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Leucodermia e hipopigmentação são termos gerais utilizados para designar distúrbios caracterizados pelo clareamento da pele. Estes são classicamente o resultado do decréscimo do conteúdo de melanina epidérmico, mas podem derivar do decréscimo do suprimento sanguíneo cutâneo. Hipomelanose é um termo mais específico que denota a ausência ou redução de melanina na pele; amelanose significa a ausência total de melanina. A despigmentação costuma implicar em perda total da cor da pele, em geral, devido ao desaparecimento da pigmentação melânica preexistente, como no vitiligo. O termo diluição pigmentar é usado para descrever um clareamento generalizado da pele e dos cabelos, como no albinismo oculocutâneo; pode ser aparente somente se o indivíduo acometido for comparado a parentes não afetados. A hipomelanose cutânea é usualmente classificada em dois grupos: • Hipomelanose Melanocitopênica, ocasionada pela ausência parcial ou total de melanócitos epidérmicos e/ou foliculares. Pode ser hereditária e/ou congênita devido a um defeito na diferenciação, proliferação, migração e/ou sobrevivência do melanoblasto, mas também pode ser adquirida. Neste último caso, os melanócitos funcionais, muitas vezes, desaparecem como resultado de sua destruição (p. ex., por trauma externo, tais como criocirurgia, ou um ataque autoimune). Os fatores que controlam a sobrevivência do melanócito também podem ter alguma influência no desaparecimento pós- natal dos melanócitos dérmicos. • Hipomelanose Melanopênica, na qual o número de melanócitos epidérmicos e/ou foliculares é normal, mas as células pigmentares falham na síntese de quantidades normais de melanina e/ou na transferência desta aos queratinócitos circundantes Hipomelanose melanopênica pode resultar de uma série de mecanismos patológicos complexos incluindo anomalias nos melanossomos (p. ex., sua biogênese, melanização, transferência ou degradação), ou remoção da melanina. O vitiligo é um distúrbio adquirido, caracterizado por máculas e placas despigmentadas circunscritas que resultam de uma perda progressiva de melanócitos funcionais. Epidemiologia O vitiligo afeta cerca de 0,5% a 2% da população geral do mundo e pode surgir em qualquer momento, seja logo após o nascimento ou na fase adulta tardia. Em média, a idade do início é de aproximadamente 20 anos. Embora pacientes com vitiligo muitas vezes atribuam o início de sua doença a eventos específicos (p. ex., lesão física, queimadura solar, estresse emocional, doença ou gravidez), com exceção do fenômeno de Koebner, não há provas de que esses fatores causem ou precipitem o vitiligo. [UptoDate] É a causa mais frequente de despigmentação. Afeta igualmente homens e mulheres, sem predileção racial, étnica ou socioeconômica. Aproximadamente 1/3 dos pacientes com vitiligo são crianças e 70-80% dos pacientes adultos desenvolveram vitiligo antes dos 30 anos. Fisiologia dos Melanócitos Para entender a fisiopatologia das desordens cutâneas que causam hipo e hiperpigmentação, bem como o processo de produção normal, fisiológica, de pigmento, é necessário o entendimento da estrutura e da função dos melanócitos. O melanócito é uma célula derivada da crista neural e, durante a embriogênese, células precursoras (melanoblastos) migram ao longo da via dorsolateral por meio do mesênquima para chegar à epiderme e aos folículos pilosos. Locais adicionais da migração de melanócitos incluem o trato uveal dos olhos (coroide, corpo ciliar e íris), as leptomeninges e o ouvido interno (cóclea). Dermatologia: vitiligo Igor Mecenas Presumidamente, a morte de melanócitos dentro das leptomeninges, do ouvido interno e da pele é responsável pelas meningites assépticas, pelos sintomas auditivos e pelas áreas de vitiligo, respectivamente, vistas em pacientes com a síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada. A migração anômala ou a sobrevivência de melanócitos dentro do ouvido interno, da íris, de porções médias da testa e de extremidades explica a presença de surdez congênita, heterocromia da íris e placas de leucodermia, respectivamente, em pacientes com síndrome de Waardenburg, uma neurocristopatia clássica. A sobrevivência e a migração de células derivadas da crista neural durante a embriogênese dependem da interação entre receptores específicos na superfície celular e de ligantes extracelulares. O ligante KIT, por exemplo, liga-se ao receptor KIT transmembrana nos melanócitos e precursores de melanócitos (melanoblastos). Fatores de transcrição representam outro grupo de proteínas que desempenham papel essencial durante a embriogênese. Eles podem ligar-se ao DNA e influenciar a atividade de outros genes, por isso são capazes de regular a complexa inter-relação entre os vários conjuntos de genes que são necessários para o desenvolvimento embrionário. Muitos desses genes, quando mutados, levam à síndrome de Waardenburg e codificam fatores de transcrição (p. ex., PAX3, MITF, SOX10). Embora haja variação na densidade de melanócitos epidérmicos por milímetro quadrado, quando diferentes regiões do corpo são analisadas por DOPA-reação em lâminas de epiderme –, por exemplo, a densidade de melanócitos é maior na região genital (∼1.500/mm2) comparada com as costas (∼900/mm2) –, existem diferenças menores entre indivíduos quando o mesmo local anatômico é examinado. Isto ocorre apesar da grande variação na pigmentação observada na raça humana. O determinante que mais importa para a cor da pele normal é a atividade dos melanócitos, isto é, a quantidade e a qualidade da produção de pigmentos, e não a densidade dos melanócitos. Vários fatores têm papel na determinação do nível de atividade dos melanócitos; eles incluem as características específicas dos melanossomas individuais (p. ex., as dimensões), bem como os níveis basais (constitucional) e estimulado (facultativo) da atividade de enzimas envolvidas na biossíntese da melanina. Estes últimos são influenciados pelas interações receptor-mediador com ligantes extracelulares, por exemplo, MSH. Formação e Função dos melanossomas Dentro do citoplasma de melanócitos há uma organela única conhecida como melanossoma, na qual os pigmentos melânicos são sintetizados, depositados e transportados. O melanossoma é mais estreitamente relacionado ao lisossoma. Por meio de compartimentalização, ambas as organelas fornecem proteção para o restante da célula; lisossomas protegem contra pró-enzimas, tais como proteases, e melanossomas protegem contra precursores de melanina (p. ex., fenol e quinonas) que podem oxidar membranas lipídicas. O melanossoma contém tanto proteínas matrizes (como, gp100/Pmel17), que formam uma plataforma no qual a melanina é depositada, quanto proteínas (principalmente enzimas) que regulam a biossínte da melanina. Após a formação via ribossomas, todas estas proteínas são encontradas dentro do lúmen do retículo endoplasmático rugoso. Proteínas que têm um papel-chave na biogênese de estados iniciais dos melanossomas são gp100/Pmel, MART-1/Melan-A e o albinismo ocular tipo 1 (OA1) proteína-G-receptor acoplado. A clivagem e o processamento de gp100/Pmel, uma proteína amiloidogênica, leva a uma matriz fibrilar que age como uma plataforma na qual a melanina é depositada. Enquanto esta é depositada dentro do melanossoma, a organela migra através de microtúbulos para dentro de dendritos na preparação para se transferir para dentro de ceratinócitos vizinhos, tanto dentro da epiderme quanto para dentro da matriz de pelos anágenos. Além dos microtúbulos, proteínas como quinesina e dineína são envolvidas no movimento dos melanossomas. A pigmentação normal da pele depende da transferência ordenada de melanossomas de melanócitos para ceratinócitos. Quando esta transferência é interrompida, seja durante doenças herdadas ou adquiridas, o resultado é a hipopigmentação. Na primeira, há uma diluição pigmentar difusa, enquantona última, a hipopigmentação é circunscrita. A fagocitose de melanossomas por ceratinócitos pode ser desencadeada pela ativação do receptor (KGFR/FGFR2b) pelo fator de crescimento de ceratinócitos (KGF), também chamado de fator de crescimento fibroblástico 724, bem como pela ativação do receptor protease ativado 2 (PAR-2). Os inibidores de interações do receptor ligado ao PAR-2 (p. ex., inibidores de serina protease) levaram à hipopigmentação cutânea em modelos animais e, no futuro, podem ser usados para tratar distúrbios de hiperpigmentação. A atividade de um melanócito se reflete tanto no número de melanossomas melanizados que produz quanto em sua eficiência para transferir esses melanossomas para os ceratinócitos. Por exemplo, melanossomas, principalmente nos estágios II e III, são encontrados em pele de pigmentação clara, enquanto os no estágio IV são encontradas em pele de pigmentação escura. Um fator adicional é o índice de degradação dos melanossomas transferidos para os ceratinócitos circundantes e isto está relacionado, em parte, ao tamanho dos melanossomas individualisados. Em peles mais claras, os melanossomas são menores e formam grupos de dois a dez dentro de lisossomas secundários nos ceratinócitos e se degradam no estrato espinhoso médio. Em peles escuras, os melanossomas são maiores e dispersos individualmente dentro dos lisossomas dos ceratinócitos; eles se degradam mais lentamente, tanto que os grânulos de melanina ainda podem ser encontrados no estrato córneo. Regulação da biossíntese de melanina As melaninas representam um grupo de polímeros complexos cujas funções variam de camuflagem à extinção de radicais livres oxidativos gerados pela exposição à radiação UV (RUV). O nível e o tipo de produção da melanina é uma interrelação complexa da atividade das várias enzimas envolvidas em sua biossíntese, bem como a atividade de proteínas tais como proteína P e aquelas que estabilizam a atividade de tirosinase (p. ex., TYRP1). Vários fatores são conhecidos por influenciar a atividade destas proteínas- chave, e elas incluem MSH, fator de crescimento fibroblástico básico (bFGF), endotelina-1 e radiação UV. Entre os múltiplos produtos proteicos do gene pró- opiomelanocortina (POMC) estão o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), a β-endorfina e as três formas de MSH (α, β e γ); em humanos, α-MSH representa uma forma biologicamente ativa principal do MSH. O local principal da expressão do gene POMC é a glândula pituitária; porém, outros locais de expressão incluem os testículos, o endotélio e, de importância particular, a epiderme (ceratinócitos). Apesar do MSH estar classicamente associado ao sistema pigmentar, este peptídeo tem uma vasta gama de propriedades biológicas, incluindo a supressão de inflamação e a regulação do peso corporal. Há cinco receptores principais de melanocortina, todos têm sete domínios transmembrana. Apesar de MC1-R estar presente em uma variedade de células encontradas dentro da pele, de células endoteliais a fibroblastos, a densidade mais alta deste receptor é vista nos melanócitos. Depois da ligação do MSH ao MC1-R, o par de proteínas interage com um complexo de proteínas G. Então, a subunidade GTP-Gsα ativa a adenilato ciclase, levando à produção aumentada do AMPc dentro do melanócito. Um aumento na concentração intracelular de AMPc leva ao aumento na atividade da tirosinase e da produção de eumelanina através de MITF. Se o MC1-R é disfuncional e falha para iniciar uma elevação significante do nível intracelular de AMPc, então a feomelanogênese é favorecida. Salienta-se que a maioria dos indivíduos ruivos são heterozigotos ou homozigotos para uma mutação de perda de função do gene que codifica o MC1-R. O MC1-R também interage com uma proteína conhecida como agouti (camundongo) ou agouti sinalizadora (ASIP; humana). Agouti é um termo usado para descrever a curvatura dos cabelos vista em alguns mamíferos, como cachorros, raposas e camundongos, que é devida a uma alternância na produção de eumelanina e feomelanina. A produção de proteína agouti pelas células nas papilas dos pelos é cíclica, e, quando esta proteína está presente, ela efetivamente compete com o MSH, e a formação de feomelanina dentro dos feomelanossomas é favorecida; estes últimos são caracterizados pelo formato mais esférico (comparados com eumelanossomas) e pela presença de matriz desestruturada com corpos vesiculares. Após uma única exposição à RUV, pode ser observado aumento no tamanho dos melanócitos, junto com aumento na atividade da tirosinase. Exposições repetidas a RUV levam ao aumento no número de melanossomas estágio IV transferidos para os ceratinócitos, bem como aumento no número de melanócitos ativos. Quando locais expostos cronicamente ao sol (p. ex., a parte externa do braço) são comparados a locais não expostos (como a parte interna do braço), a densidade dos melanócitos é duas vezes maior nos locais expostos. Os melanócitos, como outros tecidos com derivação neural, têm baixo índice de mitótico, e se este aumento no número representa um aumento no índice mitótico ou na ativação de melanócitos “inativos” ou melanócitos precursores não é conhecido. Após a exposição à irradiação UVA, um escurecimento pigmentar imediato pode ser observado, este ocorre em minutos e desaparece entre 6 e 8 horas. É clinicamente mais evidente em pele de pigmentação escura e parece representar a oxidação da melanina pré-existente ou de precursores da melanina. O bronzeamento tardio fica visível dentro de 48 a 72 horas da exposição à radiação UVA e UVB e representa uma nova produção de pigmento através de aumento na atividade da tirosinase. Além do aumento no tamanho e número dos melanócitos, atividade da tirosinase, e da transferência de melanossomas para ceratinócitos, a reação ao PUVA inclui a alteração no tamanho e no padrão de agregação dos melanossomas, isto é, de menores e agrupados a maiores e dispersados individualmente. RUV pode funcionar pelo aumento de ou mais dos seguintes fatores: • transcrição do gene da tirosinase (via MITF) • o número ou a atividade do MC1-R em melanócitos • a expressão de POMC e seus derivados peptídeos por ceratinócitos e outras células dentro da derme • a liberação de diacilglicerol da membrana plasmática, que ativa a proteína quinase C • ativação da rota do óxido nitroso/cGMP • produção de citocinas e fatores de crescimento (como, endotelina-1) por ceratinócitos • indução de uma reação SOS a danos de DNA induzidos por RUV • a transativação do promotor de POMC por p53 • a relação cinesina/dineína A inabilidade da maioria dos indivíduos ruivos de desenvolver um bronzeado após a exposição a RUV pode ser explicada, pelo menos em parte, pela disfunção do MC1-R em seus melanócitos. Este fenômeno, junto com a produção de radicais de oxigênio que se seguem à irradiação UV da feomelanina, provavelmente contribui para o aumento na incidência de melanoma cutâneo e câncer da pele não melanoma em pessoas ruivas. Patogênese O vitiligo é um distúrbio multifatorial relacionado tanto a fatores genéticos quanto não genéticos. É consenso geral o fato de haver uma ausência de melanócitos funcionais na pele com vitiligo e que, essa falta de melanócitos imuno-histoquimicamente reconhecíveis seja resultado de sua destruição. Além do tipo “absoluto” de vitiligo em que não existem melanócitos DOPA-positivos, há tipos “relativos” da doença nos quais os melanócitos persistem nas lesões, mas uma diminuição na DOPApositividade foi observada. É possível que os tipos relativos de vitiligo sejam precursores do tipo absoluto. Em geral, a avaliação imuno-histoquímica da epiderme com lesões de vitiligo com anticorpos para marcadores de melanócitos (relacionados e não relacionados com a atividade melanogênica) não pode detectar os melanócitos. Além disso, o receptor KIT, uma proteína expressa precocemente nadiferenciação de melanócitos, não é detectável na pele com vitiligo, sugerindo que precursores putativos de melanócitos não mais estejam presentes. Acredita-se, portanto, que os melanócitos estejam ausentes ou presentes em número muito pequeno nas lesões de vitiligo. Com relação ao marco epidérmico, a vacuolização citoplasmática de queratinócitos e a presença de material granular extracelular (que pode ser derivado do citoplasma de queratinócitos alterados) foram notados; estes achados são mais proeminentes em peles de aparência normal adjacente, mas podem também ser evidentes na fronteira entre a pele lesionada e a adjacente, e ocasionalmente, na pele lesionada. Citocinas derivadas de queratinócitos tais como o fator de células-tronco (SCF; ligante KIT), TNF-α e IL-1 podem ter um papel no desaparecimento dos melanócitos. Na verdade, níveis de SCF estão diminuídos e níveis de TNF-α e IL-1 estão aumentados na pele com vitiligo lesional quando comparado com pele não lesionada. É de se notar que o tacrolimo tópico, que foi tido como um tratamento eficaz para, diminui a expressão de TNF-α quando aplicado à pele afetada. A densidade das células de Langerhans da pele com vitiligo, quando avaliada por técnicas histoquímicas (ATPase) ou por anticorpos monoclonais (anti-CD1a e HLA-DR), foi variavelmente relatada como diminuída, normal ou aumentada. Comprometimento funcional e alterações degenerativas (principalmente nas áreas marginais onde são maiores e têm dendritos menores) em células Langerhans também foram observados. Estes achados sugerem que o vitiligo afeta por inteiro a unidade queratinócito-célula de Langerhans-melanócito. Genética Tanto estudos em gêmeos quanto em familiares indicam a importância de fatores genéticos no desenvolvimento do vitiligo, que representa uma doença genética complexa e heterogênea com influências ambientais. Análises de ligações genômicas amplas foram realizadas em várias populações de pacientes com vitiligo não segmentar, resultando na identificação de numerosos lócus suscetíveis e genes candidatos Hipóteses Patogênicas Muitas hipóteses patogênicas foram propostas para o vitiligo, refletindo a natureza complexa desta condição. O vitiligo mais provavelmente represente um grupo heterogêneo de distúrbios com diferentes fundamentos genéticos, além de desencadeadores exógenos e intrínsecos. Na verdade, há um aumento de evidências de que formas não segmentares e segmentares de vitiligo não possuem as mesmas influências genéticas e podem ser entidades distintas. Para o vitiligo não segmentar, dados acumulados fortemente suportam uma etiologia autoimune em indivíduos geneticamente predispostos. Defeitos intrínsecos em melanócitos e desencadeadores exógenos também podem ter uma função no desenvolvimento do vitiligo. As contribuições relativas destes fatores, e potencialmente de outros, no desencadeamento do vitiligo ainda precisam ser elucidadas. As várias hipóteses não são mutuamente exclusivas, e uma “teoria de convergência” também foi proposta. Hipótese da Autoimunidade Historicamente, o vitiligo foi associado a diversas doenças autoimunes, incluindo tireoidite de Hashimoto, doença de Graves, diabetes melitus tipo 1, alopecia areata, anemia perniciosa, artrite reumatoide, síndrome poliglandular autoimune e psoríase. Muitas aberrações humorais e mediadas por células foram mostradas em pacientes com vitiligo, incluindo um aumento na frequência de autoanticorpos órgão-específicos como antitireoglobulina, peroxidase antitireoide, células antiparietais e anticorpos antinucleares. A presença de anticorpos para antígenos de superfície e citoplasmáticos de melanócitos no soro de pacientes com vitiligo dá suporte adicional à patogenia autoimune da doença. Esses anticorpos podem induzir a destruição de melanócitos crescidos em cultura por lise e por citotoxicidade dependente de anticorpos. Estudos também sugerem que linfócitos T citotóxicos podem ter um papel significante na destruição dos melanócitos no vitiligo. Numerosos linfócitos T ativados (predominantemente CD8+) foram encontrados na área perilesional da pele com vitiligo. Há documentação de aumento na expressão de TNF-alfa, IFN-gama, IL-10 e IL-17 na pele lesionada de pacientes. Investigações sugerem que a quimiocina CXCL-10, induzida por IFN- gama, é um mediador chave para a destruição de melanócitos. Hipótese da Autodestruição de Melanócitos Propõe que melanócitos podem ser destruídos por uma sensibilidade intrínseca aumentada ao estresse oxidativo a partir de compostos fenólicos tóxicos formados durante a síntese da melanina. Tem suporte da observação de que um número de compostos ubiquitínicos contendo catecóis, fenóis e sulfidris (presentes em químicos, produtos de limpeza e algumas tintas para cabelo) podem induzir hipopigmentação, despigmentação ou ambos. Mecanismos possíveis incluem destruição por formação de radicais livres, inibição da atividade da tirosinase e interferência com a produção ou transferência de melanossomos. Dados adicionais sugerem que fenóis podem ativar uma resposta com indução da proteína fator ligante X-box 1, que leva à produção de IL-6 e IL- 8 e recrutamento de células imunes para as áreas afetadas. Hipótese do Estresse Oxidativo Um desbalanço intracelular do estado redox e uma depleção significante de antioxidantes enzimáticos e não-enzimáticos foram demonstrados na epiderme de pacientes com vitiligo ativo. Baixos níveis de catalase e glutationa (e altos de superóxido dismutase e xantina oxidase) também foram encontrados no sangue periférico desses pacientes. Reciclagem defeituosa de 6BH4, aumento na produção de peróxido de hidrogênio e aumento nos níveis de catalase também foram encontrados na pele lesionada de pacientes com vitiligo. A alteração da homeostase da tetrahidrobiopterina pode resultar no aumento dos níveis desses metabólitos tóxicos e redução da catalase, o que pode contribuir para a morte celular. O estresse oxidativo também pode contribuir pela ativação de resposta imune inata com recrutamento de macrófagos, NK e células dendríticas. Hipótese Neural Propõe que terminações nervosas situadas próximo a células pigmentares podem secretar um mediador neuroquímico que é citotóxico aos melanócitos. Essa hipótese tem suporte na observação de que a distribuição de áreas despigmentadas no vitiligo segmentar é relacionada aos dermátomos, mesmo que os segmentos quase nunca são estritamente dermatômicos. Além disso, vitiligo foi encontrado no seguimento de doenças neurológicas como encefalite viral, esclerose múltipla com síndrome de Homer e lesão nervosa periférica. Estudos imunohistoquimicos de terminações nervosas na pele ao redor de lesões mostraram anormalidades na expressão de fatores de crescimento nervosos e neuropeptídeos. Os níveis séricos de certos neuropeptídeos estão aumentados em pacientes com vitiligo. Hipótese da Melanocitorragia Essa teoria propõe que a perda de melanócitos é secundária ao destacamento crônico de melanócitos da membrana basal. Causas incluem trauma, espécies reativas de oxigênio, defeitos autoimunes e síntese anormal de proteínas da matriz celular que levam a defeitos de adesão celular. Quadro Clínico A representação mais comum do vitiligo é uma mancha ou mácula totalmente amelanótica (isto é, branco- leitosa ou cor de giz) circundada por pele normal. As lesões apresentam, como características, margens discretas e formato redondo, oval, irregular ou linear. As bordas são por vezes convexas, como se o processo despigmentante estivesse “invadindo” a pele circundante normalmente pigmentada. As lesões aumentam de maneira centrífuga ao longo do tempo, e a taxa de crescimento pode ser lenta ou rápida. As máculas e manchas do vitiligo atingem diâmetros de milímetros a centímetros e muitas vezes variam em tamanho dentro das áreas envolvidas. Em indivíduos levemente pigmentados, aslesões podem ser sutis ou inaparentes sem o uso de uma lâmpada de Wood. Em indivíduos com pigmentação mais escura, ou após o bronzeamento de pele não envolvida, o contraste entre áreas com vitiligo e a pele ao redor é impressionante. O vitiligo é geralmente assintomático, mas prurido pode ser notado. O vitiligo pode se desenvolver em qualquer lugar no corpo. É interessante notar que há uma predileção para locais que sejam relativamente hiperpigmentados, tais como a face, o dorso das mãos, mamilos, axilas, umbigo e regiões sacral, inguinal e anogenital. O vitiligo facial ocorre, tipicamente, ao redor dos olhos e da boca (periorificial) e, nas extremidades, predominam nos cotovelos, joelhos, dígitos, região flexora dos punhos, dorso dos tornozelos e região anterior das pernas. O início do vitiligo é geralmente insidioso. Muitos pacientes tornam-se cientes das manchas despigmentadas, especialmente em áreas expostas ao sol, durante o verão, quando o bronzeamento aumenta o contraste entre a pele envolvida e a não envolvida. A evolução exata das lesões precoces é desconhecida, mas é postulado que há uma perda progressiva e uniforme de pigmento até que uma mácula branca discreta seja aparente, que é seguida por alargamento centrífugo. É raro um eritema clínico preceder o vitiligo. Torna-se mais extenso pelo aparecimento de novas máculas despigmentadas, pelo aumento das lesões preexistentes ou por ambos os processos. O curso natural da doença é usualmente em progressão lenta, mas ela pode se estabilizar por longo período de tempo ou se espalhar rapidamente. O desenvolvimento do acometimento total da pele dentro de poucas semanas ou mesmo em poucos dias também é conhecido. Algum grau de repigmentação induzida pelo sol ou espontânea não é incomum no vitiligo, mas a repigmentação completa e estável é rara. As definições para o vitiligo estável e ativo não são universalmente aceitas. • Vitiligo ponctué, uma apresentação clínica pouco comum desta dermatose, é caracterizado por várias máculas amelanóticas muito pequenas (tipo confete) e discretas, algumas vezes superpostas sobre uma mácula hiperpigmentada. Embora uma margem hiperpigmentada circundando uma mácula de leucodermia tenha sido considerada específica para vitiligo, esta não é uma característica comum. • O eritema é ocasionalmente observado nas margens de lesões por vitiligo, que são chamados de vitiligo inflamatório ou “vitiligo com bordas inflamatórias elevadas”. • Uma variante papuloescamosa figurada também foi descrita. • Vitiligo azul pode resultar quando o vitiligo se desenvolve em áreas já afetadas por hiperpigmentação pós-inflamatória. • Vitiligo tricrômico apresenta uma zona hipopigmentada entre a pele normal e a totalmente despigmentada. A zona intermediária não possui uma graduação de cor de branco para normal, mas um tom levemente uniforme. O número de melanócitos também é intermediado nesta zona, sugerindo uma progressão centrífuga mais lenta do que no vitiligo típico. • No vitiligo tetracrômico, uma quarta cor mais escura está presente nos locais de repigmentação perifolicular. • Vitiligo pentacrômico, com cinco tonalidades de cor (preto, marrom escuro, marrom médio [pele não afetada], bronzeado e branco), também foi descrito. Uma das manifestações de vitiligo é o fenômeno isomórfico de Koebner (FIK), definido como o desenvolvimento da dermatose em sítios de trauma específico (p. ex. um corte, uma queimadura ou uma abrasão). O FIK é mais comum em pacientes com vitiligo progressivo não segmentar, mas pode afetar aqueles com vitiligo segmentar. Parece que há um limiar mínimo de lesão requerido para que o FIK ocorra, pondo em questão a hipótese de que traumas menores, como fricção com roupas (na ausência de lesão real), possam induzir a lesões de vitiligo Doença ocular O trato uveal (íris, corpo ciliar e coroide) e o epitélio pigmentado da retina contêm células pigmentares. Uveíte é a anormalidade ocular associada ao vitiligo mais significante. A forma mais grave de uveíte é vista na síndrome de Vogt-Koyanagi-Harada (VKM). Esta é um distúrbio multissistêmico caracterizado por uveíte, meningite asséptica, envolvimento ótico (p. ex., disacusia), juntamente com o vitiligo, especialmente das regiões de cabeça e pescoço, e poliose associada. Lesões despigmentadas não inflamatórias, ao exame de fundo de olho, estão presentes em alguns pacientes com vitiligo, e presumivelmente representam áreas focais de perda de melanócitos. Embora a perda auditiva sensorial tenha sido descrita em alguns pacientes (possivelmente refletindo um prejuízo dos melanócitos cocleares); uma evidência clara de anormalidades óticas ainda precisa ser demonstrada. A síndrome de Alezzandrini é um distúrbio raro, caracterizado pelo branqueamento dos cabelos, sobrancelhas e cílios, assim como a despigmentação da pele da região frontal, malar, nariz, lábio superior e mento, juntamente com mudanças visuais ipsilaterais. No olho afetado, existe decréscimo da acuidade visual e íris atrófica. Classificação Clínica Vários sistemas de classificação para o vitiligo foram propostos, gerando uma confusão na terminologia. As duas principais formas são geralmente reconhecidas: (1) a forma segmentar, que geralmente não cruza a linha média; e (2) a forma não segmentar, também chamada de vitiligo vulgaris. O vitiligo, segmentar e não segmentar, é ocasionalmente visto no mesmo paciente, com envolvimento de >1% da área de superfície do corpo e a presença de leucotriquia ou nevo halo. O seguinte esquema classificatório divide o vitiligo em três tipos gerais: Localizado • Focal: uma ou mais máculas em uma área, mas não de forma clara em uma distribuição segmentar • Unilateral/segmentar: uma ou mais máculas envolvendo um segmento unilateral do corpo; as lesões param abruptamente na linha média • Mucoso: somente membranas mucosas Generalizado • Vulgar: máculas dispersas que são amplamente distribuídas • Acrofacial: ex tremidades distais e face • Misto: várias combinações de segmentar, acrofacial e/ou vulgar Universal • Completo ou próximo da despigmentação total. Em nossa experiência (BOLOGNIA), acima de 90% dos pacientes com vitiligo apresentam o tipo generalizado. Nos restantes, o vitiligo localizado é mais comum do que o universal. O vitiligo segmentar é mais comum em crianças do que em adultos, sendo responsável por ∼15% a 30% do vitiligo em pacientes pediátricos. Diagnóstico Todo paciente com leucodermia deve ser cuidadosamente examinado tanto pela luz visível quanto pela UVA (i.e., comprimento de onda de ∼365nm em uma lâmpada de Wood). Esta última é em particular útil nas leucodermias circunscritas, em indivíduos com pele muito clara (tipos I ou II) e na de recém-nascidos. Sob a luz visível, algumas vezes torna- se difícil à distinção entre hipomelanose e amelanose, porém quanto maior for a perda de pigmentação epidérmica, maior será o contraste no exame pela lâmpada de Wood. Essa técnica também é útil na diferenciação entre máculas hipomelanóticas e leucodermias relacionadas à hemoglobina; por exemplo, o nevo anêmico que se torna inaparente. A maioria das leucodermias é diagnosticada clinicamente após histórico e exame físico completos. O exame histológico da pele envolvida é muito útil para hipomelanoses associadas aos processos inflamatórios (p. ex., sarcoidose, líquen escleroso). Ocasionalmente, a quantificação da densidade de melanócitos epidérmicos é realizada por meio de incubação do material de biópsia com di- hidroxifenilalanina (DOPA; detecta melanócitos com atividade da tirosina) ou pela imuno-histoquímica específica para melanócito tais como Mel-5 e Melan- A/MART-1. Estudos ultraestruturais são realizados primariamente, com finalidade de pesquisa, para caracterizar eventos subcelulares da melanogênese, porque poucos distúrbios hipomelanóticos possuem achados ultraestruturaiscaracterísticos. Tratamento Os objetivos do tratamento de vitiligo são repigmentação e estabilização do processo de despigmentação. A escolha de terapia depende da extensão, local e atividade da doença, além da idade, tipo de pele e motivação do paciente em se submeter ao tratamento. Em geral, um período de pelo menos 2 a 3 meses é necessário para determinar se um tratamento específico é eficiente. As áreas do corpo que geralmente apresentam a melhor resposta à terapia medicinal são a face, o pescoço, as extremidades médias e o tronco, enquanto as extremidades distais e os lábios são os mais resistentes ao tratamento. A repigmentação geralmente aparece em um padrão perifolicular e/ou a partir da periferia das lesões. Quando os pelos dentro da área de vitiligo estão despigmentados, o padrão anterior não é observado. Medicamentoso Corticosteroides Corticosteroides tópicos são úteis para áreas localizadas de vitiligo. Uma meta-análise mostrou que, aproximadamente, metade dos pacientes com vitiligo afetando ≤20% da área de superfície do corpo atingiram >75% de repigmentação com corticosteroides tópicos de classe 1 (superpotentes) ou classes 2 e 3 (de alta potência); a atrofia cutânea foi observada em 14% e 2% desses grupos, respectivamente. Para minimizar os efeitos colaterais, os corticosteroides de classe 1 podem ser usados em ciclos de 6 a 8 semanas ou duas vezes por semana, alternando com tacrolimo tópico ou um corticosteroide tópico menos potente; o tratamento deve ser interrompido se não houver melhora visível após 2 meses. Em geral, corticosteroides intralesionais devem ser evitados devido à dor associada à injeção e ao risco de atrofia cutânea, que ocorre em aproximadamente um terço dos pacientes que recebem este tratamento. Corticosteroides sistêmicos (terapia pulsada de alta dose, regimes minipulsados ou uma baix a dose oral diária) foram relatados como rapidamente interrompendo a expansão do vitiligo e induzindo a repigmentação. Entretanto, dado o potencial para efeitos colaterais sérios, a função dos corticoides sistêmicos no tratamento de vitiligo continua controversa. Inibidores de calcineurina tópicos Vários estudos mostram que a aplicação tópica de pomada de tacrolimo 0,1% ou creme de pimecrolimo 1%, duas vezes ao dia, pode levar à repigmentação do vitiligo, com taxas de resposta em pacientes pediátricos semelhantes àquelas atingidas com corticosteroides tópicos. Os melhores resultados são obtidos quando esses agentes são usados para lesões faciais e/ou combinados com exposição solar, com este último sugerindo um efeito sinérgico. Além disso, inibidores de calcineurina tópicos (TCIs) apresentaram uma melhora na repigmentação quando usados em conjunto com fototerapia UVB de banda estreita ou laser excimer de 308 nm. É de se notar que evitar a radiação UV é sugerida nas bulas de TCIs, e a taxa de risco precisa ser discutida com pacientes e estudada mais a fundo (especialmente em crianças). O tacrolimo tópico pode ser usado em conjunto com corticosteroides tópicos. Foto(quimio)terapia UVB de banda estreita Em geral, o UVB de banda estreita é considerado mais eficiente do que o UVB de banda larga no tratamento do vitiligo. Vários estudos demonstraram a eficácia da monoterapia NB-UVB. A dose inicial varia de 100 a 250 mJ/cm2, que é aumentada em incrementos de 10% a 20% a cada exposição subsequente até que o eritema assintomático leve seja alcançado dentro das lesões. Tratamentos são administrados de duas a três vezes por semana, mas não em dois dias consecutivos. Efeitos colaterais de curto prazo incluem prurido e xerose; efeitos colaterais de longo prazo (p. ex., carcinogênese cutânea) não foram descritos. As vantagens de NB-UVB sobre a terapia psoralenos mais UVA (PUVA) incluem menor tempo de tratamento, ausência de efeitos colaterais gastrointestinais, reações fototóxicas reduzidas e fotoproteção pós-tratamento desnecessária; além disso, NB-UVB pode ser usado em crianças, mulheres grávidas ou lactantes e em indivíduos com disfunção hepática ou renal. Ademais, o NB-UVB produz menor acentuação do contraste entre pele despigmentada e pele normalmente pigmentada. O NB-UVB se tornou a primeira escolha de terapia para adultos e crianças com vitiligo generalizado, especialmente se envolve ≥20% da área de superfície do corpo ou áreas cosmeticamente sensíveis que normalmente respondem ao tratamento. Psoraleno mais UVA Fotoquimioterapia com psoraleno envolve o uso de psoralenos combinados com radiação UVA. O psoraleno mais comumente usado é o 8-metox ipsoraleno (8-MOP, metoxsaleno). O 5-metox ipsoraleno (5- MOP, bergapteno) não possui aprovação de uso nos EUA e o 4,5’,8-trimetilpsoraleno (TMP, trioxsaleno) não está mais disponível comercialmente. Psoralenos podem ser administrados oralmente ou aplicados topicamente, seguidos por exposição tanto à radiação UVA artificial como à luz solar natural (PUVASOL). Tratamentos PUVA oral usando 8-MOP (0,4–0,6 mg/kg) são tipicamente administrados duas vezes por semana. Para pacientes com vitiligo, a dose inicial de UVA é, em geral, de 0,5 a 1,0 J/cm2, que é aumentada de modo gradual até que um mínimo eritema assintomático ocorra na pele envolvida. Para reduzir o risco do fenômeno de Koebner, eritema significante (fototoxicidade) é evitado. 5-MOP possui cerca da mesma taxa de resposta que o 8-MOP na repigmentação do vitiligo, mas uma menor incidência de efeitos adversos, incluindo fototoxicidade reduzida além de menos náuseas e vômitos. A taxa de resposta com PUVA é variável; embora a maioria dos pacientes obtenha uma melhora cosmeticamente aceitável, a repigmentação completa é alcançada em apenas poucos pacientes. O número total de tratamentos PUVA necessários é geralmente entre 50 e 300. Até o momento, apenas poucos pacientes que sofrem de vitiligo com carcinomas cutâneos PUVA induzidos têm sido relatados. Embora isso provavelmente reflita em uma dose cumulativa de UVA menor que nos pacientes tratados para outros distúrbios (tais como psoríase), estudos de longo seguimento em pacientes com vitiligo tratados por PUVA ainda não foram feitos. PUVA tópica (pintura) é mais difícil de administrar pelo alto risco de fototoxicidade (p. ex., bolhas, koebnerização) das formulações tópicas de psoraleno. Baixas concentrações (≤0,1%) devem ser usadas, e necessitam de diluição da preparação comercialmente disponível. Aproximadamente 20 a 30 minutos após aplicar o preparado tópico (creme ou pomada) sobre as lesões, o paciente deve ser exposto a uma dose inicial de UVA de não mais que 0,25 J/cm2, com incrementos em frações similares até que o eritema seja atingido nas áreas tratadas. PUVASOL (psoralenos + luz solar natural) pode ser utilizado em climas ensolarados, de acordo com os mesmos princípios do PUVA. Psoralenos orais menos fototóxicos, tais como 5-MOP, são preferidos para evitar reações fototóxicas. Outras formas de fototerapia A microfototerapia focada possui a vantagem de irradiar somente a pele afetada. Um feixe direcionado de luz UVB de banda larga ou banda estreita é aplicado nas áreas de vitiligo. Tratamentos são administrados várias vezes por semana até duas vezes por mês, algumas vezes com um impulso inicial de tratamentos diários por 5 dias. Em um grande estudo, 70% dos pacientes recebendo uma média de 24 tratamentos durante um período de 12 meses atingiram >75% de repigmentação. Lasers e dispositivos de luz relacionados Laser e lâmpada excimer O comprimento de onda operacional de 308nm do laser e lâmpada excimer é próximo ao utilizado no NB-UVB. O benefício terapêutico do laser excimer para o vitiligo foi investigado em vários estudos, e, em geral, 20% a 50% das lesões atingiram ≥75% repigmentação; a lâmpada excimer parece ter uma eficácia semelhante. Máculas localizadas de vitiligo são tratadas de uma a três vezes por semana em uma média de 24 a 48 sessões, coma taxa de repigmentação dependendo do número total de sessões, não de sua frequência. Eritema e (raramente) bolhas representam efeitos colaterais potenciais. Laser de hélio-neon O laser de hélio-neon emite um comprimento de onda (632,8nm) na faixa de luz vermelha visível que pode intensificar a proliferação de melanócitos e melanogênese in vitro. Em um estudo realizado em 30 pacientes com vitiligo segmentar, 20% das lesões atingiram ≥75% repigmentação após uma média de 79 sessões de tratamento, que foram administradas uma ou duas vezes por semana. Terapias cirúrgicas Para pacientes com vitiligo que não respondem à terapia medicamentosa, o tratamento cirúrgico com técnicas de transplante autólogos pode ser uma opção. Os critérios gerais de seleção para transplante autólogo são de uma doença estável por no mínimo 6 meses, resposta não satisfatória à terapia medicamentosa, ausência do fenômeno de Koebner, um teste de minienxerto positivo (retenção/expansão do pigmento no local de recepção e nenhuma koebnerização no local doador após 2–3 meses), nenhuma tendência a cicatrizes ou formação de queloides e idade acima dos 12 anos. Vários métodos de repigmentação cirúrgica foram utilizados com sucesso. O minienxerto é a técnica mais simples. Pequenos enxertos, retirados com punch (1–2 mm), de pele não envolvida são implantados dentro das áreas acrômicas, separados uns dos outros por 5 a 8 mm. Um efeito de paralelepípedo, uma aparência variegada dos enxertos, e os sulcos representam resultados potencialmente desfavoráveis. Já que cicatrizes e despigmentação podem ocorrer nos sítios doadores, selecionam-se áreas cosmeticamente indiferentes. As vantagens do enxerto epidérmico de bolhas de sucção são a ausência de cicatriz e a possibilidade de reutilização do sítio doador. No entanto, a falha na pega do enxerto e o fenômeno de Koebner podem ocorrer. Enxerto de melanócitos autólogos cultivados é uma técnica cara que requer perícia laboratorial especializada; os enxertos consistem em melanócitos puros ou melanócitos misturados com queratinócitos. Para evitar a necessidade de cultura in vitro (que envolve mitógenos para aumentar o crescimento celular), enxertos de suspensões celulares epidérmicas não cultivadas que incluem melanócitos foram defendidos. Enxertos de cabelo individual para repigmentar a leucotriquia por vitiligo também foram realizados com sucesso. A maioria dessas técnicas requer perícia clínica e os candidatos devem ser cuidadosamente selecionados. Terapias combinadas A terapia de combinação pode produzir altas taxas de repigmentação comparadas às monoterapias tradicionais. Exemplos incluem fototerapia após procedimentos cirúrgicos e TCIs ou corticosteroides tópicos em conjunto entre si, NB-UVB ou terapia com laser excimer. Embora derivados de vitamina D tópicos sejam relativamente ineficientes como monoterapia, esses agentes podem resultar em repigmentação adicional quando usados em conjunto com a fototerapia. Micropigmentação A técnica de micropigmentação dérmica permanente utiliza um pigmento de óxido de ferro não alergênico para camuflar áreas recalcitrantes de vitiligo. Este método de tatuagem é especialmente útil para áreas da pele com taxas de repigmentação sabidamente pobres, pelos tratamentos disponíveis atualmente (p. ex., os lábios, mamilos e região distal dos dedos). Embora a cor muitas vezes não seja perfeitamente comparável à da pele normal ao redor, o resultado é imediato e pode representar uma melhora estética considerável. No entanto, a cor pode esmaecer gradualmente, ao longo dos anos. Despigmentação A despigmentação representa uma opção de tratamento para pacientes que possuem vitiligo muito difundido com somente algumas poucas áreas de pele normalmente pigmentada em locais expostos. Os pacientes devem ser escolhidos de forma criteriosa, isto é, adultos os quais reconheçam que sua aparência será significativamente alterada compreendem que a despigmentação requer fotoproteção rígida para toda a vida (p. ex., filtro solar, vestimentas, sombrinha). O agente mais comumente utilizado é o monobenziléter de hidroquinona a 20% (MBEH), aplicado uma ou duas vezes por dia nas áreas afetadas por 9 a 12 meses ou mais. MBEH é potencialmente irritante e alergênico, e um teste de uso aberto deve ser realizado antes de a aplicação ser mais difundida. Em geral, leva de 1 a 3 meses para a resposta começar a surgir, e a perda de pigmento pode ocorrer nas áreas distantes. Embora a despigmentação pelo MBEH seja considerada permanente, a repigmentação (especialmente perifolicular em áreas com pelos pigmentados) pode ser vista seguida de uma queimadura solar ou mesmo exposição intensa ao sol. O monometiléter de hidroquinona em creme a 20% pode ser usado como alternativa ao MBEH. Efeitos colaterais incluem dermatite de contato, ocronose exógena e leucomelanodermia em confete. A despigmentação via terapia com laser de rubi Q-switched foi alcançada mais rapidamente do que com agente clareador, segundo relato. E este laser também tem sido usado em combinação com 4-metoxifenol, para induzir despigmentação. A despigmentação com o laser de alexandrita Q-switched também foi descrito. Suporte psicológico O impacto do vitiligo é grave na qualidade de vida de muitos indivíduos afetados, e é fundamental que os médicos reconheçam este aspecto da condição e atendam às necessidades psicológicas de seus pacientes. Embora um tratamento “mágico” ainda não esteja disponível, sempre há algum benefício que possa ser feito para pacientes com vitiligo. Primeiro, eles precisam saber o que é essa doença de pele. Explicar a natureza do processo da enfermidade, o potencial e os limites das terapias disponíveis é importante e mais produtivo do que uma atitude fatalista de que não há cura e de que o vitiligo é “apenas” um distúrbio cosmético. Até ajudar pacientes a esconder a condição de forma que não seja visível pode ser parte do processo. O uso de grupos de suporte e, se indicado, aconselhamento psicológico são terapias suplementares importantes. Terapias adicionais controversas Pseudocatalase com UVB de banda estreita A justificação para este tratamento é baseado na hipótese de que o acúmulo de peróxido de hidrogênio leve à inativação patogênica da catalase na pele de pacientes com vitiligo. Em um estudo aberto não controlado, a repigmentação completa de lesões na face e mãos foi observada em 30 (90%) de 33 pacientes tratados com pseudocatalase tópica e cálcio duas vezes ao dia, mais UVB duas vezes por semana, com repigmentação inicial em 2 a 4 meses. Contudo, não se sabe a qual(is) agente(s) deve ser atribuída a repigmentação– UVB e/ou pseudocatalase. Terapia sistêmica antioxidante O argumento, para esta abordagem, repousa na hipótese de que o vitiligo resulta de uma deficiência de mecanismos antioxidantes naturais. Embora até o momento não seja validado por testes clínicos controlados, o selênio, a metionina, tocoferois, ácido ascórbico e ubiquinona são prescritos por alguns médicos. Tratamentos potenciais emergentes A dermoabrasão seguida de 5- fluorouracil tópico e UVB de banda estreita A ablação a laser de érbio: YAG de lesões de vitiligo seguida de aplicação tópica de 5-fluorouracil e terapia de NB-UVB levou a uma repigmentação de ≥75% em ∼45% dos pacientes, quando comparado com uma taxa de 8% para lesões no lado oposto do corpo onde foram tratadas somente com NB-UVB. Prostaglandinas tópicas Um estudo preliminar sugeriu a utilidade da prostaglandina E2 tópica no tratamento de vitiligo. Embora interessante esses resultados necessitam confirmação. Referências: BOLOGNIA – Dermatologia 3. Ed. UpToDate
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