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53 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Unidade II 3 ANÁLISE DO AMBIENTE EXTERNO E DO AMBIENTE INTERNO 3.1 Análise do Ambiente Externo As organizações devem monitorar os fatores relevantes do ambiente externo, uma vez que estes influenciam a performance empresarial sem que a própria organização tenha condições de influenciar o ambiente em troca. Em suma: os fatores que acontecem além dos muros da empresa afetam seus resultados, e a contrapartida é praticamente nula: a empresa afeta muito pouco (ou nada) esses fatores. O ambiente externo é incerto, e é preciso ter capacidade de resposta aos principais fatores. Veja como a taxa de juros ou do dólar afeta de diversas maneiras as organizações, e dificilmente as atividades dessas empresas irão afetar significativamente esses mesmos fatores. Uma indústria que tem muitos componentes importados sofrerá com a alta da taxa do dólar: as importações ficarão mais caras. Essa mesma indústria não afeta a taxa: basicamente, reage a ela. Claro que grandes players reúnem mais força para afetar fatores externos, mas mesmo assim a força do fator na empresa é sempre maior que a força contrária da empresa para afetar o fator externo. Por exemplo, o Bradesco, um dos dois maiores bancos do Brasil, é fortemente afetado pela taxa Selic do Banco Central (taxa de juros básica da economia), mas suas ações afetam comparativamente pouco a taxa em si. Agora, pense em fatores como: • Concorrência: o que os concorrentes são e o que fazem afeta a empresa. Observe a questão da capacidade produtiva: alguns concorrentes podem ter processos produtivos mais modernos e eficientes, o que reduz seus custos, enquanto outros têm processos defasados. E que tal o know-how? Alguns possuem patentes exclusivas e têm vantagens com isso. Se pensarmos na força comercial, alguns têm equipes de vendas fracas e sem coesão, enquanto outros têm um time mais afiado. Há inúmeros fatores ligados à concorrência que afetam a empresa. • Força dos canais de distribuição: alguns ramos de atividade apresentam canais de distribuição muito poderosos. Por exemplo, alimentos. A Nestlé tem razoável poder de negociação com uma grande rede como o Pão de Açúcar, mas um pequeno fabricante de chocolates não. Se o varejo é mais forte que o fornecedor, o poder de barganha é maior para o varejo. Esse fator deve sempre ser levado em consideração, como já vimos no modelo das cinco forças de Porter. A concentração observada em alguns ramos do varejo diz muito sobre a força deste nas negociações com fornecedores. Um varejo extremamente pulverizado no Brasil é o de material de construção. As maiores redes somadas não chegam a 15% do mercado. A revista Anamaco traz o ranking nacional das lojas de material de construção de 2020: 54 Unidade II — Leroy Merlin: 4,4%; — Telhanorte/Tumelero: 3,5%; — Sodimac: 2,9%; — C&C: 2,6%. Saiba mais É possível ler gratuitamente a revista. Consulte a referência a seguir: 21º RANKING nacional das lojas de material de construção. Revista Anamaco, a. 29, n. 315, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3Lxl63L. Acesso em: 16 maio 2022. Lembrete O poder de barganha dos clientes afeta a capacidade competitiva da empresa. No caso de um fabricante de bens comercializados no varejo, esses canais de distribuição são os clientes e podem ter mais ou menos força que a empresa. • Ciclo econômico: como está a economia no ramo de atividade? Está em recessão, estabilidade ou crescimento? Esse fator afeta os investimentos futuros: será que vale a pena aumentar a produção e a força de vendas quando o ramo de atividade está com vendas caindo? Note que mesmo quando o país está em recessão alguns setores estão em crescimento. Na crise econômica gerada pelo coronavírus em 2020 a economia brasileira apresentou grande queda, mas o setor de entregas domiciliares cresceu de maneira significativa. • Legislação: leis e normas afetam empresas. Há leis que beneficiam somente empresas brasileiras, por exemplo. Há leis que inibem a comercialização de produtos como armas de fogo. Há normas da Vigilância Sanitária que aumentam o custo de operar restaurantes e lanchonetes. Vários setores têm um marco legal para atuar: telecomunicações, financeiro, brinquedos etc. Por exemplo, no Brasil a lei obriga os fabricantes de automóveis a vender seus produtos através de intermediários como concessionárias ou revendedoras. Ford, GM, Fiat e outros não podem vender carros zero km diretamente para pessoas físicas. Para pessoas jurídicas a lei permite. Assim, o dono de uma empresa só pode comprar seu carro pessoal numa concessionária da marca ou numa loja de automóveis. Já sua empresa pode comprar um carro de frota diretamente com o fabricante. Esse é o motivo pelo qual você acessa o site de uma montadora no Brasil, configura seu carro novo e obrigatoriamente precisa indicar uma concessionária para retirar o veículo. Num mundo com e-commerce tão difundido, essa lei antiga impede fabricantes de vender carros zero km diretamente às pessoas interessadas! 55 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA • Tecnologia: não se trata somente de computadores, e sim de know-how. Algumas empresas têm acesso mais fácil à tecnologia e podem ter vantagem. Por outro lado, há inovações desenvolvidas por pequenas empresas que as faz crescer vertiginosamente. Pense nas empresas inicialmente chamadas de startups, como Uber e Waze (já citadas). Outro exemplo é o de patentes de medicamentos. Patente é o direito de uso exclusivo de uma tecnologia ou invenção e tem prazo de validade variável por país. No ramo farmacêutico, as patentes protegem as empresas de cópias não autorizadas de medicamentos. Pois bem, a Pfizer, uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo, lançou em 1998 o Viagra, medicamento para disfunção erétil cuja patente já havia registrado anos antes. O sucesso foi tremendo e ninguém podia copiar, pois estava protegido pela patente em todos os países do mundo. Em 2001, as vendas do Viagra superaram US$ 1 bilhão, e nos anos seguintes não foi muito diferente. Durante anos, mais de 50% do lucro da Pfizer era resultado das vendas do Viagra (em alguns anos alcançou 60%). Porém, em 2010 a patente perdeu a validade no Brasil (nos EUA durou até 2012) e a concorrência entrou com tudo nesse mercado, copiando legalmente o princípio ativo do medicamento, derrubando as vendas do Viagra. Esses são apenas alguns exemplos. Há uma enorme quantidade de fatores externos que afetam (para o bem e para o mal) as empresas. E nem todos os fatores afetam todas as empresas: a alíquota de importação (taxa cobrada pelo governo para a entrada de produtos importados) de um componente qualquer só afeta as empresas ligadas a produtos que usam esse componente. Os governos nacionais, quando aumentam a alíquota de importação de algum produto, na prática, beneficiam as empresas instaladas no país que fabricam o mesmo tipo de produto, uma vez que o preço da versão importada vai aumentar. Scholes, Johnson e Whittington (2002) citam vários fatores que ajudam a pensar na influência possível do ambiente externo: Político – Estabilidade governamental – Política de impostos – Leis de comércio internacional – Políticas sociais Fatores econômicos – Ciclos de negócios – Tendência do PIB – Juros – Inflação – Taxa de desemprego – Política monetária – Receita per capita Fatores socioculturais – Distribuição de renda – Mobilidade social – Demografia populacional – Nível educacional – Hábitos de consumo – Mudanças no estilo de vida Fatores tecnológicos – Despesas do governo em pesquisa e desenvolvimento – Taxas de obsolescência – Rapidez de transferência tecnológica – Foco do governo e indústria em desenvolvimento tecnológico – Novas descobertas, patentes, direitos autorais etc. Legal – Leis de competição – Leis de empregabilidade – Saúde e segurança – Comercialização dos produtos Ambiental – Leis de proteção ambiental – Consumo de energia – Disposição do lixo Organização Que fatores afetam a organização? Quais fatores são mais importantesno presente? E no futuro? Figura 26 – Fatores externos que afetam as organizações Fonte: Scholes, Johnson e Whittington (2002, p. 68). 56 Unidade II Não ter informação sobre fatores externos relevantes pode ser fatal para as organizações. Sem informação não há planejamento! Certo e Peter (1993, p. 35) afirmam que análise do ambiente externo é “monitorar o ambiente organizacional para identificar os riscos e as oportunidades presentes e futuras que possam influenciar na capacidade da empresa em atingir objetivos”. Note que riscos e oportunidades se revelam no dia a dia do ambiente externo das empresas. Por exemplo, na década de 1990 houve um período de instabilidade da indústria automobilística brasileira e o governo brasileiro aprovou uma lei que reduzia o Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) de carros com motor 1.0 para a insignificante taxa de 0,1%. Era uma redução brutal de imposto que permitia reduzir bastante o preço final do veículo. A única montadora no Brasil que tinha condições de aproveitar imediatamente essa redução era a Fiat, adaptando seu modelo Fiat Uno, que já era fabricado com motores maiores no Brasil, com um motor 1.0 que já existia e era usado pelo mesmo modelo na Itália. Em poucos meses a linha de montagem iniciou a fabricação do Fiat Mille, nome dado ao Uno com motor 1.0, com preço bem mais baixo que a concorrência. As outras montadoras não tinham projetos de motores 1.0 na mão e seus modelos eram mais pesados que o Uno, o que prejudicaria o desempenho com esse motor de menor potência. Assim, demoraram para poder aproveitar a oportunidade do imposto baixo e perderam muito mercado. Figura 27 – Fiat Uno Disponível em: https://bit.ly/37OpU6O. Acesso em: 16 maio 2022. Quer um exemplo contemporâneo de risco? Em 2020 a pandemia de coronavírus quebrou milhares de empresas que dependiam da circulação de pessoas nas ruas, como restaurantes, bares, mercadinhos e manufaturas em geral. Veja que interessante: o mesmo fator foi oportunidade para outras empresas, pois quem tinha bons processos de delivery por internet pôde crescer no mesmo período. Porter (1990), como vimos, propôs utilizar as vantagens competitivas das nações como parte das análises do ambiente externo. O chamado diamante de Porter permite buscar os motivos para algumas nações serem mais competitivas (e adequadas para investimentos da empresa) do que outras. 57 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Estratégia, estrutura e rivalidade da organização Indústrias relacionadas e de suporte Características específicas do país Características da demanda Figura 28 – Diamante de Porter Adaptada de: Porter (1990). O ponto de partida dessa análise é o conjunto de características específicas do país onde está instalada originalmente a empresa para depois analisar as características específicas dos países-alvo de investimento. Porter (1990) chama de base nacional o país de origem. Por exemplo, a base nacional do Bradesco é o Brasil, e suas operações externas estão localizadas nos EUA, Argentina, União Europeia etc. As características específicas do Brasil quanto ao setor bancário são, por exemplo: • Estágio avançado de automação bancária. O mercado bancário brasileiro é um dos mais avançados do mundo em tecnologia. As razões remontam ao período de altíssima inflação que o Brasil enfrentou entre as décadas de 1980 e 1990. As margens de lucro dos bancos eram muito mais altas que em qualquer lugar do mundo, e esses lucros foram investidos nas tecnologias emergentes da época para ganhar eficiência operacional e reduzir custos ao longo do tempo. Já se projetava que a fase de lucros fabulosos iria terminar em algum momento futuro (o que realmente aconteceu, muito embora permaneçam bem altos até hoje), então os principais bancos foram se preparando e as condições competitivas do setor se desenharam ao redor da tecnologia. Só como comparação, o mercado bancário americano sempre foi muito mais atrasado que o brasileiro. Até alguns poucos anos atrás, qualquer transferência de valores entre bancos nos EUA podia levar dias por não haver interconexão equivalente à brasileira. • Alta regulação governamental. As normas e regulações oficiais são barreiras de entrada para novos bancos. Ou seja, de certa maneira, há uma reserva de mercado no Brasil. Em contraposição, nas Ilhas Cayman é fácil criar um banco e começar a operar, pois a regulação é baixíssima. O Bradesco e outros bancos têm filial lá. • Taxas de juros compostos. O mercado bancário brasileiro utiliza a lucrativa modalidade de juros compostos para empréstimos e financiamentos, sendo que em vários países os juros são da modalidade simples, bem menos lucrativa. Usos e costumes diferem. 58 Unidade II Pense na diferença de leis trabalhistas de diversos países: nações que protegem muito os trabalhadores naturalmente geram o incentivo à automação. Os motivos para a Alemanha ser tão avançada em automação industrial é o alto custo de sua mão de obra. Outras diferenças podem ser: nível educacional, recursos naturais, infraestrutura de transportes, carga fiscal etc. São características específicas que devem ser levadas em consideração nas análises. A segunda ponta do diamante é denominada características da demanda. Como se comporta a demanda pelas categorias de produtos da organização? Por exemplo, os japoneses estão historicamente habituados a consumir alimentos e bebidas em porções/doses pequenas. Pense nas bandejas de um restaurante japonês e nos tamanhos das porções, que são variadas e servidas várias vezes. Pois bem, o mercado de embalagens de bebidas no Japão tem como característica volumes de conteúdo pequenos. Embalagens Tetra Pak de 80 ml são raras no mundo, mas vendem milhões de unidades no Japão. Sucos, cafés, leites aromatizados e saquês têm uma característica de demanda diferente da maioria dos países. Garrafinhas plásticas do tamanho de um Yakult são extremamente comuns no Japão, mas são raras em outros países. A terceira ponta do diamante é chamada de indústrias relacionadas e de suporte. Trata-se da cadeia de fornecedores de máquinas, equipamentos e matérias-primas necessários para determinado ramo, dos fornecedores de serviços correlatos, da infraestrutura de suporte a um ramo etc. A China é excelente em tecnologias de ponta como as de telecomunicações, pois tem um conjunto de organizações correlatas que se beneficiam mutuamente. Porém, a China não tem um só fabricante de microprocessadores de computador (ainda). É uma característica das industrias relacionadas. Ao analisar um país-alvo, uma organização deve levar em consideração a presença ou ausência dessa cadeia de fornecedores. A última ponta é composta de estratégia, estrutura e rivalidade. As características das estratégias e da infraestrutura do Estado e da rivalidade com outros Estados também estabelecem vantagem competitiva. A rivalidade entre Brasil e Argentina é histórica, e essa característica fez com que a indústria automobilística buscasse vantagens para se localizar no Mercosul – qual governo dá mais vantagens? A infraestrutura de transporte brasileira é ruim, pois depende do modal rodoviário, com estradas mal conservadas na maior parte do território. Compare com países da União Europeia ou com a China. As estratégias adotadas pelos Estados para atrair e manter negócios em seus territórios também devem ser ponderadas. Por exemplo, a estratégia que a China adotou muitos anos atrás para absorver know-how competitivo foi simples. Uma vez que a mão de obra chinesa era muito mais barata e as obrigações trabalhistas eram praticamente inexistentes, o que tornava a China um atraente local para manufatura, o governo instaurou uma regra restritiva para joint-ventures. Empresas estrangeiras que quisessem se instalar na China precisavam ter um sócio local, apontado pelo governo, que teria 50% do negócio – sem investir nada e sem interferir nas operações. O sócio seria um observador com livre acesso à empresa, e comuma equipe que faria o mesmo. Note que, mesmo parecendo um absurdo, foi aceito por milhares de empresas estrangeiras, que perceberam que o custo da operação era ótimo, compensava “dar de graça” 50% de participação. Essa estratégia do Estado gerou uma onda de aprendizado com custo “zero” e trouxe inúmeros benefícios para ambas as partes: Estado e empresas estrangeiras. 59 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA 3.2 Análise do Ambiente Interno Toda organização tem recursos à disposição. Sejam financeiros, humanos, produtivos ou mercadológicos, os recursos internos afetam a capacidade da empresa em competir no ambiente externo. Portanto, as empresas precisam analisar seus recursos e compará-los com os da concorrência, procurando identificar pontos fortes e fracos. • Os fatores que, cotejados com a concorrência, representam vantagem operacional são chamados de pontos fortes. Quais são as forças impulsoras internas que representam vantagem diante da concorrência? • Por outro lado, os pontos fracos são fatores que se traduzem em uma desvantagem operacional diante da concorrência, sendo limitações que restringem a atuação organizacional. Claro que nem tudo representa ponto forte ou fraco. Há os chamados pontos neutros, que são fatores em equilíbrio com a concorrência e não trazem nem vantagens nem desvantagens. Vamos listar alguns dos elementos internos que devem ser analisados e que podem ser pontos fortes ou fracos. Se forem neutros, não precisam ser citados na análise da empresa. • Participação de mercado: segundo Farris et al. (2007), é a porcentagem de um mercado atendido por determinada organização. Também chamada de market share (ou até mesmo share), indica quanto um produto/marca representa do total de vendas de mercado daquele mesmo tipo de produto. Por exemplo, Freitas (2020) afirma que a Ambev teve 59,4% do mercado brasileiro de cerveja em 2019 somando todas as marcas. Ou seja, de cada 10 litros de cerveja vendidos, quase 6 litros eram de marcas da Ambev. Essa análise, quando feita com base histórica, permite conhecer a evolução dos produtos no mercado. • Canais de distribuição utilizados: Las Casas (2006) explica que os canais de distribuição existem para facilitar o processo de transferência de produtos e serviços do produtor ao consumidor. Trata-se dos meios utilizados na distribuição. Por exemplo, a Chocolates Garoto usa diversos canais como supermercados, padarias, lojas de doces, atacados etc. Essa análise é útil para encontrar possibilidades de distribuição. Se um concorrente distribui em determinado tipo de loja, vale a pena verificar as condições. • Linhas de produtos: quais são os produtos e serviços oferecidos ao mercado e como a empresa os agrupa? Por exemplo, a Nestlé tem chocolates, lácteos, cafés, cereais matinais etc. A Hering, por sua vez, tem as linhas (chamadas coleções) Hering, Hering Kids, Hering POP, Hering Intimates e Hering Pets. Essa análise permite comparar com as linhas dos concorrentes e localizar eventuais oportunidades não aproveitadas. 60 Unidade II • Programas de pesquisa: a empresa investe em P&D (pesquisa e desenvolvimento)? Não se trata necessariamente de laboratórios de alta tecnologia digital: laticínios normalmente têm um setor de engenharia de alimentos que testa componentes (como acidulantes, conservantes) e desenvolve produtos. Se investe, quais são as metas e quais as perspectivas? E os concorrentes? • Satisfação dos clientes: diversas empresas medem periodicamente o nível de satisfação de seus clientes. Pense nas pesquisas de satisfação que o varejo faz no caixa, ou nas pesquisas feitas após um atendimento por telefone ou internet. Sendo possível comparar com os concorrentes, pode-se perseguir mais qualidade verificando as ações tomadas pelos melhores do mercado. • Processos produtivos e operacionais: quão eficientes e eficazes são os processos que geram os produtos e serviços oferecidos? São automatizados e geram baixo custo unitário de produção? São artesanais e geram alta qualidade? Pense em fábricas de automóveis com robôs industriais que produzem com o mesmo nível de qualidade todos os produtos. Pense também em fábricas de automóveis com baixa (ou nenhuma) automação, mas com artesãos especializados fabricando as peças manualmente com altíssima qualidade. Saiba mais Na internet há diversos vídeos apresentando processos produtivos. O vídeo a seguir mostra um bom nível de automação com foco em redução de custo unitário: VOLKSWAGEN T-Cross 2020 – Linha de Produção em São José dos Pinhais. Paraná, 2019. 1 vídeo (4m27s). Publicado por Top Carros. Disponível em: https://bit.ly/3PqT3py. Acesso em: 16 maio 2022. O vídeo a seguir mostra uma produção de altíssima qualidade e exclusividade feita sem automação buscando diferencial de luxo. VEJA como é feita a produção dos carros mais luxuosos do mundo, Rolls-Royce. [s.l], 2020. 1 vídeo (3m54s). Publicado por Razed Cars. Disponível em: https://bit.ly/3li2rya. Acesso em: 16 maio 2022. • Recursos humanos: a qualificação das pessoas que trabalham na empresa pode ser um ponto forte (ou fraco). Tempo de experiência, habilidades, competências, comprometimento etc. são itens a serem analisados. Pense nos vendedores de uma joalheria de bom nível: certamente há um bom nível de qualificação. Agora compare com os vendedores de uma loja popular de bijuterias: a qualificação será outra. O ponto é que a qualificação deve estar alinhada com os objetivos da empresa. Comparações com a concorrência permitem verificar pontos fortes e fracos da estratégia de RH da empresa. 61 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA • Rentabilidade: quanto o negócio rende realmente? Note que não estamos falando de faturamento (também um fator a ser analisado), e sim de rentabilidade, que é uma medida da eficiência da empresa na alocação de recursos (SOLOMON, 1969). As empresas mais rentáveis de um ramo de atividade podem, ao longo do tempo, ganhar força para defender suas posições estratégicas e se distanciar mais ainda dos concorrentes. Menor rentabilidade significa menor poder de fogo contra os concorrentes. • Força dos sindicatos: a pressão sindical pode significar maiores custos de RH. Sindicatos fortes exercem maior influência nos custos de pessoal que sindicatos fracos. Como exemplo, veja a questão da vinda da Fiat para o Brasil na década de 1970. Na época, o polo fabril de veículos no Brasil era localizado em São Paulo, região do ABC (cidades de Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul), onde os sindicatos de metalúrgicos eram muito fortes. Independentemente de sua crença política, você deve saber que o ex-presidente Lula foi líder sindical em São Bernardo. Pois bem, a montadora italiana Fiat, ao se instalar no Brasil, escolheu ficar longe da região, mesmo diante das facilidades apresentadas: existência de mão de obra treinada, centenas de fornecedores de autopeças por perto, dezenas de transportadoras de veículos à disposição etc. O motivo? A força dos sindicatos, que propunham greves e pediam aumento salarial com frequência. A Fiat escolheu a cidade mineira de Betim para instalar sua fábrica, local onde nem sequer havia sindicato de metalúrgicos ou equivalente, e arcou com o investimento de treinar mão de obra para iniciar a operação. Note que não se critica ou elogia a existência de sindicatos em geral: destaca-se a questão de custos associados à ação sindical e que esses custos devem ser levados em consideração nas análises. Sobral e Peci (2013) contribuem citando outros exemplos de fatores que podem ser analisados: • inovações tecnológicas; • reputação e imagem da marca; • grau de centralização; • capacidade laboratorial; • eficiência dos esforços promocionais; • canais de comunicação internos; • estrutura de desenvolvimento de novos produtos; • capacidade financeira/acesso a recursos financeiros; • qualificação de equipamentos; • nível de experiência da mão de obra; 62 Unidade II • grau de endividamento; • localizaçãodas instalações; • habilitações acadêmicas dos funcionários; • liquidez; • acesso às matérias-primas; • rotatividade dos trabalhadores; • solvabilidade; • produtividade e eficiência; • estrutura de custos; • satisfação no trabalho; • controle de qualidade; • absenteísmo; • cotação das ações. Portanto, a análise do ambiente interno consiste em examinar os recursos e capacidades da empresa que influenciam sua capacidade competitiva comparando-as com os mesmos recursos da concorrência e identificando se são pontos fortes, fracos ou neutros. 4 A INTEGRAÇÃO DAS ANÁLISES – SWOT Tendo em mãos as avaliações de dados internos e externos, uma das ferramentas mais utilizadas para integrá-las é a análise SWOT, muito usada desde a década de 1970, como já comentamos. A análise SWOT envolve os ambientes interno e externo da empresa, o modelo trata das forças e fraquezas em dimensões-chaves como desempenho e recursos financeiros, recursos humanos, instalações e capacidade de produção, participação de mercado, percepções do consumidor sobre a qualidade, preço e disponibilidade do produto, e comunicação organizacional (FERREL et al., 2000, p. 62). [...] a análise SWOT, proposta originalmente por Andrews em 1971, é a combinação da análise do ambiente (externa) e da análise interna. No entendimento dos diferentes componentes da SWOT e seus respectivos 63 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA conceitos, procuramos enfatizar dois níveis de impacto e consequente avaliação: a dimensão competitiva e as questões de natureza interna, como objetivos e rentabilidade. Assim, temos os seguintes conceitos: oportunidade é uma situação externa que dá à empresa a possibilidade de facilitar o alcance dos objetivos ou de melhorar sua posição competitiva e/ou sua rentabilidade; ameaça é uma situação externa que coloca a empresa diante de dificuldades para o alcance dos objetivos ou de perda de mercado e/ou redução de rentabilidade; ponto forte é uma característica interna ou um ativo que dá à empresa uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes ou uma facilidade para o alcance dos objetivos (que podem incluir rentabilidade); ponto fraco é uma característica interna ou uma limitação em um ativo que coloca a empresa em situação de desvantagem em relação com seus concorrentes ou de dificuldade para o alcance dos objetivos (que podem incluir rentabilidade) (ROSSI; LUCE, 2002, p. 3). A lógica da aplicação consiste em comparar os fatores internos identificados como pontos fortes/fracos da organização com os fatores externos identificados como ameaças/oportunidades. Quadro 7 – Análise SWOT S O W T Ajuda In te rn a (o rg an iz aç ão ) Na conquista do objetivo Atrapalha Ex te rn a (a m bi en te ) Or ig em d o fa to r Forças Oportunidades Fraquezas Ameaças Disponível em: https://bit.ly/3MmFaXs. Acesso em: 16 maio 2022. Pontos fortes são as capacidades e características da empresa que contribuem positivamente em sua competitividade, enquanto pontos fracos são o oposto: contribuem negativamente nos resultados. Ambos são fruto da análise do ambiente interno. Churchill (2000) cita alguns exemplos de fatores que podem ser analisados como fortes ou fracos: • recursos financeiros; • reconhecimento de marca; • domínio tecnológico; 64 Unidade II • fidelidade à marca; • direção estratégica; • custos; • modernidade de instalações. Por sua vez, as oportunidades são os fatores externos que podem afetar positivamente a competitividade e resultados, e as ameaças são o oposto: fatores externos que podem contribuir negativamente. Ambos são fruto da análise do ambiente externo. Churchill (2000) acentua alguns exemplos de fatores que podem ser analisados como ameaças ou oportunidades: • força da concorrência; • taxa de crescimento do mercado; • leis e regulamentações; • barreiras comerciais internacionais; • novas tecnologias/know-how; • força dos canais de distribuição; • desejos e necessidades de clientes; • classe social (econômica) dos clientes. Para fazer a aplicação da análise, Tarapanoff e Gregolin (2001) recomendam que os fatores selecionados sejam classificados por ordem de importância, do mais alto ao mais baixo. Quadro 8 – Ordenação dos fatores para análise SWOT Pontos fortes Pontos fracos Ponto forte mais importante Ponto fraco mais importante Ponto forte menos importante Ponto fraco menos importante Oportunidades Ameaças Oportunidade mais importante Ameaça mais importante Oportunidade menos importante Ameaça menos importante Adaptado de: Tarapanoff e Gregolin (2001, p. 216). Com essa forma hierarquizada, a leitura fica fácil, pois o que tem mais relevância aparece primeiro. 65 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Resumo O processo de administração estratégica apresenta uma sequência lógica de passos: planejar, implementar e controlar. São três os níveis de decisão estratégica: nível corporativo, nível de negócio e nível funcional. Para iniciar o processo de administração estratégica, é preciso analisar os fatores que afetam a organização (fatores externos e internos), sendo necessário integrar essas análises para auxiliar a formulação da estratégia. As organizações devem monitorar os fatores relevantes do ambiente externo, uma vez que estes influenciam a performance empresarial sem que a própria organização tenha condições de influenciar o ambiente em troca. Em suma: os fatores que acontecem além dos muros da empresa afetam seus resultados, e a contrapartida é praticamente nula: a empresa afeta muito pouco (ou nada) esses fatores. Não ter informação sobre fatores externos relevantes pode ser fatal para as organizações. Sem informação não há planejamento. No entanto, toda organização tem recursos à disposição. Sejam financeiros, humanos, produtivos ou mercadológicos, os recursos internos afetam a capacidade da empresa em competir no ambiente externo. Portanto, as empresas precisam analisar seus recursos e compará-los com os da concorrência, procurando identificar pontos fortes e fracos. Tendo em mãos as avaliações de dados internos e externos, uma das ferramentas mais utilizadas para integrá-las é a análise SWOT, muito usada desde a década de 1970 A análise SWOT, portanto, é uma forma de integração. A lógica da aplicação consiste em comparar os fatores internos identificados como pontos fortes/fracos da organização com os fatores externos identificados como ameaças/oportunidades. 66 Unidade II Exercícios Questão 1. Um profissional de marketing da área de turismo ficou encarregado de construir a matriz SWOT de uma cidade do interior da Paraíba, Itabaiana, que tem como um dos seus atrativos o Parque Nacional Serra de Itabaiana. A imagem a seguir mostra uma das paisagens do local. Figura 29 – Parque Nacional Serra de Itabaiana Disponível em: https://bit.ly/3yFNVIc. Acesso em: 16 maio 2022. Com base no caso e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas. I – A análise SWOT busca garantir uma visão abrangente acerca dos fatores internos e externos que podem auxiliar ou prejudicar a venda de um produto. II – O atrativo “trilha no Parque Nacional Serra de Itabaiana” deve ser colocado no quadrante das ameaças, pois se trata de uma atividade que envolve riscos. III – A análise SWOT não pode ser utilizada no caso apresentado, pois o setor turístico oferece bens intangíveis. É correto o que se afirma somente em: A) I e II. B) I e III. C) I. D) II. E) II e III. Resposta correta: alternativa C. 67 ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA Análise da questão A análise SWOT considera pontos fortes e pontos fracos como fatores internos e oportunidades e ameaças como fatores externos. Ela pode ser usada para produtos tangíveis ou intangíveis. A trilha é um ponto forte. Questão 2 (Enade 2018, adaptada). Preocupado com a crise mundial na economia, o gerente comercial de uma empresa procurou mapear as contingências ambientais e os seus impactos na estratégia da organização para os próximos anos. Sua conclusãoé a de que haverá redução na demanda por seu produto no mercado externo, com consequente redução nas exportações. Logo, ele está prevendo que, no curto prazo, a empresa terá que se adaptar a essa realidade a partir das seguintes ações: i. redução do quadro de funcionários; ii. redirecionamento da produção para o mercado interno; iii. otimização dos custos empresariais. Considerando essa situação hipotética, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I – As previsões do gerente comercial apontam para o contingenciamento dos recursos organizacionais em face de uma nova configuração global. Porque II – Em períodos de tensionamento da situação econômica mundial, o mapeamento das contingências ambientais deve considerar a natureza cíclica e pré-determinada dos períodos de crise. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a asserção II justifica a I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a asserção II não justifica a I. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. E) As asserções I e II são proposições falsas. Resposta correta: alternativa C. 68 Unidade II Análise das asserções I – Asserção verdadeira. Justificativa: as alterações que ocorrem no ambiente externo à empresa devem influenciar as decisões tomadas no ambiente interno. Vale destacar que o ambiente é o contexto que envolve externamente a empresa, ou seja, refere-se à situação na qual uma organização está inserida. Considerando que toda organização faz intercâmbio com o ambiente, tudo o que ocorre no ambiente tem influência no que ocorre dentro da organização. Portanto, para que uma empresa tenha o desempenho esperado, ela deve fazer um mapeamento ambiental, a fim de encontrar o melhor posicionamento dentro do ambiente (CHIAVENATO, 2014). Pode-se dizer, então, que as organizações são sistemas abertos sujeitas às incertezas que provêm das contingências externas impostas pelo ambiente (CHIAVENATO, 2014). II – Asserção falsa. Justificativa: o mapeamento ambiental é feito para que se tenha uma visão de futuro do ambiente. Não é possível considerar que haja uma natureza cíclica para as contingências.
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