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TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 2 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 4 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO TDAH .............................................................. 9 TDAH: HISTÓRICO, EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E EVOLUÇÃO ............. 13 HISTÓRICO ...................................................................................................... 13 EPIDEMIOLOGIA ............................................................................................. 14 ETIOLOGIA ....................................................................................................... 15 Fatores ambientais ....................................................................................... 16 Fatores genéticos ......................................................................................... 17 EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO E ESTUDOS SOBRE A TDAH ................................. 21 OS SINTOMAS E AS CARACTERÍSTICAS DO TDAH .................................... 25 OS SINTOMAS ...................................................................................................... 25 AS CARACTERÍSTICAS .......................................................................................... 26 AS CONSEQUÊNCIAS E AS COMORBIDADES DO TDAH ............................ 29 AS CONSEQUÊNCIAS ............................................................................................ 29 AS COMORBIDADES ............................................................................................. 30 O DIAGNÓSTICO, A AVALIAÇÃO E O TRATAMENTO DO TDAH ................ 32 O DIAGNÓSTICO .................................................................................................. 32 A AVALIAÇÃO ...................................................................................................... 38 O TRATAMENTO OU CONDUTA TERAPÊUTICA ........................................................ 40 O PORTADOR DE TDAH, OS PAIS E A ESCOLA ........................................... 44 A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS ................................................................................... 44 A ESCOLA ........................................................................................................... 46 A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES ........................................................................... 48 O TDAH NA FASE ADULTA............................................................................... 52 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 3 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO EM ADULTOS ........................................................ 54 OS SINTOMAS EM ADULTOS .................................................................................. 56 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS A SEREM CONSIDERADOS EM ADULTOS ................. 65 A AVALIAÇÃO ...................................................................................................... 67 IDADE DE INÍCIO DOS SINTOMAS............................................................................ 69 FIDEDIGNIDADE DO AUTORRELATO PARA SINTOMAS PRETÉRITOS ........................... 69 O COMPROMETIMENTO EM AO MENOS DOIS CONTEXTOS ....................................... 72 O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ....................................................................... 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 79 REFERÊNCIAS BÁSICAS ............................................................................... 79 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ........................................................... 79 ANEXO 01 ............................................................................................................ 86 ANEXO 02 ............................................................................................................ 90 INVENTÁRIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE SINTOMAS DO TDAH ................ 90 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 4 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 APRESENTAÇÃO Existe um ponto pacífico quanto ao conceito de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), como sendo um transtorno caracterizado por dificuldade em manter a atenção, em algumas atividades, acompanhado ou não de hiperatividade. Explica-se sua ocorrência, frequentemente, por um desequilíbrio em neurotransmissores cerebrais, especialmente a dopamina e, há também, uma busca constante por um componente genético. Nesse caso, poderíamos falar que ocorre um tipo de redução epistemológica? Pensamos que não. Em sendo, diversos estudos do MTA1 estimam que o TDAH ocorra em 3% a 5% das crianças em idade escolar, correspondendo a, aproximadamente, 30% a 50% das crianças atendidas em serviços de saúde mental (MTA, 1999). De acordo com o CDC12 (2010), nos Estados Unidos, a porcentagem de crianças de 4 a 17 anos já diagnosticadas com TDAH aumentou de 7,8% para 9,5% entre 2003 e 2007, representando um aumento de 21,8% em quatro anos. Entre os meninos, a prevalência de TDAH foi ainda maior, 13,2% em 2007. Entre as crianças com TDAH, 66,3% tomam medicação, totalizando 4,8% de todas as crianças entre quatro e 17 anos (aproximadamente 2,7 milhões). No Brasil, alguns estudos que utilizaram critérios da quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais – DSM-IV (APA3, 1994), revelaram prevalências distintas do TDAH em escolares, variando de 5,8 a 17,1% (PASTURA; MATTOS; ARAUJO, 2007). Não obstante, vemos estes sintomas em salas de aula, onde presenciamos, em diversos alunos, dificuldades de prestar atenção na aula, distrair-se facilmente e ficar com a mente vagando pelo “mundo da lua” quando o professor está falando. Pouca paciência para estudar e fazer os deveres, agitação, inquietude e uma capacidade incrível de fazer milhões de coisas ao 1 MTA. The MTA Cooperative Group. A 14-month randomized clinical trial of treatment strategies for attention-deficit/hyperactivity disorder. Archives of General Psychiatry, v.56, p.1073-1086. 1999. 2 CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Increasing Prevalence of Parent- Reported Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder Among Children - United States, 2003 and 2007. MMWR Morbidity and Mortality Weekly Report, v.59, n.44, p.1439-43, 2010. 3 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4. ed. Washington, DC: APA, 1994. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 5 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 mesmo tempo. E quase nenhuma delas associada à aula. Estas são algumas características de alunos que apresentam o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, conhecido como TDAH. O problema atinge um grande número de crianças e adolescentes, que veem o seu desempenho acadêmico prejudicado pela doença e muitas vezes sequer sabem que são portadores. Pensando na sequência redutora proposta por Rose4 (2001-2004), observamos que, a partir da objetivação e da aglomeração arbitrária, foram criados os critérios diagnósticos para o TDAH. O conjunto de sintomas é bastante heterogêneo, caracterizando a reunião de processos diferentes em uma única classificação. Características de personalidade diversas, tais como cometer erros por descuido em atividades escolares, terdificuldades para manter a atenção, ter dificuldade para organizar tarefas e atividades, falar em demasia, agitar mãos ou pés na cadeira, ter dificuldades em esperar sua vez, dentre outras constantes do DSM-IV, foram transformadas em sintomas médicos. Não obstante, a quantificação improcedente ainda não é tão disseminada em casos de TDAH. A avaliação diagnóstica ainda é feita de forma qualitativa, por meio de relatos dos professores e pais. Mas existem instrumentos que buscam a quantificação dos sintomas, para comparar entre indivíduos como, por exemplo, o questionário de Conners. Este foi elaborado na Austrália em 1969 e, posteriormente, revisado e abreviado em 1973. Existe uma versão para ser aplicada em pais e outra em professores, para avaliação de crianças com TDAH, principalmente do tipo hiperativo. É muito usado atualmente em estudos clínicos e epidemiológicos, sendo composto de várias perguntas que pais e/ou professores devem atribuir um número que vai de 0 a 4 (ZENTALL; BARACK, 1979). Ao final, as somas das respostas são contabilizadas e comparadas, tanto temporalmente (o resultado de um teste comparado com o resultado de outro teste da mesma criança) ou entre as crianças. Acredita-se, desse modo, ter mais confiabilidade e comparabilidade 4 ROSE, N. Becoming Neurochemical Selves. In: STEHR; NICO (Org.). Biotechnology, commerce and civil society. Somerset: Transaction Publishers, 2004. p. 89-128. ROSE, S. What is wrong with reductionist explanations of behaviour? In: BOCK, G. R.;GOODE, J. A. (Org.). The limits of reductionism in biology. New York: John Willey & Sons, 2001. p. 176-92. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 6 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 do que apenas o relato de pais, professores e das próprias crianças (que geralmente não são ouvidas). O consumo global do metilfenidato, o principal fármaco utilizado no tratamento do TDAH, no período de 2003 a 2007, foi de 28,5 toneladas. Os Estados Unidos é o maior produtor e o maior consumidor do metilfenidato. No período entre 2005 a 2007, esse país consumiu uma média de 783 milhões de doses diárias (S-DDD4) de metilfenidato, o que corresponde a, aproximadamente, 77% do consumo mundial dessa substância. No Brasil, em 2003, foram produzidos 86 Kg de metilfenidato. Já em 2007, essa produção subiu para 204 Kg (ONU, 2008). Normalizar a criança com TDAH não significa somente ajustar seu comportamento para que ela se adapte ao meio em que vive. Trata-se de uma normalização biológica, como descrevem Peterson et al. (2009, p.1290): Esses achados sugerem que os estimulantes melhoram os sintomas em jovens com TDAH normalizando a atividade dentro de uma rede dispersa de regiões do cérebro no córtex cingulado anterior e córtex cingulado posterior e melhorando as interações funcionais desse circuito com o córtex pré-frontal lateral. A normalidade no TDAH não está tão vinculada à estatística, já que o diagnóstico geralmente não é quantificado, mas sim à normalidade dos comportamentos que, em última instância, seriam regulados pelo cérebro. A normalização biológica faria com que ocorresse melhora no comportamento, uma vez que os problemas de conduta teriam como causa subjacente alguma alteração biológica. Assim, até os anos 70, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade era considerado um transtorno limitado à infância, com sintomas que desapareceriam na vida adulta, no entanto, estudos prospectivos e retrospectivos que acompanharam crianças diagnosticadas com TDAH na infância e acompanhadas até a idade adulta mostram que grande parte delas continua a apresentar sintomas significativos, associados a importantes prejuízos em diversas esferas da vida cotidiana (BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 7 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Outros estudos inferem que sintomas como hiperatividade e impulsividade sofrem maior redução do que a desatenção, no entanto, a permanência de sintomas na idade adulta, concomitante a altas frequências de transtornos mentais comórbidos, leva a população a apresentar significativos problemas adaptativos como, por exemplo, dificuldades no trabalho, menor escolaridade, maior envolvimento em acidentes de trânsito, problemas criminais, dificuldades conjugais, problemas financeiros e sexualidade de maior risco (BARKLEY, MURPHY E KWASNIK, 1996 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Outra consideração que chama atenção: o fato do TDAH não ser identificado e tratado pode ser devastador para a pessoa, uma vez que, apesar de não plenamente determinante, pode levar o adulto a praticar atos delinquentes, tornar-se usuário de substâncias psicoativas, em razão do baixo limiar para enfrentar frustração, além de problemas com a lei, com o trânsito e transtornos de personalidade (BARKLEY, 2002; SOIFER,1992). Crianças, adolescentes, adultos, família, escola, todos sofrem quando não conseguem diagnosticar e lidar com os portadores de TDAH e, evidentemente, as consequências, como visto, podem ser bem mais danosas. Em sendo e partindo dos pressupostos anteriormente levantados, damos inicio ao nosso estudo, acerca do tema TDAH e, para tanto buscamos apoio teórico para cimentarmos as abordagens contidas neste módulo/disciplina, que constam, necessariamente, dos conceitos referentes ao TDAH, sua epidemiologia e sua etiologia; suas características e os seus sintomas, bem como, suas consequências e comorbidades; seu diagnóstico, sua avaliação e seu tratamento. Discutimos, também, a questão do portador dessa necessidade no ambiente escolar e a participação dos pais, do professor e da escola, bem como, para discutir o TDAH em adultos. As referências utilizadas se reportam a pesquisas realizadas até hoje, mas sabemos que a vida de maneira geral é dinâmica, portanto, lembremos que as pesquisas evoluem e com certeza esperanças, novos métodos, novos tratamentos e novas soluções poderão surgir a qualquer momento. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 8 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Ressaltamos que este módulo/disciplina é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo/disciplina, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, pode servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 9 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO TDAH Conforme Biederman (2011), o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um comprometimento neuro-comportamental com início na infância, caracterizando-se por um conjunto de sintomas que envolvem hiperatividade motora, impulsividade e desatenção. No adulto, as principais características sintomatológicas do TDAH são déficit de atenção, instabilidade emocional e desorganização. Nota-se que comparando os sintomas na criança e no adulto, a hiperatividade tende a diminuir e a desorganização fica mais evidente (BIEDERMAN et al., 2000 apud AGRA et al., 2011). Em conformidade com critérios do DSM-IV, o TDAH é dividido em três subtipos: desatento, hiperativo/impulsivo e combinado. Afeta em torno de 5% das crianças com idade inferior a 18 anos e pode persistir após adolescênciaem até 30% a 70% dos casos, com prevalência de 4,4% nos adultos. A grande maioria dos estudos observa um predomínio de duas a três vezes maiores, do transtorno, em pessoas do sexo masculino. Noutrossim, de acordo com os dados da Associação Médica Americana, o TDAH é um dos transtornos mais bem pesquisados da medicina e a totalidade dos dados, sobre sua validade, são muito mais convincentes do que os da maior parte dos transtornos mentais e, inclusive, de muitos problemas médicos. Apesar deste corpo de pesquisa robusto que torna o TDAH um dos “transtornos mais bem pesquisados na medicina”, ainda falta conhecimento acerca desse transtorno no Brasil (GOLDMAN et al., 1998 apud POLANCZY et al., 2011). Nesse sentido, Barkley (2002) afirmar que o TDAH “é um transtorno do desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com o período de atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade” (BARKLEY, 2002, p. 35). Tendo como características: persiste durante o desenvolvimento da criança; ocorre em diversas situações; INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 10 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 prejudica a capacidade da criança em responder às demandas solicitadas para sua idade; não é facilmente explicado por causas ambientais ou sociais; e, relaciona-se a anormalidades no funcionamento ou desenvolvimento cerebral, que podem estar associadas a fatores biológicos. Ainda nesse sentido, Barkley (2002) e Rotta et al. (2006) também pontuam os três problemas primários no TDAH: dificuldade para manter a atenção; pouco controle ou inibição dos impulsos (impulsividade) e atividade excessiva (hiperatividade), que resultam em atraso no desenvolvimento da inibição de comportamento, que é o problema central do transtorno. Em sendo, Rotta et al. (2006) enfatizam a presença de um nível inadequado de atenção em relação ao esperado para a idade, o que leva a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais. A desatenção caracteriza-se pela dificuldade em prestar atenção a detalhes, o que leva a criança a cometer erros em atividades escolares, não conseguir acompanhar instruções longas e não conseguir executar as atividades de forma adequada. A criança apresenta dificuldade para organizar, planejar, realizar tarefas que envolvam esforço mental sustentado, além de perder seus pertences com facilidade e se distrair facilmente com estímulos do ambiente. Os mesmos autores acima descrevem a hiperatividade como atividade motora intensa, sendo demonstrada pelos seguintes comportamentos: agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira; não conseguir permanecer sentado; correr em demasia; falar muito; não conseguir envolver-se em atividades de lazer de modo silencioso; parecer “estar a mil por hora”; não conseguir controlar seu próprio corpo e não manter o foco na atividade cognitiva, gerando uma produção intelectual pobre. Nesse sentido e, para os autores citados, os comportamentos impulsivos são manifestados por dificuldade em aguardar a vez, responder à INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 11 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 pergunta antes de seu término e intrometer-se na conversa dos outros. Junto à impulsividade, pode-se observar também instabilidade, apatia, irritabilidade, agressividade, baixo limiar a frustrações e reações catastróficas. Assim, o TDAH é considerado um distúrbio do desenvolvimento com início na primeira infância, podendo se prolongar até a idade adulta (BARKLEY, 1998; ROHDE, 2003; CONDEMARÍN et al., 2006; BROWN, 2007 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009). Uma variada etiologia tem sido estudada nos últimos tempos. Fatores neurológicos e genéticos parecem contribuir significativamente para a explicação dos sintomas e a ocorrência do transtorno. Por outro lado, fatores ambientais e sociais não são considerados fatores causais, mas podem contribuir para a persistência dos sintomas. Autores que estudam os processos psicopatológicos, a neurobiologia e a neuropsicologia do TDAH sugerem que a disfunção no córtex pré-frontal e suas conexões com a circuitaria subcortical e com o córtex parietal possam ser responsáveis pelo quadro clínico. Tais danos levam a déficits na manutenção da atenção, inibição, regulação da emoção, motivação, capacidade de organização e planejamento do comportamento futuro (VASCONCELOS, 2002) e das funções executivas (que capacitam o sujeito no desempenho de suas ações voluntárias, autônomas e orientadas para metas específicas), incluindo memória de trabalho, planejamento, autorregulação de motivação e do limiar para ação dirigida a um objetivo definido e internalização da fala (BARKLEY, 1997, 2000; STRAYHORN, 2002 apud ROSSI; RODRIGUES, 2009). O TDAH tem sido considerado um dos maiores problemas clínicos e de saúde pública, gerando grande impacto na sociedade pelo alto custo, estresse envolvido, dificuldades acadêmicas, problemas comportamentais e pela baixa autoestima gerada nas crianças (ROTTA et al., 2006). A escola é a primeira instância fora do âmbito familiar que julga as potencialidades e possibilidades das crianças, e também é o lugar onde se tornam mais evidentes seus problemas atencionais e suas condutas disruptivas. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 12 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Esses sintomas geram problemas para os professores, em especial quando os meios com que se conta são escassos ou quando se deve atender a classes que sejam numerosas (CONDEMARÍN et al., 2006). O professor tem como finalidade a aprendizagem do aluno. Assim, deve-se comprometer com o sucesso deste para que seus déficits sejam minorados ou neutralizados (PEREIRA et al., 2004). Cabe aos professores a tarefa de garantir ao aluno uma formação que lhe propicie o acesso aos conhecimentos socialmente acumulados e a aquisição dos comportamentos de autogoverno, capacitando-o a atuar sob novas contingências e agir com sucesso em relação ao mundo em um tempo futuro. Dessa forma, os professores necessitam de um vasto conjunto de conhecimentos científicos sobre o mundo físico e social e sobre o comportamento humano, de modo a responder pelo ensino de forma eficiente (ZANOTTO, 2004), entre eles o comportamento de crianças com TDAH, de forma que, sabendo identificá-los e conhecer estratégias para lidar com eles, possibilitaria a elas acesso ao conhecimento e ao desenvolvimento pessoal (ROSSI; RODRIGUES, 2009). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 13 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 TDAH: HISTÓRICO, EPIDEMIOLOGIA, ETIOLOGIA E EVOLUÇÃO HISTÓRICO As primeiras referências a hiperatividade e desatenção na literatura não médica datam da metade do século XIX5. É importante salientar que a primeira descrição do transtorno em um jornal médico (Lancet) foi feita por um pediatra, George Still, em 19026. Entretanto, a nomenclatura desse transtorno vem sofrendo alterações contínuas. Na década de 40, surgiu a designação "lesão cerebral mínima", que, já em 1962, foi modificada para "disfunção cerebral mínima", reconhecendo-se que as alterações características da síndrome relacionam-se mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas. Os sistemas classificatórios modernos utilizados em psiquiatria, CID-107 e DSM-IV8, apresentam mais similaridades do que diferenças nas diretrizes diagnósticas para o transtorno, embora utilizem nomenclaturas diferentes (transtorno de déficit de atenção/hiperatividade no DSM-IV e transtornos hipercinéticos na CID-10). A prevalência do transtornotem sido pesquisada em inúmeros países em todos os continentes. Diferenças encontradas nas taxas de prevalência refletem muito mais diferenças metodológicas (tipo de amostra, delineamento, fonte de informação, idade, critérios diagnósticos utilizados, ou a forma como eles são aplicados) do que reais diferenças transculturais no constructo diagnóstico do transtorno. Assim, estudos nacionais e internacionais que utilizam os critérios plenos do DSM-IV tendem a encontrar prevalências ao redor de 3-6% em crianças em idade escolar. Uma revisão aprofundada sobre esse tópico pode ser encontrada em Faraone et al9. 5 Hoffmann H. Der Struwwelpeter. Berlin: DBGM; 1854. 6 Still GF. Some abnormal psychical conditions in childhood. Lancet. 1902; 1:1008. 7 Organização Mundial de Saúde. Classificação e Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Editora Artes Médicas; 1993. 8 American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4th ed. Washington: American Psychiatric Association; 1994. 9 Faraone SV, Sergeant J, Gillberg C, Biederman J. The worldwide prevalence of ADHD: is it an American condition? World Psychiatry. 2003;2:104-13. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 14 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A proporção entre meninos e meninas afetados varia de aproximadamente 2:1 em estudos populacionais até 9:1 em estudos clínicos. A diferença entre essas proporções provavelmente se deve ao fato de as meninas apresentarem mais transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) com predomínio de desatenção e menos sintomas de conduta em comorbidade, causando menos incômodo às famílias e à escola, e, portanto, serem menos encaminhadas a tratamento. Estudos que avaliam a prevalência do transtorno de acordo com o nível socioeconômico e em etnias que não a caucasiana são ainda escassos e não permitem conclusões claras10. EPIDEMIOLOGIA A Associação Americana de Psiquiatria (APA) estima cerca de 03 (três) a 05 (cinco)% das crianças na idade escolar (mais ou menos de 5 a 10 anos de idade) apresentando hiperatividade e/ou déficit de atenção. Antes dos quatro ou cinco anos é difícil ser feito o diagnóstico, pois o comportamento das crianças nessa idade é muito variável, e a atenção não é tão exigida quanto de crianças mais velhas. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o transtorno numa idade bem precoce. Em adolescentes e adultos ainda existem poucos dados a respeito de qual é a porcentagem da população afetada, mas é sabido que ambos os grupos podem desenvolver o transtorno. Em termos de gênero, o sexo masculino é quatro a nove vezes mais afetado do que o feminino (ANDRADE, 1999). Estudos epidemiológicos indicam que 3% a 7% das crianças norte- americanas com idade escolar apresentam TDAH (GOLDMAN, GENEL, BEZMAN, e SLANETZ, 1998; PASTOR e REUBEN, 2002 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). No Brasil, alguns estudos em populações de crianças brasileiras em idade escolar corroboram estes índices (GUARDIOLA, TERRA, FERREIRA e LONDERO, 1999; ROHDE e COLS., 1998; SOUZA, SERRA, MATTOS, e FRANCO, 2001; FREIRE e PONDÉ, 2005 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). 10 Golfeto JH, Barbosa G. Epidemiologia. In: Rohde LA, Mattos P, editores. Princípios e Práticas em TDAH. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003. p. 15-34. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 15 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 O transtorno apresenta uma prevalência de 9:1 de meninos para meninas, em amostras clínicas (Barkley, 2002; Rohde e Halpern, 2004 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010), e uma proporção de 3:1 em amostras populacionais em geral (OFFORD e COLS., 1992; BARKLEY, 1998; ROHDE e HALPERN, 2004 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). Vale ressaltar que os estudos epidemiológicos referem-se à faixa etária dos 07 aos 14 anos de idade (ROHDE e MATTOS, 2003), embora ele possa persistir durante a vida adulta, conforme observado por Biederman e Faraone (2005 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). De fato, a persistência do TDAH em adolescentes e adultos vem sendo relatada em alguns estudos longitudinais, ainda que a taxa de prevalência seja inconsistente. A prevalência do TDAH em adultos na população geral varia de 2,5% a 8% (KESSLER, CHIU, DEMLER, MERIKANGAS e WALTERS, 2005; KOOIJ e Cols., 2005; ROHDE e COLS., 1998 apud SANTOS; VASCONCELOS, 2010). De acordo Barkley (2002) e Biederman e Faraone (2005), cerca de 60% a 70% das crianças com TDAH apresentarão o diagnóstico na vida adulta (SANTOS e VASCONCELOS, 2010). ETIOLOGIA Apesar do grande número de estudos já realizados, as causas precisas do TDAH ainda não são conhecidas. Entretanto, a influência de fatores genéticos e ambientais no seu desenvolvimento é amplamente aceita na literatura10. A contribuição genética é substancial; assim como ocorre na maioria dos transtornos psiquiátricos, acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis por uma vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genética ao transtorno, à qual somam-se diferentes agentes ambientais. Desta forma, o surgimento e a evolução do TDAH em um indivíduo parece depender de quais genes de suscetibilidade estão agindo, de quanto cada um deles contribui para a doença (ou seja, qual o tamanho do efeito de cada um) e da interação desses genes entre si e com o ambiente11. 11 Thapar A, Holmes J, Poulton K, Harreington R. Genetic basis of attention-deficit and hyperactivity. Br J Psychiatry. 1999;174:105-11. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 16 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Embora caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o TDAH é uma patologia bastante heterogênea, pelo menos no nível fenotípico. Provavelmente, casos diversos com fenomenologias particulares (heterogeneidade clínica) também apresentam heterogeneidade etiológica. Para o leitor interessado, uma revisão aprofundada sobre a etiologia do TDAH pode ser encontrada em Roman et al12. Fatores ambientais Agentes psicossociais que atuam no funcionamento adaptativo e na saúde emocional geral da criança, como desentendimentos familiares e presença de transtornos mentais nos pais, parecem ter participação importante no surgimento e manutenção da doença, pelo menos em alguns casos. Biederman et al13 encontraram uma associação positiva entre algumas adversidades psicossociais (discórdia marital severa, classe social baixa, família muito numerosa, criminalidade dos pais, psicopatologia materna e colocação em lar adotivo) e o TDAH. A procura pela associação entre TDAH e complicações na gestação ou no parto tem resultado em conclusões divergentes, mas tende a suportar a ideia de que tais complicações (toxemia, eclâmpsia, pós-maturidade fetal, duração do parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer, hemorragia pré-parto, má saúde materna) predisponham ao transtorno14. Recentemente, Mick et al.15 documentaram uma associação significativa entre exposição a fumo e álcool durante a gravidez e a presença de TDAH nos filhos, a qual se manteve mesmo após controle para psicopatologia familiar (incluindo TDAH), adversidades sociais e comorbidade com transtorno de conduta. Outros fatores, como danos cerebrais perinatais no lobo frontal, podem afetar processos de atenção, motivação e planejamento, relacionando-se 12 Roman T, Schmitz M, Polanczyk G, Hutz M. Etiologia. In: Rohde LA, Mattos P, editores. Princípiose Práticas em TDAH. Porto Alegre: Artes Médicas; 2003. p. 35-52. 13 Faraone SV, Biederman J. Neurobiology of attention-deficit/hyperactivity disorder. Biol Psychiatry. 1998;44:951-8. 14 Biederman J, Milberger S, Faraone SV, Kiely K, Guite J, Mick E, et al. Family-environment risk factors for ADHD: a test of Rutter's indicators of adversity. Arch Gen Psychiatry. 1995;52:464-70. 15 Mick E, Biederman J, Faraone S, Sayer J, Kleiman S. Case-control study of ADHD and maternal smoking, alcohol use, and drug use during pregnancy. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2002;41:378-85. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 17 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 indiretamente com a doença. É importante ressaltar que a maioria dos estudos sobre possíveis agentes ambientais apenas evidenciaram uma associação desses fatores com o TDAH, não sendo possível estabelecer uma relação clara de causa e efeito entre eles. Fatores genéticos Uma contribuição genética substancial no TDAH é sugerida pelos estudos genéticos clássicos. Numerosos estudos de famílias já foram realizados com o TDAH, os quais mostraram consistentemente uma recorrência familial significante para este transtorno. O risco para o TDAH parece ser de duas a oito vezes maior nos pais das crianças afetadas do que na população em geral. Todas as evidências obtidas nos estudos com famílias não excluem, porém, a possibilidade de que a transmissão familial do TDAH tenha origem ambiental. Nesse sentido, os estudos com gêmeos e adotados são fundamentais para determinar se uma característica é de fato influenciada por fatores genéticos. A concordância obtida entre os pares de gêmeos nada mais é do que uma medida da herdabilidade, que, por sua vez, representa uma estimativa de qual porção do fenótipo é influenciada por fatores genéticos. A maioria dessas investigações encontrou grande concordância para esta patologia, significativamente maior entre gêmeos monozigóticos do que entre dizigóticos. A herdabilidade estimada é bastante alta, ultrapassando 0,70 em vários destes estudos, o que sugere uma forte influência genética. Evidências mais fortes da herdabilidade do TDAH são fornecidas pelos estudos com adotados, uma vez que estes conseguem distinguir melhor efeitos genéticos de efeitos ambientais. Pesquisas iniciais com adotados encontraram uma frequência significativamente maior de TDAH entre os pais biológicos de crianças afetadas do que entre os pais adotivos. Uma prevalência de cerca de três vezes mais TDAH entre pais biológicos de pacientes comparados a pais adotivos também foi observada recentemente. Essa maior prevalência de TDAH entre os parentes biológicos em relação aos parentes adotivos dos INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 18 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 provando confirma a existência de importantes fatores genéticos contribuindo para a etiologia do transtorno. Nos últimos anos, um interesse crescente vem surgindo em relação aos estudos de genética molecular no TDAH. O principal alvo dessas pesquisas são genes que codificam componentes dos sistemas dopaminérgico, noradrenérgico e, mais recentemente, serotoninérgico, uma vez que dados de estudos neurobiológicos sugerem fortemente o envolvimento desses neurotransmissores na patofisiologia do transtorno. Recentemente, uma possível influência do sistema serotoninérgico na etiologia do TDAH também foi investigada. Resultados positivos em pacientes com este transtorno foram obtidos para os genes do receptor 2A de serotonina (HTR2A) e do transportador de serotonina, enquanto que nenhuma associação foi verificada para o gene que codifica a enzima triptofano hidroxilase (TPH), reguladora da síntese de serotonina16. Efeitos de interação entre os genes 5- HTT e DRD4 sobre a atenção sustentada em bebês de 1 ano de idade e sobre a resposta ao metilfenidato foram observados em outros estudos. Todos esses achados, embora bastante iniciais, indicam que a análise destes e de outros genes do sistema serotoninérgico em diferentes grupos de pacientes com TDAH pode resultar em uma contribuição importante para o entendimento de sua etiologia. Assim, o estudo da etiologia do TDAH ainda está no início. Mesmo em relação à genética, intensamente investigada, os resultados são bastante contraditórios. Nenhum dos genes investigados, nem mesmo o DRD4 ou o DAT1, pode ser considerado como necessário ou suficiente ao desenvolvimento do transtorno. Este panorama se deve, em grande parte, a uma heterogeneidade etiológica ímpar, representada pela alta complexidade clínica da doença. O futuro do estudo da etiologia do TDAH vai envolver, 16 Manor I, Eisenberg J, Tyano S, Sever Y, Cohen H, Ebstein RP, et al. Family-based association study of the serotonin transporter promoter region polymorhism (5-HTTLPR) in attention-deficit/hyperactivity disorder. Am J Med Genet. 2001;105:91-5. Seeger G, Schloss P, Schmidt MH. Functional polymorphism within the promoter of the serotonin transporter gene is associated with severe hyperkinetic disorders. Mol Psychiatry. 2001;6:235-8. Tang G, Ren D, Xin R, Qian Y, Wang D, Jiang S. Lack of association between the tryptophan hydroxylase gene A218C polymorphism and attention-deficit/hyperactivity disorder in Chinese Han population. Am J Med Genet. 2001;105:485-8. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 19 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 certamente, a definição de possíveis "subfenótipos" ou "endofenótipos" onde essa heterogeneidade esteja reduzida. Em sendo, acredita-se que o distúrbio esteja acompanhado de um quadro de disfunção hormonal. Tomografias tiradas dos cérebros de pessoas com TDAH registram um comportamento diferente de dois neurotransmissores – a noradrenalina e a dopamina – que atuam sobre a atenção e a coordenação motora (DIAS, 2004). Mais de 40% das crianças com esse déficit têm pais que apresentaram o mesmo problema na infância. A etiologia do transtorno é multifatorial, ou seja, enquanto fenótipo, o TDAH resulta da interação de vários fatores ambientais e genéticos que atuam na manifestação de seus diversos quadros clínicos (ROMAN et al., 2003). Em relação à imaturidade emocional, segundo Riesgo e Rohde (2004), alguns eventos pré ou perinatais como, por exemplo, o baixo peso ao nascer, a exposição ao álcool ou cigarros durante a gestação, aumentam o risco para o desenvolvimento do TDAH. Eles atestam também que existem evidências de que o TDAH esteja associado a uma permanência de imaturidade, ou melhor, de ilhas de imaturidade, em um curso maturacional normal e progressivo, mas um pouco mais lento em determinados setores. Estudos realizados por Moreno (1995 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010), avaliaram o comportamento das crianças por meios de distintas etapas evolutivas, deixando claro que as complicações pré e perinatais não afetam igualmente todas as crianças prematuras ou com baixo peso, o que significa que esses problemas não são suficientes para explicar a futura existência de um TDAH. No que se refere aos estudos da genética do TDAH, estudos epidemiológicos mostram a recorrência familiar e, conforme Todd (2000 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010), o risco da recorrência do TDAH entre pais e irmãos é cerca de cinco vezes maior que a prevalência na população. Estes dados foram obtidos a partir de estudos com famílias com gêmeos e adotados. Embora estes trabalhos demonstrem a existência de uma contribuição genética substancial para a ocorrência do TDAH, não evidenciaram nenhum INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DEATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 20 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 gene como necessário ou suficiente para o desenvolvimento do transtorno, fato que segundo o autor pode ser explicado pela complexidade clínica do transtorno. Em outro estudo, Faraone e colaboradores (1992 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010) concluíram que 57% das crianças com TDAH têm pais afetados com o transtorno, com um risco de 15% entre irmãos. Também confirmaram esta teoria os estudos feitos com gêmeos monozigotos, nos quais se constatou a concordância de 51%, enquanto em dizigotos a concordância é de 33% com maior incidência de TDAH em familiares de primeiro grau do indivíduo afetado. Segenreich e Mattos (2007) afirmam que trabalhos recentes encontram evidências de que o TDAH se trata de um distúrbio neurobiológico. Dois grupos de pesquisas atuais têm resultados que atribuem a este transtorno duas possíveis causas: uma relacionada ao déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente o córtex cerebral; e a outra ao déficit funcional de certos neurotransmissores. Pesquisadores como Barkley (2002) acreditam ainda que o TDAH se evidencia por um déficit básico no comportamento inibitório. Uma deficiência em determinadas áreas nas quais o cérebro deveria comandar. Ainda para este pesquisador, um dos problemas preponderantes é que a criança com este transtorno tem dificuldade em manter sua atenção focalizada por um período mais longo. Durante a década de 70, uma teoria esteve presente em relação aos fatores que ocasionava o TDAH: as questões nutricionais. Acreditava-se que os aditivos presentes nas dietas alimentares das crianças com TDAH estivessem relacionados ao agravo das crises (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). Esses estudos foram realizados por Feingold (1975 apud COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010) que retratou que as crianças hiperativas tinham uma melhora em seu comportamento quando eram excluídos de sua dieta corantes artificiais, conservantes e salicilatos naturais como amêndoas, morangos, tomates entre outros alimentos. Estas pesquisas foram questionadas por outros cientistas que não encontraram respaldo que INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 21 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 confirmasse que a diminuição de tais produtos na dieta produzisse algum efeito no desenvolvimento do TDAH. Desta forma, como podemos perceber, as causas do TDAH podem ter um sintoma isolado ou um conjunto de fatores. Devido a isso, torna-se imperioso um diagnóstico detalhado por diferentes profissionais, como: psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos. Contudo, apesar dos variados fatores que influenciam o desenvolvimento do TDAH, cada vez mais se constata que a etiologia do transtorno é neuro-genético-ambiental (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). Evolução do conhecimento e estudos sobre a TDAH Antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno superavam os sintomas ("amadureciam") com a chegada da puberdade. Entretanto, estudos prospectivos recentes que seguiram crianças com TDAH mostram uma persistência do diagnóstico em até cerca de 70-80% dos casos na adolescência inicial a intermediária. Estimativas conservadoras documentam que cerca de 50% dos adultos diagnosticados como tendo TDAH na infância seguem apresentando sintomas significativos associados a prejuízo funcional. Ao longo do desenvolvimento, diminui a hiperatividade, restando frequentemente déficits atencionais e impulsividade, especialmente cognitiva (agir antes de pensar). Ao longo do desenvolvimento, o TDAH está associado com um risco aumentado de baixo desempenho escolar, repetência, expulsões e suspensões escolares, relações difíceis com familiares e colegas, desenvolvimento de ansiedade, depressão, baixa autoestima, problemas de conduta e delinquência, experimentação e abuso de drogas precoces, acidentes de carro e multas por excesso de velocidade, assim como dificuldades de relacionamento na vida adulta, no casamento e no trabalho. Entretanto, parte dessa evolução pode estar associada à presença da comorbidade com transtorno de conduta, e não só ao TDAH. Noutrossim, Suruagy e Botto (2009) apresentam no site Psiqueweb (2009) um breve histórico do TDAH, reportando que problemas com comportamentos de agitação e falta de atenção em crianças e até adultos está INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 22 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 longe de ser uma novidade, haja vista que são feitos trabalhos científicos sobre o assunto desde o começo do século XX, como um trabalho feito pelo médico George Frederic Still, em 1902. Nesse sentido, Still descreveu um grupo de 20 crianças que se comportavam de maneira excessivamente emocional, desafiadora, passional e agressiva e que mostravam resistentes a qualquer tipo de ação com o objetivo de tornar o comportamento delas mais aceitável. O grupo tinha uma proporção de 3 meninos para cada menina e era composto de crianças que não tinham indícios de maus tratos pelos pais. Still especulou que devido à ausência de maus tratos, os problemas destas crianças deveriam ser de origem biológica. A hipótese ganhou mais força ainda quando Still notou que alguns membros das famílias das crianças eram portadores de problemas psiquiátricos como depressão, alcoolismo, problemas de conduta, etc. Em sendo, o simples fato que Still propôs: uma base biológica para o problema, demorou ainda mais algumas décadas para se tornar evidência. Antes disso, as crianças e os pais eram considerados responsáveis pela “falha moral” e o tratamento era frequentemente feito através do uso de castigos e punições físicas. Os manuais de pediatria da época eram repletos de explicações de como bater em crianças e afirmavam necessidade deste tipo de tratamento. Assim, as observações e deduções de Still influenciaram o “pai” da psicologia Norte-Americana, Willian James que especulou que estes distúrbios de comportamento seriam devidos a problemas na função inibitória do cérebro em relação a estímulos ou a algum problema no córtex cerebral onde o intelecto acabava se dissociando da “vontade” ou conduta social. Não obstante, em 1934, Eugene Kahn e Louis H. Cohen publicaram um artigo no famoso “The New England Journal of Medicine” afirmando que havia uma base biológica para a hiperatividade baseado em um estudo feito com pacientes vítimas da epidemia de encefalite de 1917-1918. Os autores deste artigo foram os primeiros a mostrar uma relação entre uma doença e os sintomas da ADD - Attencion Déficit Disorder – (falta de atenção, impulsividade e hiperatividade). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 23 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Já em 1937, Charles Bradley mostrou mais uma linha de relação da ADD com o biológico através da descoberta acidental de que alguns estimulantes, as anfetaminas, ajudavam crianças hiperativas a se concentrar melhor. Esta descoberta foi contrária à lógica tradicional, pois os estimulantes em adultos produziam um aumento de atividade no sistema nervoso central enquanto o inverso acontecia em crianças com ADD. O porquê deste fenômeno ainda iria ficar mais algumas décadas sem resposta. Em pouco tempo as pessoas com este problema receberam uma nova e obscura descrição: “Disfunção Cerebral Mínima” e começavam a serem tratadas com dois estimulantes (Ritalina e Cyclert) que tinham se demonstrado muito eficazes no tratamento do problema. Nos anos 60, as observações clínicas se tornaram mais apuradas e ficou cada vez mais aparente que a síndrome tinha alguma origem biológica e talvez até genética, absolvendo os pais da culpa pelo problema definitivamente na comunidade científica. A populaçãoem geral continuou culpando os pais, como ainda acontece até hoje em populações menos informadas. No final dos anos 60, muito já era sabido sobre ADD, mas a falta de novas evidências ligando a síndrome às bases biológicas começou a criar discussões sobre a sua existência. Muitos acreditavam que o transtorno era uma tentativa de livrar os pais de culpa por seus filhos mimados e mal comportados. Depois deste período de incerteza, novas descobertas começaram a ser feitas ligando os problemas associados com a ADD com certos tipos de neurotransmissores. Todavia, C. Kornetsky (1970), na década de 70, propôs a hipótese de que a ADD poderia estar ligada a problemas com certos neurotransmissores como a Dopamina e a Noroepinefrina. Embora a hipótese seja coerente, as pesquisas realizadas desde então, na tentativa de comprovar o efeito destes neurotransmissores na ADD, ainda não obtiveram sucesso. Entretanto, Lou et al. (s.d apud HALLOWELL e RATEY, 2000) acharam evidências de uma deficiência de circulação sanguínea nos lobos frontais e no hemisfério esquerdo de pessoas portadoras de ADD. Todos estes achados foram confirmados em 1990 por ZAMETKIN (s.d apud HALLOWELL e RATEY, 2000), graças ao desenvolvimento de novas tecnologias que mostravam o funcionamento do cérebro in vivo. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 24 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Conceitualmente, no início do século XX, esse distúrbio foi chamado de ‘distúrbio de disfunção cerebral mínima’, passando posteriormente a ser chamado de ‘hipercinesia’ ou ‘hipernicese’. Logo a seguir, ‘hiperatividade’, nome que ficou mais conhecido e perdurou por mais tempo. Em 1987 passou a ser chamado de ‘distúrbio do déficit de atenção’, sendo que, muitas vezes, utiliza-se somente a sigla DDA (em português) ou ADD (em inglês “Attencion Déficit Disorder”). É também eventualmente chamado de ‘síndrome do déficit de atenção’ (SILVA, 2004). O TDAH é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 25 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 OS SINTOMAS E AS CARACTERÍSTICAS DO TDAH Os sintomas Pode parecer redundante falar em características e sintomas, pois ambos podem parecer ter o mesmo significado, mas a intenção é que seja reforçado o entendimento para que haja um diagnóstico o mais próximo possível do correto. Portanto, para ser considerado como Transtorno de Déficit de Atenção, os seguintes sintomas precisam ocorrer, na maior parte do tempo, nas seguintes atividades: Frequentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras; Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades recreativas; Com frequência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais, não chegando ao final das tarefas; Frequentemente tem dificuldade na organização de suas tarefas e atividades; Com frequência evita, antipatiza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa); Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades; É facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa principal que está executando; Com frequência apresenta esquecimento em atividades diárias (ABC da Saúde, 2005). Uma pessoa pode apresentar o transtorno de hiperatividade quando a maioria dos seguintes sintomas torna-se uma ocorrência, constante, em sua vida: Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira; INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 26 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Com frequência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos, isso pode não ocorrer, mas a pessoa deixa, nos outros, uma sensação de constante inquietação); Com frequência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer; Está frequentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor”; Frequentemente fala em demasia (ABC da Saúde, 2005). Além dos sintomas anteriores referentes ao excesso de atividade em pessoas com hiperatividade, podem ocorrer outros sintomas relacionados ao que se chama impulsividade, à qual estaria relacionada aos seguintes aspectos: Frequentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas; Com frequência tem dificuldade para aguardar sua vez; Frequentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intrometendo-se em conversas ou brincadeiras de colegas) (ABC da Saúde, 2005). As características Segundo Dias (2004), a criança com TDAH tem dificuldade em focar atenção. É impulsiva (reage antes de pensar), atinge os extremos da emoção com rapidez (tristeza e alegria) e não consegue terminar uma tarefa (cansa-se logo, num efeito chamado de fadiga precoce). Reforçando: a característica essencial do TDAH é um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e alguns sintomas hiperativo- impulsivos que causam prejuízo ao relacionamento interpessoal. Para o INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 27 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 diagnóstico ser satisfeito deve haver clara interferência no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional (SILVA, 2004). A desatenção pode tanto manifestar-se em situações escolares, quanto profissionais ou sociais. As crianças com este transtorno podem não prestar muita atenção a detalhes e podem cometer erros grosseiros por falta de cuidados nos trabalhos escolares ou em outras tarefas. O trabalho dos portadores de TDAH frequentemente é confuso e realizado sem meticulosidade nem precisão adequada. Os indivíduos, com frequência, têm dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas e consideram difícil persistir nas mesmas tarefas até o seu término. Normalmente essas crianças dão a impressão de estarem com a mente em outro local, ou de não estarem escutando o que está sendo dito. Pode haver frequentes mudanças de uma tarefa para outra, elas podem iniciar uma tarefa, passar para outra, depois voltar a atenção para outra antes de completarem qualquer uma de suas incumbências (SILVA, 2004). Essas crianças frequentemente não atendem a solicitações ou instruções e não conseguem completar os trabalhos escolares, tarefas domésticas ou outros deveres. As características apresentadas aqui de maneira bem didática e mais frequentemente citadas estão em ordem de frequência: Hiperatividade; Comprometimento percepto-motor; Instabilidade emocional; Déficit geral da coordenação; Distúrbio da atenção; Impulsividade; Transtorno da memória e do pensamento; Deficiências específicas do aprendizado; Sinais e irregularidades neurológicas duvidosas ao eletroencefalograma (ABC da Saúde, 2005). As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 28 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 comportamentos crônicos, com duração de no mínimo seis meses, que seinstalam definitivamente antes dos 7 anos. Atualmente, quatro subtipos de TDAH foram classificados: Desatento – quando se exige que a pessoa apresente pelo menos seis das seguintes características: Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado; Dificuldade em manter a atenção; Parece não ouvir; Dificuldade em seguir instruções; Dificuldade na organização; Evita, pois, não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado; Frequentemente perde os objetos necessários para uma atividade; Distrai-se com facilidade; Esquecimento nas atividades diárias. Hiperativo/impulsivo – quando se exige que a pessoa apresente pelo menos seis das seguintes características. Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou se remexendo na cadeira; Dificuldade em permanecer sentada; Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adulto, há um sentimento subjetivo de inquietação); Dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente; Fala excessivamente; Responde a perguntas antes de elas serem formuladas; Age como se fosse movida a motor; Dificuldade em esperar sua vez; Interrompe e se interrompe. Combinado – é caracterizado pela pessoa que apresenta os dois conjuntos de critérios dos tipos: desatento e hiperativo /impulsivo. Não específico – a pessoa apresenta algumas dificuldades, mas número insuficiente de sintomas para chegar a um diagnóstico completo. Esses sintomas, no entanto, desequilibram a vida diária. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 29 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 AS CONSEQUÊNCIAS E AS COMORBIDADES DO TDAH As consequências Como vimos, o TDAH é um transtorno com estudos recentes, apesar de ser reconhecido desde o início do século. Não existe, até o momento, uma causa específica para o problema. Alguns genes têm sido descobertos e descritos como possíveis causadores do transtorno. Lesões neurológicas mínimas (impossíveis de serem vistas em exames) que ocorreriam durante a gestação ou nas primeiras semanas de vida, também são levantadas como possíveis causas. Alterações das substâncias químicas cerebrais (neurotransmissores) também estão sendo sugeridas como causadores dos sintomas (PSIQUEWEB, 2005). Supõe-se que todos esses fatores formem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando a pessoa sofre ação de eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio familiar, ou outros fatores geradores de ansiedade. Além disso, as exigências da sociedade por uma forma rotinizada de comportamento e desempenho podem interferir no diagnóstico deste transtorno (PSIQUEWEB, 2005). O baixo desempenho escolar; dificuldades de relacionamento; baixa autoestima; interferências no desenvolvimento educacional e social e, predisposição a distúrbios psiquiátricos são apenas algumas das consequências a que se sujeitam os portadores de TDAH. Se pensarmos na impulsividade excessiva, os impactos negativos sobre o desenvolvimento pessoal e relacionamentos interpessoais é bem direto, gerando frustrações, raiva, rebaixamento da estima e insatisfação geral (AMORIM, 2013). A mesma autora ressalta que na infância, compromete o desenvolvimento em muitos aspectos. Na área social, prejudica os relacionamentos com outras crianças. Uma criança que não saiba esperar, atropelando os outros; não saiba ouvir instruções, explicações ou orientações INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 30 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 até o final; que não tenha controle sobre suas explosões emocionais; que não siga regras em jogos e brincadeiras, terá certamente problemas em conquistar e manter amizades. Muitas vezes, o relacionamento com adultos é mais fácil, por serem estes mais compreensivos (ou permissivos). Já o convívio prejudicado com outras crianças deve ser visto como um sinal de alerta. As comorbidades Alguns autores constataram que indivíduos com TDAH têm altas taxas de comorbidade, sendo que as mais comuns são os Transtornos Ansiosos, Transtornos do Humor, abuso ou dependência de drogas e Transtornos de Personalidade (BIEDERMAN et al., 1993; BARKLEY, MURPHY e KWASNIK, 1996b apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Segundo Mattos e colaboradores (2005) e Gomes e colaboradores (2007), além dos sintomas do transtorno, em mais de 50% dos casos existem comorbidades, destacando-se entre elas: a) Transtorno desafiante de oposição (TOD), que se caracteriza por comportamento desafiador e opositivo (conforme o nome sugere) em relação a figuras de autoridade. b) Transtorno de conduta (TC), que se caracteriza pelo padrão de comportamento no qual se desrespeita os direitos básicos dos outros (mentiras, roubo, crueldade com animais entre outros). c) Abuso de substâncias psicoativas e álcool – em geral o abuso destas substâncias relaciona-se com o comprometimento funcional nas áreas acadêmicas, social e profissional. d) Transtorno de humor – depressão e transtorno bipolar, sendo que o primeiro caracteriza-se por tristeza, irritação, perda de interesse por atividades habitualmente prazerosas, fadiga fácil, insônia ou hiperisônia, enquanto que o transtorno bipolar caracteriza-se pela presença de humor exaltado, euforia alternando-se com momentos de depressão. e) Transtornos de ansiedade, que se caracterizam por medos ou preocupações excessivas que comprometem a vida acadêmica, social e familiar. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 31 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 f) Transtornos de tiques que se caracterizam pela realização de movimentos ou sons vocais repentinos, rápidos, não rítmicos, estereotipados. g) Transtornos de aprendizado, não consideradas aqui as dificuldades primárias decorrentes das próprias características do TDAH (desatenção e impulsividade) e que erroneamente são designadas como transtorno de aprendizagem. Por se tratar de um transtorno, que na maioria das vezes envolve uma multiplicidade de sintomas o diagnóstico do TDAH, é um processo que requer a avaliação de diferentes profissionais como: médicos, psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos. Esta avaliação deve conter uma anamnese minuciosa, um exame físico abrangente, uma avaliação do neuro-desenvolvimento e a realização de exames que tem por objetivo avaliar o rendimento pedagógico, através de dados recolhidos com professores e sua interação social com adultos que interagem com a pessoa que está sendo avaliada (COUTO; MELLO JUNIOR; GOMES, 2010). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 32 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 O DIAGNÓSTICO, A AVALIAÇÃO E O TRATAMENTO DO TDAH O Diagnóstico De acordo com os estudos de Coelho et al. (2010), o diagnóstico para TDAH deve fundamentar-se no quadro clínico comportamental, uma vez que não existe um marcador biológico definido para todos os casos. O DMS-IV classifica os pacientes com TADH em três grupos: TDAH combinado, TDAH predominantemente desatento, TDAH predominantemente hiperativo/impulsivo. Nesse sentido, os critérios para TDAH, segundo o DSM IV (1994), são utilizados para avaliação das crianças e adolescentes, quando é importante a presença de seis dos critérios que envolvem sinais de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Noutrossim, uma história familiar positiva de TDAH ou outro transtorno comportamental, também deve ser indagado, pois, pode ocorrer recorrência familiar significante para tal transtorno (GUILHERME et al., 2007). O risco de TDAH parece ser de duas a oitovezes, maior, nas crianças de pais afetados do que na população em geral. A presença de comorbidades no TDAH torna o diagnóstico mais difícil e exige maior suspeição em relação aos diversos tipos de transtornos comportamentais, sendo uma causa frequente de má resposta terapêutica ao tratamento isolado, com drogas psicoativas. O eletroencefalograma (EEG), o potencial evocado 30017 e estudos de neuroimagem são utilizados para auxiliar no diagnóstico. Avaliações por meio de tomografia por emissão de pósitrons (PET) revelam resultados diferentes em adultos e crianças com TDAH. Nestas, 17 O P300 é um instrumento de investigação do processamento da informação (codificação, seleção, memória e tomada de decisão) e permite avaliar a atividade cortical envolvida nas habilidades de discriminação, integração e atenção do cérebro. O potencial cognitivo P300 é um potencial evocado auditivo de longa latência, gerado a partir da discriminação de um estímulo auditivo raro, dentre outro frequente, de mesma modalidade e características físicas diferentes. A resposta a este estímulo ocorre por volta de 300 mseg após a apresentação do mesmo. Ele é um indicador da velocidade do processamento cortical sendo que a sua resposta envolve várias vias do cérebro como as do tronco cerebral, córtex pré-frontal e temporo-parietal, tálamo, hipocampo e região límbica. O P300 pode estar anormal em pacientes com demência, AVC (derrame), sequela de traumatismo de crânio, insuficiência renal, AIDS, esquizofrenia, TDAH e muitas outras patologias que possam alterar o estado cognitivo do paciente (http://www.centrodetomografia.com.br/exame.php?id=75). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 33 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 ademais, estudos com ressonância nuclear magnética funcional (FRNM) constataram a presença de hipofunção cerebelar (PEREIRA et al., 2003). Em sendo, as crianças desatentas podem apresentar um nível mais alto de isolamento social e retraimento, com níveis mais elevados de ansiedade, depressão e disfunção social; enquanto crianças com predomínio de sintomas de hiperatividade são mais agressivas do que as outras, tendendo a manifestar elevados índices de rejeição pelos colegas e a se tornarem impopulares (COELHO et al., 2010). Frequentemente, a presença de comorbidade torna o prognóstico ainda pior, ao passar do tempo. Em geral, todas as comorbidades necessitam ser abordadas, quer com conduta medicamentosa ou qualquer outra. Uma intervenção adequada pode melhorar tanto a qualidade de vida como o prognóstico desses pacientes. O diagnóstico diferencial com o TDAH deve ser feito com relação à epilepsia, crises de ausência na infância, déficits visual ou auditivo, doenças neurodegenerativas, patologias da tiroide, distúrbios do sono como dissonias e parassonias, doenças psiquiátricas e, de forma particular, causas psicossociais. Deve-se suspeitar destas etiologias, porque podem levar a sintomas algumas vezes bastante semelhantes ao quadro de TDAH. Ressalte-se que uma avaliação rápida, superficial, não evolutiva ou baseada em relatos confusos impede a correta avaliação dessa patologia (COELHO et al., 2010). Nesse aspecto e, para Capovilla (2006), o distúrbio TDAH é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete anos, portanto, o diagnóstico do TDAH é clínico, embora seus sinais possam ser detectados precocemente pelo pediatra que acompanha a criança; sendo essencial o conhecimento da história do sujeito, a partir da observação dos pais e dos professores. As características gerais da história da criança com TDAH aparecem resumidas na tabela abaixo: Fases Características Lactente Bebê difícil, insaciável, irritado e de difícil consolo, com maior INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 34 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 prevalência de cólicas, dificuldades de alimentação e sono. Pré-escolar Atividade aumentada ao usual, dificuldades de ajustamento, teimosia, irritação e extremamente difícil de satisfazer. Escola elementar Incapacidade de colocar foco, distração, impulsivo, desempenho inconsciente, presença ou não de hiperatividade. Adolescência Inquieto e com desempenho inconsistente, sem conseguir colocar foco, dificuldade de memória na escola, abuso de substância, acidentes. Fonte: Rhode et al. (2004 apud COUTO, MELLO-JUNIOR e GOMES, 2010, p. 245) Outras justificativas para se fazer o diagnóstico e tratar a criança ou adulto com TDAH são: Primeiro, é importante se fazer o tratamento desse transtorno para que a criança não cresça estigmatizada como o “bagunceiro da turma” ou como o “vagabundo”, ou como o “terror dos professores”. Segundo, é importante fazer o tratamento para que a criança não fique durante anos com o desenvolvimento prejudicado na escola e na sua vida social, atrasada em relação aos outros colegas numa sociedade cada vez mais competitiva. Terceiro, é importante fazer um tratamento do transtorno para se tentar minimizar consequências futuras do problema, como a propensão ao uso de drogas (o que é relativamente frequente em adolescentes e adultos com o problema), transtorno do humor (depressão, principalmente) e transtorno de conduta. O diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde capacitado, geralmente neurologista, pediatra ou psiquiatra, podendo ser auxiliado por alguns testes psicológicos ou neuropsicológicos, principalmente em casos duvidosos, como em adultos, mas mesmo em crianças, para o acompanhamento adequado do tratamento. O guia apresentado abaixo foi extraído do Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (1995). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 35 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Ele é utilizado por profissionais especializados em TDAH para o diagnóstico clínico. Aqui daremos apenas uma ideia de como tal diagnóstico é feito. Critério A: Assinale com um X na coluna correta 1 -N u n c a o u ra ra m e n te 2 -P o u c o 3 - B a s ta n t e 4 - Q u a s e s e m p re 1. Ele presta pouca atenção em detalhes e faz erros por falta de atenção nos deveres? 2. Ele mexe com as mãos e pés quando está sentado ou se mexe muito na cadeira? 3. Ele tem dificuldade de ficar concentrado nos deveres e também nos jogos? 4. Ele sai do lugar na sala de aula ou em outras situações (ex: mesa de jantar) quando deveria ficar sentado? 5. Ele parece estar prestando atenção em outras coisas quando se fala com ele? 6. Ele corre ou sobe nas coisas quando deveria ficar tranquilo? 7. Ele tem dificuldade em seguir instruções até o fim ou deixa os deveres sem terminar? 8. Ele tem dificuldade de ficar em silêncio enquanto brinca? 9. Ele é desorganizado com os deveres e outras atividades no dia-a-dia? 10. Ele é “elétrico” e fica “a mil por hora?” INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 36 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 11. Ele evita ou antipatiza com deveres ou atividades que exijam concentração? 12. Ele fala demais? 13. Ele perde material da escola ou coisas do dia-a- dia? 14. Ele responde às perguntas antes dos outros terminarem de falar? 15. Ele se distrai com facilidade com coisas fora daquilo que está fazendo? 16. Ele tem dificuldade de esperar a vez? 17. Ele se esquece de coisas que deveriafazer no dia-a-dia? 18. Ele interrompe os outros ou se mete na conversa dos outros? CRITÉRIO B: Responda SIM ou NÃO Alguns desses sintomas estavam presentes antes dos 07 anos de idade? CRITÉRIO C: Responda SIM ou NÃO Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 02 contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa)? CRITÉRIO D: Responda SIM ou NÃO Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta dos sintomas? CRITÉRIO E: Responda SIM ou NÃO Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental, psicose, etc.), os sintomas podem ser atribuídos a ele? Como suspeitar do diagnóstico: 1) É necessário haver pelo menos 06 sintomas assinalados na coluna laranja ou vermelha, no CRITÉRIO A. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 37 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Pelo menos 06 sintomas ÍMPARES e menos que 06 sintomas PARES: TDAH Tipo Predominantemente Desatento Pelo menos 06 sintomas PARES e menos que 06 sintomas ÍMPARES: TDAH Tipo Predominantemente Hiperativo-Impulsivo 6 ou mais sintomas ÍMPARES e 06 ou mais sintomas PARES: TDAH Tipo Combinado. 2) Os CRITÉRIOS B, C, D devem obrigatoriamente ter resposta SIM. 3) O CRITÉRIO E necessita da avaliação de um especialista, uma vez que os sintomas do Critério A ocorrem em muitos outros transtornos da infância e adolescência. Se os critérios A, B, C, D e E estiverem atendidos de acordo com o julgamento de um especialista, o diagnóstico de TDAH é garantido. FONTE: Manual de Diagnóstico e Estatística – IV Edição (DSM-IV) da Associação Psiquiátrica Americana (1995). Obs.: O diagnóstico definitivo só pode ser fornecido por um profissional. Para se fazer o diagnóstico, 06 (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção ou hiperatividade devem persistir por, pelo menos, 06 meses em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento. Os distúrbios podem ter início na primeira infância (crianças excessivamente sensíveis a estímulos e facilmente perturbadas por ruídos, luz, temperatura, etc.; ou às vezes o inverso: crianças dóceis, sem energia, dormem a maior parte do tempo, e parecem desenvolver-se muito lentamente nos primeiros meses). Dificuldades na escola, tanto de aprendizagem quanto comportamentais são comuns devido à distractibilidade e atenção flutuante das crianças, que dificultam a aquisição, retenção e demonstração dos conhecimentos. As reações adversas dos professores, a redução da autoestima e comentários adversos de outros grupos pode transformar a escola num lugar de infelicidade e frustração. Isso pode levar a uma atuação antissocial e a comportamentos autodestrutivos e autopunitivos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 38 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Vale a pena conferir o Documento da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG) que contém as Diretrizes Clínicas – Procedimento Operacional Padrão – Protocolo Clínico contendo o Diagnóstico, Tratamento do TDAH em crianças e adolescentes. Sua última revisão disponível na internet é de agosto de 201218. A Avaliação Segundo Benczik (2000), as escalas de verificação de comportamento têm uma importante tradição na avaliação de estudantes com déficit de atenção e hiperatividade, embora com vantagens e limitações. Elas permitem obter informações referentes à extensão na qual o indivíduo exibe certas características relativas a outros do mesmo sexo e idade, entretanto, as escalas não são totalmente suficientes para reunir a singularidade do indivíduo, de forma que fornecem informações relevantes, mas essencialmente aquelas relativas a dimensões pré-determinadas, ou seja, avalia apenas as dimensões propostas pelo instrumento, não contemplando todas as dimensões e características pertinentes ao indivíduo. Daí o fato desta técnica ser apontada como incapaz de retratar um quadro completo e acurado do comportamento atual da pessoa. Vale ressaltar, no entanto, que essa é uma crítica inerente aos instrumentos de avaliação psicológica, o que justifica a importância do profissional, ao realizar uma avaliação, empregar técnicas complementares (observações, entrevistas, escalas, testes, técnicas projetivas), de forma a obter informações diversificadas e representativas do sujeito, o que vai ao encontro das noções mais atuais referentes a processos de avaliação psicológica. Muitas das escalas para avaliar o TDAH voltaram-se aos sintomas primários da desordem, mas diversas outras foram elaboradas para avaliar outros tipos de comportamentos associados, como: agressão, passividade, imaturidade e conduta não complacente (MONTAGUE, MCKINNEY e HOCUTT, 1994; BURCHAM e DE MERS, 1995 apud BENCZIK, 2000). De 18 Disponível em: <http://www.fhemig.mg.gov.br/pt/downloads/doc_download/1016-026-tdah- diagnostico-e-tratamento-do-transtorno-de-deficit-de-atencao-em-criancas-e-adolescentes>. Acesso em: 4 jan. 2015. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 39 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 maneira geral, esse tipo de instrumento dá ao profissional de saúde mental uma melhor compreensão de quem vê a conduta como problemática e de como diferenças percebidas em graus de desvios variam em função dos efeitos do ambiente (EDELBROCK, 1983 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Dentro do processo de avaliação, as escalas de verificação de comportamentos tornam-se muito úteis como “ferramentas auxiliares” no processo diagnóstico. Salientamos que o objetivo da avaliação nos casos do TDAH não é de qualquer forma rotular indivíduos ou estigmatizá-los, mas sim avaliar e determinar a extensão na qual os problemas de atenção e hiperatividade interferem em suas habilidades acadêmicas, afetivas e sociais e, a partir desta avaliação, fornecer um plano apropriado de intervenção (MONTAGUE, MCKINNEY e HOCCUTT, 1994 apud BENCZIK; SCHELINI; CASELLA, 2010). Uma avaliação bem conduzida, utilizando instrumentos adaptados e com evidências de validade e precisão, permite a tomada de decisões adequadas, tendo em vista um melhor funcionamento em termos da saúde mental do adolescente e do adulto. Em relação à validade de instrumentos psicológicos, sejam estes inventários, escalas ou testes, tradicionalmente são caracterizados três tipos: validade de conteúdo, de critério e de construto. Dentre as formas mais frequentes de se verificar a validade de construto, destacam-se as correlações com outros testes que meçam o mesmo construto, a consistência interna dos itens, mudanças desenvolvimentais, análise fatorial e intervenções experimentais (ANASTASI e URBINA, 2000). À medida que se apresentam mais estudos a respeito de diferentes tipos de validade sobre um determinado instrumento, maior a segurança na interpretação de seus resultados. Há muitas escalas americanas que têm como objetivo avaliar os sintomas de TDAH, como por exemplo: a Attention Deficit Scales for Adults – ADSA (TRIOLO e MURPHY, 1996), a Self-Report Rating Form (MCCARNEY, 1996) e a Copeland Symptom Checklist for Adult Attention Deficit Disorders (COPELAND, 1989). Porém, o mesmo não acontece no Brasil. O único questionário denominado ASRS-18 (versão 1.1) - Adult Self- Report Scale foi desenvolvido por Kessler et al. (2006), juntamente com a Organização Mundial de Saúde. Este questionário consta de 18 perguntas, em INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO TDAH: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE 40 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 que o examinando deve responder com que frequência os itens ocorrem. Os itens contidos