posição dos custos, conforme apresentado na figura a seguir. Figura 2 – Atividades de valor compartilhadas e posição de custos Fonte: Porter, 1992, p. 301. Essa figura auxilia na identificação de atividades nas quais o compartilhamento é importante em relação à posição dos custos. 16 O objetivo desse tema foi o de alertar sobre custos que podem ser gerados na administração do compartilhamento e que devem ser levados em consideração no momento da decisão quanto à adesão à logística colaborativa. De qualquer modo, não há como contestar os inúmeros benefícios do compartilhamento e sua tendência atualmente. Por falar nisso, como se projeta a logística colaborativa para o futuro? É o que veremos a seguir. TEMA 5 – O FUTURO DA LOGÍSTICA COLABORATIVA A percepção, por parte dos humanos, de que nossos recursos não são infinitos tem direcionado as ações no sentido de compartilhar cada vez mais bens e serviços. Empresas como a Airbnb, que oferece serviços on-line para que as pessoas anunciem e reservarem acomodações e meios de hospedagem, são um bom exemplo de que compartilhar um bem que está sendo subutilizado e, ao mesmo tempo, obter receita é uma tendência do presente e do futuro. Esse tipo de serviço só é possível graças à tecnologia de ponta empregada nos aplicativos. Empresas como a DHL (Deutsche Post DHL), multinacional alemã do segmento de logística internacional e correio expresso, têm realizado vários estudos no sentido de antecipar o que está para acontecer no cenário logístico e, principalmente, na logística colaborativa. Conforme o Itchannel (2016), a DHL, em seu relatório de 2018, intitulado Robotics in Logistics, afirma que a robótica colaborativa impactará as cadeias de abastecimento e revela de que modo essas novas tecnologias serão utilizadas para realizar tarefas de picking, embalagem e transporte de mercadorias no mundo da logística. De acordo com a própria DHL (2020), a primeira onda de automação usando robótica colaborativa chegou ao setor de logística impulsionada por rápidos avanços tecnológicos e maior acessibilidade. As soluções da robótica estão entrando na força de trabalho da logística, suportando processos com defeito zero e aumentando a produtividade. Os robôs, em particular, adotarão papéis colaborativos na cadeia de suprimentos, ajudando os trabalhadores nas atividades de armazenamento, transporte e até entrega de “última milha”. Conforme estudos da DHL (2020), 80% dos armazéns ainda são operados manualmente, o que permite prever um grande potencial de automação. No futuro, as soluções de robótica continuarão a se tornar mais rápidas, precisas, flexíveis e acessíveis devido ao rápido progresso das 17 tecnologias de aderência e de sistemas de sensorização. Com uma relação entre preço e desempenho aprimorada, a adoção de soluções de robótica acelerará nos próximos três anos. Portanto, se você ainda tem dúvidas sobre a participação da logística colaborativa nos próximos anos, esteja certo de que esse conceito colaborativo de se trabalhar e gerar riquezas vai continuar por um longo período. TROCANDO IDEIAS Esta aula foi dedicada, em sua maior parte, a assuntos relacionados aos custos. Isso ocorre, e é natural, pois estamos em um mundo competitivo em que reduzir custos e eliminar desperdícios faz parte do dia a dia das empresas. Nesse aspecto, a logística colaborativa tem um papel importantíssimo, principalmente na racionalização dos recursos. No entanto, outro ganho excepcional também é propiciado pelo compartilhamento: a melhoria no meio ambiente. Quando, por exemplo, utilizamos o transporte compartilhado, deixamos de jogar na atmosfera uma enorme quantidade de CO2. Para se ter uma ideia, estima-se que, no Brasil, o transporte é o maior emissor de CO2 do setor energético, responsável por aproximadamente 48% do lançamento de gases poluentes na atmosfera. Pois bem, faça uma reflexão e identifique como a logística compartilhada pode ajudar de outras formas o meio ambiente NA PRÁTICA O caso a seguir é baseado em um artigo do X Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, intitulado Logística colaborativa: um estudo de caso no setor de armazém e logística, de Silva, Prado e Barros (2013). Trata-se da colaboração entre três empresas que, de alguma forma, estiveram envolvidas com a produção e utilização de um sistema de armazenagem denominado flow-rack (conforme figura a seguir). • Empresa A: possui aproximadamente 950 funcionários, baixo poder de negociação com os fornecedores e, entre outros produtos, produz flow- racks para a indústria automobilística e é concorrente da empresa B. 18 • Empresa B: de pequeno porte, fábrica flow-racks para a indústria automobilística e é concorrente da empresa A. • Empresa AUT: empresa automobilística, compra flow-racks das empresas A e B. • F1: Fornecedor de rodízios para as empresas A, B e AUT. O rodízio é utilizado como componente dos flow-racks e como peça de reposição na Empresa AUT, que adquire um volume razoável. Na fabricação do flow-rack, o rodízio tem uma participação relevante nos custos. Sobre o sistema de colaboração projetado, como a Empresa AUT possui um poder de negociação superior aos das Empresas A e B, a solução proposta foi que a AUT adquirisse tanto os rodízios utilizados na reposição quanto os rodízios utilizados nos flow-racks fornecidos pelas Empresas A e B (concorrentes). Com a compra compartilhada, a Empresa F1 concedeu um desconto significativo nos rodízios, reduzindo o custo dos flow-racks. Essa redução proporcionou uma maior lucratividade para as Empresas A e B e uma redução de custo de aquisição dos flow-rack e dos rodízios para Empresa AUT, sem contar que a Empresa F1 aumentou sua receita. Figura 3 – Exemplo de um flow-rack Crédito: thanakarn Singto/Shutterstock. FINALIZANDO Finalizamos esta aula relembrando e compreendendo alguns fundamentosbásicos de custos. 19 Hoje você está apto a elaborar pequenos projetos para a redução de custos em transporte colaborativo e compartilhamento de armazéns. Para decidir se o compartilhamento é ou não o melhor caminho, estudamos a gestão de custos na logística colaborativa. Por fim, analisamos uma visão do futuro sobre a logística colaborativa sob o ponto de vista de uma grande empresa logística. Muito obrigado e até uma próxima oportunidade. 20 REFERÊNCIAS AS VANTAGENS de adotar um Centro de Distribuição Compartilhado. Truckpad, 12 set. 2017. Disponível em: <https://blog.truckpad.com.br/gestao/centro-distribuicao-compartilhado/>. Acesso em 9 fev. 2020. FUTURO da indústria logística poderá passar pela robótica colaborativa. Itchannel, 18 maio 2016. Disponível em: <https://www.itchannel.pt/news/negocios/futuro-da-industria-logistica-podera- passar-pela-robotica-colaborativa>. Acesso em: 10 fev. 2020. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2003. NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição: estratégia, operação e avaliação. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. PEDRO, E. A. S.; SAES, L. A.; COELHO, J. J. dos S. Custos compartilhados. In: Congresso Brasileiro de Custos, 9., 2002, São Paulo. Anais [...]. São Paulo: CBC, 2002. Disponível em: <https://anaiscbc.emnuvens.com.br/anais/article/viewFile/2647/2647>. Acesso em: 11 fev. 2020 PORTER, M. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 16. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. ROBOTICS and automation. DHL. Disponível em: <https://www.logistics.dhl/global-en/home/insights-and-innovation/thought- leadership/trend-reports/robotics-in-logistics.html>. Acesso em: 10 fev. 2020. SCHIER, C. U. B.: Gestão de custos. 2. ed. Curitiba: IBPEX, 2011. SILVA, V. M. D.; PRADO, J. R.; BARROS, T. D. Logística Colaborativa: um estudo de caso no setor de armazém e logística. In: Simpósio de Excelência em Gestão de Tecnologia, 10., 2013, Rio de Janeiro. Anais [...] Rio de Janeiro: SEGeT, 2013. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/20218131.pdf>. Acesso em: 11 fev. 2020
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