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Laísa Dinelli Schiaveto Transtorno Obsessivo Compulsivo DEFINIÇÃO O transtorno obsessivo compulsivo sempre foi considerado um transtorno de ansiedade, porém notou-se que a ansiedade do TOC é secundária a presença de obsessões. Assim, atualmente, é considerado um transtorno do controle de impulsos. De acordo com os critérios do DSM-5, há a presença de obsessões/compulsões ou ambos, de modo que haja sofrimento. Assim, espera-se que estes causem sofrimento, durem mais de uma hora por dia e tenham interferência no cotidiano do indivíduo. Assim, as obsessões e/ou compulsões tomam tempo (mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcional social, profissionais ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. EPIDEMIOLOGIA • Afeta 2% da população geral; • 10ª causa de doença mais incapacitante; • Afeta igualmente homens e mulheres; • Na infância, há predomínio em meninos; • O predomínio no sexo feminino, ocorre inicialmente na idade adulta; • Acomete mais solteiros; • É frequentemente crônico e potencialmente incapacitante, sendo marcado por prejuízo social e ocupacional; • Apresenta quadro muito variável: quadros de flutuações, quadros com melhora após um episódio e quadros crônicos; • Alto nível de comorbidades: depressão, ansiedade e transtorno de personalidade; • Tentativa de suicídio: 10-50% dos casos. OBSESSÕES (1) Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes, em alguns momentos, experimentados como intrusivos ou indesejados, que, na maioria dos casos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento. (2) O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. (3) Não são simplesmente preocupação com os problemas do cotidiano. (3) O paciente sabe que o pensamento é produto de sua própria mente, mas não consegue evitá-los. EM RELAÇÃO AOS SINTOMAS OBSESSIVOS: • DE VERIFICAÇÃO: sempre julgando que ocorrerá algo ruim (ex.: se não atropelou alguém). • DE LIMPEZA E CONTAMINAÇÃO: rituais de limpeza (ex.: do próprio ambiente ou do corpo). • OBSESSÕES SEXUAIS. • ORDENAÇÃO E ARRANJO. COMPULSÕES (1) Comportamentos repetitivos (ex.: lavar as mãos, organizar e verificar) ou atos mentais (ex.: orara, contar ou repetir palavras em silencio), que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras rígidas. (2) Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento ou evitar evento ou situação temida, entretanto, as compulsões não têm conexão realista com o que buscam neutralizar ou evitar e são, claramente, excessivos. (3) O ritual podem ser interminável. (4) As compulsões são rituais mentais implícitos; daí a grande dificuldade de diagnóstico, pois o indivíduo pode não querer falar por crer estar enlouquecendo e, por isso, há pequena busca por tratamento no TOC; assim, o atraso, para o início do tratamento, chega a ser de até 14 dias. Laísa Dinelli Schiaveto - Ex.: uma obsessão frequente é estar ofendendo a Deus, o que pode ocasionar a compulsão de rezar repetidamente. OBS.: Em crianças pequenas não se exige que tenham obsessões e estas podem não conseguir explicar os rituais apresentados. Nesse sentido, a resposta delas é “porque quero ou preciso fazer!”. FISIOPATOLOGIA ESTRUTURAS ENCEFÁLICAS CÓRTEX PRÉ-FRONTAL DORSOLATERAL: atenção, tomada de decisão, funções cognitivas e de memória. CÓRTEX CINGULADO ANTERIOR: atenção, motivação, recompensa, detecção de erro, memória operacional, planejamento e soluções de problemas. CÓRTEX ÓRBITO-FRONTAL: integração de processamento emocional, envolvimento nos circuitos de recompensa, adaptação comportamental de acordo com estímulos ambientais e aspectos motivacionais da tomada de decisão. ESTRIADO: aprendizado procedimental e formação de hábitos e rotinas. CIRCUITO CEREBRAL No TOC, há uma menor capacidade de execução de filtro dos estímulos aferentes e eferentes pelos gânglios da base e em direção ao córtex cerebral. Além disso, há um déficit na modulação emocional da informação e uma dificuldade na detecção de erro. OBS.: Sabe-se que os gânglios da base estão relacionados tanto no TOC quanto na Síndrome de Gilles e na Síndrome de Tourette. NEUROTRANSMISSORES As hipóteses que justificam a fisiopatologia do TOC são de origem serotoninérgica e dopaminérgica. - Às vezes, há uma resposta não tão favorável ao uso de ISRS que, com o uso crônico, melhora. - A clomipramina, o mais serotoninérgico dos antidepressivos tricíclicos, talvez fosse a melhor escolha, em monoterapia, se não fossem os efeitos colaterais. - A proposta atual é a associação com antipsicóticos, especialmente aripiprazol ou risperidona. ESTUDOS GENÉTICOS Os estudos genéticos tentam estabelecer padrões de transmissão e hereditariedade do TOC: • Tem-se explicado por um modelo complexo de segregação. • Tem-se estudado marcadores periféricos de serotonina. Assim, atualmente, as evidências que se tem são: • Fatores biológicos e genéticos são importantes na expressão do TOC. • Modelo complexo de segregação: múltiplos genes de efeito menor interagindo com fatores ambientais. • Resultados diversos em estudos talvez como reflexo da variedade fenotípica do TOC. • Associação positiva entre comorbidade com transtornos de tiques e alguns genes relacionados à dopamina e ao TOC. • Resultados sobre transmissão de TOC de acordo com cluster sintomático ainda são insipientes, mas esta hipótese está descartada. Laísa Dinelli Schiaveto CARACTERÍSTICAS GERAIS DO TOC Os sintomas obsessivos-compulsivos (SOC) não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância ou outra condição clínica. Assim, a perturbação não é melhor explicada pelos sintomas de outros transtorno mental. COMORBIDADES A ocorrência de comorbidades é regra no TOC, ocorrendo em 90% dos casos. Destacam-se entre elas: • Depressão: 2/3 dos casos • Fobia social: 14-40% • Fobia específica: 15,1-27% • Agorafobia: 9% • Transtorno do pânico: 11,7-22,1% • TAG: 19,5-31,4% • TEPT: 19% • Transtorno de ansiedade de separação: 18% OBS.: Na infância, o TOC associado a ansiedade é o com ansiedade de separação; entretanto, há casos de TOC desencadeados por TEPT. SUICIBILIDADE A psicanálise julgava que o obsessivo não se matava, crendo que essa obsessão seria uma defesa contra a psicose, visto que o suicídio é considerado um fenômeno mais psicótico. Entretanto, percebeu-se que no TOC a tentativa de suicídio é bastante alta. • TENTATIVA MÉDIA: 14% • IDEAÇÃO SUICIDA: 26-73% Dos indivíduos que fizeram cirurgia para TOC (capsulotomia), no “follow-up” se percebeu que 3 de 70 pacientes, se suicidaram, mas ainda não se sabem as razões para isso. Os pacientes que optam pela cirurgia são os refratários, ou seja, os casos mais graves. Assim, imagina-se que é altamente frustrante o fato de a cirurgia não ter sido bem sucedida. Destaca-se que, o suicídio não é considerado como efeito colateral da cirurgia, pois, nesses casos, o TOC é grave. TRATAMENTO PRINCÍPIOS GERAIS 1. ABORDAGENS PSICOLÓGICAS: • Terapia cognitiva-comportamental; • Terapias: em grupo e/ou individual. OBS.: É muito importante começar o tratamento com psicoeducação. Dessa forma, o psicólogo ou o psiquiátrica tem que explicar sobre a doença para engajar o paciente no tratamento, que sempre é melhor quando há psicoterapia concomitante. OBS.: As terapias são importantes para o resultado eficaz do tratamento e, quando não há adesão, pode complicar o caso. 2. ABORDAGENS SOMÁTICAS: • Farmacoterapia; • Neurocirurgia. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO 1. ISRS (fluoxetina, sertralina, fluvoxamina, citalopram, escitalopram e paroxetina): - VANTAGENS: efeitos terapêuticos sobre quadrosdepressivos e ansiosos, geralmente associados ao TOC; melhor perfil de tolerabilidade. - EFEITOS COLATERAIS: náuseas, diarreias, agitação, insônia, sonhos vívidos, diminuição de libido, disfunções sexuais e sudorese. - ESCOLHA DO FÁRMACO: tolerabilidade, perfil individual de resposta, interações medicamentosas, acessos e resposta prévia. - MONOTERAPIA: demostra melhores resultados do que a venlafaxina e os antipsicóticos. Laísa Dinelli Schiaveto - COMPARAÇÃO COM A CLOMIPRAMINA: as evidências sugerem igual potência de tratamento, porém os efeitos colaterais dos ISRS costumam ser mais bem tolerados. - RESPOSTAS AOS ISRS NO TOC: - 80% melhoram; - 60% respondem; - 40% não respondem. OBS.: A substituição de um ISRS por outro, em monoterapia, em quadros aparentemente refratários não demonstrou benefício. Assim, não há evidências concretas de superioridade de um ISRS em relação ao outro quanto aos efeitos terapêuticos no manejo do TOC. 2. CLOMIPRAMINA: - VANTAGENS: dos antidepressivos tricíclicos, é o único com boa ação serotoninérgica, com bloqueio de transportadores de serotonina (SERT), atuando de forma análoga aos ISRS. - DESVANTAGENS: menor tolerância em relação aos ISRS. - EFEITOS COLATERAIS: anti-histamínico (sedação e ganho de peso), anti- muscarínico (boca seca, turvação visual, retenção urinária e constipação intestinal), bloqueio alfa-adrenérgico (hipotensão postural e tontura) e bloqueio fraco de canais de sódio voltagem-dependente (intoxicação grave em superdosagem, coma, convulsões, arritmias, parada cardiorrespiratória e óbito). OBS.: Sua escolha como segunda linha decorre dos efeitos colaterais e risco de intoxicação grave, características dos tricíclicos de maneira geral. 3. ANTIPSICÓTICOS (haloperidol, risperidona, quetiapina, olanzapina e aripiprazol) + ISRS OU CLOMIPRAMINA: - Evidências demonstram eficácia e resposta em aproximadamente 1/3 dos pacientes refratários à monoterapia. - Pacientes com resposta mínima a ISRS ou com tratamento de tique comórbidos são os mais propensos à resposta terapêutica. - Associação apenas após a ausência de resposta à dose máxima tolerada do fármaco de primeira linha por 12 semanas. - RISPERIDONA: doses equivalentes a 0,5- 3,0 mg/dia RESPOSTA E MANEJO No TOC, a resposta ao tratamento costuma ser lenta devido ao tempo de ação da serotonina sobre o padrão de sensibilidade dos receptores pré e pós-sinápticos. Os ISRS e a clomipramina induzem melhora de 40-60% dos casos, sendo que a redução de sintomas é mais comum do que a remissão completa. Além disso, a monoterapia com ISRS requer usualmente doses elevadas de medicamentos, às vezes podendo chegar a níveis off-label, conforme a tolerabilidade do paciente. Assim, é fundamental avaliar o risco-benefício. DOSES RECOMENDADAS EM ADULTOS: - Fluoxetina: 40-80 mg/dia - Fluvoxamina: 200-300 mg/dia - Paroxetina: 40-60 mg/dia - Sertralina: 50-200 mg/dia - Citalopram: 20-40 mg/dia (20 mg em idosos) - Escitalopram: 20-40 mg/dia - Clomipramina: 100-250 mg/dia - Venlafaxina: 225-350 mg/dia Para que o tratamento para TOC seja efetivo, em crianças, deve-se ter em mente que esse tratamento requer doses até maiores que as dos adultos. Destaca-se que é fundamental pedir níveis séricos das medicações usadas, pois o metabolismo hepático das crianças é mais acelerado. Ainda, na infância, não se deve usar antidepressivos tricíclicos e nem bupropiona, uma vez que o metabolismo não está completo. TRATAMENTO CIRÚRGICO As terapias cirúrgicas são baseada em circuitos neuronais, sendo elas: neurocirurgia, estimulação cerebral profunda e estimulação magnética transcraniana. Laísa Dinelli Schiaveto A cirurgia não é aberta. Coloca-se um capacete/colímero com furos por onde vão os raios g de uma fonte de cobalto. Então, o local onde será “queimado”, após se fazer a ressonância magnética, fica 10 horas recebendo estas ondas, sendo que a fixação é feita por parafusos. Os resultados são promissores: DIFICULDADES NO TRATAMENTO • A busca por tratamento é baixa: 14-56%. • Os pacientes temem estar enlouquecendo. • O atraso no diagnóstico é de até 14 dias. • O diagnóstico diferencial pode ser difícil. • O médico precisa ter manejo peculiar na parte farmacológica e na psicoterapia. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS GERAL: • Síndrome de Tourette; • Fobias; • TAG; • Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsiva; • Transtornos alimentares: assemelha-se a anorexia; • Hipocondria; • Psicose; • Doença de Hungtinton; • AVC; • Parkinson; • Coréia de Sydenhan. DE OBSESSÕES: • Ruminações depressivas; • Preocupação normais; • TAG; • Preocupações ou imagem do TEPT; • Preocupações hipocondríacas. DE COMPULSÕES: • Impulsos: atos automáticos como se houvesse um curto-circuito dentre deliberação e ação; • Tiques complexos: parecidos com compulsões, mas ocorrem na síndrome de Tourette. CONCLUSÕES 1. Evidências amplamente documentadas apontam que o TOC apresenta fisiopatologia complexa, de múltiplas bases neuroanatômicas e neurofuncionais, destacando-se, primariamente, o papal de serotonina e, secundariamente, o papel da dopamina, como protagonistas das disfunções que resultam em comportamentos obsessivos e compulsivos. 2. Existe um padrão de hereditariedade para o TOC, segundo o modelo complexo de segregação. 3. As diretrizes e consensos são unânimes ao definir a utilização de ISRS como primeira linha no tratamento. 4. A clomipramina parece ser igualmente eficaz em relação aos ISRS no tratamento, porém, devido à sua menor tolerabilidade, torna-se como segunda linha. 5. Antipsicóticos são importantes potencializadores de ISRS ou clomipramina, sobretudo em casos de baixa resposta à primeira linha ou quando há transtornos de tique comórbidos. 6. O tratamento farmacológico para o TOC costuma ter longa duração, requerendo altas doses de medicamentos e resultando em melhora, sem remissão total, em grande parte dos casos.
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