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W BA 05 23 _V 2. 0 GESTÃO DE PRODUÇÃO 2 Michele Lisboa Silveira São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2022 GESTÃO DE PRODUÇÃO 1ª edição 3 2022 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Head de Platos Soluções Educacionais S.A Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Charlie Hudson Turette Lopes Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Silveira, Michele Lisboa Gestão de produção / Michele Lisboa Silveira. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022. 32 p. ISBN 978-65-5356-173-1 1. Gestão de produção. 2. Sistemas de produção. 3. Controle da produção. I. Título. 3. Técnicas de speaking, listening e writing. I. Título. CDD 658.5 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 010289/O S587g © 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Sistemas de produção: características e tipologias __________ 08 Planejamento e Controle de produção: Diferentes horizontes de planejamento ________________________________________________ 22 Planejamento de projetos ____________________________________ 36 Logística empresarial ________________________________________ 48 GESTÃO DE PRODUÇÃO 5 Apresentação da disciplina Seja bem-vindo à disciplina Gestão de produção. Aqui faremos uma abordagem ampla sobre o gerenciamento de diferentes sistemas de produção. O Tema 1 traz uma discussão sobre a natureza dos sistemas produtivos que ofertam bens e serviços. Além disso, os sistemas produtivos discretos e contínuos também são analisados para compreendermos o motivo de em alguns casos ser interessante produzir de forma puxada, ou seja, a partir da encomenda do cliente, ou, em outros casos, sob produção empurrada, isto é, ofertar os produtos de acordo com previsões de demanda. O Tema 1 traz ainda uma discussão importante sobre os princípios da manufatura enxuta, na qual o Sistema Toyota de Produção ficou reconhecido pelas melhores práticas, evitando desperdícios nas linhas de produção. Nesse sentido, são apresentadas ferramentas aplicáveis para as indústrias modernas, como troca rápida de ferramentas, relacionamento de parceria entre fornecedores, gestão à vista, redução de lotes econômicos, entre outras práticas voltadas para a otimização da produção. Finalizando, apresentamos uma técnica recente e pouco aplicada no Brasil, denominada Quick Response Manufacturing (QRM), cujo objetivo é reduzir o lead time em sistemas produtivos. Após conhecer os diferentes sistemas produtivos, é importante definir o planejamento e o controle da produção, que atua em diferentes prazos, indo desde o planejamento estratégico no desenvolvimento de um negócio até o acompanhamento e o controle da produção, etapa final em que um produto é fabricado. 6 O Tema 2 apresenta uma análise sobre a definição de missão e valor empresariais, além de direcionar a tomada de decisões nas estratégias corporativa e competitiva. Em seguida, são apresentadas atividades a longo e médio prazos, como a definição do Plano de Produção e do Planejamento Mestre da Produção. No curto prazo, são apresentadas as atividades de programação da produção e acompanhamento e controle da produção. O Tema 2 também inclui a aplicação do MRP (Materials Resource Planning), cujo objetivo é planejar a produção de acordo com a necessidade de materiais. Apresenta ainda diferentes técnicas de controle de estoques, como o controle por revisões periódicas ou por revisões contínuas. O Tema 3 é direcionado para os sistemas de produção discretos por projetos, isto é, sistemas de produção puxados a partir da encomenda de clientes específicos. São apresentadas as técnicas do caminho crítico, conhecidas como Critical Path Method (CPM) e Program Evaluation and Review Technique (PERT), com seu detalhes, permitindo conhecer as atividades gargalos dos projetos. Sendo assim, esforços devem ser direcionados a fim de que essas atividades sejam concluídas em tempo hábil. Visando à integração de todas as atividades de um sistema produtivo, o Tema 4 aborda a importância da logística empresarial. É importante conhecer as diferenças entre logística e cadeia de suprimentos, além de identificar a utilização de sistemas de informação para promover a integração entre todos os responsáveis pela concepção e pela entrega de produtos e serviços aos clientes finais. Nesse contexto, são apresentadas as atividades-chave e secundárias da logística. 7 Devido à extensão das atividades logísticas, surge uma discussão importante, que é a terceirização. Nesse sentido, o Tema 4 propõe ainda reflexões sobre as vantagens e as desvantagens dos operadores logísticos terceirizados. Nós o convidamos a ler a Leitura Digital, acompanhar as videoaulas, praticar os exercícios e ouvir o podcast. Bons estudos! 8 Sistemas de produção: características e tipologias Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Analisar os tipos e as características dos sistemas de produção. • Compreender os princípios de produção enxuta. • Apontar as características da abordagem Quick Response Manufacturing (QRM). 9 1. Introdução Os sistemas de produção são um conjunto de elementos que, juntos, permitem a produção de produtos e serviços. Em um sistema de produção ocorre um processo de transformação de um conjunto de entradas, que são transformadas em produtos ou serviços finais. Alguns autores, como Slack, Brandon-Jones e Johnston (2018), utilizam a nomenclatura input – transformação – output. Não devemos limitar as entradas dos sistemas produtivos pensando somente em matéria-prima, mão de obra, equipamentos e capital. Existem inúmeras entradas, como as entradas externas, que incluem influências sociais, econômicas e tecnológicas, e as entradas de mercado, ou seja, a concorrência e os desejos do cliente. Além do sistema geral com entradas, transformações e saídas, é possível desdobrar os processos de transformação em subníveis, como subprocesso, tarefa e atividade. Por exemplo, em uma fábrica de roupas, o processo é a transformação do tecido em camisa pronta; os subprocessos são funções como corte, bordado e costura; a tarefa está relacionada à ação de um funcionário – a tarefa dos inspetores é verificar a qualidade; enquanto a atividade é o trabalho real, ou seja, o ato realizado por um funcionário específico. Isso significa que a tarefa de dois inspetores pode ser a mesma, mas um pode realizar a tarefa em menos tempo que o outro. Quanto às saídas dos sistemas de produção, estas não se limitam a produtos ou serviços. É importante pensar em diferentes saídas como: resultados financeiros obtidos pelas remunerações e pelos salários; influência do produto sobre o mercado consumidor; impostos arrecadados pelo governo; resíduos e poluição gerados nas linhas de produção; avanços tecnológicos; atividadesde alcance comunitário; entre tantos outros. 10 E qual a importância de conhecer detalhadamente os sistemas de produção? A estratificação de um processo produtivo possibilita identificar atividades desnecessárias que não impactam valor direto para os clientes. Essas atividades, conhecidas como desperdícios, consomem os recursos das empresas, sendo importante eliminá-las ou atenuá-las. Logo, é importante compreender a função de cada elemento do sistema de produção, priorizando aqueles que geram valor. 2. Classificação dos sistemas de produção Os sistemas produtivos são classificados de diferentes formas, como veremos a seguir. 2.1 Pela natureza do produto: bens ou serviços Neste caso, os bens e serviços podem ser tangíveis e intangíveis, respectivamente. Um grande volume de bens tangíveis é produzido todos os dias, como automóveis, eletrodomésticos, roupas, alimentos, produtos de limpeza e eletrônicos. Similarmente, os serviços, que são produtos intangíveis, parecem intermináveis, pois são todos os serviços de que usufruímos, como educação, coleta de lixo, assistência médica, serviços bancários, transporte, hospedagem, internet, entre tantos outros. 2.2 Pelo grau de padronização dos produtos: sob medida ou padronizados Os produtos sob medida são aqueles desenvolvidos para um cliente específico. Como o sistema produtivo espera a manifestação dos clientes para definir os produtos, estes não são produzidos para estoque, e, portanto, trata-se de uma produção puxada. 11 De acordo com Batalha (2009), a produção desses itens é conhecida como produção unitária, ou seja, o produto final é único e requer alto lead time (pode ser definido como o tempo decorrido desde o pedido feito pelo cliente até a entrega deste). Como exemplos podemos citar a fabricação de máquinas, ferramentas, construção civil, alta costura, entre outros. Quanto aos serviços, podemos pensar em restaurantes, taxis, projetos arquitetônicos, clínicas médicas etc. Os produtos padronizados caracterizam-se pela uniformidade, ou seja, pelas características idênticas para um grande número de produtos. Com relação aos processos de transformação, também são padronizados, formados por máquinas, mão de obra, materiais e métodos de trabalho específicos. Nesse sentido, é comum a busca pela economia de escala, que consiste em utilizar da existência de custos fixos para obter uma redução dos custos variáveis unitários à medida que o volume de produção aumenta. Esses sistemas produtivos são submetidos à produção empurrada, ou seja, disponibilizada para o mercado, sendo a quantidade de oferta e a definição de estoques fundamentadas em previsões de demanda. Os produtos padronizados podem passar por pequenas, médias e grandes séries. A produção em pequenas e médias séries é realizada em volumes médios, por meio de lotes de produção, que variam de produto a produto. O lead time desses lotes ou pedidos é potencialmente inferior quando comparado com os produtos sob encomenda. Indústrias de máquinas e ferramentas, motores, redutores e equipamentos agrícolas são exemplos de produção em pequenas e médias séries. Por fim, a produção em grandes séries é realizada em grandes volumes, com lead times individuais muito baixos. Há pouca diversificação de produtos e alta repetitividade de produção. Indústrias de alimentos, químicas e de derivados de petróleo são exemplos de produção em grandes séries. 12 2.3 Pelo fluxo de produção: contínuo ou discreto No fluxo de produção contínuo, os produtos não podem ser identificados separadamente e a produção é uniforme, ou seja, os processos são interdependentes. Essa característica está associada à automação de processos, ou seja, não há flexibilidade nas linhas produtivas. Cervejarias, refinarias de petróleo e empresas de fornecimento de energia elétrica são exemplos de processos contínuos (BATALHA, 2009). Classificam-se como sistemas de produção discretos aqueles nos quais os produtos são passíveis de serem isolados em lotes ou unidades. Esse processo subdivide-se em processo por projeto, processo repetitivo em massa e processo repetitivo em lotes, como detalhado a seguir. 2.3.1 Processo por projeto Possui muitas das características da produção unitária, ou seja, dos produtos sob medida, como ligação exclusiva com o cliente. Sendo assim, os recursos produtivos deverão ser flexíveis. 2.3.2 Processo repetitivo em massa É um processo adotado para altos volumes de produção e produtos altamente padronizados. Normalmente, o sistema produtivo é pouco flexível, como um abatedouro de aves. 2.3.3 Processo repetitivo em lotes É um processo utilizado para produzir uma ampla variedade de produtos não padronizados e customizáveis. Nesse caso, a sequência de operações necessárias à fabricação varia de produto para produto e geralmente a produção é feita em grandes lotes, visando diminuir os 13 tempos de preparação das máquinas. Esse sistema exige flexibilidade, alcançada utilizando-se equipamentos universais e mão de obra polivalente. Assim, é possível atender diferentes quantidades de produtos. Há ainda uma subdivisão da produção em lote, podendo ser do tipo job shop ou flow shop. Nos sistemas job shop, o layout utilizado é o funcional, ou seja, diferentes setores fabricam produtos diversificados. A variedade de produtos é grande e o volume de produção é de médio para baixo. O fluxo de produção é intermitente e irregular, o que resulta em altos lead times. Já a produção flow shop assume algumas das características da produção contínua em massa, apesar de ser um processo discreto. Nesse subsistema, o layout usado é em linha, ou seja, etapas sequenciais de produção. Os produtos não são muito diversificados e geralmente são agrupados em famílias, devido ao fato de possuírem operações de produção similares. O volume de produção é alto, com respectivo lead time unitário pequeno. 3. Produção enxuta Os princípios da manufatura enxuta surgiram por volta de 1950, quando aplicada pelo Sistema Toyota de Produção (STP). Trata-se de uma estratégia para organizar e gerenciar os relacionamentos de uma empresa com os clientes, a cadeia de fornecedores, o desenvolvimento de produtos e as operações de produção. O termo enxuto está relacionado à redução de esforço, equipamentos, máquinas, espaço etc. A manufatura enxuta busca a eliminação total das perdas, reduzindo os custos. Os sete tipos de desperdícios foram criados por Ohno, o principal idealizador do STP, e são conhecidos como: 14 1. Excesso de produção: decorrente de produção realizada antecipadamente à demanda. 2. Espera: materiais em espera nos sistemas produtivos. 3. Transporte: não agrega valor ao produto, sendo necessário devido às instalações fabris. 4. Excesso de processamento: operações desnecessárias, não agregam valor. 5. Movimento: excesso ou inconsistência de movimentos nas operações de fábrica. 6. Produtos defeituosos: problemas de qualidade implicam desperdício de materiais, mão de obra, disponibilidade de equipamentos, movimentação de materiais defeituosos, entre outros. 7. Estoques: representam desperdício de tempo e espaço. Além de buscar evitar os sete desperdícios, a manufatura enxuta prioriza a utilização de lotes econômicos, aqueles que reduzem os custos totais associados aos estoques. Os custos totais com estoques compreendem os custos diretos, os custos de preparação e os custos de manutenção dos estoques. De acordo com Tubino (2015), a redução dos lotes econômicos apresenta as seguintes vantagens: • Produção em fluxo contínuo, eliminando os desperdícios de superprodução. • Redução do lead time produtivo e adequação às demandas. • Giro rápido dos estoques e utilização de programação puxada. • Identificação de problemas no fluxo e na qualidade do sistema produtivo. 15 Outra abordagem da manufatura enxuta é a troca rápida de ferramentas (TRF), que pode ser entendida em quatro passos sequenciais, conforme descrito por Tubino (2017).1. Identificar as atividades de setup interno (realizadas com a máquina parada) e externo (realizadas enquanto a máquina opera) e eliminar as desnecessárias (aquelas que não possuem nenhuma relação com o setup). Para compreender uma atividade desnecessária, considere a espera para que uma empilhadeira traga um molde de aço para ser trocado, quando esse molde já deveria estar ao lado da máquina em posição para a troca. Após eliminar as atividades desnecessárias, é preciso separar setup interno e setup externo. 2. Converter as atividades de setup interno em externo. Transformar as atividades internas (realizadas com máquina parada) em atividades externas, ou seja, com a máquina funcionando. Um exemplo seria o aquecimento externo de matrizes que serão submetidas a algum processo de fabricação que requeira altas temperaturas, como fundição. 3. Simplificar e melhorar o setup. Para obter melhorias no setup, as seguintes ações são recomendadas: • Usar operações paralelas: utilizar mais de um colaborador em casos que exijam grandes esforços. Por exemplo, enquanto um colaborador coloca a peça na máquina, o outro faz a limpeza. • Usar sistemas de colocações finitas: manter as máquinas reguladas. 16 • Empregar fixadores rápidos: manter as dimensões corretas e padronizadas, facilitando o posicionamento de peças nas máquinas. • Eliminar a tentativa e o erro: padronização de atividades. 4. Se possível, eliminar o setup. Neste caso, conforme proposto por Tubino (2017), é preciso responder à seguinte pergunta: Como produzir itens diferentes sem promover o setup nas máquinas? Para isso, é preciso criar projetos de produtos inteligentes, como aqueles que utilizem menos componentes. Outro ponto seria utilizar a produção em células, definindo funções específicas para cada setor de produção. Também se recomenda a padronização de ferramentas, que possam ser utilizadas em um único setup, porém processando diferentes grupos de produtos. Outra abordagem importante da manufatura enxuta é manter relacionamentos de longo prazo com fornecedores, ao contrário de relacionamentos convencionais, em que existem múltiplos fornecedores para um mesmo item. Nesse tipo de relacionamento convencional, não ocorre o compartilhamento de informações de forma estratégica e competitiva, e a qualidade de fornecimento não está assegurada à quantidade de fontes. Sendo assim, é preciso desenvolver relacionamentos de longo prazo com fornecedores, priorizando a exclusividade de fornecimento e a garantia da demanda. Os princípios da manufatura enxuta são utilizados pelas empresas atuais, embora exista a ideia de que as melhorias propostas por essa filosofia sejam aplicadas somente em sistemas de produção com pouca variedade de produção. Nesse sentido, a filosofia apresentada a seguir indica técnicas de controle para sistemas produtivos cujo foco é a produção de vários tipos de produtos. 17 4. QRM A filosofia de produção Quick Response Manufacturing (QRM) foi desenvolvida em 1998 por Rajan Suri com o objetivo de reduzir o lead time em sistemas produtivos. Ela busca a redução do lead time ao longo de toda a cadeia de produção, abordando aspectos operacionais, internos e externos. Um ponto importante é que muitos sistemas de produção utilizam estoques para reduzir o lead time, principalmente em sistemas produtivos com pouca variedade de produtos. Entretanto, este não é o objetivo do QRM, que prioriza reduzir o lead time mesmo quando se produz uma alta variedade de produtos. Utiliza-se o termo Manufacturing Critical-path Time (MCT), que significa tempo do caminho crítico para a manufatura. Trata-se do tempo medido em dias corridos (incluindo finais de semana e feriados) desde a criação de uma ordem, passando pelo caminho crítico, até o momento em que pelo menos uma peça da ordem é entregue ao cliente (BATALHA, 2009). O QRM trabalha com os cartões POLCA, que funcionam da seguinte forma: a fábrica recebe um pedido e trabalha com um sistema denominado HL/MRP, responsável pela autorização e pela liberação da produção. O HL/MRP tem as seguintes características: • Utiliza lead time das células. • As datas planejadas são datas de início das tarefas, denominadas datas de autorização. • O operador de uma máquina somente inicia a produção se for autorizada pelo HL/MRP e se existirem matéria-prima e cartão POLCA. 18 Para melhor compreensão, recomenda-se a leitura do exemplo criado por Suri (1998 apud CHINET; GODINHO FILHO, 2014) de uma fábrica de placas de identificação personalizada (esse artigo pode ser consultado na lista de referências). Nesse exemplo, tem-se um sistema de produção dividido em quatro células: impressão, fabricação, montagem e expedição. Os autores Chinet e Godinho Filho (2014) explicam que a produção das placas terá início somente se ocorrer autorização pelo HL/MRP e existirem matéria-prima e um cartão POLCA. Na Figura 1, é possível observar os fluxos dos cartões POLCA. Nessa situação, temos um roteiro que inicia de L1 para Z2, passa para a montagem M4 e em seguida para T1, e assim será expedido. Essa ordem passa pelos loops do cartão POLCA com os pares L1/Z2, Z2/M4 e M4/T1. Figura 1 – Fluxo do cartão POLCA Fonte: Suri (1998 apud CHINET; GODINHO FILHO, 2014, p. 533). 19 De acordo com a Figura 1, o QRM pode ser entendido da seguinte forma: • A tarefa inicia em L1 com a disponibilidade de matéria-prima e cartão POLCA L1/Z2. • Após operações na célula L1, a tarefa e o cartão POLCA L1/Z2 seguem para o pulmão de entrada Z2. • Quando o cartão Z2/M4 chega a Z2, a tarefa é iniciada na célula Z2. Nesse momento, Z2 possui dois cartões POLCA: L1/Z2 e Z2/M4. • Quando a tarefa Z2/M4 é completada, o cartão L1/Z2 é devolvido para o início de L1 e a tarefa é encaminhada para M4 junto com o cartão Z2/M4. • O processo se repete na célula de montagem M4, sendo necessário um cartão M4/T1 para iniciar a tarefa nessa célula. • Quando a tarefa M4 finaliza, segue para a entrada de T1, enquanto o cartão Z2/M4 volta para a célula Z2. • T1 é a última célula e, portanto, não terá cartão POLCA. Sendo assim, a tarefa pode ser lançada em T1 sempre que estiver preparada para iniciar uma tarefa. • Quando a tarefa T1 finalizar, o cartão M4/T1 volta para M4, concluindo o trajeto dos cartões POLCA para uma ordem de produção. O QRM também trata sobre a variabilidade, que pode ocorrer nos tempos de serviço, nos tempos entre chegadas, no nível de qualidade, entre outros, o que torna o lead time maior. Para o QRM, existem dois tipos de variabilidade: 20 • Variabilidade ocasionada pela má gestão de recursos: quebra de máquinas, problemas de qualidade, entre tantas outras. De acordo com o QRM, essa variabilidade deve ser eliminada. • Variabilidade estratégica: está relacionada com fornecer a real variedade para os clientes. É necessária e muitas vezes é a principal fonte de vantagem competitiva da empresa. O QRM reconhece isso e traz ferramentas que conseguem tratar essa variabilidade. Esta é uma das principais diferenças entre QRM e Lean Manufacturing, que objetiva eliminar todos os tipos de variabilidade. 5. Conclusões O conhecimento dos sistemas produtivos permite traçar estratégias para otimizar todas as operações de uma empresa. É preciso compreender detalhadamente as entradas, os processamentos e as saídas de um sistema de produção, buscando a melhoria contínua. Na gestão da produção, algumas filosofias como Manufatura enxuta e QRM são importantes e, quando adotadas pelas organizações, geram resultados, como redução de custos e do lead time de produção, sincronização de células produtivas, além de atendimento em prazos satisfatórios dos pedidos dos clientes. Referências BATALHA, M. O. (coord.). Gestão da Produção e Operações. São Paulo: Atlas, 2009. CHINET, F. S.; GODINHO FILHO, M. Sistema Polca: revisão, classificação e análise da Literatura. Gest. Prod., [s.l.], v. 21, n. 3, 2014. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A. l.; JOHNSTON,R. Administração da Produção. 8. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2018. 21 SURI, R. Quick response manufacturing: a companywide approach to reducing lead times. Portland: Productivity Press, 1998. TUBINO, D. F. Manufatura enxuta como estratégia de produção: A chave para a produtividade industrial. São Paulo: Atlas, 2015. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 22 Planejamento e Controle de produção: Diferentes horizontes de planejamento Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Compreender as etapas do Planejamento e Controle da Produção a longo, médio e curto prazos. • Demonstrar a aplicação de ferramentas de programação da produção. • Apresentar modelos de controle de estoques por revisão contínua ou periódica. 23 1. Introdução O horizonte de planejamento de um sistema produtivo pode ser entendido como um conjunto de etapas a serem seguidas, conforme representado pela Figura 1. Figura 1 – Horizontes de Planejamento Fonte: elaborada pela autora. De acordo com a Figura 1, o Planejamento e o Controle da Produção atuam em diferentes prazos, que vão desde o planejamento estratégico no desenvolvimento de um negócio até o acompanhamento e o controle da produção, etapa final em que um produto é fabricado. 2. Planejamento estratégico O planejamento estratégico busca a melhoria dos resultados organizacionais. Para que isso aconteça, é preciso controlar os riscos existentes na tomada de decisões a longo prazo. Programação da produção 24 Uma ferramenta comumente aplicada é a análise SWOT (strengths– forças, weaknesses–fraquezas, opportunities – oportunidades, threats– ameaças). Essa técnica permite avaliar o ambiente externo, que são as oportunidades e as ameaças, e o ambiente interno, que são as forças e as fraquezas (BRUGNOLO, 2018). A partir dos resultados da matriz SWOT, é indispensável traçar planos de ação contra as fraquezas e as ameaças, bem como buscar intensificar as forças e as oportunidades. O planejamento estratégico é dividido em quatro etapas, definidas a seguir. 2.1 Definição da missão e da visão corporativas Quando uma empresa divulga sua missão, define de forma objetiva qual é o negócio atual. Já a visão está associada a um objetivo de expansão a longo prazo. O planejamento estratégico está associado aos diferentes interessados no negócio, como acionistas, funcionários, clientes, fornecedores etc. Isso significa que a missão e a visão, ainda que associadas a longo prazo, dependem do ambiente e do contexto de atuação das empresas (BRUGNOLO, 2018). De maneira geral, a missão é o propósito do negócio, que deverá ser planejado para atender às necessidades dos clientes. Já a visão é uma meta de longo prazo que demonstra a intensidade de expansão que a organização deseja alcançar. Para que a missão e a visão sejam coerentes com o negócio planejado, é preciso traçar estratégias com diferentes objetivos: estratégias corporativa, competitiva e funcional, definidas a seguir. 2.2 Estratégia corporativa A estratégia corporativa é o modelo de decisões de uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas; produz as principais políticas e planos para atingir essas metas; e define o escopo 25 de negócios que a empresa vai adotar, o tipo de organização econômica e humana que ela é ou pretende ser e a natureza da contribuição econômica e não econômica que ela pretende fazer para seus acionistas, funcionários, clientes e comunidades (MINTZBERG, 2011). Isso significa que a estratégia corporativa indica as áreas de atuação de uma empresa. Por exemplo, a Unilever atua em diversos segmentos, como higiene, beleza, alimentos e bebidas. Quando uma organização define o portfólio de produtos, deverá planejar como serão destinados os recursos da corporação a fim de suprir a demanda de cada um dos itens ofertados. Considerando-se que uma empresa planeja trabalhar com produtos de naturezas distintas, a estratégia corporativa deverá unir os propósitos dos vários nichos em um mesmo objetivo. Para que isso aconteça, é preciso que as unidades de negócio sejam colaborativas, e assim o resultado final poderá ultrapassar a soma de resultados individuais. 2.3 Estratégia competitiva Para terem um posicionamento bem-sucedido, as empresas devem oferecer uma proposição de valor que ultrapasse o que suas concorrentes podem oferecer (DRANOVE; MARCIANO, 2016). Sendo assim, a estratégia competitiva deve ser realizada na unidade de negócios, definindo como a organização vai competir no mercado. Essa competição pelo mercado pode ser direcionada para os seguintes objetivos: liderança de custos, diferenciação e focalização. Na liderança de custos, busca-se a produção com o menor custo possível. Consequentemente, os menores preços de venda estão associados a maiores volumes vendidos. Esse tipo de estratégia é bem aplicado em sistemas produtivos contínuos e em massa, uma vez que a produção em grande escala permite a redução de custos. Os produtos de tais sistemas produtivos permitem maior experiência devido à 26 padronização, bem como a automatização dos processos, o que viabiliza a liderança em custos. Quando a estratégia adotada é de diferenciação, é preciso que o produto ofertado tenha características específicas, que serão valorizadas pelos clientes. Esse tipo de estratégia prioriza a qualidade do produto. Isso significa que deverão ser direcionados esforços para uma imagem atrativa da marca, oferta de assistência técnica, entrega pontual, entre outros pontos que de fato tornarão o produto diferenciado. Consequentemente, a empresa pode trabalhar com uma maior margem de lucro. Os processos repetitivos em lotes permitem aplicação de tal estratégia, afinal esse sistema permite produzir uma ampla variedade de produtos não padronizados e customizáveis. Por fim, tem-se a estratégia competitiva de focalização, aplicada a produtos sob encomenda, por exemplo. Nessas situações, a empresa deverá focar suas habilidades em determinado grupo de clientes e assim atendê-los com exclusividade. 2.4 Plano de Produção Ainda no planejamento a longo prazo, o Plano de Produção direciona os recursos produtivos para as estratégias adotadas. De acordo com Tubino (2017), os períodos de planejamento são de meses ou trimestres, abrangendo um ou mais anos para frente. Nessa etapa, são definidas, por exemplo, a capacidade de produção da empresa e a estruturação do setor de compras e são tomadas decisões sobre estoques, buscando entender quais critérios de controle podem ser adotados. Para colocar a estratégia em prática, buscam-se recursos humanos, máquinas e instalações. Isso significa que o Plano de Produção representa a materialização das estratégias anteriores. Destaca-se que, para implementar tais estratégias, é preciso que os setores de finanças e 27 marketing (que está trabalhando com previsão de vendas, por exemplo) atuem em conjunto. 3. Planejamento Mestre de Produção Na fase do planejamento mestre de produção, ocorre uma análise sobre a capacidade produtiva a médio prazo. Sendo assim, é preciso validar a capacidade do sistema produtivo para atender às demandas futuras. Após a validação, é possível desmembrar as estratégias anteriores, colocando-as em prática. Essa função inicial conecta o longo e o médio prazos. A outra função do planejamento mestre de produção é implementar uma tática para o curto prazo. Portanto, define-se a quantidade de produto acabado a ser produzida e tem-se uma conexão entre o médio e o curto prazos. Para que essa fase seja realizada, é indispensável a presença de diversos membros do sistema produtivo, como: • Manufatura: fornece subsídios para a tomada de decisão e adota a estratégia do resultado do planejamento mestre da produção, denominado Plano Mestre de Produção (PMP). • Finanças: responsável pela coordenação dos custos com compras, estoques, horasextras, manutenção de instalações, equipamentos etc. • Marketing: divulgará os planos de vendas e previsão de demanda para os períodos analisados. • Engenharia: informações sobre tempo e consumo de materiais para a realização das tarefas. 28 • Produção: definirá limitações de capacidade e instalações. • Compras: informará suas necessidades referentes à logística de fornecimento externo. • Recursos Humanos: plano de contratação e treinamento de pessoal etc. 4. Programação da produção Essa fase consiste na programação de curto prazo. Atividades como administração dos estoques, sequenciamento, emissão e liberação de ordens de fabricação e montagem são realizadas pela programação da produção. Como essa fase é sequencial ao planejamento mestre da produção, já existem projeções de quantidades a serem fabricadas, e, portanto, na programação da produção é preciso tomar decisões sobre quanto e quando comprar, além de programar a montagem de itens necessários para que produtos acabados sejam entregues. Para que não ocorram problemas de capacidade na realização da programação de produção, é preciso que as etapas anteriores tenham sido corretamente realizadas. Isso significa que, desde o Plano de Produção, os recursos necessários já deveriam ter sido providenciados, enquanto o planejamento mestre da produção foi responsável por programar uma produção viável, com a colaboração de diferentes responsáveis por todo o sistema produtivo. Sendo assim, a programação da produção estará apta a sequenciar as ordens emitidas a fim de obter menores lead times (tempo de processamento) e estoques no sistema. 29 4.1 Materials Resource Planning (MRP) Para que a programação da produção seja executada, é comum a utilização de softwares MRP (Manufacturing Resource Planning ou planejamento das necessidades dos materiais). O MRP busca uma programação da produção eficiente, sincronizando ordens de produção, com foco no controle de estoques. Fornece a programação específica para materiais, peças e componentes, que devem ser encomendados ou produzidos (JACOBS; ROBERT; CHASE, 2012). O MRP é utilizado para planejar os níveis de estoques e, assim, dispara uma rotina na qual as necessidades líquidas de produção são supridas por lotes padrões. Na prática, é um software para programação de materiais, que trabalha com as seguintes informações: • Tamanho do lote econômico: dimensionar o lote com menores custos totais. Tais custos estão associados aos custos de aquisição, manutenção e preparação dos estoques. • Necessidade diária: programar, conforme definições do Plano Mestre de Produção, as necessidades de fabricação. • Dimensionar estoques de segurança: necessários para suprir variações de tempo de entrega dos fornecedores e variabilidades na demanda. O MRP parte do pressuposto de que a demanda de itens componentes de produtos acabados é dependente. Por exemplo, para produzir uma bicicleta, são necessários dois pneus; sendo assim, existe uma dependência entre as matérias-primas, ou seja, precisa-se do dobro de pneus para produzir um determinado número de bicicletas. Dessa forma, o MRP inicia o planejamento pensando no produto final, e ocorre um desdobramento para calcular a necessidade bruta dos itens dependentes. Começa-se pelos componentes de nível superior e desce de nível até chegar às matérias-primas (TUBINO, 2017). 30 O MRP pode ser entendido como um fluxograma com etapas de planejamento, conforme representado pela Figura 2. Figura 2 – Fluxograma MRP Fonte: elaborada pela autora. De acordo com a Figura 2, tem-se o seguinte planejamento: • Liberação de ordens no Plano Mestre da Produção + demanda adicional–recebimento programado–estoque inicial = estoque final. • Em seguida, tem-se um ponto de decisão para avaliar se o estoque final é menor do que o estoque de segurança. Em caso afirmativo, calcula-se: estoque de segurança–estoque final = necessidade líquida. 31 • Em seguida, a ordem será liberada. • Voltando ao ponto de decisão, caso o estoque final seja maior do que o estoque de segurança, não há emissão de ordem de fabricação, e, portanto, a necessidade líquida é igual a zero. 4.2 Modelos de controle de estoques O controle de estoques pode ocorrer por revisões contínuas ou periódicas. Na revisão contínua, determina-se o Ponto de Pedido, ou seja, uma quantidade de unidades em estoques a partir da qual ocorrerá um pedido de compra ou fabricação, conforme representado no Gráfico 1. Nesse caso, tem-se uma revisão contínua do estoque, que é monitorado para ser reabastecido sempre que o nível está em 30 unidades. Quando o MRP emite uma ordem de compra ou fabricação, o fornecedor demora um tempo para entregar o pedido. Esse tempo é denominado Lead Time, representado por LT no Gráfico. Observe que, quando é feita a entrega, o estoque é reconstituído, atingindo um valor máximo, conforme solicitado no pedido de compra. 32 Gráfico 1 – Controle de estoques por revisões contínuas Fonte: elaborado pela autora. Conforme apresentado no Gráfico 1, a revisão por ponto de pedido permite o controle contínuo para a reposição das unidades estocadas. Sendo assim, ocorre uma antecipação dos pedidos, considerando o tempo de entrega necessário. Quando a ordem de compra ou fabricação é emitida, existe um tempo hábil até a chegada de um novo lote. Logo, a produção opera sem ser interrompida por falta de peças em estoque. Outra forma de controlar os estoques ocorre por revisões periódicas. Nesse caso, controla-se a quantidade de itens em estoque em função do tempo. De acordo com Tubino (2017), enquanto o modelo de controle contínuo por ponto de pedido trabalha no eixo Y (quantidade em estoque), repondo estoques à medida que o nível ultrapassa a quantidade do ponto de pedido, o modelo por revisões periódicas controla o eixo X (que indica o tempo). 33 No Gráfico 2, temos um exemplo de controle de estoques por revisões periódicas. De acordo com as indicações do gráfico, tr é o tempo entre revisões e LT é o lead time correspondente ao tempo de entrega do fornecedor. De acordo com o Gráfico 2, sempre que o nível de estoques “passar” pela linha que limita os períodos entre revisões (t r ), deverá ser providenciada uma reposição (Q), que levará determinado tempo de ressuprimento (LT) para chegar e recompor os níveis de estoque. Isso significa que a cada 21 dias é emitido um pedido de compra ou fabricação para os fornecedores, correspondendo o tempo médio de entrega a aproximadamente 10 dias. Gráfico 2 – Controle de estoques por revisão periódica Fonte: elaborado pela autora. 34 5. Acompanhamento e controle da produção Esta é a fase final do ciclo de planejamento. Neste momento, é inviável realizar alterações na programação da produção. Sendo assim, o acompanhamento e o controle consistem na verificação de desempenho de todas as atividades planejadas anteriormente. É comum a utilização da gestão visual, de modo que toda a equipe tenha conhecimento dos índices de produção, dos níveis de estoques, dos lead times do processo produtivo, entre outras informações importantes. Nessa etapa, também é indispensável que ocorra o controle de qualidade das saídas do sistema produtivo. 6. Considerações finais O Planejamento e o Controle da Produção utilizam diversas ferramentas para traçar e cumprir os objetivos de uma organização. É preciso planejar estratégias a longo prazo, bem como programar e controlar a produção. Em processos de fabricação, é preciso gerenciar os estoques, uma vez que estão associados a custos de aquisição, manutenção e preparação. Sendo assim, o PCP utiliza softwares para controle de estoques. As revisões podem ser periódicas ou contínuas, dependendo de fatores como variabilidade nos tempos de entrega dos fornecedores, previsões de demanda, entre outros fatores que influenciam no armazenamento de produtos. 35 Referências BRUGNOLO, M. F. Gestão estratégica de negócios. São Paulo: Saraiva, 2018. DRANOVE,D.; MARCIANO, S. Estratégia. São Paulo: Saraiva, 2016. JACOBS, B.; ROBERT, F.; CHASE, R. Administração de operações e da cadeia de suprimentos. Porto Alegre: Grupo A, 2012. MINTZBERG, H. O Processo da Estratégia. Porto Alegre: Grupo A, 2011. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 36 Planejamento de projetos Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Compreender as principais características de projetos. • Apresentar as técnicas do caminho crítico: PERT (Program Evaluation and Review Technique – Técnica de avaliação e revisão de programas) e CPM (Critical Path Method – Método do caminho crítico.) • Resolver um problema do caminho crítico de acordo com o tempo de duração das atividades. 37 1. Introdução De acordo com o Project Management Institute (PMI, 2021), um projeto é um empreendimento temporário realizado de forma progressiva para criar um produto ou serviço único. Ele passa por diferentes fases, que vão desde as etapas de início, passam pela execução, até serem finalizadas. Os projetos são realizados para atender a empreendimentos de diversas naturezas, para a construção civil, desenvolvimento de produtos, implantação de melhorias em sistemas, entre outros objetivos. Sendo assim, têm características unitárias, isto é, são desenvolvidos com exclusividade para determinado cliente, diferentemente do que acontece com produtos manufaturados, que podem ser fabricados de forma repetitiva em massa, lotes ou ainda de forma contínua. O desenvolvimento de projetos tem como objetivo a conclusão dentro de um prazo e de um orçamento preestabelecido. Para que isto ocorra, existem diferentes métodos de gerenciamento de projetos, como as técnicas de caminho crítico, que serão trabalhadas neste Tema. 2. As técnicas do caminho crítico As técnicas do caminho crítico representam a execução de projetos por meio de uma rede, também chamada de grafo, a fim de explicitar a relação de dependência entre atividades. O Critical Path Method (com), que em português quer dizer método do caminho crítico, foi desenvolvido em 1957, com o objetivo de planejar e controlar a velocidade de construção de uma das fábricas da Du Pont, que se tornou referência na fabricação de explosivos e ficou conhecida como a primeira corporação norte-americana moderna de produção. 38 O método do caminho crítico foi criado diante da necessidade de reduzir a duração de um projeto, o que poderia ser feito por meio da utilização de uma quantidade maior de recursos, priorizando formas econômicas. Portanto, trata-se de uma análise simultânea da duração e do custo do projeto, fenômeno que ficou conhecido como Time-Cost Trade-Off Problem. Em 1958, surgiu uma outra técnica do caminho crítico, denominada Program Evaluation and Review Technique (PERT), que significa Técnica de Avaliação e Revisão de Programas. Essa técnica foi desenvolvida com o objetivo de auxiliar no planejamento de projetos submarinos atômicos. O PERT e o CPM possuem semelhanças. No entanto, o PERT controla o tempo no projeto, assumindo que a duração das atividades é uma variável aleatória, enquanto o CPM busca gerenciar projetos com foco no tempo e no custo. 3. Construção de uma rede PERT O primeiro passo para a aplicação da técnica PERT é definir as atividades do projeto e a relação de dependência entre elas. Para o nível operacional, as atividades de um projeto deverão ser desdobradas em subatividades. Depois de definir as atividades que compõem um projeto, é preciso estabelecer uma relação de dependência entre elas. Assim, cada atividade estará associada a suas antecessoras, ou seja, aquelas que devem estar concluídas para iniciar a atividade em questão. Para entender melhor, considere o projeto de trocar uma lâmpada queimada. No Quadro 1 são apresentadas as atividades desse projeto. 39 Quadro 1 – Atividades do projeto: troca de lâmpada Atividade Descrição Dependência A Providenciar uma lâmpada nova - B Desligar o disjuntor A, C C Posicionar a escada no local - D Retirar a lâmpada queimada B E Inserir a lâmpada nova D F Religar o disjuntor E G Descartar a lâmpada queimada D H Retirar a escada E Fonte: elaborado pela autora. De acordo com os dados apresentados no Quadro 1, é preciso conhecer a relação de dependência entre as atividades. Por exemplo, antes de desligar o disjuntor, uma lâmpada nova e uma escada devem já ter sido providenciadas. De acordo com Tubino (2017), o próximo passo para a construção da rede de um projeto é a elaboração da rede de eventos, conforme representado pela Figura 1. Figura 1 – Elementos da rede de um projeto Fonte: elaborada pela autora. Na rede de eventos representada pela Figura 1, os vértices do grafo (ou nós) indicam o início ou o fim de uma ou mais atividades. As setas são utilizadas para direcionar os eventos, representando as atividades do projeto. (CONTADOR, 2010). 40 Para construir uma rede de eventos, devemos observar os princípios a seguir: 1. Princípio da dependência: uma atividade, que sempre tem origem em um evento (simbolizado por nó), depende, para ser iniciada, da conclusão de todas as atividades que têm seu término nesse evento. 2. Princípio da não ocorrência de braços paralelos: se n atividades têm origem em um mesmo nó da rede, então elas devem necessariamente convergir para exatamente n nós distintos da rede; caso contrário, originarão braços paralelos, o que não é permitido. 3. Princípio da enumeração crescente: os eventos da rede devem ser numerados de forma que, para toda atividade da rede, seu evento início receba um número inferior àquele atribuído ao evento fim. Os nós são numerados da esquerda para a direita e de cima para baixo. 4. Princípio da unicidade da origem e do destino: a rede deve possuir um único evento inicial (de onde devem nascer todas as atividades iniciais do projeto – atividades que não possuem antecessoras) e um único evento terminal (para onde devem convergir todas as atividades finais do projeto – atividades que não possuem sucessoras). 5. Princípio da utilização da atividade fictícia: é necessário utilizar atividades fictícias, ou seja, fantasmas, para garantir a observação dos princípios anteriores. Uma atividade fictícia se caracteriza por possuir duração e custo iguais a zero. A Figura 2 apresenta um exemplo da utilização de atividades fictícias. Como o início e o fim das atividades A e B coincidem, a representação à esquerda não é correta. Assim, recomenda-se a criação de uma atividade fictícia Z, conforme representado na figura à direita. 41 Figura 2 – Representação de atividades fictícias: a) forma incorreta e b) forma correta Fonte: elaborada pela autora. Agora que já conhecemos os princípios para a construção de uma rede PERT, vamos compreender a aplicação da técnica. Considere os dados da Tabela 1, que correspondem ao diagrama de rede da Figura 3. Tabela 1 – Dados para a construção do grafo Atividade Dependência Nós Duração (dias) X - 1-2 5 Y - 1-3 3 Z X 2-4 4 W Y 3-4 2 K Y 3-5 7 U Z e W 4-6 4 T K 5-6 2 Fonte: elaborada pela autora. 42 Figura 3 – Diagrama de rede Fonte: elaborada pela autora. De acordo com a rede apresentada na Figura 3, existem eventos únicos que marcam o início e o fim do projeto. Nesse caso, há os nós 1 e 6, respectivamente. Como as atividades X e Y não dependem de nenhuma outra atividade, são elas que iniciam o projeto no nó 1. As atividades U e T marcam o fim do projeto no nó 6. Observe que na Figura 3 são apresentadas frações próximas aos nós. O numerador indica o chamado Cedo do evento, enquanto o denominador indica o Tarde. De acordo com Tubino (2017), Cedo de um evento é o tempo necessário para a realização do evento caso não ocorram atrasos nas atividades anteriores. A seguir são demonstrados os cálculos dos Cedos, cujos resultados aparecem nos numeradores das frações indicadas na Figura 1. Para o nó1, o valor do cedo é igual a 0, pois é o início do projeto. O nó 2 é subsequente da atividade X; logo, o valor de Cedo2 = 5, que corresponde à soma: 0 + 5 = 5. 43 Prosseguindo com os cálculos, tem-se que o nó 3 depende apenas da conclusão da atividade Y, e, portanto, Cedo3 = 0 + 3 = 3. Agora vamos observar o nó 4, que só inicia quando as atividades Z e W estiverem concluídas. Nesse caso, deve-se escolher o maior valor da soma dos dois caminhos: (5 + 4 = 9) ou (3 + 2 = 5). Portanto, Cedo4 = 9. Para o nó 5, tem-se a soma das atividades procedentes. Portanto, Cedo5 = 7 + 3 = 10. Para finalizar com o valor do Cedo6, devemos escolher o maior resultado das seguintes somas: (9 + 4 = 13) e (10 + 2 = 12). Logo, Cedo6 = 13. Procedendo com os cálculos, agora vamos identificar os denominadores das frações que aparecem próximos aos nós. Sendo assim, calcula-se o chamado Tarde de um evento. De acordo com Tubino (2017), esse valor é calculado pela subtração do Tarde do evento aonde a atividade chega do valor do seu tempo de execução. Convenciona-se que o Tarde do evento final (nó 6) é igual ao valor do Cedo nesse nó, e, portanto, tem-se a fração 13/13. Para calcular os Tardes de toda a rede, inicia-se o procedimento a partir do nó 6 até chegar ao nó 1. Para obter o valor do Tarde no nó 5, é preciso subtrair o valor do Tarde6 pela duração da atividade T; logo, tem-se: (13–2 = 11). Para o nó 4, procede-se da mesma forma, ou seja: (13–4 = 9). Para o nó 3, ocorre uma particularidade, afinal as atividades W e K partem desse nó. Sendo assim, é preciso escolher o menor valor entre os dois caminhos: (11–7 = 4) e (9–2 = 7). Portanto, o Tarde3 é igual a 4. Para o nó 2, o procedimento é simples: (9–4 = 5). Finalmente, para o nó inicial, como seria esperado, dado que se convencionou que o Cedo6 = Tarde6, o Tarde1 = 0, sendo o menor valor entre (5–5 = 0) e (4–3 = 1). 44 Observe que, para concluir o projeto, existem diferentes caminhos (1-2- 4-6), (1-3-4-6) e (1-3-5-6), tendo cada um deles um tempo de realização decorrente da soma dos tempos das atividades que fazem parte desse caminho. A técnica PERT-CPM busca calcular o caminho critico, isto é, aquele que tem maior tempo de conclusão. Sendo assim, o objetivo principal de todos esses cálculos é encontrar o valor do caminho crítico, aquele em que não existe folga nas atividades pertencentes a ele. De acordo com Tubino (2017), para que a folga seja calculada, devemos conhecer os seguintes valores: 1. Primeira data de início (PDI): data mais cedo em que uma atividade pode iniciar, desde que as atividades precedentes tenham iniciado nas datas mais cedo possível. 2. Primeira data de término (PDT): indica a data mais cedo possível para que uma atividade seja concluída. 3. Última data de início (UDI): data mais tarde para iniciar uma atividade, considerando que não gera atrasos nas atividades subsequentes. 4. Última data de término (UDT): data mais tarde para a finalizar uma atividade. Por exemplo, vamos calcular o valor de PDI, PDT, UDI e UDT da atividade W. • PDI = Cedo3 = 3. • PDT = Cedo3 + t = 3 + 2 = 5. • UDI = Tarde 4–t = 9–2 = 7. • UDT = Tarde4 = 9. Agora que já conhecemos o significado das datas PDI, PDT, UDI e UDT, é preciso calcular o Tempo Disponível (TD) e, finalmente, a folga total das atividades. De acordo com Tubino (2017), o TD corresponde à subtração 45 entre UDT e PDI. Isso significa que o TD é o maior intervalo de tempo possível para a realização de uma atividade. Para o caso apresentado, tem-se que: TD = UDT–PDI. Logo: TD = 9–3 = 6. Agora, vamos calcular a folga de todas as atividades, que é definida como FT = TD–t, em que FT é a folga total; TD é o tempo disponível; e t é o tempo de duração da atividade (TUBINO, 2017). Para simplificar, considere o seguinte cálculo: FT = TD–t (1) Em que FT é a folga total; TD é o tempo disponível; e t é a duração da atividade. Agora, considere a seguinte equação: TD = UDT–PDI (2) Em que UDT é a última data de término e PDI é a primeira data de início. Substituindo a Equação (2) na equação (1), tem-se: FT = UDT–PDI–t Os cálculos são indicados na Tabela 2. Tabela 2 – Cálculo da Folga Total Atividade Cálculo X FT = 5–0–5 = 0 Y FT = 4–0–3 = 1 Z FT = 9–5–4 = 0 W FT = 9–3–2 = 4 K FT = 11–3–7 = 1 U FT = 13–9–4 = 0 T FT = 13–10–2 = 1 Fonte: elaborada pela autora. 46 Considerando-se as atividades com menor folga total, o caminho crítico são os caminhos X, Z e U, ou, de acordo com os nós, 1, 2, 4 e 6. De acordo com Contador (2010), a análise da criticidade das atividades é um potente instrumento gerencial. As atividades que possuem os maiores índices de criticidade devem receber maior atenção na fase de acompanhamento e controle do projeto. Isso significa que as atividades cujo valor de folga é zero ou baixo quando comparado com as demais atividades deverão ser executadas com cautela, pois, caso atrasem, poderão impactar no tempo de conclusão do projeto final. Essa análise sobre o nível de criticidade das atividades e a decisão sobre o nível de atenção que se destinará a cada uma delas é uma das grandes vantagens das técnicas de caminho crítico. A ideia é concentrar o esforço gerencial durante a fase de acompanhamento do projeto, contemplando o que é mais importante. No exemplo apresentado, vimos a programação do projeto enfocando o fator tempo. Existe outra abordagem sob a ótica de custos, por meio de uma classe de problema chamada de problema de balanceamento entre duração e custo (Time-Cost Trade-off Problem). Esse problema surgiu da observação de que é possível reduzir a duração de uma atividade do projeto desde que se pague mais pela sua execução. Assim, seu objetivo é acelerar a execução do projeto com a menor aplicação possível de recursos adicionais. Para tanto, é necessário escolher adequadamente as atividades que terão sua duração reduzida por meio da alocação de recursos extras. De maneira geral, as atividades de um projeto podem ser realizadas com diferentes durações de tempo. Na maioria dos casos, a redução do seu tempo de execução aumenta seu custo direto, que são os gastos efetuados com a execução propriamente dita da atividade, como aqueles relacionados com mão de obra direta, com máquinas e equipamentos utilizados na sua execução, ou com matéria-prima utilizada. 47 4. Conclusões A gestão da produção não está relacionada apenas ao gerenciamento de sistemas produtivos, em que produtos são fabricados em diferentes linhas de produção, sendo também seu objetivo o gerenciamento de projetos, característicos de sistemas puxados de produção. Gerenciar projetos é um desafio, pois envolve diferentes interesses, como custo, tempo e escopo para a concepção de um produto de qualidade. Os métodos do caminho crítico são detalhados e permitem conhecer as atividades gargalos dos projetos. Sendo assim, esforços devem ser direcionados a fim de que essas atividades sejam concluídas em tempo hábil. Um outro ponto importante são os custos. Aqui é interessante pensar que, para reduzir o tempo de atividades de um projeto, muitas vezes é necessário aumentar os custos, devido à contratação de mão de obra, à aquisição de materiais e à tecnologia. Assim, cabe às empresas analisar diferentes formas de gerenciar o projeto, priorizando atividades que permitam seu cumprimento de acordo com as expectativas dos clientes. Referências CONTADOR, J. C. Gestão de Operações: A Engenharia de Produção a Serviço da Modernização da Empresa. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2010. PMI. Project Management Institute. Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos. 7. ed. Pennsilvânia: Newtown Square, 2021. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. 48 Logística empresarial Autoria: Michele Lisboa Silveira Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Diferenciar os conceitos de logística e cadeia de suprimentos. • Compreender a importância da logísticanos sistemas produtivos. • Classificar as atividades-chave da logística, que incluem: padrões de serviços aos clientes, transporte, fluxo de informações e processamento de pedidos, e estoques. • Compreender a importância das atividades de suporte na logística, denominadas de armazenagem, manuseio de materiais, compras e embalagem. 49 1. Introdução Para que possamos compreender as funções da logística, precisamos entender que a logística faz parte de uma cadeia de suprimentos ampla, responsável pela integração das atividades de diferentes membros, que incluem fábricas, transportadoras, armazéns, sistemas de informação e mercados consumidores. Gerenciar a cadeia de suprimentos consiste em desenvolver atividades como: gerenciar relacionamento e serviços com os consumidores; integrar previsões de demanda entre fornecedores e compradores; analisar fluxos diretos e reversos na rede de suprimentos; promover relações de parceria entre os fornecedores; desenvolver e comercializar produtos; entre outras atividades. De acordo com o Council of Supply Chain Management Professionals (CSCMP, 2022), a logística faz parte da gestão da cadeia de suprimentos, sendo responsável pelo planejamento, pela implementação e pelo controle de produtos acabados, informações e serviços, que vão desde um ponto de origem até o consumidor final. A logística trata do fluxo direto e reverso dos produtos, direcionando suas ações às necessidades dos clientes. A logística pode ser entendida como um grupo de atividades-chave e atividades secundárias. As atividades-chave ocorrerão em todo o canal logístico, contribuindo com o custo logístico total; são essenciais ao gerenciamento eficaz e à conclusão das tarefas logísticas. Já as atividades secundárias ocorrerão em alguns tipos de empresas em particular, contribuindo com a missão da logística. 2. Atividades-chave da logística A seguir apresentaremos as atividades-chave da logística. 50 2.1 Padrões de serviços aos clientes A logística deve direcionar as estratégias para o foco principal, que são as necessidades dos clientes. Dessa forma, é preciso identificar a estratégia de marketing da empresa e assim planejar os serviços logísticos. Mesmo quando os clientes buscarem preços baixos, promoções e propaganda, o desempenho logístico será importante, pois, para que a venda ocorra, os produtos devem ser disponibilizados no lugar certo e no tempo certo. Para muitas empresas, a logística é um setor diferencial, que pode gerar vantagens competitivas. É preciso satisfazer ou superar as necessidades dos clientes, ofertando produtos ao menor custo possível, além de direcionar os esforços logísticos para velocidade, disponibilidade e flexibilidade dos produtos ofertados. A prestação de serviços para o cliente pode ser entendida em três etapas: elementos de pré-transação, elementos de transação e elementos de pós-transação (BATALHA, 2019). Antes que uma venda ocorra, é preciso estabelecer a política de atendimento ao cliente, planejando a acessibilidade para a obtenção de informações, bem como a flexibilidade do sistema para o atendimento de necessidades eventuais. Os elementos de transação envolvem atividades necessárias para disponibilizar o produto certo na hora certa. Por exemplo, incluem o intervalo de tempo planejado entre o recebimento do pedido até a sua entrega. Para que uma transação ocorra, estoques devem ter sido planejados anteriormente, para estarem disponíveis no momento da venda. Além disso, é preciso selecionar recursos humanos para que ocorra o atendimento aos clientes. Após a transação, os clientes podem precisar de outros serviços, por exemplo, para tratar sobre problemas no desempenho do produto. A 51 pós-transação poderá incluir serviços adicionais, que funcionarão como oportunidades para aumentar as vendas. Para promover melhorias nas atividades de pós-processamento, as empresas deverão ser rápidas no atendimento a chamadas de reparo. Além disso, no pós-processamento, podem ser identificadas oportunidades para encontrar falhas logísticas, e, assim, a empresa poderá promover planos de ação para que reparos sejam realizados. Na pós-transação, podemos identificar as atividades da logística reversa, que atua justamente no ponto contrário da cadeia de suprimentos. Isso significa que o cliente poderá devolver o produto em caso de defeito ou se se arrepender de comprar on-line após um prazo de sete dias, por exemplo. Para esses casos, as receptoras dos produtos devolvidos realizarão o que se chama de logística reversa pós-vendas. Um outro tipo de logística reversa é a logística pós-consumo, que deverá tratar de produtos consumidos, ou seja, no final do ciclo de vida útil. Um exemplo é a coleta de embalagens tóxicas após a utilização do produto embalado. As empresas responsáveis deverão cumprir legislações específicas, direcionando o fluxo reverso conforme orientado por lei. 2.2 Gestão de Transportes A atividade de transporte é uma das operações principais da logística, afinal a maioria dos produtos não é consumida no mesmo local em que ocorre a produção. O gerenciamento de transportes pode afetar os custos logísticos e, consequentemente, outras atividades logísticas, como nível de serviço ao cliente e gestão de estoques (BATALHA, 2019). As principais decisões de transporte são: escolha dos modais, roteirização/programação do transportador e tamanho/consolidação do embarque. 52 O transporte de carga tem cinco modais: ferroviário, hidroviário, rodoviário, aeroviário e dutoviário. As escolhas do modal de transporte deverão ser fundamentadas em diferentes características, como custo, tempo médio de entrega e variabilidade, além da avaliação da integridade física do material transportado. As atividades de roteirização também fazem parte da gestão de transportes. Consistem em planejar os pontos de origem e destino, definindo as rotas a serem seguidas pelo modal de transporte. A roteirização busca qualidade, agilidade e redução de custos. Outro planejamento importante no que tange aos transportes é a consolidação de embarques, que busca a redução dos custos e a otimização do espaço disponível de maneira eficaz. Um exemplo é a utilização de contêineres na logística portuária, o que permite a consolidação de cargas em um montante, agilizando o armazenamento e o transporte. 2.3 Fluxo de informações e processamento de pedidos A gestão da informação é uma das áreas mais importantes na cadeia de suprimentos e será fundamental para o desempenho da logística. Utilizam-se sistemas de informação para obtenção, transmissão e análise de informações, a fim de tomar decisões para cumprir os objetivos planejados. Por exemplo, os gerentes utilizam informações sobre níveis de estoques, previsão de demanda, disponibilidade de fornecedores, programação da produção e estratégias de marketing para estabelecer políticas de controle de estoques ou para tomar outras decisões. Um outro exemplo seria a escolha do modal de transporte. Para que essa gestão seja realizada, é preciso que os gestores disponham de 53 informações sobre localidade de clientes, depósitos e armazéns, rotas de veículos, orçamentos de custos, tempos de entrega, além de informações sobre as cargas transportadas. A prioridade das atividades logísticas é fornecer informações sobre os pedidos dos clientes com velocidade e precisão. Sendo assim, o processamento será responsável pelo recebimento, pelo processamento e pela expedição dos pedidos para os clientes. De acordo com Batalha (2019), atividades como processamento do pedido, preparação, transmissão, entrada e preenchimento representam de 50 a 70% do tempo total do ciclo do pedido. O autor considera que o processamento de pedidos envolve as seguintes etapas: • Preparação e transmissão do pedido. • Entrada do pedido. • Preenchimento do pedido. • Informação sobre o estado do pedido. Um ponto importante é que, na fase de preencher o pedido, deveráocorrer a alocação de mercadorias em estoque. As tarefas realizadas no preenchimento do pedido incluem: retirada dos itens dos pedidos em estoque; produção ou compra; embalagem do produto; programação de rota para entrega; preparação de documentos para liberar a entrega; entre outras atividades para liberar o pedido. 2.4 Estoques Os estoques têm grande importância para desempenho logístico. Apesar de existir a ideia de que os estoques são indesejáveis, uma vez que implicam custos de diversas naturezas, a utilização de determinados volumes de mercadoria pode ser necessária para manter os sistemas 54 produtivos em operação. Além disso, mercadorias devem estar disponíveis no momento em que o cliente manifesta o desejo de compra. As atividades logísticas atuam sobre diversas funções dos estoques, detalhadas a seguir: • Manutenção de estoques: promover a proteção e a organização dos estoques no armazém. Nessa função logística, é importante planejar as instalações. Por exemplo, uma adega de vinhos para armazenagem de produtos a longo prazo ou o planejamento de armazenagem a curto prazo, tal como produtos esperando para embarque em um terminal rodoviário. • Consolidação de cargas: a logística deverá consolidar pequenas cargas em cargas maiores, buscando a redução dos custos com transporte. Essa operação deverá ser planejada quando os bens têm origens em diversas fontes e chegam a um ponto da rede logística, como armazéns e terminais de cargas. • Quebra de volume de carga: nesta operação, os produtos com origem em um determinado fornecedor são transportados e descarregados no armazém, local em que ocorrerão a separação e o envio para os clientes. Para que essa operação de quebra de volume ocorra, é preciso que os armazéns estejam próximos aos clientes, ao contrário do que acontece com os armazéns de consolidação, que estarão mais próximos dos fornecedores. • Combinação de consolidação e quebra de volume de carga: ocorre quando há necessidade de combinar sistemas de consolidação e quebra de volume de carga. Por exemplo, fabricantes de diferentes localidades geográficas enviam altos volumes de carga via transporte marítimo para armazéns portuários, e, assim, a taxa de frete pode ser reduzida. Nos terminais de transbordo, ocorre uma 55 combinação de produtos vindo de diferentes países, e, em seguida, os veículos partem com carga cheia para os clientes. • Estratégias just in time de produção puxada ou empurrada: na produção empurrada, a programação é centralizada e feita de acordo com um plano; por exemplo, os estoques de produtos acabados são projetados para atender a previsões de demanda. Já os sistemas puxados têm métodos próprios de programação e sequenciamento, como o sistema Kanban, além de projetos realizados sob encomenda. 3. Atividades de suporte da logística Serão apresentadas a seguir atividade de suporte da logística. 3.1 Armazenagem Armazéns podem ser definidos como “Local apropriado para guardar materiais e produtos que as empresas utilizam para facilitar o fluxo de entrada e saída de suas matérias-primas e dos produtos acabados.” (PAOLESCHI, 2014, p.13). São utilizados para reduzir os custos e o tempo de atendimento aos clientes, além de funcionarem como facilitadores nos processos de pós-transação. Podem ser próprios ou terceirizados. Normalmente, grandes magazines utilizam armazéns próprios, devido à necessidade de atender aos clientes com precisão e qualidade. É comum denominar os armazéns como operadores logísticos que intermediam operações entre clientes finais e indústrias. As atividades de armazenagem na logística são responsáveis por decisões de localização, como: número, tamanho e localização das unidades, pontos de estocagem para as fontes de abastecimento, 56 demarcação da demanda a pontos de estocagem ou abastecimento, armazenagem pública/privada. De maneira geral, a logística será responsável pelas seguintes atividades, de acordo com Ballou (2007): • Determinação do espaço. • Leiaute do estoque e desenho das docas. • Configuração do armazém. • Localização do estoque. 3.2 Manuseio de materiais De acordo com Ballou (2007), o profissional de logística é responsável por práticas de movimentação e estocagem das empresas. O manuseio de materiais é uma atividade suplementar, importante pelo fato de influenciar no tempo necessário ao processamento dos pedidos, além de permitir a disponibilização dos insumos no canal de suprimentos. As principais decisões do manuseio de materiais, segundo Ballou (2007), são: • Seleção de equipamentos. • Procedimentos para a separação de pedidos. • Alocação e recuperação de materiais. 3.3 Compras Uma das atividades da logística é a coordenação do fluxo de produtos e serviços entre diferentes membros da cadeia de suprimentos. O setor de compras toma decisões sobre a quantidade de compra, seleciona fornecedores e estabelece o momento ideal para realizar as transações. 57 A função de compras faz parte da programação de produção. Apesar de ser uma operação simples, afetará o fluxo de produtos e serviços. Nesse sentido, a logística assume funções importantes, como selecionar as fontes de suprimentos e identificar o momento e a quantidade ideal de compra. 3.4 Embalagem A embalagem é uma característica importante para que as atividades logísticas sejam realizadas. Com relação a suas funções nas operações logísticas, destaca-se que as protetoras são projetadas para manuseio, estocagem e proteção contra perdas e danos. Pensando nas características de marketing, ela tem diversas outras funções, como transmitir informações ao cliente e ser atrativa para despertar o interesse no consumidor. Na logística, podemos pensar em dois tipos de embalagens: • Embalagens primárias: aquelas que embalam o produto final pronto para consumo. • Embalagens secundárias: utilizam um procedimento denominado unitização, a fim de facilitar as atividades de armazenamento e transporte. Por exemplo, uma lata de refrigerante é uma embalagem primária. Já uma caixa de papelão com 30 latas de refrigerante é uma embalagem secundária. Unitizar significa agregar pacotes ou embalagens menores a uma carga maior, garantindo a eficiência, reduzindo custos e aumentando a segurança. As vantagens obtidas são a facilidade na movimentação, a possibilidade de empilhamento e a melhor organização. 58 4. Conclusões Conforme exposto, a logística assume diversas funções importantes na cadeia de suprimentos. Suas atividades-chave são aquelas que impactam diretamente os fluxos diretos e reversos, incluindo padrões de serviços aos clientes, gestão de transportes, fluxo de informações e processamento de pedidos e planejamento de estoques. Um ponto importante é que essas atividades serão realizadas em todas as empresas que vendem um determinado produto. Já as atividades de suporte da logística são aquelas que não serão obrigatoriamente realizadas por todas as organizações, o que significa que poderá ocorrer a terceirização destas. Como o próprio nome já diz, são atividades secundárias, ou seja, de suporte, e deverão ser utilizadas para que as atividades-chave sejam cumpridas. Recebem esse nome as funções de armazenagem, manuseio de materiais, compras e embalagens. Para finalizar este Tema, é importante destacar que, embora explicadas de forma separada, tanto as atividades-chave quanto as atividades de suporte devem estar integradas, ou seja, devem ser realizadas visando a objetivos únicos e estratégicos. Para que essa integração ocorra de fato, utilizam-se sistemas de informação avançados para que todos os membros da cadeia de suprimentos tenham acesso e possam juntos direcionar os fluxos diretos e reversos de bens e serviços. Referências BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos: Logística Empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. BATALHA, M. O. Gestão da produção e operações: abordagem integrada. São Paulo: Atlas, 2019. 59 CSCMP. Council ofSupply Chain Management Professionals. Definitions and glossary. CSCMP, 2022. Disponível em: https://cscmp.org/CSCMP/Academia/ SCM_Definitions_and_Glossary_of_Terms/CSCMP/Educate/SCM_Definitions_and_ Glossary_of_Terms.aspx?hkey=60879588-f65f-4ab5-8c4b-6878815ef921. Acesso em: 9 jun. 2022. PAOLESCHI, B. Estoques e Armazenagem. São Paulo: Érica, 2014. 60 BONS ESTUDOS! Sumário Apresentação da disciplina Sistemas de produção: características e tipologias Objetivos 1. Introdução 2. Classificação dos sistemas de produção 3. Produção enxuta 4. QRM 5. Conclusões Referências Planejamento e Controle de produção: Diferentes horizontes de planejamento Objetivos 1. Introdução 2. Planejamento estratégico 3. Planejamento Mestre de Produção 4. Programação da produção 5. Acompanhamento e controle da produção 6. Considerações finais Referências Planejamento de projetos Objetivos 1. Introdução 2. As técnicas do caminho crítico 3. Construção de uma rede PERT 4. Conclusões Logística empresarial Objetivos 1. Introdução 2. Atividades-chave da logística 3. Atividades de suporte da logística 4. Conclusões Referências
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