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AULA 5 ELABORAÇÃO, GESTÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Prof. Raphael Hardy Fioravanti 2 TEMA 1 – A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO Assim como qualquer outra atividade, o planejamento é parte fundamental do desenvolvimento de políticas públicas, pois possibilita justamente a diminuição de qualquer tipo de incerteza que pode estar presente no decorrer da atividade. O planejamento permite a construção de cenários futuros a partir de dados de informações que contemos no presente, quanto mais detalhado for o planejamento, menores poderão ser as alterações no decorrer do caminho. Isto só vai ser possível se estivermos munidos de dados que possibilitem clareza sobre o assunto da política pública. Vale lembrar que nenhum planejamento é estático ou imutável no decorrer do desenvolvimento de um projeto de políticas públicas e ações para melhor se adaptar à realidade que se dá no momento do processo de implementação. Contudo, o planejamento permitirá menores conflitos e distorções frente àquilo que se deseja e àquilo que efetivamente conseguimos atingir, demonstrando a eficiência e a eficácia da proposta da política pública. Como vimos anteriormente, o planejamento é uma das etapas do processo de desenvolvimento de políticas públicas. No ambiente político, o planejamento tem como objetivo estruturar os diversos elementos para que se alcance o cenário futuro dentro daquilo que se deseja para a agenda política. Para o planejamento, é fundamental a utilização de uma série de conhecimentos práticos e também teóricos que, quando ordenados, permitirá uma melhor interação com agilidade no desenvolvimento, envolvendo programas e estratégias bem como desenhando as ações necessárias para o cumprimento daquilo que se deseja com a política pública. Uma das vantagens de se fazer o planejamento é permitir justamente que a administração pública tenha conhecimento de todas os recursos necessários, bem como a análise do ambiente onde será desenvolvida a política pública, com isso, é possível fazer um melhor acompanhamento dos resultados da política pública com o cenário que foi desenhado. O planejamento também é fundamental no ambiente, o político poder emitir uma melhor tomada de decisão a partir de critérios técnicos claros e objetivos, independente do modelo de tomada de decisão que se estabeleça para aquela política pública. No planejamento de políticas públicas, podemos ter três tipos de planejamento: 3 • Planejamento estratégico: é um processo administrativo que possibilita a sustentação metodológica para ter clareza do melhor direcionamento. Em geral, fica sobre a responsabilidade dos níveis mais altos da hierarquia. É onde também são formulados os objetivos. Na administração pública, ela pode estar dentro do âmbito municipal estadual ou federal. • Planejamento tático: tem por objetivo otimizar uma determinada área de resultado, fazendo as especificações traçadas nos objetivos, estratégias e políticas estabelecidas pelo planejamento estratégico. Na administração pública, podemos identificar como sendo o planejamento setorial como de secretarias e ministérios. • Planejamento operacional: caracteriza-se por ser a formalização do planejamento. São documentos escritos com as metodologias de desenvolvimento e implementação, bem como com a descrição dos resultados que se pretende atingir com a política pública. Normalmente, são desenvolvidos pelas organizações funcionais inferiores. Foca-se nas atividades do dia a dia. Na administração pública, podemos identificar como sendo o detalhamento das políticas setoriais. Seja qual for o tipo de planejamento que estamos trabalhando, temos que ter ciência que dizem respeito a políticas públicas, consequentemente, existe toda uma série de regulamentações que determinam como deverão ser desenvolvidas tais planejamentos. Ou seja, na organização da gestão pública brasileira a necessidade de se estabelecer um referencial legal para elaboração, execução e pressão das políticas públicas. O referencial legal ou Marco Legal pode ser estabelecido por meio de uma legislação específica que vai orientar e regular cada política pública, de acordo com os parâmetros para a gestão de cada setor. Nós podemos reconhecer essas legislações por meio das leis orgânicas ou leis complementares. Poderemos ainda encontrar resoluções específicas, também conhecidas como NOB (Normas Operacionais Básicas), que junto com a nossa Constituição e legislação complementar formam o Marco Legal de cada política pública. Como exemplo de legislações específicas de políticas públicas, podemos citar a Lei Orgânica da Saúde (LOS), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o Estatuto da Cidade e a Lei Orgânica da Assistência Social. Como você pode observar, essas legislações tratam de campos de conhecimento técnico muito específico. Com isso, cada política pública terá uma demanda de 4 conhecimento com pressupostos teóricos, legislação específica, formas de organização e estágios de desenvolvimento que serão exigidos para a implementação de uma política pública. Por isso, é necessário fazer o planejamento da política pública. Também é necessário ficar atento aos indicadores de cada setor, e como eles podem ser utilizados para justificar a política pública, bem como construir indicadores que permitiram verificar a efetividade da política pública proposta. Também observe que mesmo que uma política pública seja setorial, é bem provável que haja interfaces com outras políticas públicas de outras áreas, inclusive. Aqui, vamos procurar explorar alguns dos principais planos ou legislações que influenciam as demais políticas públicas no Brasil, independentemente do nível de organização governamental que nós estamos tratando. No Brasil, o processo do incrementalismo é o mais notório no desenvolvimento de políticas públicas. Isto quer dizer que uma política pública acaba por ser criada como uma extensão ou consequência de uma política pública que já tenha sido construída. A isso damos o nome de incrementalismo. Dificilmente encontraremos políticas públicas que, de alguma forma, se referenciam ou não são estimuladas por políticas e legislações já definidas. E isto não é ruim, pelo contrário. O desenvolvimento interdepende de políticas públicas permite que o Estado faça oferta de serviços públicos de forma contínua, independentemente de o governo que está no comando naquele tempo. Desta forma, dada a necessidade de pleitos eleitorais, não corremos o risco de termos paralisia do setor público a cada nova eleição. Isto também permite com que haja o processo de avaliação permanente das execuções de políticas públicas, que é fundamental não apenas para medir os seus avanços, mas também permitirá adoções de correções e melhorias que se fazem necessários ao longo do processo de implementação da política pública. A avaliação de políticas públicas é um processo contínuo que avalia, em primeiro lugar, a ação dos seus gestores, que são os responsáveis pela sua execução, mas também faz parte do processo de controle social e controle interno do Estado. Com isso, a partir de um planejamento bem estruturado, respaldado a partir da Constituição, legislações específicas, bem como outras políticas públicas anteriormente desenvolvidas e implementadas, permite o bom desenvolvimento de nossa sociedade. 5 TEMA 2 – PLANO PLURIANUAL O Plano Plurianual (PPA) é talvez o principal instrumento de planejamento orçamentário de médio prazo do governo federal brasileiro. Nele que estão apresentadas as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública federal, demonstrando todas as suas despesas, investimentos, mais as atividades programadas, que tem uma duração continuada. O PPA é estabelecido com base legal e tem uma vigência de quatro anos. A sua principal característica é que ele precisainiciar no segundo ano do mandato de um presidente, e, assim, ele vai até o final do primeiro ano do mandato do seu sucessor. Isto torna a garantia de que não haja interrupções nos planos e programas que atendem a sociedade como um todo. No âmbito nacional, o plano plurianual deve estabelecer de forma organizada e também regionalizada as diretrizes, objetivos e metas que a administração pública federal irá estabelecer para organização de suas despesas, investimentos e também de programas de duração continuada. Isto foi estabelecido conforme o art. 165 da Constituição de 1988, que confere o papel central ao governo federal para esse planejamento. Vale também enfatizar que a Lei de Responsabilidade Fiscal dá destaque à necessidade de ação planejada e coerente, compatibilizando as diretrizes orçamentárias com plano plurianual. Um plano plurianual além de estabelecer os objetivos e metas pelo período de 4 anos, deve ser visto como um instrumento que visa melhorar o desempenho da gestão pública Brasileira e garantir a consecução das prioridades do governo. Um bom PPA deve considerar alguns princípios fundamentais, tais como: a. Fazer alocação de recursos dos investimentos em base territorial de forma equilibrada. b. Procurar sempre integrar as políticas e os programas e, com isso, utilizar os recursos públicos e dar foco em torno do público-alvo de cada ação. c. Procurar a melhoria contínua dos processos de monitoramento e avaliação de projetos e programas criados pelo governo. d. Procurar desenvolver parcerias com a iniciativa privada e, desta forma, ampliar os recursos disponíveis para financiamento das ações públicas. e. Ter uma visão estratégica sobre os projetos e programas que possam promover o desenvolvimento. 6 f. Procurar de forma incansável a transparência das aplicações dos recursos públicos, divulgando seus gastos e resultados de forma compreensível a sociedade. g. Procurar promover, sempre que possível, a participação social na elaboração do PPA. Desta forma, ele poderá se tornar uma ferramenta para o aperfeiçoamento de políticas públicas. Assim, podemos definir o PPA como uma das pedras fundamentais para a elaboração, planejamento e execução de políticas públicas no Brasil, pois, por exemplo, norteia a elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). A Constituição Federal determina que os planos e programas nacionais regionais e setoriais sejam elaborados em acordo com o PPA. No PPA, estão explicitados os programas que serão desenvolvidos com todo o seu detalhamento com os objetivos, metas e indicadores, tanto daqueles de ordem de investimento, como também dos programas que possuem uma duração continuada. O desdobramento do PPA nos permite alguns elementos fundamentais presentes nas políticas públicas, no que diz respeito ao seu desenvolvimento implementação. Vamos aproveitar esse momento para descrevê-los. • Programa: é um conjunto de atividades continuadas ou eventuais dos projetos. Não possui data de término predeterminado, que é comum em uma política pública. Em geral, são focados no atendimento de um direito ou necessidade social. • Projeto: é uma ação temporária destinada a criar novos produtos ou serviços, como a implementação de uma infraestrutura ou desenvolver novos processos. Caracteriza-se por ter um início, desenvolvimento, enfim previstos. • Atividade: é uma ação rotineira ou continuada. Ela é vista como um custeio não como investimento, pois se caracteriza pela necessidade da sua continuidade. O planejamento governamental deveria ser um exercício cotidiano intrínseco ao próprio ato de governar. Definir prioridades, coordenar sua implementação, articular apoios, bem como monitorar e avaliar as políticas públicas fazem parte do roteiro de planejamento governamental. A dimensão territorial brasileira, seu sistema federativo único e o também singular presidencialismo de coalização impõem desafios adicionais ao planejamento do governo federal. (Abranches, 2018) 7 Por fim, não confunda a criação do plano com o processo de planejamento. O planejamento é um exercício contínuo que gera recursos para a criação do PPA. TEMA 3 – LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS E LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL Fazer planos é bom em qualquer esfera da nossa vida, mas sem recursos financeiros não há planos que se sustentem. O mesmo corre na gestão pública e na criação de políticas públicas, se não definimos a origem dos recursos, garantimos a sua disponibilidade, qualquer política pública estará fadada ao fracasso. Por isso, a definição da origem dos recursos é obrigatória na criação de qualquer política pública. Entre as responsabilidades do Poder Executivo, está o planejamento e o orçamento, que definem os princípios básicos para elaboração e controle definidos pela Constituição Federal, em especial a Lei n. 4.320, que versa as normas gerais do direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, Municípios e Distrito Federal. Nesse sentido, nós temos a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que regulamenta e cria um sistema de coordenação e planejamento para o PPA a ser discutido pelo Poder Executivo e Poder Legislativo. Essa lei determina, por exemplo, que os estados e municípios devem fazer as previsões de médio prazo das suas receitas e despesas, bem como fazer o acompanhamento mensal impossibilitar o controle das suas finanças e de suas dívidas. Com isso, a LRF transformou o processo orçamentário em um instrumento de planejamento efetivo. Outro aspecto interessante da LRF é que, caso as metas não sejam cumpridas, os governos precisarão realizar cortes de gastos a fim de fazer com que as suas metas sejam atingidas. Este é um dos principais mecanismos para se manter a boa saúde financeira do Estado brasileiro. Outro instrumento fundamental para a formulação de políticas públicas aqui no Brasil é a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), pois é ela que define as prioridades que devem ser inseridas na Lei Orçamentária Anual para o próximo ano fiscal vigente. Tudo começa quando o projeto de lei da LDO enviado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo e, com base na sua aprovação pela Secretaria de Orçamento, o organiza e consolida a proposta orçamentária de todos os órgãos do poder, Executivo, Legislativo e também Judiciário. 8 Se formos buscar o que diz a Constituição federal sobre a LDO, ela nos afirma que “as metas e prioridades para o exercício financeiro subsequente, orienta a elaboração do orçamento”, que é a Lei Orçamentária Anual, “Dispõe sobre alterações da legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras de fomento” (art. 165, parágrafo 2º). O encaminhamento do projeto de lei orçamentária anual ao poder legislativo é uma obrigação constitucional do governo federal e deve ser realizado todo ano até o último dia do mês de agosto de cada ano. Assim, as metas e diretrizes definidas, tanto no PPA, quanto na LDO, servem de base para os técnicos formularem o projeto de lei orçamentária anual. Com isso, todos os programas e ações do governo estarão lá detalhados, organizados e disciplinados. Nenhuma despesa pública poderá ocorrer sem estar considerada no orçamento. Observamos também que a LDO vai estabelecer quais serão as prioridades do governo, incluindo as despesas de capital e, desta forma, irá orientar as bases da elaboração da Lei Orçamentária Anual, sobre a qual falaremos mais adiante. Também veremos na LDO a busca pelo equilíbrio das receitas e despesas, de forma criteriosa, com as normas que irão reger o controle de custos e dos resultados dos programas que serão financiados ditando quais serão os recursos dos orçamentos. A LDO é formada, basicamente, por três documentos fundamentais: 1. Apresentação: que explica ao Poder Legislativoa proposta orçamentária. 2. Projeto de Lei: apresenta de forma ampla o conteúdo presente na PLO, explicando as suas prioridades e as metas da administração pública, como está organizado o orçamento que quais serão as diretrizes para a elaboração e execução do orçamento proposto. 3. Disposições gerais: relacionamento das despesas com pessoal e encargos sociais. As receitas e possíveis mudanças na legislação tributária. A dívida pública e as considerações finais. Já a Lei Orçamentária Anual (LOA) é um outro instrumento de planejamento muito importante, pois nele estão as receitas de despesas dos diferentes órgãos públicos. Esse documento organiza os recursos orçamentários aos programas e ações de acordo com as previsões para o exercício do ano seguinte. Ele também deve estar compatível com aquilo que é apresentado no PPA e na LDO. Para tanto, deve conter quatro itens: 9 a. Demonstrativo de compatibilidade com as metas fiscais da LDO. b. Documento que irá apresentar como serão compensadas as possíveis renúncias fiscais e despesas obrigatórias de caráter continuado. c. Demonstração da provisão de reserva de contingência para garantir pagamentos de atividades entrevistas. d. Apresentação dos prazos para apreciação da LOA. Em geral, é até o último dia do mês de setembro. Assim, o orçamento anual e irá compreender o orçamento referente aos poderes do Estado, todos os seus fundos, órgãos e entidades da administração seja direta ou indireta. É claro que a Constituição Federal prevê a possibilidade que haja um emenda ao projeto de Lei Orçamentária Anual, desde que mantida a compatibilidade com o plano plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. TEMA 4 – FORMAÇÃO DOS PLANOS Até agora, falamos de elementos fundamentais que influenciam a construção de políticas públicas no Brasil de uma forma mais ampla. Contudo, é interessante trabalharmos aqui, também, a alguns instrumentos fundamentais que acabam auxiliando o desenvolvimento das próprias cidades. 4.1 Planos Diretores São instrumentos básicos da política de desenvolvimento e expansão urbana, estão previstos em Constituição Federal. Esses planos devem ser aprovados por meio de uma lei municipal, tornando-se parte integrante do processo de planejamento local. Assim sendo, é fundamental considerar, também, quando estamos desenvolvendo políticas públicas mais regionalizadas. No processo de criação do plano diretor, assim como o acompanhamento de sua implementação, precisa estar as garantidas, ter total transparência do processo, buscar mecanismos para a participação da população, das suas associações representativas, o que acontece geralmente por meio de audiências públicas e debates. O Plano Diretor é, por excelência, um documento tanto técnico quanto político, de natureza estratégica, pois propõem as possíveis transformações estruturais da cidade com o objetivo de atender as necessidades básicas da sua 10 população, contribuindo com aumento da eficiência económica, sem deixar de lado a qualidade ambiental e o resguardo do patrimônio coletivo, cultural-histórico. Ele também está previsto na Constituição e é obrigatório para todas as cidades que tenham mais de 20 mil habitantes, cidades que sejam integrantes de regiões metropolitanas, ou aglomerações urbanas, onde o poder público deseja utilizar os instrumentos que estão presentes no art. 182 da Constituição Federal, que podem ser áreas especiais para o turismo, o que tem alguma grande influência de empreendimento, ou, ainda, atividades com significativo impacto ambiental para o âmbito regional ou nacional. Embora a sua obrigatoriedade seja para a cidade com mais de 20000 habitantes, os planos diretores têm sido vistos como de grande importância para qualquer organização de espaço urbano. Com isto, pequenos municípios também estão desenvolvendo planos diretores, pois se tivermos uma visão de longo prazo, o desenvolvimento urbano sem um planejamento poderá trazer no futuro resultados muito desagradáveis, tendo que promover realocações populacionais, gerando prejuízos tanto para a esfera privada quanto pública. Basta ver as principais e mais antigas cidades do Brasil, onde encontramos vários pontos em que a falta de um plano diretor dificulta o desenvolvimento de algumas regiões das cidades, o que impede o seu desenvolvimento econômico sustentável. 4.2 Planejamento Setorial É um outro instrumento que o governo pode dispor no âmbito municipal, mas também no estadual e federal. Ele acaba sendo uma ferramenta utilizada pelo primeiro escalão do governo que foi eleito, pois nele estará presente os planos estratégicos para as principais demandas da sociedade, por exemplo, educação, saúde, indústria e comércio, cultura, e assim por diante. Cada responsável do primeiro escalão precisa fazer uma avaliação dos programas que estão já em andamento e dos recursos com os quais poderá contar. Desta forma, desenvolve o seu planejamento estratégico pensando em objetivos em metas de médio a longo prazo dentro do setor pelo qual está responsável. Ao criar esse plano, terá condições de defendê-lo diante do governante, pois nele estarão descritas todos os processos metodológicos, razões, bases que sustentam a sua visão para o setor. 11 TEMA 5 – PRÁTICAS E CAPTAÇÃO DE RECURSOS Até agora, falamos da organização e planejamento de políticas públicas de forma institucionalizada e respaldada a partir da Constituição Federal. Até esse momento, estamos discutindo que tais políticas públicas que possuem recursos oriundos do sistema fiscal seja estrutura do Estado. A descrição da origem dos recursos é fundamental em qualquer política pública. Mas como vimos na base teórica, é possível existir políticas públicas com uma certa independência do poder estatal. Ir para o seu desenvolvimento faz a necessidade de ter acesso a recursos para a sua viabilidade. O que propomos aqui, então, é apresentarmos diferentes práticas e processos para a captação de recursos, tanto por organizar ações da sociedade ou mesmo órgãos governamentais que estejam com todos os seus recursos destinados e alocados por meio de parcerias público-privadas, sendo possível ampliar o atendimento das necessidades da sociedade. A elaboração de políticas públicas com base na estruturação de projetos permite a apresentação com sucesso para os gestores dessas fontes de recursos, que podem, por exemplo, ser utilizados em projetos sociais, em consonância com uma política pública, ou fazendo parte desta. Os diferentes fundos federais para a liberação de recursos exigem o desenvolvimento de projetos. Há, também, diversas fontes internacionais que poderão ser acionadas, seja pelo poder federal, estadual ou municipal. Contudo, sempre será necessário que a proposta esteja muito bem estruturada. Em âmbito nacional, além dos fundos setoriais, é possível captar recursos junto à iniciativa privada por meio de leis de incentivo fiscal, de empresas que, em troca do financiamento, recebem benefícios no pagamento dos seus impostos. De qualquer forma, toda a política pública proposta terá que estar muito bem desenhada, planejada com seu processo metodológico definido, objetivos e metas estabelecidos, descrição das ações e tempos previstos. Como também quais são os seus indicadores de desempenho e como será feito o acompanhamento dos resultados da proposta. Como exemplo, podemos citar a Lei Rouanet, a Lei de Patrocínio, os fundos municipais dos direitos da criança e adolescente, o Fundo de Participação dos Municípios, o Fundo de Amparo ao Trabalhador, entretanto, o gestor público deve 12 estar atento à abertura dos editais para o encaminhamento de propostas de projetos e políticas públicas a serem financiadas por tais fundos. No âmbito internacional, vamos citar aqui algumas possíveis fontes de recursos: INSTITUIÇÃO ÁREA DE FINANCIAMENTOE/OU OBJETIVOS Ação Agrária Alemã Financiamento para projetos de desenvolvimento rural, integração social, desenvolvimento democrático, educação e treinamento vocacional. Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) A JICA defende uma visão de “desenvolvimento dinâmico e inclusivo”. Para tornar essa visão realidade, a JICA está empenhada em quatro missões, quais sejam: (1) desafios que acompanham a globalização, tais como mudanças climáticas e questões relacionadas à água, alimentos e doenças infecciosas; (2) redução da pobreza e crescimento justo e; (3) melhoria da governança, como políticas e sistemas de governo de países em desenvolvimento; e (4) garantias da segurança humana. Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) A Agência Espanhola de Cooperação concede subsídios para ações de cooperação para o desenvolvimento. Os beneficiários são: ONGs, empresas, organizações internacionais, associações, fundações, administrações públicas de outros países etc. American Conservation Association, Inc. Preservação histórica, conservação e proteção dos recursos naturais, meio ambiente, área de financiamento, pesquisa, política pública, preservação e proteção da vida selvagem. American Express Foundation Financiamento de projetos em herança cultural, liderança e serviço comunitário. Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) Concede financiamento para países em desenvolvimento, complementando os investimentos privados e provendo a assistência técnica para a preparação, financiamento e execução de projetos e programas de desenvolvimento de médio e 13 grande porte. Áreas temáticas: a) redução de pobreza e promoção da equidade social; b) modernização do Estado; c) integração regional; d) meio ambiente Banco JP Morgan Área educacional com prioridade para atuação na formação para a cidadania. Charles Stewart Mott Foundation Financiamento de projetos para fortalecimento democrático, combate à pobreza, respeito aos direitos e diversidade, acesso equalitário a recursos, fortalecimento comunitário e proteção do meio ambiente. DFID – Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido Departamento do governo britânico que trabalha em parceria com outros governos que têm como prioridades a promoção do desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza. Fundación Avina Focada em projetos da América Latina, em especial o Bioma Amazônico, reciclagem, cidades sustentáveis e migrações. GLOBAL ENVIRONMENT FACILITY (GEF) – Fundo Global para o Meio Ambiente O fundo define diretrizes, políticas e temas prioritários e confia às agências implementadoras do GEF, ou apenas Agências GEF, a aplicação das regras a preparação e o monitoramento dos projetos que serão desenvolvidos pelas chamadas instituições executoras. Fundação Interamericana (IAF) Órgão independente do Governo dos Estados Unidos, foi criado pelo Congresso em 1969 para canalizar a ajuda para o desenvolvimento diretamente às pessoas de baixa renda organizadas na América Latina e no Caribe. Misereor – Obra Episcopal de Cooperação para o Desenvolvimento É a obra episcopal da Igreja Católica da Alemanha para a cooperação ao desenvolvimento. PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/PNUD Brasil A ONU Meio Ambiente trabalha para disseminar, entre seus parceiros e a sociedade em geral, informações sobre acordos ambientais, programas, metodologias e conhecimentos em temas ambientais relevantes da agenda global e regional e, por outro lado, para promover uma participação e contribuição mais intensa de especialistas e 14 instituições brasileiras em fóruns, iniciativas e ações internacionais. UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura As prioridades programáticas da UNESCO no país se definem pela identificação dos desafios conjunturais brasileiros, no quais a organização fundamenta seus objetivos estratégicos para cada uma de suas áreas temáticas: educação, ciências naturais, ciências humanas e sociais, cultura UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância Universalizar os direitos de crianças e adolescentes. 15 REFERÊNCIAS ABRANCHES, S. Presidencialismo de coalização: raízes e evolução do sistema político brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. Tribunal de Contas da União. Versão 2. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 13. ed. atualizada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 1996. COUTO, L. F.; CARDOSO JUINOR, J. C. A função dos planos plurianuais no direcionamento dos orçamentos anuais: avaliação da trajetória dos PPAs no cumprimento da sua missão constitucional e o lugar do PPA 2020-2023. Brasília: IPEA, 2020. DIAS, R.; MATOS, F. Políticas públicas: princípios, propósitos e processos. São Paulo: Atlas, 2012. SECCHI, L. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.