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GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS NÃO ESCOLARES CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Gestão e Organização de Projetos Não Escolares – Profª. Ms. Lizete Paganucci Chueri Teixeira, Profª. Ms. Maria Cecília Nogueira Garcia Pupin e Prof. Ms. Marcos Sorrilha Pinheiro Sou Lizete Paganucci Chueri Teixeira, mestre em Educação e defendi minha dissertação em Políticas Curriculares com o título “O processo de Alfabetização: entre o proposto e o vivenciado”. Sou licenciada em Pedagogia com especialização em Psicopedagogia. Sou professora no Centro Universitário Claretiano e coordenadora pedagógica em uma escola de Ensino Fundamental da rede municipal de ensino. E-mail: lizete@claretiano.edu.br Olá, meu nome é Maria Cecília Nogueira Garcia Pupin. Sou mestre em Educação pelo Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto-SP (2008), pelo qual tive a oportunidade de pesquisar sobre os "Objetivos Gerais da Educação Básica na perspectiva de professores, pais e alunos do Ensino Fundamental". Sou Especialista em Educação Infantil e Alfabetização pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais-SP (2004), e licenciada em Pedagogia também pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (2002). Formei-me técnica em Administração de Empresas pela Escola Técnica Estadual Antônio de Pádua Cardoso (1999). Fui professora em escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, públicas e privadas. Trabalhei no Centro Universitário Claretiano de Batatais em cursos de Educação a Distância entre os anos de 2005 e 2012. Assumi, em 2013, a Coordenação Pedagógica no Município de Batatais. E-mail: mariaceciliangp@gmail.com Meu nome é Marcos Sorrilha Pinheiro. Sou mestre em História e Cultura Política pela Unesp - Franca. Em meu mestrado, desenvolvi um estudo a respeito da política latino-americana no início do século 20. Vejo a EAD como uma importante ferramenta de inclusão social, uma vez que permite, a um número maior da população, o acesso ao ensino universitário e à especialização profissional. e-mail: jaca_rp@yahoo.com Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DE PROJETOS NÃO ESCOLARES Caderno de Referência de Conteúdo Lizete Paganucci Chueri Teixeira Maria Cecília Nogueira Garcia Pupin Marcos Sorrilha Pinheiro Batatais Claretiano 2013 Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação © Ação Educacional Claretiana, 2013 – Batatais (SP) Versão: dez./2013 371.2 T264g Teixeira, Lizete Paganucci Chueri Gestão e organização de projetos não-escolares / Lizete Paganucci Chueri Teixeira, Maria Cecília Nogueira Garcia Pupin, Marcos Sorrilha Pinheiro – Batatais, SP : Claretiano, 2013. 156 p. ISBN: 978-85-8377-004-6 1. Educação não-formal: um novo conceito. 2. Caminhos da educação: educação formal, reforma do estado e terceiro setor. 3. Educar além da sala de aula: enfoque sobre o papel do pedagogo como educador de rua. 4. Ecopedagogia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável: ações pedagógicas possíveis. Pedagogo: crítico, reflexivo no ambiente empresarial. 5. O pedagogo hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. I. Pupin, Maria Cecília Nogueira Garcia. II. Pinheiro, Marcos Sorrilha. III. Gestão e organização de projetos não-escolares. CDD 372.241 Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cátia Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Martins Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Adami Luciana dos Santos Sançana de Melo Luis Henrique de Souza Patrícia Alves Veronez Montera Rita Cristina Bartolomeu Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitário Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 cead@claretiano.edu.br Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br SUMÁRIO CADERNO DE REfERêNCIA DE CONTEúDO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7 2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 12 3 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... 29 4 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 29 5 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 29 UNIdAdE 1 – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: PARA ALÉM DOS CONCEITOS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 31 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 32 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 32 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 33 5 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL ............................................................................... 36 6 CAMINHOS DA EDUCAÇÃO: EDUCAÇÃO FORMAL, REFORMA DO ESTADO E TERCEIRO SETOR ............................................................................. 48 7 TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E REFORMA DO ESTADO ......................... 56 8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 61 9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 62 10 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 64 UNIdAdE 2 – EDUCAR ALÉM DA SALA DE AULA 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 65 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 66 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 66 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 67 5 ESCOLA E PARCERIAS ....................................................................................... 70 6 EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E CIDADANIA ........................................................ 78 7 FACE EXPLÍCITA dA VIOLÊNCIA ....................................................................... 81 8 EDUCAÇÃO SOCIAL E CURRÍCULOS ................................................................ 92 9 TExTO COMPLEMENTAR ..................................................................................94 10 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 96 11 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 97 12 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 99 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 100 UNIdAdE 3 – MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: AÇÕES PEDAGóGICAS POSSÍVEIS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 101 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 102 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 102 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 103 5 ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .......................................... 105 6 A TERRA CLAMA POR CUIDADOS: O PEDAGOGO PODE AJUDAR ................. 110 7 PROJETOS AMBIENTAIS NA EMPRESA ............................................................ 115 8 TExTO COMPLEMENTAR .................................................................................. 119 9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 121 10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 121 11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 122 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 123 UNIdAdE 4 – GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS EDUCACIONAIS 1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 125 2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 126 3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 126 4 INTRODUÇÃO À UNIDADE ............................................................................... 127 5 O QUE SÃO PROJETOS? .................................................................................... 130 6 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 152 7 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 153 8 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 154 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 154 CRC Caderno de Referência de Conteúdo Ementa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Educação não formal: um novo conceito. Caminhos da educação: educação formal, reforma do estado e terceiro setor. Educar além da sala de aula: enfoque sobre o papel do pedagogo como educador de rua. Ecopedagogia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável: ações pedagógicas possíveis. Pedagogo: crítico e reflexivo no ambiente empresarial. O pedagogo hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 1. INTRODUÇÃO Para pensar em educação, é preciso também refletir sobre a sua pluridimensionalidade. Sabe-se que há diferentes formas de ensinar, que são classificadas na literatura especializada como edu- cação formal, educação não formal e educação informal. A educa- ção formal pode ser definida, de forma bem simplificada, como sendo aquela que está presente no ensino escolar institucionali- zado, organizada de maneira cronológica, gradual e hierarquizada. A educação informal seria aquela em que se adquire e acumula © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares8 conhecimentos por meio de experiência diária. Já educação não formal, pode ser entendida como qualquer tentativa educacional sistematicamente organizada e que, na maioria das vezes, se reali- za fora do sistema formal de ensino. A educação formal tem objetivos claros, definidos e específicos, sendo representada principalmente pelas escolas e universidades. É subordinada a uma diretriz educacional centralizada, com estruturas hierárquicas e burocráticas determinadas em nível municipal, estadual ou nacional, com órgãos fiscalizadores. A educação não formal é menos burocrática, menos hierárquica. Os programas de educação não formal não precisam seguir um sistema sequencial de "progressão". Geralmente tem duração variável, podendo ou não outorgar certificados de aprendizagem. Entretanto, para que os professores não se tornem simples executores de ações preestabelecidas, muito menos escravos de técnicas, devem desenvolver a capacidade de planejar suas ações para evitar imediatismos, contextualizando o processo de ensino e de aprendizagem de forma significativa, seja na educação formal ou informal. Neste Caderno de Referência de Conteúdo (CRC), nosso objetivo será explicitar o significado básico de termos como educação formal, informal e não formal, visando dar espaço para que o leitor possa estabelecer as relações entre as diversas práticas de educar, baseando-se no fato de que também se aprende em contextos diferentes daquele que vivenciamos na escola, contribuindo para o esclarecimento das terminologias normalmente utilizadas no universo da Educação e que muitas vezes implica mudança de paradigma, pelo fato de que esses conceitos mostram, muitas vezes, incoerências e paradoxos do ponto de vista epistemológico e conceitual. Claretiano - Centro Universitário 9© Caderno de Referência de Conteúdo Hoje a sociedade tem exigido cada vez mais da escola, que sozinha não dá conta de atender a todas as demandas. O processo crescente de globalização, aliado à era da informação, impõe novos hábitos, novos valores e novas culturas. O estudo, reflexão e aprofundamento teórico no que se refere à Educação devem estar voltados não mais só à escola. Ele deve ter o intuito de discutir e ampliar as questões do ensino e aprendizagens, escolhendo os meios mais adequados, sem desprezar nesse processo as parcerias com outras instituições de diferentes níveis. Como já dissemos anteriormente, a conjuntura socioeconômica – e por extensão, a nacional, estadual e municipal – de uma forma ou de outra abala e influencia a escola e o papel do professor em sala de aula, que acaba por comprometer a aprendizagem dentro das escolas. Acompanhamos o momento em que a era industrial foi substituída pela era do conhecimento e da informação. Trata-se de um período de muitas e profundas mudanças, no qual a educação é apontada como o ponto-chave para o desenvolvimento do ser humano e de sua vivência em sociedade. Sabemos que "participar ativamente da transformação da sociedade, implica em conhecê- la, compreendê-la, avaliá-la e intervir nela de maneira crítica e responsável, com o objetivo de que seja cada vez mais justa e democrática" (SOUZA, 2002, p. 53). Esse é o sujeito que a sociedade requer na atualidade e tal fato confere um importante papel a todos os processos que se referem à educação social. Neste cenário é que percebemos que toda a sociedade tem uma parcela de responsabilidade de formar esse cidadão que, até hoje, por variados motivos, tem fechado os olhos para as questões educacionais. As oportunidades de educação social que, até hoje, temos visto acontecer de maneira bastante tímida têm predominado na prática vinculada às políticas públicas sociais como a de um modelo assistencialista, numa lógica aportada na alienação. Em contrapartida a esse modelo conveniente, tradicional e conservador, a Pedagogia Progressista tem caminhado epistemologicamente no sentido da educação social em uma perspectiva transformadora. © Gestão e Organização deProjetos Não Escolares10 No entender de Freire (2003), pode-se dizer que a educação social transformadora tem como base a formação para a análise da ideologia como a mola mestra da conscientização. É neste contexto político e socioeducacional que se procura abalizar as funções dos educadores sociais com a intenção de fundamentá-los em sua práxis pedagógica, pois só assim se efetiva uma formação capaz de otimizar a sua prática educativa social em espaços não escolares. A educação social, como se sabe, é consequência de sua própria condição histórica. Seu desenho é delineado com base nas políticas sociais, características da sociedade do Estado de bem-estar que, de certa forma, tentou romper com as estruturas capitalistas, otimizando as condições de vida para todos os cidadãos. Nesse modelo, o Estado tende a produzir e distribuir bens e serviços nos setores não lucrativos ou de pouco interesse para o capital fechado – educação, saúde, cultura, habitação – com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Diante da falta de responsabilidade do Estado neoliberal para com as políticas públicas, principalmente no que se refere ao campo educacional, foi possível verificar a vulnerabilidade do da educação oferecida às camadas populares. Novas iniciativas foram, então, surgindo, como é o caso de Organizações Não Governamentais (ONGs), bem como de instituições públicas, no sentido de desenvolver políticas de compensação em direção de formação dos menos favorecidos e excluídos socialmente visando oferecer de forma assistencialista a inclusão social. Foi assim que a economia informal, ou o terceiro setor, como é chamado, se tornou um dos principais espaços de realização da educação social. O crescimento do terceiro setor contribui com a oportunidade de participação das Organizações Não Governamentais e das empresas socialmente responsáveis em ações voltadas ao desenvolvimento do país. Representa um setor Claretiano - Centro Universitário 11© Caderno de Referência de Conteúdo independente, mas profundamente interessado nos problemas sociais, crescentemente organizado e com os olhos voltados à profissionalização. O terceiro setor é um termo usado para conceituar um conjunto de sociedades privadas ou associações que atuam no país sem fins lucrativos. Ele atua especialmente na execução de atividades de utilidade pública. Possui gerenciamento próprio, sem quaisquer interferências externas, contando com uma grande quantidade de mão de obra voluntária. Discutiremos, no decorrer dos nossos estudos, cada um dos tipos de educação: educação formal, informal e não formal. Na Unidade 1, trataremos da educação não formal, um novo conceito, sobre o qual veremos: sua definição, seu histórico no Brasil, seu espaço de aplicação, suas principais características e, especialmente, a atuação do educador nesse novo espaço da educação. Percorreremos, também, os caminhos da educação: educação formal, reforma do estado e terceiro setor. Procuraremos refletir e explorar certas inquietações e entendimentos sobre os caminhos da educação na chamada Idade Contemporânea. Nesta unidade, ainda iremos abordar assuntos referentes às tecnologias da informação e a reforma do estado. É o que ainda vamos ver: as diretrizes da reforma do estado e das tecnologias da informação. Na Unidade 2, iremos abordar o educar fora da sala de aula e a importância da participação do terceiro setor para a oferta de educação não escolar. Veremos, ainda, as atuações do profissional pedagogo no cotidiano da rua, identificando os sujeitos que nela sobrevivem e ajudando na conquista da cidadania das crianças e adolescentes de risco. Na Unidade 3, abordaremos o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, que são ações pedagógicas possíveis, procurando analisar as situações viáveis para os problemas apresentados no que se refere ao desenvolvimento sustentável, avaliá-los e tomar decisões. O meio ambiente é outra importante conquista em que o papel do pedagogo ganha espaço diante desse desafio, agora dentro das empresas. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares12 Na Unidade 4, trataremos da gestão de projetos sociais educacionais, reforçando a ideia da necessidade de planejar projetos que enfatizem o envolvimento e a inclusão da comunidade, para que seja possível estabelecer parcerias ou manter grupos de pressão durante o planejamento do projeto, na sua estruturação, em todo o seu desenvolvimento e na avaliação. 2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO Abordagem Geral Profª. Ms. Lizete Paganucci Chueri Teixeira Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estudado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos começar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este Caderno de Referência de Conteúdo. Já que estamos falando dela e do profissional pedagogo que nela atua, o que vem a ser Pedagogia? Ela é uma ciência social que estuda diversos temas relacionados à educação, tanto no aspecto teórico quanto no aspecto prático. Seu principal objetivo é a melhoria no processo de aprendizagem por meio da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos. Assim, como ciência social, ela está conectada aos aspectos relativos não só à sociedade como também às normas educacionais vigentes no país. Enfrenta o desafio de oferecer Claretiano - Centro Universitário 13© Caderno de Referência de Conteúdo novas posturas na esfera educativa, especialmente no campo da formação do profissional que poderá atuar na docência, na administração e em espaços educativos não formais. De acordo com Libâneo (2008, p.10), A pedagogia serve para investigar a natureza, as finalidades e os processos necessários às práticas educativas com o objetivo de propor a realização desses processos nos vários contextos em que essas práticas ocorrem. Ela se constitui sob esse entendimento em um campo de conhecimento que possui objeto, problemáticas e métodos próprios de investigação, configurando-se como “ciência da educação”. O referido autor acrescenta: [...] as práticas educativas não se restringem à escola ou à família. Elas ocorrem em todos os contextos e âmbitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não, sob várias modalidades. Entre essas práticas, há as que acontecem de forma difusa e dispersa, são as que ocorrem nos processos de aquisição de saberes e modos de ação de moda não intencional e não institucionalizado, configurando a educação informal. Há, também, as práticas educativas realizadas em instituições não convencionais de educação, mas com certo nível de intencionalidade e sistematização, tais como as que se verificam nas organizações profissionais, nos meios de comunicação, nas agências formativas para grupos sociais específicos, caracterizando a educação não formal. Existem, ainda, as práticas educativas com elevados graus de intencionalidade, sistematização e institucionalização, como as que se realizam nas escolas ou em outras instituições de ensino, compreendendo o que o autor denomina educação formal (LIBÂNEO, 2008, p. 30). O curso de Pedagogia foi criado no Brasil nos anos finais da década de 30 (1937) vinculado à Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e Letras e à de Educação, no Rio de Janeiro. A licenciatura em Pedagogia certifica a formação de profissionais da educação prevista no art. 64 da Lei nº 9394/96, que diz: A formação de profissionais de educação para administração, planejamento,inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional (BRASIL, 1996). © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares14 Ao mesmo tempo que forma professores, a Pedagogia se ocupa em licenciar pessoas com capacidade de compreender e colaborar para a melhoria da qualidade em que se desenvolve a educação na realidade brasileira. Já o profissional pedagogo vem a ser o profissional habilitado para atuar na área pedagógica. A educação não formal × educação formal Poderíamos aqui perguntar, para iniciar nossa conversa, em quais áreas o pedagogo pode atuar hoje. Sabemos que, na contemporaneidade, o pedagogo não é mais aquele profissional que atua nas escolas ou diretorias de ensino com o objetivo de trabalhar com o pedagógico ou administrativo. Hoje ele tem um papel muito mais abrangente. Ele é visto como um profissional com capacidade para atuar em diversos âmbitos educativos e, além disso, responder às diversas demandas e exigências impostas por uma sociedade cada vez mais complexa. Por esse motivo, faz-se necessário estar preparado para agir com criatividade e competência para resolver os problemas do cotidiano; ser flexível, tolerante, perspicaz e bastante atento às questões decorrentes da diversidade cultural que caracteriza nossa sociedade, que vive um momento singular de discussões assinaladas por rápidas modificações de desempenho, que se refletem claramente na área educacional. Por meio desse contorno contemporâneo destinado à educação e às sucessivas mudanças em seu conceito, ela deixa de ser, então, um espaço reservado à atuação de ensino e aprendizagem apenas em espaços escolares formais. Tal flexibilidade ultrapassa os muros escolares, atingindo diferentes e diversos setores, como ONGs, família, trabalho, lazer, igreja, sindicatos, clubes etc. Isso se deve às mudanças que geraram um novo cenário para a educação, dando uma cartografia significante à educação não formal. Claretiano - Centro Universitário 15© Caderno de Referência de Conteúdo Dessa forma o pedagogo, recebe uma formação generalista e pode então atuar tanto na educação formal quanto na educação não formal conforme veremos no decorrer dos nossos estudos. Na educação formal, o pedagogo pode atuar como docente tanto nas séries iniciais como na educação infantil, além dos cursos de magistério, onde houver. Pode atuar, ainda, como gestor do trabalho pedagógico, como supervisor de ensino/inspetor de ensino, como orientador educacional, como professor coordenador pedagógico/supervisor e, também, no trabalho de gestão escolar da educação básica. Já na educação não formal, o pedagogo pode atuar na assessoria de recursos humanos, além de na orientação profissional, na área de comunicação tanto com fins didáticos como paradidáticos. Outra área de atuação nesse tipo de educação é a orientação pedagógica dos usos das novas tecnologias de informação (TICs) e também na assessoria pedagógica em serviços de difusão cultural por meio de teatro e museus e de comunicação de massa, como jornais, televisão, revistas e editoras. Outra oportunidade que surge é o trabalho na coordenação de projetos e programas de natureza educativa no setor privado, como, por exemplo, nas áreas da saúde, meio ambiente, trânsito, promoção social, lazer e recreação, e do terceiro setor (ONGs). Hoje se tem como sensato que onde houver práticas educativas é preciso que se instaure uma ação pedagógica. O processo de ensino e aprendizagem acontece não somente dentro da escola, mas, sim, em todo e qualquer setor da sociedade, a qual se caracteriza como a sociedade do conhecimento, uma vez que a educação formal e a não formal caminham de forma análoga tornando a educação um instrumento imprescindível contra a desigualdade social. A educação não formal aparece no cenário brasileiro como coadjuvante da educação formal, preenchendo uma lacuna que a educação tradicional não deu conta de resolver no sentido de que não tem conseguido preparar sujeitos aptos à convivência © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares16 em sociedade com uma aprendizagem de forma categorizada e setorial, diferentemente da educação não formal, que visa realizar a aprendizagem de forma mais integrada às diversas áreas do conhecimento, de modo interdisciplinar, de forma que possam se inserir no mercado de trabalho. O grande objetivo da educação não formal é desenvolver habilidades e potencialidades dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social, trabalhando com a autoestima, socialização, criatividade, ética, empreendedorismo, liderança e outros. Hoje em dia, busca-se nas empresas um novo perfil de trabalhadores: devem ser criativos, com capacidade de compreensão do que vê e lê, além de entender processos e incorporar novas ideias; precisam ter velocidade mental, saber trabalhar em equipe, tomar decisões, incorporar e assumir responsabilidades, ter autoestima elevada, mostrar-se sociabilizado e atuar como cidadão (GOHN, 1999). O desempenho de pedagogos nos diferentes espaços educacionais faz emergir um novo paradigma, uma vez que até há pouco tempo sua formação tinha como foco a alfabetização. Hoje a escola não está conseguindo desenvolver habilidades interpessoais e criativas capazes de inseri-lo no mercado de trabalho. Assim, há que se procurar em outras áreas de atuação que não a da escola formal e acaba-se por ingressar em vários espaços, como direção de escolas, coordenação de escolas, Recurso Humanos de empresas, treinamentos em empresas, e na orientação de projetos sociais. Contribuição da Pedagogia na gestão e orientação dos projetos sociais Você pode estar se perguntando: o que vem a ser gestão? Muito embora não exista um conceito universal capaz de dar conta dessa definição, pelo menos há um consenso quanto à natureza das atividades a serem desenvolvidas, ou seja, deve-se buscar garantir a eficácia por meio dos recursos disponíveis para se atingir os objetivos propostos. Etimologicamente, significa: Claretiano - Centro Universitário 17© Caderno de Referência de Conteúdo Ato de gerir derivado da administração, palavra do português europeu, diferente de administrar, pois quem planeja, coordena, controla e organiza é o administrador. O ato de gerir é um ato de execução de ações pré-determinadas por um administrador, ou seja, ações exercidas por um gerente. A palavra “gerir” pode ser definida por gerente (DICIONÁRIO INFORMAL, 2013). Ato de gerir derivado da administração, palavra do português europeu, diferente de administrar, pois quem planeja, coordena, controla e organiza é o administrador.O ato de gerir é um ato de execução de ações pré-determinadas por um administrador, ou seja, ações exercidas por um gerente. A palavra “gerir” pode ser definida por gerente. Entendemos, assim, ser necessária a aplicação de conhecimentos, habilidades e técnicas na elaboração de atividades relacionadas à finalidade de atingir um conjunto de objetivos preestabelecidos, num determinado prazo, com certo custo e qualidade, e por meio da mobilização de recursos técnicos e humanos. Cabe agora perguntar: o que vem a ser gerenciamento de projetos? Podemos dizer que gerenciar um projeto não é nada fácil. Significa aplicar conhecimento, habilidades e técnicas adequadas para garantir o sucesso do projeto. Para isso, o agente gerenciador deve acompanhar todas as etapas do planejamento, sua execução e atividades de controle. Todo profissional da área social precisa ter o domínio de uma boa metodologia de projetos. Mesmo os profissionais que já tem certo conhecimento dessa área podem se beneficiar significativamente das discussões e dos exemplos que o caráter participativo proporciona. Para gerenciar projetos sociais é necessário possuir noções básicas de Administração, Contabilidade, Psicologia,conhecimento na área educacional e social. É importante que os projetos a serem planejados tenham os olhos voltados para a educação, a cultura e o lazer, uma vez que a comunidade vulnerável socialmente pouco tem contato com a cultura e, assim, é desejável que a esses sujeitos sejam oferecidas oportunidade de inserção no mercado © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares18 de trabalho. Essa participação dos pedagogos em outras áreas tem surtido bons efeitos, mostrando uma concreta contribuição, em virtude de sua formação que o habilita a trabalhar de forma interdisciplinar, em grupo, auxiliando na gestão educacional, porém com foco na formação do individuo. Carvalho (2001), afirma que esse profissional necessita apresentar postura gerencial, saber tomar decisões e construir um consenso organizacional, liderar, conduzir, inspirar e orientar os membros da equipe e ter sensibilidade para motivá-los. Segundo o autor: É necessário ter ação gerencial, tomada de decisões e harmonia organizacional, liderança, é saber conduzir, inspirar e orientar os membros da equipe e ter motivação, um gestor precisa transmitir para sua equipe motivação, mostrar que é preciso trabalhar com prazer, principalmente nessa área social-educacional. O autor menciona ainda para a motivação a teoria de Maslow com sua hierarquia Auto-Realização, reconhecimento, estima segurança e sobrevivência, toda a moderna concepção de tratar pessoas não como um elemento de custo a ser controlado e sim como um potencial a ser desenvolvido (CARVALHO, 2001, p. 18). Cury (2001, p. 34) segue acrescentando o valor das parcerias para essa concretização: [...] uma das exigências dessa nova proposta de transformação social trazidas às organizações é o rompimento com a "cultura do isolamento” e o desenvolvimento de uma nova mentalidade, de capacidades, habilidades e estratégias para uma atuação conjunta, compartilhada. Não é mais possível trabalharmos sozinhos; é preciso articular, potencializar nossas ações através de parcerias e das redes. É importante destacar que o pedagogo que pretende atuar na gestão de projetos sociais deve se especializar em Pedagogia de Multimeios, o que favorece a inclusão digital e social para todos aqueles que atuaram nos projetos. Isso exige que faça uso de sua competência em gerenciar e coordenar, estar continuamente pesquisando e descobrindo novos recursos digitais. Isso requer desse profissional estar sempre atualizado e preparado para o mundo globalizado que estamos vivendo. Claretiano - Centro Universitário 19© Caderno de Referência de Conteúdo A Pedagogia de Multimeios e Informática Educativa, por exemplo, é um curso diferenciado, uma vez que desenvolvem no profissional habilidades e competências com vistas às mídias digitais, tais como: a mídia impressa, comunicacional e informatizada, como antes já havíamos destacado, porém dirigidas para a área da Educação. As exigências são as de desenvolver um trabalho de âmbito interdisciplinar com os professores das salas de aula regulares, com o objetivo de coordenar laboratórios de Informática existentes nas escolas, planejando o seu uso adequado, além de realizar treinamentos e formações nas empresas, gerenciar e coordenar projetos de inclusão digital. Vimos, assim, que as competências a serem desenvolvidas convergem para o gerenciamento do trabalho em grupo, capacitando o profissional multimeios habilitado para o gerenciamento de projetos sociais- educacionais. O pedagogo na área hospitalar Sem dúvida, essa área se caracteriza como um processo educativo não escolar que apresenta desafios aos educadores e permite a construção de novas atitudes. Ao atuar na área hospitalar, o pedagogo tem como objetivo trabalhar com jovens e crianças hospitalizadas no sentido de dar continuidade aos estudos dada a impossibilidade desses alunos frequentarem com regularidade as aulas nas escolas. Temos assistido à ampliação do número de profissionais, antes restritos aos profissionais da saúde, que trabalham em hospitais na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos pacientes que frequentam a escola. A ação educativa exercida nesse espaço favorece de certa forma a recuperação de sentimentos desses jovens e dessas crianças com relação à sua autoestima, aceitação, paciência, segurança, além da continuidade do desenvolvimento de suas potencialidades. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares20 Ao desenvolver um trabalho educativo com a criança ou jovem em estado de vulnerabilidade de sua saúde, o pedagogo também trabalha o lúdico de forma que alivie possível sensibilidade e estado de estresse que, na maioria dos casos, acomete o paciente. É um avanço nas áreas da Saúde e da Educação que se insere na contemporaneidade centrado em um momento transitório na vida do educando que naquela hora se encontra enfermo e hospitalizado. De certa forma, interagem todos os envolvidos: os doentes, a equipe hospitalar, a família, que se sente mais amparada, e a escola por não ter o aluno com sua vida escolar estagnada. Constitui-se em uma realidade interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar. Logo após a alta hospitalar, será elaborado um relatório pelo profissional pedagogo das atividades ali desenvolvidas, uma avaliação de seu desempenho com as posturas adotadas e as dificuldades apresentadas no período. A escola como instituição se constitui no lugar fundamentalmente reservado para a educação formal, para o encontro do educando com o saber organizado. Porém para possibilitar o acompanhamento pedagógico e educacional e garantir a continuidade do procedimento escolar de crianças e jovens do ensino regular, garantindo a conservação da conexão com a escola de origem, através de um currículo flexibilizado e adaptado da ação docente, a Secretaria de Educação em convênio firmado com a Secretaria de Saúde criou um programa de acolhimento diferenciado às crianças e jovens, internados em Hospitais, que necessitam de acompanhamento educacional especial, para que os mesmos não percam a ligação com a escola, oferecendo atendimento sistemático e diferenciado, no âmbito da Educação Básica, individual ou coletivo em Classe Hospitalar ou no leito, conforme a necessidade do educando que se encontra incapaz de freqüentar a escola provisoriamente (HAMZE, 2013). O pedagogo empresarial A área empresarial também é um segmento relativamente novo conquistado pelos profissionais da Pedagogia. A função do Claretiano - Centro Universitário 21© Caderno de Referência de Conteúdo pedagogo na empresa é disseminar o conhecimento sem perder a especificidade do papel de educador. A ele cabe desenvolver políticas de melhoria de qualidade de vida e transformar o comportamento dos funcionários no sentido de desenvolver e melhorar seu desempenho profissional e pessoal. Sua atuação pode alcançar ONGs, hotéis, construtoras, indústrias, prefeituras, dentre outros órgãos públicos ou privados. Esse é um campo que exige conhecimento técnico, além de práticas que, aliadas às experiências dos outros profissionais multidisciplinares da área de Recursos Humanos (RH), somam seus esforços em prol de uma gestão democrática de pessoas. No entanto, cabe a esse profissional a coordenação dessa equipe no desenvolvimento de projetos que evidenciem aprendizagem organizacional significativa capaz de provocar mudanças no ambiente de trabalho no que diz respeito ao desenvolvimento humano. O grande desafio é, sem sombra de dúvidas, estar atualizado, atento ao que ocorre dentro desse universo de trabalho e compreender seu funcionamento. Para atuar nessa área, esse profissional necessita procurar um bom curso de especialização na área empresarial. Já existem boas ofertas de cursos no mercado. Como o pedagogo ambiental pode ajudar? Os problemas ambientais não são novos e vem sendo construídos ao longo do tempo e por isso podemos dizer que sua construção é histórica. Há muito tempo que o homem tem feitouso indiscriminado dos recursos naturais. Tais costumes levaram ao abuso, à exploração e ao domínio dos seres vivos e dos recursos naturais em proveito próprio. No entanto, essa é uma questão que deve ser refletida pela sociedade contemporânea como um grave problema, visto que o futuro de toda a humanidade está sujeito a um novo paradigma de uma nova postura diante da forma como devem ser estabelecidas às relações homem/meio. Pensando por esse lado, a educação © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares22 exercerá um papel decisivo na formação de uma consciência ambiental nas gerações futuras, de forma que provoque reflexões e posturas no sentido de superar o desenvolvimento de sociedades sustentáveis capazes de levar em conta o meio como parte do contexto e não apenas como um recurso. Reigota (1995, p. 11) apresenta a Educação Ambiental como uma proposta de alteração daquela que hoje conhecemos, não se limitando apenas à transmissão de conhecimentos sobre Ecologia e à utilização racional dos recursos naturais, mas principalmente à "participação dos cidadãos nas decisões e discussões sobre a questão ambiental". O perfil do profissional pedagogo que atua em espaços não escolares, trabalhando na área de Educação Ambiental, deve ser o de integrar a dimensão teórica a uma preocupação com a prática do dia-a-dia, bem como de garantir a articulação entre as abordagens da gestão do trabalho administrativo, pedagógico e comunitário da educação profissional, desenvolvidos em espaços não escolares. A ele cabe ajudar a organização de qualquer segmento a atingir os seus objetivos e metas organizacionais. Podemos entender que a Pedagogia Ambiental tem como objetivo a incorporação de hábitos, valores e atitudes em relação ao meio ambiente e à sua preservação. Desse modo, será plausível divulgar projetos e propostas de Gestão Ambiental de forma a desenvolver atitudes de questionamento sobre como, por que e para quê cuidar; como participar, organizar e mobilizar a sociedade para a transformação da realidade ambiental e social. Para encerrar esta conversa, refletiremos sobre o novo panorama da educação que se abre com o advento do século 21, abrindo novas perspectivas para o profissional que se insere no mercado de trabalho sob diversas abrangências, como temos assistido acontecer com as novas demandas sociais, que vivem um momento singular de debates e discussões sobre globalização, neoliberalismo, terceiro setor, educação a distância, ou seja, uma Claretiano - Centro Universitário 23© Caderno de Referência de Conteúdo nova estrutura se assinala na sociedade, e esta, por sua vez, busca profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem nesse cenário bastante competitivo. A educação, por sua vez, se abre a novos espaços, não só escolares, como também não escolares, e vem confirmar essa discussão. O pedagogo sai, então, do espaço escolar, que até há pouco tempo era seu espaço circunscrito de trabalho, para se inserir nesse novo espaço de atuação com uma visão mais abrangente de atuação. Dessa forma, a educação escolar sofre mudanças em seu conceito, deixando de ser reservada tão somente ao processo de ensino e aprendizagem em espaços escolares formais, rígidos para alcançar outros espaços galgando os muros da escola em busca de outros espaços e segmentos, como ONGs, hospitais, empresas, sindicatos, clubes, dentre outros. Abre-se um novo espaço para a educação, com vistas à educação não formal. Com essa nova proposta e possibilidade de atuação, o profissional pedagogo também se transforma, adequando-se a essa nova realidade, posicionando-se como profissional capacitado, com habilidades e competências para atuação nesses espaços, de forma a caminhar junto à transformação da sociedade. Para se capacitar, faz-se necessário ser qualificado para exercer uma nova função, para atuar nas diferentes áreas existentes no mercado de trabalho. Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo. 1) Difusão cultural: movimento de transferência de traços culturais e ideias de uma sociedade, ou grupo étnico, à outra. 2) ONGs: Organizações Não Governamentais. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares24 3) Projeto: é uma ação planejada, estruturada em objeti- vos, resultados e atividades (é desenvolvida num deter- minado local, e com público-alvo delimitado) baseados em quantidades limitadas de recursos (humanos, mate- riais e financeiros) e de tempo. 4) Responsabilidade social corporativa: é o comprometi- mento permanente dos empresários de adotar um com- prometimento ético e contribuir para um desenvolvi- mento econômico que mantenha a qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. 5) Terceiro setor: a) Organizações voluntárias, Organiza- ções Não Governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos, setor independente. b) Denominação mais recente, e ainda pouco utilizada. Para identificar a existência deste terceiro setor, faz-se necessário escla- recer que aqueles que utilizam esse termo consideram o Estado como o primeiro setor e o mercado como o segundo, sendo o terceiro setor aquele que apresenta características de ambos (SILVA; AGUIAR, 2013). Esquema de Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave deste Caderno de Referência de Conteúdo. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu es- quema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, res- significando as informações a partir de suas próprias percepções. É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en- tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Claretiano - Centro Universitário 25© Caderno de Referência de Conteúdo Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende- -se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co- nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe- dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza- gem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es- colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es- tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape- nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci- so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con- siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei- tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog- nitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor- nar significativa a sua aprendizagem, transformandoo seu conhe- cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele- cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon- ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 19 mar. 2013). © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares26 NÃO-FORMAL INFORMAL CURRÍCULO INTENCIONAL ESPONTÂNEA FORMAL EDUCAÇÃO FAMÍLIA HIERARQUIZADA NORMATIZADA FORA DO AMBIENTE ESCOLAR ESCOLA INTENCIONAL UNIVERSIDADES VALORES, ATITUDES CONTEÚDOS AVALIAÇÃO SISTEMÁTICA CLUBE IGREJA 3º SETOR- ONGs LDB Figura 1 f do Caderno de Referência de Conteúdo Gestão e Organização de Projetos Não Escolares. Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizagem. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativas No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. Claretiano - Centro Universitário 27© Caderno de Referência de Conteúdo Responder, discutir e comentar essas questões, bem como re lacioná-las com a prática do Sistema Integrado de Informações pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari- to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões autoavaliativas de múltipla escolha. As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta ape nas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma interpreta ção pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma. Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio- grafias complementares. figuras (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte- grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra- tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con- teúdos deste Caderno de Referência de Conteúdo, pois relacionar aquilo que está no campo vi sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares28 Dicas (motivacionais) O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri- mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode- rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ- ções científicas. Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure- cimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Claretiano - Centro Universitário 29© Caderno de Referência de Conteúdo Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você. 3. BIBLIOGRAfIA BÁSICA GOHN, M. da G. Educação não-formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. São Paulo: Cortez, 1999. ______. Educação não-formal e cultura política. Campinas: Cortez, 2001. PETRUS, A. Novos âmbitos em educação social. Profissão: educador social. Porto Alegre: Artmed, 2003. 4. BIBLIOGRAfIA COMPLEMENTAR FERREIRA, N. S. C. A gestão da educação na sociedade mundializada: por uma nova cidadania. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos: para quê? São Paulo: Cortez, 1998. LOPES, I. (Org.).; TRINDADE, A. B.; CANDINHA, M. A. Pedagogia empresarial: formas e contextos de atuação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2007. MATOS, E. L. M. (Org.). Escolarização hospitalar: educação e saúde de mãos dadas para humanizar. Rio de Janeiro: Vozes, 2009. PIMENTA, S. G. Pedagogia: ciência da educação. São Paulo: Cortez, 2001. RIBEIRO, A. E. A. Pedagogia empresarial: a atuação do pedagogo na empresa. Rio de Janeiro: Wark, 2003. SANTOS, C. R. dos. A gestão educacional e escolar para a modernidade. São Paulo: Cengage Learning, 2008. VEIGA, I. P. A.; FONSECA, M. Dimensões do projeto político-pedagógico: os novos desafios para a escola. Campinas: Papirus, 2001. 5. E-REFERÊNCIAS NOGUEIRA, R. S. A importância do pedagogo na empresa. Rio de Janeiro: 2005. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/pemp03.htm>. Acesso em: 20 out. 2011. SCIELO. I Congresso Internacional de Pedagogia Social. Pedagogia: O perfil do pedagogo em espaços não escolares. Disponível em: <URL:http://www.scielo.com.br>. Acesso em: 15 out. 2011. Claretiano - Centro Universitário 1 EA D Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos "A vida deve ser uma constante educação" (GUSTAVE FLAUBERT). 1. OBJETIVOS • Definir e compreender o conceito de educação não for- mal. • Identificar a diferença entre educação, educação não for- mal e educação formal e informal. • Compreender e relacionar as principais características da educação não formal. • Determinar os espaços de ocorrência da educação não formal. • Apresentar e identificar a relação existente entre o Estado e a educação formal nos séculos 19 e 20. • Definir o contexto histórico do surgimento da educação não formal. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares32 • Demonstraros caminhos para a compreensão da educa- ção não formal perante a crise do modelo estatal e edu- cacional no século 21. 2. CONTEúDOS • Educação não formal para além dos conceitos. • Lugares da educação. • Educação e terceiro setor. • Formação dos Estados nacionais. • Reforma do Estado no século 20. • Tecnologias da informação e da comunicação. • Terceiro setor. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre a mão o significado dos conceitos expli- citados no Glossário e suas ligações pelo Esquema dos Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. 2) Lembre-se de que os conceitos podem ser lidos sob di- ferentes prismas e contextos. Pesquise nos livros da bi- bliografia de referência ou na internet a importância da avaliação para o alcance dos objetivos planejados e, se encontrar algo interessante, disponibilize tal informação para seus colegas na Lista. Lembre-se de que você é pro- tagonista do processo educativo. 3) Ao ler outros documentos legais, como Parâmetros Cur- riculares Nacionais (PCN), Lei de Diretrizes e Bases do Ensino no Brasil, resoluções locais de cada sistema de ensino nas diversas unidades federativas e municipais – o que não deve ser uma obrigação a você, mas deve Claretiano - Centro Universitário 33© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos ser uma maneira de estar por dentro do que acontece com a educação em nossas escolas – procure descobrir quais são as propostas essenciais que esses documentos contêm e quais os seus objetivos. Reflita, também, so- bre o perfil político-pedagógico que esses documentos demonstram possuir. 4) Leia os livros da bibliografia indicada, tanto a básica como a complementar, para que você amplie seus hori- zontes teóricos. Faça comparações com o material didá- tico e discuta o conteúdo da unidade com seus colegas e com o seu tutor. Até o presente momento, nosso cami- nho para a execução dos diversos processos de avaliação do ensino e da aprendizagem foi marcado pela varieda- de de pensamentos e práticas acerca das intencionalida- des para se alcançar os resultados que se pretendem em cada sistema educacional. Além dos livros indicados na Bibliografia Básica e Complementar, é importante que você busque outras fontes e faça fichamentos dessas obras. 5) Para saber um pouco mais sobre o terceiro setor, assun- to que abordaremos no decorrer dos nossos estudos, é interessante que você acesse o site que se encontra dis- ponível em: <http://www.filantropia.org/OqueeTercei- roSetor.htm>. Acesso em: 1 mar. 2013. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Estamos iniciando a primeira unidade de Gestão e Organiza- ção de Projetos Não Escolares, na qual apresentaremos a você al- gumas questões pertinentes à educação não formal (ou educação não escolar), como: sua definição, seu histórico no Brasil, seu es- paço de aplicação, suas principais características e, especialmente, a atuação do educador nesse novo espaço da educação. O termo educação não formal é recente e designa práticas educacionais que se desenvolvem fora do ambiente escolar, não possuindo, assim, toda a sistematização, hierarquização e avalia- ção próprias da educação formal. Contudo, nessa educação, ao © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares34 contrário da educação informal, há uma intencionalidade nos pro- cedimentos de aprendizado, o que também as diferenciaria. Da mesma forma que a terminologia "educação não formal" é recente, podemos dizer que o seu estudo também é. Por isso, os pesquisadores dessa área ainda procuram o seu espaço dentro do ambiente acadêmico e das disciplinas ligadas à educação. Segundo Gohn (2001, p. 91), [...] até os anos 80, a educação não-formal foi um campo de menor importância no Brasil, tanto nas políticas públicas quanto entre educadores. Todas as atenções sempre estiveram concentradas na educação formal, desenvolvida nos aparelhos escolares institucionalizados. A atualidade do conceito, o crescimento de instituições ligadas à sua aplicação e a recente produção de estudos para a sua compreensão são alguns dos motivos que incentivam ainda mais o desenvolvimento de nossos trabalhos, e a formação de educadores que atuam com essa especialidade de educação é uma das preocupações fundamentais para a aplicação de uma educação não formal de qualidade. Dentro dessa perspectiva, o primeiro passo deste Caderno de Referência de Conteúdo será delimitar o conceito de educação não formal e apresentar suas relações com os outros tipos de edu- cação já conhecidos e amplamente difundidos: a educação formal e informal. É importante que você, como futuro educador, con- heça esse novo campo de atuação, suas características e poten- cialidades. Desde já, devemos compreender que a educação não formal representa um novo caminho nos processos educacionais do Brasil e da própria sociedade global, que encontrou na escola, durante o século 19 e boa parte do século 20, o seu principal alicerce para a difusão de um modelo social pautado, especialmente, no progresso e na ciência: a chamada modernidade. Novo caminho, como dissemos, no sentido de que os sistemas de educação formais, por si sós, não conseguem oferecer respostas aos crescentes desafios da sociedade moderna e, desse modo, veem como bem-vindas práticas de educação não formais. Claretiano - Centro Universitário 35© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos Em um segundo momento, procuraremos apresentar o con- texto histórico que levou ao crescimento desse tipo de educação. Nessa abordagem, você poderá perceber que a educação não formal está diretamente relacionada às reformas do "Estado" nas décadas de 1970 e 1980, que levaram, entre outras consequên- cias, ao crescimento de um importante âmbito da sociedade civil organizada, o “terceiro setor” (espaço em que mais se desenvolve a educação não formal). Da mesma maneira, veremos que a evolução de sua aplicação se relaciona, também, às transformações produzidas pelas tecnologias da informação, que forneceram novas perspectivas temporais e espaciais à realidade humana, criando aquilo que foi denominado como sociedade da informação. Por isso, a compreensão do conceito de educação não formal está diretamente relacionada à ampliação da própria concepção de educação trazida por esses “novos tempos”, cada vez mais voltada para a formação de um indivíduo criativo, com uma velocidade mental elevada, que saiba trabalhar coletivamente, mas que, ao mesmo tempo, possua autonomia suficiente para a absorção de múltiplas informações e produza novos conhecimentos. Para finalizar nossos trabalhos, abordaremos algumas perspectivas prático-metodológicas que apresentarão ideias, temas e demandas sociais que poderão ser desenvolvidas como projetos em ambientes de educação não formal. Neste momento, veremos que a educação não formal se preocupa com questões relacionadas desde à capacitação profissional até ao desenvolvimento de noções de cidadania, servindo como uma "alternativa" e/ou um suplemento à educação formal. Aliás, desde o início de nosso estudo, você verá que a educação não formal não se apresenta como uma negação à escola e aos modelos "tradicionalmente constituídos” da educação. Ao contrário, munida de um espírito voluntarista e associativista, © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares36 ela busca cobrir lacunas deixadas pela educação formal, reconhecendo, nas demandas da própria sociedade, objetos para práticas pedagógicas. 5. EDUCAÇÃO NÃO fORMAL Sempre que falamos sobre educação e organização e gestão de projetos educacionais, logo nos vêm à cabeça as estratégias pedagógicas desenvolvidas em sala de aula ou dentro do espaço escolar, não é mesmo? A escola é, geralmente, associada a um es- paço único da educação, onde seriam transmitidos todos os con- hecimentos produzidos pela sociedade.No entanto, isso não é bem verdade. A educação não é um privilégio da escola. Como você deve saber os principais estudos voltados para a educação procuraram delimitá-la em duas esferas principais: em sua forma sistematizada, ou seja, a educação formal, e, também, em sua forma espontânea, a educação informal. Vale lembrar que a educação espontânea – feita principal- mente pela família, pelos pais, dentro do chamado processo de socialização de primeiro grau, no qual são ensinados os primeiros símbolos culturais, as primeiras palavras do idioma natal e algumas regras e padrões de comportamento sociais, a chamada educação informal – representa uma etapa muito importante no desenvolvi- mento da instrução e da formação do indivíduo e por isso merece o seu destaque na compreensão do processo de aprendizagem. Já a educação sistematizada, a chamada educação formal, caracteriza-se pela normatização do processo educacional dentro de um ambiente específico, com normas estabelecidas e compar- tilhadas, horários, conteúdos e avaliações que visam aprovar ou reprovar os conceitos transmitidos em seu interior. Ela seria, por intermédio da escola, a instituição social responsável por levar às gerações mais novas os conhecimentos organizados e constituídos por determinada sociedade ao longo de seu desenvolvimento. Claretiano - Centro Universitário 37© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos Portanto, voltando às nossas primeiras expectativas sobre a escola e a educação, podemos dizer que a escola é o espaço maior da educação formal, porém não da educação como um todo. Tendo apresentado essas duas definições básicas concebidas para a educação, nos dedicaremos, agora, a conceituar a educação não formal. Nos últimos anos, especialmente a partir da década de 1990, alguns autores começaram a identificar uma nova forma de educação que se propagava na sociedade e que não poderia ser concebida nem como educação formal nem, tampouco, como informal: surge, assim, a educação não formal. Na literatura específica, entre os autores que procuraram de- senvolver estudos relacionados à educação não formal, destacam- se o sociólogo português Arlindo Janela Afonso e um grupo de pes- quisadores da Unicamp liderado pelas professoras Olga Rodrigues de Moraes Von Simson, Margareth Brandini Park e Renata Sieiro Fernandes, além da professora Maria da Glória Gohn, também da Unicamp. Neste estudo, focaremos a experiência desses autores, embora reconheçamos que outros pesquisadores de outras uni- versidades desenvolvam suas pesquisas nessa área. Mas, afinal o que estamos entendendo por educação não formal? Em busca de um conceito para educação não formal Quando se lê o conceito de educação não formal pela pri- meira vez, tem-se a impressão de que ele se refere a um sinônimo para a educação informal, uma vez que se opõe à formalidade da educação. No entanto, isso não procede. A educação não formal não é uma palavra similar à educação informal como se supõe. Por isso, não é algo que podemos delimitar com certa facilidade. Na realidade, [...] não existem muitas reflexões teóricas ou pesquisas empíricas que tratam do tema. Todavia, é possível elaborar uma © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares38 fundamentação teórica para melhor evidenciar no que consiste a educação não-formal (FERNANDES; PARK; SIMSON, 2001, p. 9-10). Assim, um dos exercícios para se construir a sua definição é a busca pela exclusão e pelo confronto entre as suas características e os elementos que compõem as outras duas concepções de edu- cação (formal e informal). Podemos dizer que, diferentemente da educação informal, a educação não formal não ocorre de maneira espontânea, bem como não é desprovida de uma intencionalidade. Para sua mel- hor compreensão, vamos, novamente, recorrer à professora Gohn (2001, p. 100): [...] o que diferencia a educação não formal da educação informal é que na primeira existe a intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos. A educação informal decorre de processos espontâneos ou naturais, ainda que seja carregada de valores e representações, como é o caso da educação familiar. Contudo, apesar de a educação não formal também possuir uma intencionalidade e um objetivo a ser alcançado, ela não pode ser comparada à educação formal, uma vez que, mesmo possuindo a sua própria "formalidade", ela não obedece às regras de sistem- atização do conhecimento e de difusão de conceitos segundo uma hierarquia estabelecida, nem atende à necessidade de constituir sistemas de reprovação e avaliação de conteúdos absorvidos. Diferentemente da educação formal, a aprendizagem não ocorre de maneira obrigatória na educação não formal, de forma que os métodos educativos valorizam o ensino coletivo e associa- tivo. Dentro dessa comparação, Moacir Gadotti (2005, p. 02) men- ciona que: A educação formal tem objetivos claros e específicos e é represen- tada principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estru- turas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos fiscalizadores dos ministérios da educação. A educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e menos burocrática. Claretiano - Centro Universitário 39© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos Os programas de educação não-formal não precisam necessaria- mente seguir um sistema seqüencial e hierárquico de "progressão". Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certifica- dos de aprendizagem. Para que possamos compreender de maneira didática e expli- cativa as principais diferenças entre a educação formal e a educação não formal, recorreremos ao interessante Quadro 1, elaborado pelo professor Arlindo Janela Afonso em seu artigo, de 1992, “Sociologia da educação não-escolar: reactualizar um objecto ou construir uma nova problemática?”. Quadro 1 Tipos de aprendizagem TIPOS DE APRENDIZAGEM Escolas tradicionais Associações democráticas para o desenvolvimento Apresentam um caráter compulsório. Apresentam um caráter voluntário. Dão ênfase apenas à instrução. Promovem, sobretudo, a socialização. Favorecem o individualismo e a competição. Promovem a solidariedade. Visam à manutenção do status quo. Visam ao desenvolvimento. Preocupam-se, essencialmente, com a reprodução cultural e social. Preocupam-se, essencialmente, com a mudança social. São hierárquicas e fortemente formalizadas. São pouco formalizadas e pouco (ou incipientemente) hierarquizadas. dificultam a participação. Favorecem a participação. Utilizam métodos centrados no professor-instrutor. Proporcionam a investigação e projetos de desenvolvimento. Subordinam-se a um poder centralizado. São, por natureza, formas de participação descentralizada. fonte: adaptado de Afonso (1992). © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares40 Percebam que, diferentemente da escola, onde os conteú- dos lecionados são preestabelecidos por meio de currículos de- limitados por diretrizes governamentais, por um “poder central- izado”, na educação não formal o conteúdo a ser trabalhado está diretamente relacionado a uma demanda específica de uma deter- minada comunidade. Isso significa o reconhecimento de defeitos, desafios, carên- cias e anseios (sejam eles de um bairro, uma cidade, um estado ou um país) que possuam, na educação, um meio para a sua supe- ração, seja na instrução do trabalhador, no aprendizado de novas profissões, na alfabetização, ou no desenvolvimento de conceitos relacionados à cidadania e/ou à participação democrática do indi- víduo em sua sociedade. De maneira mais clara, podemos dizer que a educação não formal: [...] diz respeito às instituições, associações, organizações e gru- pos que trabalham com a educação e que, apesar de sua menor formalidade, tal atuação difere da educação formal. [...] Assim, a educação não-formal poderia ser exemplificadapor práticas em que o compromisso com questões que são importantes para um determinado grupo é considerado como ponto fundamental para o desenvolvimento desse trabalho; esse compromisso torna-se mais importante do que qualquer outro conteúdo pré-estabelecido por pessoas ou instituições (FERNANDES; PARK; SIMSON, 2001, p. 21). Sobre essas instituições, seus objetivos e procedimentos metodológicos, falaremos a seguir. Objetivos da educação não formal Como apresentamos anteriormente, a educação não formal procura estabelecer suas atividades dentro de uma perspectiva de suprir necessidades e demandas sociais de um determinado grupo específico. Nesse sentido, podemos dizer que a educação não formal no Brasil surge com dois objetivos maiores e que delimitam, tam- bém, a sua atuação: melhorar a maneira de inserção de pessoas à Claretiano - Centro Universitário 41© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos realidade econômica, política e social do país e, ao mesmo tempo, proteger as camadas mais favorecidas da sociedade dos “perigos” da marginalidade. Dentro dessas prerrogativas, as instituições que desenvolvem educação não formal possuem algumas metas específicas que norteiam a organização e a gestão de projetos em seu ambiente. Dentre elas, podemos estabelecer quatro principais: 1) capacitação de indivíduos para o trabalho; 2) desenvolvimento de conceitos relacionados à cidadania; 3) organização do indivíduo para a solução de problemas da comunidade; 4) aprendizados de conteúdos da educação formal. Dessa forma, a educação não formal pode ser compreendida como a oferta de oficinas de especialização de mão de obra, com cursos técnicos nas mais diversas áreas, e oficinas de computação, artesanato, marcenaria, panificação, entre outras. Buscando as- sim, ensinar novas profissões e novas habilidades ao trabalhador, a educação não formal contribui para a sua inserção no mercado de trabalho, pois, além de dar acesso a um emprego, melhora a sua renda e gera a possibilidade de uma vida economicamente mais autônoma. Uma das críticas que Libâneo e Pimenta (1999) fazem à edu- cação não formal, relacionada à qualificação profissional, é que ela incentiva apenas novos tipos de empregos vinculados à infor- malidade e não contribui para o empreendedorismo empresarial. Além disso, acredita-se que a educação não formal possui apenas como objetivo dar instrução mínima às pessoas e não uma forma- ção realmente cidadã. Para esses críticos, a educação formal pos- sui como objetivo maior a qualificação de gente para as empresas e não para a sua melhoria como pessoa. Em um segundo momento, podemos compreender algumas atividades desempenhadas pela educação não formal que trabal- ham com a formação política e atividades que visam ressaltar a © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares42 participação social do indivíduo em sua comunidade. Aparecem aí grupos que oferecem cursos de formação política. Além desses, podemos destacar grupos que trabalham com questões relacio- nadas à educação ambiental, preservação do patrimônio, ações filantrópicas de auxílio ao menor infrator, apoio jurídico a famílias menos privilegiadas etc. Como resultado dessas ações, essas entidades procuram de- senvolver um novo tipo de indivíduo: alguém que saiba exercer a sua cidadania, que valorize e respeite as ações coletivas e sociais, de modo que consiga trabalhar em prol da solução dos problemas de sua comunidade. A ideia é que essas mesmas pessoas possam integrar, futuramente, o quadro de "funcionários" dessa institu- ição, formadas em sua maioria por voluntários – uma característi- ca da educação não formal que exploraremos adiante. Além da aprendizagem profissional, dentro das metas es- pecíficas da educação não formal também está contida a apren- dizagem de conteúdos próprios da educação formal. Por exemplo, há entidades que se preocupam com a alfabetização de jovens e adultos, creches e atividades lúdico-pedagógicas que se vinculam às disciplinas comuns ao ensino formal. A intenção é a mesma dos itens anteriores: a formação de uma mão-de-obra qualificada e cidadania. No entanto, é nessas instituições que podemos ver mais claramente uma das maiores características da educação não formal: o complemento às lacunas deixadas pela escola. Apesar da semelhança de conteúdos, a grande diferença en- tre este tipo de educação não formal e a educação da escola reside nos métodos e nas práticas de ensino. Na educação não formal, o papel do educador é mais centrado em atividades conjuntas, fun- cionando como um animador/organizador. Falaremos mais sobre isso ao longo deste Caderno de Referência de Conteúdo. Vale lembrar que o público-alvo dessas instituições é, geral- mente, formado por pessoas de baixa renda, com pouca escolari- Claretiano - Centro Universitário 43© U1 - Educação Não Formal: Para Além dos Conceitos dade formal, e por crianças em idade escolar que possuem grande chance de evasão escolar, uma vez que não enxergam, nos con- teúdos da escola, objetos práticos para a sua vida, os chamados “estudantes em situação de risco". Para Geraldo Caliman (2006), [...] os estudantes em situação de risco podem ser compreendidos como aqueles cuja principal variável se refere à desigualdade so- cial, desembocando em inúmeras dificuldades como: baixo rendi- mento escolar, manifestações de hostilidade (bullying), adaptação ao próprio papel de estudante e interação social. Ao possibilitar novas chances de formação profissional e educacional, com uma visão mais utilitária e prática da educação, valorizando os anseios de seu próprio público, sem regras ou nor- mas formais para o aprendizado, a educação não formal procura reinserir o trabalhador no mercado de trabalho e tirar os jovens das “ruas”, evitando, assim, os “perigos” da marginalidade. Estabelecidos os objetivos gerais e as metas específicas da educação não formal, devemos, agora, delimitar quais são os seus principais espaços de atuação. Espaço da educação não formal Quando dizemos que a educação não formal ocorre, prin- cipalmente, fora do espaço escolar, não estamos afirmando que ela não possa se desenvolver dentro da escola. A escola pode ser um dos lugares onde a educação não formal se aplica, no entan- to ela está fora do contexto escolar, da rotina da grade curricular, das avaliações e do cronograma. Um exemplo disso é a Escola da Família que, aos finais de semana, desenvolve práticas educacio- nais não formais (como aulas de Computação, artesanato, pintura, entre outros). A educação não formal também pode acontecer fora do con- texto escolar. Em princípio, podemos dizer que ela encontra o seu espaço, principalmente, em instituições de três tipos: públicas, or- ganizadas pela sociedade civil e religiosas. © Gestão e Organização de Projetos Não Escolares44 Existem projetos de faculdades comunitárias que organizam oficinas junto à comunidade. A nossa instituição está incluída neste contexto formativo; a fundação o Boticário de proteção à natureza também é vista como um exemplo de Organização Não Governamental (ONG) que representa a sociedade civil. O número de instituições que possuem programas de educação não formal cresceu especialmente a partir da década de 1980 com a crise do modelo estatal e com a crise da própria educação formal. De acordo com o levantamento de um grupo de professores da Unicamp realizado em 2001, estipula-se que: na região sudeste, existem 278 instituições que se mantêm conve- niadas com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente; no estado de São Paulo, existem 173 [...] (FERNANDES; PARK; SIMSON, 2001, p. 21). Assim, a educação não formal possui o seu espaço de atu- ação em ONGs, Amparos Sociais, Fundos Comunitários, Igrejas, Fundações, Associações de Bairro, Associações de Pais e Mestres, Sindicatos e prédios públicos. Essas entidades vivem de proventos do poder executivo (seja ele municipal, estadual ou federal), de contribuições de empresas
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