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E-book 1
EDUCAÇÃO 
DE JOVENS E 
ADULTOS
Fernanda Mendes Arantes
Neste E-Book:
INTRODUÇÃO ����������������������������������������������������������� 3
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: 
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ���������������������4
Educação de jovens e adultos: evolução histórica �����������������7
CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������������������� 35
SÍNTESE ��������������������������������������������������������������������36
2
INTRODUÇÃO
Neste módulo, estudaremos a origem da modalida-
de atualmente chamada de Educação de Jovens e 
Adultos (EJA)� Para isso, iniciaremos entendendo as 
condições sociais e históricas em que surgiu a ne-
cessidade de criação dessa modalidade� Em seguida, 
refletiremos sobre como aconteceu a educação em 
nosso país desde a chegada dos jesuítas até hoje 
em dia�
Será que sempre existiu uma grande quantidade de 
pessoas analfabetas no Brasil? Será que o percentual 
de pessoas analfabetas sempre foi o mesmo? Esse 
número era maior ou menor no século passado?
Durante o percurso histórico aqui abordado, conhe-
ceremos ainda as principais campanhas e políticas 
públicas envolvidas na área da Educação, assim 
como os principais autores, teóricos e educadores 
que pensaram em como ensinar um jovem ou adulto 
que não foi alfabetizado na época certa.
Por fim, analisaremos as principais políticas e os 
programas voltados a esse público-alvo. Pronto para 
esse mergulho na história? Vamos juntos!
3
EDUCAÇÃO DE JOVENS E 
ADULTOS: CONTEXTUALIZAÇÃO 
HISTÓRICA
Muito provavelmente, você conhece alguma pessoa 
jovem ou adulta que não sabe ler e escrever. Se não 
conhece, já ouviu falar sobre essa situação. Saiba 
que, por mais que pareça comum, muitas pessoas 
ainda vivem nessa situação; enquanto educadores, 
é nosso dever lutar para modificar essa realidade.
Muitas pessoas conseguiram ingressar na Educação 
de Jovens e Adultos e concluir a etapa; outras, no 
entanto, permaneceram sem o acesso ao conheci-
mento no universo da leitura e escrita� Surge, então, 
uma pergunta crucial: você sabe como é constituída 
a modalidade denominada Educação de Jovens e 
Adultos? A fim de explicar, recorreremos à nossa 
legislação, mais precisamente à Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação (LDB) n. 9394/1996, Seção V, 
artigos 37 e 38:
Art. 37. A educação de jovens e adultos será des-
tinada àqueles que não tiveram acesso ou conti-
nuidade de estudos nos ensinos fundamental e 
médio na idade própria e constituirá instrumento 
para a educação e a aprendizagem ao longo da 
vida (Redação dada pela Lei n. 13.632 de 2018).
§ 1 Os sistemas de ensino assegurarão gra-
tuitamente aos jovens e aos adultos, que não 
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puderam efetuar os estudos na idade regular, 
oportunidades educacionais apropriadas, con-
sideradas as características do alunado, seus 
interesses, condições de vida e de trabalho, 
mediante cursos e exames.
§ 2 O Poder Público viabilizará e estimulará 
o acesso e a permanência do trabalhador na 
escola, mediante ações integradas e comple-
mentares entre si.
§ 3 A educação de jovens e adultos deverá 
articular-se, preferencialmente, com a edu-
cação profissional, na forma do regulamento 
(Incluído pela Lei n. 11.741 de 2008).
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos 
e exames supletivos, que compreenderão a base 
nacional comum do currículo, habilitando ao 
prosseguimento de estudos em caráter regular.
§ 1 Os exames a que se refere este artigo 
realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamen-
tal, para os maiores de quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, 
para os maiores de dezoito anos.
§ 2 Os conhecimentos e habilidades adqui-
ridos pelos educandos por meios informais 
serão aferidos e reconhecidos mediante exa-
mes (BRASIL, 1996, p. 17-18).
5
Trata-se, portanto, de uma modalidade de ensino 
destinada às pessoas que não conseguiram com-
pletar o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio na 
idade adequada� As outras modalidades de ensino 
são: Educação Especial, Educação Profissional e 
Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar 
Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação 
a Distância (EaD)� 
Quando verificamos na LDB a afirmação de que o 
poder público deve viabilizar e estimular o acesso e 
a permanência do trabalhador na escola, saiba que 
o que está sendo dito nesse contexto é: o poder pú-
blico deve oferecer acesso (vagas) e permanência 
(condições para que o aluno possa evoluir e concluir 
os estudos)�
Em outras palavras, além de oferecer a vaga na es-
cola, o poder público deve propiciar as condições 
necessárias para que o aluno possa realizar seus 
estudos e efetivamente concluir a etapa que havia 
ficado pendente anteriormente.
Mas quais seriam essas condições? Bem, é uma 
longa discussão e, para começá-la, vamos recuperar 
a história educacional, com isso, podemos verificar 
como se instituiu a modalidade de ensino e seus 
avanços até chegarmos ao modelo que conhecemos�
6
Educação de jovens e adultos: 
evolução histórica
No Brasil, a educação formal começou efetivamente 
com a chegada dos jesuítas na década de 1540, pois 
a Corte Portuguesa tinha como objetivo dominar 
nossas terras, povoá-las e torná-las produtivas, mas 
também converter os indígenas, com o intuito de 
salvar suas almas. Essa conversão baseava-se na 
ação de catequizá-los através do convencimento, 
da desconstrução de suas práticas e valores, com a 
finalidade de introduzir valores “civilizados”.
Os jesuítas buscaram a aproximação com crianças 
e adultos, obtendo maior sucesso com os pequenos, 
por isso, acabaram focando suas ações na educação 
das crianças através das casas de meninos� Por meio 
das crianças, os jesuítas buscavam atingir seus pais. 
A esse respeito, temos que
As “casas de meninos” foram o primeiro locus 
escolar dos jesuítas em terras brasílicas [...] 
Eram construções rústicas, pobres, que faziam 
a vez de Igreja, escola e moradia. As casas 
cumpriam papel educacional e catequético. 
Acolheram, educaram e doutrinaram indíge-
nas, mestiços, órfãos e filhos de portugueses 
(BIOTO-CAVALCANTI; ROSILEY, 2013, p. 30-31). 
Percebe-se que o foco desse período eram as crian-
ças, não os adultos� Essa situação permaneceu a 
7
mesma durante todo o período dominado pelos je-
suítas em nossa educação�
Em 1759, a Companhia de Jesus foi expulsa tanto de 
Portugal quanto do Brasil. Em seguida à expulsão, o 
Marquês de Pombal impôs uma série de reformas 
no sistema educacional brasileiro (ainda não estru-
turado, efetivamente)�
Somente em 1772, de acordo com Aranha (1989), 
“foram tomadas as primeiras providências mais efe-
tivas com relação à educação na Colônia: iniciava-se 
a implementação do ensino público oficial, o Estado 
português passou a organizar a educação, nomean-
do professores e estabelecendo planos de estudo e 
inspeção”.
Deve-se compreender que, pelo fato de os jesuítas 
terem dominado por tanto tempo a Educação, eles 
já possuíam métodos e formas de ensinar que, com 
a sua expulsão, foram totalmente invalidados pelos 
seguidores/apoiadores do Marquês de Pombal. Havia 
uma certa estrutura que, após a saída dos jesuítas, 
foi desmoronando� Nesse sentido,
Na administração de Pombal, há uma tentativa 
de atribuir à Companhia de Jesus todos os 
males da Educação na metrópole e na colônia, 
motivo pelo qual os jesuítas são responsabili-
zados pela decadência cultural e educacional 
imperante na sociedade portuguesa (MACIEL; 
SHIGUNOV NETO, 2006).
8
Marquês de Pombal implementou uma série de re-
formas educacionais, com o objetivo de transfor-
mar a escola em um instrumento balizador da nova 
sociedade que nascia� Porém, havia uma carência 
muito grande de professores que pudessem atuar 
no ensino elementar e primário�
Nota-se ainda, em consonância com Maciel e 
Shigunov Neto (2006), que havia duas grandes ten-
dências educacionais: uma escola voltada à nobreza 
e burguesia e outra aos que tinham menor condição 
financeira.
Na prática, observou-se que, apesar da grande quan-
tidade depropostas educacionais durante o período 
pombalino, as reformas nunca foram implementa-
das, provocando um longo período de retrocessos 
e, consequentemente, desorganização do sistema 
educacional brasileiro (1759 a 1808).
Portanto, foram quase meio século de desestrutu-
ração do sistema educacional brasileiro. Imagine a 
quantidade de pessoas que provavelmente ficou à 
margem das escolas, sem conseguir aprender a ler 
e a escrever�
Nos anos 1800, ainda não possuíamos uma situa-
ção estruturada na educação nacional e, consequen-
temente, o nível que mais sofreu foi sem dúvida a 
educação elementar (ou básica). Em 1822, foi pro-
clamada a Independência do Brasil e, em 1824, foi 
outorgada a nossa primeira Constituição Federal�
9
FIQUE ATENTO
Existem dois tipos de constituição no Brasil: a 
outorgada e a promulgada� A outorgada é uma 
Constituição imposta, sem a participação demo-
crática� Por seu turno, a Constituição Promulgada foi 
aprovada democraticamente e com o consentimento 
dos deputados e senadores eleitos pela população� 
Portanto, nossa primeira Constituição (1824) foi im-
posta. Pesquise mais sobre as demais Constituições 
no site do Ministério da Educação (MEC)�
Na Constituição de 1824, consta a necessidade da 
gratuidade na instrução primária para todos os ci-
dadãos. Na prática, quem cuidava das “primeiras 
letras” (atualmente as séries iniciais do Ensino 
Fundamental) eram os governadores das províncias 
que, em realidade, pouco fizeram durante o Império 
e grande parte da República.
Outro ponto importante a se pensar é a quem se 
destinava a escola? Note que já estamos próximos 
à abolição da escravidão, movimento que deixou à 
deriva milhares de pessoas que conquistaram sua 
liberdade, sem conquistar as devidas condições para 
sua sobrevivência.
O escravizado liberto tinha onde morar? Tinha em-
prego fixo? Salário? Condições de se alimentar e 
sustentar sua família? As respostas para todas es-
sas perguntas são as mesmas: Não! Logo, podemos 
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imaginar a legião de pessoas que permaneceram à 
margem da sociedade durante muitos anos�
Quem tinha direito à educação eram os brancos e 
ricos — palavras grafadas no masculino mesmo, por-
que às mulheres era negado o direito de estudar. 
As pessoas que eram pobres não tinham acesso à 
educação; já as mulheres de classes mais abastadas 
permaneciam destinadas aos afazeres domésticos, 
e a escola lhes era um direito negado�
Podemos dizer que a primeira legislação que se pre-
ocupou efetivamente com o ensino de jovens e adul-
tos analfabetos foi a Reforma Leôncio de Carvalho 
(1878), que mencionava a criação de escolas no pe-
ríodo noturno para adultos analfabetos.
Um marco importante com relação à Educação de 
Jovens e Adultos diz respeito à Lei Saraiva, Decreto 
n. 3.029 de 9 de janeiro de 1881, que excluía os anal-
fabetos do direito ao voto, sendo assim:
O objetivo da exigência de saber ler e escrever 
para ser eleitor não era purificar as urnas, mas 
sim impedir o alargamento da participação 
popular. É durante o período da reforma eleito-
ral que se verifica aquilo que se pode chamar 
de construção do discurso da incapacidade 
eleitoral dos analfabetos, que resultou, a par-
tir de então, na exclusão dos analfabetos do 
direito de voto por mais de um século e na 
estigmatização, até hoje, dos “portadores” de 
analfabetismo (LEÃO, 2012, p. 602).
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Daí nos indagamos o motivo de a exclusão dos 
analfabetos do direito ao voto ser importante para 
a Educação de Jovens e Adultos� Em primeiro lugar, 
estamos falando que foi importante e não positivo� 
Importante, porque foi a partir disso que alguns seto-
res da sociedade começaram a se mobilizar (por mo-
tivos diversos) para que a Educação para os jovens e 
adultos acontecesse efetivamente, ou seja, a massa 
de analfabetos poderia “fazer parte” da sociedade.
Ainda segundo Michele de Leão (2012), é importan-
te salientar que o censo demográfico do Brasil em 
1872 apontava para uma taxa de analfabetismo em 
torno de 80% para a população acima dos 5 anos de 
idade. Isso mesmo, 80% da população brasileira era 
analfabeta. É de se espantar com essa informação, 
não é? Não fique. A história surpreende ainda con-
siderando os dias atuais�
Além da necessidade de saber ler e escrever, a Lei 
Saraiva atribuía uma renda mínima ao cidadão elei-
tor (200 mil réis) e, além disso, foi estipulado um 
processo burocrático para a comprovação da renda, 
o que resultou em cidadãos que possuíam a renda 
mínima exigida, eram alfabetizados, mas não con-
seguiam comprovar seus rendimentos conforme 
preconizava a lei.
Com isso, podemos refletir sobre a razão de os anal-
fabetos que, até então, podiam votar, mas que foram 
excluídos do processo eleitoral� Atente-se para o fato 
de que, nessa época, se acreditava que
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Entre os grupos dirigentes se propagou a noção 
de que para haver boas eleições era preciso, 
primeiramente, existir bons eleitores, e esses 
bons eleitores encontrar-se-iam entre os homens 
“educados”, ou seja, alfabetizados. Para o gover-
no e as elites, até mesmo para a grande maioria 
dos parlamentares liberais, aceitar o voto dos 
analfabetos passou a ser um problema, o que 
não era até então (LEÃO, 2012, p. 612).
Após a Lei Saraiva (1881), os analfabetos começa-
ram a ser rotulados como pessoas que não tinham 
discernimento para a escolha de seus representantes, 
o que extrapolou outras esferas de suas vidas� Em 
muitos momentos, essas pessoas foram conside-
radas ignorantes, incapazes e até perigosas para a 
sociedade. Com a lei, somente 1,5% da população 
era autorizada a votar, o que só foi modificado em 
1945 quando 13,4% dos brasileiros foram às urnas 
(LEÃO, 2012, p. 614).
Foi somente no período de redemocratização pela 
Emenda Constitucional 25 de 1985 e da Constituição 
Federal de 1988 que a situação foi revista e alterada, 
ao se facultar ao analfabeto o direito de votar nas 
eleições�
Entenda que, no final do século 19, os analfabetos 
não podiam votar; porém, o Estado não oferecia (nem 
durante o Império, muito menos após a Proclamação 
da República, 1889) escolas suficientes para que a 
população fosse alfabetizada.
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 O Distrito Federal mostrou-se, em 1928, pioneiro ao 
inaugurar cursos elementares noturnos (para o traba-
lhador analfabeto) denominados Cursos Populares 
Noturnos. Assim, “esses cursos deveriam ministrar 
o ensino primário elementar no período de dois anos 
para os adultos analfabetos, o ensino técnico elemen-
tar e o ensino de cultura geral” (PAIVA, 2003, p. 134).
O movimento pioneiro Escola Nova (década de 1930) 
lutou, dentre outros aspectos, por uma escola pública 
e obrigatória para todos, o que incluía nossa popu-
lação de analfabetos.
De 1930 a 1945, vivemos um período de retroces-
so denominado em toda a sua extensão como Era 
Vargas. Sobre o período, saiba que no censo de 1940 
o Brasil ainda contava 55% da sua população (maior 
de 18 anos) analfabeta. Ou seja, mais da metade do 
povo brasileiro não havia concluído ou cursado as 
series iniciais da Educação Básica.
Observe, porém, que não era somente a Educação 
de Jovens e Adultos que estava abandonada, a 
Educação Elementar (Educação Básica) também 
estava. O sistema educacional brasileiro não era 
estruturado, não havia obrigatoriedade na lei para a 
conclusão da Educação Básica, muito menos com 
relação à parte do orçamento nacional (federal, es-
tadual e municipal) destinado à Educação.
Apesar de ter sido um período ditatorial, em alguns 
aspectos podemos dizer que foram notados avanços 
na legislação vigente� Por exemplo, a Constituição 
de 1934 tornava a educação um direito de todos:
14
[...] o ensino primário deveria ser integral, gra-
tuito, de frequência obrigatória e extensivo 
aos adultos. Determinou-se que União e mu-
nicípios deveriam investir 10% na educação 
e estados e Distrito Federal deveriam investir 
20%. Criaram-se também os fundos especiais 
(PAIVA, 2003, p. 134). 
No final da Era Vargas (1945), tínhamos cerca de 3 
milhões de alunos noBrasil matriculados na chama-
da educação popular� Esse dado é importante, visto 
que, até o início da Era Vargas, a educação de jovens 
e adultos sempre foi tratada de forma conjunta com a 
educação básica (elementar). Somente no início dos 
anos 1930 foi que se começou a pensar em quem 
era jovem ou adulto que não havia sido alfabetizado 
na época correta e por quê�
Em 1945, foi estabelecido o Fundo Nacional do 
Ensino Primário, destinando 25% da verba para a 
educação de jovens e adultos� A partir daí, surgiram 
diversas campanhas destinadas à educação de jo-
vens e adultos, ganhando relevância no território 
nacional�
Em 1947, foi aprovado o plano da Campanha de 
Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA)� Segundo 
Paiva (2003, p. 206), nasceu da importância de “prepa-
rar mão de obra alfabetizada nas cidades, de penetrar 
no campo e de integrar os imigrantes e seus descen-
dentes [���] instrumento para melhorar a situação do 
Brasil nas estatísticas mundiais de analfabetismo”.
15
Essa campanha fez com que os adultos pudessem 
fugir dos currais eleitorais e, com isso, alguns votos 
predeterminados acabaram escapando das mãos 
dos grandes políticos da época�
Para quem o analfabetismo interessa?
Pergunta: por que, de uma hora para outra, o adulto 
analfabeto se tornou tão importante para os repre-
sentantes da política nacional? A resposta pode ser:
Com o crescimento das zonas urbanas devido 
à aceleração da industrialização, a acelera-
ção do capitalismo tardio e as demandas das 
políticas externas referentes ao pós-guerra, 
houve uma busca por políticas e projetos 
para combater as altas taxas de analfabe-
tismo e o aumento da escolaridade da popu-
lação trabalhadora começou a ser debatida 
no Governo de Getúlio Vargas (1937-1945) e 
que culminou na Campanha de Educação de 
Adolescentes e Adultos (CEAA) iniciada em 
1947 e com duração até os primeiros anos da 
década de 1950, uma vez que nesse período 
a taxa de analfabetismo chegava em 50,6% 
de toda a população (INEP, 2003) o que se 
caracterizou como um real problema no fim 
do Estado Novo e na abertura democrática do 
país (SOUZA; DANIEL, 2015, p. 572).
Entenda que a situação implicava um cenário mun-
dial, no qual o Brasil estava muito mal visto, pois me-
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tade da sua população era analfabeta e, consequen-
temente, impedida de votar em quaisquer eleições�
Em relação à Campanha de Educação de 
Adolescentes e Adultos (CEAA), esta estruturou-se 
fundamentalmente com a participação do volunta-
riado, para que fosse possível atingir a maior quan-
tidade de adultos analfabetos possível.
Foram aceitos desde professores atuantes na es-
cola pública até pessoas que concluíram o 4º ano 
ginasial, correspondente ao atual 5º ano do Ensino 
Fundamental I� A União arcava com o custo relativo 
ao material didático, professores e outros profissio-
nais envolvidos, cabendo aos estados os demais 
recursos que faltassem� Conforme já dissemos, 
contava-se em sua maioria com professores volun-
tários para a campanha, ou seja, sem custo à União 
e/ou aos Estados.
A CEAA foi amplamente divulgada nos jornais e rá-
dios (mídia hegemônica à época). Com a Campanha 
nas mídias, a sociedade foi conclamada a participar, 
seja na condição de aluno, professor, voluntário ou 
simplesmente divulgando as ações realizadas.
O ideal que estava por trás da Campanha era o patrio-
tismo, por isso, realizou-se uma mobilização tamanha 
com a ideia central que, a partir da alfabetização, 
seria possível desenvolver a nação�
Além disso, a ideia da alfabetização foi relacionada 
com as possibilidades de empregos nas fábricas, 
17
quem não aderia à Campanha seria classificado 
como ignorante�
Porém, nem tudo são flores quando nos referimos 
à CEAA. Durante muito tempo, o ideal alfabetizador 
foi motivador, mas não resistiu às críticas tanto ao 
seu material didático quanto à evasão escolar que 
se apresentava�
O declínio começou em 1954 ao enfrentar problemas 
como falta de voluntários, a própria evasão escolar, 
escassez de recursos destinados à Campanha, den-
tre outros aspectos�
Aqui, não entraremos em detalhes, mas é importante 
ressaltar que houve um declínio e que, a partir daí, 
surgiram ideias de que campanhas como a CEAA 
eram destinadas somente à alfabetização de elei-
tores. Em 1960, o índice de analfabetismo caiu de 
50,6% em 1950 para 39,5% em 1960, apesar do gran-
de aumento populacional (PAIVA, 2003).
Em 1958, realizou-se o II Congresso Nacional de 
Educação de Adultos, no qual Paulo Freire apresen-
tou o tema A educação de adultos e as populações 
marginais: o problema dos mocambos, chamando 
atenção para as causas sociais do analfabetismo, 
atraindo outros olhares para a questão urgente à 
sociedade brasileira.
Nesse mesmo ano, foi criada a Campanha Nacional 
de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), que defen-
deu a ideia de que o desenvolvimento econômico só 
acontece a partir do desenvolvimento educacional�
18
Em 1963, as campanhas destinadas à erradicação do 
analfabetismo foram extintas. Importante frisar que, 
em 1961, foi aprovada a primeira Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação (LDB) Lei n. 4024/1961, que 
também propunha campanhas nacionais de alfabe-
tização que foram extintas em 1963.
Em 1961, foi criado o Movimento de Educação de 
Base (MEB), caracterizado pela difusão dos conte-
údos a partir de emissoras de rádio. De 1962 em 
diante, esse movimento foi direcionado à cultura 
popular, conscientizando e preparando os cidadãos. 
No golpe de 1964, o movimento perdeu relevância 
significativamente, sendo extinto em 1965.
Como se percebe, os anos 1960 foram frutíferos em 
relação aos movimentos de alfabetização popular. 
Não comentamos em detalhes tais movimentos, 
mas é importante que saber quais foram e quando 
aconteceram�
A seguir, consta-se uma listagem com os principais 
movimentos e campanhas da época:
1960: Movimento de Cultura Popular (MCP) (Pe).
1961: Campanha “De pé no chão também se aprende 
a ler” (RN).
1961: Movimento de Educação de Base (MEB).
1961: Centro Popular de Cultura da UNE (CPC-UNE).
1961: Campanha de Educação Popular da Paraíba (PB).
19
Esses movimentos foram os mais importantes em 
suas respectivas áreas e épocas� O MCP, por exem-
plo, teve a colaboração de Paulo Freire nos dois pri-
meiros anos. Paiva (2003) nos traz a dimensão do 
pensamento e da contribuição de Paulo Freire com 
relação aos movimentos:
[...] o pensamento de Paulo Freire partia de 
uma visão cristã e considerava que a socieda-
de brasileira estava passando de uma socie-
dade “fechada” para uma sociedade “aberta” 
e o povo emergia nesse processo, inserindo-
-se criticamente e passando a ser “sujeito” da 
história. A educação nesse processo deveria 
ser uma educação reflexiva e corajosa e seu 
método deveria permitir que o educar ajuda 
o homem a fazer-se agente de sua própria 
recuperação através de uma postura cons-
cientemente crítica diante de seus problemas 
(PAIVA, 2003, p. 280). 
Paulo Freire e a educação de adultos
Paulo Freire elaborou uma metodologia própria fun-
damenta nos Temas Geradores para alfabetizar jo-
vens e adultos trabalhadores. Em Ação Cultural para 
a Liberdade e outros escritos, que reúne textos entre 
1968 e 1974, Paulo Freire trata de temas como a 
alfabetização e reforma agrária. Nele, encontramos 
detalhadamente as formas de trabalhar a alfabeti-
zação de jovens e adultos.
20
Primeiramente, é preciso entender que Paulo Freire 
cunhou a expressão “educação bancária” em referên-
cia ao ensino tradicional� O ensino tradicional foi uma 
metodologia utilizada por muito tempo nas escolas 
e que ainda pode ser encontrada nos dias de hoje 
disfarçadamente em muitos ambientes escolares.
Trata-se de ensinar de uma maneira em que o pro-
fessor sabe tudo e o aluno nada sabe. O professor 
é o centro do processo de ensino-aprendizagem, 
“despeja” sua teoria durante toda a aula, e o aluno 
não tem o direito de discordar ou sequer perguntar; 
ao final do período letivo, o aluno deve reproduzir 
nasprovas toda a teoria transmitida pelo professor, 
em alguns casos, deve inclusive utilizar as mesmas 
palavras do professor�
Ao se referir ao ensino tradicional, Freire chamava 
de educação bancária. Para ele, esse método era 
semelhante à ação de irmos ao banco (instituição 
financeira) e depositarmos um valor para alguém. 
Nessa analogia, o aluno é o banco, portanto, está 
destinado a receber o deposito, mas não pensar/
refletir/agir sobre o depósito (conhecimento trans-
mitido pelo professor)�
Alfabetizar jovens e adultos é um ato que implica 
preocupação, a priori, em conhecer o contexto em 
que as pessoas vivem, ou seja, o professor deve fa-
zer um levantamento prévio sobre quem são essas 
pessoas, onde trabalham, por que não finalizaram 
a etapa da educação básica na idade certa, dentre 
outros fatores�
21
Além disso, para alfabetizar, o professor deve par-
tir dos seus interesses e palavras que façam parte 
do seu cotidiano� Sua ideia vai inteiramente contra 
as cartilhas vigentes à época que continham frases 
desconexas, sem sentido e sem estimular o aluno a 
querer aprender a ler e escrever�
Frases como “a babá lava o bebê” eram destinadas 
à alfabetização de um aluno (criança ou adulto) — 
lembre-se de que estamos falando da década de 
1960. Agora que estamos em pleno século 21, você 
consegue visualizar um adulto ou criança aprendendo 
com frases como essa?
Pois bem, Paulo Freire acreditava naquela época 
que já não era possível. Seria ele um visionário? 
Acreditamos que não� Era uma pessoa, sem dúvida, 
à frente de sua época, porém, enxergava como o 
aluno aprende efetivamente, não como editoras e 
escolas tradicionais gostariam que ele aprendesse�
Não se engane, o método Paulo Freire foi resultado 
de muitos anos de estudos e pesquisas e surgiu a 
partir da sua observação a respeito dos alunos. Para 
o autor, o método é separado em três etapas:
1. Etapa de investigação: o educador deve preo-
cupar-se em conhecer o cotidiano de seus alunos, 
interesses e palavras que façam parte do seu dia a 
dia, seja na família, vida pessoal seja no trabalho.
2. Etapa de tematização: professor e alunos traba-
lham juntos para ser possível a tomada de consciên-
cia a respeito do contexto de cada um e analisar os 
22
significados sociais de palavras e temas escolhidos 
para alfabetização.
3. Etapa de problematização: o professor desafia o 
aluno a analisar criticamente sua posição no mundo, 
o contexto em que vive, buscando a conscientização.
O método Paulo Freire em si acontece da seguinte 
forma: a partir da seleção das palavras geradoras 
(18 a 23 aproximadamente), são apresentados carta-
zes com imagens culturais ou do cotidiano para que 
todos possam analisá-las (momento denominado 
círculo de cultura). Em seguida, o educador trabalha 
a silabação das palavras, ou seja, as sílabas são se-
paradas para que o aluno possa conhecê-las; a partir 
das famílias silábicas, são apresentadas novas pa-
lavras destinadas a ampliar o universo vocabular do 
grupo de alunos. Finalmente, entenda que o objetivo 
deste método é a conscientização, não somente da 
silabação, codificação ou decodificação de sílabas 
e palavras�
A partir do dia a dia do aluno, da consciência sobre 
o seu papel do mundo, da sua evolução com relação 
à crítica feita sobre a sociedade em que vive, é que 
o educador trabalha.
O que precisamos saber sobre ele e a Educação de 
Jovens e Adultos que ainda não foi dito por aqui é: 
em 1963, Paulo Freire foi encarregado de elaborar 
um Plano Nacional de Alfabetização. Porém, com o 
Golpe Militar instaurado em 1964, esse programa foi 
interrompido, uma vez que os militares não deseja-
vam que a população tivesse consciência crítica a 
23
respeito da sua posição na sociedade� Freire, inclu-
sive, passou a ser perseguido politicamente e ficou 
exilado no Chile durante 14 anos.
Então, qual era a intenção do governo com esses alu-
nos? A resposta é simples. Com o avanço da indus-
trialização, o governo preocupava-se com a formação 
de mão de obra técnica para atuação nas fábricas 
que se espalhavam pelos grandes centros urbanos.
Voltando às políticas públicas na área da Educação 
de Jovens e Adultos, cabe destacar a criação, em 
1967, do Movimento Brasileiro de Alfabetização 
(Mobral). Segundo Paiva (2003),
Em 8 de setembro de 1967 (Dia Internacional 
da Alfabetização), vários decretos foram as-
sinados: Decreto n. 61.311 criando um Grupo 
Interministerial para estudo e levantamen-
to de recursos destinados à alfabetização; 
Decreto n. 61.312 prevendo a utilização das 
emissoras de TV nos programas de alfabe-
tização; Decreto n. 61.313 constituindo a 
Rede Nacional de Alfabetização Funcional e 
Educação Continuada de Adultos; Decreto n. 
61.314 instituindo a educação cívica nas ins-
tituições sindicais e a campanha em prol da 
extinção do analfabetismo.
O Mobral estruturou-se a partir da criação da 
Fundação Mobral, a qual tinha por objetivos “a tarefa 
de alfabetização funcional e educação continuada 
24
dos adultos, como prioritária entre as demais ativi-
dades educativas” (PAIVA, 2003, p. 293). 
Segundo Beluzo e Toniosso (2015, p. 200), os principais 
objetivos da gestão militar com relação ao Mobral eram:
[...] erradicar o analfabetismo, integrar os anal-
fabetos na sociedade, dar oportunidades a 
eles através da educação, buscando assim, 
benefícios para a população menos favorecida 
economicamente e principalmente a alfabe-
tização funcional, com a aquisição de técni-
cas elementares de leitura, escrita e cálculos 
matemáticos.
O que foi propagado é que o método Paulo Freire 
seria utilizado também no Mobral. Entretanto, foi 
realizado de maneira descontextualizada. Utilizavam-
se das fichas de leitura, mas sem considerar o co-
nhecimento prévio do aluno e muito menos havia a 
preocupação em conscientizá-lo criticamente como 
Freire previa. O Mobral caracterizou-se efetivamente 
por uma massificação dos conteúdos e pouca ou 
nenhuma preocupação com a singularidade do aluno�
Paradoxalmente, o método Mobral expandiu-se, che-
gando a ser reconhecido pela Unesco como uma ati-
vidade de grande importância para o povo brasileiro, 
recebendo inclusive menção honrosa pela Associação 
Internacional para a Leitura da Unesco em 1983.
Contudo, não pense que os educadores ficaram em 
silêncio diante da descontextualização do méto-
25
do Paulo Freire no Mobral, Lourenço Filho e Anísio 
Teixeira, dentre outros, o criticavam duramente�
Podcast 1 
No tocante à legislação, a lei n. 5672/1971 esta-
beleceu o ensino supletivo para jovens e adultos. 
É preciso ter em mente que, desde 1964, o Brasil 
vivia um período de Ditadura Militar que se encerrou 
efetivamente em 1985.
Por fim, em 1980, o Mobral teve suas características 
alteradas, com isso, voltou-se a uma alfabetização mais 
crítica. Em 1981, passou a ter importância de um traba-
lho educacional suplementar e complementar, voltando 
seus focos para as crianças na idade pré-escolar� Em 
1985, foi extinto e substituído pela Fundação Educar, 
que surgiu como um movimento que acreditava na 
reformulação geral das estruturas educacionais�
E como fica a Educação de Jovens e Adultos 
na contemporaneidade?
A Constituição Federal de 1988 ampliou a obrigato-
riedade do Estado com a Educação Básica. Observe:
Art. 208. O dever do Estado com a educação 
será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 
4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de ida-
de, assegurada inclusive sua oferta gratuita 
para todos os que a ela não tiveram acesso 
26
https://famonline.instructure.com/files/1053902/download?download_frd=1
na idade própria (Redação dada pela Emenda 
Constitucional n. 59, de 2009);
II - progressiva extensão da obrigatoriedade 
e gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado 
aos portadores de deficiência, preferencial-
mente na rede regular de ensino;
IV - educação infantil, em creche e pré-esco-
la, às crianças até 5 (cinco) anos de idade 
(Redaçãodada pela Emenda Constitucional 
n. 53, de 2006).
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, 
da pesquisa e da criação artística, segundo a 
capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado 
às condições do educando;
VII - atendimento ao educando, em todas 
as etapas da educação básica, por meio de 
programas suplementares de material didá-
tico escolar, transporte, alimentação e assis-
tência à saúde (Redação dada pela Emenda 
Constitucional n. 59, de 2009):
§ 1 O acesso ao ensino obrigatório e gratui-
to é direito público subjetivo. § 2 O não-ofe-
recimento do ensino obrigatório pelo Poder 
27
Público, ou sua oferta irregular, importa res-
ponsabilidade da autoridade competente.
§ 3 Compete ao Poder Público recensear os 
educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a 
chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, 
pela frequência à escola (BRASIL, 1988, p. 107).
É importante entender ainda que, a partir da 
Constituição de 1988, foi elaborada a nova Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 
n. 9394/1996. A LDB é o documento que todo edu-
cador deve conhecer, pois propõe, entre outros, que
Art. 2. A educação, dever da família e do 
Estado, inspirada nos princípios de liberdade 
e nos ideais de solidariedade humana, tem 
por finalidade o pleno desenvolvimento do 
educando, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho 
(BRASIL, 1996, p. 27).
Pode-se até se achar indiferente ao estabelecimento 
da Educação como dever da família e do Estado, mas 
saiba que, segundo a história das políticas públicas 
do nosso país, é uma importante evolução o esta-
belecimento de direitos e deveres em uma lei com 
o peso da LDB.
A mesma lei trata, em sua Seção V – sobre a 
Educação de Jovens e Adultos, fato inédito até então� 
28
Atente-se, porém, para o fato de que vamos resumir 
do que trata essa seção, mas é recomendado que 
se leia a LDB em sua totalidade.
A lei estabelece que todo jovem e adulto que não con-
seguiu concluir os estudos no Ensino Fundamental ou 
Médio terá direito a cursar a modalidade da Educação 
para Jovens e Adultos gratuitamente; cabe, então, 
ao poder público possibilitar condições de acesso 
e permanência à modalidade. Afirma ainda que a 
Educação de Jovens e Adultos deve articular-se à 
Educação Profissional, ou seja, o aluno deve concluir 
essa modalidade com uma profissão. A despeito dos 
exames nessa modalidade, a lei prevê que
Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos 
e exames supletivos, que compreenderão a base 
nacional comum do currículo, habilitando ao 
prosseguimento de estudos em caráter regular.
§ 1 Os exames a que se refere este artigo 
realizar-se-ão:
I - no nível de conclusão do ensino fundamen-
tal, para os maiores de quinze anos;
II - no nível de conclusão do ensino médio, 
para os maiores de dezoito anos.
§ 2 Os conhecimentos e habilidades adqui-
ridos pelos educandos por meios informais 
serão aferidos e reconhecidos mediante exa-
mes (BRASIL, 1996, p. 18).
29
Ao estudar os artigos destinados à Educação de 
Jovens e Adultos na LDB, podemos compreender 
o seguinte:
No que se refere à educação de jovens e adul-
tos, a LDB deixou explícito que esta modalida-
de de ensino possui um caráter de educação 
inclusiva e compensatória, devendo ocorrer 
um maior investimento por parte do Estado 
para elevar o índice de ensino da População 
(BELUZO; TONIOSSO, 2015, p. 205 - grifo 
nosso).
Retomando, a Fundação Educar, campanha que 
substituiu o Mobral, foi extinta em 1990. Em 1991, 
o Ministério da Educação e Cultura (MEC) criou o 
Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania 
(PNAC) e estabeleceu que a responsabilidade finan-
ceira sobre a alfabetização de jovens e adultos não 
compete somente à União, mas igualmente às ini-
ciativas particulares�
O MEC estabeleceu, ainda, que cada Estado deveria 
realizar um encontro com o objetivo de levantar as 
metas e ações necessárias para a diminuição dos 
índices de analfabetismo locais. Uma série de encon-
tros sobre essa modalidade de educação começa 
a surgir a partir da década de 1990, sendo locais, 
nacionais e internacionais� 
Em 2003, surge o Programa Brasil Alfabetizado 
(PBA), cujo objetivo era superar o analfabetismo e 
30
a universalização do Ensino Fundamental no Brasil, 
porém, a meta não foi cumprida no período estabe-
lecido. Logo,
[...] houve uma reorganização do PBA por meio 
do Decreto n. 6.093, de 24 de abril de 2007, 
em que estabeleceu novos critérios visando 
a universalização da Educação de Jovens 
e Adultos a todos os cidadãos brasileiros 
(BELUZO; TONIOSSO, 2015, p. 207).
O que observamos, de fato, é um preconceito com as 
pessoas de maior idade na escola, dado que havia a 
ideia de que a escolaridade destinada a essas pes-
soas possuía apenas a função de reparação do que 
foi perdido, muitas vezes deixando-os em posição 
de inferioridade aos demais que haviam concluído 
os níveis da educação na idade adequada�
Nesse sentido, deve-se observar que
[...] os objetivos da formação de pessoas jo-
vens e adultas não se restringem à compen-
sação da educação básica não adquirida no 
passado, mas visam a responder às múltiplas 
necessidades formativas que os indivíduos 
têm no presente e terão no futuro (DI PIERRO; 
JOIA; RIBEIRO, 2001, p. 70). 
É importante ter em mente que o jovem ou adulto que 
ficou defasado na escola no século 21 não é o mesmo 
31
de séculos passados. Hoje em dia, há mais condições 
e acesso ao conhecimento, com isso, todos evolu-
ímos� O modelo anterior, centrado em apenas uma 
forma de ensinar para essas pessoas, está superado�
Devemos ter consciência de que, em EJA, é neces-
sário flexibilizar currículos, diversificar as formas de 
as pessoas frequentarem a escola, reconhecer que 
um mesmo percurso educacional pode não funcionar 
para a turma toda e que esse público pode não optar 
por realizar uma Educação Profissional juntamen-
te com EJA. Mas sobretudo, que esses alunos são 
sujeitos singulares; logo, um grupo de alunos não 
é puramente a união de vários sujeitos singulares�
Portanto, é necessário que o Estado reconheça que, 
para cada região do país, a EJA pode funcionar de 
uma maneira e, para isso acontecer, deve haver des-
centralização do sistema de ensino para que cada 
escola ou centro educativo tenha liberdade de ela-
borar seu Projeto Político Pedagógico.
Nas palavras de Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001, p. 
71), o Estado deveria:
 ● Flexibilizar a organização curricular e assegurar 
certificação equivalente para percursos formativos 
diversos, facultando aos indivíduos que autodeter-
minem suas biografias educativas, optando pela 
trajetória mais adequada às suas necessidades e 
características;
 ● Prover múltiplas ofertas de meios de ensino-apren-
dizagem, presenciais ou a distância, escolares e extra-
32
escolares, facultando a circulação e o aproveitamento 
de estudos nas diferentes modalidades e meios;
 ● Aperfeiçoar os mecanismos de avaliação, facultar a 
creditação de aprendizagens adquiridas na experiên-
cia pessoal e/ou profissional ou por meio de ensinos 
não formais, diversificando e flexibilizando os meios 
de acesso a níveis de escolaridade mais elevados�
Podcast 2 
Entenda que a discussão sobre as vertentes metodo-
lógicas para o ensino de jovens e adultos será reto-
mada. Neste momento, para finalizarmos a reflexão 
feita ao longo deste módulo, é importante sabermos 
que, a partir da LDB de 1996, a Educação de Jovens 
e Adultos (EJA) é oficializada como uma modalidade 
de ensino da Educação Básica nas etapas do Ensino 
Fundamental e Ensino Médio�
A própria LDB assegura a necessidade da criação de 
um Plano Nacional de Educação (PNE) que proponha 
metas para a década seguinte. Entretanto, sabe-se 
que diversas metas estabelecidas no PNE não foram 
cumpridas�
Uma legislação importante na área é o Parecer 
CNE/CEB 11/2000, que estabelece as Diretrizes 
Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens 
e Adultos. O Parecer estabeleceos parâmetros para 
essa modalidade, mas também reconhece uma dí-
vida histórica com a alfabetização de pessoas que, 
33
https://famonline.instructure.com/files/1053904/download?download_frd=1
por uma série de motivos, foram deixadas à margem 
da escolarização formal.
Assim, a partir da Constituição Federal, Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação e do Parecer CNE/
CEB 11/2000, a EJA é obrigatória, sendo assim, os 
sistemas Estaduais e Municipais devem organizar-se 
para sua oferta, organização, estrutura e manutenção. 
Entende-se, porém, que muito do que está previsto 
em lei não é cumprido, nem tampouco foi realizado 
e formalizado em um passado recente. No entanto, 
é consenso que o primeiro passo para a instituição 
de qualquer mudança na sociedade é o estabeleci-
mento de leis que possibilitem a concretização de 
programas e ideais� 
Vamos juntos continuar a viagem pelo universo da 
Educação de Jovens e Adultos!
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, fizemos uma viagem no tempo, pois 
apresentamos aspectos relacionados à história e 
às políticas públicas no que tange à Educação de 
Jovens e Adultos� Com isso, foi possível compre-
ender e situar-nos no tempo/espaço. Por meio do 
panorama apresentado, pudemos verificar os motivos 
que têm levado à existência de milhares pessoas 
analfabetas no país.
Há diversos interesses envolvidos, ora em manter 
essa massa de pessoas sem acesso ao conheci-
mento, ora em “proporcionar” esse acesso. Nenhum 
desses interesses tem relação com a educação de-
sinteressada, mas nem por isso deixamos de acre-
ditar que é possível educar neste país� Essa chama 
deve permanecer em nossa memória sempre que 
nos depararmos com um trabalho, artigo ou projeto 
em EJA�
35
SÍNTESE
CONTEXTUALIZAÇÃO 
HISTÓRICA DA EJA
 
 
 
 
EDUCAÇÃO DE 
JOVENS E ADULTOS
Ao longo de nossa jornada histórica, conhecemos as principais campanhas e políticas 
públicas envolvidas na área da Educação, assim como os principais autores, teóricos e 
educadores que pensaram em como ensinar um jovem ou adulto que não foi alfabetizado 
na época certa�
Ao fazê-lo, fomos capazes de verificar que sempre houve diversos interesses envolvidos, 
seja em manter a massa de pessoas sem acesso ao conhecimento, seja em “proporcionar” 
esse acesso�
Nenhum desses, porém, tem relação com uma educação desinteressada, mas nem por isso 
deixamos de acreditar que é possível educar neste país� Essa chama deve permanecer, 
portanto, em nossa memória sempre que nos depararmos com um trabalho, artigo ou 
projeto em EJA�
Em seguida, refletimos sobre o modo como aconteceu a educação no Brasil, para isso, 
nosso recorte temporal compreendeu, ainda que brevemente, desde a chegada dos jesuítas 
até nossos dias�
Neste módulo, estudamos a origem da modalidade atualmente chamada de Educação de 
Jovens e Adultos (EJA)� Para isso, iniciamos este estudo buscando compreender as 
condições sociais e históricas em que surgiu a necessidade de criação dessa modalidade e 
como evoluiu até os dias atuais�
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	Educação de jovens e adultos: evolução histórica
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
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