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MATERIAL. AULA. TEORIA DA PENA.

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Teoria da Pena
Título da disciplina
Transformações históricas
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as transformações históricas da sanção penal.
1
Teorias da sanção penal
O modelo do suplício
A gestão centralizada de Penas
Criação de manuais de Inquisição como formas de definir escala das penas
Monarquias em processo de centralização do poder passam a defender o controle das penas
A Inquisição: a Igreja investiga o Estado pune
Centralização do Estado e da Igreja
Contexto: Surgimento da Inquisição.
Procedimentos da Inquisição
Objetificação do herege e da bruxa.
Uso da tortura.
Confissão como método.
Idade Média
Surgimento da primeira agência de aplicação de castigos (ANITUA, 2008).
Antes da Centralização
Sociedades com formas de autocomposição dos conflitos.
x
A dor corporal (sofrimento físico)
O espetáculo
O espetáculo da morte
Sofrimentos em Praça Pública
Jurisdição com técnicas de tortura.
Construção da figura das pessoas acusadas como inimigas.
Conceito Original de Pena
Baseada nas punições inquisitoriais.
Expressões extremas: sofrimento corporal até a morte.
O Espetáculo da Punição
Apresentação pública dos “julgados” como exemplos a serem evitados.
Momento catártico: pena como "penitência" e entretenimento.
Estimulava o desejo coletivo pela punição.
O Suplício
Primeiro modelo de pena estatal focado no corpo.
Procedimento baseado na perseguição de "subversores", principalmente pelo clero.
Persistiu até o século XV.
Da Europa ao Brasil: o poder punitivo
Ausência de Tribunal de Inquisição
Não existência direta no Brasil.
Matriz de Direito Ibérica
Carregada pela influência da Inquisição.
Primeiros juristas chegaram com bagagem da elite colonial.
Formação das primeiras burocracias organizadas.
Colonialismo e Violência
Atrocidades do escravismo.
Genocídio de negros africanos e indígenas.
Poder Punitivo Brasileiro
Histórico de violência oriundo do poder imperial.
Suplício com característica distintiva no contexto brasileiro
Execução da punição de açoitamento, Jean-Baptiste Debret, anterior a 1830.
“
A prisão deve ser um aparelho disciplinar exaustivo. Em vários sentidos: deve tomar a seu cargo todos os aspectos do indivíduo, seu treinamento físico, sua aptidão para o trabalho, seu comportamento cotidiano, sua atitude moral, suas disposições; a prisão, muito mais que a escola, a oficina ou o exército, que implicam sempre numa certa especialização, é “onidisciplinar”.
(FOUCAULT, 2009, p. 198-199)
Saiba mais
As prisões não foram as únicas instituições “disciplinares”. Foi nesse período também que o sistema liberal-clássico de direitos surgiu, reivindicando uma série de balizas jurídico-normativas para os procedimentos de responsabilização e para as coerções penais. Segundo Baratta (2002, p. 33), os discursos consistiam em uma “formulação pragmática dos pressupostos para uma teoria jurídica do delito e da pena, assim como do processo, no quadro de uma concepção liberal do estado de direito”.
Atenção!
No território brasileiro, a historicização em termos de cisões completas entre o sentido das sanções penais disciplinares e das suplicantes não faz sentido, por isso, deve-se atentar para a forma como se entrecruzam e se apresentam até hoje.
Teorias e finalidades penais
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as teorias e as finalidades das penas.
2
Teorias da sanção penal
Teorias e finalidades da pena
Pena é um ato de poder, resultando na imposição, pelo Estado, da perda de diversos direitos, sobremaneira o da liberdade, à pessoa que comete um crime.
Nesse sentido, tomamos emprestadas as lições clássicas de Heleno Fragoso:
“
[o direito penal] visa, segundo a teoria dominante, a garantir as condições fundamentais e indispensáveis da vida social, distinguindo-se pelo meio específico de coação e tutela com que atua e que é precisamente a pena. Essa sanção característica da lei penal, ou seja, a pena, não consiste na execução coativa do preceito jurídico violado (praeceptum legis), mas na perda de um bem jurídico imposta ao autor do ilícito, isto é, um mal infligido ao réu, em virtude de seu comportamento antijurídico.
(FRAGOSO, 1955, p. 55)
Teoria absoluta da pena e a finalidade retributiva
Origens da Teoria Absoluta da Pena
Ambientada no idealismo alemão.
Fundamentada na metafísica kantiana.
Contratualismo e Pena
Crime como violação ao contrato social.
Pena como uma obrigação e indenização.
Ferrajoli (2012, p. 204): Sanção como um "dever ser metajurídico".
No caso de Kant, viria como uma retribuição moral, “segundo a qual a pena é concebida como exclusivo princípio de justiça e como imperativo categórico".
No caso de Hegel, seria uma retribuição jurídica, "em que a pena aparece como negação do delito e como restabelecimento do império do direito".
+
Teoria relativa e funções preventivas da pena
No lado oposto da teoria absoluta, estão as teorias relativas da pena que encontram um fundamento utilitário para a sanção penal. 
Essa teoria dialoga com a função declarada da prevenção, que se subdivide em duas outras:
Primeiro, a função de prevenção geral, segundo a qual a pena estaria dirigida à coletividade. O Estado puniria, aqui, reforçando seus pilares normativos, para evitar a prática de crimes pelas demais pessoas daquele corpo social — consideradas, assim, na sua abstração.
Prevenção geral
Prevenção especial
+
Também referida como de função pedagógica ou formativa, a sanção penal teria um efeito dissuasório, intimidando ou coagindo psicologicamente qualquer integrante da sociedade que cogitasse infringir a lei.
A prevenção geral costuma ser subdividida em duas outras:
Prevenção geral positiva (ou integradora)
Destaca que a sanção reforçaria a coesão social naquela sociedade, fortalecendo a confiança normativa. Por meio da resposta oferecida pelo Estado à violação da lei penal, o poder instituído reestabeleceria a vigência da norma e, assim, os valores sociais, uma função que está em diálogo direto com os ideais do contratualismo.
Prevenção geral negativa (prevenção geral de intimidade)
Coloca em foco o caráter intimidatório da pena, isto é, a sua função pedagógica ao transmitir para a sociedade a resposta coatora do Estado diante da infração, dissuadindo qualquer pessoa a violar a lei.
Ainda como função correlata às teorias relativas está a função da prevenção especial, que, diferentemente da anterior, é dirigida ao indivíduo que houver praticado o crime, ancorando-se, portanto, em uma ideia de periculosidade individual. A prevenção especial subdivide-se em:
Prevenção especial negativa
Considera que a pena impediria o agente a novamente delinquir, neutralizando-o ao longo da execução penal. 
Prevenção especial positiva
Buscaria a chamada ressocialização da pessoa em conflito com a lei, “realizada pelo trabalho de psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e outros funcionários da ortopedia moral de estabelecimento penitenciário” (SANTOS, 2014, p. 428).
Teoria mista 
A teoria mista (unitária, eclética, conciliatória ou intermediária), a mais difundida e variada, adere às funções retributivas e preventivas da pena, que descrevemos anteriormente. Ou seja:
“
(...) admitem, ao lado da necessidade da pena, a sua utilidade (...) não obstante atribuírem à pena caráter essencialmente ético e, portanto, um sentido de retribuição, afirmam que a pena não é um fim em si, mas visa à repressão e a outros fins utilitários.
(FRAGOSO, 1955, p. 58)
As críticas feitas a essa teoria são as mesmas que às suas versões fragmentadas da função preventiva e retributiva que expusemos anteriormente. Maria Lucia Karam as refere bem na seguinte indagação:
Teoria agnóstica da pena 
Descrença nas Finalidades Tradicionais
Questionamento das funções retributivas e preventivas.
Crítica aos excessos no exercício do poder de punir.
Caracterização da Sanção Penal
Ato de poder que:
(a) Coage.
(b) Impõe privação de direitos ou dor.
(c) Não repara nem restitui.
(d) Não detém lesões em curso nem neutraliza perigos.
A única finalidade possível,segundo o modelo agnóstico, é a da contração do poder punitivo, cabendo-se pensar apenas, enquanto do seu estágio de manutenção jurídico-normativa, em estratégias de redução de danos de seus efeitos imediatos mais nocivos.
Saiba mais
A visão crítica esboçada dá vazão à reflexão sobre aquilo o que passou a ser referido enquanto funções não declaradas (ou latentes) da pena. Além da constatação de que o castigo não é uma consequência do crime, deve-se notar, a partir desse registro, a funcionalidade do sistema penal para a manutenção do sistema de desigualdades em nossa sociedade, por exemplo, já que é mediante as políticas criminais implantadas que se torna possível criminalizar diferencialmente determinadas classes de nossa sociedade.
Princípios constitucionais
Ao final deste módulo, você será capaz de listar os princípios constitucionais afetos à pena, bem como o modelo de responsabilização criminal ancorado na Constituição.
3
Teorias da sanção penal
A pena no Estado democrático de direito
“
No mesmo sentido, esse conhecimento é essencial para o que se pode nomear como uma “teoria redutora de danos na execução penal (...) a existência de um autêntico dever jurídico-constitucional de redução do sofrimento e da vulnerabilidade das pessoas encarceradas, sejam condenadas ou não.”
(ROIG, 2018, p. 28)
São limitadores do poder de punir, por isso jamais podem ser mobilizados para restringir direitos das pessoas acusadas ou justificar um rigor contra pessoas presas. Texto do primeiro card.
Devem ser interpretados sempre de modo a ampliar o sentido da liberdade em um caso concreto.
+
Escolhemos trabalhar com seis princípios selecionados, entendendo-os como os mais centrais:
Então, falaremos sobre os princípios da:
Humanidade
Legalidade
Não discriminação
Individualização
Transcendência
Celeridade
Princípio da humanidade
Trata-se de uma regra que induz a proibição da tortura, tratamento cruel e degradante, proibição de penas de morte, cruéis e perpétuas (art. 5º, III e XLVII, da CRFB/88) e diversos outros direitos em prol da liberdade das pessoas acusadas.
Exemplo
Vamos olhar o contexto do Brasil e do sistema prisional na COVID - 19
Relatórios e Evidências
Exposição da situação carcerária por várias entidades.
Destaque para o relatório do Mecanismo de Combate à Tortura do Rio de Janeiro.
Situação Alarmante Durante a Pandemia de COVID-19
Consequências da Superlotação
Contato físico inevitável.
Surto de doenças: doenças de pele, meningite, tuberculose e sarampo.
Referência à Penitenciária Ary Franco como exemplo crítico
Princípio da legalidade
Previsto no art. 5º, XXXIX, da Constituição de 88 e no art. 1º do Código Penal, também estrutura as sanções penais, aqui indicando que, para serem aplicadas, devem estar prévia (princípio da anterioridade) e estritamente previstas, de modo escrito, em âmbito legal ou regulamentar — lei prévia, escrita e estrita.
Exemplo
As alterações recém-inseridas pelo chamado Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) à Lei de Execuções Penais (art. 112, Lei nº 7.210/84), as quais dificultaram a obtenção do benefício da progressão de regime, constringindo o direito à liberdade e tornando mais gravoso o cumprimento da pena de prisão, não retroagem a fatos cometidos anteriormente à sua vigência.
Princípio da não discriminação
Também é fruto de diferentes estatutos de direitos humanos, como as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Reclusos, cujos reflexos no ordenamento interno estão, por exemplo, no art. 38 do CP e arts. 3º e 41, XII da LEP.
Trata-se de um postulado que impõe tanto a isonomia entre as pessoas privadas de liberdade quanto em relação às pessoas livres, dado que a legislação apenas menciona de modo genérico “igualdade de tratamento”.
Exemplo
No que se refere à população LGBTQIA+, a Resolução Conjunta 01/2014, que regra o cumprimento da pena de prisão, faz menção a uma série de direitos, tais como “atenção integral à saúde de acompanhamento de saúde específico, inclusive com a manutenção do tratamento hormonal (...) direito à não transferência compulsória entre celas e alas ou quaisquer outros castigos ou sanções em razão da condição de pessoa LGBT”.
Princípio da individualização da pena
Aposto no art. 5º, XLVI da CRFB/88, implica também em uma série de regramentos que minimizem os danos ao longo da execução da sanção penal, demandando que as pessoas em situação de restrição de liberdade sejam vistas de forma humanitária e que suas necessidades sejam atendidas individualmente, inclusive se isso demandar que considerações em abstrato sobre um contexto sejam desprezadas.
Exemplo
Situação: João, um jovem de 23 anos, residente de uma comunidade carente, foi condenado pela primeira vez por um crime não violento de furto simples. Ele possui um histórico limpo, é o principal provedor da sua família e sempre demonstrou interesse em se reintegrar à sociedade.
Sem Individualização da Pena: João poderia ser condenado à mesma pena que outro indivíduo com múltiplas condenações anteriores e sem qualquer intenção de reintegração.
Com Individualização da Pena:
O juiz considera as circunstâncias e motivações de João para cometer o crime, bem como seu histórico e situação familiar. ; Ao invés de uma sentença de prisão longa, João é condenado a uma pena mais branda, combinada com trabalho comunitário e cursos de capacitação. O foco é na ressocialização de João, garantindo que ele tenha oportunidades para melhorar sua vida e evitar a reincidência
Princípio da transcendência mínima
Esse princípio está conectado com o princípio da culpabilidade ao afirmar que apenas aqueles que tiverem concorrido com a infração penal devem, em termos abstratos, sofrer os efeitos da sanção penal. 
Exemplo
Basta lembrar a costumaz denúncia de ausência de itens básicos de higiene pessoal e da má qualidade da alimentação de pessoas em penitenciárias. Em muitos casos, é a família da pessoa custodiada que costuma fornecer, nos dias de visitação, subsídios essenciais para fruição de algum espectro da dignidade humana nesses ambientes.
Princípio da celeridade
Deve ser repudiada a demora na apreciação de pedidos tais como da liberdade provisória, do livramento condicional ou da progressão de regime — que têm o condão de fazer com que uma pessoa custodiada possa cumprir a execução de forma menos atentatória à liberdade.
Atenção!
O compromisso pela celeridade, em conjunto com decisões sintonizadas com os demais princípios que trabalhamos neste estudo — como o da humanidade, da legalidade, da não discriminação, da individualização da pena e transcendência mínima — é o que pode resgatar algum conteúdo democrático ao sistema de justiça criminal.
Sistemas de aplicação e regimes de execução da pena privativa de liberdade
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os sistemas de aplicação e regimes de execução da pena privativa de liberdade
1
Espécies de sanção penal
Pena privativa de liberdade e sistemas de aplicação da pena
A “pena privativa de liberdade” é a pena de “prisão”, “espinha dorsal do sistema penal” (SANTOS, 2014, p. 483). Trata-se da sanção mais gravosa existente em nosso ordenamento e, por isso, todas as considerações seguintes devem ser tomadas cuidadosamente.
Reclusão 	
Pode ser executada nos regimes fechado, semiaberto e aberto.
Detenção
É executada apenas nos regimes semiaberto e aberto.
Regimes de execução
Para fixar o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade, o juiz deve observar quatro fatores:
O tipo de pena aplicada, se reclusão ou detenção.
O quantum da pena definitiva.
Se a pessoa é reincidente ou não.
As circunstâncias judiciais (art. 59 do CP).
Não obstante a fixação desse modo inicial de cumprimento, os regimes são regidos pela regra da progressividade, segundo a qual uma pessoa poderá, cumpridos alguns requisitos, ao longo da execução da pena, transitar por regime menos constritivo à liberdade, nos termos do § 2º do art. 33 do CP.
Vamos, então, para os regimes em espécie.Regime Fechado 
Nesse caso, a pessoa apenada deverá cumprir a sanção “em estabelecimento de segurança máxima ou média”.  E, em tese, haverá um maior controle e vigilância.
Regime semiaberto
Possibilita alguns trânsitos que o primeiro proíbe e impõe mecanismos, em teoria, de menor segurança e vigilância — embora não seja tão permissivo quanto o regime aberto.
Regime aberto
Cumprido em casa do albergado ou estabelecimento adequado (art. 33, c, CP e arts. 91 a 95 da Lei 7.210/84). É, dentre os três, o menos violador ao direito à liberdade.
Sistemas de aplicação
Para entendermos melhor as duas modalidades de penas de prisão, reclusão e detenção, estudamos os chamados regimes de execução. Agora, vamos voltar ao nosso esquema geral de visualização das penas de prisão para entender outro ponto fundamental. Trouxemos os exemplos dos crimes dos arts. 215 e 216-A, em que o legislador previu, que a PPL seria de “1 (um) a 5 (cinco) anos” e de “1 (um) a 2 (dois) anos”, respectivamente.
Veja que, nesses e em todos os crimes previstos em nosso ordenamento, há um intervalo disponível para que a pena seja determinada. Como deverá o juiz, dispondo desse quantitativo flexível, proceder?
Na terceira fase, são consideradas as causas de aumento e diminuição de pena que podem ser genéricas — quando previstas na parte geral do CP, sendo aplicáveis a todos os crimes, como a tentativa — e específicas — previstas na parte especial e na legislação extravagante. 
Na segunda fase, da “pena intermediária”, as “circunstâncias legais” são analisadas, isto é, a existência de circunstâncias agravantes (arts. 61 e 62, CP) e atenuantes (art. 65 e 66, CP) genéricas. 
Na primeira fase, a que fixa a “pena base”, devem ser consideradas as chamadas “circunstâncias judiciais” ou “circunstâncias inominadas”, que são, precisamente, as encontradas no caput do art. 59, CP.
Penas restritivas de direitos e a pena de multa
Ao final deste módulo, você será capaz de listar os tipos de penas restritivas de direitos e a pena de multa.
2
Espécies de sanção penal
Penas restritivas de direitos e multa
As penas restritivas de direito têm como característica mais essencial a substitutividade. Isso porque elas não são previstas diretamente nos tipos penais, integrando os preceitos secundários dos tipos penais — como é o caso da PPL e como veremos a possibilidade de ser o caso da multa.
Penas restritivas de direito
O legislador prevê, para a infração, a pena de reclusão ou detenção, aplicada conforme todas as fases de determinação que expusemos no tópico anterior e, depois, se os requisitos do art. 44 estiverem presentes, a pena pode vir a ser substituída pela restritiva de direito.
Além disso, embora apliquem-se alternativamente às privativas de liberdade, essas penas não podem ser cumuladas com elas, pois sequer há previsão legal nesse sentido.
Jamais encontraremos um tipo penal com um preceito secundário, com redação tal como: “Pena: reclusão de 1 a 6 anos e prestação pecuniária”. Por isso, em regra, elas não aparecem como mais uma modalidade autônoma de sanção, mas sim, terão cabimento sempre vinculado a uma anterior condenação à pena de prisão.
O CP admite cinco espécies de penas restritivas de direito, quais sejam:
Está prevista no art. 45, § 1º, CP e tem caráter indenizatório. 
Prestação pecuniária (art. 43, I)
Limitada pela vantagem patrimonial obtida com o delito. 
Perda de bens e valores (art. 43, II)
É uma das penas restritivas de direitos com maior incidência prática, sendo muito comum encontrá-las em sentenças de primeira instância. 
Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas (art. 43, IV)
Aqui, a pessoa apenada poderá arcar com (a) proibição de exercício. 
Interdição temporária de direitos (art. 43, V)
Obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado
Limitação de final de semana (art. 43, VI)
Penas restritivas de direitos e multa
Além disso, segundo o art. 44, CP, para saber se é um caso de substituição, deve o(a) julgador(a) do caso considerar os dois aspectos:
Objetivos
Relacionados à natureza e ao modo de execução da infração, bem como à quantidade de pena, e que se encontram no art. 44, I e II, CP. São eles: a) condenado por crime doloso cuja pena privativa de liberdade aplicada não seja superior a 4 anos; b) crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa; c) não reincidente em crime doloso.
Subjetivos
Estão no art. 44, III, CP referidos como “suficiência da substituição” e estão ligados à culpabilidade e às circunstâncias judiciais do art. 59 (“quando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente”).
Penas restritivas de direitos e multa
Reconversão da Pena Restritiva de Direitos
Em caso de descumprimento injustificado, a pena restritiva de direitos pode ser convertida em privativa de liberdade.
No caso de reconversão, o tempo cumprido na pena restritiva será descontado, respeitando um saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.
Sobrevindo Condenação à Pena Privativa de Liberdade por Outro Crime
Em uma nova condenação à pena privativa de liberdade, a conversão da pena anterior não é automática.
O juiz da execução penal terá a discricionariedade de decidir sobre a conversão, podendo optar por manter a pena substitutiva anterior.
Coercividade da Pena Restritiva de Direitos
A reconversão é um mecanismo que confere coercividade à pena restritiva de direitos.
Esta medida busca garantir o cumprimento da pena imposta, fornecendo consequências em casos de descumprimento injustificado.
Comentário
Entendimento que restou consolidado há poucos anos foi o de que qualquer pena restritiva de direitos não pode ser imposta como condição para cumprimento da pena privativa de liberdade no regime aberto, o que vinha se tornando prática em diversos tribunais, em afronta a diferentes princípios e garantias constitucionais. A Súmula 493, do STJ, passou a dispor sobre o assunto: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto”.
Penas restritivas de direitos e multa
Penas de multa
Com natureza patrimonial, consiste no recolhimento de determinada soma em dinheiro, em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Há três possibilidades de aplicação, sendo elas:
Multa autônoma (art. 59, I, CP)
Quando no preceito secundário o legislador a estabelece como possibilidade de sanção própria.
Multa cumulada com pena privativa de liberdade ou restritiva de direito
O mais comum de aparecer na legislação penal, quando o próprio legislador estabelece sanções em concurso para um crime
Multa substitutiva da pena de prisão, nos termos do art. 44, CP.
Neste último caso, como explica Salo de Carvalho:
Penas restritivas de direitos e multa
No que concerne à sua quantificação, adota-se o chamado sistema do dia-multa, que permite a atualização monetária dos valores da sanção desde a data em que foi praticada a infração penal. Nesse sistema, o(a) magistrado(a) decide primeiro:
A quantidade de dias para a sanção de multa, conforme os mesmos parâmetros utilizados para a aplicação da pena privativa de liberdade
O valor do dia multa, que não pode ser inferior a 1/30 do valor do salário mínimo nem maior do que 5 vezes o valor do salário mínimo, consoante o art. 49, CP.
A multa deve ser liquidada e paga no prazo de dez dias após o trânsito em julgado da condenação, podendo ser, inclusive, parcelada.
O seu descumprimento não pode levar à conversão da sanção para a privativa de liberdade, embora não tenha o condão de tornar outra a natureza dessa pena.
Trata-se, como foi registrado no item anterior, de uma importante distinção desta para o regime das penas restritivas de direito, moduladas conforme a possibilidade da “reconversão”, que é inadmissível aqui.
Medidas alternativas, substitutivos e consensono processo penal
Ao final deste módulo, você será capaz de avaliar as medidas alternativas, substitutivos e consenso no processo penal
3
Espécies de sanção penal
Histórico da Conversão de Penas no Brasil
Crise no Sistema Penitenciário Global:
Déficit de vagas.
Alto índice de mortalidade.
Incidência de doenças infectocontagiosas.
Brasil na década de 80:
Surgimento do "minimalismo reformista".
Discussões sobre "medidas alternativas" e "substitutivos penais".
Medidas Adotadas:
Penas restritivas de direitos.
Suspensão condicional do processo.
Livramento condicional.
Monitoramento eletrônico.
Resultados das Medidas:
Sem queda significativa na taxa de encarceramento.
Agravamento das condições nos presídios.
Acentuação do encarceramento massivo.
Percepção Pública:
Sensação crescente de "impunidade".
Descrença no sistema de justiça criminal.
Novas Tendências (última década):
Ascensão da "justiça penal consensual".
Propostas para a "barganha" no Direito Criminal.
Medidas alternativas e substitutivos penais
Suspensão condicional da pena
I
Condenado não reincidente em crime doloso.
II
Culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, os motivos e as circunstâncias.
III
Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do CP.
IV
IV
Condenado a pena privativa de liberdade não superior a 2 anos. 
IV
Histórico da Conversão de Penas no Brasil
Sursis (Suspensão Condicional da Pena):
Condenado submetido a condições por 2 a 4 anos.
Para maiores de 70 anos ou com problemas de saúde: 4 a 6 anos (sursis etário).
Evita encarceramento em casos de "baixo grau de lesividade".
Livramento Condicional:
Transição entre regimes mais e menos privativos de liberdade.
Para penas igual ou superior a 2 anos e após cumprida fração da pena.
Condições especificadas no art. 83, CP.
Monitoramento Eletrônico:
Vigilância indireta para condenados ou presos provisoriamente.
Introduzido pela Lei 12.258/2010.
Transição entre saída temporária no semiaberto e prisão domiciliar.
Medidas alternativas e substitutivos penais
Histórico da Conversão de Penas no Brasil
Justiça penal negociada
Conceito e Mecânica:
Instrumentos que permitem aplicação imediata de pena através de "acordos".
Frequentemente envolve contribuições do investigado para auxiliar na investigação ou instrução penal.
Limitações e Implicações:
Contexto marcado por ameaça de prisão, violências do sistema penal e constrangimento.
Liberdade, um elemento essencial para qualquer "acordo", encontra-se restrita.
“
injustiças decorrentes de falsas memórias formadas, no mais das vezes, na fase de investigação e em decorrência de diversos fatores inerentes ao funcionamento do sistema penal seletivo, como sugestionamento, racismo estrutural e outras formas. E essas falsas memórias, por sua vez, balizariam o negócio penal, que legitimaria o processo de criminalização seletivo que o antecede, potencializando a condenação de inocentes seletivos sejam também ampliados, sem as amarras do processo penal, ou seja, sem controle jurisdicional efetivo e democrático.
(FURQUIM; NETO, 2019, p. 25)
O Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019) trouxe algumas iniciativas nesse sentido, como o acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP), que implica na possibilidade de aplicação imediata de penas, desde que:
Não seja caso de arquivamento da investigação.
O agente confesse o crime.
A pena em abstrato seja inferior a 4 anos.
Não seja crime praticado com violência ou grave ameaça contra pessoa (doloso).
Não seja crime de violência doméstica
Não seja o agente reincidente.
Não seja cabível a transação.
O agente não possua antecedentes que denotem conduta criminosa habitual (aplica-se a Súmula 444 do STJ ao caso).
O agente não tenha sido beneficiado nos últimos 5 anos com ANPP, transação ou sursis processual.
Medidas de segurança
Ao final deste módulo, você será capaz de formular a sistemática das medidas de segurança.
4
Espécies de sanção penal
Medidas de segurança
Sistema de periculosidade e duração das medidas de segurança
Base de Responsabilização:
Imputáveis: regidos pela "culpabilidade".
Inimputáveis: regidos pelo sistema de "periculosidade" devido ao sofrimento mental.
Finalidade da Medida:
Não retribuição, mas "tratamento".
Pessoa considerada não culpável, mas perigosa.
Avaliação da Periculosidade no Brasil:
Procedimento: "incidente de insanidade mental" (art. 149 do CPP).
Médico legista atesta a condição, fundamentando a aplicação da medida.
Espécies de medidas de segurança
Nosso Código prevê duas modalidades de medidas de segurança.
Internação Psiquiátrica (art. 96, I, CP):
Para crimes punidos com reclusão.
Cumprida em hospital de custódia ou estabelecimentos similares.
Tratamento Ambulatorial (art. 96, II, CP):
Usual para crimes punidos com detenção.
Pode ser aplicado em casos de reclusão, com parecer médico favorável.
Preferência por tratamento em serviços comunitários de saúde mental.
Objetos e as concepções gerais e específicas do concurso de crimes 
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os objetos e as concepções gerais e específicas do concurso de crimes
1
Concurso de crimes
Conceito
O concurso de crimes é definido pela hipótese em que o agente, com uma ou diversas condutas, realiza uma pluralidade de delitos. 
Omissivos ou comissivos
Dolosos ou culposos
Consumados ou na modalidade tentada
Simples ou qualificados
Considerando que não deverá ser aplicada a mesma pena para o agente que pratica mais de um crime e para outro que pratica apenas um, foram criados critérios para aplicação da pena às diversas espécies de crimes.
Teorias e sistemas do concurso de crimes
Quanto aos sistemas penais de aplicação de pena, utilizados como critérios de aferição da conduta atinentes ao concurso de crimes, a doutrina majoritária trabalha com quatro:
São somadas as penas aplicadas aos crimes isoladamente.
A pena a ser aplicada deverá ser maior do que a pena cominada a cada um dos crimes sem, contudo, chegar à soma delas. 
Aplica-se apenas a pena do delito mais grave, restando desprezada a pena dos crimes menos graves.
É aplicada a pena do crime mais grave, podendo ser aumentada conforme a quantidade e prática de outros crimes.
Cúmulo material
Cúmulo jurídico
Absorção
Exasperação
Espécies de concurso de crimes
Concurso material
“
Art. 69 - Quando o agente, MEDIANTE MAIS DE UMA ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
(Código Penal, grifo nosso)
Pluralidade de condutas
Pluralidade de resultados contidos em diversos tipos penais
&
Concurso formal 
“
Art. 70 - Quando o agente, mediante UMA só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
(Código Penal, grifo nosso)
Espécies de concurso de crimes
Concurso formal 
Modalidade homogênea
Ocorre quando se pratica mais de um crime da mesma espécie com resultados idênticos
Concurso formal heterogêneo
Ocorre quando uma única ação dá causa a vários crimes, havendo, assim, resultados diversos. 
É concedida antes do trânsito em julgado.
Concurso formal perfeito ou próprio
Dá-se quando o fato típico resulta de um único desígnio, ou seja, uma conduta dá causa a dois ou mais resultados
É concedida antes do trânsito em julgado.
Modalidade imperfeita ou imprópria
É o resultado de desígnios autônomos, na medida em que o agente, a priori, executa uma só ação, mas intimamente deseja que sua única conduta atinja outros resultados ou aceita o risco de produzi-los
Espécies de concursode crimes
“
HABEAS CORPUS. JÚRI POPULAR. ABERRATIO ICTUS. DOLO EVENTUAL. ALEGADA NULIDADE DO ACÓRDÃO CONFIRMATÓRIO DO JULGAMENTO. Nulidade não configurada. Ocorrendo a figura da aberratio ictus, mas com dolo eventual, em face da previsibilidade do risco de lesão com relação a terceiros, conquanto se tenha concurso formal de crimes dolosos, as penas são aplicadas cumulativamente, de conformidade com a norma do art. 70, parte final, do Código Penal. Constrangimento ilegal não caracterizado. Habeas Corpus conhecido, mas indeferido.
(STF. HC 73548/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 17/05/1996)
Concurso formal 
Espécies de concurso de crimes
Concurso material 
Ocorrerá se o agente pratica diversas condutas delitivas (ações ou omissões), em locais diferentes, executando-os de maneira também diversa e com considerável intervalo temporal.
Concurso formal 
Há apenas uma ação que poderá se desdobrar em vários atos, não condutas variadas.
Crime continuado 
 O sujeito, praticadois ou mais crimes de mesma espécie, e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro 
Crime continuado
Espécies de concurso de crimes
Crime continuado
“
Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços (perceber que no concurso formal a exasperação é de 1/6 até metade). “.
(Código Penal, grifo nosso)
Espécies de concurso de crimes
Estupro de vulnerável e Estupro (arts. 217-A e 213 do CP)
 Mesmo não estando capitulados no mesmo tipo penal, são considerados da mesma espécie porque tutelem o mesmo bem jurídico.
 Jurisprudência: STJ. REsp 1.767.902/RJ, Sexta Turma, Min. Rel. Sebastião Reis Júnior, DJ 04/02/2019.
Apropriação indébita previdenciária e Sonegação previdenciária (arts. 168-A e 337-A do CP)
 Reconhecidos como delitos da mesma espécie por violarem o mesmo bem jurídico: a previdência social.
 Exemplo: Crimes praticados na administração de empresas diferentes, porém pertencentes ao mesmo grupo econômico.
 Jurisprudências:
 STJ. REsp 1.212.911-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/3/2012.
 STJ. REsp 859.050/RS, Sexta Turma, Min. Rel. Rogério Schietti Cruz, DJ 13/12/2013.
Crime continuado: exemplos e jurisprudência
Espécies de concurso de crimes
Ponto-chave:
Para reconhecimento da continuidade delitiva, não é estritamente necessário que os delitos estejam sob o mesmo tipo penal; é suficiente que tutelem o mesmo bem jurídico e sejam praticados de forma semelhante.
Crime continuado: exemplos e jurisprudência
Espécies de concurso de crimes
Ainda com relação aos crimes da mesma espécie, o STJ firmou entendimento que não é possível o reconhecimento de crime continuado entre roubo e latrocínio porque:
Roubo 
Tutela o patrimônio e a integridade física
Latrocínio 
Tutela o patrimônio e a vida
“No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário avaliar o requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes, como fizeram as instâncias ordinárias, porquanto não há adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes da mesma espécie. São assim considerados aqueles crimes tipificados no mesmo dispositivo legal, consumados ou tentada, na forma simples, privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar os mesmos bens jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo tutela o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade individual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida.” (STJ. HC 189.134/RJ, Quinta Turma, Min. Rel. Ribeiro Dantas, DJ 12/08/2016).
Já sobre o chamado nexo de continuidade delitiva, isto é, as “condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes” exigidas pelo art. 71, do CP, não há entendimento pacífico. As condições de tempo, por exemplo, não possuem marcos precisos, limitando-se a exigir certa periodicidade entre condutas.
O STJ compreende que, em regra, esse lapso temporal não pode ultrapassar 30 (trinta) dias, porém esse prazo não é absoluto, devendo-se analisar outras circunstâncias do caso concreto. 
Comentário
Não é necessário que os atos sejam realizados no mesmo lugar, mas que tais lugares sejam compatíveis com a noção de continuidade. Se os fatos forem cometidos em comarcas distantes, o STJ tem entendimento de que não é possível reconhecer a continuidade delitiva.
 1. Conforme entendimento consolidado neste Superior Tribunal, para a caracterização da continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal), é necessário que estejam preenchidos, cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo havido entre os eventos delituosos. 
2. Nos termos da reiterada jurisprudência desta Corte, os delitos de roubo cometidos em comarcas diversas (Belo Horizonte - MG e Matipó - MG, distantes 249 km uma da outra) configuram a prática de atos independentes, característicos da reiteração criminosa, em que deve incidir a regra do concurso material, e não a da continuidade delitiva.
3. Recurso especial conhecido e provido, a fim de majorar a pena para 11 anos e 2 meses de reclusão mais 21 dias-multa.” (STJ. REsp 1.588.832/MG, Sexta Turma, Min. Rel. Rogério Schietti Cruz, DJ 09/05/2016).
“RECURSO ESPECIAL. PENAL. ROUBO. COMARCAS DIVERSAS. REITERAÇÃO DELITIVA. CONTINUIDADE DELITIVA. AFASTAMENTO. CONCURSO MATERIAL. RECURSO PROVIDO.
Quanto ao modo de execução, exige-se o mesmo modus operandi na prática dos delitos. Por fim, entende-se que a cláusula aberta de outras condições semelhantes outorga certa discricionariedade ao intérprete, facultando-o à análise de outras circunstâncias que possam denotar a ideia de continuidade (SOUZA, 2017, p. 224).
O STF sumulou o entendimento de que, nos casos de crime continuado ou habitual e de lei posterior mais grave, esta será aplicada se a sua vigência for anterior ao fim da continuidade ou habitualidade (Súmula 711).
Comentário
Ademais, vale observar que a Reforma de 1984 da Parte Geral do Código Penal superou o antigo entendimento do STF (Súmula 605), segundo o qual não era possível a continuidade delitiva em crimes dolosos contra a vida. Com o advento da Lei de 1984, o novo art. 71, parágrafo único, do CP, passou a prever a continuidade delitiva para crimes dolosos com violência ou grave ameaça a diversas vítimas.
Teorias e espécies de concurso de crimes
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar as teorias e espécies de concurso de crimes
2
Concurso de crimes
Regras na fixação da pena
Tendo em vista que os institutos que compõem o concurso de crimes formam critérios para a aferição das condutas no momento de compreender a aplicação da pena, abordaremos a partir de agora as regras de fixação da pena, considerando as circunstâncias especiais de cada caso.
Regras aplicáveis ao concurso material
O sistema que se aplica ao concurso material é o cúmulo material, que se caracteriza pelo somatório individualizado das penas relativas aos crimes imputados.
No cúmulo material, o magistrado deverá fixar, separadamente, a pena correspondente a cada um dos crimes.
Em seguida, na sentença condenatória, deverá somar uma a uma (CAPEZ, 2012, p. 533).
Nesse caso, o fato de o juiz fixar individualmente cada pena alinha-se com o princípio constitucional da individualização da pena, o que não gera ilegalidade na formação da sentença (CAPEZ, 2012, p. 533).
Exemplo
Considere um caso de roubo seguido de estupro em concurso material. Aqui, em primeiro lugar, fixa-se a pena de rouboe, em seguida, seu regime inicial de cumprimento de pena para, assim, termos a pena “X”. Em segundo lugar, tem-se a fixação da pena de estupro e do regime inicial, gerando a pena “Y”. Por fim, para a configuração do concurso material, somamos as penas para termos a pena final (X + Y = Z).
Quanto ao somatório das penas, segundo o art. 66, inciso III, alínea a da Lei de Execução Penal, cabe ao juiz da execução o somatório/unificação das penas relativas aos delitos julgados em concurso material em processos diferentes.
Todavia, o Código Penal faz algumas ressalvas quanto ao cumprimento de pena referente a processos distintos. O art. 69 do Código Penal traz a hipótese em que existam dois ou mais crimes, cuja pena se fixou em detenção e reclusão. Nesse caso, deverá ser executada a primeira pena e, após finda, a segunda.
Além disso, o mesmo artigo, no §1º, trabalha a hipótese de concurso de crimes, para cujo primeiro delito cabe pena privativa de liberdade (PPL) e para o outro crime cabe pena restritiva de direitos (PRD). Caso o réu seja condenado primeiro pela PPL, sem aplicação do sursis, não poderá ser aplicada PRD para os outros crimes. Assim dispõe:
“
Art. 69, §1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
(Código Penal, grifo nosso)
Ao final do art. 69, o §2º vem trazer o caso do réu condenado por diversas penas restritivas de direitos. Aqui, a aplicação da pena se dará simultaneamente para as penas que forem compatíveis, e sucessivamente para as incompatíveis. Nestes termos: “§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais”.
A Lei nº 9.099 de 1995 (Lei dos Juizados Especiais) veio com o objetivo de simplificar algumas questões antes trazidas pelo Código Penal. Segundo a lei, nos crimes cuja pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, o Ministério Público poderá propor a suspensão condicional do processo por determinado período, a fim de que o acusado não seja processado, ficando obrigado a cumprir determinados requisitos.
“Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).” (LEI Nº 9.099/1995)
Nesse caso, quanto ao concurso de crimes, a Súmula 243 do Superior Tribunal de Justiça estabeleceu limites na hipótese de concurso material. Nestes termos:
“
O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
(SÚMULA Nº 243, STJ)
Só será aplicável a suspensão condicional do processo, na hipótese de concurso material, quando a soma das penas mínimas cominadas resultar em pena não superior a um ano.
Regras aplicáveis ao concurso formal
O concurso formal de crimes poderá sofrer incidência direta de dois sistemas de aplicação de pena, quais sejam:
Exasperação (concurso formal próprio)
Cúmulo material (concurso formal impróprio)
&
O primeiro que trabalharemos é o concurso formal próprio, presente no art. 70, caput, 1ª parte do Código Penal, que serve como critério que incide na terceira fase de aplicação da pena. Considerando que para esse caso não há desígnios autônomos, haverá a exasperação de uma das penas que, por ser um sistema menos rigoroso que o cúmulo material, não admite que se ultrapasse os limites aplicáveis a esta, por expressa vedação do art. 70, parágrafo único, do CP (ZAFFARONI; PIERANGELI, p. 727).
Quanto às espécies, o concurso formal próprio pode ser (CAPEZ, 2012, p. 535):
Homogêneo 
Será aplicada qualquer uma das penas, dado que os resultados e a figura típica são idênticos, pois a norma em que se enquadra a conduta típica é a mesma.
Heterogêneo
Aplica-se a pena mais grave, em razão dos resultados serem diversos, e os bens jurídicos serem atingidos com intensidades diferentes.
Não se pode deixar de destacar que nos dois casos aumenta-se a pena de 1/6 até a metade de acordo com o número de infrações penais realizadas.
2 crimes: Aumenta-se 1/6
3 crimes: Aumenta-se 1/5
4 crimes: Aumenta-se 1/4
5 crimes: Aumenta-se 1/3
6 crimes ou mais: Aumenta-se 1/2
Já no caso do concurso formal impróprio (art. 70, caput, 2ª parte do CP), tem-se a aplicação do sistema do cúmulo material, que segue a mesma linha do concurso material de crimes. Ou seja, para a sua configuração, deverá o agente prosseguir com sua conduta alinhada com desígnios autônomos, fazendo jus ao somatório individual das penas.
É importante mencionar a possibilidade de incidência do concurso material benéfico, que surge para trazer proporcionalidade na fixação das penas a partir da regra geral da exasperação.
Assim, o concurso material benéfico ocorre se, da aplicação da regra do concurso formal, a pena tornar-se superior à que resultaria da aplicação do concurso material (soma de penas), deve-se seguir este último critério (art. 70, parágrafo único, CP). Impede-se, dessa forma, que, numa hipótese de aberratio ictus (homicídio doloso mais lesões culposas), se aplique ao agente pena mais severa, em razão do concurso formal, do que a aplicável, no mesmo exemplo, pelo concurso material. Quem comete mais de um crime, com uma única ação, não pode sofrer pena mais grave do que a imposta ao agente que reiteradamente, com mais de uma ação, comete os mesmos crimes.
Caso se aplique a exasperação da pena e ela fique superior ao resultado do concurso material, dado que a regra da exasperação veio como critério menos rigoroso de aplicação da pena, em razão da ausência de desígnios autônomos, principalmente no caso de aberratio ictus (erro na execução), deverá seguir-se o critério do somatório das penas.
Exemplo
“X” atira em “Y” para matar. A munição atravessou o corpo de “Y”, que morreu na hora, e foi parar no braço de “Z”, que estava atrás de “Y”, ocasionando lesão corporal culposa. Esse é um caso de concurso formal heterogêneo que advém da prática de homicídio doloso (art. 121 do CP — pena de 6 a 20 anos) em concurso formal com lesão corporal culposa (art. 129 do CP — pena de 3 meses a 1 ano). Aqui, se fosse utilizado o critério da exasperação no caso de aplicação da pena mínima de ambos, o somatório ficaria em 6 anos e 3 meses, sendo inferior ao resultado da exasperação, que seria 1/6 de 6 anos = 1 ano (pena mais grave) mais 6 anos (pena mais grave), o que resultaria em 7 anos de reprimenda. Desse modo, considerando que o somatório das penas seria mais favorável ao réu, aplica-se o concurso material benéfico (cúmulo material benéfico). A base legal para tal feito é o art. 70, parágrafo único do CP, que dispõe: “Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 (concurso material) deste Código”.
Regras aplicáveis ao crime continuado
O sistema aplicado no caso do crime continuado (simples) é o mesmo do concurso formal próprio, qual seja, a exasperação. Assim, a pena aplicada poderá ser majorada de 1/6 até 2/3 a depender do número de crimes. Desse modo, a doutrina majoritária e a jurisprudência têm adotado os seguintes critérios para a fixação da pena nos casos de crime continuado (CAPEZ, 2012, p. 538). 
No caso de crime continuado específico (crime doloso praticado com violência ou grave ameaça contra vítimas diferentes), aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo (2012, p. 538). No crime continuado, também se aplica o critério do concurso material benéfico, na hipótese em que a pena forsuperior à resultante do cúmulo material (concurso material benéfico).
Além disso, há a possibilidade de incidência de aumento de pena no crime continuado, dado que, diante do critério trifásico da pena, deverá o aumento incidir não sobre a pena-base, mas sobre o resultado da pena (ultrapassada a análise das circunstâncias agravantes e atenuantes).
Por fim, destaca-se que o momento da unificação da pena poderá se dar por dois caminhos diferentes:
Primeira hipótese 
Quando todos os delitos que compõem a série continuada forem objetos de um mesmo processo, o magistrado deverá unificar as penas, aplicando a regra do art. 71 do CP.
Segunda hipótese
Caso os delitos tramitem processos diversos, a unificação das penas ficará a cargo do juiz da execução, que na oportunidade aplicará os critérios do art. 71 do CP.
Há que se analisar a situação do crime continuado específico contido no art. 71, parágrafo único, do CP. Para essa figura, segundo a jurisprudência, não se deve apenas analisar o critério objetivo do número de delitos, mas também os requisitos subjetivos, consubstanciados na análise dos seguintes pontos:
Culpabilidade;
Antecedentes;
Conduta social;
Personalidade do agente;
Motivos;
Circunstâncias do crime.
Pena de multa 
O art. 72 do Código Penal determina que, no concurso de crimes, as penas de multa são aplicadas distinta e integralmente. Esse entendimento é pacífico no que tange aos concursos material e formal.
Todavia, não é aplicável em relação ao crime continuado, considerado crime único para fins de aplicação de pena. Assim, em caso de crime continuado, o entendimento mais recente do STJ é no sentido em que também se aplica a exasperação do art. 71, CP, para a pena de multa, in verbis:
“
A jurisprudência desta Corte assentou compreensão no sentido de que o art. 72 do Código Penal é restrito às hipóteses de concursos formal ou material, não sendo aplicável aos casos em que há reconhecimento da continuidade delitiva. Desse modo, a pena pecuniária deve ser aplicada conforme o regramento estabelecido para o crime continuado, e não cumulativamente, como procedeu a Corte de origem.
(STJ. AgRg no AREsp 484.057/SP, Quinta Turma, Min. Rel. Jorge Mussi, DJ 09/03/2018).
Extinção de punibilidade no concurso de crimes
A extinção da punibilidade no concurso de crimes se dará de forma individualizada, independentemente de qual espécie de crime for analisada no caso concreto.
Seguindo o disposto no art. 119 do Código Penal: “No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente”. Além disso, a mesma regra incidirá na hipótese de prescrição, prescrevendo cada crime isoladamente.
Mesmo para o caso de crime continuado, no qual a jurisprudência entende ser crime único para fins de dosimetria da pena, aplica-se o art. 119, do CP. Dessa forma, na prática, para fins de prescrição, entende-se que também o crime continuado é um caso de concurso de crimes. Isso ocorre em decorrência da Súmula 497 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe: “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”.
Cálculo de pena para cada modalidade do concurso de crimes 
Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir o cálculo de pena para cada modalidade do concurso de crimes, bem como a questão da prescrição nessas hipóteses
3
Concurso de crimes
Tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade
Desde a redação original do Código Penal, datada de 1940, o limite temporal do cumprimento da pena privativa de liberdade no Brasil era o marco de 30 anos (antigo art. 55). A reforma da parte geral do Código Penal, ocorrida em 1984, por meio da Lei nº 7.209, manteve esse marco temporal no então novo art. 75, CP.
Entretanto, a Lei nº 13.964 de 2019, popularmente conhecida como Pacote Anticrime, alterou o art. 75, do CP, ampliando o tempo máximo de cumprimento para 40 anos, in verbis:
“
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos.
§ 1º Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 40 (quarenta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena já cumprido. 
(Código Penal, grifo nosso)
Caso o cálculo de penas no concurso de crimes ultrapasse o marco-limite de 40 anos, as penas devem ser unificadas de modo a respeitar esse limite, conforme versa o §1º do art. 75, CP.
Além disso, o §2º do art. 75, CP, estabelece uma exceção à regra limitadora do tempo de prisão: se houver condenação por fato posterior ao início do cumprimento de pena, haverá nova unificação, desconsiderando aquele tempo de pena já cumprido. Em outras palavras, um indivíduo poderá ficar mais tempo no cárcere do que aquele determinado no caput do art. 75, CP na hipótese de cometimento de novo delito na prisão (SOUZA, 2017, p. 231).
Veja a antiga redação do art. 75, caput e §1º, do Código Penal:
“
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo deste artigo.
(Código Penal, grifo nosso)
Os exemplos a seguir podem ajudá-lo a compreender melhor essa questão.
Hipótese 1
O agente foi condenado por três homicídios qualificados em concurso material, todos no patamar mínimo estabelecido pelo art. 121, §2º, CP, de doze anos. Assim, pelo critério do cúmulo material, chegou-se ao patamar de 36 anos de reclusão.
Variação 1
O fato ocorreu antes da vigência da Lei nº 13.964/2019.
Solução: como a antiga redação do art. 75 do CP determinava que o limite de cumprimento de pena era o patamar de 30 anos, apesar de o cálculo da pena ter chegado aos 36 anos de reclusão, o agente somente cumprirá 30 anos.
Variação 2
O fato ocorreu após a vigência da Lei nº 13.964/2019
Solução: com a vigência da Lei nº 13.964/2019, aumentou-se o limite de cumprimento de pena para 40 anos, de modo que o agente cumprirá os 36 anos de reclusão.
Hipótese 2
O agente foi condenado por quatro homicídios qualificados em concurso material, todos no patamar mínimo estabelecido pelo art. 121, §2º, CP, de doze anos. Assim, pelo critério do cúmulo material, chegou-se ao patamar de 48 anos de reclusão.
Variação 1
O fato ocorreu antes da vigência da Lei nº 13.964/2019.
Solução: como a antiga redação do art. 75 do CP determinava que o limite de cumprimento de pena era o patamar de 30 anos, apesar de o cálculo da pena ter chegado aos 48 anos de reclusão, o agente somente cumprirá 30 anos.
Variação 2
O fato ocorreu após a vigência da Lei nº 13.964/2019.
Solução: com a vigência da Lei nº 13.964/2019, aumentou-se o limite de cumprimento de pena para 40 anos, de modo que o agente cumprirá 40 anos de reclusão, em vez dos 48 que resultaram do sistema de cúmulo material.
Concurso material benéfico
O instituto do concurso material benéfico também representa um limite de pena no concurso de crimes, de modo que convém reanalisá-lo.
No caso do concurso formal, que é calculado pelo sistema de exasperação quando na modalidade própria, o parágrafo único do art. 70, CP, determina que a sua pena não pode exceder aquela que seria alcançada pelo método de soma de penas do concurso material.
“
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único - Não poderáa pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.
(Código Penal, grifo nosso)
A doutrina costuma chamar esse fenômeno de concurso material benéfico (MARTINELLI; DE BEM, 2018, p. 838). A ideia fundamental aqui é que, como o sistema de exasperação de pena foi pensado para ser aplicado in bonam partem, o instituto perderia seu sentido caso o cálculo ultrapassasse o que seria alcançado com o sistema de acúmulo material. Dessa forma, o legislador decidiu por deixar positivada a limitação segundo a qual a pena do concurso formal jamais poderá ultrapassar o marco daquela que seria alcançada no concurso material.
Comentário
Vale lembrar que no crime continuado também se aplica o critério do concurso material benéfico, na hipótese em que a pena for superior àquela resultante do cúmulo material.
Isso ocorre por uma questão de coerência: se o critério da exasperação foi pensado como alternativa mais benéfica ao agente em relação ao cúmulo material, não há sentido em aplicá-lo nos casos em que o cúmulo material resulta, ao final, em uma pena mais branda. Logo, aplica-se o concurso material benéfico também no caso do crime continuado.
A aplicação da figura também ao crime continuado resulta de uma leitura extensiva in bonam partem do parágrafo único do art. 71, CP, que dispõe, in verbis:
“Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.” (Código Penal, grifo nosso)
Se fosse feita uma leitura restritiva desse dispositivo legal, ter-se-ia uma estranha situação em que a figura do concurso material benéfico só seria aplicável à modalidade mais grave do crime continuado, contida no art. 71, parágrafo único, CP. Entretanto, por uma questão de justiça material, se um benefício legal é previsto para a modalidade mais grave de uma figura jurídica, deve-se presumir que se aplica também à menos grave. Assim, a todo crime continuado é aplicável o concurso material benéfico, nos termos do já citado art. 71, parágrafo único, CP.
Causas de extinção da punibilidade
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de listar os objetos e as concepções gerais e específicas das causas de extinção da punibilidade.
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Extinção da punibilidade
Conceito
Como o próprio nome induz, punibilidade é o direito que o Estado tem de punir aquele que praticou uma conduta lesiva ao bem jurídico protegido.
Nessa perspectiva, a punibilidade não é elemento constitutivo do crime, mas consequência deste, dado que a punição seria o resultado natural para aquele que pratica uma ação típica, ilícita e culpável (BITENCOURT, 2017, p. 915). Todavia, podem existir causas que limitam o Estado de exercer o jus puniendi, mas que não extinguem a ação delitiva, visto que ela, de fato, lesionou bem jurídico relevante.
Assim sendo, estamos diante das causas extintivas de punibilidade elencadas no art. 107 do Código Penal. 
“
Extingue-se a punibilidade:
pela morte do agente;
pela anistia, graça ou indulto;
pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
pela prescrição, decadência ou perempção;
pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
(ART.107 DO CP)
Partindo disso, passa-se para uma análise específica das causas legais que resultam em extinção da punibilidade do agente. Destaca-se que, segundo a doutrina, o rol elencado no art. 107 do CP não é exaustivo, dado que existem outras causas presentes em outros dispositivos legais (2017, p. 915), como:
 o perdão judicial (arts. 121 § 5º; 129 § 8º, 180 § 3º; 181; e 348 § 2º do Código Penal);
 restitutio in integrum (art. 249 § 2º);
 os casos do art. 7º, § 2º, “b” e “e” do CP.
Análise de causas extintivas da punibilidade
Extinção da punibilidade pela morte do agente
O art. 107, I do CP prevê:
“Extingue-se a punibilidade:
 pela morte do agente”.
Nesse sentido, considera-se agente aquele que executou a conduta típica reprovada pela norma penal incriminadora.
Extingue-se a punibilidade, a qualquer tempo, quando este agente vier a óbito.
Dessa forma, não importa em qual fase processual ou pré-processual em que o agente tiver falecido, pois a causa de extinção de punibilidade impede o prosseguimento da ação.
O critério legal utilizado para aplicação dessa causa extintiva é a morte cerebral nos termos da Lei nº 9.434/97, que dispõe sobre os transplantes de órgãos (CAPEZ, 2012, p. 570). A partir desse momento, deve-se buscar a certidão de óbito emitida pelo Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, uma vez que apenas com a certidão em mãos estará comprovada a morte do agente, para, então, apresentar prova perante o juízo, para a apreciação do magistrado, após ouvido o Ministério Público, nos termos do art. 62 do CPP (2012, p. 570).
“
No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará extinta a punibilidade.
(ART.62 DO CPP)
A presente causa extintiva é de natureza personalíssima, isto é, a causa não comunicará os demais coautores ou partícipes da empreitada criminosa, ficando restrita apenas à figura do acusado que veio a óbito (CAPEZ, 2012, p. 571). Assim sendo, serão extintos todos os efeitos penais da sentença condenatória aplicados ao falecido.
Atenção!
Quando a causa extintiva ocorrer após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, apenas os efeitos penais se extinguirão, não afetando, portanto, os de caráter extrapenal. Desse modo, nada impede que possa ser executada a sentença penal condenatória, quanto à indenização, na esfera cível.
Além disso, vale adentrarmos no motivo pelo qual o legislador fundamentou a referida previsão normativa:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Art. 5 º, XLV da Constituição Federal de 1988
Nesses termos, a Constituição Federal trouxe a previsão do Princípio da Personalidade ou Individualização da Pena, segundo o qual a pena não deverá passar da pessoa do réu, incluindo também, neste caso, a hipótese da pena de multa (BITENCOURT, 2017, p. 916). Dessa forma, não podem os herdeiros do falecido responderem pelo crime cometido por este, inclusive se a pena for de multa.
Contudo, ressalta-se que este princípio tem sua aplicabilidade restrita à esfera penal, pois o espólio do condenado poderá ser objeto de ação civil para reparação de danos causados pelo delito executado pelo falecido, isto é, a obrigação de indenizar ser transmitida aos herdeiros, até os limites da herança
Anistia, graça e indulto
A causa excludente de punibilidade dos casos de anistia, graça e indulto estão previstas no inciso II do art. 107 do CP:
“Extingue-se a punibilidade:
II. pela anistia, graça ou indulto”.
Diante disso, é imprescindível diferenciarmos tais espécies de causas de exclusão da punibilidade.
Anistia
A primeira delas é a anistia, um ato legislativo de competência exclusiva da União (art. 21, XVII, da CF), emitido pelo Congresso Nacional (art. 48, VIII, da CF) e sancionado pelo chefe do Poder Executivo, que faz com que o Estado esqueça juridicamente um ilícito penal, tendo por objeto o fato criminoso imputado, em regra, e cunho político,militar ou eleitoral (BITENCOURT, 2017, p. 916).
Além disso, a anistia poderá ser concedida em momento anterior ou posterior à condenação penal, podendo ser total ou parcial. Destarte, esta causa extintiva extinguirá todos os efeitos penais da conduta tida como criminosa, inclusive se houver reincidência, permanecendo os efeitos extrapenais, quais sejam, a obrigação de indenizar que poderá ser perseguida na esfera cível. A doutrina penal classifica a anistia em 8 espécies (CAPEZ, 2012, p. 572-573), quais sejam:
Especial
É concedida para crimes políticos
Comum
É concedida para crimes não políticos
É concedida antes do trânsito em julgado.
Própria
É concedida antes do trânsito em julgado.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Imprópria
É concedida após o trânsito em julgado.
Geral/Plena
Refere-se apenas aos fatos, atingindo a todos os agentes (que cometeram o ilícito).
Parcial/Restrita
Refere-se aos fatos, contudo, exige o preenchimento de algum requisito específico.
Exemplo: anistia aplicável apenas aos réus primários.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Incondicionada
Não se exige a prática de nenhum ato específico como condição de sua aplicabilidade.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Condicionada
Exige-se a prática de ato específico como condição de aplicabilidade.
Exemplo: deposição de armas.
A Lei nº 8.072/90, à luz do disposto no art. 5º, XLIII da Constituição Federal, traz um rol taxativo dos crimes que não poderão ser objeto de anistia, por eles respondendo seus mandantes, executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. São eles:
Crimes hediondos 
Tortura
Tráfico de drogas e afins
Terrorismo
Uma vez concedida a anistia, não poderá ser revogada, dado que a lei posterior revogadora prejudicaria àqueles anistiados, violando, portando, o Princípio da Retroatividade (a contrário sensu) da lei penal mais benéfica, nos termos do art. 5º, XL da CF.
Graça
A graça, segundo a doutrina, tem por objeto os delitos comuns, dirigindo, de forma específica, um indivíduo determinado, condenado por sentença penal já transitada em julgado (BITENCOURT, 2017, p. 917).
Atenção!
A Constituição Federal de 1988 não mais a tem visto como um instituto autônomo, como a anistia, mesmo ainda estando prevista no atual Código Penal. Nesse sentido, na prática, ela tem sido utilizada como uma espécie de indulto individual, que será mais bem abordado à frente.
Ademais, conforme o art. 188 da Lei de Execuções Penais, poderá o condenado, o Ministério Público, o Conselho Penitenciário e a autoridade administrativa requererem a graça.
Indulto
Na linha do disposto no item anterior, o indulto, também chamado de “comutação da pena”, é uma causa que incide a um grupo/coletividade determinada de condenado, sendo delimitado, em regra, pela espécie de crime e quantidade de pena imposta, podendo variar conforme disposição legal. Nessa perspectiva:
Graça	
Na prática, é tida como uma espécie de indulto individual.
Indulto
Propriamente dito, é tido como indulto coletivo.
Como ambas as causas possuem as mesmas peculiaridades, elas se diferenciam apenas pelo número de beneficiados. A competência para concessão de ambas as causas de extinção da punibilidade é privativa do chefe do Poder Executivo, conforme o art. 84, XII da CF, podendo ser delegada à atribuição aos Ministros de Estado, ao procurador-geral da República ou ao advogado-geral da União.
Quanto aos efeitos, são atingidos desde que sejam os principais advindos da condenação, não recaindo sobre os efeitos secundários penais e extrapenais (CAPEZ, 2012, p. 574).
O condenado que receber o indulto, caso cometa novo ilícito penal, será considerado reincidente, uma vez que a causa extintiva não devolve a condição inicial de primariedade, podendo, inclusive, a sentença condenatória ser executada na esfera cível.
Na mesma linha da anistia, a graça e o indulto também não poderão incidir ao condenado por crimes hediondos, tortura, tráfico de drogas e afins, e terrorismo, por eles respondendo seus mandantes, executores e os que podendo evitá-los, se omitirem, conforme o art. 5º, XLIII da CF e o art. 2º da Lei nº 8.072/90.
Veja-se:
Art. 5 º, XLIII da CF
A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo os definidos como crimes hediondos.
Art. 2 º da Lei nº 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos
Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
 I - anistia, graça e indulto.
Retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso (abolitio criminis)
Segundo o disposto no inciso III, do art. 107 do CP, extingue-se a punibilidade pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso.
Caso haja ação penal em curso, esta não subsistirá; se condenado for o agente, a sentença condenatória será reincidida, não restando efeito penal, inclusive a reincidência. Dessa forma, com a abolitio criminis, o fato é tido como se não fosse crime, excluindo-se todos os seus efeitos.
Toda lei nova que descriminalize o fato praticado extingue o próprio crime.
Não se pode deixar de salientar que a anistia em momento algum se assemelha com o instituto do abolitio criminis. Vejamos:
Anistia
Recai sobre o fato criminoso, esquecendo-o no mundo jurídico, contudo, conservando-se a norma penal incriminadora.
Abolitio criminis
É o caso em que a figura criminosa é suprida pela própria lei, também extinguindo-se todos os seus efeitos penais.
Prescrição, decadência ou perempção
O art. 107, IV do CP dispõe: “Extingue-se a punibilidade pela prescrição, decadência ou perempção”. Nesse sentido, compete a este item, em linhas gerais, trazer os respectivos conceitos dessas três figuras.
Decadência
A causa extintiva da decadência está prevista no art. 103 do CP e art. 38 do CPP, que dispõem:
Art. 103 do CP: Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro do prazo de 06 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código (ação penal privada subsidiária da pública), do dia em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. (Art.. 103 do CP).
Art. 38 do CPP: Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29 (ação penal privada subsidiária da pública), do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. (Art. 38 do CPP).
Decadência é a perda do direito de promover a ação penal exclusivamente privada ou ação penal privada subsidiária da pública, ou, ainda, ação penal pública condicionada à representação (quando o ofendido deverá manifestar sua vontade), uma vez que o ofendido, ou seu representante legal, manteve-se inerte, excedendo o prazo legal para manifestação do interesse em processar o ofensor.
Atenção!
Mesmo a decadência estando elencada no rol das causas extintivas da punibilidade, ela, na prática, extingue o direito de promover a ação penal ou de oferecer representação, restando, como efeitos jurídicos, a impossibilidade de o Estado satisfazer o desejo de punir do ofendido.
Perempção
A causa extintiva da perempção tem previsão normativa no art. 60 do CPP, que diz:
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;
É concedida antes do trânsito em julgado.
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art.36;
É concedida antes do trânsito em julgado.
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
A perempção é a perda do direito de prosseguir com a ação penal privada.
É considerada uma sanção jurídica imposta ao querelante, uma vez que este se manteve inerte diante de atos necessários ou exerceu erroneamente o seu direito de ação, levando à presunção de desistência da ação. Nesse sentido, enquanto, na decadência, o direito de promover a ação é atingido, aqui, na perempção, é o direito de prosseguir com ela que é afetado.
Prescrição
A causa extintiva de punibilidade de prescrição é uma das mais importantes do rol do art. 107. O seu conceito diz que ela consiste na perda do direito de “poder-dever” que o Estado possui, diante do não exercício da pretensão punitiva (aplicação da pena), ou da pretensão executória (execução da pena) (CAPEZ, 2012, p. 592).
Vejamos:
Pretensão punitiva
Ocorre antes que a sentença condenatória transite em julgado.
Pretensão executória
Está ligada à extinção do direito de executar a pena imposta.
Renúncia ao direito de queixa e perdão aceito nos crimes de ação penal privada
O art. 107, V do CP dispõe: “Extingue-se a punibilidade pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada”.
A renúncia é o ato unilateral do ofendido (ou seu representante legal) de desistir do seu direito de iniciar a ação penal exclusivamente privada, que só poderá ocorrer antes do início da ação.
Segundo a doutrina, existem duas formas de renúncia (CAPEZ, 2012, p. 572):
Expressa
Diz respeito à declaração expressa de forma escrita pelo ofendido ou seu representante legal, ou ao defensor que, por meio de instrumento de mandato, possuir poderes especiais (art. 50 do CPP).
Tácida
O ofendido pratica algum ato incompatível com a vontade de promover a ação penal privada. Por exemplo, quando o ofendido é padrinho de casamento do ofensor.
O perdão do ofendido, segundo a doutrina, pode-se dar e ser aceito de diversas formas, conforme veremos a seguir:
	 	Formas de concessão do perdão		Formas de aceitação do perdão
	Processual	Nos autos da ação penal (sempre expresso);		Nos autos da ação penal;
	Extraprocessual		Fora dos autos da ação penal (pode ser expresso ou tácito);		Fora dos autos da ação penal;
	 Expresso	Declaração escrita assinada pelo ofendido 	Declaração escrita assinada pelo querelado, constando o aceite do perdão
	 Tácito	Prática de ato incompatível com a vontade de promover a ação penal contra o suposto ofensor.	Prática de ato incompatível com a vontade de recusar o perdão (pode ser processual ou extraprocessual).
Enquanto a renúncia ocorre antes do início da ação penal exclusivamente privada, o perdão do ofendido se dá após de iniciada a ação (após o oferecimento da queixa). Além disso, o perdão poderá ser realizado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, nos termos do art. 106, §2º do CP.
Retratação do agente
O inciso VI do art. 107 do CP prevê a extinção da punibilidade por intermédio da retratação do agente, nos casos em que a lei a admite. Nesse sentido, a legislação penal dispõe de algumas hipóteses, cuja retratação do autor do delito o exime de cumprir pena.
Segundo a doutrina, os casos elencados são os dos crimes de:
Assim, quando o réu se retrata, isto é, reconsidera a afirmação anterior que gerou um ilícito penal e, posteriormente, procura impedir que sua ação lesione bem jurídico tutelado, poderá ser imputado a este a causa de exclusão da retração do agente.
Calúnia
Difamação
Falso testemunho
Falsa perícia
Perdão judicial
Seu conceito se dá pela faculdade do magistrado de, nos casos previstos em lei, deixar de aplicar a sanção penal, em razão de circunstâncias excepcionais.
Atenção!
Não se pode confundir com o perdão do ofendido, pois, quanto a este, o ofendido que perdoa o suposto ofensor, ocorrendo apenas em ações penais exclusivamente privadas. Já no caso do perdão judicial, é o juiz que concede o perdão, deixando de aplicar a pena, sendo irrelevante a natureza da ação, contudo, limitada aos casos previstos em lei.
Com efeito, há hipóteses em que a legislação penal permite a incidência do perdão judicial. Desse modo, “hipóteses legais: o juiz só pode deixar de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em lei, quais sejam”:
Art. 121, § 5º, do CP
Homicídio culposo em que as consequências da infração atinjam o agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Art. 129, § 8º, do CP
Lesão corporal culposa com as consequências mencionadas no art. 121, § 5º.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Art. 140, § 1º, I e II, do CP
Injúria, em que o ofendido de forma reprovável provocou diretamente a ofensa, ou no caso de retorsão imediata consistente em outra injúria.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Art. 176, parágrafo único, do CP
De acordo com as circunstâncias o juiz pode deixar de aplicar a pena a quem toma refeições ou se hospeda sem dispor de recursos para o pagamento.
Art. 180, § 5º, do CP
Na receptação culposa, se o criminoso for primário, o juiz pode deixar de aplicar a pena, levando em conta as circunstâncias.
Art. 240, § 4º, do CP
No adultério, o juiz podia deixar de aplicar a pena se houvesse cessado a vida em comum; entretanto, mencionado dispositivo legal encontra-se atualmente revogado.
É concedida antes do trânsito em julgado.
Art. 249, § 2º, do CP
No crime de subtração de incapazes de quem tenha a guarda, o juiz pode deixar de aplicar a pena se o menor ou interdito for restituído sem ter sofrido maus-tratos ou privações.
Além disso, Lei das Contravenções Penais, existem dois casos:
Art. 8º
Erro de direito.
Art. 39, § 2º
Participar de associações secretas, mas com fins lícitos.
Imunidades absolutas e relativas
Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de categorizar as imunidades penais.
2
Extinção da punibilidade
Conceito de imunidade
Antes de adentrarmos no conceito de imunidade, é imprescindível que ressaltemos que a legislação penal será aplicada a todos aqueles que a infringirem, não importando questões referentes à raça, à cor, à etnia, à nacionalidade, aos privilégios econômico-sociais e afins, nos termos do art. 5º da Constituição Federal, em apreciação ao Princípio da Isonomia.
Todavia, o que vemos nas imunidades é que elas não estão ligadas às pessoas em si, mas aos seus cargos e funções eventualmente exercidas, tratando-se de não ser tida como uma garantia pessoal, mas uma prerrogativa funcional.
Assim, a doutrina ensina (CAPEZ, 2012, p. 98):
“
(...) os representantes diplomáticos de governos estrangeiros gozam de imunidade penal, não lhes sendo aplicável a lei brasileira em relação às infrações penais cometidas no Brasil. A Convenção de Viena, aprovada, entre nós, pelo Decreto Legislativo n. 103/64 e ratificada em 23 de fevereiro de 1965, tendo, portanto, força de lei, dispõe nesse sentido.
(CAPEZ, 2012, p. 98)
As imunidades podem recair para dois tipos de funções:
Esta é uma causa pessoal de exclusão de pena, uma vez que o agente imune não poderá ser processado em território estrangeiro e, consequentemente, não cumprirá pena no local. Aqui, não se trata de impunidade, mas do direito dos agentes diplomáticos de serem processados, julgados e condenados no país que eles representam. Todavia, essa imunidade poderá ser renunciada pelo Estado que o agente diplomático representa, não pelo próprio agente, em razão da natureza do instituto que visa proteger não a pessoa, mas o próprio Estado acreditante.
Diplomacia
A imunidade parlamentar, por sua vez, está ligada ao Poder Legislativo, razão pela qual serve como prerrogativa para o exercício do munus público com liberdade e independência funcional. Na mesma linha

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