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CANNABIS FONTE: Compêndio, p. 660. DSM-V, p. 554 INTRODUÇÃO ❖ A droga ilegal mais utilizada no mundo Ao longo dos últimos 30 anos, ela se tornou uma parte da cultura jovem na maioria das sociedades desenvolvidas, com o primeiro uso atualmente ocorrendo entre a metade e o fim da adolescência. PREPARAÇÃO DE CANNABIS Preparações de Cannabis são obtidas a partir da planta Cannabis sativa. A planta tem formas masculina e feminina. A planta feminina contém as maiores concentrações de mais de 60 canabinoides, exclusivos da planta. O delta- 9-tetraidrocanabinol (delta-9-THC) é o principal canabinoide responsável pelos efeitos psicoativos da Cannabis. As formas mais potentes se originam das florescências das plantas ou do exsudato resinoso de coloração preta e marrom das folhas, chamado haxixe. A planta Cannabis costuma ser cortada, seca, picada e enrolada na forma de cigarros (também chamados “cigarrinhos do capeta” ou “fininhos”), que são fumados. EPIDEMIOLOGIA Prevalência e tendências recentes ❖ Estima-se que 19 milhões de indivíduos a partir dos 12 anos de idade (7%) tenham usado maconha no mês anterior. Em 2012, aproximadamente 1% dos alunos do 8º ano, 4% dos alunos do 10º ano e 7% dos alunos do 12º ano relataram uso diário de maconha. Correlatos demográficos Uso de maconha por indivíduos do sexo masculino é quase o dobro do sexo feminino a partir dos 26 anos. Essa diferença entre sexo fica menor no caso de usuários mais jovens, dos 112 aos 17 anos, não há diferença significativa. Raça e etnia também estiveram relacionadas ao uso de maconha, mas a proporção varia conforme a faixa etária. Entre indivíduos dos 12 aos 17 anos, brancos apresentaram índices mais elevados de uso de maconha durante a vida e no ano anterior do que negros. Entre indivíduos dos 17 aos 34 anos de idade, brancos relataram níveis mais elevados de uso durante a vida do que negros e hispânicos. Já na faixa etária a partir dos 35 anos, brancos e negros relataram os mesmos níveis de uso. NEUROFARMACOLOGIA O principal componente da Cannabis é o delta-9- THC; contudo, a planta contém mais de 400 componentes químicos, dos quais cerca de 60 estão quimicamente relacionados ao delta-9-THC. Em seres humanos, o delta-9-THC é rapidamente convertido em 11-hidróxi-delta-9-THC, o metabólito ativo no SNC. Um receptor específico para os canabinóis foi identificado, clonado e caracterizado. O receptor canabinoide, um membro da família de receptores ligados à proteína G, está ligado à proteína G inibitória (Gi), a qual está ligada à adenilciclase de maneira inibitória. O receptor canabinoide é encontrado em suas concentrações mais elevadas nos gânglios basais, no hipocampo e no cerebelo, sendo que concentrações mais baixas encontram-se no córtex cerebral. Esse receptor não é encontrado no tronco encefálico, um fato consistente com os efeitos mínimos da Cannabis sobre as funções respiratória e cardíaca. Estudos com animais demonstraram que os canabinoides afetam os neurônios de monoamina e ácido γ-aminobutírico (GABA). Obs: Em seres humanos, sintomas de abstinência limitam-se a aumentos modera�dos de irritabilidade, inquietação, insônia, anorexia e náusea leve; todos esses sintomas surgem apenas quando o indivíduo interrompe o uso de doses elevadas de Cannabis. Ao se fumar Cannabis, os efeitos de euforia surgem em minutos, atingem o auge em aproximadamente 30 minutos e duram de 2 a 4 horas. Alguns efeitos motores e cognitivos podem durar de 5 a 12 horas. A Cannabis também pode ser ingerida por via oral quando misturada a alimentos, como bolos. O dobro ou triplo de Cannabis precisa ser ingerido por via oral para ter o mesmo efeito da inalação da sua fumaça. Muitas variáveis afetam suas propriedades psicoativas, incluindo a potência do tipo de Cannabis usado, a rota de administração, a técnica de fumo, os efeitos de pirólise sobre o conteúdo canabinoide, a dose, o local e a experiência anterior o usuário, suas expectativas e a vulnerabilidade biológica própria aos efeitos dos canabinoides. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os efeitos físicos mais comuns da Cannabis são 1. dilatação dos vasos sanguíneos da conjuntiva (olhos injetados) 2. taquicardia leve Em doses elevadas, pode surgir hipotensão ortostática. Efeitos comuns da intoxicação por Cannabis são: ❖ aumento do apetite – frequentemente chamado de “larica” – ❖ boca seca O fato de que não há casos evidentes documentados de morte causada por intoxicação com Cannabis por si só reflete a ausência de efeitos da substância sobre a frequência respiratória. Os efeitos adversos potenciais de maior gravidade são os causados pela inalação dos mesmos hidrocarbonos carcinogênicos presentes no tabaco convencional, sendo que dados indicam que indivíduos que fazem uso intenso de Cannabis correm risco de doença respiratória crônica e câncer de pulmão. Vários relatórios indicam que o uso de longo prazo de Cannabis está associado a atrofia cerebral, suscetibilidade a convulsões, dano cromossômico, doenças congênitas, prejuízo da reatividade imunológica, alteração nas concentrações de testosterona e desregulação do ciclo menstrual. Esses relatos, no entanto, não foram reproduzidos de forma conclusiva, e a associação entre tais achados e o uso de Cannabis não está estabelecida. TRANSTONO POR USO DE CANNABIS O risco de desenvolver dependência é de aproximadamente 1 entre 10 para qualquer pessoa que use a substância. Quanto mais cedo ocorre o primeiro uso, quanto maior a frequência e o período de tempo de consumo, maior o risco de dependência. Intoxicação por Cannabs: normalmente intensifica a sensibilidade do usuário a estímulos externos, revela novos detalhes, faz as cores parecerem mais brilhantes e densas e causa a impressão subjetiva de lentidão do tempo. Em doses elevadas, usuários podem experimentar despersonalização e desrealização. Habilidades motoras ficam prejudicadas pelo uso de Cannabis, e o prejuízo dessas habilidades continua depois da dissipação dos efeitos subjetivos e eufóricos. Durante 8 a 12 horas após o uso da substância, o prejuízo nas habilidades motoras do usuário interfere na operação de veículos automotores e maquinário pesado. Delirium por intoxicação por cannabis: se caracteriza por prejuízo acentuado da cognição e de desempenho de tarefas. Mesmo doses moderadas da substância prejudicam a memória, o tempo de reação, a percepção, a coordenação motora e a atenção. Doses elevadas que também prejudicam os níveis de consciência do usuário apresentam efeitos acentuados na cognição. Síndrome de abstinência: a interrupção abrupta do uso diário ou quase diário de Cannabis frequentemente resulta no início de uma síndrome de abstinência da substância. Sintomas comuns de abstinência incluem irritabilidade, raiva ou agressividade, ansiedade, humor deprimido, fissura, nervosismo, ansiedade, insônia, sonhos vívidos ou perturbadores, cefaleia, calafrios, dor estomacal, sudorese, tremores, inquietação, dificuldade em dormir e redução do apetite ou perda de peso. Embora não seja, em geral, grave como a abstinência de álcool ou de opiáceos, a síndrome de abstinência de Cannabis pode causar sofrimento significativo e contribuir para dificuldade em abandonar o hábito ou para a recaída entre as pessoas que tentam abster-se do uso. Transtorno psicótico induzido por cannabis: Diagnostica-se transtorno psicótico induzido por Cannabis na presença de psicose induzida pela substância. Esse transtorno é raro, sendo a ideação paranoide transitória a ocorrência mais comum. Transtorno de ansiedade induzido por cannabis: O transtorno de ansiedade induzido por Cannabis é um diagnóstico comum para intoxicação por Cannabis aguda que, em diversos indivíduos, induz estadosde ansiedade breves frequentemente provocados por pensamentos paranoides. Nessas circunstâncias, ataques de pânico podem ocorrer, com base em temores mal definidos e desorganizados. O surgimento de sintomas de ansiedade está relacionado à dose e constitui a reação adversa mais frequente ao uso moderado da substância. Usuários inexperientes têm probabilidade muito maior de desenvolver sintomas de ansiedade do que aqueles experientes. Transtorno relacionado a Cannabis não especificado: inclui-se aqui os transtornos relacionados a Cannabis que não podem ser enquadrados nas classificações já listadas (acima). Obs: Quando sintomas de transtorno do sono ou de disfunção sexual estão relacionados ao uso da substância, eles quase sempre se resolvem no período de dias ou de uma semana após a interrupção de seu uso. ❖ Flashbacks: ainda não se consegue identificar se os flashbacks estão relacionados apenas ao uso da substância ou ao uso concomitante de alucinógenos ou de Cannabis misturada com fenciclidina (PCP). ❖ Prejuízo cognitivo: vidências clínicas e de testes indicam que o uso prolongado de Cannabis pode produzir formas sutis de prejuízo cognitivo nas funções cognitivas mais elevadas de memória, atenção e organização e integração de informações complexas. Essas evidências sugerem que, quanto maior o período de uso intenso de Cannabis, mais pronunciado o prejuízo cognitivo ❖ Síndrome amotivacional: Uma síndrome controversa relacionada à Cannabis é a síndrome amotivacional. Discute-se ainda se a síndrome está relacionada ao uso de Cannabis ou se reflete traços caracterológicos em um subgrupo de indivíduos independentemente do uso de Cannabis. Tradicionalmente, a síndrome amotivacional está associada ao uso intenso de longo prazo e caracteriza-se pela relutância do indivíduo em persistir em uma tarefa – seja na escola, no trabalho, seja em qualquer contexto que exija atenção ou tenacidade prolongada. Os indivíduos são descritos como apáticos e sem energia, geralmente ganham peso ou parecem preguiçosos. TRATAMENTO E REABILITAÇÃO O tratamento do uso de Cannabis se baseia nos mesmos princípios que o tratamento para outras substâncias de abuso – abstinência e apoio. A abstinência pode ser alcançada por meio de intervenções diretas, como hospitalização, ou mediante monitoramento atento de base ambulatorial por meio de exames de urina, que podem detectar a presença de Cannabis até quatro semanas após o uso. Pode-se obter apoio por meio de psicoterapia individual, familiar e de grupo. Esclarecimento e informações devem ser o alicerce tanto para abstinência quanto para programas de apoio. Um paciente que não compreende os motivos lógicos para enfrentar um problema de abuso de substância tem pouca motivação para saná-lo. No caso de alguns indivíduos, um fármaco ansiolítico pode ser útil para alívio de curto prazo dos sintomas de abstinência. Para outros, o uso de Cannabis pode estar relacionado a um transtorno depressivo subjacente, que pode melhorar com um tratamento específico com antidepressivos. USO MEDICINAL DE MACONHA Usada para tratar várias condições, como ❖ náusea decorrente de quimioterapia ❖ esclerose múltipla (EM) ❖ dor crônica ❖ aids ❖ epilepsia ❖ glaucoma
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