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E-book 1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Fernanda Mendes Arantes Neste E-Book: INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ���������������������4 Educação de jovens e adultos: evolução histórica �����������������7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������������� 35 SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������36 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, estudaremos a origem da modalida- de atualmente chamada de Educação de Jovens e Adultos (EJA)� Para isso, iniciaremos entendendo as condições sociais e históricas em que surgiu a ne- cessidade de criação dessa modalidade� Em seguida, refletiremos sobre como aconteceu a educação em nosso país desde a chegada dos jesuítas até hoje em dia� Será que sempre existiu uma grande quantidade de pessoas analfabetas no Brasil? Será que o percentual de pessoas analfabetas sempre foi o mesmo? Esse número era maior ou menor no século passado? Durante o percurso histórico aqui abordado, conhe- ceremos ainda as principais campanhas e políticas públicas envolvidas na área da Educação, assim como os principais autores, teóricos e educadores que pensaram em como ensinar um jovem ou adulto que não foi alfabetizado na época certa. Por fim, analisaremos as principais políticas e os programas voltados a esse público-alvo. Pronto para esse mergulho na história? Vamos juntos! 3 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Muito provavelmente, você conhece alguma pessoa jovem ou adulta que não sabe ler e escrever. Se não conhece, já ouviu falar sobre essa situação. Saiba que, por mais que pareça comum, muitas pessoas ainda vivem nessa situação; enquanto educadores, é nosso dever lutar para modificar essa realidade. Muitas pessoas conseguiram ingressar na Educação de Jovens e Adultos e concluir a etapa; outras, no entanto, permaneceram sem o acesso ao conheci- mento no universo da leitura e escrita� Surge, então, uma pergunta crucial: você sabe como é constituída a modalidade denominada Educação de Jovens e Adultos? A fim de explicar, recorreremos à nossa legislação, mais precisamente à Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) n. 9394/1996, Seção V, artigos 37 e 38: Art. 37. A educação de jovens e adultos será des- tinada àqueles que não tiveram acesso ou conti- nuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida (Redação dada pela Lei n. 13.632 de 2018). § 1 Os sistemas de ensino assegurarão gra- tuitamente aos jovens e aos adultos, que não 4 puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, con- sideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2 O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e comple- mentares entre si. § 3 A educação de jovens e adultos deverá articular-se, preferencialmente, com a edu- cação profissional, na forma do regulamento (Incluído pela Lei n. 11.741 de 2008). Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1 Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamen- tal, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2 Os conhecimentos e habilidades adqui- ridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exa- mes (BRASIL, 1996, p. 17-18). 5 Trata-se, portanto, de uma modalidade de ensino destinada às pessoas que não conseguiram com- pletar o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio na idade adequada� As outras modalidades de ensino são: Educação Especial, Educação Profissional e Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação a Distância (EaD)� Quando verificamos na LDB a afirmação de que o poder público deve viabilizar e estimular o acesso e a permanência do trabalhador na escola, saiba que o que está sendo dito nesse contexto é: o poder pú- blico deve oferecer acesso (vagas) e permanência (condições para que o aluno possa evoluir e concluir os estudos)� Em outras palavras, além de oferecer a vaga na es- cola, o poder público deve propiciar as condições necessárias para que o aluno possa realizar seus estudos e efetivamente concluir a etapa que havia ficado pendente anteriormente. Mas quais seriam essas condições? Bem, é uma longa discussão e, para começá-la, vamos recuperar a história educacional, com isso, podemos verificar como se instituiu a modalidade de ensino e seus avanços até chegarmos ao modelo que conhecemos� 6 Educação de jovens e adultos: evolução histórica No Brasil, a educação formal começou efetivamente com a chegada dos jesuítas na década de 1540, pois a Corte Portuguesa tinha como objetivo dominar nossas terras, povoá-las e torná-las produtivas, mas também converter os indígenas, com o intuito de salvar suas almas. Essa conversão baseava-se na ação de catequizá-los através do convencimento, da desconstrução de suas práticas e valores, com a finalidade de introduzir valores “civilizados”. Os jesuítas buscaram a aproximação com crianças e adultos, obtendo maior sucesso com os pequenos, por isso, acabaram focando suas ações na educação das crianças através das casas de meninos� Por meio das crianças, os jesuítas buscavam atingir seus pais. A esse respeito, temos que As “casas de meninos” foram o primeiro locus escolar dos jesuítas em terras brasílicas [...] Eram construções rústicas, pobres, que faziam a vez de Igreja, escola e moradia. As casas cumpriam papel educacional e catequético. Acolheram, educaram e doutrinaram indíge- nas, mestiços, órfãos e filhos de portugueses (BIOTO-CAVALCANTI; ROSILEY, 2013, p. 30-31). Percebe-se que o foco desse período eram as crian- ças, não os adultos� Essa situação permaneceu a 7 mesma durante todo o período dominado pelos je- suítas em nossa educação� Em 1759, a Companhia de Jesus foi expulsa tanto de Portugal quanto do Brasil. Em seguida à expulsão, o Marquês de Pombal impôs uma série de reformas no sistema educacional brasileiro (ainda não estru- turado, efetivamente)� Somente em 1772, de acordo com Aranha (1989), “foram tomadas as primeiras providências mais efe- tivas com relação à educação na Colônia: iniciava-se a implementação do ensino público oficial, o Estado português passou a organizar a educação, nomean- do professores e estabelecendo planos de estudo e inspeção”. Deve-se compreender que, pelo fato de os jesuítas terem dominado por tanto tempo a Educação, eles já possuíam métodos e formas de ensinar que, com a sua expulsão, foram totalmente invalidados pelos seguidores/apoiadores do Marquês de Pombal. Havia uma certa estrutura que, após a saída dos jesuítas, foi desmoronando� Nesse sentido, Na administração de Pombal, há uma tentativa de atribuir à Companhia de Jesus todos os males da Educação na metrópole e na colônia, motivo pelo qual os jesuítas são responsabili- zados pela decadência cultural e educacional imperante na sociedade portuguesa (MACIEL; SHIGUNOV NETO, 2006). 8 Marquês de Pombal implementou uma série de re- formas educacionais, com o objetivo de transfor- mar a escola em um instrumento balizador da nova sociedade que nascia� Porém, havia uma carência muito grande de professores que pudessem atuar no ensino elementar e primário� Nota-se ainda, em consonância com Maciel e Shigunov Neto (2006), que havia duas grandes ten- dências educacionais: uma escola voltada à nobreza e burguesia e outra aos que tinham menor condição financeira. Na prática, observou-se que, apesar da grande quan- tidade depropostas educacionais durante o período pombalino, as reformas nunca foram implementa- das, provocando um longo período de retrocessos e, consequentemente, desorganização do sistema educacional brasileiro (1759 a 1808). Portanto, foram quase meio século de desestrutu- ração do sistema educacional brasileiro. Imagine a quantidade de pessoas que provavelmente ficou à margem das escolas, sem conseguir aprender a ler e a escrever� Nos anos 1800, ainda não possuíamos uma situa- ção estruturada na educação nacional e, consequen- temente, o nível que mais sofreu foi sem dúvida a educação elementar (ou básica). Em 1822, foi pro- clamada a Independência do Brasil e, em 1824, foi outorgada a nossa primeira Constituição Federal� 9 FIQUE ATENTO Existem dois tipos de constituição no Brasil: a outorgada e a promulgada� A outorgada é uma Constituição imposta, sem a participação demo- crática� Por seu turno, a Constituição Promulgada foi aprovada democraticamente e com o consentimento dos deputados e senadores eleitos pela população� Portanto, nossa primeira Constituição (1824) foi im- posta. Pesquise mais sobre as demais Constituições no site do Ministério da Educação (MEC)� Na Constituição de 1824, consta a necessidade da gratuidade na instrução primária para todos os ci- dadãos. Na prática, quem cuidava das “primeiras letras” (atualmente as séries iniciais do Ensino Fundamental) eram os governadores das províncias que, em realidade, pouco fizeram durante o Império e grande parte da República. Outro ponto importante a se pensar é a quem se destinava a escola? Note que já estamos próximos à abolição da escravidão, movimento que deixou à deriva milhares de pessoas que conquistaram sua liberdade, sem conquistar as devidas condições para sua sobrevivência. O escravizado liberto tinha onde morar? Tinha em- prego fixo? Salário? Condições de se alimentar e sustentar sua família? As respostas para todas es- sas perguntas são as mesmas: Não! Logo, podemos 10 imaginar a legião de pessoas que permaneceram à margem da sociedade durante muitos anos� Quem tinha direito à educação eram os brancos e ricos — palavras grafadas no masculino mesmo, por- que às mulheres era negado o direito de estudar. As pessoas que eram pobres não tinham acesso à educação; já as mulheres de classes mais abastadas permaneciam destinadas aos afazeres domésticos, e a escola lhes era um direito negado� Podemos dizer que a primeira legislação que se pre- ocupou efetivamente com o ensino de jovens e adul- tos analfabetos foi a Reforma Leôncio de Carvalho (1878), que mencionava a criação de escolas no pe- ríodo noturno para adultos analfabetos. Um marco importante com relação à Educação de Jovens e Adultos diz respeito à Lei Saraiva, Decreto n. 3.029 de 9 de janeiro de 1881, que excluía os anal- fabetos do direito ao voto, sendo assim: O objetivo da exigência de saber ler e escrever para ser eleitor não era purificar as urnas, mas sim impedir o alargamento da participação popular. É durante o período da reforma eleito- ral que se verifica aquilo que se pode chamar de construção do discurso da incapacidade eleitoral dos analfabetos, que resultou, a par- tir de então, na exclusão dos analfabetos do direito de voto por mais de um século e na estigmatização, até hoje, dos “portadores” de analfabetismo (LEÃO, 2012, p. 602). 11 Daí nos indagamos o motivo de a exclusão dos analfabetos do direito ao voto ser importante para a Educação de Jovens e Adultos� Em primeiro lugar, estamos falando que foi importante e não positivo� Importante, porque foi a partir disso que alguns seto- res da sociedade começaram a se mobilizar (por mo- tivos diversos) para que a Educação para os jovens e adultos acontecesse efetivamente, ou seja, a massa de analfabetos poderia “fazer parte” da sociedade. Ainda segundo Michele de Leão (2012), é importan- te salientar que o censo demográfico do Brasil em 1872 apontava para uma taxa de analfabetismo em torno de 80% para a população acima dos 5 anos de idade. Isso mesmo, 80% da população brasileira era analfabeta. É de se espantar com essa informação, não é? Não fique. A história surpreende ainda con- siderando os dias atuais� Além da necessidade de saber ler e escrever, a Lei Saraiva atribuía uma renda mínima ao cidadão elei- tor (200 mil réis) e, além disso, foi estipulado um processo burocrático para a comprovação da renda, o que resultou em cidadãos que possuíam a renda mínima exigida, eram alfabetizados, mas não con- seguiam comprovar seus rendimentos conforme preconizava a lei. Com isso, podemos refletir sobre a razão de os anal- fabetos que, até então, podiam votar, mas que foram excluídos do processo eleitoral� Atente-se para o fato de que, nessa época, se acreditava que 12 Entre os grupos dirigentes se propagou a noção de que para haver boas eleições era preciso, primeiramente, existir bons eleitores, e esses bons eleitores encontrar-se-iam entre os homens “educados”, ou seja, alfabetizados. Para o gover- no e as elites, até mesmo para a grande maioria dos parlamentares liberais, aceitar o voto dos analfabetos passou a ser um problema, o que não era até então (LEÃO, 2012, p. 612). Após a Lei Saraiva (1881), os analfabetos começa- ram a ser rotulados como pessoas que não tinham discernimento para a escolha de seus representantes, o que extrapolou outras esferas de suas vidas� Em muitos momentos, essas pessoas foram conside- radas ignorantes, incapazes e até perigosas para a sociedade. Com a lei, somente 1,5% da população era autorizada a votar, o que só foi modificado em 1945 quando 13,4% dos brasileiros foram às urnas (LEÃO, 2012, p. 614). Foi somente no período de redemocratização pela Emenda Constitucional 25 de 1985 e da Constituição Federal de 1988 que a situação foi revista e alterada, ao se facultar ao analfabeto o direito de votar nas eleições� Entenda que, no final do século 19, os analfabetos não podiam votar; porém, o Estado não oferecia (nem durante o Império, muito menos após a Proclamação da República, 1889) escolas suficientes para que a população fosse alfabetizada. 13 O Distrito Federal mostrou-se, em 1928, pioneiro ao inaugurar cursos elementares noturnos (para o traba- lhador analfabeto) denominados Cursos Populares Noturnos. Assim, “esses cursos deveriam ministrar o ensino primário elementar no período de dois anos para os adultos analfabetos, o ensino técnico elemen- tar e o ensino de cultura geral” (PAIVA, 2003, p. 134). O movimento pioneiro Escola Nova (década de 1930) lutou, dentre outros aspectos, por uma escola pública e obrigatória para todos, o que incluía nossa popu- lação de analfabetos. De 1930 a 1945, vivemos um período de retroces- so denominado em toda a sua extensão como Era Vargas. Sobre o período, saiba que no censo de 1940 o Brasil ainda contava 55% da sua população (maior de 18 anos) analfabeta. Ou seja, mais da metade do povo brasileiro não havia concluído ou cursado as series iniciais da Educação Básica. Observe, porém, que não era somente a Educação de Jovens e Adultos que estava abandonada, a Educação Elementar (Educação Básica) também estava. O sistema educacional brasileiro não era estruturado, não havia obrigatoriedade na lei para a conclusão da Educação Básica, muito menos com relação à parte do orçamento nacional (federal, es- tadual e municipal) destinado à Educação. Apesar de ter sido um período ditatorial, em alguns aspectos podemos dizer que foram notados avanços na legislação vigente� Por exemplo, a Constituição de 1934 tornava a educação um direito de todos: 14 [...] o ensino primário deveria ser integral, gra- tuito, de frequência obrigatória e extensivo aos adultos. Determinou-se que União e mu- nicípios deveriam investir 10% na educação e estados e Distrito Federal deveriam investir 20%. Criaram-se também os fundos especiais (PAIVA, 2003, p. 134). No final da Era Vargas (1945), tínhamos cerca de 3 milhões de alunos noBrasil matriculados na chama- da educação popular� Esse dado é importante, visto que, até o início da Era Vargas, a educação de jovens e adultos sempre foi tratada de forma conjunta com a educação básica (elementar). Somente no início dos anos 1930 foi que se começou a pensar em quem era jovem ou adulto que não havia sido alfabetizado na época correta e por quê� Em 1945, foi estabelecido o Fundo Nacional do Ensino Primário, destinando 25% da verba para a educação de jovens e adultos� A partir daí, surgiram diversas campanhas destinadas à educação de jo- vens e adultos, ganhando relevância no território nacional� Em 1947, foi aprovado o plano da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA)� Segundo Paiva (2003, p. 206), nasceu da importância de “prepa- rar mão de obra alfabetizada nas cidades, de penetrar no campo e de integrar os imigrantes e seus descen- dentes [���] instrumento para melhorar a situação do Brasil nas estatísticas mundiais de analfabetismo”. 15 Essa campanha fez com que os adultos pudessem fugir dos currais eleitorais e, com isso, alguns votos predeterminados acabaram escapando das mãos dos grandes políticos da época� Para quem o analfabetismo interessa? Pergunta: por que, de uma hora para outra, o adulto analfabeto se tornou tão importante para os repre- sentantes da política nacional? A resposta pode ser: Com o crescimento das zonas urbanas devido à aceleração da industrialização, a acelera- ção do capitalismo tardio e as demandas das políticas externas referentes ao pós-guerra, houve uma busca por políticas e projetos para combater as altas taxas de analfabe- tismo e o aumento da escolaridade da popu- lação trabalhadora começou a ser debatida no Governo de Getúlio Vargas (1937-1945) e que culminou na Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA) iniciada em 1947 e com duração até os primeiros anos da década de 1950, uma vez que nesse período a taxa de analfabetismo chegava em 50,6% de toda a população (INEP, 2003) o que se caracterizou como um real problema no fim do Estado Novo e na abertura democrática do país (SOUZA; DANIEL, 2015, p. 572). Entenda que a situação implicava um cenário mun- dial, no qual o Brasil estava muito mal visto, pois me- 16 tade da sua população era analfabeta e, consequen- temente, impedida de votar em quaisquer eleições� Em relação à Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), esta estruturou-se fundamentalmente com a participação do volunta- riado, para que fosse possível atingir a maior quan- tidade de adultos analfabetos possível. Foram aceitos desde professores atuantes na es- cola pública até pessoas que concluíram o 4º ano ginasial, correspondente ao atual 5º ano do Ensino Fundamental I� A União arcava com o custo relativo ao material didático, professores e outros profissio- nais envolvidos, cabendo aos estados os demais recursos que faltassem� Conforme já dissemos, contava-se em sua maioria com professores volun- tários para a campanha, ou seja, sem custo à União e/ou aos Estados. A CEAA foi amplamente divulgada nos jornais e rá- dios (mídia hegemônica à época). Com a Campanha nas mídias, a sociedade foi conclamada a participar, seja na condição de aluno, professor, voluntário ou simplesmente divulgando as ações realizadas. O ideal que estava por trás da Campanha era o patrio- tismo, por isso, realizou-se uma mobilização tamanha com a ideia central que, a partir da alfabetização, seria possível desenvolver a nação� Além disso, a ideia da alfabetização foi relacionada com as possibilidades de empregos nas fábricas, 17 quem não aderia à Campanha seria classificado como ignorante� Porém, nem tudo são flores quando nos referimos à CEAA. Durante muito tempo, o ideal alfabetizador foi motivador, mas não resistiu às críticas tanto ao seu material didático quanto à evasão escolar que se apresentava� O declínio começou em 1954 ao enfrentar problemas como falta de voluntários, a própria evasão escolar, escassez de recursos destinados à Campanha, den- tre outros aspectos� Aqui, não entraremos em detalhes, mas é importante ressaltar que houve um declínio e que, a partir daí, surgiram ideias de que campanhas como a CEAA eram destinadas somente à alfabetização de elei- tores. Em 1960, o índice de analfabetismo caiu de 50,6% em 1950 para 39,5% em 1960, apesar do gran- de aumento populacional (PAIVA, 2003). Em 1958, realizou-se o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, no qual Paulo Freire apresen- tou o tema A educação de adultos e as populações marginais: o problema dos mocambos, chamando atenção para as causas sociais do analfabetismo, atraindo outros olhares para a questão urgente à sociedade brasileira. Nesse mesmo ano, foi criada a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que defen- deu a ideia de que o desenvolvimento econômico só acontece a partir do desenvolvimento educacional� 18 Em 1963, as campanhas destinadas à erradicação do analfabetismo foram extintas. Importante frisar que, em 1961, foi aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Lei n. 4024/1961, que também propunha campanhas nacionais de alfabe- tização que foram extintas em 1963. Em 1961, foi criado o Movimento de Educação de Base (MEB), caracterizado pela difusão dos conte- údos a partir de emissoras de rádio. De 1962 em diante, esse movimento foi direcionado à cultura popular, conscientizando e preparando os cidadãos. No golpe de 1964, o movimento perdeu relevância significativamente, sendo extinto em 1965. Como se percebe, os anos 1960 foram frutíferos em relação aos movimentos de alfabetização popular. Não comentamos em detalhes tais movimentos, mas é importante que saber quais foram e quando aconteceram� A seguir, consta-se uma listagem com os principais movimentos e campanhas da época: 1960: Movimento de Cultura Popular (MCP) (Pe). 1961: Campanha “De pé no chão também se aprende a ler” (RN). 1961: Movimento de Educação de Base (MEB). 1961: Centro Popular de Cultura da UNE (CPC-UNE). 1961: Campanha de Educação Popular da Paraíba (PB). 19 Esses movimentos foram os mais importantes em suas respectivas áreas e épocas� O MCP, por exem- plo, teve a colaboração de Paulo Freire nos dois pri- meiros anos. Paiva (2003) nos traz a dimensão do pensamento e da contribuição de Paulo Freire com relação aos movimentos: [...] o pensamento de Paulo Freire partia de uma visão cristã e considerava que a socieda- de brasileira estava passando de uma socie- dade “fechada” para uma sociedade “aberta” e o povo emergia nesse processo, inserindo- -se criticamente e passando a ser “sujeito” da história. A educação nesse processo deveria ser uma educação reflexiva e corajosa e seu método deveria permitir que o educar ajuda o homem a fazer-se agente de sua própria recuperação através de uma postura cons- cientemente crítica diante de seus problemas (PAIVA, 2003, p. 280). Paulo Freire e a educação de adultos Paulo Freire elaborou uma metodologia própria fun- damenta nos Temas Geradores para alfabetizar jo- vens e adultos trabalhadores. Em Ação Cultural para a Liberdade e outros escritos, que reúne textos entre 1968 e 1974, Paulo Freire trata de temas como a alfabetização e reforma agrária. Nele, encontramos detalhadamente as formas de trabalhar a alfabeti- zação de jovens e adultos. 20 Primeiramente, é preciso entender que Paulo Freire cunhou a expressão “educação bancária” em referên- cia ao ensino tradicional� O ensino tradicional foi uma metodologia utilizada por muito tempo nas escolas e que ainda pode ser encontrada nos dias de hoje disfarçadamente em muitos ambientes escolares. Trata-se de ensinar de uma maneira em que o pro- fessor sabe tudo e o aluno nada sabe. O professor é o centro do processo de ensino-aprendizagem, “despeja” sua teoria durante toda a aula, e o aluno não tem o direito de discordar ou sequer perguntar; ao final do período letivo, o aluno deve reproduzir nasprovas toda a teoria transmitida pelo professor, em alguns casos, deve inclusive utilizar as mesmas palavras do professor� Ao se referir ao ensino tradicional, Freire chamava de educação bancária. Para ele, esse método era semelhante à ação de irmos ao banco (instituição financeira) e depositarmos um valor para alguém. Nessa analogia, o aluno é o banco, portanto, está destinado a receber o deposito, mas não pensar/ refletir/agir sobre o depósito (conhecimento trans- mitido pelo professor)� Alfabetizar jovens e adultos é um ato que implica preocupação, a priori, em conhecer o contexto em que as pessoas vivem, ou seja, o professor deve fa- zer um levantamento prévio sobre quem são essas pessoas, onde trabalham, por que não finalizaram a etapa da educação básica na idade certa, dentre outros fatores� 21 Além disso, para alfabetizar, o professor deve par- tir dos seus interesses e palavras que façam parte do seu cotidiano� Sua ideia vai inteiramente contra as cartilhas vigentes à época que continham frases desconexas, sem sentido e sem estimular o aluno a querer aprender a ler e escrever� Frases como “a babá lava o bebê” eram destinadas à alfabetização de um aluno (criança ou adulto) — lembre-se de que estamos falando da década de 1960. Agora que estamos em pleno século 21, você consegue visualizar um adulto ou criança aprendendo com frases como essa? Pois bem, Paulo Freire acreditava naquela época que já não era possível. Seria ele um visionário? Acreditamos que não� Era uma pessoa, sem dúvida, à frente de sua época, porém, enxergava como o aluno aprende efetivamente, não como editoras e escolas tradicionais gostariam que ele aprendesse� Não se engane, o método Paulo Freire foi resultado de muitos anos de estudos e pesquisas e surgiu a partir da sua observação a respeito dos alunos. Para o autor, o método é separado em três etapas: 1. Etapa de investigação: o educador deve preo- cupar-se em conhecer o cotidiano de seus alunos, interesses e palavras que façam parte do seu dia a dia, seja na família, vida pessoal seja no trabalho. 2. Etapa de tematização: professor e alunos traba- lham juntos para ser possível a tomada de consciên- cia a respeito do contexto de cada um e analisar os 22 significados sociais de palavras e temas escolhidos para alfabetização. 3. Etapa de problematização: o professor desafia o aluno a analisar criticamente sua posição no mundo, o contexto em que vive, buscando a conscientização. O método Paulo Freire em si acontece da seguinte forma: a partir da seleção das palavras geradoras (18 a 23 aproximadamente), são apresentados carta- zes com imagens culturais ou do cotidiano para que todos possam analisá-las (momento denominado círculo de cultura). Em seguida, o educador trabalha a silabação das palavras, ou seja, as sílabas são se- paradas para que o aluno possa conhecê-las; a partir das famílias silábicas, são apresentadas novas pa- lavras destinadas a ampliar o universo vocabular do grupo de alunos. Finalmente, entenda que o objetivo deste método é a conscientização, não somente da silabação, codificação ou decodificação de sílabas e palavras� A partir do dia a dia do aluno, da consciência sobre o seu papel do mundo, da sua evolução com relação à crítica feita sobre a sociedade em que vive, é que o educador trabalha. O que precisamos saber sobre ele e a Educação de Jovens e Adultos que ainda não foi dito por aqui é: em 1963, Paulo Freire foi encarregado de elaborar um Plano Nacional de Alfabetização. Porém, com o Golpe Militar instaurado em 1964, esse programa foi interrompido, uma vez que os militares não deseja- vam que a população tivesse consciência crítica a 23 respeito da sua posição na sociedade� Freire, inclu- sive, passou a ser perseguido politicamente e ficou exilado no Chile durante 14 anos. Então, qual era a intenção do governo com esses alu- nos? A resposta é simples. Com o avanço da indus- trialização, o governo preocupava-se com a formação de mão de obra técnica para atuação nas fábricas que se espalhavam pelos grandes centros urbanos. Voltando às políticas públicas na área da Educação de Jovens e Adultos, cabe destacar a criação, em 1967, do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). Segundo Paiva (2003), Em 8 de setembro de 1967 (Dia Internacional da Alfabetização), vários decretos foram as- sinados: Decreto n. 61.311 criando um Grupo Interministerial para estudo e levantamen- to de recursos destinados à alfabetização; Decreto n. 61.312 prevendo a utilização das emissoras de TV nos programas de alfabe- tização; Decreto n. 61.313 constituindo a Rede Nacional de Alfabetização Funcional e Educação Continuada de Adultos; Decreto n. 61.314 instituindo a educação cívica nas ins- tituições sindicais e a campanha em prol da extinção do analfabetismo. O Mobral estruturou-se a partir da criação da Fundação Mobral, a qual tinha por objetivos “a tarefa de alfabetização funcional e educação continuada 24 dos adultos, como prioritária entre as demais ativi- dades educativas” (PAIVA, 2003, p. 293). Segundo Beluzo e Toniosso (2015, p. 200), os principais objetivos da gestão militar com relação ao Mobral eram: [...] erradicar o analfabetismo, integrar os anal- fabetos na sociedade, dar oportunidades a eles através da educação, buscando assim, benefícios para a população menos favorecida economicamente e principalmente a alfabe- tização funcional, com a aquisição de técni- cas elementares de leitura, escrita e cálculos matemáticos. O que foi propagado é que o método Paulo Freire seria utilizado também no Mobral. Entretanto, foi realizado de maneira descontextualizada. Utilizavam- se das fichas de leitura, mas sem considerar o co- nhecimento prévio do aluno e muito menos havia a preocupação em conscientizá-lo criticamente como Freire previa. O Mobral caracterizou-se efetivamente por uma massificação dos conteúdos e pouca ou nenhuma preocupação com a singularidade do aluno� Paradoxalmente, o método Mobral expandiu-se, che- gando a ser reconhecido pela Unesco como uma ati- vidade de grande importância para o povo brasileiro, recebendo inclusive menção honrosa pela Associação Internacional para a Leitura da Unesco em 1983. Contudo, não pense que os educadores ficaram em silêncio diante da descontextualização do méto- 25 do Paulo Freire no Mobral, Lourenço Filho e Anísio Teixeira, dentre outros, o criticavam duramente� Podcast 1 No tocante à legislação, a lei n. 5672/1971 esta- beleceu o ensino supletivo para jovens e adultos. É preciso ter em mente que, desde 1964, o Brasil vivia um período de Ditadura Militar que se encerrou efetivamente em 1985. Por fim, em 1980, o Mobral teve suas características alteradas, com isso, voltou-se a uma alfabetização mais crítica. Em 1981, passou a ter importância de um traba- lho educacional suplementar e complementar, voltando seus focos para as crianças na idade pré-escolar� Em 1985, foi extinto e substituído pela Fundação Educar, que surgiu como um movimento que acreditava na reformulação geral das estruturas educacionais� E como fica a Educação de Jovens e Adultos na contemporaneidade? A Constituição Federal de 1988 ampliou a obrigato- riedade do Estado com a Educação Básica. Observe: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de ida- de, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso 26 https://famonline.instructure.com/files/1053902/download?download_frd=1 na idade própria (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 59, de 2009); II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencial- mente na rede regular de ensino; IV - educação infantil, em creche e pré-esco- la, às crianças até 5 (cinco) anos de idade (Redaçãodada pela Emenda Constitucional n. 53, de 2006). V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didá- tico escolar, transporte, alimentação e assis- tência à saúde (Redação dada pela Emenda Constitucional n. 59, de 2009): § 1 O acesso ao ensino obrigatório e gratui- to é direito público subjetivo. § 2 O não-ofe- recimento do ensino obrigatório pelo Poder 27 Público, ou sua oferta irregular, importa res- ponsabilidade da autoridade competente. § 3 Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola (BRASIL, 1988, p. 107). É importante entender ainda que, a partir da Constituição de 1988, foi elaborada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9394/1996. A LDB é o documento que todo edu- cador deve conhecer, pois propõe, entre outros, que Art. 2. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 27). Pode-se até se achar indiferente ao estabelecimento da Educação como dever da família e do Estado, mas saiba que, segundo a história das políticas públicas do nosso país, é uma importante evolução o esta- belecimento de direitos e deveres em uma lei com o peso da LDB. A mesma lei trata, em sua Seção V – sobre a Educação de Jovens e Adultos, fato inédito até então� 28 Atente-se, porém, para o fato de que vamos resumir do que trata essa seção, mas é recomendado que se leia a LDB em sua totalidade. A lei estabelece que todo jovem e adulto que não con- seguiu concluir os estudos no Ensino Fundamental ou Médio terá direito a cursar a modalidade da Educação para Jovens e Adultos gratuitamente; cabe, então, ao poder público possibilitar condições de acesso e permanência à modalidade. Afirma ainda que a Educação de Jovens e Adultos deve articular-se à Educação Profissional, ou seja, o aluno deve concluir essa modalidade com uma profissão. A despeito dos exames nessa modalidade, a lei prevê que Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter regular. § 1 Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I - no nível de conclusão do ensino fundamen- tal, para os maiores de quinze anos; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2 Os conhecimentos e habilidades adqui- ridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exa- mes (BRASIL, 1996, p. 18). 29 Ao estudar os artigos destinados à Educação de Jovens e Adultos na LDB, podemos compreender o seguinte: No que se refere à educação de jovens e adul- tos, a LDB deixou explícito que esta modalida- de de ensino possui um caráter de educação inclusiva e compensatória, devendo ocorrer um maior investimento por parte do Estado para elevar o índice de ensino da População (BELUZO; TONIOSSO, 2015, p. 205 - grifo nosso). Retomando, a Fundação Educar, campanha que substituiu o Mobral, foi extinta em 1990. Em 1991, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) criou o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC) e estabeleceu que a responsabilidade finan- ceira sobre a alfabetização de jovens e adultos não compete somente à União, mas igualmente às ini- ciativas particulares� O MEC estabeleceu, ainda, que cada Estado deveria realizar um encontro com o objetivo de levantar as metas e ações necessárias para a diminuição dos índices de analfabetismo locais. Uma série de encon- tros sobre essa modalidade de educação começa a surgir a partir da década de 1990, sendo locais, nacionais e internacionais� Em 2003, surge o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), cujo objetivo era superar o analfabetismo e 30 a universalização do Ensino Fundamental no Brasil, porém, a meta não foi cumprida no período estabe- lecido. Logo, [...] houve uma reorganização do PBA por meio do Decreto n. 6.093, de 24 de abril de 2007, em que estabeleceu novos critérios visando a universalização da Educação de Jovens e Adultos a todos os cidadãos brasileiros (BELUZO; TONIOSSO, 2015, p. 207). O que observamos, de fato, é um preconceito com as pessoas de maior idade na escola, dado que havia a ideia de que a escolaridade destinada a essas pes- soas possuía apenas a função de reparação do que foi perdido, muitas vezes deixando-os em posição de inferioridade aos demais que haviam concluído os níveis da educação na idade adequada� Nesse sentido, deve-se observar que [...] os objetivos da formação de pessoas jo- vens e adultas não se restringem à compen- sação da educação básica não adquirida no passado, mas visam a responder às múltiplas necessidades formativas que os indivíduos têm no presente e terão no futuro (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, p. 70). É importante ter em mente que o jovem ou adulto que ficou defasado na escola no século 21 não é o mesmo 31 de séculos passados. Hoje em dia, há mais condições e acesso ao conhecimento, com isso, todos evolu- ímos� O modelo anterior, centrado em apenas uma forma de ensinar para essas pessoas, está superado� Devemos ter consciência de que, em EJA, é neces- sário flexibilizar currículos, diversificar as formas de as pessoas frequentarem a escola, reconhecer que um mesmo percurso educacional pode não funcionar para a turma toda e que esse público pode não optar por realizar uma Educação Profissional juntamen- te com EJA. Mas sobretudo, que esses alunos são sujeitos singulares; logo, um grupo de alunos não é puramente a união de vários sujeitos singulares� Portanto, é necessário que o Estado reconheça que, para cada região do país, a EJA pode funcionar de uma maneira e, para isso acontecer, deve haver des- centralização do sistema de ensino para que cada escola ou centro educativo tenha liberdade de ela- borar seu Projeto Político Pedagógico. Nas palavras de Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001, p. 71), o Estado deveria: ● Flexibilizar a organização curricular e assegurar certificação equivalente para percursos formativos diversos, facultando aos indivíduos que autodeter- minem suas biografias educativas, optando pela trajetória mais adequada às suas necessidades e características; ● Prover múltiplas ofertas de meios de ensino-apren- dizagem, presenciais ou a distância, escolares e extra- 32 escolares, facultando a circulação e o aproveitamento de estudos nas diferentes modalidades e meios; ● Aperfeiçoar os mecanismos de avaliação, facultar a creditação de aprendizagens adquiridas na experiên- cia pessoal e/ou profissional ou por meio de ensinos não formais, diversificando e flexibilizando os meios de acesso a níveis de escolaridade mais elevados� Podcast 2 Entenda que a discussão sobre as vertentes metodo- lógicas para o ensino de jovens e adultos será reto- mada. Neste momento, para finalizarmos a reflexão feita ao longo deste módulo, é importante sabermos que, a partir da LDB de 1996, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é oficializada como uma modalidade de ensino da Educação Básica nas etapas do Ensino Fundamental e Ensino Médio� A própria LDB assegura a necessidade da criação de um Plano Nacional de Educação (PNE) que proponha metas para a década seguinte. Entretanto, sabe-se que diversas metas estabelecidas no PNE não foram cumpridas� Uma legislação importante na área é o Parecer CNE/CEB 11/2000, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. O Parecer estabeleceos parâmetros para essa modalidade, mas também reconhece uma dí- vida histórica com a alfabetização de pessoas que, 33 https://famonline.instructure.com/files/1053904/download?download_frd=1 por uma série de motivos, foram deixadas à margem da escolarização formal. Assim, a partir da Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação e do Parecer CNE/ CEB 11/2000, a EJA é obrigatória, sendo assim, os sistemas Estaduais e Municipais devem organizar-se para sua oferta, organização, estrutura e manutenção. Entende-se, porém, que muito do que está previsto em lei não é cumprido, nem tampouco foi realizado e formalizado em um passado recente. No entanto, é consenso que o primeiro passo para a instituição de qualquer mudança na sociedade é o estabeleci- mento de leis que possibilitem a concretização de programas e ideais� Vamos juntos continuar a viagem pelo universo da Educação de Jovens e Adultos! 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste módulo, fizemos uma viagem no tempo, pois apresentamos aspectos relacionados à história e às políticas públicas no que tange à Educação de Jovens e Adultos� Com isso, foi possível compre- ender e situar-nos no tempo/espaço. Por meio do panorama apresentado, pudemos verificar os motivos que têm levado à existência de milhares pessoas analfabetas no país. Há diversos interesses envolvidos, ora em manter essa massa de pessoas sem acesso ao conheci- mento, ora em “proporcionar” esse acesso. Nenhum desses interesses tem relação com a educação de- sinteressada, mas nem por isso deixamos de acre- ditar que é possível educar neste país� Essa chama deve permanecer em nossa memória sempre que nos depararmos com um trabalho, artigo ou projeto em EJA� 35 SÍNTESE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA EJA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Ao longo de nossa jornada histórica, conhecemos as principais campanhas e políticas públicas envolvidas na área da Educação, assim como os principais autores, teóricos e educadores que pensaram em como ensinar um jovem ou adulto que não foi alfabetizado na época certa� Ao fazê-lo, fomos capazes de verificar que sempre houve diversos interesses envolvidos, seja em manter a massa de pessoas sem acesso ao conhecimento, seja em “proporcionar” esse acesso� Nenhum desses, porém, tem relação com uma educação desinteressada, mas nem por isso deixamos de acreditar que é possível educar neste país� Essa chama deve permanecer, portanto, em nossa memória sempre que nos depararmos com um trabalho, artigo ou projeto em EJA� Em seguida, refletimos sobre o modo como aconteceu a educação no Brasil, para isso, nosso recorte temporal compreendeu, ainda que brevemente, desde a chegada dos jesuítas até nossos dias� Neste módulo, estudamos a origem da modalidade atualmente chamada de Educação de Jovens e Adultos (EJA)� Para isso, iniciamos este estudo buscando compreender as condições sociais e históricas em que surgiu a necessidade de criação dessa modalidade e como evoluiu até os dias atuais� Referências Bibliográficas & Consultadas ARANHA, M. 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