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AULA 6 CONTROLADORIA AVANÇADA Profª Anelise Krauspenhar Pinto Figari 2 TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 1.1 Avaliação de desempenho nas organizações A avaliação de desempenho é uma das etapas do processo de gestão organizacional, assim como o planejamento e o controle. Ela tem um papel relevante tanto na mensuração do desempenho da empresa como um todo quanto na mensuração do desempenho dos indivíduos, de modo que pode ser uma ferramenta vinculada à remuneração e à promoção desses indivíduos. Frezatti et al. (2009, p. 156) enfatizam que: Para que seja efetiva para a organização, é fundamental que a forma de avaliar o desempenho seja alinhada com o processo de planejamento, mais especificamente, em termos operacionais, utilizando algum sistema orçamentário, tendo como foco principal a sustentabilidade da entidade. Isso proporciona uma hierarquia no processo que se inicia pela visão global da organização, para posteriormente tratar as unidades de negócios, os departamentos e os indivíduos. Como mencionado pelos autores, é necessário que a avaliação de desempenho esteja alinhada ao processo de planejamento da empresa, ou seja, deve ser vinculada ao planejamento estratégico e ao plano orçamentário, de modo que as metas atribuídas aos gestores, diretores e funcionários possam estar alinhadas aos objetivos estratégicos da empresa e possam contemplar a mensuração de desempenho. Nesse sentido, a figura a seguir evidencia a etapa de avaliação de desempenho no processo de gestão. Figura 1 – Etapas da avaliação de desempenho Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 157. 3 Com base nessa figura, os autores demonstram como ocorre a integração do planejamento, controle e avaliação de desempenho. Para isso, Marr (2006, citado por Frezatti et al., 2009) demonstra as razões que justificam a realização da avaliação de desempenho por parte da organização: • checar a posição, isto é, verificar como a empresa se encontra; • melhorar a gestão, especificamente no processo decisório; • realizar comunicação quanto à posição da empresa; • possibilitar o foco nas prioridades da empresa; • contribuir para a motivação dos gestores; • contribuir com a política/estratégia de remuneração, recompensa e promoção dos funcionários da organização. É importante destacar que “além de medidas de desempenho financeiro, as organizações usam muitas medidas de desempenho não financeiras” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 480). Em consonância, Atrill e McLaney (2014, p. 464) também afirmam que “tanto para as divisões como para as empresas como um todo, os gestores estão usando cada vez mais medidas não financeiras para auxiliar na avaliação de desempenho”. Os autores ainda reiteram que “a divulgação de medidas não financeiras pode ser um útil contrapeso para a comunicação de informações financeiras” (Atrill; McLaney, 2014, p. 464). Justifica-se tal fato, pois as medidas financeiras podem capturar o que medidas não financeiras não capturam e vice-versa, de modo que o uso de ambas pode geram um poder informacional mais equilibrado ao gestor. Nas palavras de Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 480), “enquanto as medidas financeiras expressam os resultados do que as pessoas na organização fazem, elas não medem o que determina o desempenho organizacional”. Por exemplo, as variações das atividades e receitas expressam os resultados dos esforços direcionados ao aumento das vendas, mas não medem as ações que realmente determinam as vendas, como melhorar a qualidade, expor mais clientes potenciais ao produto, atender pedidos de clientes no prazo, e assim por diante. (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 480) Outro ponto a ser levado em consideração é o seguinte caso: para que seja possível avaliar o desempenho organizacional, é necessário mensurar esse desempenho. Nesse sentido, Frezatti et al. (2009, p. 157) apresentam cinco atributos a serem considerados no momento de construção dos indicadores para 4 a mensuração de desempenho: qualidade, quantidade, relevância, oportunidade e velocidade. O quadro a seguir detalha cada um deles. Quadro 1 – Cinco atributos para a construção dos indicadores de desempenho Qualidade Deve demonstrar como o desempenho foi alcançado, levando em conta o comportamento e a conduta. Quantidade A quantidade de algum tipo de produto a ser entregue é o que se pretende nesse atributo. Relevância Indica onde se encontra e qual a necessidade do desempenho. Oportunidade Esse atributo se refere ao momento em que o desempenho ocorre. Velocidade A velocidade em que a atividade deve ser desempenhada corresponde a um relevante aspecto a ser considerado, principalmente nos ambientes em que o número de profissionais atuantes é reduzido e o acúmulo de trabalho pode ser uma constante Fonte: Elaborado com base em Frezatti et al., 2009, p. 157. Assim, verifica-se que não é tão simples definir indicadores para a mensuração do desempenho em uma empresa. Para isso, há a necessidade de considerar o que se deseja capturar com esse indicador, de modo que seja possível definir o uso de indicador financeiro ou não financeiro. Ainda, deve-se levar em consideração os atributos mencionados no quadro anterior para a construção desses indicadores. Com isso, é importante lembrar que “as medidas de desempenho são partes críticas do controle das operações” (Atkinson et al., 2011, p. 94) e que a controladoria tem um papel relevante no controle e na avaliação de desempenho organizacional; é ela que auxilia em todo o processo de gestão e possui as ferramentas adequadas para a execução dessa avaliação de desempenho. TEMA 2 – ECONOMIC VALUE ADDED (EVA®) O Valor Econômico Agregado corresponde ao indicador conhecido, em inglês, como Economic Value Added (EVA®). Trata-se de uma marca registrada da empresa de consultoria americana Stern Stewart & Company. Para Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 154), “no contexto natural da evolução da controladoria e contabilidade gerencial, alguns pesquisadores e consultores de empresas norte-americanas começaram a divulgar, há mais de duas décadas, um outro método para medir o desempenho e os resultados das empresas”. 5 Ademais, de acordo com Araújo e Assaf Neto (2003), as empresas passaram a avaliar o desempenho por meio da perspectiva de uma gestão voltada para a riqueza dos acionistas, não utilizando mais o modelo convencional de somente usar métricas de lucro e rentabilidade. Esse método defende que, para criar valor, a empresa deve ganhar mais do que o custo da dívida e o custo do capital próprio e, para tanto, propõe-se a mensuração do desempenho econômico por meio do EVA. Ehrbar (2003) aponta que, além de o EVA ser um indicador que contribui como um direcionador dos objetivos da empresa, ele é utilizado para o monitoramento do desempenho organizacional. Em consonância, Stewart III (2005, p. 25) relata que o indicador mencionado é a melhor medida para se “estabelecer objetivos, avaliar desempenho, determinar políticas de remuneração de executivos, comunicar-se com os investidores, decidir sobre orçamento de capital e realizar avaliações de qualquer natureza”. Com o cálculo do indicador EVA, é possível saber se a empresa está criando ou destruindo o valor econômico. Se o indicador é positivo, a empresa está criando valor econômico; se é negativo, a empresa está destruindo valor econômico. Assaf Neto e Lima (2017) ressaltam que: Pela análise de indicadores financeiros tradicionais (lucro e rentabilidade), é impossível identificar se a empresa está criando ou destruindo valor econômico. A medida de valor agregado é importante porque, entre outras contribuições relevantes, associa o custo de oportunidade do capital ao investimento realizado, ressaltando a eficácia da administração. Empresas que convivem com uma gestão baseadano valor têm uma visão mais direcionada à concepção dos negócios, à continuidade do empreendimento e ao objetivo de maximização da riqueza de seus acionistas. Muitas empresas utilizam o EVA como métrica em sua avaliação de desempenho. De acordo com Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 154), mais de 200 empresas norte-americanas utilizam o indicador, além de levar tal informação em consideração para a tomada de decisão de investimentos. O autor ainda cita o uso do EVA pelas empresas europeias e pelo Brasil, sendo que, no Brasil, a Brahma foi umas das primeiras a implantar o EVA na empresa, isso em 1995. Nesse sentido, o EVA possui duas premissas principais (Grant, 2003): • uma organização não é efetivamente lucrativa a menos que o retorno do capital investido for maior do que o custo de oportunidade desse capital; 6 • a riqueza é criada quando gestores tomam decisões sobre investimentos no Valor Presente Líquido (VPL) que afetam positivamente os acionistas. O EVA corresponde ao resultado operacional líquido após os impostos menos o custo médio ponderado de capital multiplicado pelo capital investido. O cálculo é o seguinte: 𝐸𝑉𝐴 = 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇 − 𝑊𝐴𝐶𝐶 ∗ 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 Em que: 𝑁𝑂𝑃𝐴𝑇 = resultado operacional líquido após os impostos; 𝑊𝐴𝐶𝐶 = custo médio ponderado do capital; 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐼𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑑𝑜 = capital oneroso total. Com base na equação apresentada, verifica-se a necessidade de obter WACC da empresa. Para isso, é utilizada esta fórmula: 𝑊𝐴𝐶𝐶 = {𝐾𝑒 ∗ [ 𝑃𝐿 (𝑃 + 𝑃𝐿) ]} + {𝐾𝑖 ∗ (1 − 𝐼𝑅) ∗ [ 𝑃 (𝑃 + 𝑃𝐿) ]} Em que: 𝐾𝑒 = custo do capital próprio; 𝐾𝑖 = custo do capital de terceiros; 𝑃 = montante de passivos onerosos; 𝑃𝐿 = montante de patrimônio líquido; (1 − 𝐼𝑅) = benefício fiscal dos juros. O WACC corresponde à ponderação entre o custo de capital próprio e o custo da dívida. O quociente 𝑃𝐿 (𝑃+𝑃𝐿) identifica a proporção de capital próprio em relação a estrutura de capital total e o quociente P (𝑃+𝑃𝐿) identifica a proporção de capital de terceiros em relação à estrutura de capital total da empresa. Vamos acompanhar um exemplo elaborado por Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 159): “digamos que um investidor tem $ 50.000,00 disponível, sendo duas as opções de investimento: poderia investir no mercado financeiro e ganharia 10% ao ano; ou abrir um pequeno negócio. Escolheu a segunda opção [...]”. O resultado dessa operação está detalhado na tabela a seguir. 7 Tabela 1 – Exemplo de retorno de investimento $ Receita operacional líquida 129.045 (–) Despesas operacionais -119.954 Lucro operacional 9.091 (–) Tributação sobre o lucro = 34% -3.091 Lucro líquido operacional, após a tributação = Nopat (net operating profit after taxes) 6.000 Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 159. Dessa forma, observa-se Nopat positivo de $ 6.000,00. Nesse sentido, Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 159) complementam que “se tivesse investido no mercado financeiro a 10%, teria ganho $ 5.000, igual a $ 50.000 × 10% ao ano. Comparando o resultado das duas opções, pode-se apurar o valor econômico agregado”. A tabela a seguir apresenta esses dados. Tabela 2 – Valor Econômico Agregado $ Lucro operacional líquido depois dos impostos (Nopat) 6.000 Custo do capital 5.000 EVA (Economic Value Added) 1.000 Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 159. Nesse exemplo, o EVA é de $ 1.000 positivo, o que significa que a empresa está criando valor econômico. É importante destacar que atualmente existem variações na fórmula de cálculo do EVA. Você vai encontrar diversos autores que utilizam o indicador e, por vezes, as equações podem variar. Saiba mais Você sabe se as empresas do Brasil estão criando ou destruindo valor? No site do Instituto Assaf Neto, é possível visualizar os setores que possuem EVA positivo nos últimos três anos. Disponível em: <https://institutoassaf.com.br/indicadores-e-demonstracoes-financeiras/nova- metodologia/indicadores-de-desempenho-e-valor-de-balancos/>. 8 TEMA 3 – MARKET VALUE ADDED (MVA®) O Valor Agregado de Mercado corresponde ao termo em inglês da medida conhecida como Market Value Added (MVA®), patenteada pela Stern Stewart & Co. “A medida do MVA® reflete a expressão monetária da riqueza gerada aos proprietários de capital, determinada pela capacidade operacional da empresa em produzir resultados superiores a seu custo de oportunidade” (Assaf Neto; Lima, 2017, p. 153). O EVA e o MVA estão relacionados, de modo que “se os administradores melhorarem a medida EVA, o MVA da empresa terá uma probabilidade maior de melhorar também” (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 164). O EVA mensura se a empresa criou valor econômico em um determinado período. De acordo com Assaf Neto e Lima (2017, p. 153), “essa medida orienta as decisões financeiras para a agregação de valor aos acionistas, assim como revela os resultados atingidos”. A principal limitação ocorre devido ao fato de analisar o passado, de modo que o EVA “nada diz aos administradores sobre como suas atuais estratégias devem provavelmente efetuar o valor futuro de suas empresas” (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 164). O MVA mensura o “valor acumulado em toda a trajetória de uma empresa até determinada data” (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 164), ou seja, “é a mensuração da riqueza gerada por um empreendimento” (Assaf Neto; Lima, 2017, p. 153). Nesse sentido, Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 164) elencam algumas ações que uma empresa pode tomar para aumentar tanto o EVA como o MVA: 1. cortar custos e reduzir impostos para aumentar o Nopat (representa o Lucro Operacional Líquido, deduzido o imposto de renda) sem crescer capital. Ou seja, operar de forma mais eficiente para ganhar um maior retorno sobre o capital já investido no negócio; 2.empreender todos os investimentos nos quais o aumento de Nopat será maior do que o aumento de encargos de capital. Ou seja, investir em crescimento lucrativo, empreendendo todos os projetos com valor líquido presente positivo que prometam produzir um retorno sobre capital que exceda o custo de capital; 3.retirar capital de operações quando as economias decorrentes da redução dos encargos de capital excedam qualquer redução de Nopat. Ou seja, deixar de investir em – ou liquidar – ativos e atividade que não estejam gerando retornos iguais ou maiores do que o custo de capital. A grande mudança nessa área é a venda de ativos que valham mais para outros, mas a categoria também inclui coisas como a redução de estoques e a aceleração da cobrança de contas a pagar (ambas representam investimentos de capital); 9 4.estruturar as finanças da empresa de forma tal que minimizem o custo de capital, algo que reside exclusivamente nos domínios do departamento financeiro e do conselho de administração. De acordo com Assaf Neto (2014), uma metodologia gerencial de avaliação do MVA corresponde à equação apresentada a seguir: 𝑀𝑉𝐴 = 𝐸𝑉𝐴 𝑊𝐴𝐶𝐶 Nesse caso, o MVA corresponde ao valor presente do EVA, calculado pela divisão do EVA pelo WACC da empresa. Para fins de exemplificação, vamos dizer que temos um EVA positivo de R$ 50.000,00 e um WACC calculado de 17%. Nesse caso, quanto será o MVA? Veja o cálculo: 𝑀𝑉𝐴 = 50.000 0,17 = 294.117,64 Assim, os R$ 294.117,64 evidenciam “o quanto a empresa vale mais que o total do capital investido” (Assaf Neto, 2014a, p. 2014), isto é, o goodwill da empresa, de modo que o valor de mercado corresponde ao montante de capital investido mais o MVA (goodwill) encontrado. Se, no nosso exemplo, a empresa tivesse um total de capital investido de R$ 1.000.000,00, o valor de mercado dela seria a soma do total investido e do MVA, conforme expressa a tabela a seguir. Tabela 3 –Valor de mercado Investimento R$ 1.000.000,00 (+) MVA (goodwill) R$ 294.117,64 (=) Valor de mercado da empresa R$ 1.294.117,64 O valor de mercado da empresa, nesse exemplo, corresponde a R$ 1.294.117,64. É valido ressaltar que existem outras metodologias em relação ao MVA. De acordo com Assaf Neto (2014, p. 186), a MVA é “calculada com base nas expectativas do mercado com relação ao potencial demonstrado pelo empreendimento em criar valor”. Esse processo pode ser calculado da seguinte maneira: 𝑀𝑉𝐴 = 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑚𝑒𝑟𝑐𝑎𝑑𝑜 − 𝑖𝑛𝑣𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 10 Nesse caso, “o valor total de uma empresa pode ser determinado pelo produto do preço de mercado de suas ações e a quantidade em circulação, mais o valor de mercado de seus passivos” (Assaf Neto, 2014a, p. 186). Assim, o investimento total corresponde ao capital total investido na empresa pelos acionistas e credores. TEMA 4 – EBITDA A sigla Ebitda corresponde ao termo em inglês Earnings Before Interest Rates, Taxes, Depreciation and Amortization; é traduzida como Lucro antes dos Juros, Imposto, Depreciação e Amortização e conhecida no Brasil pela sigla Lajida. Foi no mercado norte-americano, em 1970, que o Ebitda passou a ser conhecido. De acordo com Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 295), na década de 1970, o Ebitda “era utilizado pelos analistas como uma medida temporária para avaliar o tempo que seria necessário para que uma empresa, com grande volume de investimento em infraestrutura, viesse a prosperar sob uma perspectiva de longo prazo”. Nesse sentido, o Ebitda é um indicador amplamente utilizado e divulgado pelo mercado como medida de desempenho operacional; é utilizado em geral por todos os setores. Entretanto, destaca-se que é uma medida alternativa de mensuração e que não atende aos princípios contábeis geralmente aceitos, sendo assim, passível de críticas e ponderações quanto ao seu uso. Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 295) mencionam que o Ebitda é conhecido como fluxo de caixa operacional, pois “leva em conta apenas o desempenho operacional da empresa e não reflete o impacto no resultado, dos itens extraordinários, das despesas com investimentos e das mudanças havidas no capital de giro”. Em outras palavras, “o Ebitda é uma informação operacional de caixa, indicando quanto a empresa gera de recursos financeiros de sua atividade, desconsiderando juros, impostos e depreciação” (Assaf Neto, 2014b, p. 28). Essa medida é utilizada para avaliar a qualidade da gestão operacional de caixa da empresa. Assaf Neto (2014b, p. 28) destaca que “o Ebitda não pode ser entendido como a disponibilidade efetiva de caixa da empresa, sendo mais bem interpretado como um indicador da capacidade (potencial) de geração de caixa de suas operações”. 11 Além da utilização já mencionada, o Ebitda “serve para comparar empresas em qualquer país, podendo ser utilizado como representatividade da eficiência dentro de um determinado segmento de atividades” (Padoveze, 2015, p. 466). Para fins de exemplificação, com a finalidade de verificar o cálculo do Ebitda com base na demonstração de resultado da empresa apresentada a seguir, vamos acompanhar um exercício realizado por Oliveira, Perez Junior e Silva (2015). Ao lucro líquido da empresa, são adicionados estes itens para o cálculo do Ebitda: 1) a depreciação contida no custo de produtos vendidos; 2) a depreciação incluída nas despesas operacionais; 3) os juros contabilizados na Demonstração do Resultado do Exercício, decorrentes de empréstimos financeiros e bancários; 4) os impostos sobre o lucro. (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 296). Vejamos a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da empresa na tabela a seguir. Tabela 4 – Demonstração do Resultado do Exercício Companhia ABC Demonstração do Resultado do Exercício, em 31 de dezembro de 2010 – R$ Receitas líquidas de vendas 2.000.000 (–) Custos dos produtos vendidos, incluindo R$ 80.000 de depreciação -1.300.000 (=) Lucro Bruto 700.000 (–) Despesas operacionais, incluindo R$ 20.000 de depreciação e R$ 30.000 de juros decorrentes de financiamentos -400.000 (=) Lucro antes dos tributos 300.000 (–) Imposto de Renda e Contribuição Social (34%) -102.000 (=) Lucro líquido final, após o Imposto de Renda e a Contribuição Social 198.000 Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 296. Com essas informações, adicionando-se os itens já mencionados ao lucro líquido final, tem-se os dados apresentados na tabela a seguir. Tabela 5 – Demonstração do Resultado do Exercício após adição dos itens Companhia ABC Demonstração do Resultado do Exercício, em 31 de dezembro de 2010 – R$ Receitas líquidas de vendas 2.000.000 (–) Custos dos produtos vendidos, incluindo R$ 80.000 de depreciação -1.300.000 12 (=) Lucro Bruto 700.000 (–) Despesas operacionais, incluindo R$ 20.000 de depreciação e R$ 30.000 de juros decorrentes de financiamentos -400.000 (=) Lucro antes dos tributos 300.000 (–) Imposto de Renda e Contribuição Social (34%) -102.000 (=) Lucro líquido final, após o Imposto de Renda e a Contribuição Social 198.000 Demonstração da apuração do Ebitda em 31 de dezembro de 2010 – R$ Lucro líquido contábil final, após Imposto de Renda e Contribuição Social 198.000 Mais Total da depreciação incluída nos custos dos produtos vendidos e nas despesas operacionais 100.000 Juros decorrentes de empréstimos 30.000 Imposto de Renda e Contribuição Social 102.000 Ebitda: Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization 430.000 Fonte: Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 296. Como é possível observar no exemplo, o Ebitda da empresa corresponde a R$ 430.000,00, valor este maior que o lucro líquido final apurado pela contabilidade na demonstração apresentada. Vale ressaltar que isso ocorre devido ao indicador mensurar a capacidade e o potencial de geração de caixa das operações da empresa, de modo que desconsidera, de acordo com Assaf Neto (2014b, p. 28), os seguintes aspectos: • depreciação (amortização e exaustão), por tratar-se de despesas não desembolsáveis e sem reflexos no caixa; • as despesas financeiras (juros de dívidas referentes ao período de apuração), por não terem relação com a atividade operacional da empresa (são determinadas por decisões de financiamento, e não de ativo); • impostos sobre os lucros (IR e CSLL). TEMA 5 – BALANCED SCORECARD De acordo com Garrison, Noreen e Brewer (2013, p. 483), “o balanced scorecard [BSC] consiste em um conjunto integrado de medidas de desempenho que são provenientes da estratégia de uma empresa e servem de suporte a ela”. Para Oliveira, Perez Junior e Silva (2015, p. 124), “é a tradução de estratégia em ação, ou seja, a razão de ser do BSC é tirar do papel os planos e metas estratégicas das organizações e difundi-los por todos os níveis da organização”. Já Frezatti et al. (2009, p. 182) descrevem que “o ponto central é a premissa de que a combinação de medidas financeiras com medidas não financeiras orientará a organização para o alcance dos objetivos estratégicos”. De acordo 13 com os autores mencionados, essa ferramenta é “uma das principais respostas da contabilidade gerencial às demandas estratégicas das organizações” (Frezatti et al., 2009, p. 174). O BSC possui quatro perspectivas integradas com a visão e a estratégica da empresa. São elas: financeira, dos clientes, dos processos internos e da aprendizagem e crescimento. Na figura a seguir, há uma visualização gráfica das perspectivas do BSC junto à visão e à estratégia organizacionais. Figura 2 – Perspectivas do BSC Fonte: Elaborado com base em Kaplan; Norton, 1992, p. 72, citados por Frezatti et al., 2009, p. 183. Nesse sentido, as perspectivas dos “processos internos de negócios são o que a empresa faz natentativa de satisfazer os clientes” (Garrison; Noreen; Brewer, 2013, p. 483) e são fundamentais para o negócio e sua continuidade, de modo que “os gestores devem identificar as características de custo, qualidade, tempo e desempenho que lhes permitam oferecer produtos e serviços que atendam às necessidades dos clientes da organização” (Frezatti et al., 2009, p. 184). A perspectiva de aprendizagem e crescimento aponta que “a empresa deve continuamente estar atenta a sua infraestrutura, ajustando-a a suas necessidades no tocante ao modelo, aos sistemas produtivos e gerenciais e aos procedimentos organizacionais” (Figueiredo; Caggiano, 2008, p. 292). 14 De acordo com Frezatti et al. (2009, p. 185), essa perspectiva pode ser analisada em três categorias: “(i) capacidades dos funcionários; (ii) capacidades dos sistemas de informação; e (iii) motivação, empowerment e alinhamento”. Em relação à perspectiva de clientes, Figueiredo e Caggiano (2008, p. 293) apontam a necessidade de saber a imagem que os clientes possuem em relação à empresa; para isso, “deve-se incialmente identificar clientes e mercado, suas necessidades, seus anseios, procurando meios de atingi-los”. Para fins de exemplificação, Frezatti et al. (2009) apresentam um quadro que evidencia alguns objetivos para a perspectiva de clientes e seus respetivos indicadores de desempenho. Tabela 5 – Objetivos para a perspectiva de clientes Objetivos Indicadores de Desempenho Aumento da participação de mercado Porcentagem de participação de mercado Porcentagem de crescimento de participação de mercado Aumento da satisfação dos clientes Índice de satisfação dos clientes Aumento da retenção de clientes Porcentagem de clientes que retornam Aumento da rentabilidade por cliente Rentabilidade por cliente Redução do prazo de entrega Prazo médio de entrega Melhoria da qualidade do produto Porcentagem de devoluções Porcentagem de defeitos Quantidade de reclamações Diminuir o custo total para o cliente Variação percentual do preço de venda e dos custos pós-venda Fonte: Frezatti et al., 2009, p. 188. Por fim, a perspectiva financeira está relacionada com os proprietários da empresa. De acordo com Frezatti et al. (2009, p. 189): Os objetivos financeiros devem representar a meta de longo prazo da empresa que proporcione condições de sustentabilidade na vertente econômica, sendo traduzidas para a entidade através do aumento do retorno, numa dimensão mais tradicional, ou do valor da entidade, numa perspectiva mais contemporânea. Para tanto, procura condicionar seus vetores ao setor de mercado, ao ambiente de competição e à estratégia adotada. Em suma, o BSC “é um sistema de gestão que complementa as medidas financeiras do desempenho passado com as medidas dos fatores que impulsionam o desempenho futuro” (Oliveira; Perez Junior; Silva, 2015, p. 121). 15 REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. M.; ASSAF NETO, A. A contabilidade tradicional e a contabilidade baseada em valor. Revista de Contabilidade & Finanças, São Paulo, v. 14, n. 33, p. 16-32, 2003. ASSAF NETO; A. Finanças corporativas e valor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2014a. ASSAF NETO; A. Valuation. São Paulo: Atlas, 2014b. ASSAF NETO; A.; LIMA, F. G. Fundamentos de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017. ATKINSON, A. A. et al. Contabilidade Gerencial. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011. ATRILL, P.; MCLANEY, E. Contabilidade gerencial para tomada de decisão. São Paulo: Saraiva, 2014. EHRBAR, A. EVA: valor econômico agregado: a verdadeira chave para a criação de riqueza. 2. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2003. FREZATTI, F. et al. Controle Gerencial: uma abordagem da contabilidade gerencial no contexto econômico, comportamental e sociológico. São Paulo: Atlas, 2009. GARRISON, R. H.; NOREEN, E. W.; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. GRANT, J. L. Foundations of economic value added. 2. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2003. OLIVEIRA, L. M.; PEREZ JUNIOR, J. H.; SILVA, C. A. S. Controladoria estratégica: textos e casos práticos com solução. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, C. L. Controladoria: estratégica e operacional. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. STEWART III, G. B. Em busca do valor: o guia do EVA para estrategistas. Porto Alegre: Bookman, 2005.
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