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Procedimentos Cirúrgicos na Atenção Primária à Saúde Sumário Introdução ......................................................... Anestesia Local ................................................. Drenagem de Abscesso .................................... Exérese de Cistos, Lipomas e Nevos ................ Cisto Sebáceo.......................................................... Lipoma ....................................................................... Nevos ......................................................................... Lobuloplastia .................................................... Verrugas ............................................................ Fale com a Sanar ............................................... Referências bibliográficas ................................ 03 04 06 12 13 17 23 28 32 37 38 Introdução A atenção primária à saúde é o primeiro contato do usuário com o serviço de saúde. É neste serviço que a maioria, cerca de 80 a 90%, dos problemas de saúde da população em geral será resolvido. Para atingir essa resolubilidade o serviço deve incluir a oferta de co-procedimentos ambulatoriais, tanto clínicos quanto cirúrgicos. Os serviços de Atenção Básica do nosso país (UBS, ESF, clínica da família, etc) dispõe de insumos e materiais necessários para a realização de grande parte dos procedimentos aqui descritos. A realização desses procedimentos amplia o acesso dos usuários, otimiza a integralidade e resolutividade do cuidado e contribui para a redução da sobrecarga nos demais níveis de atenção. Os procedimentos podem ser tanto eletivos quanto por demanda espontânea. 03 Faremos uma breve revisão dos procedimentos de anestesia local uma vez que são de extrema importância na realização de alguns procedimentos médicos descritos neste material. A injeção subcutânea de anestésico bloqueia temporariamente a despolarização e, portanto, a transmissão dos terminais nervosos livres da derme e tecido subcutâneo, diminuindo a percepção da dor, o que permite a intervenção. Existem diversos tipos de anestésicos locais, com propriedades e tempo de duração diferentes (lidocaína, bupivacaína, mepivacaína e procaína). A lidocaína será abordada como foco principal, uma vez que é a principal medicação utilizada em nosso meio. Trata-se de um anestésico da classe das amidas, que têm início da ação em cerca de 2 a 5 minutos após injetado, com duração de ação de cerca de 50 - 120 minutos. A dose recomendada é de 4 - 5 mg/kg, com dose máxima de 300 mg para evitar a toxicidade. A mesma pode ser combinada com vasoconstritores (epinefrina 1:200.000) que aumentam a sua duração de ação para uma média de 60 a 180 minutos e contribuem para menor sangramento durante o procedimento. O uso de anestésico combinado com vasoconstritor é contraindicado em extremidades como nariz, orelha, dedos e pênis, pelo risco de isquemia. A técnica de aplicação do anestésico pode ser realizada de três formas principais: infiltração direta, bloqueio de campo regional ou bloqueio de nervos periféricos. 04 Anestesia Local O procedimento se inicia com a assepsia da região com uso de solução de iodopovidona ou clorexidina com o uso de gaze estéril. Na infiltração direta, a agulha com a solução anestésica é inserida na região proximal, diretamente na ferida, buscando alcançar o subcutâneo. Recomenda-se inserir totalmente a agulha até a região mais distal possível, e seguir inoculando a medicação na medida que a agulha é removida. Prossegue-se para a região mais distal a partir do último ponto de anestésico injetado, realizando a mesma técnica, visando anestesiar toda a ferida até sua porção mais distal. Deve ser realizada aspiração antes da introdução de anestésico. A técnica de bloqueio de campo é utilizada quando estamos lidando com feridas contaminadas ou drenagem de abscesso, o que impossibilita a inoculação no local devendo ser ao redor da lesão. A administração do anestésico deve ser realizada na pele íntegra, saudável, adjacente à região da ferida contaminada ou abscesso, sempre avançando a agulha de proximal para distal visando anestesiar toda a ferida. O bloqueio de nervos periféricos consiste na administração de anestésico em regiões adjacentes aos nervos ou plexos. Pode ser empregada quando não se consegue assepsia adequada em feridas contaminadas por dor excessiva, ou em procedimentos cirúrgicos maiores, quando há contraindicação à anestesia geral. Seu estudo em maior profundidade foge ao escopo deste manual, uma vez que é pouco utilizado nos procedimentos listados. 05 Um abcesso é definido por uma coleção de pus na derme e tecidos mais profundos subjacentes. Já o furúnculo consiste na infecção de uma unidade pilossebácea, que se estende até camadas profundas da derme e tecido celular subcutâneo. O termo carbúnculo se refere à coalescência de furúnculos, resultando em um conglomerado inflamatório com drenagem cutânea. São causados em sua grande maioria por bactérias da microbiota cutânea como o Staphylococcus aureus e o Streptococcus pyogenes (Streptococcus do grupo B). Bacilos Gram negativos são encontrados em uma minoria dos casos. Fatores predisponentes incluem Diabetes Melito, imunodeficiência e quebra da barreira de pele, como ocorre em traumas, escarificações, picaduras de insetos, úlceras de pressão, inflamação de pele (eczema, radioterapia, psoríase), obesidade, dentre outros. Essas lesões se apresentam como uma coleção de pus nodular dolorosa no espaço subcutâneo, flutuante, podendo apresentar sinais flogísticos (calor, rubor, edema, dor), adenopatia regional e drenagem espontânea de secreção. Sinais de toxicidade sistêmica como febre e calafrios não são comuns. Podem vir associados ou não com celulite local. Furúnculos e carbúnculos costumam se apresentar em áreas ricas em folículos pilosos expostas à fricção e suor, tendo destaque regiões como face, axila e barba. Os diagnósticos diferenciais incluem: foliculite, hidradenite supurativa, miíase, leishmaniose e blastomicose. 06 Drenagem de Abscesso 07 Figura 1 - Desenho esquemático da formação de um abscesso cutâneo. Fonte: 2021 UpToDate, Inc. and/or its affiliates. All Rights Reserved. O procedimento de drenagem é o tratamento de escolha na grande maioria dos casos. Os locais que merecem atenção especial são o trígono na face e a região perineal. O primeiro, formado pelo dorso do nariz e comissuras labiais, pode evoluir com extensão da infecção para o Sistema Nervoso Central através do seio cavernoso. O segundo deve ser tratado com a maior brevidade possível, mesmo antes da presença de flutuação, devido ao risco de evoluir com fasceíte necrotizante dos planos profundos (Síndrome de Fournier). Sempre que houver suspeita de gravidade, encaminhar para avaliação no serviço de referência. Figura 2 - Abscesso em membro superior. Fonte: 2021 UpToDate, Inc. and/or its affiliates. All Rights Reserved. Figura 3 - Skin Abscesses, Furuncles, and Carbuncles Fonte:https://www.dynamed.com/condition/skin-ab scesses-furuncles-and-carbuncles 08 • Solução de iodopovidona tópica ou clorexidina • Lidocaína 1% sem vasoconstrictor para anestesia local • Campos estéreis • Material para procedimento: bisturi, pinça hemostática curva, pinça anatômica, tesoura, porta-agulha ("kit pequenas cirurgias") • Lâmina de bisturi • Soro fisiológico para irrigação • Dreno de Penrose (se disponível) • Fio de sutura nylon • Luva esterilizada • Seringa de 5 ml • Agulha 40 x 12mm (18G Rosa) • Agulha hipodérmica (de insulina) • Swab de cultura, se necessário • Máscara e óculos para proteção Materiais necessários para realização do procedimento Técnica 1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização; 2. Verifique se o abscesso possui flutuação; 3. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópicodisponível e cubra-a com o campo estéril; 4. Usando a agulha 40 x 12mm, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 4-5 mg/kg, máximo de 300 mg). Troca-se a agulha pela hipodérmica; 5. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve realizar-se aproximadamente a 1 cm do perímetro de maior sinal de flutuação, com o cuidado de injetar no subcutâneo. Afinal, a anestesia é para a pele, para a confecção da abertura, nada a mais; 6. Depois, continue a fazer o bloqueio de maneira linear, ao longo da linha de incisão projetada, que deve ser longa; 7. Uma vez realizada a anestesia, faz-se uma incisão longa e profunda o suficiente ao longo da linha da pele para promover a drenagem espontânea de secreção purulenta. Não adianta fazer pequenas incisões, pois isso pode levar à recidiva dos abscessos; 8. Depois da drenagem espontânea, evite espremer a pele circunjacente, pois pode promover a proliferação da infecção para o tecido subcutâneo adjacente. Coloca-se a pinça hemostática na cavidade, a fim de quebrar as loculações e liberar quaisquer bolsas de material purulento residuais; 9. Irrigue a cavidade com soro fisiológico para limpeza do local; 09 10 10. Introduza uma gaze ou um dreno de Penrose no local, com 1 a 2 cm para fora da incisão, para permitir drenagem adequada e impedir que a incisão fique selada. Se necessário, pode ser fixado com um ponto simples frouxo de nylon 3.0; 11. Curativo com gaze. Figura 4 - Melhor Set de Instrumentos para pequenas cirurgias. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. Figura 5 - Antissepsia da região operatória com iodopovidona. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. Figura 6 - Posicionamento do campo operatório estéril Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. Figura 7 - Aplicação de Anestésico Local Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. 11 Dentre as possíveis complicações do procedimento, podemos citar: recidiva do abscesso, especialmente se o tamanho da incisão não for grande o suficiente para adequada drenagem e o local não for explorado corretamente, com a permanência de secreção loculada; sangramento e disseminação sistêmica da infecção, ainda que raro. O paciente deverá retornar em 1 ou 2 dias para remoção das gazes, dreno e verificação adequada da ferida. O paciente deverá trocar os curativos diariamente e deve ser instruído quanto a sinais de gravidade, como febre e calafrios. Deve-se associar antibioticoterapia caso haja celulite perilesional associada, imunossupressão ou presença de corpo estranho/prótese (telas e cateteres, por exemplo). Faz-se uso, mais comumente, de: penicilinas, cefalosporinas de 1º geração e quinolonas. Analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais podem ser adicionados para alívio sintomático. É esperado que haja cicatrização da incisão entre 7 e 10 dias. Figura 8: Incisão do abscesso com bisturi Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. Figura 9 - Drenagem de material purulento em grande monta Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=x5bJY-opx3Q. Exérese de Cistos Lipomas Nevos 13 Sua formação tem gênese na oclusão de um conduto de um glândula sebácea, resultando na acumulação à jusante de sebo. Afetam mais comumente áreas como couro cabeludo, pescoço e face. São predominantemente assintomáticos, tendo crescimento lento e tamanhos variados. Manifesta-se como uma tumoração local, arredondada, pouco consistente, ligada à superfície externa por um ducto excretor que drena secreção caseosa, fétida e amorfa. Quando há infecção, se apresenta com sinais flogísticos. O tratamento inclui a exérese cirúrgica, contendo a cápsula para evitar reacumulação e recidiva. Diante a suspeita de infecção, deverá ser feita a drenagem tal qual um abcesso simples, para evitar a disseminação da infecção. Cisto Sebáceo Figura 10 - Cisto Sebáceo em região frontal Fonte: DERMIS, 2010 14 Materiais necessários para realização do procedimento • Solução de iodopovidona tópico ou clorexidina • Lidocaína 1% sem vasoconstrictor para anestesia local • Campos estéreis • Material para o procedimento: pinça hemostática curva, pinça dente de rato, pinça anatômica, tesoura reta, tesoura curva, porta-agulha • Lâmina de bisturi • Soro fisiológico para irrigação • Gaze • Luva esterilizada • Seringa de 5 ml • Agulha 40 x 12mm (18G Rosa) • Agulha hipodérmica (de insulina) • Fio de sutura nylon 2.0, 3.0, 4.0 • Máscara e óculos para proteção 15 Técnica 1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização; 2. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a com o campo estéril; 3. Usando a agulha 40 x 12mm, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 4-5 mg/kg, máximo de 300 mg). Troca-se a agulha pela hipodérmica. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve realizar-se aproximadamente sobre o meio da lesão, com o cuidado de injetar no subcutâneo; 4. Depois, continue a fazer o bloqueio de maneira linear, ao longo da linha de incisão projetada, de acordo com as linhas de força da pele; 5. Uma vez realizada a anestesia, faz-se uma incisão longa e profunda o suficiente até identificar a cápsula do cisto; 6. Ressecção do cisto, sem romper a cápsula. Se a cápsula for rompida durante o procedimento, retira-se todo o material interno e segue-se a sua total remoção; 7. Irrigar a cavidade com soro fisiológico para limpeza do local; 8. Hemostasia; 9. Sutura da pele com pontos simples ou intradérmicos. O fio a ser utilizado depende do local do corpo que foi realizado o procedimento. Se o espaço morto residual for importante, considerar o uso de um dreno de Penrose; 10. Curativo com gaze. OBS: Caso o Dreno de Penrose não se encontre disponível na unidade, pode-se fazer uso da técnica “A La Bela Gil”, que consiste no uso de um dedo de uma luva cirúrgica estéril, removendo as extremidades a fim de se criar conduto pérvio, de látex, que permita a drenagem da secreção, em substituição ao dreno tradicional. 16 Figura 11 - Incisão cirúrgica para drenagem de cisto sebáceo. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DZY6RGuqe7s. Figura 13 - Exérese completa do cisto. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DZY6RGuqe7s. Figura 12 - Uso de pinça com pontas rombas para auxiliar na dissecção da cápsula do cisto. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=DZY6RGuqe7s. 17 O lipoma se constitui de uma neoplasia de células adiposas, podendo ocorrer em qualquer região do corpo com a presença de tecido adiposo como nádegas, dorso, pescoço, sendo mais comum superficialmente, no tecido subcutâneo. Raramente envolvem a fáscia ou tecido muscular profundo. É o tumor de partes moles benigno mais frequente. São geralmente assintomáticos, podendo apresentar discreta dor local nos casos em que tem crescimento acentuado. Frequentemente, pacientes se apresentam com mais de um lipoma e ocasionalmente podem ser portadores de Lipomatosa Familiar Múltipla, uma síndrome genética que se apresenta com a formação de múltiplos lipomas em diversos membros da família. A transformação maligna de um lipoma em um lipossarcoma é extremamente rara. Lipoma Figura 14 - Lipoma em região dorsal Fonte: GOODTOKNOW, 2010 18 • Solução de iodopovidona tópico ou clorexidina • Lidocaína 1 % sem vasoconstrictor para anestesia local • Campos estéreis • Material para o procedimento: pinça hemostática curva, pinça dente de rato, pinça anatômica, tesoura reta, tesoura curva, porta-agulha • Lâmina de bisturi • Soro fisiológico para irrigação • Gaze • Luva esterilizada • Seringa de 5 ml • Agulha 40 x 12mm (18G Rosa) • Agulha hipodérmica (de insulina) • Fio de sutura nylon 2.0, 3.0, 4.0 • Máscara e óculos para proteção Materiais necessários para realização do procedimento 19 Técnica 1. Explique o procedimentoao paciente e obtenha autorização; 2. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a com o campo estéril; 3. Usando a agulha 40 x 12mm, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 4-5 mg/kg, máximo de 300 mg). Troca-se a agulha pela hipodérmica. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve realizar-se aproximadamente sobre o centro da lesão, com o cuidado de injetar no subcutâneo; 4. Depois, continue a fazer o bloqueio de maneira linear, ao longo da linha de incisão projetada, de acordo com as linhas de força da pele; 5. Uma vez realizada a anestesia, de acordo com as linhas de força da pele, faz-se uma incisão longa e profunda o suficiente até identificar o lipoma; 6. Ressecção do lipoma; 7. Irrigue a cavidade com soro fisiológico para limpeza do local; 8. Hemostasia; 9. Sutura da pele com pontos simples ou intradérmicos. O fio a ser utilizado depende do local do corpo que foi realizado o procedimento. Se o espaço morto residual for importante, considerar o uso de um dreno de Penrose; 10. Curativo com gaze; 11. Enviar o material retirado para análise anatomopatológica. 20 Figura 15 - Antissepsia da região operatória com iodopovidona. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU. Figura 17 - Aplicação de Anestésico Local Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU. Figura 16 - Posicionamento do campo operatório estéril Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU 21 Figura 19 - Uso de Pinça com pontas rombas para auxiliar na diérese. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU Figura 18 - Incisão do Lipoma com Bisturi Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU 22 Figura 21 - Síntese por planos da ferida operatória. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU Figura 20 - Ressecção do lipoma Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=c9ZfBaudrbU 23 Nevos são formações cutâneas compostas por depósito de pigmento melânico. Existem diversos subtipos como: pigmentados, dérmicos, hipodérmicos e hipocrômicos. Podem ser encontrados em qualquer região do corpo. Em alguns casos podem esconder lesões pré-cancerígenas e isso justifica o envio da amostra para análise anatomopatológica. Nevos Figura 22 - Nevos melanocítico Fonte: DERMIS, 2010 24 • Solução de iodopovidona tópico ou clorexidina • Lidocaína 1 % sem vasoconstrictor para anestesia local • Campos estéreis • Material para o procedimento: pinça hemostática curva, pinça dente de rato, pinça anatômica, tesoura reta, tesoura curva, porta-agulha • Lâmina de bisturi nº 11 • Soro fisiológico para irrigação • Gaze • Luva esterilizada • Seringa de 5 ml • Agulha 40 x 12mm (18G Rosa) • Agulha hipodérmica (de insulina) • Fio de sutura nylon 2.0, 3.0, 4.0 • Máscara e óculos para proteção Materiais necessários para realização do procedimento 25 Técnica 1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização; 2. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a com o campo estéril; 3. Usando a agulha 40 x 12mm, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 4-5 mg/kg, máximo de 300 mg). Troca-se a agulha pela hipodérmica. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve realizar-se aproximadamente a 1 cm do perímetro da lesão, na sua circunferência, com o cuidado de injetar no subcutâneo; 4. Faz-se incisão elíptica simples, sem margens ao redor da lesão; 5. Hemostasia; 6. Sutura da pele com pontos simples ou intradérmicos. O fio a ser utilizado depende do local do corpo que foi realizado o procedimento; 7. Curativo; 8. Colocar a peça cirúrgica num frasco com formol. Identificá-la e encaminhá-la para análise anatomopatológica. Sempre descrever a lesão e os sintomas para auxiliar o patologista. 26 Figura 24 - Anestesia local com técnica de bloqueio de campo regional, com infiltração angular. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at -a-glance-hot-topics-and-new-insights/skills-in-minor-sur gical-procedures-in-family-medicine Figura 25 - Infiltração de anestésico em técnica de bloqueio de campo regional, com infiltração perilesional, através de múltiplas infiltrações. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at -a-glance-hot-topics-and-new-insights/skills-in-minor-sur gical-procedures-in-family-medicine Figura 23 - Características de uma incisão elíptica. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at-a-glance- hot-topics-and-new-insights/skills-in-minor-surgical-procedures-in-f amily-medicine 27 Figura 28 - Síntese da ferida operatória. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at-a-glance-hot-topic s-and-new-insights/skills-in-minor-surgical-procedures-in-family-medicine Figura 27 - Ressecção em bloco de lesão com dissecção de planos profundos com bisturi. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at-a-glance-hot-topics-and-new -insights/skills-in-minor-surgical-procedures-in-family-medicine Figura 26 - Incisão elíptica da pele para remoção de um nevus. Deve ser performada em corte limpo, sem serrilha, segurando o bisturi como um lápis. Fonte:http://www.intechopen.com/books/primary-care-at-a-glance-hot-topics-an d-new-insights/skills-in-minor-surgical-procedures-in-family-medicine 28 A laceração do lóbulo da orelha é um acontecimento cada vez mais comum, uma vez que o uso de brincos e adornos tem se tornado mais popular. A lesão geralmente resulta do uso de brincos grandes e pesados pelo efeito da gravidade, pelo trauma direto, avulsões, lesões em esportes, mordeduras animais, dentre outros. A intervenção cirúrgica quase sempre se faz necessária, uma vez que a cicatrização por segunda intenção causa defeitos estéticos muito marcantes, podendo inclusive complicar com retrações e infecções. Existem diversas pequenas variações de técnicas apresentadas na literatura, sendo um motivo de debate dentro da cirurgia plástica. Vamos apresentar aqui um conceito geral que pode ser utilizado, com bons resultados dentro de uma Unidade Básica de Saúde. Lobuloplastia • Solução de iodopovidona tópico ou clorexidina • Lidocaína 1 % com vasoconstrictor para anestesia local • Campos estéreis • Material para o procedimento: pinça hemostática curva, pinça dente de rato, pinça anatômica, tesoura reta, tesoura curva, porta-agulha • Lâmina de bisturi Materiais necessários para realização do procedimento 29 • Soro fisiológico para irrigação • Gaze • Luva esterilizada • Seringa de 5 ml • Agulha 40 x 12mm (18G Rosa) • Agulha hipodérmica (de insulina) • Fio de sutura nylon 4.0, 5.0 ou 6.0 • Máscara e óculos para proteção Técnica 1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização; 2. O procedimento se inicia com o posicionamento do paciente, em decúbito lateral, deixando a orelha acometida voltada para cima; 3. O procedimento deve ser realizado de maneira asséptica. Com as luvas estéreis, máscara e óculos de proteção, prepare a área afetada com um agente tópico disponível e cubra-a com o campo estéril; 4. Usando a agulha 40 x 12mm, aspira-se o anestésico do frasco (dose de 5-7 mg/kg, máximo de 500 mg). Troca-se a agulha pela hipodérmica. Introduza o anestésico numa técnica de bloqueio de campo regional. A anestesia deve realizar-se aproximadamente a 1 cm do perímetro da lesão, na sua circunferência, com o cuidado de injetar no subcutâneo. O uso do vasoconstritor é benéfico para este tipo de reparo porque diminui o sangramento, permitindo melhor visualização e coaptação mais estética de bordas; 30 5. Faz-se uma incisão utilizando a lâmina de bisturi nº 11 abrangendo toda a espessura do lóbulo da orelha objetivando a remoção completa da lesão e criação de novas margens cirúrgicas mais regulares; 6. Hemostasia;7. Sutura da pele com pontos simples. O fio utilizado depende do tamanho da laceração e da disponibilidade do serviço; 8. Curativo com gaze. Figura 30 - Margens cirúrgicas novas após excisão do defeito de lóbulo de orelha Fonte: The Journal of Urgent Care Medicine Figura 29 - A: Lacerações de Lóbulo da orelha direita por uso de adornos pesados. As linhas pontilhadas indicam as margens a serem excisadas. B: Local de implantação do brinco precursor da lesão. Fonte: The Journal of Urgent Care Medicine 31 A remoção dos pontos deve ser realizada com 7 - 14 dias, com resultado cosmético satisfatório. O uso de pomadas cicatrizantes comuns podem auxiliar na melhora estética da cicatriz. Antibióticos devem ser prescritos para feridas com sinais de inflamação, contaminação e lesões por mordedura. Para melhores resultados, o paciente deve esperar 6 meses para colocação de novo piercing. O médico em unidade básica de saúde deve referenciar o paciente para cirurgia plástica em vigência de quadros mais graves, como: lesões contusas importantes, avulsão quase total/total de lóbulo da orelha, lesões que afetam a cartilagem do pavilhão auricular, hematomas auriculares (que podem evoluir para “orelhas em couve-flor”), envolvimento de meato acústico externo e lesões que necessitem de remoção de tecido acima de 5 Figura 31 - Sutura simples realizada circunferencialmente ao redor do defeito em lóbulo de orelha direita. Fonte: The Journal of Urgent Care Medicine 32 Verrugas podem ser definidas por proliferações benignas que ocorrem a partir de um infecção viral, predominantemente o HPV, em suas mais variadas cepas, da epiderme ou mucosa. São geralmente assintomáticas, porém dependendo da localização, podem ser dolorosas, como as lesões plantares. O desfecho mais comum é a resolução espontânea, especialmente em imunocompetentes. Contudo, algumas complicações podem surgir, como infecção bacteriana secundária e o aumento de tamanho e número de lesões, sendo mais comuns em pacientes imunossuprimidos. A transmissão se dá através do contato físico entre as pessoas, podendo também ocorrer casos de auto inoculação. O grau de infectividade é alto nas verrugas genitais (a despeito da baixa quantidade de vírus na lesão) e baixo nas verrugas comuns e plantares (apesar da alta concentração do vírus). O período de incubação é variável, podendo variar de 2 a 6 meses. Fatores de risco incluem: dermatite atópica, imunossupressão, comportamento sexual de risco. A classificação varia de acordo com a localização e a morfologia. A Verruga Vulgar representa cerca de 70% de todas as verrugas e manifesta-se por pápulas com hiperceratose, que podem aparecer em qualquer lugar, sendo mais comuns nos dedos (periungueais) e dorso das mãos. É geralmente causada pelo vírus HPV 1, 2, 4, 26-29. Diagnósticos diferenciais incluem o líquen plano, ceratose seborréica, ceratose actínica, carcinoma espinocelular e dermatose papulosa nigra. Verrugas Figura 32 - Verruga Vulgar Fonte: Mdmanuals 33 A Verruga Plantar representa cerca de 24% dos casos de verrugas e manifestam-se por pápulas arredondadas com hiperceratose de crescimento endofítico evidenciando uma área central irregular envolta por um anel hiperceratótico, vulgarmente conhecido como “olho de peixe”. As lesões podem se agrupar formando placas com hiperceratoses. É causada pelos vírus HPV 1, 4 e 63. A Verruga Plana é observada em cerca de 3,5% dos casos, se apresentando como pápulas planas pequenas, com pouca hiperceratose, em geral múltiplas e ocorrendo preferencialmente na face em crianças, dorso da mão em adultos, barba e pernas. É causada pelos vírus HPV 2, 3, 10, 26-29 e 41. Os diagnósticos diferenciais são semelhantes às verrugas vulgares. A Verruga Filiforme representa 2% dos casos e são, em geral, lesões isoladas, pouco numerosas, semelhantes às espículas que surgem perpendicularmente ou obliquamente à superfície cutânea. São mais frequentes em face, pescoço e comissuras da boca. São causadas pelos vírus HPV 2, 3, 10, 23-29 e 41. O principal diagnóstico diferencial é o acrocórdon. Figura 33 - Verruga Plantar Fonte: Md.Saúde As Verrugas Anogenitais, são conhecidas como condiloma acuminado, se apresentando como pápulas, não ceratóticas, que coalescem formando placas vegetantes na mucosa da genitália e ao redor do ânus. A duração após a apresentação é muito variável, podendo ser de poucas semanas a muitos anos. São relacionados ao vírus HPV de baixo risco (6, 11, 30, 43, 44 e 55) e alto risco (16, 18, 31, 32, 33, 35, 39, 42, 51-54). Os principais diagnósticos diferenciais incluem: condiloma plano, molusco contagioso, carcinoma escamocelular, papulose bowenóide e coroa hirsuta do pênis. De uma maneira geral, deve-se evitar tratamentos agressivos para as verrugas, uma vez que esses podem complicar com dor e cicatrizes não estéticas. Existem diversas formas de tratamento, havendo poucos estudos que apontem eficácia maior de um sobre o outro. o tratamento tópico é preferível inicialmente ao cirúrgico, que é reservado para casos específicos, como falha terapêutica, verrugas filiformes e periorificiais, sendo o procedimento reservado para níveis de atenção secundários ou terciários. O principal agente queratolítico utilizado em nosso meio é o Ácido Tricloroacético (ATA) 70-80%. Figura 35 - Verruga Anogenital Fonte: CREMESP Figura 34 - Verruga Filiforme Fonte: Md.Saúde 35 • Compressas • Ácido Tricloroacético 70-80% • Água morna • Lixa • Vaselina • Gaze • Luvas de procedimento Materiais necessários para realização do procedimento Técnica 1. Explique o procedimento ao paciente e obtenha autorização; 2. O procedimento deve ser realizado de maneira limpa, com uso de luvas de procedimento; 3. Aplicar compressas com água morna sobre a região e lixar; 4. Proteger a pele adjacente com uso de vaselina; 5. Aplicar a solução de Ácido Tricloroacético; 6. Curativo com Gaze se necessário. 36 Outras opções de tratamento incluem: podofilina, ceratolítico, que deve ser evitado em gestante pelo efeito antimitótico; cáusticos químicos como ácido nítrico fumegante; Ácido Salicílico em concentrações superiores à 4%; eletrocauterização com bisturi elétrico; crioablação com uso de nitrogênio líquido. Deve-se evitar a excisão e sutura da lesão pelo risco de disseminação sistêmica do vírus. É importante orientar o paciente para desestimular o uso de produtos populares agressivos, educar para o caráter autolimitado da doença, enfatizando que o desaparecimento da lesão não significa erradicação da doença e que recidivas são frequentes. Pacientes do sexo feminino com verrugas genitais ou parceiras de portadores de verrugas genitais devem ser acompanhadas anualmente com exame colpocitológico e exame ginecológico devido ao risco de câncer do trato genital por algumas cepas do vírus. Em crianças com lesões anogenitais, deve-se levantar a hipótese de abuso sexual. 37 Curso de Pós-Graduação Lato Sensu regular perante o Ministério da Educação O curso de Pós-Graduação Lato Sensu será realizado através da Faculdade Cetrus Sanar com validade nacional de sua Certificação, conforme legislação educacional vigente. Fale com a consultora https://pos.sanar.com.br/consultora-comercial/ pos.med@sanar.com pos.sanarmed.com/ medicinadefamiliaecomunidade @sanarpos.med | @mfc.sanar (Toque para interagir) Gostou do tema? Aprenda ainda mais na Pós em MFC! O conteúdo da nossa pós em Medicina de Família e Comunidade foi formatado com a finalidade de abordar os principais problemas de saúde evidenciados na rotina do profissional da medicina de família e comunidade. https://api.whatsapp.com/send?phone=5511978214490&text=Ol%C3%A1!%20Gostaria%20de%20obter%20mais%20informa%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20a%20P%C3%B3s%20em%20MFC mailto:pos.med@sanar.com https://pos.sanarmed.com/medicinadefamiliaecomunidade/?utm_source=materiais&utm_medium=referral&utm_campaign=ebook_procedimentoscirurgicosnaapshttps://www.instagram.com/sanarpos.med/ https://www.instagram.com/mfc.sanar/ 1 Braga DC, Bortolini SM, Barazetti G, Viel J, Vebber SS. Procedimentos cirúrgicos ambulatoriais realizados na Atenção Primária. An Congr Sul-Bras Med Fam Comunidade. Gramado, 2014 Abril;4:169. 2 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica, Procedimentos. Brasília, DF. Ministério da Saúde, 2011. 3 Spelman D, Baddour LM. Cellulitis and skin abscess: Epidemiology, microbiology, clinical manifestations, and diagnosis. In: Lowy FD, Kaplan SL, ed. UpToDate. Waltham, Mass.: UpToDate, 2021. 4 Goldstein BG, Goldstein AO. Overview of benign lesions of the skin. In: Dellavalle RP, ed. UpToDate. Waltham, Mass.: UpToDate, 2021. 5 Almeida OD. Repair of Split Earlobe Lacerations in the Urgent Care. Disponível em: https://www.jucm.com/repair-of-split-earlobe-lacerations-in-the-urgent-care/. Acessado em 02 de julho de 2021. 6 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dermatologia na Atenção Básica. 1º edição - Brasília: Ministério da Saúde, 2002. 7 Deborah CH. Subcutaneous infiltration of local anesthetics. In: Stack AM, Walls RM, Miller SJ, ed. UpToDate. Waltham, Mass.: UpToDate, 2021. 8. Jose Maria Arribas Blanco and Maria Hernandez Tejero (2012). Skills in Minor Surgical Procedures for General Practitioners, Primary Care at a Glance - Hot Topics and New Insights, Dr. Oreste Capelli (Ed.), ISBN: 978-953-51-0539-8, InTech, Available from: h t t p : / / w w w . i n t e c h o p e n . c o m / b o o k s / p r i m a r y - c a r e - a t - a - g l a n c e - h o t - topics-and-new-insights/skills-in-minor-surgical-procedures-in-family-medicine Referências bibliográficas
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