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GESTÃO DA QUALIDADE AULA 5 Profª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Esta aula trará a você informações sobre a gestão da qualidade dos serviços. É muito comum se falar em gestão da qualidade de bens, e a maioria das ferramentas utilizadas para a análise e melhoria da qualidade foi criada nas e para as fábricas. Porém, cada vez mais o setor de serviços vem ganhando relevância no contexto socioeconômico do país e no mundo. Assim, é necessário conhecer as particularidades de serviços e como estabelecer qualidade em seus processos. Para tanto, você compreenderá o que são serviços e como eles se relacionam com a questão da qualidade. Vai entender também quais são as características mais relevantes dos serviços e que os diferenciam em relação à produção de bens. Conhecerá os vários tipos de serviços existentes e como a análise da qualidade de cada um deles se diferencia. Verificará que existem dimensões da qualidade específicas para os serviços, ou seja, a qualidade não é uma questão única para serviços assim como não é para os bens. Finalmente, você conhecerá três modelos, que são os mais citados na literatura voltada a essa área, para analisar a qualidade em serviços nas organizações. Com esta aula você, deverá ter a noção da relevância de se tratar serviços sob a ótica da qualidade. TEMA 1 – SERVIÇOS E QUALIDADE Nas últimas décadas, o setor econômico de serviços vem demonstrando um expressivo crescimento e responde, hoje, pela maior parcela do Produto Interno Bruto – PIB – de várias nações, incluindo o Brasil (IBGE, 2017). No entanto, ainda há uma dificuldade em se reconhecer que os métodos e ferramentas que foram criados essencialmente para o setor industrial, ou seja, para as fábricas, não são totalmente adequados para uso em serviços. Na verdade, é necessário desenvolver uma gestão da qualidade específica para esse setor. Meirelles (2006, p.127) ressalta essa questão ao comentar que se tratam “as atividades de serviço como uma categoria residual – um saldo decorrente da diferença entre o montante do valor total agregado na economia e o montante agregado nas atividades de indústria e agricultura”. Essa forma de compreender serviços conduz a “equívocos quanto às características essenciais dos serviços 3 e o seu papel na dinâmica econômica”, dificultando, portanto, sua gestão e sua inserção no contexto econômico-social. Assim, é indispensável entender o que sejam serviços, antes de se pensar em como gerenciar a qualidade destes. Nesse sentido, pode-se compreender serviço como um conjunto de atividades realizado para atender às necessidades de um determinado consumidor. Dessa forma, serviço é um produto, mas um produto que se distingue do bem, pois tem características específicas, que tornam sua produção e seu consumo diferentes em relação ao produto físico. Mas essa ainda é uma visão que compara serviços com bens. Figura 1 – Serviço Fonte: Truelfelpix/Shutterstock. De acordo com Toledo et al. (2014, p.176), conceituar serviço é complexo e existem várias definições disponíveis em bibliografia especializada, tais como: Serviço é qualquer ato ou desempenho que uma parte pode oferecer a outra e que seja essencialmente intangível. Sua produção pode estar vinculada a um bem físico. [...] serviço é uma atividade ou um conjunto de atividades de natureza mais ou menos intangível que, normalmente, acontece durante as interações entre clientes e empregados de serviços e/ou com recursos físicos e/ou com sistemas do fornecedor de serviços. [...] serviços são os resultados de pelo menos uma atividade desempenhada, necessariamente, pela interface entre o fornecedor e o cliente e é, geralmente, intangível. Dessas definições se compreende que um serviço estará relacionado a uma atividade, tem algum grau de intangibilidade, necessita de interface entre fornecedor e cliente e pode estar vinculado, mas não necessariamente, a um bem físico (Toledo et al., 2014, p. 177). Tais definições demonstram um maior grau de dificuldade de análise, de planejamento, e de produção, já que o serviço é imaterial, intangível e tem seu consumo acontecendo de forma simultânea com sua produção. 4 Assim como é complexo definir serviço, também é complexo definir qualidade em serviço, já que esta diz respeito à experiência que cada pessoa teve em relação à situação: se ela se sentiu satisfeita, se ela percebeu que o serviço agregou valor. Como cada situação é individual e depende da forma como se percebeu o serviço prestado, há uma maior complexidade na determinação do controle da qualidade em serviços. Dessa forma, o que fica claro é que se deve sempre considerar as necessidades dos clientes quando se trata de gestão da qualidade em serviços. Tais necessidades precisam ser conhecidas, entendidas e atendidas. É preciso considerar também que grande parte da insatisfação de clientes no que diz respeito aos serviços está relacionada à forma de tratamento recebida quando da interação entre a empresa e o cliente (Silva; Pansonato, 2020, p. 25). Vê-se aí a importância de entender como os serviços acontecem e como seus consumidores o recebem. Quanto mais conhecimento desse processo, maior será a facilidade em gerenciar sua qualidade. TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS DOS SERVIÇOS E DA QUALIDADE Ao buscar gerir a qualidade de um produto, é necessário observar que o termo produto é genérico e se refere tanto a bens quanto a serviços que satisfarão algum tipo de necessidade do consumidor. Os bens podem ser os entendidos como objetos físicos, que passam por um processo fabril e podem ser estocados ao final desse processo. Já os serviços são atividades realizadas para satisfazer a necessidade do cliente, mas não passam por um processo fabril nem podem ser estocados. Em especial, duas características distinguem a produção de um bem da produção de um serviço: a intangibilidade e a simultaneidade. Assim, é importante entender essas duas características. Quanto a simultaneidade, pode-se explicar essa característica observando que os serviços não podem ser estocados, pois são produzidos e consumidos ao mesmo tempo. O mais próximo que se chega da ideia de estoque em serviços é a espera do cliente, ou seja, a fila. Assim, em um serviço a operação acontece como um sistema produtivo aberto, em que se sofre todo o impacto das variações de demanda (Fitzsimmons; Fitzsimmons, 2014). Dessa forma, também se denomina essa característica por inseparabilidade, já que não se pode separar produção de consumo. 5 Tal inseparabilidade faz com que a qualidade do serviço dependa, em grande medida, da interação do cliente com o processo. Toledo et al. (2014, p.180) sugerem que a empresa treine o cliente, “dando-lhes informações sobre as tarefas que ele deve desempenhar e como realizá-las”. Assim se evitaria uma avaliação negativa do serviço somente pelo desconhecimento do cliente em relação ao processo. Mas essa não é a única dificuldade que se apresenta à gestão da qualidade em relação à simultaneidade, já que outra atividade importante, a inspeção, que não é possível de ser realizada de forma tradicional. Nesse sentido, a empresa deve investir em controle de processos para garantir a qualidade do serviço. A segunda característica, que distingue bem de serviço, é a intangibilidade, que diz respeito ao fato de o consumidor não poder tocar o produto adquirido, pois o serviço é imaterial, ou seja, não pode ser provado, tocado, sentido, ouvido ou cheirado antes de a experiência acontecer. Na verdade, de acordo com Toledo et al. (2014), há níveis distintos de intangibilidade nos produtos, desde aqueles totalmente tangíveis (um bem físico puro) até aqueles totalmente intangíveis (um serviço puro), passando por várias situações intermediárias, mais comuns, em que o consumidor tem acesso a ummix de bem + serviço. Exemplos são a compra de um carro, a ida a um restaurante, ou uma viagem aérea, todos com graus intermediários de intangibilidade. A intangibilidade traz dificuldades quanto à avaliação que o cliente pode fazer em relação à qualidade antes de adquirir o serviço, já que pode ser difícil demonstrar seus benefícios. Para Toledo et al. (2014, p. 179), uma possível estratégia de convencimento seria fornecer evidências ao consumidor “que facilitariam a percepção da qualidade do serviço”. Mas há pontos positivos, por exemplo, a facilidade em criar novos serviços ou trazer melhorias aos já existentes, de forma rápida e barata, quando se compara à criação ou à melhoria de bens físicos. 6 Figura 2 – Características do serviço Fonte: Visual Generation/Shutterstock. Outras características que podem ser citadas quanto aos serviços são a heterogeneidade, ou seja, dois serviços nunca serão iguais, pois cada consumidor terá uma experiência diferente, mesmo que o serviço, em tese, seja o mesmo; a perecibilidade, pois, já que um serviço não pode ser estocado, ele precisa ser consumido no momento da produção; e a não propriedade do serviço pelo consumidor, pois quando se adquire um serviço, se tem somente o direito de recebê-lo (Fitzsimmons; Fitzsimmons, 2014). No que se refere à heterogeneidade, pode-se compreender facilmente que cada serviço é um serviço único, mesmo que padronizado, pois ele depende de quem o executa, de onde está sendo executado e de quem o está recebendo. Tal variabilidade pode ser atribuída, segundo Toledo et al. (2014, p. 180), “à forte influência do fator humano no processo de produção do serviço”. Para reduzir essa variabilidade e tentar manter um padrão, as empresas têm investido na automatização dos seus serviços, utilizando, para tanto, de equipamentos, tecnologias e sistemas que substituem a mão de obra humana. Há também a possibilidade de padronização do atendimento, muito comum em redes de fast-food, por exemplo, em que se seguem procedimentos predeterminados. Se, por um lado, reduzir a variabilidade aumenta o controle, por outro lado, diminui a possibilidade de customizar o serviço. Ao se manter a heterogeneidade, é possível alavancar uma vantagem competitiva em relação ao serviço, já que este poderá se adaptar a nichos específicos de mercado. A perecibilidade, uma característica ligada à simultaneidade, não diz respeito somente a serviços; ela pode ser encontrada também em bens físicos. 7 Mas ela é mais difícil de gerenciar nas atividades de serviço porque os serviços nunca podem ser estocados. Isso gera dificuldade no equilíbrio entre oferta e demanda, já que não é possível usar de estratégias de uso de estoques para atender à demanda. Para Toledo et al. (2014), encontrar o ponto ótimo entre a oferta e a demanda é fundamental para ter condições de atender desde o excesso de demanda até a falta dessa. Não atender a grandes demandas pode fazer com que se percam clientes, e baixa demanda pode resultar em altos custos para a empresa. Todas as características precisam ser bem definidas pelas empresas que oferecem os serviços para que não sejam geradas dificuldades ainda maiores do que as preexistentes na gestão da qualidade dos serviços em questão. TEMA 3 – TIPOLOGIA DOS SERVIÇOS E DA QUALIDADE Existem as mais variadas formas de se oferecer serviço, e cada uma delas terá também uma maneira de tratar as questões da qualidade. Para melhor compreender os serviços e como tratá-los, é possível lançar mão de uma matriz que os classifica com base em duas dimensões: o volume e a variedade. O volume diz respeito à quantidade de consumidores que podem ser atendidos por unidade de prestação de serviços. Já a variedade depende de uma série de fatores, que são: Foco em pessoas ou equipamentos: depende se os serviços são mais baseados em pessoas ou em equipamentos. Os primeiros são mais flexíveis e sujeitos à variabilidade. Os processos baseados em equipamentos são mais adequados à padronização. Grau de contato com o cliente: refere-se ao envolvimento do cliente na prestação do serviço. As operações de alto grau de contato estão sujeitas a maior variabilidade, menor produtividade e controle mais difícil. As operações de baixo contato são mais previsíveis e possuem maior controle e produtividade. Grau de personalização do serviço: depende da possibilidade de adequar ou não o serviço às necessidades específicas de cada cliente. Grau de autonomia: refere-se à autonomia dos colaboradores em atender as necessidades específicas e resolver problemas dos clientes. Foco no produto ou no processo: depende se a oferta ao cliente se aproxima mais de um serviço puro ou da manufatura. Ênfase na linha de frente ou na retaguarda: as operações de alto contato com o cliente são chamada de linha de frente (front office), e as de baixo contato são chamadas de retaguarda (back office), devendo ser gerenciadas de formas diferenciadas. Refere-se a se a prestação do serviço ocorre mais na linha de frente ou na retaguarda. (Toledo et al., 2014, p. 182) 8 De acordo com o cruzamento dessas dimensões, é possível criar uma matriz que categoriza os serviços em quatro tipos distintos: a fábrica de serviços, a loja de serviços, os serviços de massa e os serviços profissionais. Figura 3 – Matriz de categorização de serviços Fonte: Fitzsimmons; Fitzsimmons, 2014, p. 25. Explicando cada um desses tipos, Toledo et al. (2014) relatam que a Fábrica de serviços oferece serviços com pouca intensidade de trabalho e baixo grau de customização, podendo então atender um número razoável de clientes, já que seus serviços são razoavelmente padronizados. Assim, a expectativa é receber serviços em conformidade com esse padrão. A Loja de serviços, por sua vez, atende também um número razoável de clientes, mas seus serviços são baseados no atendimento pessoal e em processos que utilizam de equipamentos. Nesse caso, os clientes estão preocupados tanto com o resultado do serviço quanto com o processo de atendimento em si. Os Serviços de massa acontecem, como o próprio nome demonstra, para um grande número de clientes ao mesmo tempo e com um baixo grau de 9 personalização dos serviços, ou seja, os serviços são padrão para todos os clientes. Nesse caso, espera-se que não haja diferenciação entre clientes. Já os Serviços profissionais podem ser caracterizados pelo alto grau de interação com os clientes, num processo baseado em cada um desses clientes, gerando uma expectativa de personalização dos serviços. Nesse sentido, possuem uma maior complexidade, o que resulta num número pequeno de clientes atendidos por vez. (Toledo et al., 2014). Cada um desses tipos de serviço terá analises referentes à sua qualidade que serão distintas. Também é importante observar que essa é uma possível classificação, que deve ser tomada de forma flexível, já que há outras várias possíveis formas de tipificar serviços e, por consequência, de gerenciá-los. Figura 4 – Tipos de serviços Fonte: Macrovector/Shutterstock; Amitali/Shutterstock; Kakigori Studio/Shutterstock; Unitone Vector/Shutterstock. Também é necessário prestar atenção em uma outra tipificação, a dos sistemas de prestação de serviços. É possível dividir a prestação de serviços em duas partes distintas, aquela na qual existe interação direta do cliente com a 10 empresa e aquela na qual não existe essa interação. A primeira diz respeito à linha de frente, ou front office, e a segunda é denominada de retaguarda, ou back office. A qualidade do serviço oferecida ao cliente depende tanto do front office quanto do back office, já que, embora o contato se dê na linha frente, a retaguarda atua como uma espécie de suporte que oferece serviços internos à linha de frente. TEMA 4 – DIMENSÕES DA QUALIDADEEM SERVIÇOS Assim como o conceito de qualidade, de um modo geral, é difícil de precisar, quando se fala em qualidade em serviços, essa dificuldade aumenta significativamente. Isso porque, de um modo geral, a qualidade de um serviço é subjetiva; a percepção do que seja qualidade muda de pessoa a pessoa. Dessa forma, também é necessário distinguir a qualidade em serviços em diferentes dimensões, de forma parecida com o que Garvin (2002) faz para conceituar qualidade de bens. Uma forma de trabalhar com essas dimensões é agrupá-las por similaridade, de acordo com suas características e sua contribuição para a qualidade dos serviços. Nesse sentido, Toledo et al. (2014) apresentam nove dimensões distintas que podem ser analisadas para a qualidade em serviços, de acordo com a Figura 5. 11 Figura 5 – Dimensões da qualidade em serviços Fonte: Toledo et al., 2014, p. 188. Toledo et al. (2014) comentam que essas dimensões podem ser utilizadas como critérios de avaliação da qualidade do serviço, já que dizem respeito a uma série de situações em que os clientes demonstram estarem ou não satisfeitos com aquilo que lhes é oferecido. Assim, é necessário compreender o que cada uma dessas dimensões significa. Para tanto, Toledo et al. (2014, p. 188-189) descrevem-nas assim: Consistência: representa a capacidade da empresa em repetir o processo de prestação, e consequentemente seu resultado, isento de grandes variações. Assim, cria-se um padrão de atendimento que resulta na conformidade dos serviços produzidos. É importante relembrar que a consistência é um fator determinante para se conseguir a fidelidade do cliente (expectativa de experiência passada) Tempo de atendimento: refere-se à habilidade da empresa em atender seus clientes no tempo apropriado. Os clientes são colocados em situações altamente estressantes quando são obrigados a esperar demasiadamente pelo atendimento, o que contribui para a formação de uma imagem negativa. Em contrapartida, para alguns serviços, a rapidez de atendimento pode ser interpretada como um fator negativo. Atmosfera: esta dimensão não se preocupa com o fator tempo, mas com a cordialidade do atendimento. Nos serviços de alto contato, principalmente, a amabilidade, a educação e a presteza dos empregados são fundamentais para dar segurança e prazer ao cliente. Canais de atendimento: avaliam a facilidade que o cliente tem para entrar em contato com a empresa de serviço. As possibilidades de acesso são amplas, não se restringindo à própria presença do cliente na empresa, podendo ser efetuada através de contato telefônico, serviços de entrega e sistemas informatizados. Custo: corresponde ao gasto financeiro do cliente ao adquirir o serviço. 12 Tangíveis: Propiciam o fornecimento de evidências físicas do serviço ou do sistema de operações (instalações físicas, equipamentos, pessoal e outros consumidores). Segurança: como os clientes sentem um alto risco ao comprar um serviço, essa dimensão representa a capacidade da empresa em baixar essa percepção de risco e habilidade de transmitir confiança aos consumidores. Competência: consiste na habilidade e no conhecimento da empresa de serviços. Geralmente, esse critério é bastante valorizado pelo cliente, que busca no fornecedor um know-how de que não dispõe. Esse critério tem um peso maior na avaliação dos serviços prestados por consultorias, escritórios jurídicos e assistência médica, oficinas de reparos, etc. Flexibilidade: representa a habilidade de adaptar-se rapidamente a novas configurações ambientais, como mudanças nas necessidades dos clientes, a introdução de inovações tecnológicas no processo e nos estilos de gerenciamento. Um aspecto importante dentro dessa dimensão é a flexibilidade de recuperação de erros. Mas há na literatura pertinente a ideia de que se pode observar características específicas de qualidade sob outros aspectos também. Mondo e Fiates (2013), por exemplo, trazem dez dimensões distintas da qualidade em serviços, que seriam elementos percebidos pelos clientes e confrontados com suas expectativas. Baseados no estudo de Parasuraman, Berry e Zeithaml (1985) sobre a qualidade em serviços, os autores descrevem essas dez dimensões da seguinte forma: a acessibilidade indica o fácil acesso de contato (localização, horários, comunicação); já a comunicação está relacionada com manter os clientes informados sobre os serviços, numa linguagem que eles possam entender; a competência está relacionada com as habilidades necessárias para prestar o serviço; a cortesia envolve tratar os clientes com respeito, educação, consideração e cordialidade; a credibilidade implica ser confiável e honesto; a confiabilidade de um serviço envolve cumprir com o que foi prometido, nos termos em que foi prometido; a prestatibilidade compreende a demonstração de vontade em prestar o serviço; a segurança refere-se à tentativa de livrar os clientes de perigos, riscos ou dúvidas nos âmbitos: físico, financeiro e confidencial; os aspectos tangíveis são representados pela evidência física do serviço; e o conhecimento do cliente implica nos esforços para compreender as necessidades dos clientes. (Mondo; Fiates, 2013, p.4), É importante ressaltar que cada serviço pode apresentar dimensões da qualidade distintas. Assim, faz-se necessário analisar cada organização e cada serviço oferecido por essas organizações de acordo com suas especificidades, seja em relação ao seu setor de atuação, seja em relação aos seus diferentes tipos de clientes. 13 TEMA 5 – MODELOS DA QUALIDADE EM SERVIÇOS No intuito de trabalhar a gestão da qualidade em serviços de forma mais consistente, surgiram, ao longo do tempo, alguns modelos para a mensuração da qualidade. Atualmente é possível identificar três tipos de modelos que se sobressaem tanto no uso quanto na análise de literatura pertinente. Esses modelos são o Servperf, o Servqual e o modelo de Grönroos. O modelo proposto por Grönroos, em 1984, trata da qualidade do serviço com base no resultado da comparação entre o serviço esperado e o serviço percebido por quem o consome, associando essas duas dimensões à imagem da organização que produz o serviço. Assim, a qualidade em serviços deveria ser mensurada sob a ótica das dimensões: qualidade técnica, qualidade funcional e imagem. De acordo com Mondo e Fiates (2013, p. 5), cada uma dessas dimensões poderia ser observada da seguinte forma: a qualidade técnica é a qualidade do que consumidor realmente recebe como resultado da interação com a empresa de serviços e o que é importante para o consumidor na avaliação da qualidade do serviço. A qualidade funcional é como o consumidor recebe o resultado técnico. E a imagem é considerada importante para as empresas de serviços, pois influencia consideravelmente na escolha do consumidor, sendo assim pode-se considerar que ela é criada pela qualidade técnica e pela qualidade funcional, além de outros fatores: tradição, ideologia, política de preços, reputação e relações públicas. Figura 6 – Modelo de qualidade do serviço Fonte: Grönroos, 1984, p. 40. 14 O serviço esperado pode sofrer influência das mais diferentes variáveis, tais como as necessidades dos consumidores, suas experiências anteriores em relação ao serviço a ser adquirido, as políticas de vendas da organização, entre outras atividades tradicionais de marketing que as empresas costumam utilizar. Já o serviço percebido depende da experiência vivenciada com a aquisição do serviço. Grönroos (1984) conclui que o nível de qualidade percebida no serviço é determinado pelo nível da qualidade técnica e da qualidade funcional e pelas diferenças que existem entre o serviço esperado e o experimentado. O autor, no entanto, alerta que, se as expectativas dos consumidores forem baixas, a qualidade percebida também serábaixa mesmo que a qualidade experimentada seja adequada. Assim, conforme Silva (2014, p. 34), “o processo de avaliação da qualidade do serviço feita pelo cliente é em função das suas expectativas (qualidade esperada) e de sua percepção do serviço (qualidade experimentada)”. Um segundo modelo bastante conhecido e utilizado pelas organizações é o Servqual, desenvolvido em 1988, por Parasuraman, Zeithaml e Berry. Os autores definem cinco dimensões da qualidade e, com base nelas, propõe uma escala de medição da qualidade em serviço, denominada de Service Quality Gap Analysis (Servqual). Conforme Oliveira (2014, p. 79), esse método avalia a satisfação do cliente em relação ao serviço adquirido “em função da diferença entre a expectativa e o desempenho obtido”. As dimensões consideradas para a escala são a confiabilidade, a tangibilidade, a segurança, a empatia e a responsabilidade. A ferramenta em si se constitui por um questionário com 22 perguntas a serem respondidas por meio de uma escala Likert de sete pontos. O questionário possui duas seções, uma referente às expectativas do cliente e outra referente à percepção em relação ao serviço adquirido. “A operacionalização da escala é feita pelo cálculo da diferença entre as percepções de desempenho e as expectativas de serviço. Para cada par de itens obtém-se um índice, que é definido como a diferença entre o serviço percebido e o serviço desejado” (Mondo; Fiate, 2013, p. 6). Esse índice é denominado de Medida da Superioridade do Serviço (MSS). Quanto maior for o MSS, maior é a superioridade do serviço. 15 Figura 7 – Escala Likert Fonte: Jan Engel/Shutterstock. Um terceiro modelo reconhecido para a análise da qualidade em serviços é o Servperf, desenvolvido em 1992 por Cronin e Taylor. Os autores analisaram que o modelo Servqual era inadequado para as suas necessidades e, por conseguinte, desenvolveram seu próprio modelo, justificando-o ao afirmar que “a qualidade é considerada uma atitude do cliente face às dimensões de qualidade, e que não deve ser medida com base em um modelo de satisfação, isto é, a qualidade não resulta da diferença entre as percepções e as expectativas”. (Silva, 2014, p. 32). Dessa forma, os autores desenvolveram uma ferramenta parecida com o Servqual na medida em que se utilizam também de um questionário com as mesmas 22 perguntas utilizadas no modelo anterior, mas disponibilizando somente as questões de percepção em relação ao serviço adquirido, abordando apenas o desempenho real. Mondo e Fiates (2013, p. 7) nos trazem uma crítica importante em relação aos modelos de análise da qualidade em serviços ao observar que esses modelos são estáticos, ou seja, eles verificam a qualidade em um determinado ponto do tempo, sem considerar questões dinâmicas relevantes, tais como a expectativa de mudanças e a história do serviço. Assim, afirmam que “os principais modelos de qualidade em serviços utilizados parecem carecer de flexibilização dependendo do tipo, característica e profundidade do serviço analisado” e propõe que desenvolver “ferramentas específicas, levando em conta indicadores e metodologia dos modelos hegemônicos pode ser considerada uma boa saída para esta questão”. 16 FINALIZANDO Nesta aula, você pode ter acesso a algumas informações importantes sobre a gestão da qualidade em serviços. Mas, para entender sobre a questão a qualidade, primeiro você teve conhecimento sobre o que são serviços e qual sua importância no contexto econômico atual. Você conheceu as principais características que distinguem os bens dos serviços, tais como a intangibilidade, a simultaneidade, a heterogeneidade, a perecibilidade. Também pode compreender que os serviços são distintos e podem ser agrupados em tipos tais como a fábrica de serviços, a loja de serviços, os serviços em massa e os serviços profissionais. Conheceu também várias dimensões da qualidade específicas para os serviços, tais como a consistência, o tempo de atendimento, a atmosfera, os canais de atendimento, o custo, a segurança, a competência, a flexibilidade. Finalmente, você pôde verificar a existência de três modelos distintos de análise da qualidade em serviços, que são os mais citados na literatura voltada a essa área. Ao concluir essa aula, você pôde ter uma noção da importância de se estender a gestão da qualidade aos serviços. 17 REFERÊNCIAS FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégia e tecnologia de informação. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. GARVIN, D. A. Gerenciando a qualidade: a visão estratégica e competitiva. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. GRÖNROOS, C. A service quality model and its marketing implications. European Journal of Marketing, v. 18, n. 4, p. 36-44, 1984. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Anual de Serviços 2017. Rio de Janeiro: IBGE, 2017. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/150/pas_2017_v19_infor mativo.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2021. MEIRELLES, D. S. e. O conceito de serviço. Revista de Economia Política, v. 26, n. 1, p. 119-136, jan.-mar. 2006. MONDO, T. S.; FIATES, G. G. S. Os modelos de qualidade em serviços: mapeamento da produção científica de alto impacto para a área de administração no Brasil até 2012, motivo de preocupação para os pesquisadores de marketing? In: XXXVII ENCONTRO DA ANPAD, Anais... Rio de Janeiro, 7- 11 set. 2013. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_MKT1991.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2021. OLIVEIRA, O. J. Curso básico de gestão da qualidade. São Paulo: Cengage Learning, 2014. SILVA, R. A. da; PANSONATO, R. C. Custos, riscos e indicadores da qualidade. Curitiba: Contentus, 2020. SILVA, S. C. P. da. Avaliação da qualidade de serviço numa organização de saúde privada em Lisboa. Dissertação (Mestrado em Gestão) – Instituto Universitário de Lisboa. Lisboa, 2014. TOLEDO, J. C. de et al. Qualidade: gestão e métodos. Rio de Janeiro: LTC, 2014. Conversa inicial Esta aula trará a você informações sobre a gestão da qualidade dos serviços. É muito comum se falar em gestão da qualidade de bens, e a maioria das ferramentas utilizadas para a análise e melhoria da qualidade foi criada nas e para as fábricas. Porém,... FINALIZANDO Nesta aula, você pode ter acesso a algumas informações importantes sobre a gestão da qualidade em serviços. Mas, para entender sobre a questão a qualidade, primeiro você teve conhecimento sobre o que são serviços e qual sua importância no contexto eco... REFERÊNCIAS
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