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INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Giseli Cipriano Rodacoski 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nas aulas anteriores foram apresentados o contexto e alguns 
pressupostos da teoria psicanalítica conforme foram elaborados por Sigmund 
Freud a partir de sua experiência clínica. É possível perceber que a clínica é 
soberana à teoria, pois a teoria vem depois da experiência clínica e não ao 
contrário. 
A psicanálise se caracteriza por ser especulativa, o que levou Freud a 
chamá-la de "feiticeira". A psicanálise se interessa, investiga e posteriormente 
teoriza sobre o aparelho psíquico, se fundamentando no inconsciente como o 
principal conceito. 
As primeiras formulações teóricas de Freud eram biológicas e 
neurológicas, em um período que Freud acreditava que a falta de evidências 
sobre os processos mentais ainda seria esclarecida no futuro. 
Na aula de hoje, vamos acompanhar como se deu a ampliação do ponto 
de vista, distanciando a psicanálise da neurologia e fortalecendo como uma nova 
área de conhecimento. O objetivo com essa aula é conhecer como a psicanálise 
fez parte da clínica de diferentes psicanalistas para avançar na nossa intenção 
de introduzir os temas que o curso irá apresentar ao longo deste processo de 
formação. 
TEMA 1 – LEGADO DE FREUD 
Freud deixou um legado! Ele percebeu uma lacuna de conhecimento no 
meio médico, não encontrou em sua época fundamentos para orientar a análise 
do inconsciente cientificamente e, a partir de sua experiência clínica, formulou a 
teoria psicanalíticas para sustentar a clínica. 
Inicialmente, influenciado pelo papel de médico neurologista, Freud 
acreditou que a ciência evoluiria ao ponto de elucidar os fundamentos orgânicos 
do inconsciente, mas depois o próprio Freud e os psicanalistas pós freudianos 
se distanciaram da fisiologia para compreender os processos psíquicos como 
algo da linguagem, que fala da subjetividade do ser humano. Não se trata de 
uma verdade factual, mas, sim, a um modelo explicativo sobre os processos 
mentais. 
 
 
3 
Depois de Freud e ainda hoje, nós temos a teoria antes da clínica e 
justamente por isso corremos o risco de sermos tecnicistas, ao subordinar a 
clínica à teoria. 
Um cuidado que se deve ter constantemente é para não "enquadrar" ou 
"ajustar" a pessoa à teoria, "fazer caber", pois essa atitude distancia 
completamente o terapeuta do método psicanalítico. 
Um exemplo seria subentender qual é o conflito da criança pela idade que 
ela tem. Isso por considerar os estágios do desenvolvimento psicossexual 
infantil. O reducionismo também pode ser verificado quando se deseja ter um 
manual de interpretações de sonhos em que se atribui sentido e significado aos 
elementos do sonho. Dentre o inestimável legado de Sigmund Freud 
destacamos aqui que: 
- a clínica é soberana à teoria; e 
- o psicanalista conduz o tratamento, mas o processo se dá a partir da 
associação livre e da atenção flutuante 
No método catártico que foi o precursor imediato da psicanálise, já havia 
a expressão “esvaziamento da chaminé” para se referir à sensação de alívio 
produzida por falar de si ao médico. Já no método psicanalítico, por meio da 
associação livre na linguagem falada, os pacientes comunicavam seus desejos 
inconscientes através de fenômenos tais como atos falhos, sonhos e 
esquecimentos e outros sintomas compreendidos como manifestações do 
inconsciente. O que se apresentava era uma verdade diferente daquela do 
discurso racional, em que o paciente conta ou relata algo sobre si. Na associação 
livre, o paciente ao falar inicia uma série de encadeamentos que se difere de 
conteúdos planejados intencionalmente a serem comunicados, e ao falar 
livremente levam a demonstrarem algo sobre si. 
Exemplo: uma paciente chega ao consultório médico queixando-se de 
uma dor intensa e constante que a impede de manter suas atividades cotidianas 
desde as mais simples como arrumar a casa e trabalhar. Ao narrar ao médico 
como é essa dor, a paciente relata que ela é intensa, e muda de lugar no seu 
corpo, cada hora dói uma parte do corpo. Ela explica que nenhum remédio é 
eficaz para apaziguar a sua dor: já utilizou “todos” os analgésicos, fez terapias 
alternativas e visitou muitos profissionais que nunca encontraram as causas da 
sua dor, não se tratava de nenhum problema neurológico ou muscular. Não se 
identificou nada nos exames de imagem e nem clínico e disse ao médico que ele 
 
 
4 
era a última tentativa em seu desespero. O médico de fato constatou em seu 
exame clínico e estudando os exames trazidos pela paciente que “ela não tinha 
nada” e sugeriu que ela procurasse um psicanalista. Um pouco surpresa, e talvez 
decepcionada por não obter mais uma vez uma resposta objetiva sobre o mal 
que a acometia, ela pensou que o médico a estava acusando de “ser louca”. 
Contrariada, mas sem mais esperança, marcou uma hora com a psicanalista só 
para “desencargo de consciência”: afinal, mal não poderia fazer, tinha certeza 
que de nada adiantaria esse expediente de consultar alguém sobre uma dor que 
sentia no corpo: ora, ela pensava “– Eu não sou louca” e ainda vou gastar 
dinheiro à toa. 
Eis que, no dia e hora marcados, ela vai ao encontro da psicanalista, e, 
chegando lá ela é convidada a falar sobre o que está se passando com ela, 
relatando tudo o que lhe vier a cabeça e aos poucos ela começa a perceber 
quando surgiram as dores: em uma época difícil da sua vida, após a separação 
de seu marido. Falou sobre a vergonha social que sentiu, a dor de ter sido traída 
e quando percebeu chorava enquanto falava sobre o que ela sabia, mas que 
evitava pensar. A sessão, era assim que a psicanalista chamava a consulta, 
passou rapidamente, e ela se sentiu mais leve, as situações mais claras. A 
psicanalista a convidou para ir novamente à uma sessão, na semana seguinte, 
no mesmo dia e no mesmo horário, se a paciente quisesse. Ela pensou que não 
custava ir mais uma vez (apesar de considerar o preço correspondente ao valor 
da sessão), mas só mais uma vez não iria fazer mal. E confirmou a sessão. 
Durante a semana, percebeu que suas dores tinham diminuído em 
frequência e em intensidade, mas pensou que poderia ter sido porque deixou de 
comer doces, ou um certo queijo, ou ainda porque tinha trocado o colchão para 
aliviar as dores. 
Foi à sessão seguinte. Percebeu que falava coisas que já sabia, mas que 
não lembrava que sabia. E, assim, na semana seguinte, e na outra e na outra 
ainda. Era preciso reconhecer que suas dores estavam diminuindo 
significativamente e que talvez a dor da separação conjugal, que tinha sido 
colocada em palavras naqueles encontros diferentes com uma pessoa que ela 
mal conhecia, a estavam curando: ela estava conseguindo aproveitas os dias 
com seus filhos, estava voltando a trabalhar e até indo comprar algumas roupas 
que combinavam com o seu novo jeito. E ela pensou: como pode ela ter me 
tratado sem remédios? Só conversando? Pois é. Isto se chama psicanálise. 
 
 
5 
É necessário coragem para encarar a dor no lugar de negá-la. Difícil, mas 
necessário. 
E para onde leva a psicanálise? Para a autonomia, para o reconhecimento 
de si. Essa é a ética da psicanálise: "Cada interpretação reconduz o sujeito à 
escolha de seu desejo e de seus modos de gozo, levando em conta que a ética 
da psicanálise é manter a estrutura de falta do inconsciente" (Santoro, V. 2006, 
p. 61). 
TEMA 2 – FREUD E A ÉTICA DA AUTONOMIA 
A psicanálise leva àquele lugar que sobra depois de ser retirado o excesso 
(per via de levare – pela via de retirar). Durante a vida as pessoas são levadas, 
por ação da cultura, a se adaptar, se ajustar, fazer o que é esperado socialmente 
das pessoas na sua geração: estudar, trabalhar, casar, ter filhos, adquirir bens 
etc. É uma série de "ter que" como bem exemplificado no filme Happiness, de 
Steve Cutts, 20171. 
 Uma conduta massificada,em uma sociedade capitalista, 
heteronormativa que segue seu rumo sem se dar conta da subjetividade 
aniquilada em cada um. A psicanálise leva ao resgate da subjetividade, mesmo 
que doa, mesmo que contrarie, mesmo que incomode, para que então o sujeito 
decida como se relacionar com isso que restou da análise. 
 Chegar a este lugar onde nos leva a análise é de muita responsabilidade, 
pois as pessoas sofrem com o problema. Por outro lado, o problema lhe traz 
compensações (ganhos secundários) às quais nem sempre é fácil renunciar. Se 
dar conta disso e assumir seu papel de protagonista, de quem atua para se 
manter no lugar que ocupa e do qual se queixa, é, geralmente, muito pesado. 
 Para Freud, as pessoas deveriam chegar na autonomia, ou seja, aprender 
a lidar com as situações, com as tendências, com os desejos, especialmente os 
mais infantis. Sobre isso é preciso entender um pouco mais sobre "A Ética da 
Autonomia". 
 Em "O Mal-Estar na Civilização" (Freud, 1929/1986), Freud fala sobre o 
mal-estar que a consciência da autonomia e a liberdade provocam. Enquanto a 
pessoa se perceber vítima de uma história de vida que a determinou assim, ela 
de certa forma apazigua seu sofrimento, pois encontra um sentido para seu 
 
1 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e9dZQelULDk>. Acesso em: 6 jan. 2022. 
 
 
6 
estado/sofrimento. Entende que algo ou alguém superior quis assim, o que a 
coloca na condição de repetir: eu não posso fazer nada. 
 Em sendo vítima, a pessoa segue o fluxo: estuda, trabalha, casa, tem 
filhos, consome bens e serviços e a vida se repete de geração em geração. Essa 
postura acrítica em relação a si anula qualquer subjetividade e internaliza um 
padrão social que pode ser a fonte de suas queixas, mas que também é em 
grande medida confortável. 
 
Crédito: VectorMine / Shutterstock. 
 A analogia pode ser feita com uma gaiola aberta, mas onde a pessoa 
permanece dentro, se sentindo prisioneira. Essa situação, muito frequentemente 
relatada pelos pacientes nas entrevistas preliminares, é um exemplo do que 
Freud teorizou posteriormente sobre a relação entre o princípio do prazer e o 
princípio da realidade. 
 Para Freud, cada indivíduo deveria superar o que seria a tendência 
universal ao infantilismo, ou seja, o apego ao princípio do prazer (desejos 
individuais, egoístas), e enfrentar o princípio de realidade (adaptação às leis 
sociais); deveria dominar os instintos, aceitar e saber lidar com as frustrações 
que a realidade impõe, tornando-se autônomo e não escravo dos desejos, 
sobretudo os infantis: “A ética da autonomia”. 
 Na técnica psicanalítica, o terapeuta deve agir conforme o princípio da 
abstinência, ou seja, agir no sentido de desconstruir os mecanismos de defesa: 
"o tratamento analítico deve ser efetuado, na medida do possível, sob privação 
– num estado de abstinência" (Freud, 1919/1986, p. 205). Vamos nos ater a este 
trecho entre vírgulas: na medida do possível. Em alguns casos, há o perigo de 
 
 
7 
descontruir e fragilizar ainda mais uma mente enferma. Ao escrever sobre as 
linhas de progresso na terapia psicanalítica no mesmo ano em que se encerrava 
a primeira guerra mundial, em um contexto social marcado por importante 
vulnerabilidade emocional entre as pessoas, Freud (1919/1986) se preocupa 
com o risco de oferecer muita análise e pouca síntese ao paciente, ou seja, 
interpretar muito suas defesas, fragilizando suas resistências sem ajudá-lo no 
processo de reorganização, pois na verdade é com o que resta que o sujeito 
compõe o mundo. 
 Freud reconhece que existem pessoas tão pouco preparadas para a vida, 
que é preciso, com relação a elas, usar pedagogia. 
Não podemos evitar de aceitar para tratamento determinados 
pacientes que são tão desamparados e incapazes de uma vida comum, 
que, para eles, há que se combinar a influência analítica com a 
educativa; e mesmo no caso da maioria, vez por outra surgem ocasiões 
nas quais o médico é obrigado a assumir a posição de mestre e mentor. 
(Freud, 1919, p. 208). 
 No entanto, Freud se referiu a este método como uma nova técnica 
diferenciando do método psicanalítico clássico. 
 Para o futuro psicanalista, é indispensável a leitura deste texto (Linhas de 
progresso na terapia psicanalítica) que está publicado nas Obras Completas, 
datado de 1919, lido por Freud durante o Quinto Congresso Psicanalítico 
Internacional de Psicanálise, realizado em Budapeste, em 28 e 29 de setembro 
de 1918, e tem muita ênfase nos métodos ativos de tratamento, posteriormente 
atribuídos à Ferenzi. 
TEMA 3 – MÉTODOS ATIVOS 
 Os métodos ativos de tratamento são considerados em diversos 
momentos da clínica psicanalítica, no entanto, sempre criticados por colegas 
psicanalistas como sendo uma rendição do método às demandas sociais, 
fazendo com que a psicanálise se adaptasse ao que o contexto pós-guerra 
precisava. Inegável que a sociedade precisava de atenção à saúde mental no 
contexto da guerra mundial, assim como vimos ser necessária a atenção no 
contexto da pandemia COVID-19, mas o que se questionava na época era se 
seria a psicanálise que deveria reformular seu método ou se deveria ser criado 
um método para atender essa demanda social. 
 
 
8 
 A situação que se colocava era a de que para diferentes pessoas 
precisam ser planejadas diferentes intervenções, como se fosse um princípio da 
equidade. Quanto mais “saudável” a pessoa, mais autonomia e autocuidado são 
esperados. Quanto mais vulnerável, mais frágil emocionalmente, quanto menor 
ou pior for a sua rede de apoio social, maior deve ser a preocupação do terapeuta 
com o cuidado e menor a exigência de autonomia. Imaturidade versus 
Autonomia. 
 Na clínica psicanalítica clássica, a ênfase é pela não gratificação, pela 
privação e abstinência. Reforçar defesas seria um erro técnico. 
 O método ativo teve sua origem na psicanálise e inicialmente foi 
apresentado como uma proposta de alteração na técnica psicanalítica para 
encurtar a duração dos tratamentos, que eram muito longos e inacessíveis à 
maioria das pessoas. 
Alguns casos atendidos por Freud tiveram curta duração e bons 
resultados. Gilliéron E. (1993, p. 6) apresenta um levantamento dos casos para 
mostrar o quanto foram considerados exitosos mesmo tendo sido curtos, 
destacamos alguns deles aqui: 
Srª Emmy – sete semanas; 
O Pequeno Hans – dois meses; e 
O Homem dos Ratos – onze meses. 
Além dos processos psicanalíticos, outras experiências de intervenções 
de características ativas e breves, feitas durante conversas em passeios a tarde 
ou no tempo de uma viagem de trem, também resultaram em bons resultados 
para as pessoas. 
Os benefícios de um tratamento mais curto foram percebidos pelo próprio 
Freud, por exemplo, no caso “Homem dos Lobos”, tratado durante 5 anos e 
publicado em 1918. Nesse caso, Freud percebia importante resistência do 
paciente, sem avanços no tratamento psicanalítico. Decidiu então por determinar 
uma data para a análise terminar e pressionado por essa data, o paciente cessou 
sua resistência e entregou-se ao processo psicanalítico que evoluiu tão 
rapidamente que em nada se comparou ao tempo anterior (Gilliéron, 1993). 
Freud, Otto Hank e Sándor Ferenczi eram colegas de trabalho, amigos, 
trabalhavam em Viena (na Áustria) e discutiam juntos a possibilidade de 
assumirem postura mais ativa nos tratamentos. Otto Rank relacionava o tempo 
maior ou menor do tratamento à motivação do paciente e questionava se a 
 
 
9 
motivação poderia ser incentivada pelo analista. Freud chegou a reconhecer os 
benefícios da técnica, mas mesmo diante dos resultados positivos decorrentes 
dos tratamentos curtos, negou-se a modificar a técnica psicanalítica justificando 
que o tratamento deveria ser atemporal, de modo a ficar o mais próximo possível 
do inconsciente do paciente. Em 1928, Ferenczi decidiu por recomendar 
tratamentos psicanalíticos maiscurtos, apresentando o conceito de Técnica 
Ativa para caracterizar uma nova modalidade de psicoterapia, e publicou o artigo 
“A elasticidade da técnica psicanalítica”. O argumento de Ferenczi era o de que 
"não é o analisando que assumiria a tarefa de se adaptar à técnica psicanalítica, 
então definida pelo tripé associação livre, princípio de abstinência no campo 
transferencial e interpretação; o analista é que precisaria dispor da flexibilidade 
elástica necessária para atender aqueles que até então eram considerados 
inanalisáveis” (Kupermann, 2019, p. 52). Ferenczi acreditava que era a 
passividade do analista o principal fator responsável pelo prolongamento do 
tratamento clássico. A reação de Freud e de outros psiquiatras psicanalistas 
tradicionais foi pela defesa da técnica psicanalítica tradicional, sem ceder às 
pressões e demandas sociais por adaptação. O próprio Ferenczi, depois de obter 
êxito em alguns tratamentos ativos, abandonou a técnica ao concluir que as 
modificações poderiam ser usadas como resistência e que a interpretação ainda 
continuava sendo um método eficaz (Cordioli, 2008). 
Logo após a segunda guerra mundial (terminada em 1945), foi muito maior 
a demanda social por tratamentos à saúde mental e, ainda assim, a Psicoterapia 
Breve era vista como “uma rendição humilhante às pressões de circunstâncias 
que levam a resultados transitórios, superficiais, pro forma” (Malan, 1981, p. 19). 
O desconforto inicial se deu pela proposta de modificação na técnica 
psicanalítica, pois como não havia outra modalidade de tratamento na época a 
não ser a psicanálise, e a Técnica Ativa tentou nascer como uma evolução da 
psicanálise, o que não agradou os psicanalistas tradicionais. Foi necessária a 
construção de um novo modelo de psicoterapia para que a Psicoterapia Breve 
fosse então reconhecida e respeitada e se distanciasse da ideia de ser um “erro 
técnico” da psicanálise. 
Esse novo modelo começou a ser elaborado no Instituto de Psicanálise 
de Chicago no período de 1938 a 1945 por meio de um projeto de pesquisa 
coordenado por Alexander e French, que investigou quais seriam os princípios 
básicos que permitissem um tipo de psicoterapia breve e eficaz. O estudo 
 
 
10 
concluiu que a experiência emocional corretiva era o fator curativo, pela 
“reexposição do paciente a situações emocionais semelhantes às situações 
vivenciadas no passado, que o paciente não conseguiu manejar” (Cordioli, 2008, 
p. 94). 
 A partir de 1950, o grupo de pesquisa em Psicoterapia Breve da Clínica 
de Tavistock, em Londres, coordenado por Balint e depois por Malan, avançaram 
na elucidação de princípios que caracterizariam o método de condução do 
processo de PB, seguidos por Sífneos, em Boston, e juntos estes autores 
definiram conceitos e princípios fundamentais que constituem hoje a teoria da 
técnica da Psicoterapia Breve de orientação psicanalítica, também denominada 
de Psicoterapia Psicodinâmica. 
TEMA 4 – WINNICOTT 
 O pediatra e psicanalista Donald Winnicott assume destaque na história 
da psicanálise por ter dado ênfase ao processo psicoterapêutico com pessoas 
mais frágeis emocionalmente. 
 O inglês Donald Woods Winnicott (1896 – 1971) é um autor clássico na 
psicanálise pós freudiana especialmente na clínica com crianças e com 
personalidades limítrofes. 
 Winnicott desenvolveu alguns conceitos centrais, a partir da consideração 
do processo de desenvolvimento humano (maturidade), desde a completa 
imaturidade nos bebês até o alcance da autonomia nos adultos saudáveis. 
 Um dos conceitos desenvolvidos por Winnicott foi delimitado a partir da 
constatação de que, durante a completa imaturidade dos bebês, é necessária e 
indispensável a preocupação materna primária, função que ele chamou de 
Holding. Trata-se de uma função de sustentação: 
A mãe protege o bebê dos perigos físicos, leva em conta sua 
sensibilidade cutânea, auditiva e visual, sua sensibilidade às quedas e 
sua ignorância da realidade externa. Através dos cuidados cotidianos, 
ela instaura uma rotina, sequências repetitivas. Com essa função de 
holding, Winnicott enfatiza o modo de segurar a criança, a princípio 
fisicamente, mas também psiquicamente. A sustentação psíquica 
consiste em dar esteio ao eu do bebê em seu desenvolvimento, isto é, 
em colocá-lo em contato com uma realidade externa simplificada, 
repetitiva, que permita ao eu nascente encontrar pontos de referência 
simples e estáveis, necessários para que ele leve a cabo seu trabalho 
de integração no tempo e no espaço. (Nasio, 1995 p. 185). 
 
 
11 
 Entre o estado de total dependência até a autonomia, o ser humano terá 
necessidade de apoios emocionais para apaziguar a ansiedade de separação 
decorrente da imposição do princípio da realidade sobre o princípio do prazer. 
 No bebê, podemos observar rituais e uso de paninhos e chupetas eleitos 
como indispensáveis que assumem o lugar de "ficar no lugar da mãe", 
tecnicamente conceituados como fenômenos e objetos transicionais que irão 
ocupar o lugar vazio deixado pela mãe, entre a realidade interna e a externa. 
 Foi a partir da experiência clínica de Winnicott com as crianças que surgiu 
“A Ética do Cuidado” como uma atitude do analista e ampliou as possibilidades 
de analisar pessoas vulneráveis, antes consideradas sem indicação para o 
método psicanalítico. 
TEMA 5 – WINNICOTT E A ÉTICA DO CUIDADO 
 Winnicott estudou o desenvolvimento humano já no período psicanalítico 
e, conhecedor da teoria freudiana, contribuiu com a teoria do desenvolvimento 
afetivo desde a fase de dependência absoluta, fase de dependência relativa até 
a autonomia. 
 Winnicott é considerado um autor desenvolvimentista. Para ele, o 
ambiente continua exercendo influência na criança que cresce, no adolescente 
e no adulto. Sendo assim, sua obra se caracteriza por dar ênfase aos conflitos 
Inter psíquicos. Sua teorização sobre a ética do cuidado é uma contribuição aos 
analistas, para que sustentem a situação analítica (Nasio, p. 195). 
 Para Winnicott (1983, p. 205), “Os distúrbios mais insanos ou psicóticos 
formam-se na base de falhas da provisão ambiental e podem ser tratados, muitas 
vezes com êxito, por uma nova provisão ambiental”. Esse recurso metodológico 
se assemelha à função de holding na relação mãe-bebê, com a criação e 
proteção de um lugar protegido, uma pequena amostra de um mundo 
encontrável e previsível, para que ele, a seu tempo, possa começar a ser. Isso 
pode implicar, em certos casos, em dar sustentação a longos períodos em que 
o indivíduo, regredindo à dependência, permite-se abandonar o esforço de existir 
e entregar-se a estados muito primitivos, de amorfia, de desorganização, de não 
existência. 
 A característica central desse lugar é a confiabilidade. Necessidade de 
cuidados regulares e confiáveis. A relação terapêutica é uma analogia da mãe 
 
 
12 
suficientemente boa ao seu bebê, uma forma especializada de estar-com-o-
outro. 
 O reconhecimento de que o outro está doente leva-nos naturalmente para 
a posição daquele que responde à necessidade, ou seja, à adaptação, à 
preocupação e à confiabilidade, à cura no sentido de cuidado. Isso não acarreta, 
em nenhum sentido de superioridade. Se assumimos o lugar de quem cuida, 
precisamos estar disponíveis para aceitar o outro como ele é, como pode ser, 
seja qual for a possibilidade de ser do outro que se apresente num dado 
momento da relação terapêutica. Para deixar ser o outro, precisamos estar 
preparados para reconhecer qual é a possibilidade de ser do momento e 
acompanhá-lo enquanto perdure essa possibilidade, por estreita que seja. 
NA PRÁTICA 
 Por mais madura que uma pessoa possa ser, não está descartada a 
possibilidade de em um dado momento e situação de vida acontecer uma 
regressão. Esse processo regressivo pode ocorrer durante o curso de uma 
análise. 
O caso a seguir é um exemplo: uma jovem senhora iniciou o tratamentocom questões relacionadas ao seu relacionamento conjugal. O tratamento 
avançou até o ponto em que os insights reflexivos estavam bastante 
desconfortáveis e foi neste momento que a paciente faltou a uma sessão. Na 
próxima sessão, chegou e justificou a falta falando de uma grave doença que 
acometeu seu filho e ela precisou cuidar dele no hospital. O psicanalista 
interpretou a resistência da paciente. Na próxima sessão, a paciente limitou-se 
a deitar no divã e chorar quase todo o tempo da sessão, com períodos de 
silêncio. Novamente a interpretação foi quanto à resistência ao claro progresso 
que havia sido evidenciado no tratamento na semana anterior. Depois desta 
sessão, a paciente abandonou o tratamento e por telefone contou ao analista 
que seu filho havia morrido poucas horas depois que ela deixou o consultório 
pela última vez. 
 Este caso mostra que a ética do cuidado deve permear a competência do 
analista em todas as fases do tratamento. Além da possibilidade de ser uma 
reação de defesa e regressão, que atende à resistência e à repetição, também 
há a possibilidade real de situações que fragilizam o paciente ao ponto de não 
 
 
13 
fazer mais sentido a ele a elaboração em curso nas sessões, pois a eminência 
de morte do filho se impõe com supremacia neste caso. 
 A ética recomenda que o processo de tratamento fique em suspenso e 
que o psicanalista possa dizer ao paciente: “me fale sobre seu filho, seu processo 
analítico pode esperar e continuamos com ele depois”. 
 Esta atitude seria um exemplo do que Winnicott definiu como Holding. 
FINALIZANDO 
 Freud fundou a Psicanálise e nos deixou um legado que é clássico para a 
compreensão teórica e metodológica. A psicanálise foi indicada para pacientes 
com conflitos neurotípicos e a regra fundamental é a associação livre. Para 
Freud, cada indivíduo deveria superar o que seria a tendência universal ao 
infantilismo, ou seja, o apego ao princípio do prazer (desejos individuais, 
egoístas), e enfrentar o princípio de realidade (adaptação às leis sociais); deveria 
dominar os instintos, aceitar e saber lidar com as frustrações que a realidade 
impõe, tornando-se autônomo e não escravo dos desejos, sobretudo os infantis: 
“A ética da autonomia”. 
 Winnicott acreditava que os distúrbios se formam na base de falhas da 
provisão ambiental e podem ser tratados, muitas vezes com êxito, por uma nova 
provisão ambiental, e propôs a "Ética do Cuidado" para orientar a função de 
holding do analista para com o paciente, uma função de sustentação de sua 
condição de vir a ser. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
ALEXANDER, F.; FRENCH T. Terapeutica Psicoanalitica. Buenos Aires, 
Argentina: Editorial Paidós, 1965. 
CORDIOLI, V. A. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artes 
Médicas, 2008. 
DIAS, Elsa Oliveira. Da sobrevivência do analista. Nat. hum., São Paulo , v. 
4, n. 2, p. 341-362, dez. 2002 . Disponível em 
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	Conversa inicial
	Na prática
	FINALIZANDO

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