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Laísa Dinelli Schiaveto Doença Celíaca DEFINIÇÃO A Doença Celíaca é uma doença sistêmica imunomediada (enteropatia) causada pela ingestão de alimentos que contém glúten, em indivíduos geneticamente predispostos. É caracterizada por: • Sintomas de má absorção intestinal, com evidente esteatorreia; • Mucosa jejunal com aspecto celíaco, ou seja, sem vilosidades, achatada e com hiperplasia de criptas, sendo uma lesão causada por reação imunológica; • Remissão clínica e histológica quando submetida à dieta sem glúten; • Recorrência clínica e histológica após a reintrodução do glúten, uma vez que a inabilidade de tolerar o glúten é permanentemente. Apresenta elevada prevalência, sendo uma doença subdiagnosticada devido à variedade de manifestações clínicas. EPIDEMIOLOGIA Apresenta uma pequena predominância entre as mulheres e não foram descritos casos entre japoneses e chineses. ETIOLOGIA É complexa, envolvendo fatores genéticos múltiplos e diferentes fatores imunológico. FISIOPATOLOGIA Na doença celíaca, os processos de esfoliação celular, de exsudação e de secreção estão exacerbados devido à hipersensibilidade ocasionada pela presença dos componentes do glúten, principalmente a gliadina e a prolamina. A transglutaminase tecidual retira o grupo amina da gliadina e, assim, a gliadina desaminada ativa o linfócito CD4 gliadina específico HLA-DQ2, que, por sua vez, sinaliza a produção de linfócitos Th1 e Th2. Os linfócitos Th1 promovem aumento de TNFa, fazendo com que ocorra aumento na produção de fibroblasto e de metaloproteinases. Como consequência, há atrofia das vilosidades e hiperplasia das criptas do intestino delgado proximal. Já, os linfócitos Th2, que produzem memória, aumentam a produção inicial de IgA e IgG, levando a produção dos anticorpo antigliadina, anticorpo antiendomíseo e anticorpo transglutaminase tecidual. Portanto, esses processos levam à: • Redução da área absortiva; • Alteração dos mecanismos de cisão molecular de nutrientes, como os dissacarídeos e os peptídeos; • Alteração nos processos de transporte intracelular, principalmente em relação às gorduras, pois a deficiência de ATPase reduz a síntese e a formação de quilomícrons; • Redução da digestão luminal de proteínas pela deficiência de enteroquinase (enzima da borda estriada ativadora das pré-enzimas proteolíticas pancreáticas). HISTOPATOLOGIA (CLASSIFICAÇÃO DE MARSH) GRAU 0 = estágio pré-infiltrativo (normal). GRAU 1 = lesão infiltrativa (aumento do número de linfócitos intraepiteliais). GRAU 2 = lesão hiperplásica (grau 1 e hiperplasia das criptas). GRAU 3 = lesão destrutiva (grau 2 e atrofia vilositária). - Grau 3A: atrofia vilositária parcial; Laísa Dinelli Schiaveto - Grau 3B: atrofia vilositária subtotal; - Grau 3C: atrofia vilositária total. GRAU 4 = lesão hipoplásica (atrofia vilositária total com hipoplasia críptica). Obs.: Os graus 2 e 3 são os compatíveis com a doença celíaca. CLÍNICA Em geral, os sintomas aparecem no segundo semestre de vida, pois é quando ocorre a introdução alimentar. Forma Clássica É responsável por 52% dos casos, sendo caracterizada por uma maior porcentagem de sintomas gastrointestinal, além de apresentar um quadro insidioso e progressivo. - Anorexia; - Vômitos; - Irritabilidade; - Fezes mais volumosas com agravamentos intermitentes; - Má evolução ponderoestatural; - Redução de panículo adiposo e massa muscular; - Músculos hipotônicos; - Cabelos secos e quebradiços; - Pele xerótica. Além disso, as crianças se tornam mais tristes, irritadiças e apáticas, podendo apresentar edema consequente a hipoproteinemia e fenômenos purpúricos devido a não absorção da vitamina K. Forma Oligossintomática ou Frusta É responsável por 40% dos casos, sendo caracterizada pela ausência de alguns sinais e sintomas e atenuação de outros. Os sinais e sintomas mais frequentes são diarreia e distensão abdominal, enquanto o menos frequente é a anorexia. Além disso, não há comprometimento intenso da estatura. Forma Atípica Forma Atípica Digestiva (6%) - Anorexia; - Vômitos; - Distensão abdominal; - Constipação; - Retardo do crescimento. Forma Atípica Extradigestiva (2%) - Edema discrásico; - Anemia por deficiência de ferro refratária à ferroterapia oral e/ou por deficiência de folato e vitamina B12 refratária à terapia com complexo vitamínico; - Artralgias ou artrites; - Fraqueza; - Déficit estrutural; - Tetania; - Hemorragias; - Hipoplasia do esmalte dentário; - Dermatite herpetiforme: lesões de pele papulovesiculares, intensamente pruriginosas, geralmente distribuídas de forma simétrica na regiões extensoras, acometendo, pelo menos, umas das seguintes áreas: cotovelos, joelhos, nádegas e região escapular. Forma Latente ou Assintomática São aqueles indivíduos que geralmente não possuem sintomas, mas possuem parentes com história e positividade para a doença celíaca e sintomas que melhoram com a exclusão do glúten. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito através da história clínica, do exame físico, dos exames laboratoriais e da biópsia intestinal. Quando há suspeita de criança com doença celíaca ou quando a criança se encaixa no grupo de risco para doença celíaca, deve-se realizar uma dosagem de anti-transglutaminase tecidual IgA (TGA-IgA) e uma dosagem de IgA total. Se positivo, realiza-se um novo teste (segunda amostra) de TGA-IgA e anticorpo antiendomísio IgA. Se positivos, há duas Laísa Dinelli Schiaveto condutas: não realizar a biópsia ou realizar a biópsia. Para NÃO realizar a biópsia, TODOS os seguintes critérios devem ser preenchidos: - Sintomas sugestivos de doença celíaca (particularmente má absorção); - Níveis séricos de anticorpo anti- transglutaminase IgA (TGA-IgA) ≥ 10 vezes o limite da normalidade; - Presença de anticorpo anti-endomísio (EMA-IgA) em segunda amostra sanguínea; - Positividade do antígeno leucocitário (HLA) de risco para doença celíaca, alelos DQ2 e/ou DQ8. Obs.: Pede-se IgA total, pois, se vier fora dos valores de normalidade, pode ocasionar um falso-positivo no teste TGA-IgA. Obs.: Os riscos de falso-negativo são: baixa ou pequena duração do consumo de glúten, uso de imunossupressores e manifestações extraintestinais. Obs.: No SUS, nem sempre é possível a realização do teste genético e, por isso, muitas vezes, é descartado como critério de não biópsia. No entanto, a SBP recomenda fortemente a realização do teste genético. Já, quando não há preenchimento dos critérios, a biópsia deve ser realizada. Dessa forma, são retiradas 4 amostras do duodeno distal, sendo realizada a histopatologia de acordo com a classificação de Marsh. Se Marsh igual à grau 2 ou 3, há confirmação da doença celíaca. Se Marsh igual à grau 1, deve-se revisar a qualidade e a orientação da biópsia com um patologista experiente. E, se na revisão continuar Marsh igual à grau 0 ou 1, tem-se as seguintes opções: - Consultar com um centro especializado em doença celíaca; - Considerar falso-positivo do teste TGA-IgA e do EMA-IgA; - Considerar realizar novos testes, como HLA e depósitos de TGA; - Acompanhamento e reteste com um consumo normal de glúten; - Considerar a relevância dos sintomas. TRATAMENTO Consiste na retirada total do glúten da dieta, para sempre, pois é uma hipersensibilidade permanente.
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