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Aspectos Semiológicos do Discurso

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- -1
ASPECTOS SEMIOLÓGICOS DO DISCURSO
COERÊNCIA E DISCURSO: TEXTOS 
TEMÁTICOS E FIGURATIVOS
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Estudar a formação discursiva e formação ideológica do discurso;
2. observar a heterogeneidade discursiva;
3. analisar a relação dialógica e polêmica nos textos.
No processo interacional ou intercomunicativo há um conhecimento implícito do assunto (universo de
referência), partilhado pelos interlocutores, e que se apresenta estruturado linguisticamente através de
processos que pressupõem, subentendem, enfatizam, identificam evasivas, dados centrais e secundários e assim
se concretiza o ato comunicativo.
Vejamos um exemplo no texto de Carlos Drummond de Andrade O que se diz, do livro O poder ultrajovem
(1992):
Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Eu absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que
amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que
novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que coisa! Que
talento! Que alívio! Que nada...
Assim, em plena floresta de exclamações, vai-se tocando pra frente. Ou para o lado. Ou para trás. Ou
não se toca. Parado. Encostado. Sentado. Deitado. De cócoras. Olhando. Sofrendo. Amando.
Calculando. Dormindo. Roncando. Pesadelando. Fungando. Bocejando. Perrengando. Adiando.
Morrendo.
Em redor, não cessam explosões interjetivas. Coitado! Tadinho... Canalha! Cachorro! Pilantra! Dedo-
duro! Bandido! Querido! Amoreco! Peste! Boneco! Flor!
E vêm outras vozes breves, no vai do vaivém:
É. Pois é. Ah, é. Não é? Tá. Ok. Ciao. Tchau. Chau. Au. Baibai. Oi. Opa! Ui! Ai! Ahn...
Que fazer senão ir na onda? Lá isso...Quer dizer. Pois não. É mesmo. Nem por isso. Depende. É
possível. Antes isso. É claro. É lógico. É óbvio. É de lascar. Essa não. E daí? Sai dessa.
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Ao escrever o texto, o autor sabe que pode contar com o leitor para identificar os significados, pois trabalha com
elementos do processo de interação no cotidiano. Usa até neologismos como Pesadelando e Perrengando, pois
essas palavras derivam de outras conhecidas do leitor: pesadelo e perrengue.
Em um dos parágrafos, Drummond diz: “E vêm outras vozes breves, no vai do vaivém:”, o que nos aproxima do
conceito de polifonia do discurso que prevê a interação de diálogos possíveis ocasionado pelas expressões.
Além disso, nenhum enunciado é totalmente novo, pois está repleto dos ecos e lembranças de outros; o objeto do
discurso de um locutor não é inédito, é o lugar em que se cruzam, se encontram e se separam diferentes pontos
de vista, visões de mundo, tendências - são as tonalidades dialógicas que preenchem um enunciado. E o discurso
se firma sob forma de reflexão, interação, escolha de expressões contundentes ou suavizadas, tom provocante,
reiteração, polemização. É complexo, polimorfo, apresenta ressonância longínqua e quase inaudível da
alternância dos sujeitos. O texto é polissêmico e polifônico.
Polissêmico
Polissêmico porque as palavras no texto podem ter significados diferentes de acordo com a
intenção do enunciador. Veja no texto, por exemplo, a alteração de significado da palavra
“cachorro” ou da expressão “ir na onda”.
Polifônico
Polifônico porque as palavras do discurso podem dizer muito mais do que dizem, ou seja, o
que aparece explícito nas formas linguísticas é apenas um dos elementos da construção do
sentido, cabendo ao interlocutor como coprodutor perceber as demais possibilidades
significativas.
Um enunciador, ao se comunicar, pressupõe uma espécie de “instituição social da linguagem” implícita,
partilhada por todos aqueles que interagem em dada situação. Os atos de fala strictu sensu passam a “práticas
sociais”.
O locutor demonstra um comportamento intencional e sabe que as regras por ele usadas serão decodificadas
pelo interlocutor.
O fato de falar ou escrever uma língua está condicionado à produção de sequências dotadas de significado,
portanto devemos levar em consideração que há uma face sensível da linguagem - o significante - que é o plano
da expressão, sendo que, junto a este, temos a face psíquica - o significado - que é o plano do conteúdo.
Lendo um texto de Luiz Garcia, de 19 de setembro de 2003, publicado em O Globo, na seção Opinião, pudemos
observar como um discurso pode nos levar a caminhos diversos de interpretação.
- -4
O autor cita em sua crônica um trecho selecionado de um improviso do presidente Lula na inauguração da sala
de imprensa do Planalto “Agora jornalista é uma coisa importante, porque todo mundo reclama, mas ninguém
vive (sem, presume-se)”.
Ora, acredita-se que, ao ouvir o discurso, ninguém tenha tido dúvidas quanto ao significado do verbo viver, mas
ao reproduzir o texto graficamente, o autor sentiu necessidade de dirimir quaisquer tipos de dúvidas que a
ambiguidade do texto oral pudesse levar o leitor a inferir na interpretação, já que sua intenção era comentar o
papel do jornalista na divulgação de notícias e criticar o fato de que alguns políticos não vivem sem os
jornalistas, mas, ao mesmo tempo, só gostariam que eles publicassem fatos que lhes interessassem. É
interessante, ainda, a importância do verbo ler no título da crônica “Ler os improvisos”, que vai além da leitura
do dito.
Podemos perceber, então, que a linguagem é forma ou processo de interação. E tem caráter sociocultural, pois é
na sociedade que construímos a linguagem e, como usuários, apreendemos formas e as modificamos no processo
de interação. As marcas de determinada linguagem vão sendo inseridas no discurso pelo grupo social que as
emprega. É o que entendemos por dialogismo da linguagem, a relação entre emissor/receptor (es). A essência de
qualquer ato linguístico está no diálogo.
Temos usado a palavra texto como forma de comunicação do homem para concretizar, expressar suas ideias e
seus sentimentos de forma verbal ou não verbal. Temos, nesse caso, duas situações: de um lado, a língua como
sistema de signo e o texto como unidade coerente dos signos; do outro, o texto funcionando como enunciado,
como manifestação social e interagindo com outros textos - a intertextualidade.
Essa situação coloca em destaque o autor/sua forma de dizer e a realização de produzir um enunciado em
determinadas condições situacionais e relacionado com outros enunciados, porque o texto tem função
ideológica, está ligado à intenção do autor e interpretação do receptor (leitor). Na conceituação de Bakhtin, o
texto é um fenômeno sociodiscursivo.
Observemos a figura e a explicação que Rosângela Hammes Rodrigues (2001) propõe em sua tese de doutorado
A constituição e o funcionamento do gênero jornalístico artigo: cronotipo e dialogismo:
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“Segundo Bakhtin, na análise científica, pode-se ir tanto para o primeiro para o segundo poló do
texto. Na primeira orientação pode-se ir para a análise da língua do autor, de uma época, do gênero
da língua nacional (objetos da linguística) ou ainda para a potencial língua da línguas (abordagem do
estruturalismo ou da glossemática). Na segunda orientação, pode-se ir para a análise do enunciado e
dos seus diferentes aspectos.” (RODRIGUES, 2001, p. 23).
É sob esse último aspecto que vamos analisar o texto.
Os sentidos não se esgotam, se reajustam, se reproduzem, cabendo, por isso, novas interpretações de acordo com
as leituras que fazemos do texto. Podemos dizer que ele não tem uma interpretação definitiva ou ideal. Existe
uma troca entre autor/leitor, entre produção do texto e leitura dele. A leitura e interpretação dependem das
condições socioculturais, do estado mental e emotivo do leitor. Isso significa que o mesmo texto pode ser lido de
diversas maneiras pelo mesmo interlocutor que completará o sentido do texto.
Você poderá pensar: Então, o texto pode significar o que eu quiser. Não é bem assim. Há uma cadeia de
referências que se baseia em uma série de fatores que se associam para fornecer pistas de identificação das
significações possíveis,são os implícitos presentes nas relações linguagem, língua, mundo e que dependem das
inferências que deverão ser feitas pelo interlocutor.
Por isso, temos falado que o processo de interpretação é interativo e depende de um compartilhamento entre o
autor (aquele que escreve ou fala) e o leitor (o sujeito interpretante). Tanto a produção textual quanto a leitura e
interpretação são processos dinâmicos e criativos. O processo discursivo, portanto, não pode se dissociar dos
falantes e de seus atos, das esferas sociais nem dos valores ideológicos.
Vamos tomar como exemplo uma crônica de Adriana Falcão: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos
/gon030/pdfs/aula_06_cronica_insonia.pdf
No percurso discursivo, percebemos que a autora procura se aproximar do leitor, buscando compartilhar com
ele situações do cotidiano que não afligem só a ela, mas também a todos aqueles que vivem situações de estresse
em uma metrópole. Conversa o tempo todo consigo mesma como se estivesse falando com o “outro” sobre ações
compartilhadas: dúvidas comuns, conflitos do dia a dia.
O texto não teria sentido caso fizesse referências a coisas desconhecidas, mas a contextualização está presente o
tempo todo como: oito horas de sono são o ideal; eu preciso estar inteira amanhã, amanhã vou acordar um lixo;
 e assim vai lembrando aouma lista enorme de coisas pra resolver; desmarcar o dentista, ligar pro Geraldo...
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon030/pdfs/aula_06_cronica_insonia.pdf
http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon030/pdfs/aula_06_cronica_insonia.pdf
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leitor aquela série de obrigações que a maioria das pessoas tem em comum. Além de expressões como: “.. e aí,
minha filha, nunca mais.” Os referentes aos quais“Fechou o gás. Claro. Não lembra?””... quer ver?” “ tá vendo?”
ela faz alusão são o objeto do discurso.
Existem textos que falam de problemas particulares, mas que buscam interação, pois sabem que vão falar de
coisas também comuns a outras pessoas. Veja o vídeo a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=bXdcbztsGyw
Há outros textos que são de aconselhamento, pois também serão reconhecidos e partilhados. Assista a outro
vídeo.
https://www.youtube.com/watch?v=YINzMRBv2OU
A materialidade ideológica se concretiza no discurso porque a produção textual envolve práticas materiais das
ideias.
Para Michel Pêcheux, os sentidos não existem em si, são definidos pela seleção de palavras que se inserem em
um processo social e histórico “exterior à língua”. Pode haver no texto contradição, submissão ou parceria e
esses movimentos expressos no vocabulário usado resultam de um discurso influenciado por valores ideológicos
em circulação no meio em que o autor circula.
1 A heterogeneidade discursiva
Segundo Foucault (2002, p. 136), a formação discursiva é “um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre
determinadas no tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área social, econômica,
geográfica ou linguística dada, as condições de exercício da função enunciativa”.
https://www.youtube.com/watch?v=bXdcbztsGyw
https://www.youtube.com/watch?v=bXdcbztsGyw
https://www.youtube.com/watch?v=YINzMRBv2OU
https://www.youtube.com/watch?v=YINzMRBv2OU
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A formação discursiva ideológica do autor se apresenta na fala de Mafalda que surge como questionadora das
condições impostas pela sociedade. O texto é marcado por ideologia e pretende analisar e criticar o mundo. Na
verdade, a tira está na contramão do discurso infantil de que a Mafalda deveria ser representante, no entanto ela
recusa as “coisas do mundo” como estão colocadas, recusa a passividade e reflete a inquietude de uma atitude
político-social.
Os sentidos presentes no discurso resultam do que foi retido na memória e são resgatados em determinadas
situações. Segundo Pêcheux (1994, p. 57), esses sentidos formam um “campo de documentos pertinentes e
disponíveis sobre uma questão”. São os ecos discursivos que aparecem na intertextualidade. Podem aparecer
repaginados, mas possibilitam a leitura de mundo e se encaixam em determinadas situações de uso como
recurso de lembrança.
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Mafalda busca a discussão que conduza as outras pessoas a refletirem sobre os possíveis sentidos. Espera
respostas ideologicamente comprometidas com o contexto sociopolítico.
O autor representa a personagem com gestos (coceira, a onomatopeia para procura, palmas) para finalmente
usar palavras começando com “bom” que seria um modalizador para demarcar a chamada à participação de
interlocutores que a ajudassem a desenvolver uma ideia. Vamos observar, a seguir, a charge de Henfil:
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Se tomarmos a personagem Graúna da tira de Henfil como sujeito A e os interlocutores como sujeitos que se
encontram em posições de determinadas estruturas sociais e políticas, podemos observar que aparentemente há
uma troca de informações entre A e os demais sujeitos até que, no último quadro, é estabelecido um jogo de
efeitos de sentido, demonstrando contradição com o posicionamento nas participações anteriores. O sujeito A
com a pergunta “Por quê?”, em negrito e em letras maiores, posiciona-se como crítico.
Identifica-se a heterogeneidade discursiva.
Assista aos vídeos para perceber a relação dialógica e polêmica do discurso:
https://www.youtube.com/watch?v=o7OlNhxLrOg
https://www.youtube.com/watch?v=t7c2hEbZ2MQ
https://www.youtube.com/watch?v=2YtfCZ4uPZI
https://www.youtube.com/watch?v=o7OlNhxLrOg
https://www.youtube.com/watch?v=o7OlNhxLrOg
https://www.youtube.com/watch?v=t7c2hEbZ2MQ
https://www.youtube.com/watch?v=t7c2hEbZ2MQ
https://www.youtube.com/watch?v=2YtfCZ4uPZI
https://www.youtube.com/watch?v=2YtfCZ4uPZI
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Estudo de caso
A partir do estudo feito, leia os dois textos e produza uma análise da relação dialógica e polêmica que é possível
deduzir da leitura: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon030/pdfs/aula_06_estudo_de_caso.pdf
O que vem na próxima aula
• As marcas de possibilidade de mais de um plano de significação;
• a polifonia e a intertextualidade nos textos;
• a leitura inscrita no texto como virtualidade, como possibilidade.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Estudar a formação discursiva e formação ideológica do discurso;
• observar a heterogeneidade discursiva em textos diversos;
• identificar a relação dialógica e polêmica nos textos.
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	Olá!
	
	1 A heterogeneidade discursiva
	Estudo de caso
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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