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8 Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson

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TEORIA DA 
PERSONALIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Descrever a teoria psicossocial do desenvolvimento para Erik Erikson.
 > Definir o ego na teoria pós-freudiana de Erik Erikson.
 > Caracterizar o processo de avaliação da personalidade, proposto por Erik 
Erikson.
Introdução
Erik Homburger Erikson produziu uma interessante e complexa teoria sobre a 
personalidade. Sua teoria apresenta, como alguns de seus conceitos centrais, 
a ideia de crise e de identidade. Erikson (1976) sugeriu que o desenvolvimento 
psíquico do ser humano ocorre durante toda a sua vida e propôs oito estágios 
diferentes. Cada estágio do desenvolvimento psicossocial é compreendido por 
esse autor como uma crise, um momento no qual o ego se encontra embaraçado 
diante de problemáticas relacionadas à construção de seu senso de identidade. 
Para o autor, o ego pode ser compreendido como uma estrutura da personalidade 
criativa que constrói uma relação proativa com a realidade, além de ser fortemente 
influenciado pelas particularidades socioculturais da cultura a qual está imerso. 
Portanto, Erikson também estava atento para a influência de fatores sociais e 
Ego e 
desenvolvimento 
psicossocial em 
Erik Erikson
Victor de Jesus S. Costa
culturais, por isso ressaltou os aspectos psicossociais no desenvolvimento da 
personalidade.
Neste capítulo, você estudará sobre os oito estágios do desenvolvimento 
psicossocial propostos por Erikson, conhecerá a definição de ego dada pelo 
psicanalista e será apresentado ao processo de avaliação da personalidade criado 
por ele.
Os oitos estágios do desenvolvimento 
psicossocial
A teoria do desenvolvimento psicossocial é a maior contribuição de Erikson 
para a psicologia (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). Entre suas inovações, estão a 
concepção de que enquanto há vida, há desenvolvimento — ou seja, o ser 
humano está sempre se desenvolvendo —, e a ênfase na importância na 
construção do senso de identidade para o amadurecimento da personalidade. 
Erikson (1976) propôs oito diferentes estágios que abarcariam o desenvol-
vimento psíquico humano. Cada estágio é caracterizado por uma crise, isto 
é, um intenso conflito emocional descrito por um antagonismo entre dois 
diferentes sentimentos:
1. o primeiro estágio é determinado pelo antagonismo entre a confiança 
básica versus a desconfiança básica;
2. segundo — autonomia versus vergonha e dúvida; 
3. terceiro — iniciativa versus culpa; 
4. quarto — diligência versus inferioridade; 
5. quinto — identidade versus confusão de identidade; 
6. sexto — intimidade versus isolamento; 
7. sétimo — generatividade versus estagnação; 
8. último — integridade versus desespero. 
A seguir, analisaremos a especificidade de cada estágio.
Confiança básica versus desconfiança básica
Nesse primeiro estágio do desenvolvimento psicossocial proposto por Erikson 
(1976), o bebê recém-nascido encontra-se diante da construção do sentimento 
de confiança. Erikson define a confiança como “[...] uma segurança íntima na 
conduta dos outros, assim como um sentido fundamental de boa conceitua-
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson2
ção própria” (ERIKSON, 1976, p. 97). A confiança básica é compreendida como 
a pedra angular da personalidade e é a fonte do sentimento de esperança 
(ERIKSON, 1998).
O conflito entre a confiança básica e a desconfiança básica se dá na 
relação entre o bebê e a mãe. A mãe, no início da vida pós-natal, é a princi-
pal representante do mundo exterior e apresenta-se ao filho por meio da 
amamentação; o filho, por sua vez, se relaciona com ela por meio da sucção 
do leite. Portanto, a boca é a primeira forma de relação dos bebês, o que 
justifica a nomeação desse processo como fase oral. 
A periodicidade, a uniformidade e a qualidade dos cuidados maternais 
contribuem para que essa fase do desenvolvimento seja vivenciada com êxito. 
Se a confiança na continuidade e na uniformidade dos cuidados maternais 
e o incremento na capacidade de conter seus próprios anseios por parte do 
bebê forem maiores do que a desconfiança inata direcionada ao outro e a 
si mesmo, o sentimento de esperança pode se consolidar (ERIKSON, 1976). 
Dessa maneira, a criança poderá constituir um forte senso de identidade e 
idoneidade, os quais proporcionarão os sentimentos de estar “certo” e de 
ser digno da confiança dos outros. No entanto, caso a desconfiança seja 
maior do que a confiança, a criança poderá desenvolver-se como um adulto 
retraído que desconfia das próprias qualidades e das qualidades do outro. 
Autonomia versus vergonha e dúvida
Esse estágio é caracterizado pelo maior controle muscular e motor da criança. 
Durante o segundo ano de vida, há uma evolução da maturação muscular, da 
discriminação e da verbalização (ERIKSON, 1976), e essas novas experiências 
proporcionam à criança a possibilidade de “reter” e de “expulsar” as coisas. 
O modelo utilizado pelo autor é o controle esfincteriano desenvolvido pela 
criança, por isso esse estágio é chamado de estágio anal. 
Erikson (1976) propõe que a possibilidade de reter e de expulsar pode 
promover o sentimento de autonomia no bebê. Outro exemplo do ganho de 
autonomia da criança é a aquisição da habilidade de segurar firmemente ob-
jetos, podendo assim guardá-los para si ou oferecê-los ao outro. Se a criança 
e seus pais conseguirem lidar com essa nova fase da vida emocional infantil 
de forma satisfatória, isto é, a criança pouco a pouco se sentir cada vez mais 
segura para exercer sua autonomia e os pais serem capazes de respeitar o 
ganho de autonomia do filho, um profundo sentimento de livre arbítrio pode 
se instaurar e ser fonte da vontade. Já se o pequeno experienciar essa fase 
por meio de um supercontrole parental, um sentimento de perda de controle 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson 3
por parte da criança pode se instaurar e a dúvida e a vergonha podem se 
manifestar, dificultando o desenvolvimento emocional infantil (ERIKSON, 
1998). Essa sensação de falta de controle pode ser manifestar por meio de 
comportamentos compulsivos, por exemplo, lavar a mão repetidamente, 
necessitar apagar as luzes diversas vezes antes de ir dormir, etc.
Iniciativa versus culpa
O terceiro estágio do desenvolvimento psicossocial é reconhecido pela crise 
emocional associada ao conflito iniciativa versus culpa. O seguimento do 
desenvolvimento muscular e linguístico infantil permite que a criança se 
mova mais facilmente e de forma mais vigorosa no mundo e favorece a ima-
ginação (ERIKSON, 1976). Essa conjunção de fatores possibilita o surgimento 
do sentimento de propósito; a criança agora é capaz de fantasiar a ocupação 
do lugar e exercer os papéis materno e paterno, visto que o casal parental, 
muitas vezes, ocupa o lugar de ideal na mente de seu filho. A criança, ao 
imaginar-se ocupando o lugar de seus pais, pode se identificar com eles e 
com tudo o que ela imagina que os pais são capazes de fazer. Dessa forma, 
o sentimento de propósito pode surgir e motivar a criança a exercer uma 
posição de iniciativa perante o mundo, assim contribuindo para seu processo 
de formação de identidade.
Todavia, o autor faz a ressalva de que, uma vez que a criança fantasia 
ocupar o lugar de pai e/ou de mãe e de ser portadora de todas as qualidades 
de seus pais, os sentimentos de rivalidade e culpa aparecem, além de uma 
arcaica consciência moral. Erikson aproxima esse estágio do desenvolvimento 
psicossocial à fase fálica e ao complexo de Édipo propostos por Freud, uma 
vez que é nela que a curiosidade infantil se intensifica, principalmente em 
relação ao seu corpo e à sexualidade (ERIKSON,1976). 
Diligência versus inferioridade
O quarto estágio é marcado pela entrada na idade escolar. A criança não 
convive mais somente com sua família nuclear, ela começa a conviver, de 
forma mais assídua, com outros adultos e crianças. Essa diversificação das 
relações proporciona que o pequeno se identifique com outras pessoas além 
de seus pais, e o compartilhamento de tarefas e responsabilidadescom outras 
crianças favorece o sentimento de competência (ERIKSON,1976).
O perigo desse estágio é a possibilidade de o sentimento de inferioridade 
sobrepor o interesse infantil de exercer novas tarefas, isto é, a diligência. O 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson4
sentimento de inferioridade provocaria uma inércia psíquica e física, isto é, 
a criança, por se sentir inferior e incompetente em relação aos demais, não 
se dispõe a aprender nenhuma nova habilidade. 
Identidade versus confusão de identidade
Erikson (1976) caracteriza a puberdade como um período no qual ocorre 
revisão e integração dos elementos de identidades constituídos nas fases 
anteriores. De certa maneira, o adolescente busca o olhar do outro para a 
compreensão de seu senso de identidade. Isso se faz presente no sentimento 
de fidelidade, típico da adolescência, aos grupos aos quais ele pertence ou, 
do lado negativo da moeda, no repúdio dirigido às outras pessoas, uma vez 
que elas provocam uma confusão de identidade. 
A confiança, afeto fundamental do primeiro estágio, surge como uma 
procura assídua por pessoas e ideias nas quais o adolescente possa ter fé. 
Já a autonomia, desenvolvida no estágio anal, comparece pelo desejo de 
querer livremente decidir os rumos de sua vida. A imaginação e a rivalidade 
proporcionada pelo terceiro estágio oportunizam ao adolescente a admiração 
às pessoas mais velhas. Por fim, a competência se faz presente na escolha por 
uma profissão na qual ele possa se destacar. Todo esse processo é marcado 
por diversas crises de identidade, visto que o adolescente reavalia diferentes 
aspectos de sua personalidade (ERIKSON, 1976). 
Intimidade versus isolamento
O jovem adulto está ansioso para compartilhar suas experiências com ou-
tras pessoas de forma mais profunda e intensa (ERIKSON, 1998). As relações 
de trabalho, sexuais e de amizades são engendradas pelo sentimento de 
intimidade. Contudo, Erikson ressalta que a verdadeira intimidade é fruto 
da capacidade de se comprometer com o outro de forma verdadeira, o que 
exige sacrifícios, além de compromissos. O amor é o sentimento que nutre e 
fortalece essas relações íntimas, portanto é possível considerar que o amor 
é o sentimento primordial que guia e fortalece as experiências de intimidade.
O extravio da intimidade é o isolamento, i.e., o receio de permanecer “[...] 
não reconhecido” (ERIKSON, 1998, p. 62). Erikson destaca que o isolamento 
também é possível a dois, um intenso sentimento de exclusividade que tende 
a excluir do casal suas relações com o mundo. 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson 5
Generatividade versus estagnação
A fase adulta é marcada por criatividade, procriatividade e produtividade, 
conjunto de qualidades que o autor nomeou como generatividade (ERIKSON, 
1998). A generatividade é entendida como exercício de competências cria-
doras por meio da geração de novas ideias, produtos e novos seres. Caso 
esse potencial criativo não seja aproveitado, um forte senso de estagnação 
se faz presente. 
A produção de novas ideias e, em especial, a geração de um filho oportu-
niza o desabrochar do cuidado, qualidade tão fundamental das relações. O 
cuidado é fruto da soma de todos os elementos de identidade anteriores, isto 
é, confiança, vontade, propósito, competência, fidelidade e amor. Todavia, 
Erickson (1998) faz a ressalva de que o cuidado pode ser contaminado pelo 
sentimento de rejeição, ou seja, o adulto se dispõe a cuidar exclusivamente 
daqueles que lhe são próximos ou apenas de si e rejeitar todas as demais 
pessoas. 
Integridade versus desespero
A velhice é marcada por uma perda relativa de autonomia e pela consciência 
da proximidade da morte. Erikson (1998) afirma que o sentimento de integri-
dade, que é fundamental para o advento da sabedoria, é resultado de uma 
atitude imparcial e, ao mesmo tempo, preocupada com a vida em si e a morte 
em si. A sabedoria tem o importante papel de operar como uma inspiração 
para as novas gerações, sendo a sua contrapartida o desdém. O desdém é 
compreendido como a atitude de enxergar a si mesmo e ao outro cada vez 
mais acabados, deteriorados e desamparados.
Como explicitado por Hall, Lindzey e Campbell (2000), a teoria de Erik 
Erikson segue o princípio epigenético, ou seja, cada estágio contribui 
para a formação da personalidade e continua a influenciar o seu desenvolvimento 
mesmo que ele já tenha sido atravessado. Isso consiste em considerar que, 
durante o atendimento de um paciente adulto, o terapeuta deverá estar atento 
a todos os estágios do desenvolvimento psicossocial que já foram vivenciados 
por ele, não somente àquele que ele está vivendo no momento.
Os oito estágios do desenvolvimento psicossocial, desse modo, são uma 
importante e significativa contribuição de Erikson à psicologia. Como exposto, 
fatores socioculturais desempenham um papel fundamental nesse processo. 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson6
Cada estágio precisa ser compreendido tanto pelo ponto de vista social quanto 
pelo ponto de vista individual e psicológico, em um processo de avaliação 
de personalidade. A ênfase em fatores culturais e a concepção de que o ser 
humano está sempre se desenvolvendo indicam que a concepção de ego 
de Erikson é inovadora e distinta da concepção freudiana, fundamentada 
principalmente no desenvolvimento psicossexual e na relação que o ego 
mantém com o id e com o superego. É sobre o conceito de ego proposto por 
Erikson que nos aprofundaremos a seguir. 
O ego para Erik Erikson 
A noção de ego formulada por Erik Erikson destoa da noção freudiana. Hall, 
Lindzey e Campbell (2000) relembram que, para Freud (2011), o ego é um servo 
que atende a três diferentes senhores: ao Id — representante da vida pulsional 
—; à realidade — representante do mundo externo — e ao superego — represen-
tante da cultura. Diante de demandas muitas vezes inconciliáveis, o ego recorre 
a diferentes mecanismos de defesa, tal como o recalque, ou seja, a retirada da 
consciência de representações psíquicas que geram desprazer. Portanto, por 
esse vértice teórico, o ego é parte executiva da personalidade e uma estrutura 
defensiva. Nessa conceituação de ego, há pouca ênfase na influência de fatores 
sociais na estruturação egoica, ênfase que foi feita por Erikson. 
Erikson (1998) destaca os fatores psicossociais na constituição egoica, 
ou seja, as influências que os meios sociais, como a cultura, a educação, o 
trabalho, entre outros, exercem sobre a estruturação do ego. Como exposto 
anteriormente, durante os oito estágios do desenvolvimento psicossocial, 
o ego se vê diante de diferentes crises, e todas elas são intermediadas por 
aspectos socioculturais. A maneira como elas serão vivenciadas é diferente 
de uma cultura para outra; por exemplo, enquanto em nossa sociedade é 
comum que seja a mãe que amamente o filho e o desmame aconteça a partir 
dos seis meses de idade; em outras culturas a amamentação não ocorre 
necessariamente pela mãe, e o desmame é mais tardio. Essas diferenças 
sociais influenciam a forma como o recém-nascido vivenciará o estágio oral. 
Hall, Lindzey e Campbell (2000) afirmam que o ego sai fortalecido a cada 
crise ultrapassada. O atravessamento de cada estágio é compreendido como 
uma conquista psíquica, isso porque o ego se nutre de importantes senti-
mentos que compõem o senso de identidade (esperança; vontade; propósito; 
diligência; fidelidade; amor; cuidado; sabedoria) ao final de cada estágio 
do desenvolvimento psicossocial. A concepção desses sentimentos como 
capacidades egoicas é uma importante contribuição da teoria de Erikson, 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson 7
visto que o ego não apenas se defende, mas também é capaz de adquirir 
maior repertório emocional a cada estágio do desenvolvimento. Esses au-
tores sugerem que o ego, nessa perspectiva, é essencialmente criativo, que 
não apenas se defende de demandas externas e/ou internas, mas encontra 
soluções criativase é capaz de obter prazer nesse processo. 
Cabe aqui uma breve explicação sobre a relação do superego com 
a cultura. Freud (2011) propõe que a cultura se relaciona com o ego 
por meio de variadas interdições, como as que compõem o complexo de Édipo, 
e o superego seria a introjeção dessas interdições. Esse ponto de vista sobre 
a cultura e o desenvolvimento da personalidade é diferente do ponto de vista 
de Erikson (1976), uma vez que, para esse autor, a cultura se relaciona com o 
Ego por meio da transmissão dos valores culturais.
A ênfase nos fatores socioculturais contribuiu para que Erikson (1998) 
conceitualizasse a realidade e a relação que o ego constrói com ela de forma 
distinta da conceituação freudiana (2010). Enquanto para Freud o senso de 
realidade é constituído por uma percepção da realidade pelo ego como 
uma fonte de desprazer e de frustração, Erikson (1998) sugere que há três 
componentes de um senso de realidade: factualidade, compreensibilidade 
e contextualidade. 
A factualidade é a percepção da realidade material, isto é, o mundo como 
uma série de coisas e fatos que são percebidos pelo ego com a menor distor-
ção ou negação possível (ERIKSON, 1998). A compreensibilidade é a realidade 
compartilhada por um grupo através da linguagem e de valores comuns. 
Por fim, a contextualidade é o entrelaçamento entre os dois componentes 
anteriores. Erikson esclarece que a junção desses três componentes constitui 
não apenas um senso de realidade, mas um modo de vida. Nas palavras do 
autor: “[...] libera uma visão coerente que intensifica um senso de contextu-
alidade e efetiva um companheirismo ético com sólidos comprometimentos 
de trabalho” (ERIKSON, 1998, p. 79). 
Cabe relembrar que Erikson era psicanalista, portanto, apesar de suas 
divergências com o escopo teórico freudiano, sua noção de ego compartilha 
diversas semelhanças com as de Freud. Por exemplo, para Freud (2011), o ego 
é essencialmente corpóreo, i.e., o ego tem uma forte relação com a percepção 
e os órgãos dos sentidos, e é assim também para Erikson. Outra semelhança 
é o papel de destaque da sexualidade infantil para a estruturação da perso-
nalidade. Os estágios do desenvolvimento psicossocial não excluem; aliás, 
complementam a teoria sobre o desenvolvimento psicossexual de Freud (2016). 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson8
Dessa forma, é possível concluir que o conceito de ego proposto por Erikson 
é extremamente complexo. O entrelaçamento entre aspectos psicológicos e 
culturais já seria suficiente para compreendê-lo dessa maneira, contudo a 
complexidade se expande quando o autor indica que, além de desempenhar 
um papel defensivo, o ego é, antes de tudo, uma estrutura criativa que busca 
encontrar soluções para suas questões emocionais e para as demandas que 
a realidade impõe. Para lidar com tamanha profundidade, Erikson empregou 
diversas formas de analisar e avaliar as personalidades. Ele estudou inten-
samente a personalidade de seus pacientes e de pessoas públicas. Esse é o 
tema da próxima seção. 
Analisando a personalidade e o encontro 
clínico
Existem variadas formas de analisar uma personalidade, como por meio 
dos testes projetivos, como o Rorschach (RORSCHAC; EXNER, 1994), ou de 
questionários como o Big Five (JOHN; DONAHUE; KENTLE, 1991). Também é 
possível considerar que o método de atendimento escolhido para o encontro 
clínico é igualmente uma opção sobre qual método de investigação e de 
análise da personalidade do paciente vai ser empregado. Hall, Lindzey e 
Campbell (2000) discutem as diferentes formas que Erikson encontrou para 
analisar as personalidades de seus pacientes e de celebridades. Eles indicam 
que Erikson aplicava quatro diferentes análises: histórias de caso, situações 
lúdicas (ludoterapia), psico-história e estudos antropológicos. 
Antes de entrar nesse tema, um comentário sobre como Erikson compreen-
dia o encontro clínico entre terapeuta e paciente se faz necessário, visto que 
sua concepção clínica é fundamental para a compreensão de como esse autor 
apreendia o ser humano. Erikson, apesar de ser psicanalista, discordava de 
alguns procedimentos clássicos da psicanálise: o uso do divã e a interpretação 
dos sonhos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). Ele acreditava que o uso indiscriminado 
do divã poderia levar a uma ênfase excessiva no material inconsciente, a 
uma fantasiosa objetividade e até a um sadismo por parte do analista. A 
interpretação dos sonhos seguiria a mesma linha de pensamento, uma vez 
que a interpretação dos sonhos proposta por Freud (2012) é completamente 
voltada para a análise de material inconsciente e, a depender do manejo do 
analista, favorece uma posição de distanciamento entre terapeuta e paciente. 
Erikson sugeriu que a terapia devesse transcorrer frente a frente (SCHULTZ; 
SCHULTZ, 2021). Esse enquadro favorece uma relação mais pessoal e mais 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson 9
simétrica entre as partes; além disso, o manejo clínico deve ser pensando 
caso a caso. O encontro com cada paciente é único e deve ser pensado, vivido 
e manejado pelo analista com o maior respeito possível à singularidade da 
pessoa. Mantendo em mente essas qualidades do encontro clínico, pode-se 
partir para os processos de avaliação da personalidade. 
O estudo de caso foi o método de pesquisa mais vezes empregado por 
Erikson (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). Esse método abarca a investigação profunda 
de um determinado caso clínico e a estipulação de relações entre hipóteses e 
variáveis visando à construção de uma teoria (MEZAN, 1998). O estudo de caso, 
apesar de ser bastante difundido na prática clínica, é um método de pesquisa 
que tem limitações importantes, como a impossibilidade de reprodução e o 
fato de ser de difícil verificação (SCHULTZ; SCHULTZ, 2021). 
As situações lúdicas, ou ludoterapia, consistem na utilização de brinquedos 
para a pesquisa e para o trabalho clínico com crianças e adolescentes. Hall, 
Lindzey e Campbell (2000) indicam que Erikson percebeu, assim como outros 
clínicos de sua época, que a terapia com crianças se mostrava mais frutífera 
quando ocorria por meio de jogos e brincadeiras, visto que as crianças têm 
pouco vocabulário e grande dificuldade para expressar sua realidade psíquica 
por meio de palavras. Ele desenvolveu uma situação lúdica padronizada com 
intuito de observar as diferentes formas que meninos e meninas brincavam:
Eu preparei uma mesa para brincar e uma seleção aleatória de brinquedos e convidei 
os meninos e as meninas do estudo, um de cada vez, a entrar e a imaginar que a 
mesa era um estúdio de cinema e os brinquedos, atores e cenários. Eu então lhes 
pedi que “criassem sobre a mesa uma cena emocionante de um filme imaginário” 
(ERIKSON, 1964, p. 98).
O resultado desse experimento surpreendeu Erikson e levou-o a propor 
que meninos e meninas brincam de forma diferente em razão de sua anato-
mia genital. Segundo Hall, Lindzev e Campbell (2000), a consideração de que 
meninos e meninas brincavam de forma diferente com os mesmos brinquedos 
devido à sua anatomia genital e a desconsideração da influência de fatores 
culturais na determinação desse comportamento fizeram com o Erikson fosse 
alvo de críticas de teóricos e teóricas feministas. 
A análise psico-histórica, por sua vez, consiste em estudos bibliográficos. 
Erikson se interessou pela análise de figuras religiosa, políticas e literárias, 
tais como Lutero, Gandhi, Martin Luther King, entre outros, e analisou também 
a infância de Hitler (HALL; LINDZEV; CAMPBELL, 2000). A ideia central nesse 
método de pesquisa seria a mesclagem entre o método psicanalítico e o 
método de estudo da história. Haveria, dessa maneira, uma passagem de 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson10
história de caso, isto é, o estudo de caso propriamente dito, à história de vida. 
No método psicanalítico, há a reconstrução da história individual do paciente, 
e tende-se a enfatizar o porquê de aquele determinado paciente estar emsofrimento psíquico; no estudo da história, a ênfase está em como ocorreu a 
estruturação de personalidade de uma determinada pessoa pública. Schultz 
e Schultz (2021) apontam que as análises psico-históricas feitas por Erikson 
enfatizam um determinado episódio na vida que estruturou a personalidade. 
Por último, temos o método denominado estudos antropológicos. Além 
de ler estudos antropológicos com o intuito de articulá-los com sua teoria, 
Erikson também foi a campo (HALL; LINDZEV; CAMPBELL, 2000). Por exemplo, 
ele foi à Dakota do Sul em 1937 investigar por que as crianças da etnia Sioux 
apresentam uma enorme apatia. Após uma observação cuidadosa, ele inferiu 
que essas crianças se encontravam diante de um impasse cultural: por terem 
sido criadas inicialmente rodeadas pelos valores tribais, ao terem contato 
com a cultura americana, que tem valores diferentes, elas acabavam por 
desenvolver uma grande apatia em razão de sua dificuldade de conciliar os 
diferentes valores culturais que eram oferecidos a elas. Ou seja, diante da 
impossibilidade de adotar ou sintetizar valores culturais tão distintos uns dos 
outros, essas crianças escolheram se recolher por meio da apatia psíquica. 
No presente capítulo, abordamos os oito estágios do desenvolvimento 
psicossocial, que abrangem toda a vida do ser humano e são constituídos por 
crises emocionais, as quais são caracterizados pelo antagonismo entre dois 
diferentes sentimentos. A questão do senso de identidade é primordial para 
Erikson, uma vez que o que está em jogo nos oito estágios é a contribuição 
de cada um para a consolidação da identidade do indivíduo. Cada estágio 
contribui com um importante sentimento que compõe o senso de identidade: 
o 1º com a esperança, o 2º com a autonomia, o 3º com a vontade, o 4º com o 
propósito, o 5º com a competência, o 6º com a fidelidade, o 7º com o amor 
e o 8º com a sabedoria.
Os fatores sociais também têm um lugar significativo. A teoria do desen-
volvimento psicossocial destaca o valor da transmissão de valores culturais 
e sociais particulares de cada cultura e a influência que eles exercem na 
forma como cada estágio será vivenciado. Isso significa que, por esse vér-
tice teórico, a cultura francesa influenciará de maneira distinta da cultura 
brasileira no estágio oral, por exemplo. Esse entrelaçamento entre social e 
desenvolvimento psíquico contribui enormemente para a conceituação de 
ego feita por Erikson. Destaca-se que Erikson também estudou e aplicou 
Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson 11
variadas formas de avaliação de personalidade, o que contribuiu para sua 
percepção clínica e teórica. 
É possível notar que Erik Homburger Erikson construiu uma interessante, 
complexa e instigante teoria sobre o desenvolvimento da mente humana. Ele 
foi, também, capaz de desenvolver e aplicar diferentes métodos de avaliação 
de personalidade visando sempre a investigar de maneira respeitosa e pro-
funda como a construção da personalidade de seus pacientes e de pessoas 
públicas ocorrera. Esse imenso respeito e admiração pela complexidade 
da mente humana e pela individualidade de cada sujeito, características 
fundamentais para o psicólogo clínico, possibilitaram que Erikson fosse um 
clínico e teórico da psicologia excepcional. 
Referências 
ERIKSON, E. H. Insight and responsibility: lectures on the ethical implications of psycho-
analytic insight. New York: Norton & Company, 1964.
ERIKSON, E. H. Juventude e crise. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
ERIKSON. E. H. O ciclo de vida completo. Porto alegre: Artes Médicas, 1998.
FREUD, S. A interpretação dos sonhos. Porto Alegre: L&PM, 2012.
FREUD, S. Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico. In: FREUD, S. 
(1911-1913) Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia relatado em autobio-
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Ego e desenvolvimento psicossocial em Erik Erikson12
Leituras recomendadas
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