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CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 39 de 64 Quadro 2 - Processo de Enfermagem Fonte: COFEN, 2012 (Adapado). #PraCegoVer: A imagem mostra um esquema organizacional e didá co do processo de enfermagem. No primeiro momento, temos a inves gação (coleta de dados e obtenção de informação), no segundo momento, o diagnós co de enfermagem (interpretação dos dados), no terceiro momento, temos o planejamento de enfermagem (elaboração dos cuidados de enfermagem), no quarto momento, temos a implementação de enfermagem (realização prá co dos cuidados de enfermagem) e no quinto e úl mo, temos a avaliação de enfermagem (avalia os cuidados de enfermagem que foram prestados aos pacientes). O PE (processo de enfermagem) é sistema zado pelo enfermeiro, que tem o obje vo de prestar cuidados clínicos de acordo com a patologia do ser humano que se encontra internado ou vai se submeter a um procedimento cirúrgico. As orientações são fornecidas ao paciente, por meio do enfermeiro, a par r do momento da internação até a sua alta. Por meio da SAEP, o enfermeiro elabora um plano assistencial de cuidados de enfermagem para o paciente, o qual deverá ser executado pela equipe de auxiliares e técnicos de enfermagem. Esse plano assistencial foi elaborado de acordo com análise do diagnós co de enfermagem, avaliado pelo enfermeiro no momento inicial do PE, examinando-se os problemas sicos e mentais levantados, as necessidades afetadas e o grau de dependência do paciente. No decorrer dos dias de hospitalização, e de acordo com a melhora orgânica do paciente, é feito o planejamento da alta hospitalar. Neste momento, a família e o paciente são orientados pelo profissional médico e pelo enfermeiro para os cuidados de saúde necessários quando retornarem ao domicílio (MALAGUTTI; BONFIM, 2009). 1.3 ADMISSÃO OU RECEPÇÃO DO PACIENTE NO CENTRO CIRÚRGICO A recepção e a permanência de um paciente, realizada pelo enfermeiro e a sua equipe, no setor do centro cirúrgico, correspondente ao período do transoperatório, é denominado de admissão no centro cirúrgico. É ro na de um centro cirúrgico, a elaboração diária de um mapa cirúrgico realizado pelo enfermeiro líder ou coordenador para organizar a demanda cirúrgica solicitada pelos médicos cirurgiões. Esse mapa deve conter o nome do paciente, dia, hora e o nome da cirurgia, equipamentos e instrumentais cirúrgicos, solicitação ou não de bolsa de componentes de hemoderivados, reserva no setor de unidade de terapia intensiva, preferência de sala operatória, de acordo com o porte e a demanda cirúrgica e o possível grau de contaminação da cirurgia (CARVALHO, 2016). A admissão do paciente no CC tem por obje vo prestar uma assistência humanizada mul profissional para reduzir, ao máximo possível, os riscos internos de desenvolver infecção hospitalar no ato anestésico-cirúrgico. Para isso, é preciso minimizar o grau de ansiedade do paciente para que ocorra uma melhor recuperação da disfunção orgânica. É importante recordar que cada ser humano que se submete a uma intervenção cirúrgica é único. Por isso, a necessidade de um planejamento diferenciado um do outro para melhor segurança de todos (KINGDON; NEWNAN, 2016). De acordo com estudo de SOBECC (2017), existe uma organização no ato da admissão do paciente no CC e, preferencialmente, deve ser realizado pela equipe de enfermagem, que recepciona o paciente com princípios é cos legais, iden ficando-o e se iden ficando. É indicado observar, detalhadamente, no prontuário documentos importantes como exames, registros e protocolos, CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 40 de 64 anotando no prontuário o horário, condições e aspectos clínicos do paciente, registrar e confirmar a realização dos cuidados e procedimentos pré-operatórios tais como: jejum, tricotomia, administração medicamentosa de pré-anestésicos, re rada e armazenamento adequado de próteses, adornos, entre outros objetos, registrar e comunicar à equipe médica se tem alergia medicamentosa ou cirurgias prévias. Todas as informações precisam ser registradas, garan ndo e camente o sigiloso das informações, com a finalidade de garan r seguramente o andamento das cirurgias. Todas as informações e etapas cirúrgicas têm como meta a segurança dos pacientes internados que serão subme dos à intervenção cirúrgica, visando minimizar as intercorrências, eventos adversos e a mortalidade. 2 COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS E CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIO Complicação cirúrgica pode ser definida como uma intercorrência ou evento inesperado em um procedimento ou intervenção médico cirúrgico, que não poderia ser, em geral, previsto pela equipe profissional médica. Normalmente, essas intercorrências ocorram após o ato cirúrgico em um período chamado de PO (pós-operatório). 2.1 PÓS-OPERATÓRIO O período do PO se inicia no momento da admissão na SRPA e estende-se até o período após a alta do paciente do ambiente hospitalar. Esse período cirúrgico pode ser divido em três momentos: POI (período pós-operatório) : Período operatório que tem início nas primeiras 24 horas após o ato cirúrgico. Pode ser considerado um período complexo e crí co, em que se deve ter muita atenção da equipe médica de anestesiologista e por parte da equipe de enfermagem. POM (pós-operatório mediato) : Período operatório que tem início após as primeiras 24 horas da cirurgia até o sé mo dia que o paciente se encontra internado, seguido de alta hospitalar. POT (pós-operatório tardio) : Período operatório que tem início após os primeiros sete dias e pode durar até a úl ma avaliação médica. Geralmente, ocorre em ambiente domés co. Durante o POI, a equipe médica e de enfermagem precisa avaliar clinicamente e orientar o paciente quanto à homeostase dos diversos tecidos e órgãos do corpo, desconforto, dor e seu alívio, promoção e prevenção de complicações pós-operatórias, plano de cuidados adequados e sua alta hospitalar. A unidade ou setor de pós-operatório atende aos pacientes oriundos CC e SRPA e que foram subme dos a diversas categorias de cirurgias, de acordo com a necessidade e urgência. Essas categorias podem incluir as cirurgias de reparação de hemorragias, cálculos renais, catarata, hérnias simples e cirurgias plás cas, bem como cirurgias para alívio ou correção orgânica e até para diagnós co de doenças (SMELTZER; BARE, 2005). CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 41 de 64 Categoria das cirurgias Reconstrutiva Cirurgia para reconstrução ou estética Paliativa Cirurgia para corrigir ou aliviar desconforto Reabilitação Recuperar parte orgânica Emergência Cirurgia imediata; requer atenção Urgência Cirurgia mediata; pode esperar de 24 a 30 horas Eletiva Paciente precisa ser operado; não é algo imediato Opcional Paciente tem o poder de decisão Tabela 1 - Cirurgias são categorizadas Fonte: SMELTZER; BARE, 2005 (Adaptado). #PraCegoVer: Nas imagens observamos uma tabela com esquema organizacional e didá co das categorias das cirurgias. Iniciando com cirurgia de reconstrução (finalidade de reconstruir parte do corpo), cirurgia palia va (finalidade de aliviar ou reparar parte do corpo), cirurgia de reabilitação (finalidade de recuperar parte do corpo), cirurgia de emergência (finalidade de ato cirúrgico imediato), cirurgia de urgência (finalidade de ato cirúrgico mediato), cirurgia ele va (cirurgia de ro na) e cirurgia opcional (cirurgia por opção do paciente). O PO pode receber pacientes portadores de doenças crônicas, com distúrbios orgânicos, podendo apresentar intervenções clínicas importantes no período do POI. Nas cirurgias classificadas como ele vas, que são aquelas que o paciente precisa ser operado, mas que não corre o risco imediato de evoluir para morte, estas disfunções, geralmente, são tratadas antes do ato cirúrgico. Entretanto, nas cirurgias emergenciais e de urgência tais alterações nem sempre são tratadas antes do ato cirúrgico, no período do pré-operatório. Pacientes que, após o ato anestésico-cirúrgico, evoluírem com asfunções orgânicas e sinais vitais estabilizados da SRPA, serão transferidos para o leito de uma enfermaria, do pós-operatório, para completar a sua recuperação sistêmica. Aqueles que evoluírem com disfunções ou instabilidade na SRPA deverão ser transferidos, imediatamente, para a sala operatória ou unidade de terapia intensiva para cuidados intensos e con nuos (MALAGUTTI; BONFIM, 2009). A SAEP, no POI, é direcionada para as intervenções voltadas à prevenção ou assistência imediata para as complicações cirúrgicas. Atuar com as prevenções imediatas das complicações, no pós- operatório, promove rápida estabilização do quadro clínico do paciente, economizando tempo, reduzindo gastos desnecessários e preocupações mul profissionais, e diminuindo ou eliminando a dor; aumentando a sobrevida do paciente. Após a avaliação clínica e sistêmica realizada pelo enfermeiro dos controles orgânicos gerais, levando em consideração os antecedentes clínicos, a fisiopatologia da doença e as intercorrências do ato anestésico-cirúrgico, é possível planejar, elaborar e aplicar um plano de cuidados individualizado, baseado no PE (SMELTZER; BARE, 2005). O profissional enfermeiro precisa ter habilidade em compreender que a cirurgia pode alterar o equilíbrio da homeostase orgânica, ocasionando distúrbios hidroeletrolí cos com sinais vitais alterados, independentemente do tempo cirúrgico. Os riscos imediatos dos distúrbios pós- operatórios estão presentes em todos os momentos da menor ou maior intervenção cirúrgica. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 42 de 64 2.2 VISÃO GERAL DOS CUIDADOS ORGÂNICOS NO POI Carvalho (2016) afirma, em seus estudos, que o obje vo principal da SAEP na SRPA é observar, cuidar e tratar do paciente para que ele se recupere dos efeitos terapêu cos dos anestésicos até que as funções orgânicas gerais sejam restabelecidas. Para tal, é primordial uma avaliação imediata que possa consis r na observação dos sistemas e cuidados orgânicos. O enfermeiro observa, inicialmente, de forma integral. Sistema respiratório humano : É preciso observar, cuidadosamente, quanto à permeabilidade e abertura das vias aéreas, ven lação, frequência, amplitude e ruídos pulmonares. Averiguar desconforto respiratório comunicado pelo paciente ou observando ragem intercostal, ba mentos de asa de nariz e uso da musculatura acessória. Nesse sistema, faz-se necessário um exame sico, percussão e ausculta, direcionado para os principais achados respiratórios que possam detectar complicações respiratórias o mais precocemente possível. Sistema cardiovascular humano : É preciso observar cuidadosamente os achados cardiovasculares, levando em consideração a monitorização do paciente em relação às sintomatologias de choque e hemorragia. Nesse sistema, faz-se necessário avaliar os sinais vitais, coloração cutânea e mucosas, grau de umidade, perfusão capilar, verificação dos gases sanguíneos e exame sico direcionado, com realização da ausculta e percussão cardíaca. Sistema neurológico humano : É preciso observar e anotar os parâmetros relacionados ao nível de consciência, resposta e es mulos verbais e/ou a dor, foto reação pupilar, motricidade e mobilidade dos membros, superiores e inferiores, e da musculatura da face e efeitos do anestésico. Sistema imunológico : É preciso observar os sinais de desenvolvimento de um processo infeccioso. A infecção é considerada umas das piores complicações decorrentes do ato anestésico-cirúrgico. O paciente no POI encontra-se debilitado, devido à agressão traumá ca do procedimento cirúrgico, e pode desenvolver risco elevado de ser invadido por agentes microscópicos através dos procedimentos invasivos, por mo vo do trauma tecidual. O procedimento cirúrgico, além de romper a barreira do tecido tegumentar, impede a distribuição de eletrólitos e água na quan dade necessária para o organismo, desencadeando, desta forma, uma série de reações sistêmicas orgânicas, que facilitam a ocorrência de um processo infeccioso. Sistema excretor ou renal humano : É preciso observar e anotar as alterações da fisiologia renal e do equilíbrio hidroeletrolí co. É comum, nesse período pós-cirúrgico, a es mulação do aumento da secreção de hormônio an diuré co e da aldosterona, aumentando a retenção hídrica. O volume urinário diminui, independentemente da ingestão de líquidos. Es ma-se que o paciente em pós-operatório, com função renal normal, apresente um débito ou eliminação urinária em média de 50 a 60 ml por hora. Acesso venoso : É preciso um acesso venoso em vasos calibrosos para a infusão dos medicamentos administrados ao paciente. Preferencialmente, que a infusão seja endovenosa ou por acesso central. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 43 de 64 Drenos : É preciso observar e anotar o volume e o aspecto das substâncias que serão drenadas por tubos inseridos na região gástrica, torácica e na região do medias no. Ferida cirúrgica : É preciso observar, tratar e anotar os aspectos encontrados nas lesões cirúrgicas. A manutenção de uma técnica assép ca, durante o transoperatório e no período pós-operatório, é o mais importante na promoção da cicatrização saudável do ferimento. Geralmente, os principais fatores que interferem na cicatrização são o local ou região da incisão, po de sutura cirúrgica, estado nutricional, presença de doença de base, processos infeciosos, drenos e po de cobertura ou cura vo. Posicionamento no leito : É preciso observar e avaliar, de acordo com o po de cirurgia e recomendação médica, o melhor posicionamento do paciente para favorecer a sua troca gasosa e recuperação da intervenção cirúrgica. As posições são inúmeras, obje vando o conforto e a minimização da dor. Dor : É preciso observar e analisar a resposta do paciente à sensação da dor. Porém, é considerado um processo subje vo. Essa análise é realizada por diferentes escalas numéricas, com score de 0 a 10, chamada de escala EVA. O enfermeiro ou médico indaga ao paciente a respeito da localização, intensidade e qualidade da dor, iniciando promoção do conforto como mudança do posicionamento e massagem com fim terapêu co para alívio da sensação dolorosa. A necessidade de controle da dor fazendo uso de analgésicos deve ser prescrito pelo médico. A dor é um sinal vital que precisa ser controlado imediatamente. Não se pode esquecer que as complicações no POI, ainda que tenham apresentado diminuição dos números de ocorrências atualmente, são consideradas intervenções preocupantes para os médicos anestesiologistas e cirurgiões, e podem acarretar inúmeras disfunções orgânicas ao paciente, inclusive incapacidade e morte (SMELTZER; BARE, 2005). A sistema zação da assistência de enfermagem na CC, no período do pós-operatório imediato, é de fundamental importância para entender o contexto do atendimento de enfermagem e da equipe mul profissional ao paciente crí co ou mesmo estabilizado. Planejar uma SAEP, baseada em evidências e achados cien ficos, é de extrema importância para a promoção do conforto e do bem- estar do paciente. O enfermeiro deve ter conhecimento amplo de anatomia e de fisiologia para entender as alterações orgânicas induzidas pelo ato anestésico-cirúrgico, para perceber precocemente as disfunções que possam comprometer a vida do paciente. 3 FERIDAS CIRÚRGICAS: CARACTERÍSTICAS GERAIS Durante décadas, o homem tentou intervir no processo de cicatrização das lesões do tecido tegumentar, de forma acidental ou provocada, como parte da realização de procedimentos demonstrando que, desde então, já se sabia da necessidade de protegê-lo de forma a evitar que se complique e repercuta em danos locais ou gerais para o organismo humano. Podemos dizer que ferida é qualquer situação que possa lesionar e prejudicar a integridade cutânea, seja por acidentes, traumas, doenças ou cirurgias. Essas lesões costumam ser de fácil e rápida cicatrização, mas outras ainda podem necessitar de tratamentos mais complexos. Os adultos são reves dosaproximadamente por 2m² de tecido tegumentar ou pele com 2mm em média de espessura. Assim, a pele é o maior órgão do corpo humano, representando CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 44 de 64 aproximadamente 15% do peso corporal. Além disso, é uma estrutura do nosso corpo que exerce funções de proteção, percepção, termorregulação, comunicação com os ambientes externo e interno, absorção, excreção e síntese de vitamina D. Derme, epiderme e a hipoderme são as três camadas que cons tuem o tecido tegumentar humano ou pele. Quadro 3 - Funções da pele Fonte: CAMPOS et al, 2016 (Adaptado). #PraCegoVer: A imagem mostra um quadro com esquema organizacional e didá co das funções da pele de proteção (protege o organismo), de percepção (possui terminações nervosas), de termorregulação (conserva o calor do corpo humano), de comunicação (comunica o meio interno com o externo ou vice-versa), absorção (abarca substâncias) e síntese de vitamina D (produz vitamina D para proteger a pele por reação fotoquímica). A FC (ferida cirúrgica) é uma lesão traumá ca intencional, resultante de um corte ou incisão no tecido tegumentar produzido por instrumental cirúrgico, formando uma abertura em uma região do corpo, realizando-se, por conseguinte, a aproximação das bordas cutâneas, por meio de um procedimento chamado de sutura. Todo procedimento cirúrgico gera transtornos aos tecidos e sistemas orgânicos. Dentre os possíveis transtornos, podemos destacar: as lesões ssulares por perda da integridade do tecido cutâneo e tecidos subcutâneos, as perdas sanguíneas ou pequenas hemorragias, aumento da permeabilidade vascular, inchaço (edemas) e acúmulo de líquido linfá co no tecido gorduroso (linfedemas), alterações no sistema endócrino, alterações no metabolismo e funções hemodinâmicas, ocasionando, dessa forma, um aumento do consumo de oxigênio. Esses processos desenvolvem um risco potencial de processos infecciosos, comprometendo todo o organismo (CAMPOS et al, 2016). Podemos dizer que a FC se recupera bem rápido, por ser um trauma provocado por um cirurgião, em ambiente e procedimentos assép cos, em tempo adequado e esperado, quando não apresenta complicações, principalmente, por agentes microscópicos patogênicos. Porém, o estado nutricional, as doenças agudas ou crônicas, a terapia medicamentosa, a faixa etária, a hipera vidade do paciente, fatores psicossociais, a perfusão de oxigênio, as condições imunológicas e os tratamentos tópicos podem influenciar na reparação ou regeneração do tecido cutâneo. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 45 de 64 3.1 FERIDAS CIRÚRGICAS: FASES DA CICATRIZAÇÃO É importante dizer que o processo de reparação do tecido ssular envolve a regeneração de células de qualquer ferida, e iden ficam-se três fases consecu vas, que são controladas por fatores de crescimento e pela percepção do sistema nervoso do indivíduo. Essas fases têm o obje vo de reestruturar o tecido tegumentar comprome do (CAMPOS et al, 2016). Fase 1 : A primeira fase da reparação ou cicatrização é chamada de inflamatória ou exsuda va, e tem início após o trauma. Manifesta-se com inchaço (edema), dor ao toque, vermelhidão e sensação de calor. É comum a produção de secreção e a vação do processo de coagulação sanguínea, seguido de mediadores químicos para iniciar o processo de restruturação do tecido tegumentar. É um momento de defesa da ferida contra os microrganismos, e pode durar de 1 a 4 dias. Fase 2 : A segunda fase da reparação ou cicatrização é chamada de prolifera va ou fibroblás ca ou granulação e tem início após a primeira fase. Manifesta-se com a regeneração do tecido lesionado, formação do tecido de granulação, processo de reepitelização, deposição de colágeno e elas na. Podemos dizer que é o momento da regeneração da pele e pode durar em média de 12 a 14 dias. Fase 3 : Na terceira fase da reparação ou cicatrização é chamada de maturação ou remodelagem e tem início após a segunda fase, podendo durar, em média, semanas, meses ou anos, dependendo dos fatores múl plos que podem interferir no crescimento e reparação das células tegumentares. É uma fase que se caracteriza por reorganização das diversas estruturas orgânicas que foram lesionadas ou destruídas na primeira fase da cicatrização. 3.2 FERIDAS CIRÚRGICAS: TIPOS DE CICATRIZAÇÃO Observamos que o processo de cicatrização da ferida é dividido de forma didá ca em três fases, com critérios e caracterís cas especificas para cada momento da reparação ssular. Podemos classificar as aproximações das bordas da ferida em diferentes pos de cicatrização, como veremos a seguir. Tipo 1 : Cicatrização por primeira intenção ou primária: aproximação das bordas realizadas pelos cirurgiões por suturas manuais. Incisão limpa, com pouca perda de tecido tegumentar e pouco ou nenhuma secreção ou exsudato e formação de cicatriz mínima. Pode ser comprome da por fatores infecciosos. Tipo 2 : Cicatrização por segunda intenção ou secundária: incisão potencialmente contaminada, aberta, com perda ssular significa va e processo inflamatório evidente. Formação de tecido de granulação gradual com epitelização aparente nas bordas da ferida. Existe um aumento potencial para o desenvolvimento de infecção. Tipo 3 : Cicatrização por terceira intenção ou terciária: incisão man da aberta, enquanto es ver com fatores predisponentes para complicação do processo de cicatrizar. Possível formação de edema, processo infeccioso e com presença de substâncias exsuda vas, podendo cicatrizar por terceira ou primeira intenção tardia. Tipo especial : Cicatrização por coberturas biológicas: o processo de reparação ou cicatrização, geralmente, está associado por aplicação de pedaços de tecido tegumentar ou pele na região CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 46 de 64 superficial da lesão, ou fazendo uso de técnicas de enxertos de pele para facilitar o processo celular de reparação. Assim, no processo de reparação ssular, encontramos elementos orgânicos fundamentais para esse processo metabólico da ferida. É comum acharmos as células chamadas de plaquetas, neutrófilos, monócitos, macrófagos, quera nócitos, fibroblastos e células que formam os tegumentos dos vasos (endoteliais). Além das células, é comum a presença de mediadores químicos como a citocina, que ajuda na regulação da resposta inflamatória e imunológica, bem como a formação de uma matriz extra celular, cuja a função é de suporte estrutural e bioquímico para a célula (LIMA; BORGES; SILVA, 2008). Existem condições que podem afetar o processo de cicatrização da ferida como o processo de infecção, profundidade, inchaço, contaminação e presença de exsudato, processo traumá co, pouca umidade no interior da ferida, substâncias estranhas, hematoma e morte tecidual (necrose). Geralmente, essas condições são localizadas na região do ferimento. As condições chamadas de sistêmicas, estão relacionadas, diretamente, aos fatores biopsicossociais do paciente como idade, faixa etária, nutrição, doenças crônicas, uso de fármacos sistêmicos e algum tratamento tópico na região da ferida, que seja inadequado como a u lização e manejo de substâncias químicas an ssép cas com ação citolí ca, ocasionando citotoxicidade, patologia ou morte celular, afetando a cicatrização (LIMA; BORGES; SILVA, 2008). O tratamento para o processo de cicatrização das feridas cirúrgica ou operatória ocorre com a regeneração ou recons tuição do tecido tegumentar lesionado. Porém, ao longo desse processo, podem surgir inúmeras complicações como hemorragias internas ou externas, de pequenos ou grandes vasos, bem como separação das bordas da pele (deiscência), que geralmente acontece entre o terceiro e o décimo primeiro dia, evisceração, infecção e fistulas, dificultando o contato com as bordas da ferida e, por sua vez, o processo de cicatrização. 3.3 FERIDAS CIRÚRGICAS: COMPROMETIMENTO TECIDUAL As lesões das estruturas e das funções da pele é considerada uma ferida, como já foi discu do dida camentenesta unidade de ensino. Essas rupturas ou lesões podem ser classificadas em: superficiais (epiderme e derme); profundas (epiderme, derme, vasos sanguíneos, estruturas musculares, aponeuroses, tendões e sistema esquelé co); ou imensuráveis. Para complementar os estudos das feridas cirúrgicas, o COFEN (conselho federal de enfermagem), através da Resolução n. 501, de 17 de dezembro de 2015, destaca no art. 1º e item 6, a classificação das feridas, de acordo com o comprome mento tecidual. Confirma a seguir. Estágio I - caracteriza-se pelo comprome mento da epiderme apenas, com formação de eritema em pele íntegra e sem perda tecidual. Estágio II - caracteriza-se por abrasão ou úlcera, ocorre perda tecidual e comprome mento da epiderme, derme ou ambas. Estágio III - caracteriza-se por presença de úlcera profunda, com comprome mento total da pele e necrose de tecido subcutâneo, entretanto a lesão não se estende até a fáscia muscular. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 47 de 64 Estágio IV - caracteriza-se por extensa destruição de tecido, chegando a ocorrer lesão óssea ou muscular ou necrose ssular (COFEN, 2015). Nessa etapa de classificação e avaliação de uma ferida cirúrgica, o profissional enfermeiro estabelece critérios de prioridades, levando em consideração o comprome mento da descon nuidade da pele. Entender as caracterís cas do tecido tegumentar, epiderme, derme, hipoderme, tecidos adjacentes (músculos e ossos) e as estruturas celulares e bioquímica presentes nessas regiões da pele facilita o critério do planejamento da sistema zação da assistência de enfermagem para uma cicatrização eficiente, rápida e com redução ou eliminação dos processos infecciosos. 4 DESBRIDAMENTO DA FERIDA CIRÚRGICA A palavra desbridar significa remover ou re rar. A prá ca de limpeza, remoção ou re rada de tecidos desvitalizado do leito da ferida para que possa ocorrer uma preparação para o processo de cicatrização é chamado de desbridamento ou debridamento. 4.1 CONCEITOS Observe abaixo, conceitos e algumas recomendações re rados, na integra, da Resolução n. 567, de 29 de janeiro de 2018, do COFEN, que diz: Desbridamento autolí co : Processo sele vo de remoção da necrose (preserva o tecido vivo) pela ação dos neutrófilos, eosinófilos e basófilos; e das enzimas diges vas do próprio organismo do paciente. É promovido pelo uso de produtos que garantam a umidade adequada na ferida. Desbridamento instrumental conservador : Pode ser realizado à beira do leito ou ambulatorial, em lesões cuja área de necrose não seja muito extensa. Nestes casos, a analgesia local geralmente não é necessária visto que o tecido necró co é desprovido de sensação dolorosa. Nos casos de lesões extensas ou úlceras em estágio IV, o paciente deverá ser encaminhado ao centro cirúrgico. Desbridamento mecânico : Consiste na aplicação de força mecânica diretamente sobre o tecido necró co a fim de facilitar sua remoção, promovendo um meio ideal para a ação de cobertura primarias. Pode ser fricção, irrigação com jato de solução salina à 0,9%, irrigação pulsá l, hidroterapia, cura vo úmido-seco, enzimá co e autólise. Desbridamento químico : Processo sele vo de remoção da necrose (preserva o tecido vivo) por ação enzimá ca. Por ser uma técnica invasiva, assép ca, limpa, deve ser realizada por médicos e enfermeiros habilitados, em ambiente hospitalar. O processo de analgesia se faz necessário para a realização do procedimento, bem como monitoração dos sinais vitais e linguagem corporal. É importante o planejamento da sistema zação da assistência de enfermagem para prever complicações e cuidados gerais para com o paciente. 4.2 LIMPEZA DA FERIDA A ferida cirúrgica é considerada um trauma intencional, invasivo, geralmente, planejada, limpa e que cicatriza por primeira intenção, dentro de um prazo preestabelecido. Contudo, quando se CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 48 de 64 evidenciam fatores ou estruturas celulares ou bioquímicas estranhas ao seu desenvolvimento normal, pode infeccionar, e acometer o estado geral do paciente, surgindo, desta forma, complicações orgânicas, regionais ou sistêmicas e, por esse mo vo, merece cuidados e assistência específicos. Essa assistência, primária, pode ser considerada uma limpeza no leito da ferida para re rada de sujidade, exsudato contaminado, estruturas celulares e secreções orgânicas (MARTINS et al, 2015). O enfermeiro e a sua equipe, devem avaliar a FC e estabelecer critérios, seguir protocolos ins tucionais ou do Ministério da Saúde quanto às técnicas limpas, que são consideradas procedimentos assép cos, com eliminação total ou parcial dos microrganismos e diminuição de fluidos orgânicos potencialmente contaminados. Já as técnicas estéreis têm por obje vo eliminar totalmente as cargas microbianas do leito da ferida, exigindo, desta forma, que seja realizada no ambiente ou unidade hospitalar. É importante dizer que a técnica limpa pode ser um procedimento realizado no ambiente domés co, desde que, o paciente e a família sejam orientados corretamente por um profissional da equipe de enfermagem (MARTINS et al, 2015). 5 CURATIVO DE FERIDAS CIRÚRGICAS Para promover uma cicatrização rápida, eficiente e resolu va, o enfermeiro precisa, através de procedimentos clínicos, prevenir a ocorrência de fatores infecciosos. Essa prevenção resulta em um excelente tratamento de recuperação dos tecidos lesionados, e pode ser chamada de cura vo. Tipos de curativos Curativo semi-oclusivo Considerado absorvente, utilizado em feridas exsudativas e cirúrgicas Serve de barreira e veda a ferida contra sujidade e microrganismo Curativo oclusivo Utilizado para reduzir sangramentos e aproxima as bordas da ferida Usado para feridas limpas e cirúrgicas Curativo compressivo Considerado absorvente, utilizado em feridas exsudativas e cirúrgicas Serve de barreira e veda a ferida contra sujidade e microrganismo Curativo aberto Utilizado para reduzir sangramentos e aproxima as bordas da ferida Usado para feridas limpas e cirúrgicas Quadro 4 - Tipos de cura vos Fonte: MARTINS, et al., 2015 (Adaptado). #PraCegoVer: A imagem mostra um quadro com um esquema organizacional e didá co dos pos de cura vos. Cura vo semi-oclusivo (considerado absorvente, u lizado em feridas exsuda vas e cirúrgicas), cura vo oclusivo (serve de barreira e veda a ferida contra sujidade e microrganismo), cura vo compressivo (u lizado para reduzir sangramento e aproxima as bordas da ferida) e cura vo aberto (utsado para feridas limpas e cirúrgicas). Assista aí Como você pode observar, existem vários pos de cura vos. Porém todos possuem uma finalidade: limpar o leito da ferida para a aplicação de uma cobertura com caracterís cas estéreis para acelerar o processo cicatricial da ferida. FIQUE DE OLHO CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 49 de 64 O profissional enfermeiro deve avaliar detalhadamente a ferida cirúrgica e estabelecer critérios clínicos para a recuperação do paciente que se submeteu ao ato anestésico-cirúrgico. É importante seguir protocolos cien ficos hospitalares ou do Ministério da Saúde. Enfim, o enfermeiro, da clínica cirúrgica e do centro cirúrgico, juntamente com a sua equipe de enfermagem, avalia o po de incisão cirúrgica, considerando a localização e o tamanho do ferimento. Logo em seguida, planeja os cuidados do tratamento da FC e o po de cura vo que melhor se adapta a lesão, contribuindo dessa forma, para a promoção e recuperação da saúde do paciente. Assista aí É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: conhecer noções e conceitos relacionados aos critérios de admissão do paciente no ambiente da clínica cirúrgica e centro cirúrgico; aprender as complicações cirúrgicas e cuidados pós-operatórios; compreender os cuidados gerais do pós-operatório imediato; estudar e caracterizar a ferida cirúrgica; compreender o processo de perda tecidual, limpeza e cura vo da ferida cirúrgica;REFERÊNCIAS CAMPOS, M. G. C. A. et al. Feridas Complexas e estomias: aspectos preven vos e manejo clínico. João Pessoa: Ideia, 2016. CARVALHO, R.; BIANCHI, E. R. F. Enfermagem em centro cirúrgico e recuperação. Barueri: Manole, 2016. COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução n. 567, de 29 de janeiro de 2018. Regulamenta a competência da equipe de enfermagem no cuidado às feridas e dá outras providências. COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução n. 358/2009. Dispõe sobre a Sistema zação da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e dá outras providências. COFEN. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COFEN n. 242, de 31 de agosto de 2000. Dispõe sobre a Sistema zação da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, de 23 de abril de 2012. Disponível: h p://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-2422000-revogada-pela-resoluo-cofen-n-4212012_4282.html. Acesso em: 28 abr. 2020. KINGDON, B., NEWNAN, K. - Determining Pa ent Discharge Criteria in an Outpa ent Surgery Se ng. AORN Journal, v.83, n. 4, 898-904, 2006. LAUTERT, L.; ZINI, L. W.; GLANZNER, C. H. Programa de atendimento de enfermagem na admissão e alta hospitalar. Rev Gaúcha Enferm. Porto Alegre, v. 27, n. 1, 92-99, mar, 2006. LIMA, M. P.; BORGES, E. L.; SILVA, P. S. Fatores de risco para complicações das feridas cirúrgicas abdominais: uma revisão sistemá ca da literatura. Rev. Min. Enferm. Minas Gerais, v. 12, n. 4, 539-546, out/dez, 2008. MALAGUTTI, W.; BONFIM, I. M. Enfermagem no centro cirúrgico: atualidades e perspec vas no ambiente cirúrgico. São Paulo: Mar nari, 2009. MARTINS T. et al. Pré-operatório de cirurgias potencialmente contaminadas: fatores de risco para infecção do sí o cirúrgico. Acta Paul. Enferm. São Paulo, v. 28 n. 4, jul/ago. 2015. SMELTZER, S. C; BARE, B. G. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. v. 1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. SOBECC. Diretrizes de prá cas em enfermagem cirúrgica e processamento de produtos para a saúde. 7. ed. São Paulo: Manole, 2017 CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 50 de 64 UNIDADE 4 CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO: ESTRUTURA FLUXO E MÉTODOS CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 51 de 64 INTRODUÇÃO Você está na unidade Central de material e esterilização: estrutura fluxo e métodos. Conheça aqui conceitos importantes de uma CME (central de material e esterilização) e a sua importância para os ambientes hospitalares. Entenda que existem etapas a serem seguidas do fluxo de trabalho e monitoramentos dos materiais médico-hospitalares em uma CME, bem como o dimensionamento de pessoas da enfermagem, estrutura da área sica e os métodos de limpeza, desinfecção e esterilização que ocorrem internamente em uma central de material e esterilização. Aprenda, ainda, técnicas que são fundamentadas em evidências cien ficas relacionadas com a equipe de enfermagem para a validação dos processos de eliminações parcial ou total de microrganismos dos materiais cirúrgicos que chegam até a central de material e esterilização. Bons estudos! 1 NOÇÕES PRELIMINARES Apresentaremos aqui conceitos importantes e primordiais para o entendimento da dinâmica de pessoas, das a vidades desenvolvidas na CME (Figura 1) e da estrutura que compõe uma central de material de processamento e reprocessamento de PPS (produtos para a saúde), antes chamados de ar gos médico-hospitalares, bem como o fluxo e as etapas de recepção, expurgo, limpeza, preparo, esterilização, armazenamento e distribuição dos produtos para a saúde e instrumentais cirúrgicos até a liberação deles, conforme a necessidade dos procedimentos para os diversos setores ou unidades hospitalares. É de extrema importância o conhecimento do enfermeiro, profissional responsável pelo gerenciamento e assistência da CME, e da sua equipe em relação aos métodos e processos de limpeza, desinfecção e esterilização dos ar gos hospitalares. O entendimento desta disciplina se faz necessário diante do cenário globalizado e com novas tecnologias em saúde, pois o enfermeiro presta assistência indireta na central de material e esterilização, mas, ao mesmo tempo, o seu conhecimento deve ser obrigatoriamente baseado em evidências cien ficas, levando em consideração a redução das infecções hospitalares e quais os melhores métodos de desa vação das funções microbiológicas. Cabe lembrar que, o enfermeiro e a sua equipe de enfermagem são peça fundamentais para trabalhar com orientação, promoção e prevenção das infecções hospitalares, e contribuir para aumentar a eficácia dos métodos de processamentos dos PPS para uma melhor segurança do paciente e da equipe mul profissional. Essas ações, diante do cenário global atual, tornam-se cada vez mais complexas, pois, o enfermeiro precisa diariamente se qualificar para entender o universo dos microrganismos, fontes de contaminações e métodos empregados para eliminações dessas contaminações nos PPS. Assista aí 1.1 NOÇÕES GERAIS DA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO Quando se pensa no ambiente hospitalar, certamente, não recordamos ou lembramos, que existe uma unidade funcional, a va, formada exclusivamente pelos profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos em enfermagem), que atuam em uma função des nada ao fluxo correto do processamento e reprocessamento de produtos para a saúde em serviços de saúde. Este ambiente (ou unidade) é chamado de CME. Veja a figura abaixo. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 52 de 64 Quadro 1 - Central de esterelização Fonte: OURIQUES; MACHADO, 2006 (Adaptado). #PraCegoVer: A imagem mostra um organograma da organização da central de material e esterilização, composta pelo enfermeiro (coordenador e assistente), equipe de enfermagem (auxiliares ou técnicos em enfermagem), que possuem as funções ou atribuições de processarem os produtos de saúde em um fluxo correto - desde o recebimento até a distribuição dos PPS para os setores hospitalares. Esse setor tem por obje vo principal, no âmbito hospitalar, preservar pela prevenção das infecções, e as prá cas adequadas dos métodos e processamentos seguros dos PPS, zelando, desta forma, pela segurança do paciente. Percebe-se a importância da CME no controle das infecções, devido à contaminação ocorrer no sí o cirúrgico e, por falta de atenção adequada, no processamento dos PPS, transmi ndo, dessa forma, a contaminação. Assim, o PPS passa a ser uma fonte de infecção. 1.2 CONTAMINAÇÃO E INFECÇÃO Quando entendemos que a introdução de qualquer substância nociva que possa desenvolver patologia ou doenças em meio terrestre, aéreo, aquá co, ou ainda, no ambiente hospitalar, estamos nos referido à contaminação. Ela pode ocorrer de diversos pos como: contaminação química (ocasionada por substâncias químicas); contaminação sica (ocasionada por fatores sicos do ambiente); e contaminação biológica (ocasionada por fungos, bactérias, vírus, helmintos, parasitas e por substâncias orgânicas como sague, saliva, secreções). Sabendo o conceito de contaminação, vamos entender o que é uma infecção. De forma geral, podemos dizer que, para se ter um processo infeccioso, é necessário e primordial que tenha uma forma de vida microscópica ou agentes agressores (bactérias, fungos, vírus, helmintos). Além disso, é preciso que essas formas de vida penetrem no organismo de um outro ser vivo (hospedeiro), ou CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 53 de 64 fiquem se desenvolvendo e se mul plicando na super cie de materiais, como, por exemplo, os instrumentais cirúrgicos ou nos PPS. Para reduzir os níveis de contaminações e infecções devemos usar os equipamentos de proteção individual e fazer uso de toda biossegurança para evitar uma transferência deformas de vida microscópicas de uma pessoa para outra (ou objeto) para uma outra pessoa. Dessa forma, estaremos minimizando as contaminações e infecções cruzadas. Além da CME, no âmbito hospitalar, a CCIH (comissão de controle de infecção hospitalar) define regras e normas para controlar, minimizar, avaliar e mensurar os índices de infecções, e trabalha em conjunto, com a CME, na elaboração de protocolos de medidas para prevenir os processos infecciosos dentro de uma ins tuição de saúde. Diferente da CME, a equipe técnica, é formada por diversos profissionais da área da saúde e técnicos administra vos. De acordo com as resoluções dos órgãos competentes, a CME deve ser formada por uma área de lavagem e descontaminação, uma área de preparo dos materiais, área de esterilização, área de armazenamento e distribuição dos PPS, conforme determinado na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) - n. 50/2002. Já a RDC n. 15/2012 determina as boas prá cas para o processamento de produtos para a saúde, e classifica a CME em classe I e classe II, levando em consideração a PCNC (Conformação Não Complexa) e a PCC (Conformação Complexa) que, seriam produtos passiveis de métodos de processamentos e reprocessamentos. Quadro 2 - Estrutura sica da central de material e esterilização Fonte: Elaborado pelo autor (2020). #PraCegoVer: A imagem mostra um esquema didá co da estrutura sica da central de material e esterilização e a sua classificação em CME do po I (aquela com barreira técnica entre as áreas para processamento e reprocessamentos dos PPS) e a CME do po II (aquela com barreira sica entre as áreas de processamento e reprocessamento dos PPS). Em CME, as barreiras sicas são diferentes das barreiras técnicas. Barreiras sicas : Dizem respeito a estruturas naturais ou estruturais, que impedem a passagem ou acesso de um profissional para uma área não autorizada. Barreiras técnicas : São normas, protocolos, regulamentos técnicos embasados em regras internacionais para se evitar processos de contaminações. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 54 de 64 Para fundamentar o esquema acima será apresentado na íntegra o ar go 5º da RDC n. 15/2012 na parte que trata especificamente sobre as boas prá cas para o processamento de produtos para a saúde e das condições organizacionais. Veja abaixo. Art. 5º Para cumprimento desta resolução os CME passam a ser classificados em CME Classe I e CME Classe II. § 1º O CME Classe I é aquele que realiza o processamento de produtos para a saúde não- crí cos, semicrí cos e crí cos de conformação não complexa, passíveis de processamento. § 2º O CME Classe II é aquele que realiza o processamento de produtos para a saúde não- crí cos, semicrí cos e crí cos de conformação complexa e não complexa, passíveis de processamento. § 3º O CME só pode processar produtos compa veis com a sua capacidade técnica operacional e conforme a sua classificação. § 4º Quando não especificada a classificação, as determinações desta resolução se aplicam aos dois pos de CME e às empresas processadoras (Anvisa, 2012, on-line). Os PPS que possuem lúmen inferior a 5mm e/ou fundo cegos, espaços internos inacessíveis para limpeza, po fricção direta, reentrâncias ou válvulas serão classificados como PCC; já os PPS cujas super cies internas e externas podem ser a ngidas pela limpeza, po escovação, e que tenham diâmetros superior a 5mm nas suas estruturas, serão classificados como PCNC. Em um ambiente hospitalar, unidade de saúde ou em qualquer ins tuição que preste assistência de saúde, temos áreas ou setores que são mais expostos, menos expostos, ou ainda, que não tem riscos de contaminações. Ter conhecimento dessas áreas torna-se importante para traçar planos necessários para se transitar ou permanecer nesse setor livre de qualquer po de agressão microbiológica, e evitar a propagação de agentes infecciosos e, consequentemente, quebrar a cadeia de transmissão e contaminação do agente agressor. Segundo a Anvisa (2012), a área na qual existe um maior risco para se desenvolver e propagar a contaminação ou agente microbiológico é chamada de área crí ca hospitalar. Podemos citar como exemplos: a central de material e esterilização; a unidade de terapia intensiva; o banco de sangue; o centro cirúrgico; e as unidades de isolamentos. Enfermaria, áreas limpas hospitalares, apartamentos, consultórios clínicos são áreas consideradas semicrí cas, porque o risco de contaminação e propagação da infecção pode ser considerado baixo ou regular. E as áreas não-crí cas são as que não desenvolvem a vidades assistenciais de saúde, e por esse mo vo não desenvolvem e nem propagam níveis considerados de contaminações. Podemos citar como exemplo as áreas administra vas hospitalar. 1.3 CONCEITOS BÁSICOS Quando se fala em central de material e esterilização em qualquer âmbito da área da saúde, é comum que alguns termos apareçam e, portanto, para os profissionais de enfermagem, a clareza CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 55 de 64 desses conceitos contribui para que exerça a sua profissão com maior zelo, rigor e competência técnica. Confira a seguir os termos. Barreira técnica : O ar go 4 da RDC n. 15/2012 dispõe que é o “conjunto de medidas comportamentais dos profissionais de saúde visando à prevenção de contaminação cruzada entre o ambiente sujo e o ambiente limpo, na ausência de barreiras sicas”. Controle de qualidade do processamento dos produtos para saúde : Ainda no mesmo ar go 4 da RDC 15/2012, também conhecida por resolução das boas prá cas para o processamento de produtos para a saúde, é a “avaliação sistemá ca e documentada da estrutura e do processo de trabalho e avaliação dos resultados de todas as etapas do processamento de produtos para saúde”. Processamento de produto para a saúde : Segundo a RDC 15/2012, é o “conjunto de ações relacionadas à pré-limpeza, recepção, limpeza, secagem, avaliação da integridade e da funcionalidade, preparo, desinfecção ou esterilização, armazenamento e distribuição para as unidades consumidoras”. Produtos para saúde crí cos : Insumosu lizados em procedimentos invasivos, com penetração do tecido epitelial, sub epiteliais, mucosas e sistema vascular, incluindo também todos os produtos para saúde que estejam diretamente interligados com esses sistemas do corpo humano. Esse conceito foi estabelecido pela RDC 15/2012. Produtos para saúde não-crí cos : Por dedução esse termo reflete o oposto dos produtos para saúde crí cos. Portanto, é o que entra em contato com o tecido íntegro ou não entra em contato com o paciente. Produtos para saúde semicrí cos : Produtos que entram em contato com pele não íntegra ou mucosas íntegras colonizadas. Esse conceito foi estabelecido pela RDC 15/2012. Produtos para saúde passíveis de processamento : Produto para saúde fabricado a par r de matérias primas e conformação estrutural, que permitem repe dos processos de limpeza, preparo e desinfecção ou esterilização, até que percam a sua eficácia e funcionalidade. Conceito estabelecido pela RDC 15/2012. Produto para saúde crí co de conformação complexa : Segundo a RDC 15/2012, “produtos para saúde que possuam lúmem inferior a 5 milímetros ou com fundo cego, espaços internos inacessíveis para a fricção direta, reentrâncias ou válvulas”. Produto para saúde de conformação não complexa : Produtos para saúde cujas super cies internas e externas podem ser a ngidas por escovação durante o processo de limpeza e que tenham diâmetro superior a 5 milímetros nas estruturas tubulares. Conceito estabelecido pela RDC 15/2012. É importante salientar que, PCNC são produtos para saúde, fabricado a par r de matérias primas e estruturas, que permitem repe dos processos e métodos de limpeza, desinfecção ou esterilização, até perder o seu bene cio e funcionalidade. Já os PCC, são crí cos e complexos, seguem protocolos específicos dos seus fabricantes para os processos de limpeza,desinfecção e esterilização. Neste momento, após essa breve explanação sobre o conteúdo envolvendo processamento e reprocessamento dos PPS, acredita-se que seja possível ampliar a perspec va e aprofundar mais CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 56 de 64 alguns conceitos e, exemplificar determinados métodos de processamentos dos produtos para a saúde e assim elucidar possíveis questões que ainda possam não estar esclarecidas. Escolher o melhor método para o processamento dos materiais exige conhecimento do profissional enfermeiro, bem como convencer a gestão hospitalar a enxergar que não é somente um simples processo de limpeza, desinfecção ou esterilização. São recomendações baseadas em ciência e de reconhecimento nacional e internacional. Além disso, seria interessante que os materiais, principalmente, considerados crí cos fossem de uso único e descartáveis. Assista aí 2 FLUXO E ESTRUTURA DA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO Conforme foi abordado anteriormente, é parte fundamental do trabalho do profissional enfermeiro e da sua equipe (auxiliares e técnicos em enfermagem), o conhecimento das resoluções dos órgãos competentes em relação ao funcionamento e processamento do PPS. Desta forma, será comentado na sequência a estrutura da CME, bem como o fluxo ou direcionamento dos produtos para a saúde da CME, prevenindo, desta forma, os cruzamentos dos PPS e possíveis disseminações das fontes contaminadas, evitando, assim, infecções cruzadas, garan ndo uma segurança para o paciente de forma segura e eficaz. 2.1 FLUXOGRAMA E ESTRUTURA DA CENTRAL DE MATERIAL E ESTERILIZAÇÃO A CME - unidade, a va e funcional, des nada a receber, expurgo (área suja), limpeza, descontaminação, preparo, esterilização, guarda e distribuição dos PPS u lizados nos diversos setores de um estabelecimento de saúde - pode se localizar dentro (centralizada) ou fora (descentralizada) da edificação da saúde usuária dos materiais (SOBECC, 2007). Existem serviços de saúde que terceirizam esta a vidade, mas, independentemente do modelo adotado, as resoluções vigentes devem ser contempladas. Qualquer ins tuição de saúde precisa estabelecer normas para controlar a infecção hospitalar. E é nesse contexto que a CME ocupa um papel per nente, já que o Ministério da Saúde recomenda um movimento em um único sen do (fluxo), sem retrocesso e sem cruzamento dos PPS limpos com os PPS contaminados com relação às barreiras ou separação sica dos setores. E, por este mo vo, é necessário o planejamento arquitetônico das edificações de saúde (BRASIL, 2002, on-line). Aprofundando o tema em questão e, de acordo com Resolução da Diretoria Colegiada n. 50/2002 da Anvisa que, refere-se ao planejamento, a programação, a elaboração e avaliação de projetos sicos de estabelecimento de assistência à saúde, é importante dizer que os projetos, sem exceção, devem seguir, prioritariamente, essa resolução, para garan r qualidade dos serviços e oferecer áreas arquitetônicas (estruturas) adequadas para o desempenho das a vidades de enfermagem e de outras equipes de saúde. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 57 de 64 Quadro 3 - Planejamento arquitetônico da central de material e esterilização em po I e II Fonte: SOBECC, 2017 (Adaptado). #PraCegoVer: A imagem mostra um esquema didá co do planejamento arquitetônico da central de material e esterilização. Essa área arquitetônica é separada por barreiras sicas (que impedem o contato cruzado da equipe), e cada área tem as suas funções especificas: receber o PPS (área suja), limpar e prepara o PPS (área limpa), armazenar e distribuir os PPS (área estéril). A equipe de enfermagem se faz presente em todas as áreas. Todo o projeto sico de estabelecimento de atendimento à saúde, seja público ou privado, deverá ser desenvolvido e elaborado levando em consideração a RDC n. 50/2002 da Anvisa, que dispõe sobre o regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos sicos. A medida visa a garan r os serviços prestados e oferecer estrutura adequada para desenvolvimento das a vidades dos profissionais envolvidos (Anvisa, 2002). Para que você consiga entender o próximo esquema da central de material e esterilização (Figura - Planejamento da Estrutura Física da Central de Material e Esterilização), é importante dizer que, uma CME deve possuir um espaço direcionado para os serviços desenvolvidos no setor, e deve dispor da seguinte cadeia de gestão: recursos humanos, equipamentos para a saúde, insumos, gerenciamento e monitoramento geral na central de material e esterilização. É preciso compreender que estamos falando de um tema que exige inovação e tecnologia e, para isso, os inves mentos para aquisição dos PPS geram altos custos para gestão hospitalar, e para aquisição dos materiais, principalmente, cirúrgicos. Além disso, é necessário inves r na qualificação do enfermeiro e da sua equipe, com educação con nuada e conhecimento na montagem e desmontagem dos PPS da central de material e esterilização. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 58 de 64 Quadro 4 - Planejamento da estrutura sica da central de material e esterilização Fonte: SOBECC, 2007 (Adaptado). #PraCegoVer: A imagem mostra um esquema didá co da composição da estrutura sica da central de material e esterilização. Essa composição leva em consideração os recursos humanos (especialização e educação constante da equipe de enfermagem), equipamentos (inves mentos e manutenção dos maquinários para uso da CME), insumos (aquisições dos PPS e produtos químicos, sicos e biológicos para testagem) e gerenciamento, pelo enfermeiro, e monitoramento por toda a equipe da central de material e esterilização. Neste momento, após essa breve explanação sobre as novas tecnologias da central de material e esterilização, um desafio para toda a equipe de enfermagem. Acredita-se que seja possível ampliar a perspec va do enfermeiro e da sua equipe para os processos inovadores, que ocorrem em uma central de material e esterilização. Em meio à globalização e à tecnologia avançada que nos cercam, os profissionais de enfermagem têm por obrigação de seguir o fluxo das inovações. Não se pode admi r métodos ultrapassados de processamento e reprocessamento dos PPS, expondo e minimizando a segurança dos pacientes no âmbito hospitalar. Assista aí 3 PROCESSAMENTO DE MATERIAL PARA A SAÚDE Com o advento de novas tecnologias u lizadas no âmbito hospitalar e o desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas, os PPS se tornaram mais complexos e estruturalmente avançados, surgindo, dessa forma, a necessidade de aprimorar os cuidados e tratamentos do PPS e da equipe de enfermagem para o desenvolvimento dessas tarefas de limpeza, desinfecção e esterilização. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 59 de 64 3.1 LIMPEZA O PPS - quando chega na CME - passa por etapas para o seu processamento adequado, seguindo um fluxo de inspeção, limpeza, preparo, embalagem, esterilização e armazenamento e, logo em seguida, encaminhado para os setores hospitalares ou da unidade de saúde, de acordo com a necessidade dos procedimentos no âmbito hospitalar. Então, podemos entender que limpar é re rar a sujeira, manchas ou impurezas dos materiais que chegam até a CME, oriundos dos diversos setores hospitalares. Por esse mo vo, é de extrema importância a inspeção (observação) detalhada do PPS para, logo após, iniciar o processamento do material. Segundo a Sobecc (2007), limpeza é a remoção de sujidades e impurezas orgânicas, visíveis ou invisíveis, ao olho nu, em PPS ou super cies antes do processamento do material para desinfecção e/ou esterilização. Alguns estudiosos da área afirmam que é uma ação mecânica e necessita de água e substâncias ou agentes químicos. Esta etapa do processamento do PPS pode ser realizada de forma manual ou através de equipamento mecânicos ou ainda pela combinação dos métodos - manual e mecânico. A recomendação é a imersão total do PPS no agente químico(limpeza) para evitar que agentes infecciosos circulem no ambiente, através do ar, e, consequentemente, contamine o ambiente laboral. É importante salientar que o fabricante do PPS deve orientar a técnica adequada de limpeza para evitar contaminação e minimizar a dispersão de aerossóis (OURIQUES; MACHADO, 2013). Quando aprendemos que o conjunto de materiais médico-hospitalares ou PPS que serão des nados para a CME, vindos dos diversos setores hospitalares, são chamados de unidades consumidoras, e os que saem da CME para suprir a necessidades dos setores hospitalares, em seus procedimentos diários, são chamados de unidades fornecedoras, temos então um fluxograma do processamento do material (SOBECC, 2017). Quadro 5 - Fluxograma do processamento dos materiais para a saúde na CME Fonte: SOBECC, 2017 (Adaptado). CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 60 de 64 #PraCegoVer: A imagem mostra um esquema didá co do fluxo do processamento dos materiais para a saúde. Observamos a unidade consumidora - área suja ou expurgo, da CME, recebem PPS das unidades hospitalar e a unidade fornecedora - área limpa, de armazenamento dos PPS, na CME, para distribuir as diversas unidades hospitalar. Quando a unidade fornecedora envia os materiais para serem processados na CME, e existe o recebimento dele, faz-se necessário que a equipe de enfermagem, área suja, receba-o e o inspecione imediatamente. Inspecionar é verificar as condições do PPS para possível desmontagem e segurança do trabalhador. A limpeza do material ou PPS deve seguir protocolos ins tucionais e, de preferência, do Ministério da Saúde, e deve ser rigorosa, por ser uma das etapas de grande importância para o processamento do material, porque será removida desde simples sujidade até cargas microbianas e formas sicas de proteção do microrganismo (OURIQUES; MACHADO, 2013). Limpar tem por obje vo a remoção de sujidade (biofilme), remoção ou redução da carga microbiológica e a remoção ou redução de substâncias pirogênicas. Entendemos que biofilme são acúmulos ou colônias microbianas que contêm material celular em grande quan dade fixada na super cie do PPS, que ficarão imersos em líquidos orgânicos (ANVISA, 2007). Uma vez formado, é preciso que a substância esterilizadora o penetre antes de eliminar o agente microscópio contaminante. Para essa eliminação, deve-se testar os insumos que irão agir no ato da limpeza como: escovas, pistolas e lavadoras ultrassônicas, que foram desenvolvidas para o mizar a etapa da lavagem no processamento dos PPS. 3.2 SECAGEM E, por fim, o processamento de secagem deve ser realizado com cuidado para que a umidade presente não cause a corrosão ou a destruição do PPS, para não interferir em processamentos futuros. A execução da técnica correta de secagem do PPS pode ser realizada de diversas formas, como, por exemplo, com uma estufa reguladora para este fim, ar comprimido medicinal, secadora de ar quente/frio ou um pano limpo e seco des nado somente para essa etapa do processamento dos materiais. Seguindo o fluxo correto do processamento e reprocessamento dos PPS, devemos compreender: PPS sujo, exposição ao agente de limpeza, enxague, secagem, barreira sica, inspeção, preparo e embalagem, esterilização, armazenamento e distribuição. E, no preparo do material, genericamente denominado empacotamento, os invólucros u lizados para embalar os materiais devem estar íntegros para evitar as contaminações do ambiente nos PPS. 4 DESINFECÇÃO Desinfecção é o método ( sico ou químico) de eliminar os microrganismos ou qualquer objeto que não tenha vida da super cie dos PPS. Não confunda esse método de processamento dos materiais com esterilização, visto que a desinfecção não elimina totalmente todas as formas microbianas. O primeiro método (desinfecção) difere do segundo método (esterilização) quanto à capacidade de eliminar esporos bacterianos, que são estruturas que protegem as bactérias. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 61 de 64 4.1 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL O Ministério da Saúde recomenda que os trabalhadores da CME ou de qualquer parte ou unidade hospitalar, seja pública ou privada, façam sempre uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) para processar os PPS. Os EPIs devem ser adequados e relacionados com os riscos expostos no ambiente. É imprescindível que a equipe de enfermagem da CME faça o uso constante de luvas de borrachas, preferencialmente, de cano longo, máscara, óculos, avental impermeável e gorro. E, u lizando maquinário no setor, usem ainda protetor audi vo (MARTINS; LIBRELON, 2007). Para fundamentar e complementar os estudos relacionados sobre a desinfecção na CME e, de acordo com resolução da diretoria colegiada n. 15/2012, da Anvisa, que se refere às boas prá cas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. Veja as definições no art. 4, da Seção III (ANVISA, 2012, on-line): desinfecção de alto nível: processo sico ou químico que destrói a maioria dos microrganismos de ar gos semicrí cos, inclusive microbactérias e fungos, exceto um número elevado de esporos bacterianos; desinfecção de nível intermediário: processo sico ou químico que destrói microrganismos patogênicos na forma vegeta va, microbactérias, a maioria dos vírus e dos fungos, de objetos inanimados e super cies; detergentes: produto des nado à limpeza de ar gos e super cies por meio da diminuição da tensão superficial, composto por grupo de substâncias sinté cas, orgânicas, líquidas ou pós solúveis em água, que contêm agentes umectantes e emulsificantes que suspendem a sujidade e evitam a formação de compostos insolúveis ou espuma no instrumento ou na super cie. Segundo os centros de controle e prevenção de doenças (centers for disease control and preven on - CDC), o processamento e cuidado de super cies com matéria orgânica (qualquer substância oriunda do corpo humano e fonte de infecção) difere de acordo com a quan dade de volume e local da contaminação. Esse tratamento é dividido em dois pos de técnicas de desinfecção: a primeira levando em consideração pequena quan dade e a segunda, levando em consideração grande quan dade de matéria orgânica (CDC, 2003). É importante dizer que sempre que exis r presença de substância orgânica em super cies, essa deverá ser removida. 4.2 DESINFECÇÃO E CLASSIFICAÇÃO Seguindo o fluxo de processamento dos materiais e, logo após o processo da limpeza dos PPS, a próxima etapa é chamada de desinfecção. Essa etapa leva em consideração o espectro de ação contra o microrganismo, usando para isso os agentes químicos e sicos, e pode ser de: alto nível - quando destrói todas as formas de vidas microscópicas; nível intermediário - quando são eliminadas todas as bactérias vegeta vas, bactéria da tuberculose, fungos, vírus e substâncias gordurosas e não gordurosas, nível mais baixo - quando elimina somente bactérias de pequeno potencial de contaminação - alguns vírus e fungos. Somente o alto nível de desinfecção destrói os esporos bacterianos (SOBECC, 2017). CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 62 de 64 Para que o produto seja eficiente para a limpeza ou desinfecção do material, é preciso possuir um amplo espectro de ação germicida, ina var rapidamente os microrganismos potentes e não pode irritar a pele ou mucosas dos profissionais. FIQUE DE OLHO A Anvisa disponibiliza em seu endereço eletrônico as RDCs para fins de pesquisa acadêmicas e cien ficas e as suas inúmeras atribuições para as condutas corretas em diversas áreas do âmbito da saúde. Complementando o tema sobre a desinfecção, temos a RDC n. 14/2007, da Anvisa, que se refere ao regulamento técnico para produtos saneantes com ação an microbiana harmonizado no âmbito do Mercosul. Os microrganismos são as formas de vida mais difundida na natureza. Sua presença tem efeitos posi vos e nega vos para a vida do homem, consequentemente, seu controle é fundamental para evitar que estes efeitos produzam consequênciasindesejáveis, para a saúde, o meio ambiente e os bens que fazem à qualidade de vida do ser humano. O mencionado controle pode ser realizado por meio sico ou químico, os quais devem ser específicos para a ação desejada e não devem produzir efeitos colaterais indesejáveis (ANVISA, 2007, on-line). Quadro 6 - Tipo de desinfecção usadas em uma central de material e esterilização Fonte: BRASIL, 2012 (Adaptado). PraCegoVer: A imagem mostra um esquema didá co do po processamento de material para saúde - desinfecção-, e podemos classificar esse método em desinfecção sica (quando o processamento ocorre através do calor), desinfecção química (quando a desinfecção ocorre fazendo uso de substâncias químicas) e, por fim, a desinfecção sico-químico (quando existem a associação de fatores químicos e sicos). CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 63 de 64 5 ESTERILIZAÇÃO Esterilizar vem de eliminar. Assim, esterilização é destruir, completamente, por ação de agentes sicos ou químicos, todas as formas de vida microscópicas (vírus, fungos, parasitas, helmintos e bactéria). No âmbito hospitalar, esta etapa do processamento do PPS é executada na CME (FRUTUOSO, 2018). 5.1 O MATERIAL O invólucro (figura - Reves mento para processamento de PPS) selecionado para proteger o PPS deve ter caracterís cas potentes de permeabilidade a substâncias esterilizantes, ser impermeável às diversas par culas microscópicas e ser resistente às condições sicas do processamento e método de esterilização. Esse invólucro precisa adequar-se às caracterís cas e flexibilidade do material. E é importante nunca esquecer de observar a selagem adequada, evitando resíduos tóxicos no interior do pacote (ASCARI et al.,2013). 5.2 VALIDAÇÃO Logo após o material ter seguido o fluxo da esterilização, o PPS passa por uma etapa chamada de validação. Essa etapa dependerá da qualidade do processo de esterilizar e deve seguir parâmetros sicos, químicos e biológicos para avaliação adequada do processo e, somente depois de todas as análises, deverá seguir para o armazenamento e, posteriormente, distribuído para os diversos setores do âmbito hospitalar (TRIPPLE et al.,2011). Os materiais (PPS) que levantaram suspeita no ato de esterilizar deverão, obrigatoriamente, ser considerados não estéreis, e será preciso iniciar o processamento dele na CME. Por exemplo, presença de umidade dentro de uma caixa de instrumental subme da à esterilização por vapor úmido - po de processo sico para esterilizar. A esterilização do po sico-químico sob pressão é o processamento mais u lizado para os PPS crí cos, por possuir caracterís cas de serem não tóxicos, custo baixo e destruírem os esporos (estruturas resistentes) dos microrganismos. Porém, deve ser exclusivo para materiais crí cos que não sejam sensíveis aos fatores: calor e umidade. É importante que toda equipe de enfermagem da CME e do centro cirúrgico tenham uma preparação para exercer as a vidades peculiares ao preparo e recebimento correto dos materiais a serem processados, u lização adequada do processo de esterilização, como também manipulação criteriosa e acondicionamento dos ar gos esterilizados. Dessa maneira, é responsabilidade do enfermeiro assumir o desenvolvimento de uma educação con nuada da equipe, ao oportunizar um saber sistema zado contextualizado ao conhecimento gerado na prá ca co diana, possibilitando, assim, um aprendizado efe vo (MONTEIRO et al., 2003). Método sico : Esteriliza pela pressão do vapor saturado e calor úmido e seco. Método químico : Esteriliza por radiação gama, do elemento químico cobalto 60 e feixe de elétrons. Método sico-químico : Esteriliza a baixas concentrações de temperatura e vapor dos gases óxidos de e leno e peróxido de hidrogênio. CENTRO CIRÚRGICO E CME| Página 64 de 64 Enfim, é sempre recomendável que o profissional enfermeiro e a equipe de enfermagem estejam atentos às resoluções atualizadas que envolvem os produtos para a saúde a serem processados em uma central de material e esterilização. FIQUE DE OLHO A Anvisa disponibiliza em seu endereço eletrônico a Resoluções Diretoria Colegiada (RDC 15/2012) para fins de pesquisa acadêmicas e cien ficas e as suas inúmeras atribuições para as condutas corretas para boas prá cas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências (ANVISA, 2012). O cuidado com cada etapa do processamento é primordial e fundamental para uma assistência de enfermagem direta ou indireta ao paciente. Sistema zar a ro na dentro de uma central de material e esterilização é fundamental para uma boa prá ca do enfermeiro. É ISSO AÍ! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: entender a funcionalidade da central de material e esterilização; conhecer conceitos preliminares para o entendimento dos processos que ocorrem em uma CME; aprender o fluxo e estrutura da central de material e esterilização; estudar sobre as etapas de processamento e reprocessamento dos produtos para a saúde; diferenciar e entender a limpeza, desinfecção e esterilização dos materiais para saúde e a importância desses processos para a segurança do paciente. REFERÊNCIAS